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1 SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................................................................ 2 UNIDADE 2 – SANEAMENTO AMBIENTAL ..................................................... 4 2.1 CASE PARA REFLEXÃO ..................................................................................... 4 2.2 IMPLICAÇÕES E RESULTADOS DO SANEAMENTO AMBIENTAL ................................. 7 2.3 A LEI Nº 11.445/07 ....................................................................................... 10 UNIDADE 3 – CICLO HIDROLÓGICO ............................................................ 15 UNIDADE 4 – TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO ........ 20 UNIDADE 5 – CONTAMINANTES ORGÂNICOS EM MANANCIAIS ............. 27 UNIDADE 6 – PRESENÇA DE MICRORGANISMOS ..................................... 36 6.1 DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS DOS MICRORGANISMOS ................................. 36 6.2 REMOÇÃO DE PROTOZOÁRIOS ........................................................................ 46 6.3 REMOÇÃO DE CIANOBACTÉRIAS E CIANOTOXINAS ............................................. 49 6.4 REMOÇÃO DE AGROTÓXICOS .......................................................................... 52 6.5 REMOÇÃO DE GOSTO E ODOR ......................................................................... 60 UNIDADE 7 – MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS URBANAS........................... 68 7.1 TIPOS DE SISTEMAS DE CONTROLE NÃO CONVENCIONAIS .................................. 72 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 78 2 Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Não há frase mais curta e ao mesmo tempo mais real do que “a água é fonte de vida”! Ela é essencial para que a vida aconteça e percorra todo seu ciclo da melhor maneira possível. Desde os primórdios da civilização na história da evolução humana e demais seres vivos, a água esteve presente. Para algumas espécies, a água é meio de vida, para outras, a sua falta compromete todo desenvolvimento como na maioria das culturas vegetais. O excesso, a disponibilidade ou a falta de água também comprometem a qualidade de vida e dão o tom da riqueza de determinadas regiões. Historicamente, as cidades se desenvolveram próximas aos cursos de água, com a preservação das calhas principal e secundária dos rios, não por consciência ambiental, mas pelas dificuldades operacionais e construtivas de retificação de rios existentes na época. Com o desenvolvimento urbano e tecnológico, o crescimento das cidades impôs um sistema de malha viária que, aos poucos, exerceu pressão e viabilidade econômica de investimentos que promovessem o saneamento das áreas ribeirinhas e a execução de obras de retificação de canais, pavimentos, pontes e, consequentemente, da ocupação parcial ou total da calha secundária de trechos dos cursos de água ou de áreas de alagamentos naturais (RIGHETTO; MOREIRA; SALES,2009). Vimos que, de acordo com o MEC, sistemas hidráulicos e sanitários são disciplinas do curso de Engenharia Ambiental. Aprofundaremos o tratamento e uso de águas que passa necessariamente pelo saneamento. Saneamento ambiental são ações para a sociedade, com o objetivo de fazer com que todos tenham acesso ao abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos e líquidos, disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis, para proteger e melhorar as condições de vida da população. Como a falta de ações e obras de saneamento são um problema sério para toda a sociedade, torna-se mister ao Engenheiro Ambiental, conhecer as técnicas de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3 saneamento ambiental, visando à solução de problemas básicos para a melhoria da qualidade ambiental. Especificamente ele deve identificar as unidades constituintes e as formas de funcionamento dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário; identificar as etapas constituintes do sistema de limpeza urbana, relacionando-as com a necessidade de melhoria dos problemas causados pelos resíduos sólidos e suas interferências na qualidade ambiental; identificar as unidades constituintes de um sistema público de drenagem urbana; aplicar os métodos de controle sanitário dos alimentos; utilizar tecnologias apropriadas na área de saneamento ambiental para melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2004). Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4 UNIDADE 2 – SANEAMENTO AMBIENTAL Vamos iniciar o estudo do saneamento ambiental com um caso ocorrido nos EUA, contado por Vesilind e Morgan (2011) ilustrando a pesquisa, a identificação e solução de problemas ambientais que fazem parte do cotidiano do Engenheiro Ambiental. 2.1 Case para reflexão SURTO DE HEPATITE NO HOLY CROSS COLLEGE Logo depois do jogo realizado em Dartmouth, em 1969, todos os integrantes do time de futebol americano do Holy Cross College ficaram doentes (Morse, 1972). Tiveram febre, náuseas e dores abdominais, além de apresentarem pele amarelada – sintomas característicos da hepatite infecciosa. Nos dias que se seguiram, quase 90 pessoas – entre jogadores, treinadores, técnicos e outras pessoas – que faziam parte do programa de futebol da instituição também adoeceram. O colégio cancelou o restante da temporada e tornou-se alvo de um mistério epidemiológico. Como explicar que um time inteiro tivesse contraído hepatite infecciosa? Sabe-se que a doença é transmitida basicamente de pessoa para pessoa. Embora epidemias possam ocorrer, isso quase sempre se deve à contaminação da água ou de frutos do mar. Há vários tipos de vírus da hepatite com drásticas consequências para o ser humano. O menos mortal é o da hepatite A que ocasiona mal-estar durante várias semanas, mas raramente deixa sequelas duradouras. As hepatites B e C, todavia, podem provocar graves problemas, em especial no fígado, e durar por anos. Na ocasião da epidemia no Holy Cross College, o vírus da hepatite ainda não havia sido isolado e muito pouco se sabia sobre sua etiologiaou suas consequências. Quando o colégio teve ciência da seriedade da epidemia, pediu e recebeu ajuda dos governos estadual e federal, que enviaram epidemiologistas até a cidade de Worcester. Em princípio, esses especialistas coletaram todo tipo de informação sobre os integrantes do time de futebol: com quem haviam estado e o que haviam Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5 comido e bebido. O objetivo era encontrar pistas que os levassem a descobrir como surgiu a epidemia, e obtiveram os seguintes dados: � uma vez que o período de incubação da hepatite é de cerca de 25 dias, a infecção deve ter ocorrido em algum momento antes do dia 29 de agosto; � os jogadores que deixaram o time antes desse período não foram infectados; � jogadores da equipe principal que chegaram atrasados, depois do dia 29 de agosto, também não foram infectados; � jogadores do time de calouros que chegaram no dia 3 de setembro também não tiveram a doença; � tanto os jogadores do time de calouros como os do time principal usaram o mesmo refeitório, e, como nenhum calouro foi infectado, descartou-se a hipótese de que o refeitório fosse a causa da doença; � um dos técnicos que desenvolveu hepatite não havia usado o refeitório do colégio; � não havia nenhum indício de que os jogadores tivessem comido frutos do mar em algum restaurante, o que poderia dar uma dica sobre onde poderiam ter contraído o vírus; � os jogadores consumiram uma bebida preparada pelo colégio, cuja composição era açúcar, mel, gelo e água (a versão caseira do Gatorade). No entanto, como os funcionários da cozinha provaram da bebida antes e depois do jogo, e nenhum deles desenvolveu a doença, a possibilidade de a bebida ter sido a causadora da doença foi descartada. Como não encontravam respostas para o fato, os epidemiologistas se concentraram no fornecimento da água. O colégio recebe água da cidade de Worcester e uma tubulação subterrânea traz a água da Rua Dutton – que é sem saída – até o campo de treinamento de práticas esportivas, onde há um bebedouro que os jogadores utilizam durante os treinos. Amostras da água foram colhidas do bebedouro e não apresentaram nenhuma contaminação. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6 A ausência de contaminação durante a amostragem não descartou, entretanto, a possibilidade de transmissão da doença através da tubulação, que cruzava o campo por meio de um medidor de água e várias caixas de sprinklers enterradas no solo, colocadas em todo o campo para regar o gramado. Duas outras informações foram cruciais. Soube-se que, em uma das casas na Rua Dutton, moravam crianças que haviam contraído hepatite. Durante o verão, elas brincavam com água dos sprinklers, espirrando umas nas outras e formando poças no gramado. No entanto, como a água dessas poças – caso as crianças a tivessem contaminado – teria ido parar na tubulação, já que os canos de água eram mantidos sempre sob pressão positiva? A última peça do quebra-cabeça se encaixou quando os epidemiologistas descobriram que havia ocorrido um grande incêndio em Worcester, durante a noite do dia 28 de agosto, que durou até a manhã do dia seguinte. A demanda de água para o incêndio foi tão grande que todas as casas da Rua Dutton ficaram sem água da rua, ou seja, os bombeiros bombearam a água em tal quantidade que a pressão no encanamento ficou negativa. Esses dados levaram à seguinte conclusão: as crianças esqueceram algumas das válvulas dos sprinklers abertas, o que certamente provocou a contaminação da água ao redor do sprinkler. Então, o vírus da hepatite entrou no encanamento da água potável. Na manhã seguinte, a pressão da água foi restabelecida no encanamento, e a água contaminada foi parar no final do ramal da tubulação, ou seja, no bebedouro do campo de futebol – todos os jogadores, Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 7 treinadores, técnicos e quaisquer outras pessoas que beberam daquele bebedouro foram infectados com hepatite. Esse caso ilustra a clássica conexão cruzada, ou seja, o contato físico entre a água potável tratada e a contaminada e as consequências potencialmente graves dessas conexões. Um dos objetivos da engenharia ambiental é projetar sistemas para proteger a saúde pública. No caso de encanamentos, os engenheiros precisam projetar sistemas que evitem qualquer possibilidade de ligações cruzadas, embora, como o incidente de Holy Cross College demonstra, seja quase impossível prever todas as possibilidades. 2.2 Implicações e resultados do saneamento ambiental Segundo OPAS (2007), saneamento básico é o conjunto de ações que se executam no âmbito do ecossistema humano para o melhoramento dos serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto, o manejo dos resíduos sólidos, a higiene domiciliar e o uso industrial da água, em um contexto político, legal e institucional no que participam diversos atores do âmbito nacional, regional e local. O estudo ressalta que este conjunto de ações mantém uma inter-relação permanente entre a gestão do saneamento básico e a saúde pública. Entende-se por saúde pública a ciência e a arte de promover, proteger e recuperar a saúde, através de medidas de alcance coletivo e de motivação da população. É importante que estas ações estejam integradas às ações de organização territorial, do meio ambiente e moradia. A articulação destes setores com a área da saúde é fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável (LIMA; LIMA; OKANO, 2010). O direito à água potável não se alcançará somente com enfoques econômicos, mas requer também uma forte convicção moral com respeito a três Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 8 valores fundamentais: liberdade, equidade e solidariedade com os menos privilegiados (OPAS, 2007). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 9 Água e esgotamento sanitário É inegável a compreensão de que a melhoria da gestão do saneamento básico proporciona melhoria para a saúde e é essencial para a redução da mortalidade infantil. A gestão adequada do saneamento básico melhora as condições de saúde da população em especial das crianças que vivem nas regiões mais pobres das cidades onde as moradias são mais precárias e as condições do local são insalubres, aumentando a exposição dascrianças a inúmeras ameaças. Segundo dados dos Indicadores e Dados Básicos – Brasil – IDB (2008), a mortalidade atribuível a diarreias agudas em crianças menores de 5 anos foi de 3,9% (média nacional), sendo que a região nordeste foi a mais afetada com 6,5% e a região sul apresentou o menor índice com 1,5%. No Brasil, as doenças diarreicas e as parasitoses estão entre as principais causas de morbidade em menores de 5 anos. Existe uma relação entre a oferta dos serviços de saneamento básico, Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (engloba três dimensões: riqueza, educação e esperança média de vida e saúde). Locais com maior oferta de abastecimento de água potável e coleta de esgoto apresentam melhores níveis de IDH que são inversamente proporcionais à taxa de mortalidade infantil em menores de 5 anos. O impacto econômico decorrente das intervenções em saneamento básico pode representar redução dos casos de doença ou morte proporcionando economias em relação a necessidade de tratamento para o setor da saúde e também para os pacientes; valores relacionados às mortes evitadas e ao tempo economizado como também pela não necessidade de assistência médica de tempo de ausência em escola, trabalho, entre outros (LIMA; LIMA; OKANO, 2010). Vale destacar que os investimentos em saneamento têm um efeito direto na redução dos gastos públicos com serviços de saúde. Segundo Melo (2005), estudos da OMS – Organização Mundial de Saúde mostram que R$ 1,00 (um real) aplicado em Saneamento gera R$ 2,50 (dois reais e cinquenta centavos) de economia em saúde. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 10 2.3 A Lei nº 11.445/07 A Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, estabeleceu diretrizes nacionais para o saneamento básico, e determina que os municípios elaborem seus planos de saneamento dentro de uma visão integrada com a participação da sociedade. Estes planos devem abranger os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, a serem realizados de formas adequadas atendendo a saúde pública e a proteção do meio ambiente sob os seguintes princípios: � Universalidade Esse princípio visa garantir que todos tenham acesso aos serviços de saneamento básico, dentro do menor prazo possível. � Integralidade das ações Deve-se contemplar o conjunto de serviços de saneamento básico, atendendo a população conforme suas necessidades e objetivando obter o máximo de eficácia das ações e resultados. � Equidade O princípio da equidade enseja que todos recebam os serviços com o mesmo nível de qualidade sem que haja qualquer restrição ou discriminação, exceto quando se priorizar o atendimento à população de menor renda. � Integração Integrar os diferentes setores afins da área de saneamento tais como: desenvolvimento urbano; a saúde pública; áreas ambientais e de recursos hídricos; entendida como indispensáveis para se atingir o pleno êxito das ações. � Participação e controle social Garantir a participação popular como requisito indispensável para tornar legítima a consolidação das políticas públicas de saneamento. � Promoção da Saúde Pública Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 11 Garantir que os serviços que integram o saneamento básico tenham qualidade e quantidade suficientes para a promoção da saúde pública e controle da poluição ambiental. � Promoção da Educação Sanitária e Ambiental Contemplar ações de educação sanitária e ambiental, de forma a disseminar comportamentos mais positivos quanto ao meio ambiente, e incorporar programas de comunicação social para atendimento ao cidadão. � Orientação pelas Bacias Hidrográficas Buscar a integração das infraestruturas e serviços de saneamento básico, com a gestão dos recursos hídricos pelas bacias hidrográficas do município. Esse princípio visa a melhoria da qualidade dos corpos d’água e a integração homem, meio ambiente. � Sustentabilidade As tecnologias devem ser apropriadas a cada realidade do ponto de vista sociocultural e ambiental, de forma a se obter eficácia na utilização e operação das obras e serviços implantados e eficiência no processo de implementação com relação aos custos e ao cronograma físico e financeiro. � Proteção ambiental Garantir que os recursos hídricos terão capacidade de atender a demanda para o abastecimento de água da população, sem comprometer a manutenção dos ecossistemas locais. � Informação tecnológica Incorporar temas que apresentem viabilidade técnica e operacional, conciliando a gestão eficiente e economicamente viável. � Gestão pública Desenvolver gestão pública que contemple ações que envolvam a questão intersetorial e de entrelaçamento, bem como a adoção de políticas públicas específicas incluindo uma abordagem interdisciplinar. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 12 De acordo com a lei é de competência do titular a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB que poderá ser específico para cada serviço, desde que haja a consolidação e compatibilização dos planos específicos de cada serviço que deverão ainda ser compatíveis com o Plano de bacias hidrográficas em que estiverem inseridos. O PMSB deve refletir as necessidades e os anseios da população, devendo, para tanto, resultar de um planejamento democrático e participativo para que atinja sua função social. O planejamento dos serviços integrantes do saneamento básico tem por finalidade a valorização, a proteção e a gestão integrada, assegurando a compatibilização com o desenvolvimento local e regional. Principais aspectos que devem ser englobados e/ou compatibilizados pelo PMSB: 1) Com relação a preservação ambiental deve-se considerar: � preservação de nascentes; � preservação de cursos de água; � preservação de mananciais superficiais; � preservação de mananciais subterrâneos; � expansão sustentável das áreas urbanas; � plano de manejo integrado ecológico-econômico nas áreas de mananciais. 2) Com relação a drenagem urbana e recuperação ambiental, deve-se considerar: � recuperação de cursos de água; � recuperação de áreas degradadas; � medidas de controle de enchentes; � identificação de famílias vivendo em áreas de risco socioambiental; � mitigação de riscos de inundação; Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 13 � mitigação de riscos de deslizamento; � Mitigação de riscos de desabamento. 3) Com relação à água e esgotamento sanitário, deve-se considerar: � universalização do Sistema de Coleta de Esgotos com incentivos para Ligações Intradomiciliares; � implantação e ampliaçãode Coletores, Interceptores e Estações de Tratamento de Esgoto; � universalização do Sistema de Abastecimento de Água; � implantação e ampliação de Redes, Reservatórios, Elevatórias e Reguladores de Pressão; � gestão eficaz dos recursos naturais minimizando as perdas e otimizando a distribuição da água; e, � qualidade dos efluentes de esgoto. 4) Com relação ao Planejamento e Gestão de Resíduos Sólidos, deve-se considerar: � implantação de Programa de Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos; � inventário de Geradores de Resíduos Sólidos; � implantação de Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil; � programa de racionalização da geração e destinação de resíduos, incluído os de Tratamento de Água e Esgoto; � mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDL e Cogeração de Energia; � implantação de Aterros Sanitários, Estações de Transbordo e Centrais de Reciclagem; � plano de Recuperação de Lixões e Aterros Controlados; � estudo de Tecnologias para Resíduos Sólidos e Efluentes; Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 14 � integração com Programas de Interesse Social de Habitação, Emprego e Renda. Qualquer ação no campo do Saneamento Ambiental deve ser encarada como sendo uma ação social e coletiva, pois atende a população socializando seus efeitos positivos que são usufruídos por todos. Por essa natureza social e coletiva, é fundamental que sua promoção aconteça através de vários atores, cada qual cumprindo seu papel, seja ele o cidadão, a comunidade ou o Estado. O Saneamento Ambiental carrega na sua essência uma pluralidade de funções, pois ao mesmo tempo em que se trata de uma ação de saúde pública e proteção ambiental constitui-se também como bem de consumo coletivo, um serviço essencial ao ser humano e consequentemente um direito do cidadão e um dever do Estado. Assim, visto por esse ângulo, as ações de saneamento se enquadram nas políticas públicas e sociais e sua promoção deve ser fruto de ações conjuntas entre a sociedade e o estado (LIMA; LIMA; OKANO, 2010). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 15 UNIDADE 3 – CICLO HIDROLÓGICO Sabemos que a disponibilidade de água para sociedade é uma prioridade para continuação da vida na Terra! Ser a água tratada também é condição essencial para a qualidade de vida para evitar epidemias dentre outras justificativas. Na contramão dessas assertivas, temos o aumento da população em proporções preocupantes, pessoas vivendo em condições sub-humanas em várias partes do planeta, uso ainda irracional dos recursos naturais. Pois bem, neste momento, nosso objetivo é justamente analisar o tratamento de águas para que sejam oferecidas à população com toda qualidade possível. Enquanto Hidrologia é a ciência que estuda a água na Terra e procura responder à pergunta sobre o que ocorre com a água da chuva uma vez que atinge a superfície, a Engenharia Hidrológica é a aplicação dos conhecimentos da Hidrologia para resolver problemas relacionados aos usos da água, que muitos subsídios oferece ao trabalho do Engenheiro Ambiental. Relembremos rapidamente o ciclo hidrológico (ilustração abaixo) que é ponto de partida útil para o estudo do fornecimento da água. Ciclo Hidrológico Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 16 A água precipita das nuvens, infiltra-se no solo, escoa para correntes de águas superficiais, segue-se a evaporação e transpiração, voltando para atmosfera. � Precipitação é o termo aplicado para todas as formas de umidade originais na atmosfera que caem no solo (por exemplo, chuva, granizo e neve). A precipitação é registrada com medidores em milímetros de água. A quantidade de precipitação em uma determinada região é geralmente útil para estimativas de disponibilidade de água. � A evaporação e a transpiração são duas formas pelas quais a água retorna à atmosfera. � A evaporação acontece a partir de fontes de águas superficiais livres, e a transpiração é a perda de água das plantas para a atmosfera. Os mesmos fatores meteorológicos que influenciam a evaporação também influenciam o processo de transpiração: os raios solares, a temperatura ambiente, a umidade e a velocidade do vento, assim como a quantidade de umidade do solo disponível para as plantas – todos esses elementos causam impacto sobre a taxa de transpiração. Por ser tão difícil medir a evaporação e a transpiração separadamente, são geralmente combinadas em apenas um termo, a evapotranspiração, ou seja, a perda total de água para a atmosfera, tanto por um processo como pelo outro (VESILIND; MORGAN, 2011). A água da superfície da Terra exposta à atmosfera é chamada de água superficial, que inclui rios, lagos, oceanos, etc. Através do processo de percolação, algumas águas superficiais (especialmente durante a precipitação) são absorvidas pelo solo e se tornam águas subterrâneas; ambas podem ser utilizadas como fontes de abastecimento para as comunidades. Dentre os usos e importância da água, podemos citar: • abastecimento humano; • irrigação; • dessedentação animal; • geração de energia elétrica; Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 17 • navegação; • diluição de efluentes; • pesca; • recreação e paisagismo; • a manutenção dos ecossistemas existentes em rios, lagos e ambientes marginais aos corpos d’água, como banhados e planícies sazonalmente inundáveis. Segundo Collischonn e Tassi (2011), os usos da água são normalmente classificados em consuntivos e não consuntivos. � Usos consuntivos alteram substancialmente a quantidade de água disponível para outros usuários. O uso da água para irrigação é um uso consuntivo, porque apenas uma pequena parte da água aplicada na lavoura retorna na forma de escoamento. A maior parte da água utilizada na irrigação volta para a atmosfera na forma de evapotranspiração. Esta água não está perdida para o ciclo hidrológico global, podendo retornar na forma de precipitação em outro local do planeta, no entanto, não está mais disponível para outros usuários de água na mesma região em que estão as lavouras irrigadas. � Usos não-consuntivos alteram pouco a quantidade de água, mas podem alterar sua qualidade. O uso de água para a geração de energia hidrelétrica, por exemplo, é um uso não-consuntivo, uma vez que a água é utilizada para movimentar as turbinas de uma usina, mas sua quantidade não é alterada. Da mesma forma a navegação é um uso não-consuntivo, porque não altera a quantidade de água disponível no rio ou lago. Os usos de água também podem ser divididos de acordo com a necessidade ou não de retirar a água do rio ou lago para quepossa ser utilizada. Alguns usos da água que podem ser feitos sem retirar a água de um rio ou lago são a navegação, a geração de energia hidrelétrica, a recreação e os usos paisagísticos. Alguns usos da água que exigem a retirada de água, ainda que parte dela retorne, são o abastecimento humano e industrial, a irrigação e a dessedentação de animais. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 18 Temos ainda as águas subterrâneas e superficiais. A água subterrânea é importante tanto como fonte direta como indireta para o abastecimento de água, uma vez que uma grande fração do fluxo para correntes de água é derivada das águas que estão abaixo da superfície. A água está presente tanto em locais próximos como afastados da superfície do solo. Na região perto da superfície da Terra, os poros (porosidade) do solo contêm água e ar. Essa região é conhecida como zona de aeração, ou zona vadosa. Ela pode apresentar espessura zero em áreas pantanosas e pode chegar a ter algumas centenas de metros de espessura em regiões mais áridas. A umidade da zona de aeração não pode ser aproveitada como uma fonte de água, pois fica presa às partículas do solo por forças capilares e não pode ser imediatamente liberada. Abaixo da zona de aeração está a zona de saturação, na qual os poros estão cheios de água, em geral conhecida como água subterrânea. Uma camada que contém uma quantidade substancial de água subterrânea é chamada de aquífero, e a superfície dessa camada saturada é conhecida como lençol freático. Se o aquífero estiver em cima de uma camada impermeável, é chamado de aquífero livre. E se a camada contendo água estiver entre duas camadas impermeáveis, é conhecido como aquífero confinado. Este, às vezes, pode estar sob pressão, assim como em tubulações, e caso um poço esteja dentro de um aquífero confinado sob pressão, tem-se um poço artesiano. As fontes de águas superficiais não são confiáveis como as de águas subterrâneas, pois as quantidades geralmente variam muito durante um período de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 um ano ou mesmo uma semana, e a qualidade das águas superficiais é facilmente degradável por várias fontes de poluição. A variação no fluxo da corrente ou curso de água pode ser tão grande que mesmo uma pequena demanda pode não ser atendida durante tempos de seca; portanto, devem ser construídos reservatórios para armazenar a água durante a época de chuva para que possa ser utilizada nos períodos de escassez. O objetivo é construir esses reservatórios suficientemente grandes para garantir fontes de água confiáveis (VESILIND; MORGAN, 2011). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 20 UNIDADE 4 – TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO Fazendo um recorte na história e nos situando em 1840, nessa época já havia referência que as epidemias de febre tifoide e de cólera em Londres estavam relacionadas com águas de má qualidade. Até o início do século XX não havia padrões de qualidade para a água potável. Um dos tratamentos mais antigos e eficazes é a fervura da água, porém, do ponto de vista prático, restrita a aplicação no âmbito das unidades residenciais. Em 1870, e durante alguns anos posteriores, o uso de filtros de areia e de outras técnicas de tratamento ainda visava melhorar o aspecto estético da água, eliminar o odor e melhorar o sabor. O avanço do conhecimento deu então lugar ao tratamento da água com vistas a proteção à saúde. De todo modo, a construção de um sistema completo de abastecimento de água requer muitos estudos e pessoal altamente especializado. Para iniciarem-se os trabalhos, é necessário definir-se: � a população a ser abastecida; � a taxa de crescimento da cidade; e, � suas necessidades industriais. Com base nessas informações, o sistema é projetado para servir à comunidade, durante muitos anos, com a quantidade suficiente de água tratada. Um sistema convencional de abastecimento de água é constituído das seguintes unidades: - captação - adução - estação de tratamento - reservação - redes de distribuição - ligações domiciliares Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 21 A seleção da fonte abastecedora de água é processo importante na construção de um sistema de abastecimento. Deve-se, por isso, procurar um manancial com vazão capaz de proporcionar perfeito abastecimento à comunidade, além de ser de grande importância a localização da fonte, a topografia da região e a presença de possíveis focos de contaminação. A captação pode ser superficial ou subterrânea. A superficial é feita nos rios, lagos ou represas, por gravidade ou bombeamento. Se por bombeamento, uma casa de máquinas é construída junto à captação. Essa casa contém conjuntos de motobombas que sugam a água do manancial e a enviam para a estação de tratamento. A subterrânea é efetuada através de poços artesianos, perfurações com 50 a 100 metros feitas no terreno para captar a água dos lençóis subterrâneos. Essa água também é sugada por motobombas instaladas perto do lençol d’água e enviada à superfície por tubulações. A água dos poços artesianos está, em sua quase totalidade, isenta de contaminação por bactérias e vírus, além de não apresentar turbidez. O tratamento da água envolve o emprego de diferentes operações e processos unitários para adequar a água de diferentes mananciais aos padrões de qualidade definidos pelos órgãos de saúde e agencias reguladoras. As exigências de qualidade da água evoluíram e prosseguem, em processo contínuo, acompanhando os avanços do conhecimento técnico e científico. Os padrões de qualidade tornam-se gradativamente mais exigentes. As tecnologias convencionais de tratamento, visando a clarificação e desinfecção da água, foram sendo aprimoradas, incorporando novas técnicas ou variantes, tais como a flotação, a filtração direta, a filtração em múltiplas etapas, além do emprego de novos desinfetantes (e, por conseguinte, a geração de novos produtos secundários de desinfecção). Em paralelo, o desafio da remoção de substâncias químicas e, mais recentemente de microcontaminantes, impôs o emprego/desenvolvimento de outras técnicas de tratamento como a adsorção em carvão ativado, a oxidação, a Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 22 precipitação químicae a volatilização, e de processos de separação por membranas (microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa). Enfim, técnicas mais sofisticadas para a detecção e quantificação de substâncias e organismos diversos se mantêm em constante e rápida evolução. A detecção e quantificação de concentrações cada vez menores de contaminantes capazes de resultar em efeitos crônicos para a saúde, bem como o reconhecimento de novos patógenos de veiculação hídrica, tendem a diversificar e tornar mais rigorosos os padrões de potabilidade, impondo, concomitantemente, o desafio da inovação tecnológica no tratamento da água para consumo humano (CEBALLOS; DANIEL; BASTOS, 2009). Abaixo temos a ilustração de uma típica instalação para tratamento de água, onde por uma série de reatores ou operações unitárias, a água vai fluindo de um para outro e atinge seu objetivo final que é a água tratada (esquemas Sabesp-SP e Copasa-MG). Estação de tratamento de água – esquema Sabesp Fonte: Sabesp Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 23 Estação de tratamento de água – esquema COPASA Fonte: Copasa-MG Dentre os processos de tratamento de água de captação superficial temos: a) Redução da dureza da água Em algumas águas (tanto superficiais quanto subterrâneas) é necessário reduzir sua dureza para que possam ser utilizadas como fonte de água potável. Essa dureza é causada por cátions multivalentes ou “minerais” como o cálcio, magnésio e ferro. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 24 Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 25 b) Coagulação e floculação Substâncias coagulantes são adicionadas na água com a finalidade de reduzir as forças eletrostáticas de repulsão, que mantém separadas as partículas em suspensão, as coloidais e parcela das dissolvidas. Desta forma, eliminando-se ou reduzindo-se a “barreira de energia” que impede a aproximação entre as diversas partículas presentes, criam-se condições para que haja aglutinação das mesmas, facilitando sua posterior remoção por sedimentação e/ou filtração. Os coagulantes mais utilizados são o sulfato de alumínio e o cloreto férrico, sais que, em solução, liberam espécies químicas de alumínio ou ferro com alta densidade de cargas elétricas, de sinal contrário às manifestadas pelas partículas presentes na água bruta, eliminando, assim, as forças de repulsão eletrostática originalmente presentes na água bruta. A floculação é o processo físico que promove a aglutinação das partículas já coaguladas, facilitando o choque entre as mesmas devido à agitação lenta imposta ao escoamento da água. A formação de flocos de impurezas facilitam sua posterior remoção por sedimentação sob ação da gravidade, flotação ou filtração. A floculação pode ocorrer por processos hidráulicos ou mecanizados c) Sedimentação ou Decantação É o processo no qual a força da gravidade é utilizada para separar as partículas de densidade maior que a da água, depositando-as em uma superfície ou zona de armazenamento. Os principais tipos de decantadores são os laminares ou de alta taxa e os convencionais de escoamento horizontal d) Flotação É o processo inverso ao da sedimentação, com o mesmo objetivo de separação das partículas floculentas da água em tratamento. Certos flocos (principalmente quando formados a partir de águas com alta concentração de algas ou de substâncias orgânicas de origem natural, conhecidas como substâncias húmicas), podem manifestar baixa velocidade de sedimentação, inviabilizando tal procedimento. Geralmente, para melhorar o rendimento do processo de flotação, agregam-se aos flocos, microbolhas de ar que aumentam a força de empuxo sobre Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 26 os mesmos, facilitando sua ascensão e posterior remoção por rodos raspadores instalados na superfície da unidade. e) Filtração É o processo que remove as impurezas presentes na água bruta (filtração lenta); na água coagulada ou floculada (filtração rápida direta); ou na água decantada (filtração rápida) pela passagem destas em um meio granular poroso, geralmente constituído de camadas de pedregulho, areia e antracito (este último, comum nos filtros rápidos). Em relação ao sentido de escoamento e à velocidade com que a água atravessa a camada de material filtrante, a filtração pode ser caracterizada como lenta, rápida de fluxo ascendente ou rápida de fluxo descendente. A filtração direta tem sua denominação relacionada com a inexistência de unidade prévia de remoção de impurezas. f) Desinfeção Tem por finalidade a destruição de microrganismos patogênicos ou não presentes na água. As principais técnicas empregadas são a cloração, ozonização e a exposição da água à radiação ultravioleta. g) Correção de pH Método preventivo de corrosão dos encanamentos por onde a água tratada é veiculada até os consumidores. Consiste na alcalinização da água para remover o gás carbônico livre e para provocar a formação de uma película de carbonato na superfície interna das canalizações. h) Fluoretação Aplicação de compostos de flúor na água de abastecimento público, em teores controlados, função da temperatura ambiente. O flúor é eficiente na redução da incidência de cáries. A água captada através de poços profundos, na maioria das vezes, não precisa ser tratada, bastando apenas a desinfecção com cloro. Isso ocorre porque, Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 27 nesse caso, a água não apresenta qualquer turbidez, eliminando as outras fases que são necessárias ao tratamento das águas superficiais (COPASA-MG, 2013). UNIDADE 5 – CONTAMINANTES ORGÂNICOS EM MANANCIAIS O avanço tecnológico ocorrido a partir da 2ª Grande Guerra Mundial colocou no mercado uma ampla variedade de substâncias ou compostos químicos utilizados para os mais variados usos como, por exemplo, na formulação, ou como intermediários, de muitos produtos utilizados em nosso dia-a-dia, contribuindo de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida do ser humano (MIERZWA; AQUINO, 2009). O desenvolvimento de medicamentos, produtos de higiene pessoal, defensivos agrícolas e aditivos alimentares, entre outros, trouxe muitos benefícios para os seres humanos. Contudo, um aspecto que deve ser considerado é que após o seu uso,ou mesmo nas etapas associadas à sua produção, esses acabam atingindo o meio ambiente, seja na forma de resíduos sólidos, efluentes líquidos, emissões gasosas e, até mesmo, durante a sua utilização ou pelo lançamento acidental ou indiscriminado no meio ambiente. Muitos dos produtos e substâncias químicas utilizadas pelos seres humanos, quando presentes no meio ambiente, são potencialmente prejudiciais à fauna, à flora e ao próprio Homem, o que constitui um grande fator de risco. Um exemplo clássico refere-se ao uso de compostos organoclorados que, nas décadas de 1940 e 1950, foram sintetizados em grandes quantidades para utilização como inseticidas. Devido à sua estabilidade química e baixa solubilidade em água, tais compostos se acumulam em tecido adiposo levando à sua bioconcentração ao longo da cadeia trófica, com conhecidos problemas para os animais superiores (BAIRD, 2002). Segundo Singer (1949 apud MIERZWA; AQUINO, 2009), o primeiro efeito evidenciado sobre a saúde humana, associado aos compostos organoclorados, foi a contagem reduzida de espermas nos pilotos de aviões pulverizadores de Diclorodifeniltricloroetano (DDT). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 28 Outro exemplo de impacto antrópico sobre o meio ambiente é associado à produção de detergentes sintéticos, que contêm em sua formulação polifosfato de sódio, cuja função é complexar íons (Ex. Ca2+ e Mg2+) que diminuem a formação de espuma. Os polifosfatos, ao serem lançados no meio ambiente juntamente com o esgoto sanitário, são hidrolisados, liberando no meio o íon fosfato (P04 3-), que pode ser prontamente assimilado pelas algas, cujo crescimento no meio aquático é geralmente limitado pela ausência de nitrogênio e fósforo. A abundância destes nutrientes no meio aquático causa um desequilíbrio conhecido como eutrofização, que pode conduzir à proliferação excessiva de algas (MIERZWA; AQUINO, 2009). Além da preocupação com os compostos organoclorados, nas duas últimas décadas se observa um crescente interesse científico e debates públicos sobre os potenciais efeitos adversos causados pela exposição a um grupo de produtos químicos que são capazes de alterar o funcionamento normal do sistema endócrino da fauna silvestre e, potencialmente, dos seres humanos (DAMSTRA, 2002 apud MIERZWA; AQUINO, 2009). Harrison, Holmes e Humfrey (1997 apud MIERZWA; AQUINO, 2009) relataram que muitos estudos de laboratório indicaram que compostos químicos presentes no meio ambiente podem interferir no sistema endócrino uma vez que têm potencial de causar alterações no equilíbrio hormonal dos seres humanos, resultando em uma série de problemas de saúde. Estes relatos mostram a relevância dos efeitos potenciais na saúde humana em decorrência da presença de determinadas substâncias químicas no ambiente. A tabela abaixo apresenta algumas classes de contaminantes orgânicos que podem ter acesso aos mananciais de água superficial e subterrânea. Alguns destes contaminantes, como os PCB, HPA, PCDD, PCDF e pesticidas clorados são sabidamente carcinogênicos, sendo alguns deles potenciais mutagênicos ou teratogênicos (BAIRD, 2002). Outros contaminantes, como os APEO e seus produtos de degradação, os ftalatos e os estradióis são desreguladores endócrinos, ou seja, são capazes de mimetizar ou antagonizar hormônios naturais, interferindo assim no funcionamento normal do sistema endócrino de animais superiores. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 29 Dos contaminantes orgânicos apresentados na tabela, apenas alguns são listados na Portaria MS n° 518/2004, destacando-se os pesticidas clorados, que totalizam 13 dos 22 agrotóxicos listados no padrão de potabilidade brasileiro. Vale ressaltar que algumas substâncias listadas na tabela, como é o caso dos PCBs, dioxinas, HPAs e ésteres itálicos, e que não compõem o padrão de potabilidade brasileiro, são incluídas no padrão de potabilidade de algumas instituições de referência como a Organização Mundial da Saúde (OMS), União Europeia (EU), Agência Ambiental Norte-Americana (USEPA) e Conselho Nacional da Saúde e Pesquisa Médica Australiano (NHRMC). Classificação de alguns contaminantes orgânicos de interesse sanitário Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 30 Os alquilfenóis polietoxilados e seus produtos de degradação (Ex.: nonilfenol e octilfenol), bem como os hormônios estradiol, natural e etinilestradiol, sintético não são listados nos padrões de potabilidade brasileiro ou das principais agências internacionais (OMS, USEPA, União Europeia, Health Canada, NHRMC). Contudo, tais compostos estão listados na tabela devido à elevada prevalência ambiental, resultante de sua presença nos esgotos domésticos que decorre dos seus empregos em fármacos, produtos de limpeza e higiene pessoal. Vale ressaltar que o padrão de potabilidade brasileiro refere-se a outros compostos orgânicos (Ex.: benzeno, clorofenóis, clorobenzeno, cloroalcanos e cloroalcenos), não listados na tabela, que podem estar presentes na água tratada devido à contaminação de mananciais pelo descarte de efluentes industriais ou devido à sua formação durante a cloração da água (MIERZWA; AQUINO, 2009). A situação passa a ser mais preocupante quando se analisa a questão dos grandes centros urbanos, isto porque a variedade e quantidade de produtos químicos utilizados diariamente são significativas, tendo como destino final os cursos d'água próximos, seja através dos esgotos tratados nas estações ou pelo lançamento direto. Por esta razão, é necessário avaliar as implicações da presença de certas substâncias químicas no meio ambiente, principalmente nos mananciais de água que recebem esgotos tratados, ou in natura, drenagem de águas pluviais e efluentes industriais e que ainda são utilizados para abastecimento público. Um dos primeiros grupos de contaminantes a ser estudado com relação aos riscos para a saúde humana foi o dos defensivos agrícolas, sendo que, atualmente, são listados 22 desses compostos na legislação brasileira que trata dos padrões de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 31 qualidade da água de abastecimento – Portaria 518 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004). Defensivos agrícolas são substâncias químicas utilizadas no controle de espécies indesejáveis e doenças de plantas. Englobam substâncias químicas e algumas de origem biológica, podendo ser classificados em função do tipo de espécies que controlam, da estrutura química das substâncias ativas e dos efeitos à saúde e ao ambiente. Quanto à sua toxicidade,os defensivos agrícolas podem ser classificados em função da dose letal para 50% da população do grupo de teste (DL50). Essa classificação é fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto, com relação ao efeito agudo. Na Tabela abaixo são apresentadas as classes dos defensivos agrícolas em função da DL50. Classificação toxicológica de defensivos agrícolas em relação a DL50 Fonte: ONU (2005 apud MIERZWA; AQUINO, 2009). Os defensivos agrícolas podem desencadear efeitos variados na saúde humana, agudos, subagudos ou crônicos. Os sinais e sintomas podem variar de eventos bem nítidos e objetivos, como espasmos musculares, convulsões, náuseas, desmaios, vômitos e dificuldades respiratórias; subjetivos e vagos, como dor de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 32 cabeça, fraqueza, mal-estar, dor de estômago e sonolência; a manifestações tardias, como os de natureza carcinogênica, mutagênica e neurológica. Embora a questão dos defensivos agrícolas ainda seja relevante, atualmente uma nova classe de contaminantes presentes no meio ambiente tem despertado a preocupação de profissionais e pesquisadores das áreas: ambiental, de tratamento de água e saúde, a qual é denominada de desreguladores, perturbadores ou disruptores endócrinos. Um desregulador endócrino é uma substância ou mistura exógena que altera as funções do sistema endócrino e consequentemente causa danos em um organismo sadio, em seus descendentes ou em outros grupos de organismos vivos (DAMSTRA, 2002 apud MIERZWA; AQUINO, 2009). Os desreguladores endócrinos são substâncias exógenas, que causam disfunções endócrinas em animais superiores como, por exemplo, hermafroditismo e feminilização. Pesquisadores de diversas instituições do mundo têm voltado suas atenções para os efeitos destes compostos na saúde humana, bem como para as tecnologias mais eficientes para sua remoção. Por se tratar de um tema relativamente novo, os principais estudos sobre a presença em mananciais de contaminantes orgânicos com potencial de causar perturbações no sistema endócrino limitam-se aos países com maior disponibilidade de recursos. Em alguns trabalhos disponíveis são apresentados dados muito pontuais sobre o Brasil e que a avaliação se restringiu à análise de amostras de esgoto bruto e tratado (MIERZWA; AQUINO, 2009). Como no Brasil os serviços de coleta e tratamento de esgotos ainda são precários e as atividades agrícolas são intensas, pode-se concluir que além da presença de compostos orgânicos da classe dos desreguladores endócrinos nos mananciais de água, os níveis de concentração podem ser significativamente maiores daqueles observados nos países desenvolvidos. Com base no conceito de múltiplas barreiras, os sistemas de tratamento de água para abastecimento se constituem na barreira final para assegurar a produção de uma água adequada do ponto de vista de saúde pública. Por se tratar de Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 33 compostos orgânicos, as tecnologias tradicionalmente utilizadas para tratamento de água apresentam capacidade limitada para possibilitar a remoção ou destruição de desreguladores endócrinos, e apresentam ainda o potencial de geração de subprodutos com maior toxicidade, principalmente nas etapas de pré-oxidação ou desinfecção (OKUN, 2003 apud MIERZWA; AQUINO, 2009). Com o crescente interesse pelo tema de desreguladores endócrinos, vários estudos sobre a eficiência de sua remoção em sistemas de tratamento de água têm sido desenvolvidos, mostrando que o sistema convencional apresenta limitações, sendo necessária a utilização de processos alternativos ou complementares. Conforme USEPA, 2005; USEPA, 1999 (apud MIERZWA; AQUINO, 2009), nos EUA, a preocupação com a qualidade da água para abastecimento público, tanto em relação aos organismos patogênicos como com os subprodutos da desinfecção e seus precursores, resultou em uma série de trabalhos e regulamentações relacionadas às tecnologias de tratamento da água para abastecimento público, sendo indicadas como mais adequadas: � uso de dióxido de cloro, cloraminas e ozônio; � radiação ultravioleta; � coagulação aprimorada; � micro, ultra e nanofiltação; � filtração de segundo estágio; � adsorção em carvão ativado granular; � gerenciamento dos mananciais. As opções apresentadas não contemplam especificamente os desreguladores endócrinos, mas sim microrganismos específicos e subprodutos da desinfecção. Como a maioria das estações de tratamento de água para abastecimento público no Brasil é baseada no sistema convencional, a potencial presença de uma ampla gama de compostos orgânicos na água potável não pode ser desprezada, principalmente nos grandes centros urbanos, o que requer uma maior atenção por Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 34 parte de pesquisadores e profissionais que atuam na área de abastecimento de água. Salienta-se que pouco se sabe sobre a eficiência das operações unitárias e processos químicos comumente usados no tratamento convencional de água na remoção de tais compostos. Assim, é importante que se desenvolvam pesquisas para avaliar a capacidade destas tecnologias de tratamento para a remoção desta nova classe de contaminantes, ressaltando-se também a importância do desenvolvimento de métodos analíticos que possibilitassem a sua detecção nos níveis que se encontram presentes no ambiente. Além disso, deve-se considerar que o tema sobre compostos orgânicos presentes no ambiente em microquantidades, comumente denominados microcontaminantes, requer o desenvolvimento de estudos epidemiológicos, para avaliar a sua relevância e, se necessário, estabelecer padrões de qualidade específicos, para a água de abastecimento. Tendências para o futuro Mantendo-se os atuais níveis de desenvolvimento e urbanização, a pressão sobre os recursos hídricos tenderá a ser mais intensa. Com os assentamentos urbanos cada vez mais próximos dos mananciais utilizados para abastecimento público, os baixos índices de coleta e tratamento de esgotos sanitários atualmente observados e a ampliação da oferta de novas substâncias e compostos químicos, o abastecimento de água para as populações desses centros será um desafio. Para que seja possível enfrentar os potenciais problemas relacionados à qualidade da água para abastecimento, o que já se verifica nos dias atuais, é necessário o investimento em pesquisas para avaliação dos impactos que os compostos orgânicos presentes em microquantidades nos mananciais apresentam sobre a saúde humana e como eles se comportam nos sistemas de tratamento. Além disso, a colaboração entre instituições de pesquisa e companhias de abastecimento de água é de extrema importância para garantir que não sejam consolidadas posições extremas em relação a essa nova classe de contaminantes que, em última análise, não atende aos interesses da sociedade como um todo. Todos osdireitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 35 Conforme mencionado anteriormente, não se deve superestimar e muito menos negligenciar os riscos potenciais que podem estar associados a esta ampla variedade de substâncias e compostos químicos que atingem os nossos mananciais e, consequentemente, a água que consumimos. O desenvolvimento tecnológico trouxe grandes benefícios para a humanidade, com inovações em várias áreas do conhecimento, inclusive para o tratamento de água. Assim, os desafios atuais devem ser enfrentados com todas as ferramentas disponíveis. No caso das tecnologias de tratamento de água, em muitas situações, as convencionais são a opção mais adequada para possibilitar a obtenção de uma água segura para o consumo humano, enquanto em outros casos a melhor opção são as tecnologias avançadas. Além da questão tecnológica, não se pode deixar de lado o princípio básico do tratamento de água, que são as medidas preventivas, devendo-se atuar na proteção dos mananciais, o que exige ações coordenadas, política, econômicas e sociais. Estar consciente dos principais problemas sobre a qualidade da água para abastecimento público e das opções disponíveis para enfrentá-los talvez seja o maior desafio que deve ser superado pelos profissionais e pesquisadores ligados à área de saneamento básico (MIERZWA; AQUINO, 2009). Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 36 UNIDADE 6 – PRESENÇA DE MICRORGANISMOS 6.1 Definições e características dos microrganismos Protozoários e cianobactérias são considerados organismos emergentes em sistema de abastecimento de água para consumo humano e nosso foco neste momento. Microrganismos emergentes são aqueles para os quais a atenção e/ou preocupação de médicos, especialistas e/ou epidemiologistas tem se voltado a partir de períodos mais ou menos recentes. Assim, podem constituir espécies recém- descobertas ou organismos já conhecidos/identificados, porém que apenas agora se descobriu serem capazes de infectar e serem patogênicos para seres humanos (BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). A emergência dos organismos acima está relacionada não ao fato de serem espécies recém-descobertas, mas ao fato de que, recentemente, em diferentes países, tem-se registrados surtos ou epidemias de doenças em que os mesmos foram identificados como os agentes etiológicos envolvidos e onde o abastecimento de água, mesmo tratada, foi incriminado como a fonte da exposição. Os protozoários constituem um grupo de organismos que inclui seres de vida livre e parasitas, que se caracterizam por apresentar diferentes formas, tipos de metabolismos e locais de ocorrência. O ser humano e diferentes espécies animais constituem os hospedeiros obrigatórios ou acidentais dos protozoários patogênicos, sendo que alguns desses podem apresentar complexos ciclos biológicos envolvendo, inclusive, diferentes modos e mecanismos de transmissão. A transmissão de protozoários patogênicos via água de consumo é há muito tempo conhecida e consolidada na comunidade técnica e científica. Como exemplos, citam-se a associação entre Giardia sp e água com qualidade imprópria ao consumo humano e, mais recentemente, Cryptosporidium spp., responsável por parasitose de caráter emergente, tanto pela sua ampla distribuição (cosmopolita) quanto pela ocorrência de diversos surtos e infecções esporádicas registradas em várias partes do mundo. Também se somam a essa lista Cyclospora cayetanensis e Toxoplasma Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 37 gondii, com menor incidência, mas com alguns surtos registrados em diferentes países (KARANIS; KOURENTI; SMITH, 2007 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009), inclusive no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Protozoários patogênicos são alvo de preocupações, tanto das autoridades de saúde pública quanto da comunidade científica, devido à transmissão comprovada de cistos de Giardia sp. e oocistos de Cryptosporidium spp. por meio do consumo de água tratada e distribuída por sistemas de abastecimento (LeCHEVALLIER; NORTON; ATHERHOLT, 1997 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). Esse fato alerta que populações que consomem água tratada apenas pelo processo de desinfecção (cloração), ou que consomem água de estações de tratamento que não realizam um controle rigoroso da eficiência do processo de filtração e/ou apresentam deficiências operacionais, podem estar sob maior risco de infecções por esses agentes. A crescente preocupação com a transmissão de protozoários via abastecimento de água para consumo humano envolve ainda as seguintes dificuldades na busca de equacionamento do problema: (i) as limitações dos processos convencionais de tratamento de água na remoção/inativação de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium; (ii) a insuficiência do controle tradicional da qualidade da água tratada por meio do emprego de bactérias do grupo coliforme ou outros indicadores; (iii) as limitações analíticas dos métodos disponíveis de pesquisa de protozoários em amostras de água; (iv) a dificuldade de estimar riscos à saúde associados à presença de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium em águas de consumo humano, principalmente quando em números reduzidos; (v) o conhecimento da participação de reservatórios animais na manutenção dessas parasitoses em nosso meio, haja vista o potencial zoonótico de ambas. Devido aos diferentes aspectos relacionados aos organismos patogênicos e à ampla variedade existente dos mesmos, não é necessário nem possível considerar todos os patógenos com o objetivo de projetar e/ou operar sistemas de abastecimento garantindo o fornecimento de água segura, ou mesmo em procedimentos de avaliação de risco de sistemas de abastecimento de água para consumo humano. Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde (OMS) introduz Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 38 o termo “patógeno/organismo referência”, o que significa selecionar de uma lista de organismos aquele que melhor reúne informações que possam representar o grupo como um todo. As informações normalmente utilizadas na seleção, com o objetivo último de proteção à saúde pública, incluem aspectos relacionados à remoção/inativação no tratamento da água e aqueles associados a impactos à saúde, tanto no âmbito individual como coletivo. Usualmente, havendo informação disponível, a escolha recai sobre o organismo mais difícil de ser removido/inativado e que apresenta os mais importantes impactos à saúde. Uma vez feita a seleção, se o sistema de abastecimento cumpre os requisitos de forma a produzir água com qualidade adequada considerando o “patógenoreferência”, significa que também atinge aqueles necessários para o grupo de patógenos como um todo (WHO, 2006 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). A introdução do termo “patógeno referência” muito se deve ao reconhecimento de que a avaliação da qualidade da água, utilizando os indicadores microbiológicos tradicionais (coliformes e Escherichia coli), não é adequada quando se quer avaliar a presença/ausência de protozoários em amostras de água. Sendo assim, essa referência tem sido particularmente aplicada a esse grupo específico de organismos patogênicos, os protozoários. Os protozoários Cryptosporidium spp. e Giardia duodenalis são os mais significativos, uma vez que provocam sintomas moderados e os casos de doença são comuns na população; além disso, já foram associados a epidemias/surtos envolvendo o consumo de água. Também se destacam pelo fato de persistirem por longos períodos no ambiente e apresentarem elevada resistência aos processos usuais de desinfecção da água. A informação relativa à ocorrência de surtos/epidemias é particularmente importante, uma vez que demonstra que o organismo foi capaz de atravessar diferentes barreiras, alcançar a população consumidora e produzir doença, eventualmente com grande impacto, como a incidência elevada de casos e/ou a ocorrência de casos graves/fatais. Karanis, Kourenti e Smith (2007 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009), em um trabalho de revisão das epidemias/surtos causadas por Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 39 protozoários patogênicos em todo o mundo, verificaram que de 325 registros, em 32% a epidemia/surto esteve associada com a água de consumo contaminada ou presumivelmente contaminada com Giardia duodenalis e, em 23,7%, com Cryptosporidium spp. Por outro lado, outros protozoários também vêm, mais recentemente, adquirindo importância relativa, principalmente devido à emergência de epidemias/surtos relacionados ao abastecimento de água. Destacam-se o Toxoplasma gondii e o Cyclospora cayetanensis, onde, somada a importância à saúde, chamam atenção as características que envolvem as dificuldades de controle de ambos, ou seja, são protozoários que também possuem elevada resistência no ambiente e aos processos usuais de desinfecção da água. Entretanto, Cryptosporidium e Giardia ainda são apontados como os de maior importância e significado. Também é importante mencionar alguns aspectos relacionados ao ciclo de vida desses agentes que contribuem para que a transmissão dos protozoários Cryptosporidium e Giardia via água de consumo seja mais provável. Esses organismos apresentam potencial zoonótico, ou seja, outras espécies de animais (domésticos e selvagens) podem ser seus hospedeiros e os hospedeiros infectados (humano ou animal), normalmente, eliminam grandes quantidades de formas infectantes (cistos e oocistos). Esses aspectos são significativos, uma vez que um maior e mais diversificado número de indivíduos é capaz de disseminar grandes quantidades dos agentes no ambiente. Adicionalmente, são eliminados dos hospedeiros já em suas formas infectantes, não necessitando, assim, de um período no ambiente para causarem novos casos de infecção. Nessas circunstâncias, a transmissão entre indivíduos também é possível. E, finalmente, são protozoários monoxenos, ou seja, completam seu ciclo de vida em apenas um hospedeiro. Outro aspecto relevante em relação aos protozoários de transmissão fecal- oral, incluídos o Cryptosporidium e a Giardia, é o fato de serem eliminados, frequentemente, em grandes quantidades nas fezes dos hospedeiros infectados, podendo, assim, ocorrer em elevado número no ambiente. Por outro lado, requerem Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 40 doses infectantes relativamente baixas para causar novos casos de infecção/doença. A tendência mundial é considerar o Cryptosporidium como o “protozoário referência” em se tratando da transmissão de protozooses via abastecimento de água para consumo humano. A atenção e preocupação em relação a esse protozoário são observadas tanto no meio científico, como alvo de pesquisas e investigações, quanto nos serviços de saúde pública e de saneamento, como uma das referências à produção de água segura à população. Além das características já citadas, Cryptosporidium spp. é objeto de maior preocupação devido às dificuldades de controle, uma vez que apresenta oocistos de menor tamanho, sendo mais dificilmente removidos da água, considerando os processos tradicionais de clarificação; também são mais persistentes no meio ambiente e mais resistente aos processos usuais de desinfecção da água de consumo. A definição de possíveis organismos que possam ser utilizados como “patógenos referência” também é importante para a aplicação da metodologia de Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico (AQRM), sendo necessária a existência de dados sobre dose-resposta à exposição ao microrganismo, os quais são normalmente obtidos em estudos experimentais com voluntários humanos ou animais ou constituem evidências epidemiológicas, usualmente levantadas em investigações de surtos/epidemias. Essas informações estão mais bem estabelecidas e sistematizadas para Cryptosporidium e Giardia, reforçando a escolha do primeiro como “patógeno referência” (BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). Outro aspecto que vem adquirindo importância é a capacidade de sobrevivência dos oocistos em águas estuarinas e marinhas e a possibilidade de contaminação de espécies animais desses ambientes, aumentando o significado de saúde pública desse protozoário, tanto no que diz respeito à transmissão envolvendo o contato primário/recreação, como devido ao consumo de produtos marinhos, principalmente crus. A detecção de oocistos em água do mar ou de estuários é documentada na literatura (JOHNSON et al., 1995; FERGUSON et al. 1996; LIPP et al., 2001 apud Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 41 (BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009), entretanto, a grande maioria dos relatos, em diferentes partes do mundo, refere-se ao isolamento/identificação de oocistos em moluscos aquáticos (ostras, mexilhões e mariscos). Esses animais podem desempenhar importante papel na transmissão do Cryptosporidium, uma vez que, pela forma de alimentação dos mesmos (filtração da água), podem reter oocistos infectantes em seus tecidos. O comportamento da Giardia em condições de laboratório e no ambiente e semelhante ao do Cryptosporidium, porém, normalmente, a sobrevivência de cistos é menor que a dos oocistos. A temperatura também é um fator que interfere na manutenção da infectividade dos cistos. No solo, os cistos apresentam períodos variados de sobrevivência (OLSON et al., 1999 apud BEVILACQUA, AZEVEDO, CERQUEIRA, 2009). Considerando os mananciais superficiais, trabalhos registram que, dentre outras características, o grau e o tipo de ocupação da bacia, a existência de cobertura
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