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PROFESSORA Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki Arquitetura e Sociedade https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/8991 FICHA CATALOGRÁFICA C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. YAMAZAKI, Gabrielle Prado Jorge. Arquitetura e Sociedade. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki. Maringá - PR.: Unicesumar, 2021. 232 p. “Graduação - EaD”. 1. Arquitetura 2. Sociedade 3. Projeto. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 720 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-65-5615-484-8 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar Diretoria de Design Educacional NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e Planejamento Educacional Tania C. Yoshie Fukushima Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção Digital Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Design Educacional e Curadoria Yasminn T. Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Coordenador de Conteúdo Flávio Augusto Carraro Designer Educacional Jociane Karise Benedett Revisão Textual Nagela Neves da Costa; Carla C. Farinha; Cindy M. Okamoto Luca Editoração Arthur Cantareli Silva; Lucas Pinna Silveira Lima Ilustração Bruno Cesar Pardinho Fotos Shutterstock. Tudo isso para honrarmos a nossa missão, que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Reitor Wilson de Matos Silva A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade, ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diariamente para que nossa educação à distância continue como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre quatro pilares que consolidam a visão abrangente do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o profissional, o emocional e o espiritual. A nossa missão é a de “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio importante para o cumprimento integral desta missão: o coletivo. São os nossos professores e equipe que produzem a cada dia uma inovação, uma transformação na forma de pensar e de aprender. É assim que fazemos juntos um novo conhecimento diariamente. São mais de 800 títulos de livros didáticos como este produzidos anualmente, com a distribuição de mais de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nossos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700 polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa e Corumbá), o que nos posiciona entre os 10 maiores grupos educacionais do país. Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima história da jornada do conhecimento. Mário Quintana diz que “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportunidade de fazer a sua mudança! Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki Oi, meu nome é Gabrielle, mas todos me chamam de Gabi, isso porque grande parte das pessoas me confundem com Gabriela, mas meu nome tem dois “L” e “E”, então, prefiro que seja Gabi! Sou arquiteta e urbanista, apaixonada pela minha profissão e, quando criança, falava para os meus pais que eu teria uma profissão que me proporcionasse melho- rar a qualidade das cidades, pois era inconformada em ver o “descaso” com elas. Então, foi aí que tudo começou! Eu me formei em Arquitetura e Urbanismo, mas, ainda, que atuasse na área (com escritório de arquitetura e interiores), parecia que faltava algo. Em toda minha vida, tive a referência da minha avó paterna, que era professora; por isso, busquei conhecer essa profissão, e me apaixonei. Hoje, sou docente, empresária, esposa e mãe de um menino lindo, que me ensina diariamente o quão importante é pensar nas pessoas e nos espaços que elas vivenciam, em busca de promover bem-es- tar e qualidade de vida a elas. Ah! Sem deixar de pensar no meio ambiente e na natureza, os quais nos fazem vivenciar momentos importantes em nossa vida! �https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/9874 Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS EU INDICO Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tecnologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experience. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recursos em Realidade Aumentada. Explore as ferramentas do App para saber das possibilidades de interação de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o código, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido PÍLULA DE APRENDIZAGEM Professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discutido, de forma mais objetiva. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 ARQUITETURA E SOCIEDADE Suponhamos que você, enquanto arquiteto(a) e urbanista, foi convidado(a) para pa- lestrar em um congresso importante na área; o tema é Arquitetura e Urbanismo e sua importância para a sociedade. Durante a preparação do seu roteiro, você reflete sobre correlações da disciplina ao ambiente construído e o quanto a sociedade tem de res- ponsabilidade sobre o espaço físico, além de compreender os elementos que interferem na qualidade de vida da sociedade, diariamente. Como você poderia explicar a nossa responsabilidade, enquanto catalisadores e formadores do espaço? Sabemos que o arquiteto e urbanista tem como responsabilidade a formação dos espaços construídos; por isso, é importante que as edificações dos espaços urbanos sejam pensadas, uma vez que temos a responsabilidade de formatar as paisagens que compõem as cidades e, consequentemente, a responsabilidade sobre a qualidade de vida da sociedade. Isso porque o ambiente vivenciado propõe condições efetivas sobre o bem-estar e conforto dos usuários. Deste modo, convido você a olhar para a sua cidade, em espacial, o seu bairro; de- pois, analisar a qualidade das construções, as soluções arquitetônicas das edificações e, também, verificar os elementos urbanos, como os passeios públicos, ciclovias, sanea- mento, áreas de lazer. Não deixe de observar as edificações, as soluções adotadas para os ambientes construídos etc. Estes elementos atendem às demandasda sociedade? É perceptível a intervenção dos profissionais arquitetos e urbanistas nestes espaços? Neste panorama, qual deve ser a nossa conduta, enquanto profissionais formado- res de espaço? Existem orientações e técnicas que devem ser cumpridas a fim de criar estes espaços com qualidade? Quais são os requisitos da sociedade, de modo geral, que devemos atender? Para isso, é importante que reconheçamos alguns parâmetros essenciais que possi- bilitam o estudo da Arquitetura e Sociedade. Na Unidade 1, faremos uma breve intro- dução à disciplina de Arquitetura e Urbanismo, buscando compreender os conceitos iniciais que nos respaldam, durante todo o nosso estudo. Desse modo, pensamos em: o que é Arquitetura e Urbanismo? O que é Projeto? Quais são os elementos essenciais para a nossa produção profissional? Na Unidade 2, estudaremos o Ambiente Construído. Nas primeiras discussões, con- ceituaremos o termo; compreenderemos as escalas de atuação e, depois, destacaremos a importância da associação entre a Arquitetura e a Psicologia, trazendo a Psicologia Ambiental e seus parâmetros como elemento de reflexão espacial. Na Unidade 3, daremos sequência à discussão do Ambiente Construído, mas, agora, sob a ótica do usuário, pensando na relação estabelecida entre pessoa e ambiente, o quanto os ambientes são reflexos desta interação dinâmica e como ele interfere no comportamento do usuário. Nas Unidades 4 e 5, discutiremos o Espaço Urbano e as Edificações sob o olhar da qualidade, buscando compreender o que é a “qualidade” e formas de reconhecê-la den- tro dos ambientes construídos, em suas diferentes escalas. Buscamos, assim, observar a promoção de espaços que garantam as qualidades estética e técnica. Ao chegar na Unidade 6, compreenderemos o conceito e a abordagem da Sociedade. Até o momento, a nossa conversa direcionou-se à Arquitetura e suas particularidades, ainda que sempre relacionada ao usuário e à sociedade, mas é preciso que tenhamos a ciência do que é este conceito e como formata-se esse fenômeno. Para tanto, nos dedicaremos ao estudo conceitual da sociedade. Nas Unidades 7 e 8, estudaremos as questões sociais e ambientais no Brasil e re- fletiremos sobre o panorama brasileiro. Desse modo, discutiremos a relação do am- biente sob estas duas abordagens, sociais e ambientais, compreendendo as maiores problematizações que encontramos e as políticas sociais que atuam nestas questões. E, por fim, na nossa última unidade, falaremos sobre a formação e a profissão do arquiteto e urbanista, buscando apresentar as particularidades da nossa profissão e detalhes práticos que possam auxiliar o reconhecimento da nossa responsabilidade diante da sociedade. Em suma, a intenção é que conheçamos o ambiente construído e o espaço urbano, além de compreender o contexto social e ambiental do Brasil, buscando a correlação da sociedade e do ambiente construído bem como a importância da arquitetura e do urbanismo no atendimento da qualidade. Dessa forma, você terá um panorama prático profissional e poderá utilizá-lo, durante a sua carreira. Convido, então, você, enquanto arquiteto e urbanista, para esta tarefa de palestrar a respeito da nossa responsabilidade profissional; refletir sobre as questões discutidas e, por fim, trazer para nossa realidade as condições, buscando sempre cumprir o papel de profissional responsável pela formação de ambientes construídos com qualidade, fortalecendo a relação com os usuários, ou seja, a sociedade. Vamos nessa! APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 43 5 11 53 31 71 ARQUITETURA E URBANISMO: UMA BREVE INTRODUÇÃO 6 113 SOCIEDADE: DISCUSSÕES IMPORTANTES O AMBIENTE CONSTRUÍDO SOB A ÓTICA DO USUÁRIO AMBIENTE CONSTRUÍDO: DISCUSSÕES INICIAIS A QUALIDADE DO ESPAÇO URBANO A QUALIDADE DAS EDIFICAÇÕES 95 7 135 8 165 AS POLÍTICAS AMBIENTAIS NO BRASIL AS QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL 9 183 A FORMAÇÃO E A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA 1 Olá aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Arquitetura e Sociedade! O nosso objetivo é auxiliar na sua compreensão teórica e crítica sobre as analogias contemporâneas da arquitetura, do espaço e da sociedade, além de debater as teorias sobre o espaço social e urbano, sem deixar, de lado, a apreciação da realidade brasileira e a sua arquitetura. Ou seja, o nosso objetivo é inserir o profissional arquiteto e urbanista e a sua produção na sociedade e, consequentemente, a nossa responsabilidade enquanto profissionais formadores do espaço. A intenção é apresentar a essência e os princípios que envolvem a nossa atividade profissional e compreender a complexidade e a importância de tais atividades. Nesta primeira unidade, Unidade 1, trataremos da Arquitetura e Urbanismo: uma breve introdução, na qual você aprofundará seus conhecimentos sobre as disciplinas de arquitetura e urbanismo bem como os conceitos correlacionados com esta temática. Ademais, buscaremos relacionar os principais aspectos que envolvem o projeto e a metodologia projetual. Arquitetura e Urbanismo: Uma Breve Introdução Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki 12 UNICESUMAR Vamos lá! Para que possamos compreender o contexto em que estamos inserindo a nossa discussão, é preciso destacar dois pontos principais: o primeiro é que a arquitetura reflete valores e expressa gos- tos e aspirações da sociedade como um todo, e o segundo é que o urbanismo vê e se ocupa em como organizar e planejar o espaço urbano de modo racional e humano. Ainda que estas ciências atuem com duas dimensões principais: a sociedade, o lugar e o tempo, há divergências entre os estudiosos quanto ao surgimento destas disciplinas; desta forma, você arriscaria dizer qual é o marco de início da arquitetura e do urbanismo como disciplinas essenciais à sociedade? Arquitetura é habitualmente considerada como um ofício, arte ou técnica de organizar os espaços e criar ambientes em busca de hospedar as diferentes atividades, necessidades e expectativas dos usuários, objetivando a qualidade estética destes espaços. De tal modo, é perceptível que esta disciplina atua e acompanha o desenvolvimento da sociedade seja por meio dos espaços internos ou pelo espaço urbano. A arquitetura, que, por vezes, está associada à pintura, à escultura, à música e à literatura, sempre esteve, em sua essência, na organização dos espaços, levando em consideração a relação com o homem e suas atividades, além de ser definida pelo ambiente socionatural em que acontece. Para a sociedade contemporânea, a principal tarefa dos profissionais arquitetos e urbanistas é o ordenamento espacial, se, lá no início das discussões sobre a arquitetura, falava-se sobre a preocupação com as construção dos espaços, apenas, para suprir a necessidade da habitação e da sobrevivência, atualmente, conseguimos perceber que envolve critérios e preocupações ainda maiores, ou seja, falamos de uma arquitetura acessível que traduz a preocupação com o espaço urbano e que envolve condições mais amplas e abrangentes devido à preocupação com a qualidade do que produzimos e o reflexo que resultará no espaço urbano. Falar do início da arquitetura e do urbanismo é, essencialmente, tratar das variáveis essenciais: o espaço e o tempo, que são base de partida da história. Desta forma, compreende-se que a arquitetura tem sido discutida há muito tempo e se trata de um agente de desenvolvimento e transformações do espaço; é uma disciplina que decorre de muitos “saberes” relacionados à teoria e à prática da arquitetura é uma das ciências mais antigas dentro da sociedade. Quer saber como é simples reconhecer a arquitetura no nosso dia a dia? Neste momento, você está realizando a leitura do material didático da nossa disciplina em um ambiente, independentemente de qual seja ele, olhe a sua volta, observe os elementos que o compõe, liste-os mentalmente, avalie as suas particularidades, a sua forma, as suas cores e as texturas bem como atente-se às questões técnicas as quais inseriramestes elementos neste ambiente. Agora, feche os olhos, perceba e sinta este espaço, permita-se experimentá-lo... agora, pense: quais sentimentos surtiram em você neste espaço? Podemos listar inúmeras decisões inerentes à produção do espaço, e, além do reconhecimento des- tes elementos, é essencial que você faça uma breve reflexão acerca do quanto este ambiente impacta a vida das pessoas que o utilizam. Este ambiente atende às necessidades dos usuários? Possui soluções adequadas e integradas? Há modos de promover melhorias para este ambiente? Faça as suas anotações no #Diário de Bordo#. 13 UNIDADE 1 Figura 1 - Ambiente corporativo Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta um ambiente corporativo com estilo industrial, aparentemente, desti- nado às atividades de escritórios. O espaço é composto por materiais de acabamentos, como tijolos aparentes nas paredes ao fundo, forro com pequenos arcos revestidos em madeira clara e piso vinílico em tons escuros. Quanto aos mobiliários, utilizou-se estações móveis de trabalho com bases metálicas e tampos em madeira, cadeiras mó- veis e mobiliário de apoio ao fundo na cor preta para armazenagem de materiais; por fim, observa-se a presença da vegetação natural no ambiente. Destaca-se, ainda, grandes janelas promovendo iluminação natural em todo o ambiente, além de pendentes estrategicamente posicionados demarcando as áreas de trabalho. Observa-se a dominância das cores preta, laranja e branca. Vamos tentar juntos? Imagine que seja este o seu escritório de arqui- tetura (veja a Figura 1, a seguir) e que você, diariamente, passa seis horas por dia neste espaço. Qual é a sensação que este ambiente proporciona a você? O que você percebe neste espaço? O que qualifica e desqualifica esse es- paço para você? 14 UNICESUMAR Nesta discussão é importante pensar sobre alguns pontos-chave, vejamos: • A primeira questão a ser avaliada refere-se ao propósito do projeto e/ou do ambiente, em que visamos entender a essência do espaço, ou seja, qual é a identidade do espaço? O que se inten- ciona comunicar ao usuário? • A segunda questão refere-se à relação do espaço e o homem, ou seja, a área destinada às ativi- dades a serem desenvolvidas em tal ambiente atende aos requisitos mínimos de funcionalidade e ergonomia? O leiaute é adequado? Ele atende aos critérios de acessibilidade? Por exemplo, o dimensionamento das bancadas de trabalho é coerente com as atividades desenvolvidas? A área de afastamento das cadeiras é coerente? Há circulações adequadas à quantidade de usuários que ocupam o ambiente? • Por fim, os materiais aplicados acompanham a função do espaço quanto à diversidade dos usuários? Eles atendem ao tráfego? A limpeza, as texturas e as cores auxiliam a comunicação e a compreensão do espaço? Há conforto no ambiente? Ou seja, sob a ótica profissional, é preciso que tenhamos um olhar pautado nas soluções técnicas e estéticas, as quais buscam pelo entendimento do comportamento e dos anseios dos usuários, objeti- vando a criação de espaços funcionais e estéticamente agradáveis. É possível reconhecer que a Figura 1 se trata de um ambiente corporativo e que, possivelmente, atende às demandas de um escritório de arquitetura, e isto pode ser assegurado, devido à identidade estabelecida no lugar. Além disso, é possível definir o espaço como criativo e inovador, consideran- do, inicialmente, a definição do leiaute, a sua organização centralizada na integração das estações de trabalho e a ausência de separação e/ou segmentação das áreas de trabalho por meio de divisórias. Ainda em relação à Figura 1, destacam-se os materiais especificados, que valorizam o sensorial, por meio das texturas, como os tijolos aparentes, a paginação do piso vinílico e o uso dos metais nos mobiliários, isto é, as características primordiais do estilo industrial, que são reforçadas pela definição de iluminação natural e o design de mobiliários adequados. Direcionando a discussão aos critérios que envolvem a relação do espaço e do homem, é perceptível que o ambiente considerou o dimensionamento adequado das áreas de trabalho, de modo a orientar as circulações e priorizar a funcionalidade do espaço. A experiência que realizamos teve como objetivo apresentar a você um conceito recentemente discutido, no entanto essencial à arquitetura e ao urbanismo, que se refere às experiências dos usuários nos espaços, que possuem compreensões diferentes em relação ao ambiente construído. Para isso, é importante que conheçamos a respeito da experiência do usuário, em inglês, user experience (UX), que concentra a sua discussão na relação no comportamento do usuário em relação ao ambiente construído. Os estudiosos defendem a vertente de que o comportamento humano, em relação ao ambiente, depende de valores subjetivos, como as experiências já vividas e os valores culturais aos quais estão inseridos, e, com isso, o atribui significados particulares, buscando a interpretação da realidade. Sendo assim, pode-se afirmar que a realidade de cada um é única (BESTETTI, 2004). Bestetti (2004) coloca que é comumente adotado pelos estudiosos que o comportamento humano frente ao ambiente físico, depende de valores subjetivos como por exemplo, as experiências vividas, 15 UNIDADE 1 Para compreender a arquitetura enquanto ciência, destaca-se o arquiteto Marcus Vitruvius Pollio, conhecido como Vitrúvio, que viveu no século I a.C. e ficou conhecido pelo Tratado da Arquitetura, única obra teórica de arquitetura publicada (HINTZEN-BOHLEN; SORGES, 2006). Este tratado é organizado em dez livros, divididos em capítulos dedicados a matérias especí- ficas que permeiam entre as considerações sobre os requisitos necessários ao arquiteto e à arquitetura, como os materiais utilizados, as proporções e as comparações com a do corpo humano, as ordens da arquitetura, entre outros. Fonte: adaptado de Hintzen-Bohlen e Sorges (2006). os valores culturais, entre outros, e com isso, cada usuário atribui significados particulares ao espaço, buscando a sua interpretação particular da realidade. Para a arquitetura, discute-se a respeito da experiência do usuário a experiência do usuário é dis- cutida a partir da percepção, ação, motivação e cognição associada ao lugar, ao tempo, às pessoas e aos objetos (HASSENZAHL; TRACTINSKY, 2006). Assim, compreende-se que a experiência surge da influência mútua de diferentes sistemas, tratando-se, portanto, de um fenômeno pessoal e indivi- dual de percepções e respostas que emergem quando se interage com um produto (OLSSON, 2013). Okamoto (2002), em concordância, defende que esta subjetividade é inerente aos sentidos internos, às motivações pessoais e à interpretação de fatos que dão origem às ações externas; e, por saber que cada ação é precedida de um pensamento consciente ou inconsciente, o desafio do profissional arquiteto é compreender a origem dessas atitudes, a qual modela o comportamento dos usuários. Neste trajeto, atuar no design centrado no ser humano, como o campo de user experience (UX), é trazer o usuário para dentro do processo, isto é, inserir, justamente as pessoas dentro disso, é justamente inserir as pessoas que fazem uso de um produto ou serviço. Um profissional que prioriza UX será, assim, precisamente, aquele que irá alinhar, refinar e reconciliar objetivos de negócios de acordo com o que o usuário precisa. Após esta reflexão, é possível compreender que a arquitetura é uma disciplina complexa e multifacetada, que exige conhecimentos técnicos e estéticos a serem aplicados em suas produções, além de considerar as questões subjetivas que envolvem os espaços e quem se relaciona com eles. A arquitetura é uma ciência baseada no conhecimento e ela está relacionada à construção física e ao emprego dos conhecimentos sobre o comportamento, a percepção e a cultura para criar espaços que dêem suporte aos usuários e, desta forma, ela se associa às ciências sociais. Assim, a arquitetura é a mais conservadora das arteshumanas, e as suas mudanças têm sido motivadas pelos usuários. De acordo com Colin (2002), a palavra arquitetura tem origem grega, em que tecton significa construtor ou carpinteiro e arkhi tem seu significado associado à superioridade. O autor destaca ainda que Vitrúvio, nomeado o primeiro arquiteto, define arquitetura como “significado e significante”, em que o significado é o tema (do que se fala), trata-se da forma, e o significante é uma demonstração desenvolvida com argumentos científicos, trata-se do conceito, ou seja, é a interação entre a forma e o conteúdo, considerando o lado experimental versus o lado conceitual. 16 UNICESUMAR Descrição da Imagem: a Figura 2 mostra um triângulo equilátero representando o Triângulo de Vitrúvio. Nas três vértices desse triângulo, há círculos que representam os três pontos que compõem a arquitetura, ou seja, cada uma dessas vértices aponta os três princípios básicos, que, quando integrados, produzem uma arquitetura eficiente. O primeiro princípio (vértice superior) é definido pelas utilitas, que se refere ao componente funcional (uso); o segundo (vértice inferior à esquerda) é definido pelas firmitas, que se refere ao componente técnico (matéria); e, por fim, o terceiro princípio (vértice inferior à direita) é definido pelas venustas, que se refere ao componente estético (beleza). Figura 2 - Triângulo de Vitrúvio / Fonte: a autora. Vitrúvio, ainda, deixou seu legado: apresentou um modo de compreender a arquitetura a partir de três princípios básicos: as firmitas, referente à solidez, a utilitas, referente à funcionalidade, e as venustas, referente à beleza. Neste contexto, Marques (2012, p. 5-6) aponta as principais características apresentadas pelo arquiteto: • Utilitas: a palavra função deriva do latim functio/functionis. Todo o espaço arquitetônico destina-se a determinado fim, sem o qual não tem necessidade de existir. • Firmitas: a sua origem encontra-se no termo grego teknné, que significa “arte ou maneira de agir”. A técnica defi- ne-se como o conjunto de regras ou procedimentos para se fazer algo com determinada finalidade. • Venustas: a estética provém da palavra grega aisthesis, que significa percepção sensorial, mas cuja definição pode ser ampliada como a da ciência das aparências perceptíveis, da sua percepção pelos homens e da sua importância para estes como parte do sistema sociocultural. 17 UNIDADE 1 Descrição da Imagem:a Figura 3 apresenta um círculo com um quadrado e a figuração de um homem com os braços e pernas abertas, representando o Homem Vitruviano, definido por Leonardo da Vinci, que ao relacionar o corpo humano à proporcionalidade e ao nível de perfeição das formas, apontou as proporções ideais, segundo o modelo clássico. Na imagem, há a sobreposição de imagens de um homem nu, em quatro posições diferentes, em que se observa os braços em duas posições: na primeira, eles estão dispostos em ângulos de 90 graus e, na segunda, estão mais deslocados mais acima da cabeça. Quanto às pernas, observa-se que elas estão abertas e fechadas, com um pé apresentado frontalmente e outro lateralizado. Figura 3 - O homem de Vitrúvio A arquitetura, ainda que permeie por caminhos artísticos, é uma ciência que engloba con- dições técnicas. Neste panorama, é importante que saibamos reconhecer o processo que é estabelecido nesta disciplina, ou seja, é importante que reconheçamos o que é o projeto, a sua metodologia e as demais particularidades inerentes a nossa produção. Além disso, também, fala-se sobre a experiência de vida adquirida na própria natureza: o bom co- nhecimento da natureza é a base do conhecimento e da orientação para a elaboração de espaços mais saudáveis e, para isso, é necessário compreender os comportamentos dos animais e dos vegetais locais. E, por fim, é importante reconhecer que a medida de todas as coisas estará associada ao corpo humano — quando falamos, então, da escala e do número da harmonia (KONG, 2009). 18 UNICESUMAR Ao falarmos da representação e da comunicação de ideias, entraremos no campo do projeto e o ato de projetar; inicialmente, conheceremos a definição de “projeto”. Segundo a NBR 13.531, o termo refere-se à “determinação e representação prévia do objeto (urbanização, edificação, elemento da edificação, instalação predial, compo- nente construtivo, material para construção) mediante o concurso dos princípios e das técnicas próprias da arquitetura e engenharia” (ABNT, 1995, p. 2). Melhado (1994) apresenta algumas definições para a palavra projeto, referindo-se ao termo, basicamente, como procedimento ou prática de projetar. O autor descreve, ainda, que o projeto de edificações deve incorporar a visão de produto, ou seja, a forma, as funções e o processo de produção dele. “ [...] propôs-se o conceito de projeto como uma atividade ou serviço integrante do processo de construção, responsável pelo desenvolvi- mento, organização, registro e transmissão das características físicas e tecnológicas especificadas para uma obra, a serem consideradas na fase de execução. Dentro da mesma orientação, definiu-se projeto para produção: conjunto de elementos de projeto elaborados de forma simultânea ao detalhamento do projeto executivo, para uti- lização no âmbito das atividades de produção em obra, contendo as definições de: disposição e sequência das atividades de obra e frentes de serviço; uso de equipamentos; arranjo e evolução do canteiro; dentre outros itens vinculados às características e recursos próprios da empresa construtora (MELHADO, 1994, p. 8). Falar sobre o projeto e seu processo, Kowaltowski et al. (2006) destacam que os mé- todos de projetos arquitetônicos possuem grande complexidade por se tratarem de uma área intermediária entre a ciência e a arte, além de abrangerem um panorama técnico de sistema de avaliação de desempenho das edificações e dos indicadores de qualidade de projetos, entre outros. Portanto, ressalta-se a inexistência de métodos rígidos e universais entre os profissionais, mesmo que existam procedimentos que são, comumente, adotados por eles. As relevâncias das discussões das metodologias de concepção de projetos de arquitetura, na indústria da construção civil, são derivadas de parte substantiva dos problemas de edificações, devido a falhas na etapa de elaboração de projeto. Desta forma, é possível compreender que os projetos têm papel fundamental no atendimento dos requisitos de qualidade dos produtos construídos e na edificação dos sistemas de produção (FABRÍCIO, 2002). 19 UNIDADE 1 Ainda que se fale da arquitetura como uma ciência antiga, que podemos datá-la como tão antiga quanto a humanidade, desde que o homem se preocupava em “ha- bitar”, muitas das discussões referem-se ao “ato de projetar”, ou seja, reflete-se sobre o processo de projeto. A arquitetura é, amplamente, discutida entre os pesquisadores e, ainda que seja baseada em um raciocínio de investigação, especulação e interpre- tação, que, de modo bastante assertivo, é defendida por Silva (2011) como a arte de responder a algum problema, ela não possui um único caminho correto, ou uma única teoria sobre como projetar. Para Lawson (2004), uma comparação bastante simples refere-se ao ato de projetar e ao jogo de xadrez, o qual não possui divisões em casas, ou seja, existem as peças que podem ser inventadas e movimentadas conforme o jogo avança, e as regras podem ser alteradas à medida que os movimentos são realizados, as- sim, a atuação e o objetivo do jogo não estão definidos no início e podem sofrer alterações enquanto o jogo acontece. O desafio profissional dos arquitetos é tornar a arquitetura centralizada no atendimento às expectativas dos usuários, desde os aspectos básicos de habitabi- lidade até as condições estéticas, associando, em seus projetos, os valores estéti- cos/formais e o desempenho do ambiente construído, sem deixar, de lado, a sua qualidade funcional (VOORDT; WEGEN, 2013). Neste quesito, considera-se os seguintescritérios de desempenho: funcionalidade, conforto ambiental, acessi- bilidade, segurança pública, privacidade, flexibilidade, entre outros, em busca de medir a satisfação dos usuários. Ao falarmos de projeto, precisamos entender que uma das suas maiores dificul- dades se refere à má elaboração do programa de necessidades, estruturado por meio do briefing, em que falta planejamento e entendimento das premissas e expectativas do cliente por parte do arquiteto (KOSKELA, 2000). Para isso, é importante que com- preendamos o que é o programa de necessidades e/ou programa arquitetônico. Peña e Parshall (2001) definem a programação (do inglês, programming) como um processo que conduz ao encontro do problema arquitetônico e às exigências a serem cumpridas, em busca de oferecer as soluções adequadas ao problema. Este instrumento tem natureza reflexiva, informativa, crítica, orçamentária e contratual e é dividido em três seções: a primeira refere-se às condições limitantes, as quais envolvem os pré-requisitos, como as leis, as normas e as questões financeiras; a se- gunda, às características do grupo-alvo, as quais descrevem as metas da organização dos usuários e suas atividades; e, por fim, a terceira define as necessidades relativas ao objeto, à configuração espacial e aos componentes da edificação (Figura 4). 20 UNICESUMAR Descrição da Imagem:a Figura 4 mostra o ciclo do processo de projeto e execução a partir da representação de três círculos maiores que contemplam os agentes: projetistas, construtora e usuário/cliente. Mais ao centro, há mais três círculos que representam a construção, o projeto e o programa de necessidades, todos eles conectados por meio de setas. Esta figura dá destaque ao programa de necessidades, que está representado pelo círculo em vermelho, e a sua importância neste processo, tratando-se do instrumento inserido nas etapas de projeto, programação e execução. Figura 4 - O programa de necessidades no processo de projeto e execução Fonte: adaptada de Vrielink (1991 apud VOORDT; WEGEN, 2013). A estruturação das informações do projeto que um programa de necessidades deve abranger e serve como checklist para a atividade de programação; dessa forma, compreendemos que a programação arquitetônica é uma fase relacionada à definição do projeto, ou seja, ao momento em que se descobre a natureza do problema projetual, na qual os valores do cliente, do usuário e do arquiteto são identificados, os objetivos, articulados e o processo de gerenciamento das necessidades é iniciado (HERSHBERGER, 1999). O programa de necessidades é um registro das premissas, dos desejos e das condições limitan- tes como parte do processo de construção, que é elaborado a partir de uma análise meticulosa da organização das atividades a serem abrigadas nas edificações e das condições especiais necessárias e desejadas para o projeto (VOORDT; WEGEN, 2013). Desta forma, o programa arquitetônico é um procedimento de análise, e seu objetivo é listar as condições do contexto em que um edifício operará em termos de requisitos funcionais. 21 UNIDADE 1 Vamos pensar um pouquinho mais a respeito do projeto e seu processo de elaboração? Já percebemos que a construção das edi- ficações é composta por diferentes especialidades de projeto e, com isso, demanda soluções que imprimam qualidade de detalhamento, em busca de atender às diferentes especificidades de cada etapa de projeto e execução. Vale a pena conversarmos um pouquinho mais referente a estas questões que envolvem o projeto e a sua metodo- logia! Dê um play no nosso podcast! Para fechar a nossa discussão a respeito de projeto, relembre-se de que Oliveira e Melhado (2006) descrevem o projeto como ati- vidade integrante de um processo de execução, que envolve desde a etapa de organização, desenvolvi- mento e registro das informações até a transmissão de características físicas e tecnológicas específicas de uma obra, pois, assim, o projeto é capaz de compreender desde a identificação das oportunidades até as especificações dos requisitos e das características a serem entregues aos clientes. Compreendendo a abrangência do projeto e olhando para “onde” ele se insere, sairemos de uma visão centralizada na arquitetura e adentramos ao mundo do Urbanismo, e você perceberá que eles são indissociáveis e que a nossa produção faz mais sentido quando estas disciplinas caminham de forma integrada e complementar. Neste contexto, é válido destacar que muitos pesquisadores defendem que não há concepção arquitetônica sem a inserção em um meio, ou seja, em um contexto, sem que saibamos reconhecer o local ao qual temos a responsabilidade de produzir. Para isso, é importante conceituarmos Urbanismo, palavra originada de urbis, que significa cidade. O Urbanismo é considerado uma disciplina com foco na definição, organização e planeja- mento de uma cidade. Para uma reflexão mais técnica, ainda que não haja um consenso quanto a esta definição, há uma divisão entre o determinismo ambiental e o reflexismo sociológico. Para nossa disciplina, permearam as práticas do determinismo ambiental, o qual defende os critérios que adotamos enquanto profissionais e centraliza a ideia de que o meio ambiente pode definir e influenciar as funções e o psicológico dos usuários em função das relações de causa e efeito na conformidade entre a natureza e o homem. Antes de iniciarmos a nossa conversa sobre o termo cidade, é importante que compreendamos o conceito de lugar, visto que esse elemento é essencial à arquitetura. Mahfuz (2004) coloca que o pro- jeto de arquitetura de qualidade defende o seu entorno, e a arquitetura, neste quesito, funde-se com o urbanismo e, por meio do ato de projetar, deve estabelecer relações das partes, individualmente, com o todo, sejam elas internas ou o que cada edifício estabelece com a sua paisagem urbana. O conceito de lugar abrange as identidades particulares e a existência de um espaço específico, além de considerar que o lugar possui contextos (sociais, históricos, políticos, econômicos, culturais e físicos) e compõe aspectos sensíveis, empíricos e simbólicos. Para a arquitetura, o lugar é a essência dos acontecimentos, e é ela que modifica a paisagem e cria o “lugar” (DANTAS, 2007). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/6766 22 UNICESUMAR Mahfuz (2013) coloca, como criativo, o arquiteto que traz respostas ao lugar, soluções para as necessidades humanas. Atualmente, são inúmeras as necessidades humanas, que vão desde as necessidades básicas de alimentação até o uso sus- tentável dos recursos naturais. Desse modo, Colin (2002) relata que a arquitetura exprime um produto cultural de uma sociedade, isto significa que, sob a visão antropológica, a arquitetura apresenta um produto da cultura quanto à forma que nos organizamos em sociedade. Vale ressaltar que, ainda que a palavra sociedade possa ter diversos significados, neste contexto, ela se trata do agrupamento humano que vive sob regras e costumes em comum, o qual requer trocas cognitivas e morais no intercâmbio com os iguais. Desta forma, estas relações sociais eminentes à sociedade produzem e organizam o espaço e o tempo; assim, a arquitetura e o urbanismo promovem a construção de novos significados para a cidade, que traz a representação e a comunicação de ideias referentes ao espaço construído, baseado na história e na teoria da arquite- tura e do urbanismo. Ou seja, estamos, a todo momento, construindo a sociedade e seus significados e, consequentemente, o ambiente construído. Faremos uma pausa em nossa leitura para conversarmos um pouquinho mais sobre o conceito de sociedade, tanto para a Sociologia quanto para a Arquitetura. Ainda que seja uma discussão complexa, é essencial que saibamos trazer o conceito à frente do debate da arquite- tura e do urbanismo! Tenha a sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo! Ao falar do elemento base do Urbanismo, a cidade, Farrelly (2014) define que ela abriga as construções,e a arquitetura é o reflexo de cul- tura e sociedade, abrigando pessoas e modos de vidas diferentes. Entende-se que a cidade é o cenário de trabalho do profissional arquiteto, que indiferente da escala de produção, insere-se no contexto urbano. Ching e Eckler (2014) afirmam que a cidade é composta de um conjunto de es- truturas diferentes, como os bairros, o sistema viário e as edificações, e ele atende às necessidades específicas daquele usuário, naquele lugar, ou seja, a cidade passa a ser a composição de diversidades e, inevitavelmente, resulta em diversidade de soluções de projeto. Definir o termo cidade é complexo, conforme defende Rolnik (1988), pois exige certo grau de abstração; ela é entendida como esfera política e descrever o processo de morar em cidade implica viver em uma dimensão pública de forma coletiva. Assim, ser habitante de cidade significa participar, de alguma forma, da vida pública, ainda que, apenas, pela submissão a regras e regulamentos. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/6765 23 UNIDADE 1 Falar de “cidade” e suas particularidades, como vimos, é algo bastante complexo, envolve abordagens físicas e subjetivas, e, neste contexto, é importante que saibamos reconhecê-la, sob a ótica da percepção. Em busca de compreender estes principais conceitos, pesquisadores do Urbanismo buscaram organizar e agrupar os elementos formadores do espaço em grupos e descrevê-los. Desta forma, Kevin Lynch, pesquisa- dor que influenciou o Planejamento Urbano por meio de seu trabalho, que se baseia na teoria da forma urbana e da percepção do ambiente das cidades, escreveu uma das obras mais importantes nomeadas: A Imagem da Cidade. O autor identificou que as informações que os usuários se apropriam para estruturar sua imagem da cidade podem ser agrupadas em cinco grandes tipos: caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Segundo o autor, essa percepção é feita aos poucos, durante a vivência e a experimentação relacionadas com o entorno em que está inserido. Vale a pena dedicar-se à leitura do livro, que apresenta, de forma bastante compreensível, as condições que envolvem a nossa percepção sobre a cidade, elemento que falaremos bastante durante a nossa disciplina. Descrição da Imagem:a Figura 5 mostra vários barracos em si- tuações precárias, além de um ambiente sujo, com a ausência de manutenção adequada. Re- fere-se a um exemplo de favela, por meio de barracos deprecia- dos, que apresentam tais habi- tações em condições precárias, sendo a ocupação da área de modo desorganizado, sem a preocupação com a infraestru- tura básica e o estabelecimento de critérios de habitabilidade. Figura 5 - Ocupação habitacional Agora sim é possível entendermos algumas questões que viemos discutindo nesta unidade e, em busca de compreendermos, principalmente, a importância da arquitetura frente à sociedade, avaliamos algumas questões. Imagine que você, arquiteto(a) e urbanista, depara-se com a seguinte paisagem: 24 UNICESUMAR Sabendo a necessidade de reconhecer os critérios que definem a organização e a disposição dos agentes da construção civil, este Guia, Desempenho das Edificações Habitacionais – Guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR 15575/2013, que objetiva colocar à disposição de consumidores e fornecedores uma leitura complemen- tar à norma, mas que contribui ao entendimento das informações técnicas sobre produtos e projetos pela melhoria da qualidade da habitação, é gratuito e pode ser baixado por meio do QR-code. Qual é a sensação que esta imagem causa a você? Qual é a sua percepção sobre habitar este espaço? Qual é o seu entendimento sobre habitabilidade? Antes de iniciarmos a nossa reflexão acerca da Figura 5, é importante ressaltarmos a conceituação de habitabilidade. A NBR 15.575, que trata da Norma de Desempenho das Edificações Habitacionais, define habitabilidade por “manter a satisfação do usuário durante a utilização do imóvel” (ABNT, 2013, p. 8.) e, nesse âmbito, há exigências a serem cumpridas, como: estanqueidade da água, desempenho térmico, desempenho acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico. Outra vertente que revela condições de habitabilidade é defendida por Oliveira (2013) como a relação e adequação do homem ao seu entorno, que estão associadas às questões de conforto ambiental, es- pacial e psicossocial. Ainda, destaca-se as questões construtivas, como a segurança e a manutenção da moradia. Esta é uma concepção ampla do termo habitabilidade, talvez, a mais apropriada para alcançar níveis desejáveis para uma habitação adequada. Sabemos que as áreas ocupadas sem organização e/ou as favelas são o conjunto de habitações que, de modo desorganizado e bastante denso, ocupa determinada área, seja ela pública ou privada e, na maioria das vezes, sem infraestrutura básica, em que os usuários se organizam de acordo com as suas possibilidades. Estas são respostas ao processo de urbanização indissociável do período da industria- lização, nas décadas de 50 a 70, anterior ao fenômeno da concentração urbana no Brasil (CAMPOS, 1999). Falaremos destas questões durante a nossa disciplina, o importante, neste momento, é que saibamos que a ausência do planejamento urbano, frente ao processo de organização da cidade e das habitações, coloca a qualidade de vida dos cidadãos em jogo. Agora, observe a figura a seguir: https://site.abece.com.br/download/pdf/130626CBICGuiaNBR2EdicaoVersaoWeb.pdf 25 UNIDADE 1 Descrição da Imagem: a Figura 6 refere-se a um conjunto habitacional na cidade de Mendoza, na Argentina. Ele apresenta a organização das habitações sociais, sendo possíveis de serem observadas pela repetição das residências e pelas decisões arquitetônicas, visto a organização e a definição pelas premissas de atendimento às infraestruturas básicas. O conjunto apresenta seis habitações na cor verde e seus acessos. Figura 6 - Conjunto Habitacional Las Heras, Argentina. É perceptível que a Figura 6 se trata de um conjunto habitacional, o qual se refere a uma habitação pública, visando aos beneficiários acesso à moradia popular e a possíveis transformações de favelas. Ainda que não haja comparação entre as habi- tações nas duas situações apresentadas, o meu convite é para que você, profissional de arquitetura e urbanismo, volte seu olhar para os espaços que são edificados na sua cidade, no seu estado e no seu país. Observe quais são as decisões arquitetônicas que impactam o espaço construído e verifique as resoluções arquitetônicas, em busca de auxiliar as questões públicas quanto ao direito dos cidadãos à moradia. Aqui está a primeira questão que envolve a importância da arquitetura e sua função social frente à sociedade. Nós, arquitetos(as) e urbanistas, somos responsáveis pelo desenvolvimento social e econômico, bem como dinamizadores nas transformações e nas expectativas de uma sociedade. Somos, sim, capazes de atuar na linha de frente das políticas habitacionais, auxiliando na promoção de melhor qualidade de vida aos usuários. Olhando para a história da arquitetura, ainda, aprofundar-nos-emos neste estudo durante a nossa disciplina. 26 UNICESUMAR Descrição da Imagem: o mapa mental representa, de modo sucinto, os temas abordados nesta unidade, sendo eles: Arquitetura e Urbanismo: uma breve introdução, os conceitos de arquitetura e urbanismo, sociedade e projeto e, para cada um deles, há um desdobramento dos itens que envolvem a nossa percepção espacial e sua relação com o usuário. Em relação à arquitetura, os termos “cidade” e “lugar” foram abordados, que, em consonância com o grupo “sociedade”, trouxemos o critério das relações sociais e, em conjunto com a arquitetura e o urbanismo, a relação entre o homem e o espaço, ou seja, os aspectos que envolvem a “experiência do usuário”. Por fim, no que tange ao projeto, buscou-se objetivar o ato de “planejar”, além de referenciar dois pontoscruciais nesse aspecto, o programa de necessidades e a Tríade Vitruviana. Figura 7 - Mapa mental / Fonte: a autora. Muitos autores dizem que a arquitetura nasce junto à sociedade, mesmo que ela não seja nomeada como tal e que a sua história venha acompanhando o desenvolvimento da sociedade em diferentes formas de aparições. Entende-se que a arquitetura, efetivamente, nasceu a partir do momento que houve a preocupação com a relação do homem e o espaço, mesmo que seu objetivo maior era/é tornar belos e funcionais os espaços Nós, profissionais da arquitetura e urbanismo, somos atuantes na disciplina que objetiva produzir e organizar os ambientes construídos e trazê-los à utilização do ser humano, ou seja, produzir e orga- nizar espaços para os usuários e suas funções, em busca de atender às diversas demandas de ordem funcional, técnica e estética. 27 M A P A M EN TA L Agora é com você! Desenvolva um mapa mental que organize os conteúdos estudados, seguindo o exemplo da Figura 7. É importante que este mapa traga à tona os elementos-chave, para que você compreenda os itens que debatemos e para que, deste modo, possamos firmar o conteúdo e darmos sequência a nossa conversa! Bom trabalho! 28 A G O R A É C O M V O C Ê 1. Leia o texto a seguir: Na arquitetura, ao se falar da concepção e execução de um projeto, seja um mobiliário ou um edifício, deve-se levar em conta a sua escala e, consequentemente, a dimensão de quem o utilizará, ou seja, o usuário, pois inúmeras teorias ocorrem acerca destas questões e objetivavam criar parâmetros e ordens acerca da dimensão humana. O primeiro arquiteto a evidenciar estas questões do Homem Vitruviano e os três princí- pios básicos formadores da arquitetura foi Marcus Vitruvius Pollio (HINTZEN-BOHLEN; SORGES, 2006). HINTZEN-BOHLEN, B.; SORGES, B. von J. Roma: arte e arquitetura. Königswinter: Ko- nemann, 2006. Com base neste contexto, assinale a alternativa correta: a) Ao se falar da Tríade Vitruviana, entende-se que os elementos formadores da arqui- tetura envolvem a função e a técnica, apenas. Critérios, como beleza e estética, são elementos irrelevantes na definição dos produtos arquitetônicos. b) Ao falar do Homem Vitruviano, o arquiteto Marcus Vitruvius Pollio, defende que a medida de todas as coisas está associada ao corpo humano, relacionando as despro- porções e a imperfeição das formas. c) Ao se falar da Tríade Vitruviana, entende-se que os elementos formadores da arqui- tetura envolvem as utilitas, as firmitas e as venustas, ou seja, a função, a técnica e a estética, respectivamente. d) Vitrúvio foi o único arquiteto a discutir sobre as questões da escala e sua relação com o homem, que, mais tarde, definiu o Homem Modulor, desenhado para atender às demandas sem desperdiçar o espaço. e) Vitrúvio dedicou-se a definir dimensionamentos adequados às atividades e concluiu que não há qualquer relação entre o dimensionamento espacial e a sua funcionalidade. 2. Em relação ao projeto de arquitetura, Leupen (2004, p. 14) diz que ele “não é um pro- cesso linear, em que uma tarefa específica conduz a uma única solução. É um processo em que todos os aspectos relevantes são submetidos a um rigoroso juízo crítico” LEUPEN, B. et al. Proyecto y análisis: evolución de los principios en arquitectura. Bar- celona: Gustavo Gilli, 2004. Com base neste contexto, analise as afirmativas a seguir: I) A palavra projeto pode ser enquadrada como a concepção e o desenvolvimento do produto, trazendo, exclusivamente, as especificidades do que se está produzindo. II) Uma das etapas necessárias do projeto refere-se à identificação das necessidades dos clientes, que, além de considerar a qualidade da solução adotada no projeto, gera a qualidade do produto. 29 A G O R A É C O M V O C Ê III) Pode-se definir projeto pela determinação e representação prévia do objeto, mediante a organização dos princípios e das técnicas próprias da arquitetura e da engenharia. É correto o que se afirma em: a) Apenas, I. b) Apenas, II. c) Apenas, III. d) Apenas, I e II. e) Apenas, II e III. 3. Lynch (1960) defende que o modo de alcançar a qualidade na cidade é dado por meio do acúmulo dos elementos que constituem a paisagem, e estes elementos são agru- pados em cinco grandes tipos: vias, limites, bairros, cruzamentos e pontos marcantes. LYNCH, K. The image of the city. Cambridge: The MIT Press, 1960. Com base neste contexto, analise as afirmativas a seguir: I) Os limites para o urbanismo referem-se aos elementos lineares não entendidos como vias pelo usuário, são fronteiras entre duas faces, quebras de continuidades lineares, como: praias, construções, muros, entre outros. Ou seja, são referências laterais coordenadas. II) Os bairros são regiões médias ou grandes de uma cidade, concebidos como dotados de extensão bidimensional, devendo incluir uma variedade de componentes, como: textura, espaços, formas, detalhes, símbolos, construções, atividades, entre outros. III) Os pontos marcantes referem-se aos lugares denominados como estratégicos de uma cidade, sendo pontos essenciais ao acesso, circulação e movimentação dos usuários. 30 A G O R A É C O M V O C Ê É correto o que se afirma em: a) Apenas, I. b) Apenas, II. c) Apenas, III. d) Apenas, I e II. e) Apenas, I e III. 4. O arquiteto é criativo quando traz respostas ao lugar, soluções para as necessidades humanas. Atualmente são inúmeras as necessidades humanas, que vão desde as ne- cessidades básicas de alimentação até o uso sustentável dos recursos naturais. Consi- derando esse contexto, avalie as seguintes afirmativas e a relação proposta entre elas: I) A arquitetura exprime um produto cultural de uma sociedade PORQUE II) Sob a visão antropológica, a arquitetura apresenta um produto da cultura quanto à forma que nos organizamos em sociedade. É correto o que se afirma em: a) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) A afirmativa I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A afirmativa I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As afirmativas I e II são proposições falsas. 2 Olá, aluno(a), em nossa primeira unidade, tratamos, de modo in- trodutório e exploratório, a Arquitetura e o Urbanismo, trazendo à discussão os conceitos essenciais para a compreensão da complexi- dade destas disciplinas. Neste segundo momento, centralizaremos nossa conversa na conceituação do termo “ambiente construído”, além de discutirmos sobre a sua escala (seja a edificação ou o espaço urbano), pois é aqui que direcionamos o entendimento aos parâ- metros que compõe o espaço, sejam eles objetivos ou subjetivos, estabelecendo as diretrizes que nos auxiliam na sua construção. Por fim, abordaremos a Psicologia associada à Arquitetura e ao Urba- nismo, a qual é denominada Psicologia Ambiental, uma ferramenta técnica de apoio à compreensão do comportamento dos usuários nos ambientes, assim como a cinestesia. Ambiente Construído: Discussões Iniciais Me. Gabrielle Prado Jorge Yamazaki Para discutirmos sobre o ambiente construído, seja na escala das edificações e/ou das cidades, devemos nos questionar a respeito da importância dele na vida do usuário, ou seja, falar sobre o “espaço de vida”, o qual é capaz de ser ocupado, vivenciado e modificado pela sociedade que o ocupa. Deste modo, podemos compreender, ini- cialmente, que a nossa responsabilidade profissional vai além de “construir” espaços, é preciso olhar para o comportamento humano, refletir acerca de sua interação com o ambiente construído e buscar promover ambientes que atendam às necessidades e aos anseios destes usuários com qualidade. Pensando que o ambiente construído é resultado do modo como o usuário se comporta nele: você, enquanto arquiteto(a) e urbanista, saberia descrever o modo como osusuários podem perceber e vivenciar os espaços? Você conseguiria evidenciar quais são os aspectos objetivos e subjetivos que interferem na percepção de um espaço? Pensando na composição do ambiente construído, sabemos que ele vai além dos elementos físicos e, por isso, é preciso que seja mais “humanizado”. A humanização diz respeito ao ato de tornar humano e sociável, isto é, promover espaços que possam ser vivenciados e que proporcionem percepções qualitativas aos usuários, sejam elas individuais ou coletivas. O ambiente físico evoca o reconhecimento das especificidades morfológicas, configuracionais e subjetivas que o organizam e o formam, e isto reflete, diretamente, em como estes espaços são percebidos, a partir das sensações e emoções (positivas ou negativas) atribuídas a eles, as quais modificam o significado das experiências da sociedade como um todo. Nesse sentido, os elementos estruturadores das edifica- ções e da cidade desempenham papel essencial no modo como o espaço é utilizado e, consequentemente, no comportamento de seus usuários. Portanto, estudar estes elementos define o ambiente construído, sob a ótica de quem utiliza os espaços, e isto é essencial para que você, estudante, enquanto futuro(a) profissional, influencie, de modo positivo, a sociedade em que vivemos. Talvez, poucas vezes, tenhamos nos questionado a respeito do modo como utiliza- mos o ambiente físico, não nos damos conta de sua complexidade, e, ainda, o quanto ele é adaptável à realidade vivenciada pela sociedade que o ocupa. Mas é chegada a hora de estudarmos estas questões! Como exemplo, temos a pandemia da Covid-19, que teve início no ano de 2020 e trouxe consequências no âmbito social, principalmente, no que tange à relação com o meio urbano: não se pode realizar aglomerações em um mesmo espaço, o que reflete no “distanciamento social”; aprofundou-se a importância das casas e a sua sanita- riedade; surgiu (para muitas empresas) um novo modo de trabalhar, o home office; 32 UNICESUMAR limitou-se o uso dos transportes públicos e trocou-se, quando possível, o modal (ônibus para bicicletas, por exemplo); etc. Desta forma, inevitavelmente, será preciso pensar no ambiente físico “pós-pandemia” e, também, nas políticas públicas e ambientais, em busca de nova ordem urbana. Faça esta análise, pare, por alguns instantes, e olhe para a sua casa e para a sua cidade: estes espaços sofreram alterações durante o período da pandemia? Se sim, quais foram elas? Utilizando o seu #Diário de Bordo#, faça as suas anotações! Pensando no período pandêmico, podemos listar algumas decisões inerentes à produção do espaço (e a sua adequação) em busca de promover melhorias para os ambientes e, principalmente, para os usuários. Vamos lá! Direcionamos nossa reflexão às edificações, mais especificamente, aos espaços de interiores dos imóveis. Imagine o hall de um apar- tamento. O que você listaria como elementos essenciais para a elaboração de um projeto para um hall? Faça as suas anotações no #Diário de Bordo#. Certamente, o requisito para o projeto de um hall é pensar nele como um cartão de visita do imóvel, para cumprir o papel de recepcionar os usuários e criar uma atmosfera que gere conforto, aconchego e uma ruptura do meio externo ao interno. 33 UNIDADE 2 Trazendo à realidade deste período de pandemia, que exigiu maior cuidado com os espaços internos, pode-se dizer que não se perdeu a essência projetual do ambiente, isto é, manteve-se (e fomentou-se) a ideia de promover a ruptura da área externa para a interna, garantindo a desconexão total com o que está sendo vivido lá fora. Desta forma, o ambiente ganhou maiores cuidados, que não se resumem, apenas, às sensações que serão promovidas, mas também às condições sanitárias (higiene). Ações, como deixar os sapatos antes de acessar os imóveis, higienizar as mãos e criar um local para colocação das máscaras sujas, têm sido, cada vez mais, evidenciadas. Com isso, móveis, no hall de entra- da, por exemplo, como aparadores, que, antes, eram inseridos para que pudessem ser “porta” elementos de decoração, têm dado espaço a sapateiras e organizadores, nos quais os sapatos que vieram da rua são levados à lavanderia e higienizados antes de serem armazenados. Além disso, bancos de apoios, também, foram inseridos para que os usuários tenham conforto para retirar os sapatos; objetos para pendurar roupas e bolsas, entre outros elementos. Descrição da Imagem: a Figura 1 apresenta o hall de entrada contemporâneo, ou seja, o acesso de um imóvel, que possui uma porta em vidro e alumínio preto, à direita. À esquerda, há um espelho redondo fixado numa parede branca e, abaixo dele, um aparador para jardim metálico preto. Ao fundo, é perceptível o layout de uma sala, conectada a este hall por uma circulação marcada pelo piso polido. Figura 1 - Hall de entrada 34 UNICESUMAR Dando sequência à nossa re- flexão, podemos falar, também, sobre outra atividade comum durante o período pandêmico: o home office. O trabalho remo- to já era presente na socieda- de brasileira, mas a prática foi acelerada, devido à necessida- de de adaptação neste período. Desta forma, muitos trabalha- dores precisaram improvisar seus ambientes de trabalho domiciliares, visando atender às demandas ergonômicas de privacidade e conforto para a execução de suas tarefas. Por fim, uma outra reflexão importante a ser feita refere- -se à preocupação dos usuários quanto à assepsia dos ambien- tes, o que torna imprescindí- vel, por parte dos arquitetos, a especificação de produtos que tenham durabilidade e facilidade de manutenção e higienização, devido à maior frequência de limpeza. A nossa reflexão reforça a ideia e a compreensão de que o ambiente físico é a resposta às necessidades e às preocupações dos usuários, ou seja, está, dire- tamente, ligada ao modo como as pessoas pensam e se com- portam nos espaços. Dentro da Arquitetura e do Urbanismo, falamos a respeito da concep- ção e da construção do espaço, ou seja, sobre os aspectos físicos Descrição da Imagem: a Figura 2 apresenta um hall de entrada, no qual há um aparador pequeno e banco, uma sapateira e um cabideiro para bolsas e casacos. A figura destaca o piso vinílico, que é de fácil manutenção e higienização. Descrição da Imagem: a Figura 3 apresenta, em primeiro plano, o espaço destinado a um escritório em uma residência, devido à locação de uma mesa de trabalho, cadeira e equipamentos para a execução das ativida- des. Este espaço é separado de outras atividades e se preocupa com a qualidade de acabamento e organização. Figura 2 - Hall de entrada Figura 3 - Home Office 35 UNIDADE 2 que envolvem os conhecimentos técnicos dos profissionais arquitetos e urbanistas bem como seus desdobramentos subjetivos, que esbarram nas relações dos usuários com o espaço físico e social. Nesta unidade, então, falaremos a respeito destes conceitos e seus enquadramentos nas diferentes escalas de produção do ambiente construído. O ambiente construído é o espaço arquitetônico vivenciado, a partir do sentir, do pensar e do movimentar. Ou seja, refere-se a qualquer espaço físico no qual haja a interação do homem e do ambiente e que podemos considerar a imposição de um sujeito no meio social e ambiental. Para Fischer (1994, p. 16): “ O ambiente construído é espaço de vida, sujeito à ocupação, leitura, reinterpretação e/ou modificação pelos usuários que interagem com o ambiente social, cultural e psicológico. Fruto do comportamento humano é resultado de uma série de padrões e normas sociais que influenciarão as atividades ali realizadas. Esta relação específica dos indivíduos com outrem num meio determinado faz de todo o lugar organizado aquilo a que se chama de um espaço ‘habitado’ [ou ambiente construído, para esta pesquisa]. Podemos compreender o ambiente construído como um modelo social de organização das ativida- des humanas que tem a sua estabilidade apoiada na sociedade, emrelação ao modo como o espaço é moldado pelo ser humano, ou seja, só existe ambiente construído, se ele for ocupado. Cabe a nossa discussão o reconhecimento das condicionantes que “formam” o ambiente construído, e essas definições nos ajudam a ter maior clareza sobre a aplicação do conceito. As realidades empíricas dos ambientes físicos e as práticas, a partir do desenho desses ambientes, trazem-nos alguns pontos importantes para discutirmos enquanto futuros(as) arquitetos(as) e ur- banistas: o primeiro refere-se à compreensão do “lugar” a partir da percepção humana e individual; o segundo remete-se à possibilidade de os espaços serem eventos temporais, e não, apenas, limites físicos; e, por fim, o terceiro diz respeito às pessoas, as quais são os agentes que tornam o ambiente funcional e o contextualizam (PINK, 2012). 36 UNICESUMAR O termo “ambiente construído” se refere tanto a edificações como a espaços urbanos, ou seja, atende às diferentes escalas de produção. Segundo Okamoto (2002, p.149-150), “A criação do espaço arquitetônico [ambiente construído] é a criação do espaço vivencial, tanto para o indiví- duo quanto para o meio social, onde está em permanente deslocamento de uma atividade para outra. […] É sentir o espaço, é pensar o espaço, é mover-se no espaço e vivenciar o espaço”. Fonte: adaptado de Okamoto (2002). Para entendermos, de forma mais clara, as escalas dos ambientes físicos, delimitaremos as classifi- cações delas; sendo assim, falaremos sobre as edificações e a cidade. Para Blakstad, Hansen e Knudsen (2008), a edificação se refere ao espaço onde usuários executam determinadas atividades, como as de trabalho, lazer e descanso, e estabelecem diferentes relações sociais. Já para Colin (2000, p. 52), a edificação, enquanto objeto arquitetônico, pode ser definida da seguinte maneira: “ O objeto arquitetônico, edifício, pode ser visto de diferentes ângulos, inclusive de fora, observando sempre as relações estabelecidas com o meio ambiente, considera-se a sua composição, na sua forma volumétrica, e em seguida, estando em seu interior, desapa- recem as relações exteriores e considera-se apenas o edifício e seus elementos entre si, e relacionados com a própria pessoa, voltando a forma espacial. As edificações referem-se, de modo geral, às “construções” individuais, sejam elas residenciais, cor- porativas, comerciais, industriais, entre outras. Nesse momento, enquanto arquitetos(as), vemos além do raciocínio construtivo, começamos a falar sobre a organização estética, funcional, social e cultural. As edificações passam a ser vistas como sistema orgânico, responsáveis pela articulação do tecido da paisagem urbana e do espaço urbano. Agora, trazendo a uma escala urbana, o território da cidade, em sua parte física, é associado aos ele- mentos naturais e antrópicos, os quais sustentam a morfologia urbana, que nada mais é que a forma da cidade. Ao ocuparmo-nos da forma, falamos, concretamente, de experiências (ROSSI, 2001). 37 UNIDADE 2 Em outros termos, podemos unificar toda a discussão acerca do espaço urbano e/ou da cidade no atendimento às demandas de todos os habitantes e, com isso, ao controle das diversas atividades e transformações que nela ocorrem, respeitando os limites do meio natural. Neste sentido, podemos destacar o conceito de urbanidade, que é associado à transformação do espaço urbano a partir da relação da verticalização, da densidade e da percepção, ou seja, o espaço da cidade é entendido como uma arquitetura visível e um meio de construção no tempo que remetem à condição da coletividade, portanto, o espaço é associado à utilização. Segundo Netto (2013), a definição de urbanidade é associada à condição de experienciar o meio urbano, em condições diferentes de outros arranjos espaciais da vida coletiva, ou seja, atreladas à estrutura da cidade. A experiência da urbanidade é, sobretudo, uma experiência do mundo social: representa nossa imersão em suas condições de continuidade e integração e seu oposto (como no exemplo do distanciamento social). Faremos uma pausa em nossa leitura para conversarmos um pouquinho mais sobre o espaço. Para isso, no nosso estudo, adota- remos duas abordagens diferentes, a da geografia e a da arquitetura. Tenha a sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo! É importante trazermos à discussão aspectos referentes à com- posição física do ambiente construído. Aqui, referimo-nos à forma, ou seja, à volumetria do espaço, que é definida por linhas, comprimentos, larguras, alturas, profundidades, entre outros, isto é, por limites arquitetônicos (SANTOS, 2006). A forma é a condição essencial para a composição do ambiente construído, seja ela regular, irregular, geométrica, orgânica, entre outras, em relação à volumetria da arquitetura, que depende dos limites compositivos do espaço em diferentes escalas, dos materiais que estão sendo utilizados e suas características, da composição de cheios e vazios, do espaço livre não habitado e da massa construída (TEDESCHI, 1976). A forma tem papel essencial na organização do espaço e na determinação de sua função, uma vez que ela pode criar conexões visuais, barreiras físicas e elementos que conformam os espaços. “ A forma arquitetônica é um ponto de contato entre a massa e o espaço [...] formas ar- quitetônicas, texturas, materiais, modulação de luz e sombra, cor, tudo se combina para injetar uma qualidade ou espírito que articula o espaço. A qualidade da arquitetura será determinada pela habilidade do arquiteto e urbanista em utilizar e relacionar os ele- mentos, tanto nos espaços internos, quanto nos espaços da cidade (BACON, 1974, p. 3). Não dá para falar do espaço arquitetônico, sem prever, necessariamente, o que o limita, e nesta ação de limitar é que se constitui o espaço da arquitetura. Desse modo, a partir das formas, são criados os espaços, que só têm significado se usufruídos pelos usuários. Outro ponto essencial é a função do es- paço. Para Leitão e Lacerda (2016), a atividade a ser desempenhada pelo objeto está diretamente ligada 38 UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/9441 à forma, ou seja, “a função sugere uma tarefa ou atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa” (SANTOS, 2006, p. 69). A estrutura, para Trindade Junior (1998), é a relação entre as partes da totalidade da edificação ou do espaço urbano para que a função possa ser proposta, no que tange às relações estabelecidas entre os aspectos revelados pela forma. Portanto, a estrutura é a ação contínua que traz o dinamismo à forma, à função e à estrutura do espaço geográfico. Trazendo um exemplo simples e histórico à nossa discussão, falaremos sobre a produção arquite- tônica humana do Período Neolítico, que materializa as condições objetivas e subjetivas do espaço. Observe a figura a seguir: Sabe-se que este período, durante a Pré-História, registrou momentos de grande transformação no modo de viver do homem, que passou a ser sedentário, criou edificações, organizou-se em aldeias, entre outros. A Figura 4 traz o exemplo da aldeia de Skara Brae, na Escócia, e, ainda que alguns estudiosos não a coloquem em um nível de produção arquitetônica, estas construções, marcadas pela organização do espaço, pelo desenvolvimento do mobiliário de pedra e pela apropriação de cores e texturas (aces- síveis ao momento), carregam, em seu conceito, a apropriação do elemento objetivo, quanto à forma. Descrição da Imagem: a Figura 4 apresenta uma habitação da Era Neolítica composta por pedras. De modo figurativo, mostra o layout do ambiente com as divisões das atividades estabelecidas por meio dos “mobiliários” em pedras. Figura 4 - Skara Brae, na Escócia 39 UNIDADE 2 Além disso, as referidas construções reforçam que esta produção é reflexo da necessidade da socieda- de local, que deixou de ser nômade e formatou espaços para atender a seus anseios e necessidades. Estes espaços, ainda, tiveram reflexos significativos no comportamentoda sociedade, ou seja, observa-se a edificação como resposta às necessidades daquele momento, ou seja, de acordo com o comportamento humano Esta ideia do ambiente construído é, diretamente, associada à ação de arquitetar, que, para Leitão e Lacerda (2016), estabelece a relação com a ação humana, a qual é a criadora do espaço, ainda que a arquitetura não se limite ao espaço, ou seja, a interpretação espacial do edifício não é suficiente para definir uma opinião crítica ou um julgamento sobre uma obra arquitetônica. Cada edifício e cada espaço urbano são caracterizados por inúmeros valores econômicos, sociais, técnicos, funcionais, artísticos e decorativos que conformam uma história. Mas é importante que tenhamos claro que a concepção do espaço, ou seja, o modo como ele se conforma, refere-se à produção da arquitetura, da qual se fala desde o processo inicial de concepção (ZEVI, 1996). Agora que compreendemos a forma — que se refere à configuração dada à matéria com a fina- lidade de obter um objeto individualizado, ou seja, o modo como se apresenta aos nossos sentidos antes de qualquer reflexão que possamos ter sobre um objeto (COLIN, 2000) — e a função — que, para a arquitetura e o urbanismo, refere-se ao atendimento a um conjunto de necessidades explícitas e demais elementos responsáveis pelos estímulos conscientes e inconscientes na relação do usuário a nível psíquico-espacial —, entenderemos um pouco sobre os aspectos subjetivos do espaço sensorial, que são responsáveis pela formação do contexto ambiente-indivíduo. Os elementos subjetivos definem o modo como o usuário se comporta no ambiente, ou seja, são os parâmetros subjetivos avaliados por um usuário quando no ambiente construído. Para compreendê-los, conheceremos a Psicologia Ambiental (PA), que trata do tema. Para Teles (2017), a psicologia trata da investigação sobre o interior do homem e como esse se relaciona consigo próprio e com o ambiente no qual está presente. Ela busca compreender o comportamento dele, não só como reação à realidade externa, mas como atividade consciente e observável, para facilitar a convivência do homem consigo próprio e com o outro e dar subsídios para que ele lide com as experiências da vida. 40 UNICESUMAR A Psicologia, também, debate as condições e os procedimentos da mente e do comportamento do ser humano e de seus intercâmbios com o ambiente social e físico. Por isso, em geral, não se entende a necessidade de uma psicologia que se autodenomina ambiental, já que toda psicologia compreende o aspecto ambiental. Contudo Tassara e Rabinovich (2003) argumentam que a psicologia, em geral, esgotou o ambiente de seus conteúdos e, por esse motivo, houve a necessidade de uma área específica dela que se atentasse ao referido aspecto. A Psicologia Ambiental (PA) é, portanto, o estudo direcionado, essencialmente, ao modo como o ser humano se comporta nos espaços físicos e aos critérios subjetivos da percepção. Mo- ser (2011) define a PA como o estudo da transação entre os indivíduos e o cenário físico, considerando as relações entre eles, tendo essa inter-relação caráter dinâmico, visto a ocorrência de modificações e influências de cada usuário em cada espaço físico. Para Gunther (2005), a PA deve ser associada à ergonomia, à ar- quitetura e ao planejamento da paisagem e urbano, pois esses elemEntos estudam as relações entre os fenômenos psicológicos e as variáveis ambientais físicas em várias escalas. Ao falarmos da Arquitetura e do Urbanismo, compreendemos a sua interdisciplinaridade bem como suas demandas sociais e inter- venções espaciais, e, para o cumprimento das suas atividades, um de seus apoios principais é a Psicologia Ambiental, como vimos. Esta disciplina tem, como foco de discussão, a inter-relação do homem com o meio ambiente, ou seja, avalia o usuário e o modo como ele percebe o espaço. Dê o play no nosso podcast e venha conhecer esse mundo encantador! Cada espaço é caracterizado por uma ambiência singular, que tem, como base, fatores que atuam, de modo consciente e inconsciente, sobre as pessoas que se encontram no local. E, ao realizar a refle- xão, considerando a relação bidirecional pessoa-ambiente, deparamo-nos com o comportamento do 41 UNIDADE 2 Para tornar o entendimento mais claro, sugiro que você faça a leitura do artigo: “Psicologia e Arquitetura: em busca do locus interdiscipli- nar”, acessando o Qr-Code. Vale a pena dedicar-se à leitura deste artigo, pois, nele, discute-se a Psicologia Ambiental na interseção entre Psicologia e Arquitetura, com ênfase para a inter-relação do ambiente construído e do comportamento humano. Para acessar, use seu leitor de QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/9369 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/9370 homem. Define-se como comportamento a relação de qualquer conduta do indivíduo perante o meio em que está inserido, considerando a resposta a um estímulo específico (BOCK et al., 2002). Instaura-se, então, o conceito de Comportamento Socioespacial Humano (CSEH), que, para Pinheiro e Elali (2011), diz respeito ao modo como as pessoas se apropriam do espaço e o utilizam como elemento ativo na comunicação não verbal, estabelecendo distâncias entre si, as quais apresen- tam possibilidades menores ou maiores de aproximações, como toque, tom de voz, conteúdo verbal, consciência de sensações, entre outros. Para Dolle (1993), observar comportamentos isolados não permite o entendimento do real, já que os comportamentos respondem à necessidade do momento, socialmente, regulado, portanto, o comportamento individual reproduz um comportamento social. Em complemento a esta ideia, Gifford (1987) destaca que os indivíduos modificam o ambiente que estão inseridos, e seu comportamento e suas experiências são, também, modificados por ele. Para tanto, consideram-se três elementos básicos: o comportamento humano, o espaço físico e a ligação entre ambos. Verdugo (2005) defende que a maior referência da PA é a influência mútua, que significa que, a todo momento, o ambiente afeta o modo como percebemos, agimos e sentimos, por meio de fatores contextuais físicos e/ou normativos, os quais afetam os componentes sócio físicos do ambiente. Cada ambiente oferece a seus usuários variáveis que influenciam o comportamento humano e a percepção dos usuários, desde condicionantes objetivas (como iluminação, temperatura, ruídos e arborização) até aspectos subjetivos (como a sensação de aglomeração e acolhimento, as condições de apropriação e o clima social). Estas variáveis podem variar conforme as características de quem percebe o espaço, como gênero, idade, condições físicas, entre outros, que experienciam e interpretam o ambiente continuamente (ELALI, 2009). Inevitavelmente, o usuário estabelece uma compatibilidade com o espaço, nomeada place-i- dentity, que é definida pela identidade que o indivíduo constrói em sua habitação e influência na percepção e na avaliação dessa edificação. Massey (2000) define que o senso do lugar se trata da identidade de um lugar, a partir do sentimento de pertencimento bem como das sensações de conforto, segurança e refúgio. É importante conhecermos o conceito de percepção (termo derivado do latim: perception), que é definido pelos dicionários como ato ou efeito de perceber; combinação dos sentidos no reconhecimen- to de um objeto; recepção de um estímulo; faculdade de conhecer independentemente dos sentidos; intuição; ideia; imagem; e representação intelectual. No entanto, aprofundando-se nesta terminologia e sobre a ótica da Psicologia, o psicólogo Hochberg (1973 apud MARIN, 2008, p. 206) define que “a percepção é um dos mais antigos temas de especulação e pesquisa no estudo do homem [...] Estudamos a percepção numa tentativa de explicar nossas observações do mundo que nos rodeia”. 42 UNICESUMAR Já o conceito de sensação refere-se àqueles contentos da consciência, os quais são “produzidos imedia- tamente na alma por excitações exteriores, sem intermediários
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