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Prévia do material em texto

2015
História do Brasil 
repuBlicano
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
Copyright © UNIASSELVI 2015
Elaboração:
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
981
S586h Silva, Thiago Rodrigo da 
 História do Brasil republicano / Thiago Rodrigo da Silva. Indaial: 
UNIASSELVI, 2015.
 
 246 p. : il.
 
 ISBN 978-85-7830-924-4
 
1. História do Brasil. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
III
apresentação
A História da República Brasileira é um dos principais temas 
estudados no ensino de História. Em especial, o Ensino Médio oferta 
particular interesse sobre esta área do conhecimento. Também os vestibulares 
e concursos públicos possuem, na maior parte de suas questões, temáticas 
ligadas ao Brasil Contemporâneo. Assim compreendendo, o atual Caderno 
de Estudos busca contemplar alguns aspectos importantes, visto que são 
considerados relevantes no período histórico a ser estudado, visando 
capacitar o futuro professor de História em sua prática cotidiana na sala 
de aula. 
Sínteses de História Republicana Brasileira foram realizadas por 
diversos historiadores. E, na atualidade, temos um grande (quiçá enorme) 
volume de estudos referente a temáticas relacionadas ao Brasil nos séculos 
XIX e XX. Todavia, poucas são as sínteses sobre o período. A maior parte 
dos estudos são monografias (dissertações ou teses universitárias) de temas 
específicos, como a Proclamação da República, o período getulista ou os 
governos militares. Apenas dois autores se destacaram realizando sínteses 
de História do Brasil República nos últimos 30 anos. O historiador Lincoln 
de Abreu Penna, que no final dos anos 1980 lançou Uma História da República 
Brasileira (PENNA, 1989), e a afamada síntese de História do Brasil escrita 
pelo professor da Universidade de São Paulo Boris Fausto (FAUSTO, 
2006). Temos também algumas obras coletivas, que visam difundir as 
teses universitárias, como a História do Brasil Nação, organizada por Lilia 
Moritz Schwarcz (SCHWARCZ, 2010), além da História Geral da Civilização 
Brasileira (FAUSTO, 1997), que contou com as prestigiosas coordenações dos 
professores Boris Fausto e Sérgio Buarque de Holanda.
Tendo como modelo a síntese destes dois autores (Penna e Fausto), o 
presente escrito também contou com uma terceira inspiração, dada pelo teórico 
social franco-argelino Pierre Bourdieu (BOURDIEU, 2013), que pensava a 
organização da sociedade baseada em “campos de poder”. 
Assim, ao invés de escrever dando destaque a apenas um campo 
(cultural, político, econômico ou social), o presente Caderno de Estudos se 
inspirou em historiadores que apresentaram uma nova forma de explicar a 
realidade social brasileira, pensando em todas estas questões como relevantes. 
Deste modo, as unidades foram divididas em quatro tópicos, que buscam 
abordar as questões políticas, as dinâmicas econômicas, os movimentos 
sociais e o panorama cultural dos períodos contemplados. 
As análises empreendidas não buscaram realizar “juízo de valor” 
aos eventos da História Republicana Brasileira, mas sim possibilitar aos 
acadêmicos meios para compreender de forma clara a construção da sociedade 
IV
e de suas incoerências. Isto é, mais do que tentar explicar os “porquês”, 
buscou-se responder ao “como” as estruturas sociais contemporâneas foram 
formadas no Brasil ao longo do último século. Na primeira unidade iremos 
contemplar o período da denominada República Velha, também chamada de 
Primeira República (1889-1930), que se estende do golpe militar que destituiu 
o imperador D. Pedro II, até um outro golpe, que possibilitou a chegada ao 
poder do político gaúcho Getúlio Vargas. Na segunda unidade iremos estudar 
o denominado Período Populista ou Nacional-Desenvolvimentista, que 
iniciou com o Golpe de 1930 e terminou com o Golpe Militar de 1964. Neste 
período, iremos compreender as bases das dinâmicas sociais e econômicas 
brasileiras. Na última unidade iremos compreender os governos militares e 
o processo de redemocratização. 
Este caderno foi construído levando em conta muitas das contribuições 
que os acadêmicos e os tutores do Curso de História EAD/UNIASSELVI 
apontaram como lacunas dos cadernos escritos anteriormente. Nossa 
gratidão aqui fica expressa a todos os profissionais que se empenharam para 
que ele pudesse ser revisado e aprimorado. 
Um sincero muito obrigado a todos os tutores e acadêmicos do EAD/
UNIASSELVI. Votos de boa leitura!
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VI
VII
UNIDADE 1 - A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930) ................................................................ 1
TÓPICO 1 - AS QUESTÕES POLÍTICAS ...................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 3
2 O DESGASTE DA MONARQUIA E O MOVIMENTO REPUBLICANO ........................... 4
3 A QUESTÃO MILITAR E A REPÚBLICA DA ESPADA ......................................................... 9
4 A REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: O “CAFÉ COM LEITE” ...................................................... 17
5 A POLÍTICA EXTERNA: A DIPLOMACIA BRASILEIRA NA PRIMEIRA 
 REPÚBLICA ...................................................................................................................................... 20
RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................................... 25
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 26
TÓPICO 2 - AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA ...................... 27
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 27
2 OS SURTOS INDUSTRIAIS ......................................................................................................... 28
3 O CAFÉ E AS DEMAIS ATIVIDADESAGRÍCOLAS .............................................................. 30
4 LOGÍSTICA: O SETOR DE TRANSPORTES ............................................................................ 34
5 A IMIGRAÇÃO: UMA QUESTÃO SOCIOECONÔMICA ..................................................... 36
RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................................... 40
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 41
TÓPICO 3 - OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA ................................... 43
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 43
2 OS MOVIMENTOS RELIGIOSOS: A GUERRA DE CANUDOS, A REVOLTA DE 
JUAZEIRO E A GUERRA DO CONTESTADO ......................................................................... 44
3 MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS: A REVOLTA DA VACINA OBRIGATÓRIA, O 
 MOVIMENTO SINDICALISTA E A GREVE GERAL DE 1917 ............................................. 49
4 OS MOVIMENTOS MILITARES: A REVOLTA DA CHIBATA E O TENENTISMO ....... 53
5 CANGAÇO E SUFRAGISMO: OS MOVIMENTOS SOCIAIS 
 “POUCO LEMBRADOS” ............................................................................................................... 57
RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................... 60
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 61
TÓPICO 4 - O PANORAMA CULTURAL ..................................................................................... 63
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 63
2 A EDUCAÇÃO E A CULTURA ERUDITA NA PRIMEIRA REPÚBLICA ............................ 63
3 CULTURA POPULAR & CULTURA DE MASSA ..................................................................... 67
4 O CAMPO RELIGIOSO NO BRASIL DA PRIMEIRA REPÚBLICA .................................... 70
5 OS NOVOS SÍMBOLOS DA REPÚBLICA BRASILEIRA ...................................................... 73
RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................................... 75
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 76
sumário
VIII
UNIDADE 2 - O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964) ............... 77
TÓPICO 1 - A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO ........ 79
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 79
2 DA REVOLUÇÃO DE 1930 AO ESTADO NOVO .................................................................... 80
3 DO ESTADO NOVO AO SUICÍDIO DE GETÚLIO VARGAS ............................................. 85
4 JUSCELINO, JÂNIO E JANGO .................................................................................................... 92
5 AS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL ENTRE 1930 ATÉ 1964 ..................................... 99
RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................................... 103
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 104
TÓPICO 2 - A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA .................................... 105
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 105
2 A QUESTÃO DO CAFÉ E AS DEMAIS ATIVIDADES AGRÍCOLAS DURANTE A 
 GRANDE DEPRESSÃO ................................................................................................................. 105
3 A POLÍTICA DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES ....................................................... 106
4 A POLÍTICA MONETÁRIA E CAMBIAL .................................................................................. 111
5 O SETOR DE TRANSPORTES ..................................................................................................... 114
RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................................... 116
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117
TÓPICO 3 - OS MOVIMENTOS SOCIAIS ................................................................................... 119
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119
2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS DE DIREITA: A AÇÃO SOCIAL DA IGREJA 
 CATÓLICA, O INTEGRALISMO E A TRADIÇÃO FAMÍLIA E PROPRIEDADE ............ 119
3 OS GRUPOS DE ESQUERDA NA IGREJA CATÓLICA, O PARTIDO COMUNISTA, 
 O MOVIMENTO SINDICAL E O MOVIMENTO ESTUDANTIL ....................................... 124
4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO INTERIOR DA CASERNA ............................................ 129
5 MOVIMENTOS SOCIAIS PRÓ-GOLPE MILITAR ................................................................. 130
RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................... 132
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 133
TÓPICO 4 - O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- 
 DESENVOLVIMENTISTA ......................................................................................... 135
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135
2 A EDUCAÇÃO E A CULTURA ERUDITA NA REPÚBLICA NACIONAL- 
 DESENVOLVIMENTISTA ............................................................................................................ 135
3 CULTURA POPULAR & CULTURA DE MASSA ..................................................................... 137
4 O CAMPO RELIGIOSO NO BRASIL DA REPÚBLICA NACIONAL-
 DESENVOLVIMENTISTA ............................................................................................................ 141
5 AS ARTES E OS ESPORTES COMO UM SÍMBOLO DIPLOMÁTICO E DE 
 IDENTIDADE NACIONAL .......................................................................................................... 144
6 OS GRUPOS DE INTELECTUAIS A SERVIÇO DO DESENVOLVIMENTISMO 
 ESTATAL ............................................................................................................................................ 147
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 149
RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................................... 151
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 153
UNIDADE 3 - O BRASIL ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA (1964-2010) ............. 155
TÓPICO 1 - AS QUESTÕES POLÍTICAS ...................................................................................... 157
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 157
IX
2 A POLÍTICA NO CICLO AUTORITÁRIO .................................................................................157
3 DAS “DIRETAS JÁ” AO GOVERNO LULA .............................................................................. 166
4 POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL NA DITADURA E NA DEMOCRACIA ..................... 178
RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................................... 182
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 183
TÓPICO 2 - A GESTÃO ECONÔMICA DO BRASIL: ENTRE A INTERVENÇÃO 
 ESTATAL E O LIBERALISMO ECONÔMICO ...................................................... 185
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 185
2 AS LINHAS GERAIS DA POLÍTICA ECONÔMICA NO BRASIL DA SEGUNDA 
 METADE DO SÉCULO XX ............................................................................................................ 185
3 POLÍTICA MONETÁRIA, OS BANCOS E O MERCADO DE CAPITAIS .......................... 190
4 O SETOR INDUSTRIAL ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA – O PROCESSO 
 DE INDUSTRIALIZAÇÃO E DESINDUSTRIALIZAÇÃO .................................................... 192
5 O AGRONEGÓCIO, OS SETORES DE TRANSPORTES E ENERGIA ............................... 196
RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................................... 201
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 202
TÓPICO 3 - CULTURA & SOCIEDADE: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS, SOCIAIS E 
 RELIGIOSOS ................................................................................................................ 203
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 203
2 OS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS .............................................................................................. 203
3 A OPOSIÇÃO DA SOCIEDADE À DITADURA: A IMPRENSA, O MOVIMENTO 
 ESTUDANTIL E A LUTA ARMADA ........................................................................................... 207
4 OS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS ...................................................................................... 210
5 O CAMPO RELIGIOSO NA DITADURA E NA DEMOCRACIA ......................................... 213
RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................... 217
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 218
TÓPICO 4 - UM POUCO DE HISTORIOGRAFIA DO BRASIL REPUBLICANO .............. 219
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 219
2 OS CLÁSSICOS DA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA ......................................... 219
3 NOVOS PERSONAGENS CONTAM NOVAS HISTÓRIAS: A HISTORIOGRAFIA 
 REPUBLICANA NA ATUALIDADE BRASILEIRA ................................................................. 220
4 HISTÓRIA DAS MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO ................................................... 222
5 A NOVA HISTÓRIA SOCIAL DOS TRABALHADORES ...................................................... 225
6 NOVA HISTÓRIA CULTURAL E NOVA HISTÓRIA POLÍTICA ........................................ 227
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 230
RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................................... 235
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 236
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 237
X
1
UNIDADE 1
A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
● compreender as dinâmicas políticas da velha república, dividida entre o 
poder dos oligarcas rurais e dos militares do exército;
● interpretar de forma crítica as dinâmicas econômicas da primeira repúbli-
ca, marcada por surtos industriais e a produção agrícola, mais notadamen-
te a cafeicultura;
● analisar as causas políticas e econômicas dos diversos movimentos sociais 
rurais messiânicos e urbanos ligados aos direitos dos trabalhadores;
● contemplar a diversidade cultural e a sensibilidade artística dos músicos, 
escritores e demais profissionais das artes no Brasil na última década do 
século XIX e primeiras décadas do século XX. 
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles você 
encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
TÓPICO 1 – AS QUESTÕES POLÍTICAS
TÓPICO 2 – AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
TÓPICO 3 – OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
TÓPICO 4 – O PANORAMA CULTURAL
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
AS QUESTÕES POLÍTICAS
1 INTRODUÇÃO
República Velha ou Primeira República, se divide em República da Espada e 
Oligárquica, ou do “Café com Leite”. Muitas foram as alcunhas e termos utilizados 
para compreender a vida brasileira durante os anos de 1889 até 1930. Um tempo 
de profundas modificações na vida nacional. Um tempo no qual a “ordem foi o 
progresso”. Isto é, um período em que a vida da nação, assim como da sociedade 
ocidental, estava movida pelos ideais da modernidade. Deste modo, podemos 
compreender que durante a passagem do século XIX para o XX, muitos inventos 
materiais tiveram uma importância incomensurável para as transformações das 
relações humanas e sociais. Foi uma época na qual tivemos grandes inventos, como 
o gramofone, o Zepelim, o avião, a utilização da energia elétrica. Com isto, podemos 
pensar que o cotidiano das populações urbanas foi alterado graças aos inventos e 
descobertas da ciência. Concomitantemente, o Brasil era ainda uma nação agrária 
exportadora. Com isto, podemos pensar que a maior parte da população brasileira, 
que vivia do trabalho na agricultura, não tinha acesso a estas facilidades que a 
tecnologia começava a apresentar para as populações urbanas. 
Os debates historiográficos sobre a Primeira República são importantes 
para a compreensão dos eventos relativos ao período. Temos a presença de 
vários historiadores que estudaram as primeiras décadas republicanas. Dentre 
os pioneiros, podemos citar José Maria Bello e Hélio Silva. Também tiveram 
destaque na produção historiográfica autores marxistas, como Edgar Carone, em 
A República Velha, obra em dois volumes (CARONE, 1978), também autor de O 
tenentismo. Novas abordagens sobre as “explicações clássicas” foram produzidas 
nas últimas décadas por vários historiadores, que por vezes se afastaram das 
explicações empiristas e marxistas. Nestas novas formas de explicação realizadas 
por diversos intelectuais, pode-se destacar José Murilo de Carvalho, autor de 
livros fundamentais para a compreensão do período, como A Formação das 
Almas e Os Bestializados (CARVALHO, 1990). 
 
Nesta unidade iremos compreender alguns aspectos da vida brasileira. Nós 
iremos acompanhar as transformações políticas, marcadas pelo “café-com-leite”, 
pelas questões econômicas, ligadas à exportação do café, à questão social, marcada 
pela injustiça e brutal desigualdade, além das transformações culturais vividas pelos 
brasileiros no período. Deste modo, buscaremos ter uma “visão panorâmica” da 
História neste períodoinicial de vida política republicana. 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
4
As questões políticas do Brasil, na Primeira República, revelam um alto 
grau de complexidade. Podemos compreender que muitos grupos buscavam 
a hegemonia no campo político. O Brasil ainda era um país de população 
majoritariamente rural. Todavia, amplamente integrado nas dinâmicas da 
economia global, como produtor de produtos primários, mais notadamente o 
café. Do ponto de vista social, tínhamos uma grande concentração de renda, que 
foi amenizada com o fim da escravidão, que possibilitou a liberação de capitais 
(antes concentrados no comércio de seres humanos) em atividades produtivas. 
Neste sentido, a organização social ainda era composta por um interior 
rural, com algumas cidades litorâneas tendo destaque como interpostos comerciais 
dos produtos agrícolas para o mercado internacional. Santos, Rio de Janeiro, 
Salvador, Porto Alegre e Recife ainda se mantinham como os principais centros 
urbanos. Porém, o poder estava entre os proprietários rurais, os denominados 
coronéis. A cidade de São Paulo viveu um grande aumento de sua população 
e sua produção industrial. Porém, era a então capital federal o Rio de Janeiro, 
a principal cidade brasileira. Um país com uma população em sua maioria 
empobrecida, com poucos direitos. O voto não era secreto, mas a descoberto, e o 
chamado “voto de cabresto” impedia uma renovação nas lides políticas. 
Em relação à disputa pelo Poder Executivo Federal, podemos compreender 
que foram dois os principais grupos a lutar pelo poder. Os militares, mais 
especialmente o Exército, e os grandes proprietários rurais, mais notadamente 
os cafeicultores paulistas e mineiros. Estes dois grupos, as oligarquias agrárias e 
os militares, foram os principais protagonistas das lutas políticas brasileiras em 
todo o século XX. Porém, para compreender com profundidade a consolidação 
destes dois polos de poder, devemos antes entender o processo de Proclamação 
da República.
2 O DESGASTE DA MONARQUIA E O MOVIMENTO 
REPUBLICANO
A forma de organização do Estado Brasileiro independente em um 
império foi uma continuidade em relação ao período colonial, tendo em vista que 
fomos comandados pela mesma dinastia europeia, a Casa de Bragança, família 
real da qual eram originários os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II. Porém, 
em toda a América, o Brasil era o único país que ainda se mantinha como uma 
monarquia, em meio a diversas repúblicas. Porém, a Guerra do Paraguai, com 
suas consequências sociais e políticas, abalou as bases da legitimidade do poder 
monárquico no Brasil. Assim, em 1870, súditos do imperador D. Pedro II assinaram 
um Manifesto Republicano. Podemos apontar que o movimento republicano 
possuiu três grandes categorias sociais que o motivaram. Os cafeicultores 
paulistas, os profissionais liberais urbanos e os jovens oficiais militares (PENNA, 
1989).
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
5
Os cafeicultores e líderes políticos do interior paulista, fundadores do 
PRP – Partido Republicano Paulista, fundaram um grupo forte de adeptos do 
republicanismo, cujos principais líderes foram Francisco Glicério e Prudente de 
Morais. Outro grupo importante de adeptos do republicanismo foi composto 
por profissionais liberais que viviam na corte imperial. Entre eles se destacaram 
os intelectuais Quintino Bocaiúva e Silva Jardim. Além destes grupos, tivemos 
um terceiro, composto por jovens cadetes da Escola Militar do Brasil, que se 
localizava no bairro carioca da Praia Vermelha, e tinha como principal professor 
o positivista Benjamin Constant. 
 
Além de São Paulo e da Corte, nas demais províncias do Império do 
Brasil tivemos uma ampla divulgação dos ideais republicanos. Porém, o Partido 
Republicano, na maior parte das províncias, era minoritário, sendo os partidos 
majoritários o Partido Conservador (conhecido pela alcunha Saquaremas) e 
o Partido Liberal (conhecido por Luzias). Em geral, o Partido Republicano era 
composto por membros da intelectualidade, profissionais liberais e pequenos 
comerciantes, não ligados aos “donos do poder”, e não vinculados à exploração 
maciça do trabalho escravo. O Partido Republicano das províncias, na ampla 
maioria, não tinha uma grande representatividade. Porém, o Partido Republicano 
Paulista possuía características singulares, que o fazia especial frente às demais 
províncias. 
Nos últimos anos do Império, o café era o principal produto que mantinha 
em superávit a balança comercial brasileira. O café possuiu, durante todo o século 
XIX, um percurso que se iniciou na região serrana fluminense, posteriormente 
ganhou a região do Vale do Rio Paraíba do Sul, no sul da Província do Rio de 
Janeiro. Em geral, era composto por grandes fazendas e grandes escravarias. 
Todavia, com a expansão das áreas de cultivo, uma nova elite cafeicultora se 
distinguiu na região geográfica do Oeste Paulista. Esta elite cafeicultora possuía 
uma característica diferente das antigas elites agrárias brasileiras, pois não 
era dependente da mão de obra escrava, mas utilizava a força de trabalho dos 
imigrantes, trazidos para a região do interior paulista pela liderança do senador 
Vergueiro. Em geral, a maior parte dos imigrantes era italiana e alemã. Esta nova 
elite do Oeste Paulista, portanto, não tinha interesses vinculados à manutenção 
da escravidão (FAUSTO, 2002). 
Mesmo sendo uma região importante do ponto de vista econômico, o 
Oeste Paulista e a nova elite por ela composta, assim como toda a Província de 
São Paulo, de um modo geral, não possuíam cargos de destaque na administração 
do Império. Podemos lembrar que não eram dos políticos paulistas as chefias 
de gabinetes ou ministérios importantes. Com isto, temos uma tendência de 
descontentamento desta elite com o Imperador D. Pedro II. Os liberais urbanos e os 
militares positivistas tiveram também seus interesses sociopolíticos não atendidos 
pelo governo imperial. Todavia, podemos também relacionar o desgaste social da 
monarquia também ligada ao movimento abolicionista, à questão religiosa e aos 
atritos do imperador com o Exército.
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
6
Um importante movimento social que estava a angariar vários adeptos 
dentre as mais diversas classes sociais no Brasil na sequência da Guerra do Paraguai 
foi o abolicionismo. O movimento abolicionista tinha como causa máxima a 
libertação irrestrita de todos os escravos brasileiros. Em muitos lugares, homens 
livres compravam alforrias ou mesmo compravam escravos, e a eles ofertavam 
a manumissão (isto é, a liberdade). Estes se organizavam nos chamados Clubes 
Abolicionistas, que agregavam membros dos mais variados estamentos da sociedade 
monárquica. O movimento se vinculava tanto às camadas médias e profissionais 
liberais, quanto a membros da elite imperial. Entre os membros das camadas médias 
urbanas podemos lembrar o nome de Luiz da Gama, um rábula (isto é, alguém que 
tinha o direito de exercer a advocacia, mesmo não sendo formado em Direito). Negro, 
que conseguiu ascender socialmente por seu talento e inteligência, era um símbolo 
vivo das causas defendidas por largos segmentos da sociedade, que acreditava na 
capacidade dos negros, como senhores de seu destino, em contribuir positivamente 
para o desenvolvimento brasileiro. Ao mesmo tempo, o movimento abolicionista 
contou com adeptos da própria elite imperial, como a Princesa Isabel, ligada ao 
Quilombo do Leblon. Todavia, o maior nome do abolicionismo brasileiro foi Joaquim 
Nabuco.
Para o intelectual pernambucano, a escravidão foi a grande responsável 
pela decadência do Império Brasileiro. Em especial, pela escravidão não permitir 
o desenvolvimento de uma mentalidade industriosa e a instalação da pequena 
propriedade no interior do Brasil. A ideia de uma moral do trabalho, presente 
no liberalismo políticoeuropeu, era corroborada por Joaquim Nabuco, como 
podemos observar na seguinte passagem de seu clássico, o abolicionismo: 
O que a escravidão fez foi esterilizar o solo pela sua cultura extenuativa, 
embrutecer os escravos, impedir o desenvolvimento dos municípios, 
e espalhar em torno dos feudos senhoriais o aspecto das regiões 
miasmáticas, ou devastadas pelas instituições que suportou, aspecto 
que o homem livre instintivamente reconhece. (NABUCO: 1982, p. 85).
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
7
FIGURA 1 - JOAQUIM NABUCO 
FIGURA 2 - ANDRÉ REBOUÇAS
FONTE: Disponível em: <www.prefeitura.sp.gov.br. Acesso em: 20 ago. 
2015. 
FONTE: Disponível em: <www.joaquimnabuco.org.br >. Acesso em: 20 
ago. 2015. 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
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O movimento abolicionista contou também com a participação de André 
Rebouças, que ao lado dos seus irmãos, Antônio Rebouças e José Rebouças, tiveram 
grande importância, como negros que, formados em Engenharia, contribuíram 
com importantes obras públicas durante o Império Brasileiro, comprovando a 
capacidade intelectual dos negros brasileiros. 
Todavia, o movimento abolicionista não pode ser diretamente relacionado 
ao movimento republicano. Pois, muitos dos entusiastas do abolicionismo se 
mantiveram favoráveis ao regime político monárquico. Joaquim Nabuco e André 
Rebouças, por exemplo, se mantiveram monarquistas mesmo com o advento da 
República, tendo Rebouças se exilado na Ilha da Madeira, e Nabuco escrito o 
livro Balmaceda, no qual critica diretamente o ditador chileno, e indiretamente o 
governo de Floriano Peixoto. Porém, vale salientar que muitos dos entusiastas da 
República, ou mesmo personagens destacados no golpe militar da Proclamação 
da República, eram abolicionistas, como é exemplo o Marechal Deodoro da 
Fonseca. 
A questão da abolição da escravidão se relaciona diretamente à Proclamação 
da República, não por uma vinculação direta entre os líderes abolicionistas e o 
movimento republicano, mas pelo fato de a Lei de 13 de maio de 1888 ferir os 
interesses de um dos poucos grupos que ainda apoiavam o Imperador D. Pedro 
II: a aristocracia rural do Vale do Paraíba do Sul. Nobres, em geral agraciados 
com o título de Barão, que viviam na região do Rio Paraíba, na fronteira entre as 
províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, perderam o capital e o status investido 
na compra das grandes escravarias que possuíam. Assim, não mais defendiam 
a monarquia, mesmo não tendo grande relação com o movimento republicano. 
A questão religiosa também é importante para a compreensão do fim 
da monarquia Bragança no Brasil. A Igreja Católica foi uma das principais 
instituições aliadas à Monarquia Bragança. Desde o movimento da Restauração, 
no século XVII, no qual tivemos o fim da União Ibérica entre Portugal e Espanha, 
muitos foram os sacerdotes católicos que auxiliaram a monarquia, sendo ela um 
dos sustentáculos ideológicos do regime monárquico no Brasil. Para termos uma 
ideia da dimensão temporal do poder católico, os documentos e ações hoje civis 
eram de responsabilidade eclesiástica. Alguns exemplos são a certidão de batismo 
e casamento, assim como o direito a um funeral em cemitério. 
Todavia, a relação da religião com o Império sofreu profundas alterações 
ao longo do século XIX. Pois, desde a vinda da família real portuguesa para o Rio 
de Janeiro, o catolicismo deixou de ser uma religião exclusiva, para se transformar 
em uma religião oficial. Tivemos a liberdade de culto para os anglicanos, com 
os diversos tratados, simbolizados pela abertura dos portos às nações amigas. 
Também tivemos uma liberdade de culto para os imigrantes alemães, que em 
grande parte eram luteranos. Todavia, as tensões do imperador com as lideranças 
eclesiásticas brasileiras ocorreram devido a questões teológicas no interior do 
próprio catolicismo. 
 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
9
Uma das prerrogativas do catolicismo ibérico era o que na colônia ficou 
conhecido como padroado régio. Isto é, a prerrogativa legal que permite ao 
imperador interpretar as bulas papais, pois o chefe do Estado é considerado 
um Vigário de Cristo, uma das características do poder régio nas monarquias 
absolutistas do Antigo Regime Europeu. Durante a segunda metade do século 
XIX, o Papa Pio IX publicou um documento no qual os maçons deveriam ser 
retirados das confrarias religiosas. Todavia, muitos dos membros das elites 
provinciais e da corte eram maçons. O que motivou ao imperador revogar este 
dispositivo das ordens vindas do Vaticano. 
Porém, alguns bispos, que possuíam uma formação diferenciada, os 
denominados “ultramontanos”, não seguiram as ordens do Imperador D. Pedro 
II, expulsando das confrarias e ordens terceiras os maçons. O imperador interveio, 
sendo ordenada a prisão dos bispos D. Macedo Costa e D. Vidal. D. Vidal morreu 
na prisão, sendo D. Macedo Costa liberto quando o Duque de Caxias foi chefe 
do gabinete do Senado imperial. A tensão entre a Igreja e o imperador foi de 
tamanha repercussão, a ponto de, quando o novo regime foi instalado, se acordou 
a separação entre a Igreja e o Estado, com a instituição de um Estado laico com a 
Constituição de 1891, que ratificou acordos realizados por D. Macedo Costa e Rui 
Barbosa. É importante lembrar que mesmo durante o império, alguns senadores, 
como Tavares Bastos, eram favoráveis à instituição de um Estado laico (VIEIRA, 
1980). Assim, podemos compreender que a República possibilitou a concretização 
de alguns anseios das classes políticas do Império Brasileiro. 
3 A QUESTÃO MILITAR E A REPÚBLICA DA ESPADA
A questão militar é uma das principais para compreendermos os eventos 
que culminaram no golpe de 15 de novembro de 1889. Pois foram justamente 
os militares que destronaram D. Pedro II. Devemos, antes, compreender que a 
Marinha de Guerra era a principal força armada do Império Brasileiro, tendo 
os netos do imperador servido na Marinha. O Exército perdeu prestígio após 
o processo de Independência, sendo a Guarda Nacional, instituída durante o 
período regencial, um dos símbolos desta perda de prestígio. Contraditoriamente, 
a força terrestre foi utilizada para os interesses da elite do Estado Imperial, ao ser o 
Exército a instituição responsável por dizimar as revoltas provinciais (Cabanagem, 
Balaiada etc.). Todavia, os oficiais do Exército não possuíam prestígio social. 
O prestígio do Exército se ampliou com a Guerra do Paraguai, na 
qual os militares saíram vitoriosos. Durante a guerra, surgiram os primeiros 
confrontos entre os generais e a família imperial, devido à figura controversa 
do Conde D’Eu, francês de nascimento e esposo da Princesa Isabel. Em grande 
parte, pela intromissão do conde em assuntos relativos à guerra, sendo o nobre 
o comandante responsável pela caça a Solano Lopez no interior paraguaio. As 
posturas do Conde D’Eu foram duramente criticadas, consideradas impiedosas 
por lideranças militares como o General Osório e o Duque de Caxias. 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
10
No retorno das tropas para a Corte, o prestígio merecido não correspondia 
ao tratamento que a monarquia oferecia aos soldados. Um primeiro conflito ocorreu 
quando o Coronel Sena Madureira se opôs à obrigatoriedade que o Visconde de 
Ouro Preto tentou impor aos militares. Quis o visconde instituir a contribuição 
compulsória para o montepio (previdência) da categoria. Esta oposição virou uma 
questão de esfera pública, discutida pela imprensa. Porém, a principal questão 
relativa às oposições entre o imperador e o Exército se relacionara ao movimento 
abolicionista. 
No ano de 1884, o Coronel Madureira convidou o jangadeiro cearense 
Francisco José do Nascimento, conhecido pela alcunha de Dragão do Mar (e 
nacionalmente felicitado por sua postura antiescravagista de não transportar 
escravos em suajangada), a comparecer na cidade-sede da Corte Imperial, o 
Rio de Janeiro. O jangadeiro foi recebido pelo Coronel Sena Madureira, o que 
demonstrava uma postura claramente antiescravagista do coronel. Por isso, o 
mesmo recebeu uma punição, sendo transferido para o Rio Grande do Sul. O 
ministro da Guerra proibiu os militares de expressarem suas ideias pela imprensa. 
Porém, o então Comandante de Armas e Presidente da Província do Rio Grande 
do Sul, Marechal Deodoro da Fonseca, se negou a punir os militares sob seu 
comando, o que motiva o mesmo ser chamado para a Corte. 
As tensões aumentaram a partir do momento em que o Coronel Cunha 
Mattos (ligado ao Partido Liberal) também se manifesta pela imprensa, acusando 
pelos jornais que seu superior hierárquico (ligado ao Partido Conservador) era 
corrupto, exigindo a exoneração do mesmo. Ao novamente utilizar a imprensa 
como arma de luta, os militares foram punidos pelo imperador. Novamente Sena 
Madureira se expressa através da imprensa, e se desliga do Exército. O Coronel 
Madureira e o Marechal Deodoro da Fonseca retornaram juntos para o Rio de 
Janeiro, chegando à Corte imperial em 1887, e sendo recebidos como heróis pelos 
cadetes da Academia Militar da Praia Vermelha. Este ato motivou o imperador 
a emitir um perdão para as punições sofridas pelos três oficiais envolvidos. No 
mesmo ano foi fundado o Clube Militar, que, tendo por presidente Deodoro da 
Fonseca, solicitou ao ministro da Guerra que os militares não mais atuassem 
como capitães-do-mato, isto é, perseguissem escravos fugidos. 
Uma das principais instituições militares que simpatizava com os ideais 
republicanos e positivistas foi a “Escola Militar do Brazil”, que se localizava no bairro 
carioca da Praia Vermelha. Uma Academia Militar em grande parte influenciada 
pelo positivismo, divulgado para os cadetes através das aulas de Benjamin Constant, 
sendo a maior parte dos cadetes entusiastas do movimento republicano. Alguns 
hábitos cotidianos dos militares republicanos positivistas retratam uma visão singular 
de mundo, como andar em trajes civis fora do horário de serviço nos quartéis, o que 
simboliza um repúdio à ideia monárquica de uma diferenciação dos indivíduos pelos 
trajes (as leis suntuárias). Dentre os oficiais que eram adeptos do republicanismo existia 
uma diferenciação. De um lado, o grupo dos “oficiais científicos”, assim chamados 
porque cursavam a Academia Militar. Por sua vez, os oficiais que tinham atingido 
postos elevados no front paraguaio eram chamados de tarimbeiros. (A tarimba era um 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
11
tipo de cama de campanha dos quartéis). Os cadetes “científicos” foram uma força 
política fundamental nos eventos que precipitaram o fim da monarquia brasileira, e 
se envolveram em grande parte das disputas políticas na primeira década republicana 
(CASTRO, 1995).
UNI
O positivismo foi uma das doutrinas filosóficas do século XIX. Elaborada pelo 
italiano Augusto Comte, tinha como princípios alguns ideais que influenciaram a sociedade 
brasileira. O lema dos positivistas era Amor, Ordem e Progresso, que, em parte, consta de 
nossa bandeira nacional. Para Augusto Comte: “O amor vem por princípio, a ordem por base 
e o progresso por fim”. 
Durante as primeiras semanas do mês de novembro de 1889, o Ceará 
passava por uma grave seca, problema de responsabilidade do Ministério da 
Viação e Obras Públicas. Porém, o Império brasileiro, seguindo uma tradição 
monárquica, tinha como principal preocupação oferecer uma recepção aos 
oficiais da Marinha de Guerra da República do Chile, ancorados no porto do Rio 
de Janeiro. Para tanto, organizaram um baile na Ilha Fiscal, na Baía da Guanabara, 
com pompa e requinte, farta comida e convidados da elite imperial. O baile era 
um símbolo de um governo decadente, pois as preocupações dos mandatários 
sociais eram a pompa em relação às nações vizinhas, ao invés do bem-estar de sua 
população. O “último baile do Império”, como ficou conhecido, é simbolizado por 
um evento que foi marcado por um fato curioso. Teria sido observado por alguns 
presentes o imperador caindo de forma bizarra no chão, em pleno baile, causando 
um vexame aos presentes. A recepção para os guardas-marinhos chilenos era um 
retrato de um governo em descompasso com os interesses da população.
Soma-se a este descaso do governo imperial com a população brasileira 
uma certa ideia social arraigada de que D. Pedro II era um governante bom, porém 
envelhecido, com pouca capacidade de liderança. O imperador tinha a imagem 
pública de um bom homem, culto, um verdadeiro erudito. Porém, assessorado por 
oportunistas ou pessoas inescrupulosas. Esta foi uma das imagens da monarquia 
brasileira em seu declínio. Tal visão é relatada pelo humorista Ângelo Agostini, 
na seguinte charge do imperador D. Pedro II. 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
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FIGURA 3 – CHARGE DE D. PEDRO II
FONTE: Disponível em: <www.opapeldaarte.com.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
Um imperador que “dorme, ao invés de cuidar do país”. Pode-se afirmar 
que tal visão era a de muitos súditos de sua majestade imperial. O imperador 
mandou para o Parlamento, nas primeiras semanas do mês de novembro, proposta 
de lei modernizante, com vistas a ofertar maiores liberdades individuais, como 
maior autonomia administrativa para as províncias, liberdade de voto, liberdade 
de ensino, redução das prerrogativas do Conselho de Estado e mandatos não 
vitalícios para o Senado Federal. Todavia, a maioria conservadora da Câmara não 
aprovou estas medidas modernizantes. 
O estopim para o golpe militar de 15 de novembro estava relacionado às 
querelas políticas entre os dois principais partidos do Império, o Partido Liberal 
e o Conservador. Pois, um antigo desafeto dos militares e político ligado ao 
Partido Liberal, o Visconde de Ouro Preto, era o chefe do Gabinete de Ministros. 
O comandante do Batalhão de Guardas de São Cristóvão, Marechal Deodoro 
da Fonseca, foi incentivado por diversos companheiros de armas para retirar o 
chefe do Gabinete de Ministros de sua posição de poder. Além de militares, como 
Benjamin Constant, outros líderes republicanos, como Rui Barbosa e Quintino 
Bocaiúva, buscavam convencer Deodoro de aderir ao republicanismo (CASTRO, 
1995). 
Deodoro foi convencido e partiu com seu batalhão, que tinha como 
responsabilidade defender o imperador, para destituir o governo de Ouro Preto, com 
aclamações de “Viva o imperador”, vibração e brado comum na tropa do Exército 
imperial. Todavia, ao invés de destituir apenas o Gabinete Ouro Preto, acabou-se 
por proclamar a República no Brasil, sendo a Família Real informada da situação 
e obrigada a abandonar o Brasil. Tal golpe foi surpreendente para a maior parte da 
população, que, quando viu a movimentação das tropas na cidade do Rio de Janeiro, 
acreditou se tratar de uma parada militar. O líder republicano histórico Aristides 
Lobo, em uma frase, relatou o sentimento popular em relação à Proclamação da 
República: “O povo assistiu bestializado”.
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
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FONTE: Disponível em: <www.opapeldaarte.com.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
FIGURA 4: CÉLEBRE IMAGEM DE DEODORO DA FONSECA 
FONTE: Disponível em: <www.historiahoje.com>. Acesso em: 20 
ago. 2015.
Não houve ações de violência na Corte logo após o golpe. A Marinha não 
contou com o seu principal líder militar, o Almirante Saldanha da Gama, que, 
comandando o encouraçado Aquibadã, poderia reagir militarmente ao golpe de 
Deodoro. Também podemos pensar que as bases de sustentação sociopolíticas da 
monarquia tinham sido minadas. Em novembro de 1889, as principais camadas 
sociais que davam sustentação ao imperador, compostas pela elite militar, pela 
elite escravocrata e pelo clero, estavam desgostosas com os rumos tomados pelo 
Império brasileiro. Ao analisarmos as três temáticas(questão militar, questão 
abolicionista e questão religiosa), podemos concluir que o imperador, em 
novembro de 1889, não possuía forte apoio da Igreja, por deixar um bispo morrer 
na prisão. Não possuía apoio das elites econômicas cafeicultoras, por não dar 
representatividade aos fazendeiros do Oeste Paulista, que fundaram o Partido 
Republicano, e também não possuía apoio em largos setores do Exército, que 
estavam vinculados ao Positivismo (SODRÉ, 1965). 
Assim, compreendemos que o golpe militar que derrubou D. Pedro II 
não encontrou grandes resistências. As reações ao golpe militar foram poucas 
e localizadas. Podemos pensar na guarda negra, um grupo paramilitar que 
buscava proteger a família real. Também podemos pensar nas reações de praças 
(soldados e cabos) contra a República, como a que ocorreu em Desterro (atual 
Florianópolis) e na Corte (Rio de Janeiro). Ao que se apresenta, a República era 
uma das novidades “esperadas” por largos setores da população brasileira. 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
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Após o golpe militar, ocorrido no penúltimo mês de 1889, o Brasil viveu 
sob o governo provisório, liderado por Deodoro da Fonseca. Tivemos uma 
reordenação político-partidária, pois muitos membros do Partido Republicano 
aderiram à República, devido ao fato de que quando o império foi destituído, 
quem comandava o gabinete dos ministros era o Partido Liberal. Todavia, nos 
primeiros meses do novo regime existiu uma grande “militarização do poder 
político”. Esta pode ser medida no fato de os ministros do governo republicano 
provisório terem recebido o título de General de Brigada, associada a outras 
medidas típicas de ditaduras militares da América Latina, que viviam com os 
denominados governos “liberais oligárquicos”. 
Para se estabelecer os ditames do novo regime, se estabeleceu uma 
Assembleia Nacional Constituinte. Tal reunião de políticos foi a responsável por 
elaborar a nova Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, nome 
oficial do país a partir de então. A Constituição apresentou algumas novidades. 
Uma delas foi a separação da Igreja Católica do Estado. As antigas províncias 
foram renomeadas como “estados”. O voto foi estendido para todos os homens 
alfabetizados maiores de 21 anos. Estas questões foram alterações profundas na 
ordem social vigente, pois tivemos uma alteração na ordenação política com o fim 
do voto censitário (isto é, baseado na renda do cidadão).
O Congresso elegeu Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto como 
Presidente e Vice-Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. O 
presidente Deodoro da Fonseca não conseguiu conviver com um Congresso 
que lhe fazia oposição. Deodoro buscou fechar o Congresso Nacional. Assim, 
podemos compreender que, em parte, a mentalidade do antigo general era 
vinculada ao sistema parlamentarista imperial, no qual o Congresso poderia, 
via poder moderador, ser destituído se fizesse oposição aos interesses do chefe 
de Estado. Após a renúncia de Deodoro, tivemos novas disputas políticas, em 
relação à legitimidade do seu vice, Floriano Peixoto, em assumir o cargo de 
Presidente da República. Deodoro da Fonseca morreu em 23 de agosto de 1892, 
pedindo para ser enterrado em trajes civis, e portando como honraria apenas o 
símbolo do movimento abolicionista. Foi um fato de grande simbolismo. Porém, 
as disputas em relação à legitimidade do governo Floriano levaram o Brasil a 
viver duas guerras civis: a Revolta da Armada e a Revolução Federalista. 
O governo Floriano Peixoto contou com forte oposição, e com desafios 
para consolidar o regime republicano no Brasil. Floriano era vice-presidente 
em exercício. Pelo escrito na Constituição de 1891, o marechal deveria convocar 
novas eleições presidenciais, devido à renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca. 
Todavia, Floriano Peixoto se mantém no poder até o final de seu mandato. Os 
opositores afirmavam o oportunismo e as ambições pessoais como motivadoras 
de tal ação. Os partidários de Floriano Peixoto afirmaram ser a defesa da República 
a principal ação do “Marechal de Ferro”, que ganhou tal fama ao repelir as 
oposições na Revolta da Armada e na Revolução Federalista. 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
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A Revolução Federalista iniciou no Rio Grande do Sul, quando as forças 
políticas sul-rio-grandenses entram em confronto. De um lado, os liberais, de 
Gaspar Silveira Martins. De outro, os positivistas liderados por Júlio de Castilhos. 
A revolução foi extremamente violenta, tendo os dois lados da Revolta degolado 
os prisioneiros (decapitados a fio de espada). Os revolucionários gaúchos partiram 
do Rio Grande do Sul, tendo conquistado o Estado de Santa Catarina, rumando 
para o Rio de Janeiro, foram vencidos da cidade da Lapa, no interior do Paraná. 
Após a derrota no Cerco da Lapa, a Revolução Federalista findou. 
Concomitante à Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, na capital 
republicana o governo Floriano Peixoto sofreu uma profunda oposição da 
Marinha do Brasil. Pois a Armada Brasileira, liderada pelo Almirante Custódio 
José de Mello (além do também Almirante Saldanha da Gama e do capitão de mar 
e guerra Frederico Guilherme de Lorena), exigiu a renúncia de Floriano Peixoto e 
a convocação de novas eleições. Bombardearam a cidade do Rio de Janeiro, porém 
não obtiveram êxito em suas ações militares. Alguns oficiais e praças da Armada 
acabaram por serem recebidos em uma embarcação mercante portuguesa. Porém, 
ao invés de singrarem para a Europa, a embarcação singrou para o Uruguai, o 
que possibilitou um contato de marujos da Armada revoltada com os federalistas 
gaúchos. Todavia, o contato maior entre as duas revoltas ocorreu na Ilha de Santa 
Catarina (CORREA, 1990). 
Devido à forte reação militar das tropas leais ao governo Floriano Peixoto, 
que no Rio de Janeiro defendiam a República contra uma possível restauração 
da monarquia, o principal navio da Armada, o encouraçado Aquibadã, além de 
outras embarcações menores, aportam em Desterro, tomando a cidade de assalto, 
transformando-a em uma “capital do Brasil” para os revoltosos, possibilitando o 
contato entre a Revolução Federalista e a Revolta da Armada. Porém, o governo 
Floriano consegue vencer, por mar e por terra, as duas revoltas. 
Em terra, como já apontado, ao desbaratar os revoltosos federalistas na 
cidade da Lapa, no Estado do Paraná, os florianistas e republicanos venceram 
militarmente os revoltosos gaúchos. E por mar, ao entrar em acordo com os Estados 
Unidos da América, país do qual são compradas embarcações que formaram a 
(assim apelidada) “esquadra de papelão”, comandada pelo almirante florianista 
Jerônimo Gonçalves. Esta esquadra legalista vence, na Batalha de Anhatomirim, 
a esquadra revoltosa. Um dos mais polêmicos episódios da Revolução Federalista 
de 1893, em Santa Catarina, está ligado ao nome do Coronel Moreira César, homem 
que ordenou, na Ilha de Anhatomirim, um fuzilamento em massa dos inimigos, 
os acusando de restauradores da monarquia. Também, em homenagem ao então 
presidente dos “Estados Unidos do Brazil”, o nome da capital catarinense foi 
alterado de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis, isto é, Floriano-polis, 
a cidade de Floriano. 
 
A vitória florianista contra as oposições armadas ao seu governo foi 
relacionada a uma astuta e ardilosa relação com os países estrangeiros. Pois, 
durante a revolta, a Marinha Real Inglesa ameaçou invadir o porto do Rio de 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
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Janeiro. Floriano Peixoto, ao ser perguntado por um repórter sobre como receberia 
os súditos ingleses, teria respondido: “os receberei à bala”. Isto porque os ingleses 
tinham anteriormente ocupado a cidade de Buenos Aires, as Ilhas Malvinas (onde 
até hoje se encontram) e tentado, mas sem sucesso, ocupar o porto de Paranaguá, 
no Paraná. O governo brasileiro tambémentrou em conflito diplomático com 
a Monarquia Portuguesa, ao serem os revoltosos da Armada recebidos em 
embarcação mercante lusitana. Porém, se utilizando dos Estados Unidos como 
principal aliado, o governo brasileiro, comandado por Floriano Peixoto, obteve os 
empréstimos necessários para a manutenção e vitória nas guerras internas. Além 
das guerras civis, o governo Floriano Peixoto teve de enfrentar uma grave crise 
econômica, o denominado encilhamento, que aumentou a dívida pública. 
O governo Floriano Peixoto foi denominado “Marechal de Ferro”. Alguns 
entusiastas florianistas eram favoráveis à sua permanência no poder, em um 
típico estilo latino-americano de ditadura militar (o caudilhismo). Porém, o 
marechal entregou o poder ao civil eleito pelas urnas, o político paulista Prudente 
de Moraes, vindo a falecer meses depois de deixar o cargo de presidente. Todavia, 
o florianismo foi uma corrente política que se manteve entre membros de uma 
classe média urbana e entre jovens oficiais militares até o ano de 1904, quando 
a Academia Militar da Praia Vermelha foi fechada, devido aos cadetes terem 
participado ativamente da Revolta da Vacina Obrigatória. Os florianistas eram 
considerados radicais republicanos, que viram com bons olhos medidas populares 
do “Marechal de Ferro”, como o congelamento dos preços dos alimentos, assim 
como a taxação dos aluguéis. O governo Floriano encerra um período da história 
brasileira denominado tradicionalmente como “República da Espada”. 
UNI
Florianismo. O florianismo foi um movimento político radical da primeira década 
republicana, de forte cunho nacionalista. Um dos líderes florianistas chegou a ser Presidente 
da República anos após a instalação do novo regime, o político fluminense Nilo Peçanha. 
Caso queira aprender mais sobre os florianistas, é indicado o livro “Os Radicais da República”, 
de Sueli Robles Reis de Queiróz. Uma visão crítica sobre o movimento foi escrita no romance 
“Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto.
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
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4 A REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: O “CAFÉ COM LEITE”
A sucessão presidencial de Floriano Peixoto por Prudente de Moraes 
inicia um período da História da República Brasileira denominado “República 
Oligárquica” ou República do Café com Leite. Tal nome se deve ao fato de o poder 
político ser dividido entre as lideranças políticas dos estados de São Paulo (o 
produtor de café) e Minas Gerais (tido como afamado produtor de leite). Prudente 
de Moraes, eleito presidente para o mandato entre 1895-1899, temia que as forças 
florianistas pudessem realizar um golpe de Estado. Todavia, Floriano debandou 
qualquer possibilidade de golpe, atuando para a sucessão ser confirmada. 
O sistema político da República Velha possuía algumas nomenclaturas 
e especificidades um tanto diferentes do Brasil contemporâneo. As eleições não 
eram secretas, e apenas os homens poderiam votar. Também eram comuns as 
chamadas eleições a bico-de-pena, isto é, a população era coagida, de modo 
violento, a votar em candidatos indicados pelos mandatários políticos locais. Isto 
tinha um maior peso em especial com as populações locais. Em grande parte, 
os mandatários locais eram denominados coronéis, devido ao fato de muitos 
proprietários rurais comprarem a patente de coronel da antiga Guarda Nacional, 
que foi criada no Império e subsistiu até 1918. Tal sistema político era autoritário 
e excludente. Podemos chamar tal sistema de coronelismo (LEAL, 1975), pois dos 
coronéis, em geral grandes proprietários de fazendas nos interiores do Brasil, 
dependiam as lides políticas nacionais. 
Os governos oligárquicos foram em grande parte eleitos com sufrágios 
fraudulentos. O cidadão não exercia o direito de livre escolha, mas sim, votava por 
coação do mandatário local. Os coronéis possuíam jagunços armados, que atuavam 
em nome de seu poder, e nas eleições impeliam aos eleitores, que em geral eram 
trabalhadores de suas fazendas, em quem deveriam votar. Neste modelo eleitoral 
questionável foi eleito o primeiro presidente civil: Prudente de Moraes. 
O governo Prudente de Moraes passou por uma grande guerra civil, A 
Revolta de Canudos. O presidente Prudente de Moraes foi substituído em 1898 
por Campos Sales, que venceu o militar Lauro Sodré. Segundo presidente civil, 
o governo de Campos Sales existiu de 1898 até 1902, sendo com ele instituída 
a denominada política dos governadores, em que foi valorizado o poder das 
oligarquias políticas regionais. Em seu governo foi realizado o denominado 
funding loan, um acordo financeiro em relação à dívida externa. Posteriormente, 
o governo da República foi substituído por Rodrigues Alves. Em seu primeiro 
governo, Rodrigues Alves foi um dos principais articuladores de uma ampla 
reformulação urbana da capital republicana, ao indicar Pereira Passos como 
interventor do Distrito Federal (que na época era a cidade do Rio de Janeiro). O Rio 
de Janeiro passou por diversas reformas urbanas, destacando-se a construção do 
Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Por sua vez, Rodrigues Alves foi substituído 
pelo seu vice, Afonso Pena, político ligado ao Partido Republicano Mineiro, que 
venceu Lauro Sodré e Rui Barbosa. Em seu governo foram tomadas algumas 
medidas de impacto econômico, como a construção de ferrovias, além da criação 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
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da Missão Rondon, que surgiu com o objetivo de ligar por telégrafos o interior 
do Brasil ao Rio de Janeiro, e que acabou por ter destacada participação na defesa 
dos indígenas brasileiros. Afonso Penna morreu no poder e foi substituído pelo 
vice-presidente, Nilo Peçanha. 
Nilo Peçanha possuía um perfil diferente dos demais políticos da República 
Velha, pois não era oriundo das elites agrárias, e tinha uma origem pobre, 
sendo filho de um padeiro da cidade de Campos dos Goytacazes, no interior 
fluminense. Ganhou projeção política apoiando alas florianistas do Partido 
Republicano do Estado do Rio de Janeiro. Seu curto governo foi caracterizado 
pela adoção de medidas ligadas à educação, como o incentivo à educação técnica e 
profissional, além de ter instituído o Serviço de Proteção aos Índios e o Ministério 
da Agricultura. Presidente em um curto período, seu governo foi marcado por 
tensões com o grande líder político gaúcho Pinheiro Machado. 
Pinheiro Machado possuiu um grande poder político durante a República 
Velha, por ser um influente senador. Ligado ao Partido Republicano do Rio 
Grande do Sul, ele detinha grande poder ao ser o responsável pela Comissão 
de Verificação de Poderes, que diplomava os políticos eleitos, sendo este cargo a 
base do seu poder. Ele foi assassinado em um hotel no centro do Rio de janeiro 
em 1915. Sua influência foi de grande presença no governo do Marechal Hermes 
da Fonseca (FAORO, 2000). 
Hermes da Fonseca foi eleito em uma das principais campanhas políticas 
do período da República Velha, as eleições presidenciais de 1910. Dois grupos 
políticos lançaram suas candidaturas. De um lado, o grupo ligado ao Marechal 
Hermes, na “campanha militarista”. Do outro, um grupo ligado a Rui Barbosa, 
na “campanha civilista”. O pleito deu como vitoriosa a campanha de Hermes 
da Fonseca, o que significou uma continuidade do poder. O governo Hermes da 
Fonseca se articulou em torno da denominada Política da Salvação Nacional. Isto 
se mostrou na prática com a atitude de os estados que não eram alinhados com as 
determinações do governo federal sofrerem intervenção federal. 
Na Presidência da República, Hermes foi sucedido pelo seu vice, 
Wenceslau Brás. No seu governo, o Brasil declarou guerra ao Império Alemão, 
acompanhando a participação dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial. 
Em grande parte, o governo de Wenceslau Brás deu continuidade à política que 
vinha sendo praticada no Brasil a partir do governo Nilo Peçanha. Todavia,articulada com a política do café com leite. O pacto de mineiros e paulistas foi 
rearticulado com o “Pacto de Ouro Fino”. Realizado em 1913, reaproximou os 
dois maiores estados brasileiros, pois os paulistas apoiaram a campanha civilista 
de Rui Barbosa. 
Rodrigues Alves sucedeu a Wenceslau Brás, todavia ficou pouco tempo no 
cargo de presidente da República, por falecer ao ser acometido pela epidemia de 
gripe espanhola. Ele foi substituído pelo vice-presidente Delfim Moreira. Em seu 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
19
curto governo, o Brasil foi sacudido por algumas grandes greves. Foi substituído 
por Epitácio Pessoa, que contou, na sua candidatura, com o apoio do Partido 
Republicano Mineiro. 
O governo Epitácio também representava certa ruptura com o “café com 
leite”, pois não era mineiro, mas sim um político nordestino, natural da Paraíba. 
O seu governo foi marcado por algumas questões, como o início do movimento 
tenentista, mas que teve em seu sucessor o mineiro Arthur Bernardes, o principal 
opositor dos “tenentes”, devido às animosidades do chamado episódio das “cartas 
falsas”, na qual Bernardes foi acusado de chamar Hermes da Fonseca, importante 
líder do Exército, de “sargentão sem composturas”. O tempo de Bernardes se 
caracterizou por ter de governar em muitos períodos de Estado de Sítio, devido 
às convulsões sociais dos tenentes, como a guerra civil que ocorreu em 1924, em 
São Paulo. 
Seguindo a lógica política do café com leite, Arthur Bernardes foi substituído 
no poder político brasileiro por Washington Luiz, o “Paulista de Macaé”. Essa 
alcunha se devia ao fato do líder do Partido Republicano Paulista ter nascido na 
cidade do interior fluminense de Macaé. O governo Washington Luiz contou com 
uma maior tranquilidade institucional a partir de 1927, com o fim do tenentismo. 
O governo contou com o apoio de um líder político gaúcho ligado a Borges de 
Medeiros, que ocupava o cargo de ministro da Fazenda: Getúlio Vargas. Todavia, 
como sabemos, o desenrolar da história colocou os dois líderes políticos em 
campos opostos. Duas frases marcaram o último governante da política do café 
com leite. A primeira é “governar é abrir estradas”. Todavia, os investimentos do 
Governo Federal na construção de novas rodovias foram pequenos, devido, entre 
outros fatores, aos poucos recursos que o governo possuía. Outra frase símbolo 
do governo Washington Luiz foi: “No Brasil, a questão social é caso de polícia”. 
A questão social, isto é, as querelas que envolvem educação, distribuição de 
renda e combate à pobreza, eram encaradas como medidas criminosas, sendo a 
população pobre tratada como um inimigo em potencial das elites republicanas. 
Os ditames da política brasileira na República Velha estavam socialmente 
desgastados, devido aos movimentos sociais, como o tenentismo, o sufragismo, 
o bloco operário camponês e o movimento grevista (questões sobre as quais nos 
aprofundaremos nos próximos tópicos). Todavia, os reclames dos operários, das 
mulheres e dos trabalhadores dos campos e das cidades foram em grande parte 
ignorados pelos governos do café com leite. Assim, havia uma grande insatisfação 
social. Concomitantemente, tivemos uma crise na política das oligarquias. Pois, 
mesmo sendo a vez de um político mineiro ser lançado candidato à Presidência da 
República, o Partido Republicano Paulista lançou a candidatura de Júlio Prestes para 
a Presidência, gerando a insatisfação do Partido Republicano Mineiro, que apoiou a 
candidatura das oligarquias dissidentes, capitaneadas pelo político gaúcho Getúlio 
Dorneles Vargas. Mesmo com o apoio de dois estados importantes na dinâmica 
sociopolítica do Brasil (o Rio Grande do Sul e Minas Gerais), a candidatura de Júlio 
Prestes se tornou vitoriosa. Porém, o político paulista não assumiu. Pois, acusando o 
mesmo de vencer as eleições de modo fraudulento, um movimento revolucionário, 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
20
que se insurgiu em 3 de outubro de 1930, derrubou Washington Luiz do poder, 
instituindo um novo período da República Brasileira, que substituiu o “café com 
leite”: o período populista. 
5 A POLÍTICA EXTERNA: A DIPLOMACIA BRASILEIRA NA 
PRIMEIRA REPÚBLICA
A diplomacia brasileira, durante os anos da chamada República Velha, 
teve diversos desafios a vencer. Um dos principais era determinar as fronteiras 
brasileiras em relação às nações vizinhas. Outro problema era a de equipar as forças 
militares brasileiras visando à defesa contra possíveis rivalidades com a Argentina. 
Outra questão importante para a diplomacia foi o Acre, em uma litigiosa e 
belicosa disputa com a Bolívia. Um dado interessante sobre a diplomacia brasileira 
ocorreu durante a Proclamação da República, pois concomitante a ela (15/11/1889) 
se realizava a Conferência Internacional Americana em Washington, sendo o 
representante brasileiro o republicano Salvador de Mendonça, saudado pelo fato 
de a única monarquia no continente ter se transformado em uma república, como 
os demais países da América, facilitando assim o reconhecimento do novo regime 
de governo pelas demais nações limítrofes. 
Apesar das saudações dos diplomatas das nações vizinhas, a situação 
continental nos primeiros anos de instituição da República foi tensa. A Guerra 
do Pacífico, de 1893, ocorrida entre Bolívia e Chile no mesmo ano da Revolta da 
Armada, colocava o continente sul-americano em um estado de tensão. Este estado 
de tensão teve nos diplomatas brasileiros importantes agentes de pacificação do 
Brasil junto às nações sul-americanas.
Caso a diplomacia brasileira da Primeira República fosse resumida a um 
nome, com certeza e justiça seria ao Barão do Rio Branco a homenagem. Ministro 
das Relações Exteriores durante diversos governos, a ele coube a liderança da ação 
diplomática de assinatura dos vários tratados nos quais as fronteiras brasileiras 
com os países vizinhos foram asseguradas por vias pacíficas. Em geral, os Estados 
Unidos da América foram considerados o árbitro responsável pelas demarcações 
das fronteiras. Esta foi uma das principais características da política empreendida 
pelo referido barão: aproximar a então República dos Estados Unidos do Brasil 
aos Estados Unidos da América.
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
21
FIGURA 5 – BARÃO DO RIO BRANCO 
FONTE: Disponível em: <http://www.institutoriobranco.mre.gov.
br/>. Acesso em: 20 ago. 2015.
Esta aproximação aos Estados Unidos se iniciou com a vitoriosa tentativa 
do presidente Floriano Peixoto em impedir uma invasão inglesa no porto do 
Rio de Janeiro durante a Revolta da Armada. A dita invasão ocorreria com o 
objetivo de os oficiais da Marinha Real Britânica defenderem a integridade física 
e patrimonial dos súditos bretões no Brasil. Interpelado sobre como os militares 
ingleses seriam recebidos, Floriano Peixoto teria calmamente respondido: à bala! 
Para que tal invasão não ocorresse, Floriano contou com apoio estadunidense. 
Mesmo com a Marinha Brasileira rebelada, Floriano contou com alguns marujos 
fiéis ao seu governo. Estes, comandados pelo Almirante Jerônimo Gonçalves, 
formaram a denominada “Esquadra de Papelão”, que com o apoio norte-
americano, naufragaram o Aquibadã, principal navio rebelado (FAUSTO, 2002).
Durante os anos da primeira década republicana se começou a chamar 
a diplomacia brasileira de Itamaraty. Isto porque o Ministério das Relações 
Exteriores ocupou o Palácio do Itamaraty, no centro do Rio de Janeiro, após a 
compra pelo Poder Executivo de um antigo palácio que pertencia ao Barão 
de Nova Friburgo, localizado no bairro do Catete. O Palácio do Catete passou 
a ser a residência oficial da Presidência da República, e o Itamaraty, o centro 
do Ministério das Relações Exteriores. Mesmo após a mudança da capital para 
Brasília, ainda é comum o termo Itamaraty para designar os diplomatas, com 
uma nova sede emBrasília. 
A diplomacia brasileira no período teve de enfrentar o grave problema das 
rivalidades no Cone Sul. Em 1904, o Brasil comprou da Inglaterra dois poderosos 
navios de guerra, os encouraçados São Paulo e Minas Gerais. Estas aquisições 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
22
tinham o objetivo de garantir uma dissuasão do Brasil frente às marinhas do 
Chile e da Argentina. Buscando evitar um conflito armado, foi assinado o tratado 
ABC – Argentina – Brasil – Chile. 
Um dos destaques da diplomacia brasileira foi a participação no Congresso 
Internacional que ocorreu em Haia, na Holanda. O tribuno brasileiro foi Rui Barbosa, 
posteriormente cognominado “Águia de Haia”, devido ao seu brilhantismo como 
orador. Defendeu a tese brasileira da livre determinação dos povos. Tese esta que 
se manteve como tradição diplomática nacional. 
Outro capítulo da história diplomática foi uma tensão com a Bolívia, 
ocasionada pela invasão realizada por brasileiros em território boliviano, na busca 
pela exploração do látex. Alguns jovens de Manaus chegaram a empunhar armas 
visando a uma defesa brasileira daquelas terras. Todavia, a diplomacia do Barão 
do Rio Branco, através do Tratado de Petrópolis de 1904, acabou por comprar dos 
bolivianos o Acre, evitando uma guerra entre o Brasil e a Bolívia. 
O Brasil participou da Primeira Guerra Mundial somente em seu fim. 
No ano de 1917 declarou guerra ao Império Alemão, seguindo a postura norte-
americana. Alguns navios alemães que estavam no Porto do Rio de Janeiro foram 
apreendidos, com suas tripulações feitas prisioneiras de guerra. Para uma efetiva 
participação no conflito, a Marinha do Brasil criou a chamada D.N.O.G. (Divisão 
Naval das Operações de Guerra), comandada pelo Almirante Max Frontin. 
Todavia, ao chegar a Dacar, os marujos brasileiros foram acometidos de gripe 
espanhola. Quando chegaram ao front europeu, a guerra já havia terminado. 
O conflito mundial teve como consequência uma maior preocupação 
por parte dos políticos em relação à gestão do Ministério da Guerra. Em 1917, 
a campanha civilista de Olavo Bilac instituiu o serviço militar obrigatório. Esta 
maior preocupação militar motivou o Ministério das Relações Exteriores a 
contratar uma missão militar estrangeira para modernizar o Exército Brasileiro. O 
país escolhido para tal função foi a França, principal nação vitoriosa na Primeira 
Guerra Mundial. Os militares franceses, comandados no Brasil pelo General 
Gamelin, auxiliaram na formação dos oficiais do Exército. Em especial, a ação 
francesa possibilitou uma melhor capacitação profissional aos oficiais que se 
formavam na Escola Militar de Realengo – RJ. 
Como pontos altos das relações diplomáticas foram realizados dois 
importantes eventos: as comemorações pelos 400 anos do Descobrimento do 
Brasil (em 1900) e o Centenário da Independência (em 1922). Com o Centenário 
da Independência, se autorizou a volta da Família Imperial, que se encontrava 
exilada na França. Dentre as principais visitas oficiais de chefes de Estado que o 
Brasil recebeu, estão a do Rei Alberto, da Bélgica, e a excursão pelo Brasil realizada 
pelo presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt. Enquanto o rei europeu 
fez uma visita protocolar, apenas estranhando que no Brasil de então não havia 
sequer uma universidade, Theodore Roosevelt fez uma visita aos sertões, sendo 
acompanhado em sua aventura pelo Marechal Rondon. 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
23
A Missão Rondon foi um dos principais eventos que ligavam instituições 
díspares e causas diversas. Entre as instituições que nela se envolveram estavam 
o Ministério do Exército, o ministério da Viação e Obras Públicas, o Ministério das 
Relações Exteriores e o Sistema de Proteção ao Índio, criado sob o apadrinhamento 
político do referido marechal (RIBEIRO, 1995). 
Cândido Mariano da Silva Rondon foi um oficial do Exército formado na 
Escola Militar da Praia Vermelha, local de influência positivista. Foi designado, 
enquanto oficial militar da Arma de Engenharia, a construir uma linha telegráfica 
que ligasse o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, até Cuiabá, capital do Mato 
Grosso, Estado natal de Rondon. Em sua missão, acabou por travar contato com 
diversas tribos indígenas. Ao invés de ter uma atitude violenta, cunhou a expressão 
“Morrerei se preciso, matarei jamais”. Com ela sintetizava um ideal de não violência 
no contato com os indígenas. A ideia, de cunho positivista e progressista, era a de 
integrar o indígena à sociedade brasileira não mais através da catequese, como 
no período colonial, mas sim através do trabalho. Em 1910 foi criado o SPI – 
Sistema de Proteção ao Índio. (A partir de 1968, a instituição passou a se chamar 
FUNAI – Fundação Nacional do Índio). Muitas terras indígenas passaram a ser 
demarcadas. Obviamente que a questão indígena é um tema em aberto em nossa 
sociedade. Todavia, a ação de Rondon foi importante para a tentativa de uma 
solução pacífica para o caso.
Entre os fatos que revelam a importância da missão para a questão indígena, 
está a do contato com diversas tribos nunca antes contatadas pelo dito “homem 
branco”. Algumas das primeiras imagens cinematográficas dos indígenas brasileiros 
foram realizadas por militares da missão. Outra questão importante foi a da presença 
de antropólogos e botânicos, que possibilitaram o posterior desenvolvimento 
científico do Brasil nestas áreas do conhecimento humano.
Na interface com as relações internacionais, muitas das fronteiras que 
diplomaticamente foram determinadas pelo Brasil com as nações vizinhas, através 
da Missão Rondon, foram estabelecidas. Em várias das fronteiras brasileiras 
ocorreu o chamado reconhecimento, no qual militares brasileiros e das nações 
vizinhas colocavam marcos físicos, como inscrições em pedras, para garantir seus 
territórios. 
Os atuais estados de Rondônia e Roraima possuem estes nomes 
em homenagem ao marechal. O Exército o considera Patrono da Arma de 
Comunicações. Todavia, uma das críticas feitas ao militar era que ele castigava 
fisicamente os soldados indisciplinados e insubmissos. Em defesa do marechal é 
possível considerar que este tipo de castigo era então permitido no Exército e que 
para a Missão Rondon eram recrutados muitos soldados indesejados nas casernas 
nas quais serviam. Independente do mito criado pela história oficial do Estado e 
das críticas dos revisionistas, a Missão Rondon foi um marco no conhecimento 
de diversas áreas do interior do Brasil. Rondon se opôs à Revolução de 1930, 
reatando laços com Getúlio anos após a Revolução. 
 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
24
As relações diplomáticas do Brasil com as repúblicas vizinhas, assim como 
a prática do alinhamento do Brasil às ações da política externa dos Estados Unidos 
da América, foram delimitadas na Primeira República. Algumas alterações a 
este quadro foram realizadas nos períodos posteriores. Porém, uma tradição de 
evitar ao máximo guerras com os países vizinhos na América do Sul é um dos 
principais legados da política externa brasileira durante o primeiro período de 
vida republicana no Brasil. 
FIGURA 6 - O PRESIDENTE ESTADUNIDENSE TED ROOSEVELT E O MARECHAL RONDON 
NO INTERIOR DA FLORESTA
 FONTE: Disponível em: <http://www.projetomemoria.art.br. Acesso em: 20 abr. 2015.
25
Neste tópico, você viu que: 
 
• O imperador D. Pedro II foi deposto do poder por um golpe militar liderado 
pelo Marechal Deodoro da Fonseca.
• O imperador teve sua relação com os cafeicultores desgastada com a abolição 
da escravidão.
• O imperador teve sua relação com a Igreja Católica desgastada com a questão 
religiosa.
• O Imperador teve a sua relação com o Exército desgastada com a denominada 
questão militar.
• O primeiro presidente republicano, Marechal Deodoro da Fonseca, renunciouao cargo.
• O governo Floriano Peixoto conviveu com as guerras civis da Revolta da 
Armada e da Revolução Federalista.
• O paulista Prudente de Moraes foi o primeiro presidente civil do Brasil.
• A política da Primeira República foi chamada Café com Leite, por simbolizar 
os dois principais estados a ocupar a cadeira da Presidência da República: São 
Paulo e Minas Gerais.
• A política brasileira era comandada pelas oligarquias rurais, sistema 
denominado “coronelismo”.
• Nas relações internacionais foram destaque o estabelecimento de fronteiras 
com os países vizinhos, além da liderança do Barão do Rio Branco.
RESUMO DO TÓPICO 1
26
Questão única: Militares e grandes proprietários rurais foram os principais 
grupos sociais dos quais era oriunda a maior parcela dos indivíduos que 
ocuparam o cargo de Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. 
Assim observando, responda: quais foram as principais características da 
República da Espada e da República Oligárquica?
AUTOATIVIDADE
27
TÓPICO 2
AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A história econômica da Primeira República é um dos temas centrais para 
a compreensão do período. Ao mesmo tempo, o retrato de um país diferente do 
qual temos hoje. Pois, em grande parte, tratava-se de uma nação majoritariamente 
agrário-exportadora. Neste sentido, tínhamos a maior parte da população 
economicamente ativa ligada a atividades rurais. Ao contrário do presente, quando 
a maior parte dos trabalhadores sustenta sua prole em atividades econômicas 
ligadas a profissões tipicamente urbanas. Também é importante lembrar que, 
naquele período, a Inglaterra ainda era a nação detentora da principal economia 
mundial. Porém, que paulatinamente perdia para os Estados Unidos da América 
na liderança da produção industrial, mas que mantinha a libra esterlina como 
moeda padrão das transações econômicas internacionais. Assim compreendendo, 
contemplaremos os temas clássicos da História Econômica das primeiras décadas 
republicanas: a moeda, a indústria, o café, o setor de transportes, as atividades 
produtivas das diferentes regiões geoeconômicas, além da política de imigração, 
que teve na necessidade da ampliação de mão de obra sua principal motivação.
Durante a República Velha, o Brasil possuiu como unidade monetária, 
herdada dos tempos imperiais, o Real. Os populares mil-réis eram a moeda 
oficial do Brasil. Uma das primeiras medidas do governo republicano foi cunhar 
moedas de ouro e prata com o símbolo da República no lugar da imagem do 
imperador. Uma das principais funções de um Estado Nacional é regulamentar a 
cunhagem de moedas. Por isso, o aspecto simbólico da mudança do novo regime 
deveria estar estampado nas novas moedas a circularem nas trocas comerciais 
cotidianas. Um modo de impor perante a população a existência de uma nova 
forma de legitimação das relações entre o indivíduo e o Estado no país. 
Também na primeira década republicana, em 1896, tivemos uma 
importante medida para a confiança no sistema financeiro nacional. O governo 
brasileiro monopolizou a emissão das moedas, que a partir daquele ano só 
poderiam ser emitidas pelo Tesouro Nacional. Durante as primeiras décadas da 
República Brasileira, a libra esterlina (moeda inglesa) ainda era a principal moeda 
de troca nas relações internacionais. Assim, a valorização ou desvalorização do 
real frente à libra era a medida das variações cambiais existentes. Ainda era 
comum a utilização do ouro nas moedas de circulação corrente em vários países 
do mundo. Porém, em 1922, o Brasil parou de utilizar tal prática, devido aos 
custos elevados com a nobre matéria-prima. As constantes crises cíclicas da 
economia motivaram o aparecimento de unidades monetárias com nomes suis 
generis, como o patacão.
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
28
2 OS SURTOS INDUSTRIAIS
A República brasileira, que surgiu de um golpe de Estado em 15 de 
novembro de 1889, não fora apenas uma forma de alternância do poder político. 
Ela significou, de modo patente, profundas alterações nas relações econômicas 
e sociais do Brasil. Durante o período, o país se manteve, acima de tudo, 
agrário-exportador. Porém, observam-se algumas ações estatais, tomadas em 
especial pelos primeiros governos republicanos, visando ao progresso industrial 
brasileiro. Durante os séculos XIX e XX, a grande utopia que simbolizava uma 
nação desenvolvida era a mesma ser urbana e industrial. Neste sentido, tivemos 
uma primeira medida do governo republicano logo instituído, que foi a expansão 
do crédito para investidores que desejassem abrir indústrias. Assim, logo nos 
primeiros anos, a República Brasileira vivenciou sua primeira grande crise 
financeira: o Encilhamento (LEOPOLDI, 2000). 
O nome encilhamento adveio da corrida de cavalos, pois, o que se via era 
uma corrida pelo crédito disponibilizado pelo governo. O principal problema dos 
créditos que o governo emitiu para a criação de indústrias foi que uma grande 
parte de especuladores inescrupulosos não utilizara o capital para a construção 
de fábricas, úteis para a produção dos mais variados objetos e produtos, mas 
sim especularam na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, causando uma “grande 
quebradeira” e colocando o mercado de créditos em suspeição. O principal 
articulador de tal medida econômica foi o então ministro da Fazenda Rui Barbosa, 
que contava com grande influência em relação ao presidente Deodoro da Fonseca. 
O fracasso da política econômica do primeiro governo republicano, aliado 
ao problema dos gastos com os conflitos internos, como a Revolução Federalista, 
a Revolta da Armada e a Guerra de Canudos, tiveram duras consequências na 
forma como o governo brasileiro teve de lidar com a falta de recursos e com o 
aumento da dívida externa.
A dívida externa era um dos principais problemas da economia brasileira 
do início do século XX. Uma das medidas que visavam à solução de tal impasse 
econômico foi tomada pelo ministro da Fazenda Francisco Murtinho, que, 
pertencente ao quadro de apoiadores do governo Campos Sales, conseguiu 
uma renegociação da dívida externa com os credores ingleses, possibilitando 
uma “saúde” para as finanças dos “Estados Unidos do Brazil”. Estas ações de 
saneamento das dívidas públicas tiveram como seu principal momento o funding 
loan, uma renegociação da dívida externa. 
O Brasil ficou em grande parte dependente do capital estrangeiro durante 
todo o período da Primeira República, mais notadamente o norte-americano e o 
inglês. O capital norte-americano é importante de ser considerado, pois o Brasil 
exportava café, um produto que não era consumido pela então principal potência 
capitalista, que era a Inglaterra. Os bretões têm o hábito de tomar chá. Todavia, a 
nova potência que emergia ao mundo durante os anos finais do século XIX e nas 
primeiras décadas do século XX, os Estados Unidos da América, representara o 
grande país comprador do café brasileiro. 
TÓPICO 2 | AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
29
A presença do capital inglês foi preponderante em algumas áreas, 
mais notadamente nas ferrovias e na indústria têxtil. Uma grande parcela das 
indústrias de tecidos existentes no Brasil da primeira metade do século XX eram 
propriedades de ingleses, como o exemplo máximo da Fábrica de Tecidos Bangu, 
no Rio de Janeiro. Os norte-americanos também estiveram presentes, todavia, 
mais ligados aos setores de infraestrutura, onde se destaca a ação do empresário 
estadunidense Percival Farquhar, que construiu as estradas de ferro São Paulo-
Rio Grande e Madeira-Mamoré. Porém, para além de ingleses e estadunidenses, 
empresas de outras nações se envolveram nas dinâmicas econômicas do 
Brasil. Um dos destaques foi a canadense Companhia Light, responsável pela 
eletrificação das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.Também podemos citar a 
companhia holandesa Bunge, que em 1904 se associou ao Moinho Santista, sendo 
até a atualidade atuante no ramo de alimentos. 
Nos primeiros anos de República tivemos uma ampliação de indústrias 
no Brasil, todavia, sem grande expressão. O setor industrial aumenta sua 
participação no Produto Interno Bruto brasileiro no período da Primeira Guerra 
Mundial. Devido à impossibilidade de importação de produtos estrangeiros, 
tivemos uma expansão da produção industrial brasileira, em substituição aos 
produtos importados. Todavia, durante a República Velha, os principais produtos 
industriais brasileiros eram importados da Europa e, por vezes, dos Estados 
Unidos da América (LEOPOLDI: 2000). 
Em relação à industrialização, a mesma também se relaciona à política 
de imigração. Pois uma grande parte dos imigrantes acabou participando do 
desenvolvimento industrial brasileiro das primeiras décadas do século XX. 
Tanto de imigrantes que atuaram como empresários, destacando-se o italiano 
Francisco Matarazzo, que possuiu grande parte das indústrias paulistas, sendo 
exemplo típico, quanto na posição de empregados das indústrias. O movimento 
sindicalista paulista, por exemplo, contou com uma significativa parcela de 
imigrantes italianos em seus quadros. 
Um dado que marcou o processo de industrialização foi a utilização da 
energia elétrica na iluminação pública dos grandes centros urbanos do Brasil. 
Descoberta por Benjamim Franklin, a eletricidade teve destaque com os diversos 
inventos surgidos no século XIX. Em especial, com o desenvolvimento da lâmpada 
incandescente por Thomas Édison. Assim, uma das principais consequências foi 
a ampliação da iluminação pública. 
 
No final do século XIX e início do século XX, as cidades brasileiras eram 
iluminadas utilizando lampiões, que dependiam da combustão contínua de algum 
combustível. Vários foram os combustíveis utilizados para a iluminação pública 
na história do Brasil: óleo de baleia, querosene, gás. Em geral, os lampiões eram 
acendidos por funcionários da “intendência municipal”, isto é, por funcionários 
das prefeituras, ao entardecer nas cidades. Porém, este estava se tornando um 
modo obsoleto de gerar luz para as cidades. 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
30
Visando à atualização tecnológica no setor, surgiram companhias de 
capital privado que exploravam o serviço de iluminação pública no Brasil. Uma 
das empresas pioneiras foi a Light, que era a responsável pelo fornecimento de 
energia elétrica nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Muitas das empresas 
que se instalaram no Brasil da República Velha, mais notadamente a indústria 
têxtil, utilizavam geradores elétricos, para a força motriz de máquinas. 
A eletrificação no interior das residências foi um processo lento, pois, no 
início, era destinada às classes ricas, posteriormente se estendendo para as demais 
camadas econômicas da população. Importante lembrar que a eletrificação era um 
fenômeno majoritariamente urbano. A eletrificação possibilitou uma profunda 
alteração no cotidiano das famílias. Pois alguns inventos, em especial o rádio, 
possibilitaram alterações profundas não apenas nos hábitos cotidianos, como 
também na forma de relacionamento entre as autoridades políticas e os cidadãos. 
Todavia, a eletricidade demorou a atingir todas as residências brasileiras. 
Muito se escreveu que a industrialização brasileira só foi possível devido 
ao excedente de capitais oriundos do café. Isto é, o café gerou um mercado 
consumidor de produtos industriais, ao possibilitar o desenvolvimento de um 
centro urbano, a cidade de São Paulo. 
3 O CAFÉ E AS DEMAIS ATIVIDADES AGRÍCOLAS
Apesar da presença dos surtos industriais, devemos ter em mente que o 
Brasil, na Velha República, era uma nação tipicamente agrário-exportadora, o que 
explica a maior parcela de sua elite política civil ser constituída por proprietários 
rurais, que também eram bacharéis em Direito. Como foi afirmado, o café era o 
principal produto de exportação. Produzido majoritariamente no Estado de São 
Paulo e em regiões que faziam divisa com o interior paulista, como o sul de Minas 
Gerais, o sul fluminense e o norte paranaense. A importância do café pode ser 
medida nos dados da tabela abaixo relacionada: 
Períodos Café Açúcar Cacau Mate Fumo Algodão Borracha Couros e Peles Outros
1889-1897 67,6 6,5 1,1 1,2 1,7 2,9 11,8 2,4 4,8
1898-1910 52,7 1,9 2,7 2,7 2,8 2,1 25,7 4,2 5,2
1911-1913 61,7 0,3 2,3 3,1 1,9 2,1 20 4,2 4,4
1914-1918 47,4 3,9 4,2 3,4 2,8 1,4 12 7,5 17,4
1919-1923 58,8 4,7 3,3 2,4 2,6 3,4 3 5,3 16,5
1924-1929 72,5 0,4 3,3 2,9 2 1,9 2,8 4,5 9,7
1930-1933 69,1 0,6 3,5 3 1,8 1,4 0,8 4,3 15,5
TABELA 1 - Brasil: principais produtos de exportação (%) - 1889/1933
Fonte: Villela e Suzigan (1973, p.70).
TÓPICO 2 | AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
31
Conforme podemos observar, o balanço de pagamentos brasileiro 
dependia em grande parte do café, que representava mais da metade dos 
produtos exportados. Como também, representando, por diversas ocasiões, dez 
vezes mais que o segundo produto da pauta de exportações, o açúcar. Assim, 
podemos compreender as bases econômicas do poder político da elite paulista. 
Porém, nem sempre os presidentes paulistas tomavam decisões no campo 
econômico que beneficiavam os cafeicultores, pois tinham que ter uma visão de 
conjunto, a beneficiar os usineiros do açúcar nordestino ou os demais estados e 
regiões do Brasil, com o perigo de perder a legitimação de poder. Todavia, era o 
café que liderava as exportações brasileiras, e foi ele o responsável pela dinâmica 
econômica que o Estado de São Paulo vive desde o final do período imperial, 
sendo a principal economia do país (PRADO JÚNIOR, 1987). 
O café brasileiro, exportado para vários países, mas em especial para os 
Estados Unidos, modificou a estrutura macroeconômica e política do Brasil. Do 
ponto de vista macroeconômico, podemos pensar que toda uma infraestrutura 
foi criada para o desenvolvimento do café. Nesta questão logística se destacaram 
as cidades de Santos, por ser o principal porto no qual o café era exportado, além 
de ser santista a principal bolsa de venda do produto. Campinas, no interior 
paulista, era uma cidade que também se destacava pela importância na venda e 
comercialização do produto. Outra cidade que se desenvolveu com o café foi a 
capital de São Paulo, pois era o meio do caminho entre o interior e o litoral, sendo 
a última parada do trem antes de atingir a Serra do Mar.
FIGURA 7 - O EMBARQUE DO CAFÉ NO PORTO DE SANTOS NA REPÚBLICA VELHA
 FONTE: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br. 20 abr. 2015.
A capital paulista possuiu um enorme crescimento populacional e 
industrial nas primeiras décadas do século XX, pois, de uma pequena cidade, 
capital de província, que atraía universitários de todo o Brasil devido à afamada 
Escola de Direito do Largo São Francisco, São Paulo se transforma em um centro 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
32
industrial, em grande parte vinculado aos capitais oriundos do café. Com isto, 
não se deseja afirmar que os antigos cafeicultores tenham se transformado em 
empresários urbanos. Mas sim, que diversas atividades econômicas, ligadas ao 
café, possibilitaram para a cidade um maior dinamismo capitalista. Isto porque 
o café envolveu a criação ou o desenvolvimento de companhias de seguros, 
companhias de navegação, ferrovias, portos, além da vinda de imigrantes 
estrangeiros, que vieram para o país para substituir a mão de obra escrava.
Um dado importante para a compreensão da economia brasileira da 
República Velha é a ideia de ilhas econômicas. Isto é, cada região brasileira 
possuiu um tipo de produção agrícola, ligada diretamente ao mercado externo, 
com certo grau de autonomia em relação às diretrizes econômicasdo poder 
central. Já existiam relações de produção e distribuição de mercadorias e 
produtos agrícolas entre as diferentes regiões brasileiras. Porém, a integração 
econômica das diferentes regiões era pequena, tendo as elites plutocráticas locais 
uma relativa autonomia para gerir as relações comerciais de suas regiões. Como 
tínhamos um país eminentemente rural, podemos afirmar que várias foram as 
culturas agrícolas que estão ligadas a este aspecto da economia brasileira. 
Na região amazônica foi destaque a exploração econômica da borracha. 
A exploração do látex, seiva que escorre nas seringueiras, árvores presentes na 
Amazônia, é uma matéria-prima fundamental para a fabricação da borracha. O 
consumo da borracha, por sua vez, teve uma explosão com o desenvolvimento 
do automóvel, por Henry Ford. Este empresário chegou a instalar no interior 
amazônico a cidade de Fordilândia. Todavia, o ciclo da borracha entrou em 
declínio devido aos ingleses terem plantado a borracha em outros lugares do 
mundo, retirando da região amazônica o monopólio da exploração. Um dos 
símbolos da época áurea da borracha é o Teatro Amazonas. Outras atividades, 
como a pesca artesanal e a construção de embarcações pesqueiras, realizadas pelos 
ribeirinhos, são importantes para a compreensão das dinâmicas socioeconômicas 
presentes na região amazônica. A navegação tem uma importância considerável 
para o deslocamento das populações amazônicas. Em relação a esta importante 
atividade, foi fundada, em 1892, a Escola de Marinha Mercante do Pará, pioneira 
no país e responsável por formar recursos humanos para o setor naval (FURTADO, 
1987). 
Na região Nordeste tivemos também a presença de um importante produto 
de exportação para o mercado internacional: a cana-de-açúcar. Os primórdios da 
exploração da cana no Nordeste remetem aos séculos da colonização portuguesa 
no Brasil. Todavia, no final do século XIX e início do século XX, observou-se uma 
modernização da exploração da cultura da cana-de-açúcar. Uma primeira questão 
se refere à mão de obra, que anteriormente era ligada à escravidão. Proibida pela 
Lei Áurea, novas formas de relações trabalhistas foram estabelecidas. Os antigos 
engenhos açucareiros foram substituídos por modernas usinas, que também 
beneficiam o açúcar. Assim, podemos compreender que o açúcar foi uma das mais 
importantes atividades econômicas nordestinas da Primeira República. Também 
foi na República Velha que o cacau se tornou um dos principais produtos de 
TÓPICO 2 | AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
33
exportação no litoral sul da Bahia. Em especial, as cidades de Ilhéus e Itabuna se 
destacaram na produção desta fundamental matéria-prima para a produção de 
chocolate. O cacau era transportado por saveiros até o porto de Salvador, que, por 
sua vez, o exportava para outros portos ao redor do mundo. Outro aspecto da 
economia nordestina, em especial no sertão e nas margens do Rio São Francisco, 
era a pecuária. O gado criado tinha sua carne abatida e vendida nas principais 
cidades nordestinas. 
Uma das principais mazelas da economia e da vida social nordestina é a 
seca. Na República Velha foi criada uma instituição, mantida e administrada pelo 
governo federal, que se empenhava no fim das dificuldades da agricultura do 
semiárido: o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca. Fundado em 1909, 
durante o governo de Nilo Peçanha, foi uma das principais medidas da União 
contra os males causados pelas secas constantes do sertão. Todavia, mesmo com 
a criação desta autarquia, o problema da seca se manteve. 
No Sul do Brasil, duas atividades econômicas eram preponderantes: 
o mate e o gado. A exploração da erva-mate foi uma das principais atividades 
econômicas dos estados do Paraná e de Santa Catarina nas primeiras décadas 
republicanas. O mate, bebida em geral comum na culinária de países sul-
americanos como a Argentina e o Chile, era exportado do Sul do Brasil para estes 
países vizinhos. Fato pelo qual fora formada uma elite regional, com fortes ligações 
nas dinâmicas políticas, em especial do Paraná. Por sua vez, o gado foi uma das 
mais tradicionais atividades econômicas sulinas desde os tempos coloniais. No 
início do século XX, o gado continuou a ser uma atividade econômica importante 
para o Rio Grande do Sul. Comitivas partiam dos pampas gaúchos e atingiam o 
mercado de Sorocaba, no interior paulista, tradicional ponto de comercialização 
de gado. Existiam antigos caminhos no interior do Brasil meridional, os chamados 
caminhos das tropas, nos quais os tropeiros foram os principais articuladores 
deste tipo de atividade econômica (PRADO JÚNIOR, 1987). 
Vale destacar que não apenas no Sul do Brasil a atividade pecuária teve 
importância. O interior nordestino e a região Centro-Oeste possuíam tradição 
nesta atividade. O Centro-Oeste, nos anos da República Velha, era composto 
pelos estados do Mato Grosso e Goiás. A economia desta região brasileira era 
caracterizada pela pecuária. A criação de gado era uma das principais atividades 
econômicas desenvolvidas na região. Uma economia de subsistência também era 
presente entre os moradores de extensas áreas do Pantanal, sem contato direto 
com as demais regiões do país. 
Um país agrário-exportador foi também um país que importava produtos 
industrializados. Este dado é fundamental para a compreensão das dinâmicas 
econômicas brasileiras da República Velha. As principais inovações tecnológicas 
do mundo da belle époque, como o automóvel, o zepelim e o avião, eram produzidas 
nos países centrais do sistema capitalista. Assim, o Brasil se comportava como um 
país que não possuía autonomia no campo econômico em relação aos principais 
países do mundo, que na época viviam a corrida imperialista. 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
34
Muitos foram os produtos agrícolas exportados pelo Brasil nas primeiras 
décadas de governo republicano. Porém, o café teve maior destaque, porque 
foi o produto mais valorizado na balança comercial brasileira. Uma das bases 
econômicas do poder político paulista, haja vista que São Paulo foi o estado 
brasileiro que mais produziu café. A elite paulista considerava uma locomotiva, 
que puxava os demais estados (os vagões). Todavia, esta relação político-
econômica foi profundamente alterada no denominado período nacional 
desenvolvimentista (1930-1964). Em grande parte devido aos reflexos que a crise 
econômica de 1929 (simbolizada pela Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque) 
teve na organização político-econômica do Estado brasileiro. 
UNI
Para uma melhor compreensão da História Econômica Brasileira, é interessante 
ler o livro Formação Econômica do Brasil, da autoria de Celso Furtado. Trata-se de um clássico 
do tema, que pode ser útil como uma abalizada introdução a este importante aspecto da vida 
nacional.
4 LOGÍSTICA: O SETOR DE TRANSPORTES
Na Primeira República, a ação do Estado no setor de transportes era 
coordenada por um ministério específico, denominado Ministério da Viação 
e Obras Públicas. Sendo as estradas de rodagem poucas, e ineficientes para o 
deslocamento de grandes trajetos, a navegação de cabotagem e longo curso, 
assim como as vias férreas, constituíam as principais formas de locomoção de 
pessoas e de mercadorias pelos diferentes estados e pelas diferentes regiões do 
país. Assim, analisaremos os portos, as companhias de navegação e as ferrovias 
brasileiras entre 1889-1930. 
Os portos brasileiros do início da República possuíam características 
típicas das modificações tecnológicas que ocorreram na segunda metade do 
século XIX em relação à navegação. Pois as velas deixaram de ser o principal 
meio de propulsão das embarcações, assim como as madeiras deixaram de ser a 
principal matéria-prima para a construção das embarcações, sendo substituídas 
pelo vapor e pelo aço. Assim, os portos tiveramde se adaptar a novos tipos de 
embarcação, que tinham maior calado e capacidade de maior tonelagem no 
transporte de produtos. Ao mesmo tempo, eram os portos as principais vias de 
acesso da população aos diferentes pontos do país. Assim, era também comum 
grande número de navios especializados no transporte de passageiros, e a criação 
de uma estrutura portuária para receber estas pessoas. Em relação ao movimento 
de cargas através dos portos, uma das principais diferenças entre o século XIX 
e o século XX foi um lento processo que levou o porto de Santos a superar o 
porto do Rio de Janeiro como o principal exportador de café. Isto ocorreu a partir 
TÓPICO 2 | AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
35
da segunda metade do século XIX e se concretizou em 1903, quando tivemos o 
primeiro ano no qual Santos superou o Rio na exportação de sacas de café para 
o exterior. 
Na Primeira República, o Brasil possuiu várias companhias de navegação. 
A maior parte delas vinculadas ao transporte de cabotagem, sendo em grande 
parte de amplitude local ou regional. Saveiros no litoral sul da Bahia, assim 
como jangadas no litoral cearense, ainda eram comuns na paisagem brasileira 
da primeira metade do século XX. Todavia, na maior parte das regiões do país 
tivemos a presença de navios movidos a vapor, construídos em modernos 
estaleiros brasileiros e estrangeiros. O primeiro estaleiro brasileiro foi construído 
ainda no Império, sendo localizado em Ponta da Areia, no município de Niterói, 
no Rio de Janeiro. Outros estaleiros foram construídos no Brasil. Porém, ainda 
a maioria dos navios propelidos a vapor utilizados pela Marinha Mercante 
brasileira era fabricada no exterior (GOULARTI FILHO, 2010). 
Entre as principais companhias de navegação, proprietárias de grandes 
navios, podemos citar duas: a Costeira e o Lloyd Brasileiro. A Companhia de 
Navegação Costeira era a proprietária dos navios Itas, que cortavam o litoral 
brasileiro de Norte a Sul, sendo a embarcação símbolo da migração nordestina 
para o Sudeste antes da Segunda Guerra Mundial, quando se construiu a rodovia 
Rio-Bahia. A Companhia Costeira (que faliu em 1965) era de capital privado, 
da propriedade de um importante empresário brasileiro, Henrique Lage. Outra 
importante companhia de navegação mercante brasileira foi a Companhia Lloyd 
Brasileiro. Estatal surgida em 1894, faliu em 1997. Durante um século, os navios 
do Lloyd possibilitaram a integração de diversas regiões brasileiras. O Lloyd 
se expandiu, em grande parte, ao comprar pequenas companhias mercantes 
públicas e privadas, monopolizando o mercado de frete no Brasil (GOULARTI 
FILHO, 2010).
FIGURA 8 - NAVIO S.S. RUI BARBOSA - LLOYD BRASILEIRO
FONTE: Disponível em: <http://www.riopostal.com>. Acesso em: 20 abr. 2015.
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
36
Além dos navios, no Brasil do início do século XX eram comuns as 
companhias ferroviárias. As ferrovias foram sendo erguidas devido à necessidade 
de exportação dos produtos agrícolas. Muitas foram as ferrovias que ligavam 
os diversos pontos do território nacional. A maior parcela foi construída com 
o auxílio de capital inglês e norte-americano. A “Maria Fumaça”, isto é, trens 
propelidos pelo vapor, cortavam o país, possibilitando o contato e um transporte 
com maior velocidade entre distantes regiões brasileiras. Podemos citar as 
primeiras companhias, como a Estrada de Ferro Teresa Cristina, que ligava 
Petrópolis à capital da República. Também existiram a São Paulo-Rio Grande, 
a estrada de ferro Central do Brasil, a Mogiana e a Sorocabana, que cortavam o 
interior paulista. Uma das maiores construções de engenharia foi a Estrada de 
Ferro Madeira-Mamoré, construída no antigo território federal do Guaporé, na 
fronteira com a Bolívia. 
Além dos trens que realizavam viagens interestaduais, um destaque na 
paisagem das cidades brasileiras da primeira metade do século XX eram os trens 
urbanos e os bondes. Em geral, os bondes puxados por burros eram o principal 
tipo de transporte urbano das cidades brasileiras. Os bondes, com o processo de 
eletrificação, tiveram sua tração animal substituída pela energia elétrica, sendo este 
fato considerado um símbolo de modernização (FAUSTO, 2002). 
O setor de transportes, apesar de sua importância, não foi em grande 
parte contemplado pelo poder público na Primeira República. Na maior parte 
dos casos, os empreendimentos ligados às estradas de ferro foram desenvolvidos 
pela iniciativa privada. Washington Luiz, último presidente do período da 
Velha República, nos apresentou uma frase célebre: “Governar é abrir estradas”. 
Todavia, não temos como afirmar que o seu governo, e os demais que ocuparam 
o posto máximo do poder federal, conseguiram realizar grandes obras sobre esta 
importante questão relativa à história econômica brasileira.
5 A IMIGRAÇÃO: UMA QUESTÃO SOCIOECONÔMICA
A imigração é um dos temas no qual as questões culturais, sociais 
e econômicas convergem na hora de se explicar as causas de tal fenômeno 
histórico. Os países americanos, entre as primeiras décadas do século XIX e a 
Segunda Guerra Mundial, receberam uma grande quantidade de imigrantes após 
o processo de independência. Esta imigração pode ser explicada, entre diversos 
fatores, devido às dinâmicas econômicas que a denominada Segunda Revolução 
Industrial impôs às populações europeias. Quando falamos em Segunda 
Revolução Industrial, não estamos nos referindo ao processo que ocorreu na 
indústria têxtil inglesa do século XVIII, mas sim nas transformações na indústria 
metal mecânica, vivida em muitos países europeus ao longo dos novecentos, e 
que se relacionam com a imigração para o Brasil, assim como para a América, 
África e Ásia. Uma das características da Revolução industrial foi a ampliação 
da mecanização. Esta novidade tecnológica acabou por gerar desemprego, pois o 
processo de automação industrial possibilita que o trabalho, antes realizado por 
uma grande quantidade de pessoas, venha a ser realizado por poucos profissionais. 
TÓPICO 2 | AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
37
5 A IMIGRAÇÃO: UMA QUESTÃO SOCIOECONÔMICA
Com isto, temos uma grande quantidade de mão de obra que ficou ociosa. Estes 
trabalhadores desempregados constituíram o contingente principal das famílias 
que emigraram para o Brasil. Podemos destacar algumas especificidades étnicas 
de algumas levas de imigrantes. Cinco foram os grandes grupos que imigraram 
para o Brasil: alemães, italianos, japoneses, portugueses e espanhóis.
FIGURA 9 - IMIGRANTES ITALIANOS EM CAXIAS DO SUL-RS 
FONTE: Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/colonizacao-italiana-no-sul-
do-brasil/. Acesso em: 20 abr. 2015.
 A imigração alemã teve início no Brasil durante o Império. Em 1824, 
na cidade de Nova Friburgo, na então Província do Rio de Janeiro, teve-se o 
estabelecimento de uma primeira leva de teuto-suíços. Na mesma época, uma 
leva de imigrantes alemães se instalou no Rio Grande do Sul, na cidade de São 
Leopoldo. Em geral, os imigrantes eram alemães luteranos, que no Brasil se 
dedicaram a atividades agrícolas. No Espírito Santo, a atuação de imigrantes 
alemães também foi destacada, em especial os pomeranos. Alguns imigrantes 
alemães se dedicaram ao comércio e à indústria. Todavia, a maior parte era ligada 
às lides rurais (FAUSTO, 2002). 
A imigração italiana também foi significativa no Brasil. Em especial 
nas regiões Sul e Sudeste. No Sul, a maior parte dos imigrantes teve o acesso 
à propriedade da terra, sendo em grande parte ligados à produção rural, mais 
destacadamente a uva, como nas regiões serranas do Rio Grande do Sul e no 
sul catarinense. Por sua vez, no Sudeste, grande parte da imigração italiana se 
relacionava à substituição da mão de obra escrava, sendo grande parte utilizada 
como força de trabalho nos cafezais. Muitos italianostambém estavam entre os 
trabalhadores das indústrias paulistas do início do século XX. 
Mesmo após a independência, os imigrantes ibéricos eram presença 
constante nas cidades brasileiras do início do século XX. Os espanhóis, ao 
lado dos portugueses, compunham um tipo de imigração para o Brasil que, ao 
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
38
contrário dos italianos e alemães, destinados para a agricultura, se relacionaram 
ao trabalho urbano, em especial na capital paulista. Os portugueses, em algumas 
cidades, como no caso da capital da República, o Rio de Janeiro, compuseram a 
maior parcela dos mais influentes comerciantes. 
Os japoneses constituem um caso específico na imigração para o Brasil. 
Iniciada em 1904, quando da vinda do primeiro navio, inicialmente os mesmos se 
estabeleceram no norte do Paraná e no interior de São Paulo. No Pará, na região 
Bragantina, também muitos japoneses se estabeleceram. Marcados por aspectos 
culturais distintos dos demais imigrantes, os japoneses, no início, se destinaram 
ao trabalho nas lavouras de café do Sudeste. Também foram utilizados como 
mão de obra e empreendedores nos cinturões verdes. Isto é, em propriedades 
rurais próximas às grandes cidades, que possuem a função de produzir hortaliças 
para o consumo urbano. Alguns imigrantes conseguiram migrar para as grandes 
cidades, mais notadamente São Paulo, sendo o Bairro da Liberdade um dos 
principais símbolos da presença japonesa no Brasil. 
UNI
A imigração foi tema de algumas importantes obras artísticas no Brasil do século 
XX. Dentre elas, podemos elencar o filme Gaijin, da cineasta Tizuka Yamasaki, que destaca a 
imigração japonesa; o livro Anarquistas Graças a Deus, de Zélia Gattai, além de várias outras 
obras artísticas, que relatam com sensibilidade as angústias e os sofrimentos dos que se 
aventuravam no Brasil. 
Ao compreender a história da imigração, devemos tomar cuidado para não 
termos uma visão estereotipada deste importante evento histórico. Uma primeira 
ressalva é que não apenas nas regiões Sul e Sudeste tivemos imigrantes. No caso, 
devemos lembrar que as demais regiões brasileiras, em especial o Nordeste, 
também receberam importante leva de imigrantes ao longo do século XIX e da 
primeira metade do século XX, como atesta a construção da comunidade luterana 
de Salvador. Outra questão importante para a nossa análise é que outros grupos, 
minoritários, também imigraram, como os eslavos e ucranianos, presentes em 
Curitiba, além da presença de imigrantes de grupos étnicos religiosos, como a 
imigração de judeus e de árabes maometanos, que em geral se dedicaram ao 
comércio nos centros urbanos do país, ou então, atuando como mascates, isto é, 
vendedores ambulantes nos mais distintos rincões do interior brasileiro. 
Além das questões econômicas, é importante salientar que o Brasil era 
apresentado, pelas agências que recrutavam imigrantes, como uma espécie de 
terra da promissão. Deste modo, o país era tido como um paraíso tropical, no 
qual muitos dos imigrantes eram levados a acreditar que o trabalho honesto 
poderia levar a um rápido enriquecimento. Se para alguns imigrantes, como 
TÓPICO 2 | AS DINÂMICAS ECONÔMICAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA
39
para os Matarazzo, o Brasil realmente significou a possibilidade de fazer fortuna, 
para muitos não passou de uma triste ilusão. Muitos imigrantes sofreram as mais 
terríveis humilhações e privações. Alguns exemplos foram os imigrantes que 
buscaram ter a posse da terra para trabalhar na agricultura, e acabaram por não 
conseguir realizar seu sonho pessoal. Todavia, o caso mais triste de desilusão em 
relação à vinda para o Brasil se relaciona às imigrantes judias polonesas, que, 
iludidas com a promessa de um casamento com um membro rico da colônia 
judaica no Rio de Janeiro, acabavam sendo recrutadas para a prostituição, no 
baixo meretrício do “mangue”. 
A história da imigração no Brasil é uma história de um país mestiço, 
no qual todas as etnias conseguiram, de alguma forma, pertencer ao “caldo de 
cultura” nacional. Isto é, ao invés de termos a tendência norte-americana dos 
casamentos entre os imigrantes se realizarem entre os membros de uma mesma 
etnia, no Brasil, em especial nas comunidades urbanas, observa-se a tendência 
de casamentos interétnicos. Em suma, mesmo que motivado meramente por 
uma questão econômica, devido à falta de braços escravos, a imigração deixou 
reflexos culturais profundos, que até hoje influenciam a cultura e as relações 
sociais brasileiras.
40
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:
• O Brasil da Primeira República era uma nação agrário-exportadora. 
• A moeda brasileira se chamava Real, conhecida pelo termo Mil-Réis. 
• O encilhamento foi o nome de uma crise econômica surgida de um incentivo 
governamental à industrialização na década de 1890. 
• O café era o principal produto brasileiro de exportação no período. 
• Outras regiões brasileiras produziam produtos como cacau, erva-mate, gado e 
borracha. 
• O setor de transportes era composto basicamente pela Marinha Mercante e 
pelas companhias ferroviárias. 
• O capital inglês e norte-americano era presente no Brasil da Primeira República. 
• As companhias de eletricidade nas cidades foram formadas no período da 
Primeira República. 
41
Questão única: As relações econômicas, em suas dinâmicas e estruturas, 
representam uma das temáticas que podem lançar luzes para a profunda 
compreensão de um determinado período histórico. Assim compreendendo, 
pergunta-se: quais são as principais características econômicas do Brasil da 
Primeira República? 
AUTOATIVIDADE
42
43
TÓPICO 3
OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA 
REPÚBLICA VELHA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Uma célebre frase, proferida por Washington Luiz, demonstra como as 
relações entre as classes sociais brasileiras da Velha República eram marcadas por 
tensões. Afirmou o ex-presidente que “A questão social, no Brasil, é um caso de 
polícia” (FAORO, 2000). A repressão extremada e violenta por parte do Estado foi 
uma das principais marcas da forma como os “donos do poder” responderam à 
reclamação da população brasileira por melhores condições de vida e uma maior 
participação política. Como veremos, alguns movimentos foram vinculados 
às instituições militares (Revolta da Chibata, Tenentismo), outros vinculados 
a questões religiosas (Canudos, Contestado, Revolta de Juazeiro), assim como 
também vinculados aos dilemas do capitalismo no início do século (Revolta da 
Vacina, Greve Geral de 1917). 
Um dos primeiros movimentos populares que ocorreu na primeira década 
de regime republicano ficou historicamente conhecido por Jacobinos. Atuantes 
na capital da República, a cidade do Rio de Janeiro, os jacobinos compunham 
um grupo inspirado nas revoltas populares da Revolução Francesa. Eram 
permeados por ideário nacionalista, quase xenófobo, isto é, com profundo ódio 
aos estrangeiros, especialmente dirigido aos comerciantes portugueses. Tinham 
como militância política o florianismo. Foi um movimento que agregou muitas 
pessoas, principalmente membros das camadas médias, defensoras do governo 
Floriano Peixoto. Isto porque Floriano tomou medidas que agradaram aos setores 
assalariados da população, entre as quais se destacou a cobrança de um preço 
justo aos produtos de primeira necessidade, como os ligados à alimentação e ao 
vestuário, além do governo ter congelado o preço e estabelecido uma tabela para 
o valor dos aluguéis (QUEIRÓZ, 1986). 
Ainda durante o período da primeira década republicana foram 
comuns algumas revoltas militares. Ocorreu a conhecida Revolta do Sargento 
Silvino, além de alguns motins na Escola Militar do Brasil, também chamada 
de Academia Militar da Praia Vermelha. Estas revoltas, todavia, não foram 
destaques na historiografia porque a Revolta da Vacina Obrigatóriaacabou 
sendo um movimento de cunho social que catalisou diversas forças descontentes 
com o rumo que a política republicana estava tomando. Entre os descontentes 
podemos citar os militares positivistas, os setores médios da população, alguns 
44
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
republicanos históricos e as camadas economicamente menos favorecidas, as que 
mais sofriam com a instabilidade política e econômica que o Brasil viveu naqueles 
anos iniciais da República dos Estados Unidos do Brasil. 
A Primeira República foi um dos vários momentos da história brasileira 
em que a população lutou por participação nos destinos do país. Em especial, 
no que tange à melhoria da qualidade de vida e na busca por dignidade. Entre 
as revoltas podemos citar as principais, por serem elas sínteses de complexos 
problemas sociais: A Revolta de Canudos, a Revolta da Vacina Obrigatória, a 
Revolta da Chibata, a Revolta de Juazeiro, a Guerra do Contestado, o Tenentismo, 
além da Greve Geral de 1917 e do Sufragismo. 
2 OS MOVIMENTOS RELIGIOSOS: A GUERRA DE CANUDOS, 
A REVOLTA DE JUAZEIRO E A GUERRA DO CONTESTADO
Um dos mais famosos movimentos sociais que existiram no Brasil durante 
o final do século XIX foi a Guerra de Canudos. A principal fonte de análise deste 
movimento social foi realizada pelo jornalista e antigo oficial do Exército Euclides 
da Cunha, que no livro Os Sertões nos brindou com uma pormenorizada análise 
deste movimento social. 
A Guerra de Canudos se relaciona diretamente à presença da liderança 
carismático-religiosa de um líder popular, denominado Antônio Conselheiro. 
Nascido no Nordeste, após problemas conjugais, acabou por se transformar 
em uma espécie de monge peregrino, que saía pelo sertão nordestino a pregar 
o breve retorno de Jesus. Antônio Conselheiro foi um líder para a população 
sertaneja, que era destituída de muitas das benesses que a população urbana 
litorânea possuía. Euclides da Cunha afirmava que “o sertanejo é acima de tudo 
um forte”. Pois o sertão, com seus problemas e dificuldades cotidianas, como 
a seca e o descaso das autoridades públicas, faz com que a sobrevivência nesta 
região venha a ser sofrida. 
A ausência de sacerdotes católicos no interior do Brasil àquela época 
pode ser levantada como uma das causas para o prestígio que figuras religiosas 
gozavam com a população pobre. Outra questão central para a compreensão 
destes líderes religiosos eram as modificações no interior da Igreja Católica, e 
da Igreja Católica com o Estado brasileiro. O catolicismo vivia em uma fase de 
ultramontanismo, na qual novas práticas e devoções eram ensinadas ao povo, 
não mais sendo vinculada à tradição do catolicismo ibérico, cujo misticismo era 
exteriorizado em festas, músicas, com a presença de bebidas e procissões. Por sua 
vez, o catolicismo após o Concílio Vaticano I instituiu novas práticas de culto. 
Ao invés da devoção a santos tradicionais, como Nossa Senhora da Candelária e 
da Penha, foram promovidas “novas” devoções, como a do Sagrado Coração de 
Jesus e do Imaculado Coração de Maria. Soma-se a esta modificação do ritual a 
separação da Igreja do Estado, que possibilitou modificações profundas na vida 
da sociedade, não sendo mais de responsabilidade da Igreja a administração dos 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
45
cemitérios, e sendo o registro de nascimento e casamento civil mais importante 
que as documentações advindas da igreja. Esta laicização era interpretada pelos 
sertanejos de modo negativo, sendo a República vista de modo desabonador, 
algo quase demoníaco, pois retirava os aspectos religiosos dos ritos fúnebres. 
Soma-se a estas questões a exploração pela qual a maior parte dos 
sertanejos passava nas relações de trabalho, altamente vinculadas à tradição 
escravocrata. Os coronéis do sertão davam pouco valor aos seus funcionários. 
As crises cíclicas do capitalismo, como a da produção de algodão e demais 
produtos de exportação, acabaram por possibilitar uma grande quantidade de 
trabalhadores desempregados nos sertões das últimas décadas do século XIX. 
Nas margens do rio Vaza-barris, Antônio Conselheiro fundou, próximo 
ao morro da favela, a chamada Cidade Santa. Era um reduto para o qual afluíam 
milhares de pessoas, atraídas pela pregação e práticas de igualitarismo cristão 
proposto pelo líder Antônio Conselheiro. A Cidade Santa era um destino para 
o qual muitas pessoas migraram, diminuindo a oferta de mão de obra para as 
fazendas. Assim, uma primeira incursão da Polícia Militar baiana, ocorrida por 
volta de 1895, tentou dirimir aquele povoado. Porém, os moradores do Arraial 
de Canudos defenderam sua comunidade com “armas na mão”, não mais se 
sujeitando aos abusos do poder instituído. 
No Rio de Janeiro, os florianistas se opunham ao governo civil de Prudente 
de Moraes. Assim, se colocaram favoráveis ao envio de tropas federais para o 
interior da Bahia, afirmando ser o movimento liderado por Antônio Conselheiro 
uma tentativa de restauração da monarquia. Assim, em 1898, o Exército brasileiro 
enviou tropa para a Bahia, no intuito de dirimir a Revolta Popular. Porém, não 
tiveram os soldados governamentais êxito nos primeiros combates contra a 
guerrilha sertaneja. Pois, os guerreiros de canudos, conhecedores do terreno, 
infligiam grandes baixas ao Exército brasileiro. Como solução, foi designado para 
liderar as tropas em Canudos o tenente-coronel Moreira César, que anos antes 
tinha realizado fuzilamentos em massa na Ilha de Santa Catarina. Porém, a ação 
militar do coronel foi extremamente desastrada, sendo ele morto em combate. 
O Exército brasileiro consegue a vitória ao designar o general Bitencourt para 
o comando das tropas, além de utilizar os modernos canhões Krup, apelidados 
de “talhadeira” pela população. A ação da artilharia foi brutal, ocasionando 
muitas baixas entre civis. No final do conflito, narrou Euclides da Cunha (2002) 
que Canudos não se rendeu, lutando até o fim por sua existência. A barbárie da 
guerra foi descrita com sensibilidade pelo escritor, que em Os Sertões afirmou:
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu 
até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão 
integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus 
últimos defensores, que todos morreram. Eram qua tro apenas: um 
velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam 
raivosamente cinco mil soldados... (CUNHA: 2003, p. 235).
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UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
A República brasileira não teve apenas em Canudos um exemplo de como 
o Estado é capaz de ações de extrema violência na ação de manter as relações de 
dominação social. Temos outros exemplos, como veremos a seguir. 
UNI
Uma possibilidade de compreender a Guerra de Canudos é através da sétima 
arte. O filme homônimo (Guerra de Canudos), de autoria do cineasta Sérgio Rezende, é um 
drama que narra a história de Luíza, uma moça que retrata as incoerências e sofrimentos de 
muitos indivíduos que vivenciaram este trágico episódio da história política brasileira. 
Uma revolta que ocorreu no Nordeste brasileiro, contou com a presença 
de um padre importante e popular, mas não estava diretamente ligada a questões 
sociais do messianismo, foi a Revolta de Juazeiro. Ocorrida em meados de 1914, 
o seu principal líder foi o Padre Cícero Romão Batista, conhecido popularmente 
como Padre Cícero. Até o presente considerado santo por grande parte da 
população nordestina, padre Cícero conclama o povo de Juazeiro a participar 
de uma querela entre os Accioli, clã familiar cearense que dominava a política, 
e a Política da Salvação Nacional do governo Hermes. A figura coadjuvante da 
Revolta de Juazeiro foi a do deputado Floro Bartolomeu, um político que possuía 
ligações com Pinheiro Machado, líder de governo do Marechal Hermesda 
Fonseca no Senado da República. 
Como já afirmamos, o governo Hermes da Fonseca instituiu a denominada 
Política das Salvações Nacionais. Esta era uma prática na qual o governo federal 
substituía o representante da oligarquia dominante no Executivo estadual por 
outro político que deveria permanecer fiel ao governo do Rio de Janeiro, então 
capital republicana. Franco Rebelo foi o escolhido por Hermes da Fonseca para 
ocupar o posto de Presidente do Estado do Ceará. Todavia, após a Revolta de 
Juazeiro, o governo federal cede, voltando ao posto a família Acioly. O Exército 
envia tropas para a região do Juazeiro, sob o comando do General Setembrino de 
Carvalho, o mesmo comandante militar que o Exército enviou para a revolta do 
Contestado, e que apaziguou a situação conflituosa. 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
47
FIGURA 10 - PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA
FONTE: Disponível em: <www.ctn.org.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
O padre Cícero, por diversas questões, foi excomungado da Igreja Católica 
Romana. Porém se tornou um mito popular, ao ser, como um dono de terras 
(coronel), a apadrinhar vários filhos de sertanejos, uma prática comum nos sertões 
do Brasil naqueles tempos. O padrinho Cícero foi um líder cujo mito passou a 
representar mais que a sua real condição de clérigo. Um mito que permanece vivo 
em pleno século XXI e se mantém como um símbolo de identidade da cultura 
nordestina. 
Uma das grandes revoltas sertanejas que faz parte da História do 
Brasil ocorreu na fronteira entre os estados de Santa Catarina e do Paraná e 
ficou conhecida como a Guerra do Contestado. Ocorrido entre 1912 até 1916, 
o movimento possuiu algumas características, que podem ser divididas em 
políticas, religiosas, econômicas e sociais. 
Em relação às causas políticas do Contestado, pode-se relacionar a querela 
da fronteira entre o Brasil e a Argentina pelos campos de Palmas. A fronteira 
que divide a Argentina e o Brasil foi objeto de contestação entre os dois países. 
A questão foi resolvida tendo como árbitro o governo norte-americano, que na 
época era liderado pelo presidente Cleveland. A questão diplomática externa foi 
sucedida por uma disputa interna entre os estados do Paraná e de Santa Catarina 
pelas terras. Isto porque os estados visavam ampliar a arrecadação de impostos, 
o que possibilitaria aumento das receitas. Esta questão era discutida em uma 
amplitude política, conforme os ditames das regras legais e parlamentares. 
48
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
FIGURA 11 - VAQUEANOS DO PLANALTO CATARINENSE
FONTE: Disponível em: <tresbarras.xpg.uol.com.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
A região do Oeste catarinense e paranaense, por sua vez, possuía uma 
dinâmica social própria. Esta dinâmica era envolta ao antigo “caminho das 
tropas”, que ligava as cidades de Lages, em Santa Catarina, ao comércio de gado 
de Sorocaba, no interior paulista. Um monge, de nome João Maria, percorria 
os caminhos dos tropeiros, oferecendo conforto espiritual, durante a segunda 
metade do século XIX. Um segundo monge, de nome João Maria, tinha o mesmo 
carisma do primeiro, sendo também um curandeiro. A maior parte da população 
era classificada como “cabocla”, isto é, mestiços luso-brasileiros, que possuíam 
um tipo de vida típico, caracterizado pela vida rural em pequenas propriedades, 
sob a regência de um coronel, chefe político local que, ao mesmo tempo, era o 
padrinho dos filhos dos trabalhadores, 
Este aspecto sociopolítico começou a ser alterado pela abertura de uma 
estrada de ferro, que buscava ligar São Paulo ao Rio Grande do Sul. A denominada 
estrada de ferro São Paulo-Rio Grande era mais um empreendimento de Percival 
Farquhar, proprietário da Brazil Railway Company, e de uma subsidiária, a Southern 
Brazil Lumber & Colonization Company, que explorava a madeira da região de Três 
Barras, no interior de Santa Catarina. 
A exploração da madeira alterava a vida da população local, devido à 
alteração no meio ambiente. A desestabilização da vida cotidiana pela presença 
de uma companhia multinacional, além dos abusos cometidos pela companhia, 
nos indica alguns elementos motivadores para a eclosão da revolta. 
O evento que motivou a eclosão da revolta foi a construção de uma cidade 
santa por adeptos de João Maria. Esta fundação de uma “cidade” motivou o 
governo do Paraná a enviar tropa militar para dirimir o movimento. Assim, em 
uma primeira batalha, morre João Maria, que foi substituído na liderança por 
José Maria, um líder com características guerreiras. As primeiras tentativas de 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
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dirimir o movimento com a força das armas foram fracassadas. O que motivou 
o governo federal, na época liderado por Hermes da Fonseca, a enviar tropas do 
Exército. Como líder da expedição militar foi designado o General Setembrino de 
Carvalho, que já tinha atuado como comandante de tropas federais na Revolta 
de Juazeiro. A Guerra do Contestado possuiu a brutalidade comum das guerras 
civis brasileiras. Uma das novidades foi a ação de aviões no conflito, sendo pela 
primeira vez na história brasileira que o invento de Santos Dumont foi utilizado 
em um campo de batalha. 
O final do conflito foi estabelecido por volta de 1916, quando os caboclos 
foram completamente derrotados, e a questão de limites entre os governos 
paranaense e catarinense dirimida. 
3 MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS: A REVOLTA DA 
VACINA OBRIGATÓRIA, O MOVIMENTO SINDICALISTA E A 
GREVE GERAL DE 1917
A Revolta da Vacina Obrigatória, ocorrida no Rio de Janeiro em 1904, foi 
motivada por diversos fatores, entre os quais podemos citar: as reformas urbanas 
de Pereira Passos, o crescimento desordenado da capital federal, além das questões 
políticas dos militares positivistas (SEVCENKO, 1983). O higienismo pode ser 
considerado um conceito-chave para a compreensão da temática. Uma corrente 
médica surgida em meados do século XIX pregava a melhoria das condições de 
vida nas cidades como a solução para diversos problemas de saúde. No Brasil, 
os problemas de saúde pública, como a peste bubônica, foram alvo de vários 
e importantes médicos: Carlos Chagas, Vital Brasil e Oswaldo Cruz. Membros 
de fundações de pesquisa científica em saúde pública que até hoje levam seus 
nomes em justa homenagem, os médicos sanitaristas tiveram importante papel 
na melhoria da qualidade de vida da população brasileira no início do século XX. 
As diversas medidas, como a criação de aterros sanitários para o depósito 
do lixo, a criação de rede de esgoto, a pavimentação das ruas, eram tomadas 
visando ao fim das terríveis pestes que assolavam as cidades. Em especial, o Rio 
de Janeiro sofria com doenças como a peste bubônica e a febre amarela. 
A situação era de calamidade. Por isso, aproveitando os acordos econômicos 
que beneficiaram o Brasil, o presidente Rodrigues Alves escolheu como prefeito do 
Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) o engenheiro Pereira Passos. Este pensou 
uma nova linha urbanística para o Rio. Com a política “bota abaixo”, o interventor 
expulsou a população pobre do centro, que vivia nos chamados cortiços ou casas de 
cômodos. Instalações insalubres, nas quais famílias inteiras moravam em quartos 
alugados, com péssimas condições sanitárias. Inclusive o Conde D’Eu, esposo da 
princesa Isabel, foi o proprietário do “Cabeça de Porco”, um dos principais cortiços 
cariocas. A ordem do prefeito foi cumprida à risca. Muitos dos cortiços e antigas 
construções foram demolidos. Entre elas estava um castelo quinhentista, que hoje 
dá nome a um bairro próximo ao centro do Rio (Castelo).
50
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
A população pobre moradora destes cortiços abandonou o centro da 
cidade. Alguns se deslocaram para as regiões mais afastadas do subúrbio. Outros 
continuaram a ocuparos morros, intensificando um processo de favelização 
iniciado com a volta dos combatentes que retornaram de Canudos e não tiveram 
onde morar. Ocuparam um morro atrás do Ministério da Guerra, enquanto 
esperavam uma providência. Esta espera denominou o nome da primeira 
favela brasileira, o Morro da Providência, genericamente o Morro da Favela. A 
demolição dos cortiços gerou um problema para a população pobre, pois muitas 
famílias simplesmente não tinham mais moradia (CARVALHO, 1987). 
Outro grupo descontente com os rumos do governo era a juventude 
militar. A República tinha sido efetivada através de um golpe no qual os jovens 
oficiais tiveram grande destaque. Porém, já se passavam dez anos de uma sucessão 
de governos comandados por civis. Os jovens militares que eram alunos da 
Academia Militar da Praia Vermelha, muitos deles simpatizantes do Positivismo 
de Augusto Comte, pensavam que deveriam tomar providências. 
O líder máximo das reformas da salubridade da cidade do Rio de Janeiro 
foi o médico sanitarista Oswaldo Cruz, um paulista de Ribeirão Preto e que se 
formou na Europa. Entre as polêmicas medidas adotadas estava a obrigatoriedade 
da vacinação contra a malária. Este ato foi duramente criticado pelos dois grupos 
sociais descontentes com o governo de então. A população pobre e os militares 
positivistas.
FIGURA 12 - OSWALDO CRUZ
FONTE: Disponível em: <ww.fiocruz.br/>. Acesso em: 20 ago. 2015.
A população pobre, descontente com as reformas urbanas feitas pelos 
agentes públicos de modo arbitrário e desrespeitoso, não possuía garantia de 
que sua integridade física seria respeitada pelos agentes do Estado. O medo 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
51
plausível de desrespeito à privacidade e intimidade dos homens, das mulheres 
e crianças a serem vacinadas. Os positivistas civis e militares eram contrários a 
uma intromissão do Estado na vida íntima das pessoas, pois o corpo humano, na 
visão deles, não era um objeto a ser desmerecido em sua dignidade e integridade 
pelos agentes governamentais. 
Na madrugada do dia 14 para o dia 15 de novembro de 1904, quando se 
comemoraria o aniversário de 15 anos da proclamação da República, o General 
Travassos, comandando os alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, partiu 
armado para o centro da cidade, a fim de conquistar o Palácio do Catete, então 
sede do governo republicano. A revolta militar foi duramente sufocada. Lauro 
Sodré, um dos líderes militares, foi preso, assim como todos os cadetes. O General 
Travassos foi morto na Rua da Passagem, no bairro de Botafogo. A Academia 
Militar foi fechada e transferida para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. 
Mesmo com um fim trágico, a revolta foi em parte vitoriosa, pois até hoje 
as campanhas de vacinação em massa são facultativas. Todavia, não se pode 
pensar a Revolta da Vacina como uma luta contra a vacinação. Mas sim uma 
revolta que mostrou a insatisfação de vários setores da população da capital 
federal com relação ao elitismo e preconceito que caracterizaram grande parte 
das ações políticas do Brasil durante a Velha República. 
As relações sociais no Brasil também se relacionam às causas dos 
trabalhadores urbanos. Em especial, o Movimento Sindicalista. O fim da escravidão 
possibilitou a liberação de capitais, antes concentrados no tráfico humano, em 
novas atividades produtivas. Com isto, temos na Primeira República alguns surtos 
industriais. Ao mesmo tempo, temos um início dos movimentos de trabalhadores 
do Brasil. Em geral, os movimentos eram localizados em associações sindicais, 
que reivindicavam a ampliação de direitos e a melhora da qualidade de vida dos 
trabalhadores e suas famílias (CARONE, 1984). 
As grandes cidades brasileiras no final do século XIX e nas primeiras 
décadas do século XX viveram o início de um processo de industrialização que 
aumentou após a Revolução de 1930. As indústrias brasileiras eram em geral 
vinculadas a industriais que vieram para o Brasil. Entre os principais funcionários 
das emergentes empresas brasileiras, podemos destacar dois grupos. 
Um primeiro grupo era formado pelos imigrantes, que compunham 
grande parte do contingente do proletariado urbano da República Velha. Italianos, 
mais especificamente lembrados, atuavam nas indústrias têxteis de São Paulo. 
Também os portugueses, espanhóis e alemães atuaram como funcionários fabris. 
Outro grupo, igualmente importante, foram os funcionários brasileiros. Em 
grande parte, temos um grande número de trabalhadores urbanos ex-escravos, 
além de migrantes de várias regiões que buscavam nas grandes cidades melhores 
condições de vida. 
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UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
Algumas organizações existiam visando lutar por direitos para os 
trabalhadores. Em 1906 foi fundada uma Confederação Operária Brasileira. 
Alguns sindicatos eram organizados. Porém, não eram reconhecidos por lei. 
As greves eram um dos principais modos de luta por melhores salários 
e condições de vida. A principal greve que ocorreu na República Velha foi a 
afamada Greve Geral de 1917, quando as principais cidades brasileiras pararam, 
devido à luta dos trabalhadores por melhores condições sociais. A greve ocorreu 
em diversas cidades brasileiras em julho de 1917. 
FIGURA 13 - LEMAD USP – OPERÁRIOS PAULISTAS NA GREVE GERAL DE 1917
FONTE: Disponível em: <www.lemad.usp.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
As motivações para as ações de paralisação do trabalho eram as duras 
condições de vida do proletariado urbano brasileiro na Primeira República. 
Os salários eram baixos, e não havia regras e legislação que indicassem uma 
regulamentação mais atenta para as ações de proteção ao trabalhador em caso 
de doença ou velhice. Não havendo regulação, muitos funcionários trabalhavam 
numa jornada diária maior que 12 horas, e muitas vezes era explorado o trabalho 
feminino e infantil, em jornadas estafantes (BATALHA, 1992). 
A condição do operariado fabril era uma preocupação não apenas 
brasileira, mas reconhecida em nível mundial. Tal repercussão pode ser medida 
pelo fato de que o Papa Leão XIII, em 1891, lança a Encíclica Rerum Novarum, 
indicando para a Igreja Católica Apostólica Romana em todo o mundo a 
preocupação que os cristãos deveriam ter em relação aos trabalhadores e suas 
famílias. Esta iniciativa repercutiu no Brasil, com a instituição de obras de 
caridade e associações humanitárias. 
Além do catolicismo, outras duas ideologias são importantes para a 
compreensão da causa operária no Brasil: o anarquismo e o comunismo. 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
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O anarquismo foi uma das principais ideologias surgidas no século 
XIX, e que se relacionava com as críticas de intelectuais como Pierre-Joseph 
Proudhon e Mikhail Bakunin ao sistema econômico capitalista. Muitos dos 
sindicalistas brasileiros da Velha República, tanto os imigrantes italianos quanto 
os operários brasileiros, eram vinculados ao denominado anarcossindicalismo. 
O anarcossindicalismo, por sua vez, foi no Brasil um precursor de um outro e 
importante movimento, o comunismo. 
O comunismo surge na Europa, em geral vinculado à chamada Comuna 
de Paris, um movimento proletário. Também ganha corpo com a divulgação do 
Manifesto do Partido Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, em 
1848. No mesmo ano de 1917, no qual o Brasil viveu uma greve geral, a Rússia 
fez uma revolução liderada por Lênin, que se propôs a colocar em prática o ideal 
comunista. No Brasil, o Partido Comunista Brasileiro foi fundado por operários 
em 1922, reunidos na cidade de Niterói, capital do Estado do Rio de Janeiro. 
O partido foi colocado na ilegalidade pelo presidente Epitácio Pessoa. Porém, 
em 1927 recuperou sua legalidade, e conseguiu liderar o denominado BOC-
Bloco Operário Camponês, que elegeu representantes de esquerda na Câmara 
Municipaldo então Distrito Federal (Rio de Janeiro). O “partidão”, como era 
alcunhado, teve como principal militante nos primeiros anos o líder Astrogildo 
Pereira. Porém, o maior líder comunista brasileiro foi Luís Carlos Prestes, que era 
militar e teve sua carreira política iniciada no Movimento Tenentista. 
4 OS MOVIMENTOS MILITARES: A REVOLTA DA CHIBATA E O 
TENENTISMO
Uma revolta que aconteceu no Rio de Janeiro na primeira década do 
século XX foi a Revolta da Chibata. Ocorrida em 1910 e que teve como principal 
líder o marinheiro João Cândido. Esta revolta pode ser explicada a partir de 
questões internas da Marinha de Guerra, além de questões sociais que envolviam 
o recrutamento para a Armada. 
Do ponto e vista social, a Marinha republicana herdou dos tempos 
imperiais um oficialato de origem e ethos aristocrático. Enquanto os oficiais eram 
recrutados entre as famílias de elite da população, os praças eram recrutados 
entre os filhos das famílias pobres. Este verdadeiro fosso social, que na época 
do Império era legitimado pela escravidão, perde sua legitimidade social com o 
advento da República, na qual todos eram considerados cidadãos iguais perante 
as leis. Assim, um ser humano não poderia mais ser açoitado como escravos de 
algum senhor. Porém, no interior dos navios da Marinha, as relações humanas se 
processavam de forma diferente, sendo que as conquistas sociais da população 
pobre urbana ainda não tinham virado uma realidade nos estatutos legais da 
Armada. 
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UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
FIGURA 14 - O MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO
FONTE: Disponível em: <www.museuafrobrasil.org.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
Alguns direitos fundamentais da pessoa humana, como se casar e votar, 
eram restringidos à marujada. Marinheiros e cabos eram proibidos de contrair 
matrimônio e cumprir as funções eleitorais. Além disto, castigos físicos aos 
marinheiros insubordinados ou indisciplinados eram considerados legítimos 
perante a lei. 
A Marinha Imperial utilizava muitos navios propelidos à vela. Em 1904 
foram adquiridos os encouraçados São Paulo e Minas Gerais, da Inglaterra. Os 
navios possuíam armadura de aço e grande poder de fogo, com canhões potentes. 
A técnica naval teve de ser aprimorada para a vida a bordo. Todavia, se os 
conhecimentos técnicos dos marinheiros melhoraram, as condições de vida no 
interior das embarcações não se alteraram. Os castigos físicos continuavam a ser 
utilizados como meio de punição (NASCIMENTO, 2008). 
O estopim da revolta ocorreu pela excessiva punição física a um 
marinheiro insubmisso. As tripulações tomaram o comando das naves, matando 
ou jogando oficiais no mar. João Cândido, um dos principais líderes da revolta, 
endereçou uma carta ao presidente Marechal Hermes da Fonseca, exigindo o 
fim dos castigos físicos e o aumento da instrução dos marujos da Armada. O 
presidente aceitou, em princípio, as reivindicações, e as ameaças dos marujos em 
bombardear a cidade não foram cumpridas. Todavia, o marechal volta atrás em 
sua decisão, prendendo os marujos revoltosos. Muitos morreram na chamada 
Ilha das Cobras, situada na Baía da Guanabara. Os sobreviventes, incluindo João 
Cândido, cognominado Almirante Negro, foram degredados no Acre (MOREL, 
2009). 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
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FIGURA 14 - O MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO A tortura, através das chibatadas, continuou na Marinha após a Revolta 
da Chibata ter sido sufocada. Somente a partir dos anos 1920, com a contratação 
de uma missão naval norte-americana, que instituiu práticas de educação física, a 
Marinha do Brasil, paulatinamente, abandona os castigos físicos. 
UNI
A Revolta da Chibata foi tema de um interessante livro, da autoria de Edmar 
Morel. Como também um samba, composto por Aldir Blanc e João Bosco, de nome Mestre 
Sala dos Mares. Vale apena ler e ouvir!
Entre os vários movimentos sociais da Primeira República, um que ganhou 
grande destaque foi o tenentismo. O nome tenentismo é oriundo do posto da 
maior parte de seus adeptos: tenentes do Exército brasileiro. O tenentismo foi um 
dos principais movimentos sociais da História do Brasil. O seu início ocorreu em 
5 de julho de 1922, quando o Forte de Copacabana se sublevou. Em vista da ação 
de reação das tropas fiéis ao governo Arthur Bernardes, apenas 18 homens em 
armas se mantêm no forte, e marcham pela praia, sendo alvejados pelas armas 
governamentais. Apenas dois homens sobreviveram. Eduardo Gomes (que se 
tornou, anos após o episódio, Brigadeiro da Aeronáutica) e Siqueira Campos (que 
morreu em 1930 no Uruguai). 
A razão para a sublevação do Forte de Copacabana foi o fechamento do 
Clube Militar e a prisão do seu presidente, Marechal Hermes da Fonseca. Tal 
episódio ocorreu devido às críticas que militares faziam aos destinos dos governos 
da República Velha. Existia uma grande insatisfação entre os jovens oficiais do 
Exército brasileiro (cadetes, aspirantes, tenentes e capitães) com os rumos do país 
e da força militar nacional (PRESTES, 1997). 
A insatisfação com os destinos do país era em grande parte devido ao 
corrompido sistema político brasileiro, que estava em grande parte ligado à 
estrutura das eleições “a bico-de-pena”. Isto é, eleições pelas quais o voto não era 
secreto, e cujos eleitores poderiam ser coagidos a votar em candidatos devido à 
coerção física, exercida pelos jagunços armados a mando dos coronéis. Assim, a 
desilusão dos jovens oficiais com as altas patentes militares ocorre pela conivência 
das mesmas com as fraudes eleitorais, com a corrupção e os desmandos feitos 
pelas elites políticas dos anos 1920 (SODRÉ, 1965). 
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UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
FIGURA 15 - OS DEZOITO DO FORTE
FONTE: Disponível em: <www.ahimtb.org.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
Em 1924, dois movimentos militares eclodiram no Brasil. Um em São Paulo, 
liderado por Eduardo Gomes, que sitiou a capital paulista, em rebeldia contra o 
governo da Velha República. Também por esta época, o Batalhão Ferroviário de 
Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, se revolta, com o comando de Luís Carlos 
Prestes. Porém, ambos os movimentos foram derrotados. Os mesmos se retiram 
para o interior do país. E, ao se encontrarem em Foz do Iguaçu, iniciam a coluna 
Miguel Costa-Luís Carlos Prestes, que percorre todo o Brasil com grande prova 
de coragem, sendo constantemente perseguidos, porém não foram vencidos. 
Todavia, cansados, os combatentes se retiram para a Bolívia, posteriormente 
migrando para o exílio em Buenos Aires e Montevidéu. Muitos dos antigos líderes 
tenentistas irão aderir à Revolução de 1930. Luís Carlos Prestes foi a grande 
exceção, não aderindo ao movimento que derrubou a República Velha, mas sim 
adentrando nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro. 
UNI
Um filme que retrata de modo crítico os desdobramentos do movimento 
tenentista dos anos 1920 é “O País dos Tenentes”, do cineasta João Batista de Andrade. O 
enredo, que é uma ficção com base histórica, busca narrar os 60 anos de política brasileira, 
iniciando no movimento tenentista e terminando com o fim da ditadura militar nos anos 
1980.
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
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FIGURA 15 - OS DEZOITO DO FORTE
FONTE: Disponível em: <www.ahimtb.org.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
5 CANGAÇO E SUFRAGISMO: OS MOVIMENTOS SOCIAIS 
“POUCO LEMBRADOS”
O cangaço foi uma das principais formas de banditismo social que existiu 
no interior do Nordeste brasileiro durante os anos da chamada República Velha. 
Esta forma de banditismo teve nas figuras emblemáticas de Lampião e de sua 
esposa Maria Bonita as principais personagens. Outros dois personagens principais 
do cangaço formavam outro bando, comandado por Corisco e sua esposa Dadá. 
Estes bandos armados assaltavam as fazendas dos coronéis, espalhando terror 
pela população dos sertões nordestinos.Ao mesmo tempo, o cangaço foi uma 
espécie de síntese de diversos problemas que afligiam a população nordestina. 
Os governos estaduais, sob o comando de famílias de coronéis, organizaram as 
chamadas volantes, que eram expedições de militares das polícias estaduais que 
tinham como missão perseguir os cangaceiros.
FIGURA 16 - LAMPIÃO E MARIA BONITA
FONTE: Disponível em: <www.eunapolis.ifba.edu.br>. Acesso em: 20 ago. 2015.
Este sistema de banditismo de cunho social, às vezes, é interpretado de 
uma forma romântica, como se os cangaceiros fossem uma espécie de Robin 
Hood sertanejo. Por vezes, outro radicalismo na compreensão do cangaço 
enquanto movimento social é a interpretação que considera o cangaceiro apenas 
um marginal que mereceria a morte e o esquecimento por parte dos historiadores. 
Todavia, as dinâmicas da realidade nacional são mais difusas e complexas que as 
simplificações ou meros radicalismos (QUEIRÓZ, 1997). 
Os cangaceiros fizeram parte da dinâmica de poder dos coronéis. Pois, o 
medo que o cangaço gerava garantia a obediência dos populares aos padrinhos 
coronéis. Quando a Coluna Miguel Costa–Luís Carlos Prestes se embrenhou pelo 
sertão nordestino, os fazendeiros apoiaram a decisão de considerar Lampião 
capitão do Exército brasileiro para lutar contra a Coluna Prestes. Todavia, esta 
58
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
relação de subordinação do cangaço ao coronelismo não foi total, pois as fazendas 
dos coronéis eram os principais alvos dos cangaceiros. 
O cangaço terminou devido a uma forte ação governamental. Lampião 
foi preso e executado, sendo decapitado. Sua cabeça foi levada para a Faculdade 
de Medicina da Bahia (a primeira do Brasil) para que fosse estudada. Naquela 
instituição era corrente a influência de uma técnica inventada pelo médico italiano 
Lombroso. Este especialista afirmava que algumas características físicas eram as 
responsáveis por definir quem tinha maior potencial criminoso. Em especial, a 
medição dos crânios dos criminosos era considerada fonte segura para os estudos 
de criminologia. Nina Rodrigues, médico baiano, foi o principal divulgador das 
ideias de Lombroso no Brasil e seus discípulos na cátedra universitária foram os 
responsáveis por estudar as características físicas de Lampião. 
Porém, os cientistas sociais, na sua maioria, não estão de acordo com as 
teorias de Nina Rodrigues ou Lombroso. Em grande parte, os sociólogos enxergam 
como causas do cangaço a exclusão social que afligia grande parte das populações 
do interior nordestino. Os altos índices de analfabetismo, mortalidade infantil e 
dificuldades no acesso à terra para a produção agrícola são os principais fatores 
explicativos. Além da extrema violência a que as populações eram submetidas ao 
jugo dos coronéis (HOBSBAWM, 1976). 
Atualmente, alguns órgãos de cultura ou mesmo instituições ligadas 
ao turismo buscam criar uma verdadeira mitologia em relação ao cangaço, 
transformando a figura de Virgulino Lampião e seu bando em heróis. Esta 
possibilidade de invenção de tradições deve ser vista com muito cuidado, pois 
não eram os cangaceiros considerados benfeitores pela sociedade no tempo 
em que o cangaço existiu. A cautela e a recusa em se ter uma visão apressada e 
inconsequente deste movimento social importante é o fator que guia as análises 
mais recentes dos especialistas das universidades nordestinas que pesquisam o 
tema. 
Entre os movimentos sociais da Primeira República, um dos menos 
abordados (praticamente esquecido nos livros didáticos) foi o movimento 
sufragista. O termo sufragismo se refere ao sufrágio, isto é, as eleições, e pode ser 
considerado um dos primeiros movimentos sociais que reivindicavam direitos 
para as mulheres no mundo ocidental nas primeiras décadas do século XX. Pois a 
luta das sufragistas nos países ocidentais foi a luta pelo direito ao voto feminino, 
até então proibido no Brasil pela Constituição Republicana de 1891. Esta garantia 
direito ao voto aos cidadãos maiores de 21 anos de idade e alfabetizados. Todavia, 
as mulheres e militares de baixa patente (cabos e soldados) eram excluídos do 
direito de influir nos destinos políticos do Brasil.
Entre as principais líderes do movimento está o nome da bióloga Bertha 
Lutz. Em 1919 ela foi a fundadora da Liga para a Emancipação Intelectual 
Feminina. O direito a estudar e ter diploma de nível superior em certas áreas, como 
o Direito, a Medicina e a Engenharia, era restrito aos rapazes. Para as mulheres 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA REPÚBLICA VELHA
59
eram reservadas algumas profissões de Ensino Superior, como enfermeiras e, 
principalmente, professoras. A ação de algumas mulheres, em especial de classe 
média e alta, era a de poder obter diplomas de qualquer área de atuação. Em 
1922, no ano em que o Brasil comemorou o centenário de sua independência, 
a Liga para a Emancipação Intelectual Feminina se transformou na Federação 
Brasileira pelo Progresso Feminino. Esta instituição foi uma das responsáveis 
pela conquista do voto feminino no Brasil (ALVES, 1980). 
A primeira brasileira a conseguir o status político de ser eleita prefeita 
de um município foi a potiguar Alzira Soriano, que no ano de 1929 foi eleita 
prefeita da cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte. Porém, durante a maior 
parte da República Velha, a mulher foi excluída do direito ao voto. Somente 
após a Revolução de 1930 a mulher foi possibilitada de votar. Em 1932, no dia 
24 de fevereiro, o voto feminino foi regularizado em todo o Brasil. Observa-se 
pelas datas que, antes mesmo da regularização definitiva, já havia mulheres que 
conseguiram este direito de modo individualizado. 
A ação das mulheres na busca por direitos, intentando construir um estilo 
de vida independente da tutela masculina representada pelo pai ou pelo marido, 
constituiu uma ação com grande influência externa, principalmente estadunidense 
e francesa. Todavia, o voto feminino no Brasil chegou anteriormente que nas 
regiões europeias. Em 1932 ele foi regularizado. Na França, apenas na década de 
1940. 
60
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você pôde observar que: 
• O Brasil, durante a República Velha, foi palco de diversos eventos sociais 
que demonstravam a insatisfação da população com os rumos do regime 
republicano. 
• A Revolta de Canudos ocorreu no sertão baiano, liderada pelo beato Antônio 
Conselheiro. Com causas sociais, era revestida de ideias messiânicas. 
• A Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro, teve como estopim o desrespeito 
à liberdade individual do cidadão, sendo a vacinação obrigatória. 
• A Revolta da Chibata, que teve como principal líder o marinheiro João Cândido, 
buscou abolir os castigos físicos na Marinha de Guerra. 
• A Guerra do Contestado tinha como principal motivação o abuso do poder 
econômico por parte de uma multinacional estadunidense. Todavia, foi 
compreendida pelos sertanejos como ligada a ideias messiânicas, assim como 
Canudos. 
• O movimento sufragista lutava pelo direito do voto feminino. 
• O tenentismo foi um movimento liderado por jovens oficiais do Exército, 
descontentes com os rumos da República Velha. 
• A classe trabalhadora teve sua organização ligada ao anarcossindicalismo e, 
posteriormente, ao comunismo. 
61
Questão única: A República no Brasil surgiu de um golpe militar e teve nos 
generais e nos produtores rurais os principais responsáveis pelo poder. Deste 
modo, a representação popular era pequena entre os “donos do poder”. Assim 
compreendendo, como podemos explicar a relação dos governos republicanos 
com as diferentes reivindicações sociais do Brasil da Primeira República? 
AUTOATIVIDADE
62
63
TÓPICO 4
O PANORAMA CULTURAL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A história das atividades culturais é a mais interessante de ser estudada. 
Isto porque revelao que de mais sublime existe entre os seres humanos: seus 
sentimentos, seus sonhos, suas emoções e ambições. Assim compreendendo, 
neste tópico iremos contemplar vários aspectos relativos à vida cultural do 
Brasil no último decênio do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. 
Observaremos o campo educacional, as sensibilidades religiosas e as mais 
diversas formas de expressão artística. 
As artes e demais representações podem ter várias divisões. Neste texto, 
por questões didáticas, dividimos a história das artes no Brasil em Cultura Popular, 
Cultura Erudita e Cultura de Massa. Tal divisão não remete a estereótipos ou 
preconceitos, mas apenas a uma forma de classificar as manifestações, de modo 
a serem pedagogicamente entendidas. O panorama da cultura na República 
Velha é vasto e ao mesmo tempo profundo. Um marco é o ano de 1922, pois o 
modernismo alterou os paradigmas que se relacionavam às artes no Brasil de 
um modo extraordinário. Não apenas nas artes, como na autocompreensão do 
brasileiro sobre si mesmo, a Semana de Arte Moderna é um importante marco 
das artes e do pensamento brasileiro. Porém, muito do que foi produzido pelos 
intelectuais brasileiros era de consumo restrito, pois, como veremos, ainda 
tínhamos uma população majoritariamente analfabeta. 
2 A EDUCAÇÃO E A CULTURA ERUDITA NA PRIMEIRA 
REPÚBLICA
A educação na Primeira República não causou grandes alterações ao 
panorama educacional que o país vivia no Segundo Reinado. Uma parcela 
considerável e significativa da população era analfabeta, sendo a incapacidade 
de ler e escrever um dos principais problemas sociais do Brasil nas primeiras 
décadas de período republicano. As escolas de Ensino Superior foram ampliadas 
na República. Alguns exemplos são a criação da Escola de Formação de Oficiais 
da Marinha Mercante em Belém do Pará, além da criação de escolas de Medicina, 
Engenharia e Direito nas principais capitais estaduais. O Colégio D. Pedro II, 
do Rio de Janeiro, continuava a ser o principal educandário do Ensino Médio, 
sendo a escola padrão do ensino brasileiro. Outra medida foi a criação de escolas 
técnicas, como o Liceu de Artes e Ofícios, na capital paulista, assim como demais 
escolas de ensino profissional nas capitais dos estados. 
64
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
Porém, o acesso à educação no Brasil das primeiras décadas do século 
XX era deficitário, sendo a maior parte da juventude excluída do ensino técnico 
e superior, ainda destinado às elites e às camadas médias da população urbana 
(TEIXEIRA, 1971). No Brasil daquele período eram inexistentes as universidades. 
Mesmo com a existência de escolas de Ensino Superior (faculdades, como a de 
Direito de Olinda ou de São Paulo), grande parte da elite estudava no exterior, mais 
notadamente em países europeus. Assim como também era comum a presença de 
profissionais estrangeiros, com título universitário, trabalhando no Brasil, devido 
à escassez de mão de obra brasileira com título de educação superior. Apesar da 
pouca escolaridade da maior parte da população, o Brasil conseguiu produzir 
arte de altíssimo gosto e requinte. 
As expressões artísticas ligadas às chamadas belas artes, como a música 
clássica ou a escultura e pintura, estavam, no início da República, ainda vinculadas 
aos primores estéticos e às instituições ligadas ao Segundo Reinado. Porém, com 
algumas novidades, como a formação de instituições culturais, como a fundação 
da Academia Brasileira de Letras, processo liderado por Machado de Assis, em 
1905, além da construção de grandes teatros. 
Durante as primeiras décadas do século XX, o Brasil foi brindado com 
a construção de belíssimos teatros municipais, que possibilitaram a muitos 
brasileiros um contato mais íntimo com o balé, a ópera e a música sinfônica. 
Alguns exemplos destes grandes teatros foram o Teatro Manaus, em grande parte 
vinculado à elite da borracha, assim como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro e 
o Teatro Municipal de São Paulo. 
O nome principal da música brasileira do final do século XIX foi Carlos 
Gomes. Da sua grande obra como compositor se destacaram duas óperas: O 
Guarani e O Escravo. Carlos Gomes era natural da cidade de Campinas, no 
interior paulista. Morto em 1900, foi sucedido como representante da música 
brasileira por Alberto Nepomuceno, grande maestro brasileiro, autor de belas 
sinfonias. Outro grande músico foi o pianista Brasílio Itiberê, autor de belas obras 
musicais. Todavia, estes artistas são pouco reconhecidos pelas novas gerações. 
A grande inovação artística no campo da música erudita ocorreu com o nome 
de Heitor Villa-Lobos, que não teve um rápido reconhecimento de seu talento 
artístico. 
A literatura da Primeira República foi um dos pontos altos da produção 
artística brasileira. Podemos citar o nome de Machado de Assis, arguto observador 
da vida urbana da capital republicana nos primeiros anos do novo regime político. 
Líder fundador da Academia Brasileira de Letras, seus importantes romances, como 
Dom Casmurro, são símbolos da literatura brasileira até a atualidade. Também 
podemos citar outros nomes, como Raul Pompeia, autor de O Ateneu, além de 
Lima Barreto, autor do clássico Triste Fim de Policarpo Quaresma (CÂNDIDO, 
2004). 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL
65
Além dos romancistas, podemos citar a poesia como um dos focos 
de expressão artística do Brasil das primeiras décadas republicanas. Entre os 
poetas, podemos citar Cruz e Sousa, que pertencia ao denominado Movimento 
Simbolista. Porém, foi o Parnasianismo o principal movimento entre os poetas 
brasileiros, no qual se destacaram Raimundo Correa e Olavo Bilac. Olavo Bilac foi 
o “Príncipe dos poetas parnasianos”, sendo a sua produção poética considerada 
de elevada qualidade artística e primor estético. Todavia, a arte produzida pelos 
parnasianos fora duramente criticada pelos adeptos do movimento modernista. 
Em 1922, o Brasil comemorou o centenário de sua Independência. Assim, 
teve-se por parte da intelectualidade brasileira uma grande reflexão sobre o 
que significava ser brasileiro. Concomitantemente, a intelectualidade brasileira 
era profundamente influenciada pelas correntes estéticas e artísticas europeias, 
que estavam vivendo momentos de vanguardas artísticas, como o futurismo e o 
dadaísmo, que por sua vez eram críticas aos horrores vivenciados pela sociedade 
ocidental durante a Primeira Guerra Mundial. Assim, podemos compreender 
que uma nova geração de artistas estava sendo protagonista das transformações 
estéticas na arte brasileira, em grande parte valorizando aspectos da cultura 
popular. 
Estes novos artistas se reuniram na semana do dia 11 ao 18 de fevereiro de 
1922 no Teatro Municipal de São Paulo, apresentando para o público da capital do 
Estado as novidades artístico-culturais. Uma das principais discussões era saber 
o que era ser brasileiro. Assim, um dos lemas era uma paráfrase da célebre frase 
de Willian Shakespeare, “To be or not to be: that is the question” (Ser ou não ser, 
eis a questão) para Tupi or not Tupi: that is the question. (Tupi ou não tupi? Eis a 
questão). Tal pergunta revela o caráter nacionalista destes artistas (BOSI, 1997). 
Vários intelectuais participaram da semana. Dentre estes, podemos destacar 
Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Mário de Andrade foi um importante 
literato, autor de Macunaíma, romance no qual é apresentado o brasileiro como 
um anti-herói, vinculado a uma ideia de um personagem sem caráter. Oswald de 
Andrade pode ser considerado um dos maiores intelectuais a pensar a relação entre 
o que é ser brasileiro. Em seu Manifesto Antropofágico apresentava que o brasileiro 
deveria ser, do ponto de vista cultural, como os indígenas tupinambás, que eram 
canibais... isto é, ao invés do brasileiro se opor às influências da arte europeia, 
deveria adaptar a arte estrangeira, deglutindo-a.Além deste manifesto, podemos 
lembrar o Manifesto Pau-Brasil, o Verde-amarelismo e o Manifesto da Anta, como 
formas de expressão dos ideais modernistas. 
Nas artes plásticas, entre os modernistas, podemos considerar importantes 
artistas, como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Tarsila do 
Amaral. Uma das principais características destes artistas era a de não seguir 
os padrões estéticos estabelecidos na Renascença, mas sim, pintando de forma 
estilizada. Os pintores modernistas se caracterizaram por pintar a vida brasileira, 
isto é, cenas do cotidiano, como as pinturas abaixo demonstram. 
66
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
FIGURA 17 - RETRATO DE MINHA MULHER – DI CAVALCANTI 
FIGURA 18: OS OPERÁRIOS - TARSILA DO AMARAL 
FONTES:Disponível em: <www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/1024/201145.pdf>. 
Acesso em: 20 ago. 2015. 
FONTES: Disponível em: <www.dicavalcanti.com.br>. Acesso em: 
20 ago. 2015. 
Na música, o grande autor modernista brasileiro foi Heitor Villa-Lobos. 
Autor de clássicos da música erudita brasileira, como O Trenzinho do Caipira e As 
bachianas brasileiras. Seu grande legado cultural foi retirar o violão, instrumento 
mais utilizado pelos músicos populares brasileiros, do ostracismo e do preconceito 
que antes possuía. Villa-Lobos compôs diversas peças para o violão, como os 
estudos para Segóvia, os Choros de Câmara nº 1, além da Suíte Popular. 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL
67
Pode-se afirmar que com a Semana de Arte Moderna, a cultura erudita 
brasileira se encontra com a cultura popular. 
3 CULTURA POPULAR & CULTURA DE MASSA
A Cultura Popular no Brasil possuiu forte criatividade e importância. 
Muitas manifestações folclóricas são importantes para compreendermos o país, 
como o Boi Bumbá (também chamado em algumas regiões de Boi de Mamão), as 
cavalhadas, os folguedos como a Folia de Reis e demais manifestações culturais, 
que são o retrato da mistura de elementos ibéricos portugueses com as tradições 
africanas e indígenas. Observa-se, no século XIX, o desenvolvimento de uma 
cultura popular urbana, com a difusão de ritmos como a Modinha, o Lundu e o 
Chorinho (KIEFER, 1977). 
Muitas das manifestações culturais das mais diversas regiões brasileiras 
foram estudadas, ao longo do século XX, por diversos intelectuais, das mais 
variadas ciências humanas, com destaque para os antropólogos, sociólogos e 
historiadores. Porém, uma das principais características das expressões artísticas 
e culturais do início do século XX é a denominada Cultura de Massa ou Indústria 
Cultural. 
Uma das principais novidades em relação à arte no início do século XX 
foi o desenvolvimento do cinema. Inventado pelos irmãos Lumière, na França, 
a chegada do cinema ocorreu no Brasil nos primeiros anos do século XX. Nas 
principais cidades brasileiras, o cinema era uma das principais novidades. Muitas 
cidades formaram sua cinelândia, local no qual se concentravam as principais 
salas de exibição. O cinema mudo acompanhou quase toda a República Velha, pois 
o cinema falado só teve início em 1928, com o filme norte-americano “O cantor 
de jazz”. O cinema mudo dependia em grande parte da contratação de pianistas, 
que ditavam o ritmo musical do que era exibido nas telas. Assim, o cinema era um 
dos locais que empregavam grande parte dos pianistas profissionais das cidades 
brasileiras. Uma das músicas mais famosas do período, composta pelo pianista 
Ernesto Nazareth, tinha o nome de um cinema da então capital republicana: 
Odeon (TINHORÃO, 1998). 
Os músicos também eram empregados nos cafés dançantes, nos circos e 
nas bandas militares. Os músicos brasileiros do início do século XX compuseram 
obras artísticas de grande valor. Muitas das músicas europeias, como valsas, 
polcas e mazurcas, foram readaptadas pelos artistas brasileiros. Um dos ritmos 
que caracterizaram o período foi o “chorinho”. Artistas como Chiquinha Gonzaga, 
o pianista Ernesto Nazareth, além dos flautistas Antônio Calado e Pixinguinha, 
foram expoentes da cultura popular urbana, que miscigenavam ritmos negros 
com a cultura ibero-americana e europeia. 
A Casa Édison, do Rio de Janeiro, foi a primeira gravadora brasileira. Uma 
das primeiras gravações foi o Lundu “Isto é bom”, de Xisto Bahia e interpretado 
pelo cantor Baiano, em 1902. No início, tínhamos as gravações mecânicas, 
68
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
realizadas em discos de cera. As gravações possibilitaram que ritmos marginais 
fossem registrados. Um exemplo foi a gravação, em 1917, do Samba pelo telefone, 
da autoria de Donga. No final de República Velha tivemos a gravação da primeira 
música caipira, uma moda de viola cantada por Mariano e Caçula. Esta gravação 
contou com o apoio do principal mecenas da cultura do interior paulista, o 
senhor Cornélio Pires. Os ritmos nordestinos também ganharam destaque na 
Velha República, em especial o frevo, marca do carnaval pernambucano. Um 
importante nome da vida cultural da Primeira República foi Catulo da Paixão 
Cearense. Poeta que foi o compositor de um dos maiores sucessos da Música 
Popular Brasileira, o clássico “Luar do sertão”. 
A música popular sofria de grande preconceito por porte das autoridades 
públicas. Em especial, as instituições policiais. Muitos dos músicos, como Donga, 
Pixinguinha, João da Baiana, Sinhô e outros tantos que ficaram anônimos eram 
constantemente presos, classificados como vadios, por portarem instrumentos 
musicais como o violão, cavaquinho ou pandeiro. Em grande parte, pelo 
preconceito que havia em relação à descendência africana de grande parte dos 
músicos. Um retrato do preconceito contra as manifestações culturais negras foi 
a lei de capoeiragem. Isto é, após 1890, o jogo de capoeira era proibido por lei 
(TINHORÃO, 1998). 
Um retrato do preconceito contra a cultura brasileira pelas elites políticas 
da Primeira República foi o fato de quando Dona Nair de Teffé, esposa do Marechal 
Hermes, se apresentou no Palácio do Catete, a residência oficial da Chefia e 
Estado, executando uma peça de violão, o Corta Jaca, da autoria de Chiquinha 
Gonzaga. Tal fato gerou um protesto no Parlamento brasileiro, tendo Rui Barbosa 
afirmado que uma mulher ousava comparar Wagner (autor erudito alemão) a 
uma jaca. A postura de Rui Barbosa, exposta nos jornais, revela o quanto a música 
popular e a mulher eram estigmatizados no início da vida republicana brasileira. 
Entre os principais difusores da cultura letrada no Brasil do final do 
século XIX e das primeiras décadas do século XX estão os jornais. A imprensa 
escrita possuiu um papel de grande relevância no Brasil durante os séculos 
XIX e XX. Os órgãos de imprensa escrita no Brasil se iniciaram no princípio do 
século XIX. Podemos citar o nome de Hipólito José da Costa com seu jornal O 
Correio Brasiliense. Porém, durante a Primeira República, os dois principais jornais 
brasileiros eram o Jornal do Comércio e o jornal “O Paiz”. 
O Paiz era a maior folha de circulação diária de toda a América do Sul. 
Contava com grande número de assinantes pelo interior brasileiro. Nos anos 
1920, o jornal foi fechado, simbolizando o fim do ciclo de um tipo de imprensa 
que iniciou no Segundo Reinado e que findou na última década da Velha 
República. Por sua vez, o Jornal do Comércio ainda existe. Outro importante 
jornal que surgiu na Primeira República foi o Jornal do Brasil. Um importante 
órgão de imprensa durante todo o século XX, que surgiu como uma reação à 
República, ligado aos ideais monarquistas. Outros jornais, importantes veículos 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL
69
de comunicação do Brasil, na atualidade, foram fundados na República Velha e 
nos anos finais do Império. A Província de São Paulo, hoje denominado O Estado 
de São Paulo, A Folha de São Paulo e o jornal O Globo. Além da grandeimprensa, 
existiam diversos jornais nas capitais dos estados e nas várias cidades do interior. 
Os jornais locais eram, em geral, vinculados aos mandatários políticos (SODRÉ, 
1966). 
Os jornais foram um palco das principais lutas políticas e ideológicas do 
Brasil na transição do Império para a República. As campanhas abolicionista e 
republicana tiveram nas páginas dos jornais suas armas de luta. 
Uma das novidades da República Velha foi a popularidade dos esportes 
entre os jovens, tanto entre os rapazes da elite, quanto aqueles pertencentes 
às camadas populares. Os desportos modernos foram em grande parte 
desenvolvidos na segunda metade do século XIX em países de língua inglesa. No 
Brasil da República Velha, dois desportos foram destaques: o remo e o futebol. 
Todavia, o desporto náutico possuía maior prestígio e um maior número de 
adeptos. Na maior parte das cidades brasileiras, eram populares os clubes de 
regatas, como o Clube do Remo, em Belém do Pará, o Clube Náutico Capiberibe, 
em Recife. Na então capital da República, o Rio de Janeiro, eram presentes clubes 
de regatas, como o Botafogo, Flamengo, Vasco e Guanabara. Também no início 
do século, o futebol chega ao Brasil. Um dos primeiros entusiastas do novo 
esporte foi o paulista Charles Müller, que trouxe a primeira bola de futebol para 
o país. No início era um esporte destinado apenas às elites, porém, a população 
empobrecida das cidades também teve interesse no novo esporte, a ponto de os 
negros se tornarem os principais futebolistas brasileiros (FILHO, 2003). 
O Barão de Cobertain reelaborou as olimpíadas, cujos primeiros jogos 
foram realizados em Atenas no ano de 1896. Porém, o Brasil mandou representação 
apenas nas Olimpíadas de Antuérpia, na Bélgica, em 1920, sendo que alcançou 
três medalhas no tiro desportivo. Também participou das edições de 1924 e 1928. 
Na República Velha foram fundados o COI – Comitê Olímpico Brasileiro e a CDB 
– Confederação Brasileira de Desportos. 
Os esportes ganharam uma grande relevância na vida urbana brasileira. 
Porém, durante toda a República Velha não existia no Brasil a figura do 
esporte profissional. Assim, jogadores de futebol e atletas olímpicos não eram 
remunerados por suas atuações desportivas. 
O rádio foi uma das invenções do período de progresso econômico da 
Segunda Revolução Industrial. Teve como um de seus inventores o italiano Marconi. 
Entre os pioneiros do invento está também o padre brasileiro Roberto Landell de 
Moura. Oficialmente, o rádio surgiu no Brasil no contexto das comemorações do 
Centenário da Independência, em 1922, e de uma forma experimental. Porém, foi 
um ano depois, em 1923, que começaram as transmissões diárias. O pioneirismo 
da radiodifusão no Brasil se deve à figura do intelectual carioca Roquete Pinto. Este 
70
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
compreendia o rádio como tendo uma função educativa. Por isso, na República 
Velha, eram proibidas as propagandas comerciais nos rádios. Além das músicas 
veiculadas serem, em sua maioria, eruditas.
Um dos destaques da vida cultural brasileira da primeira metade do 
século XX era o Teatro de Revista. Um tipo de peça teatral caracterizada pela 
presença de moças belas e jovens, com muita música e textos que, de uma forma 
muito bem-humorada, realizavam uma sátira dos costumes e uma crítica da 
realidade social, política e econômica nacional. Outra figura social importante 
da belle époque (isto é, a passagem do século XIX para o XX) eram os cafés. As 
cafeterias eram um ponto de encontro de intelectuais, profissionais liberais, assim 
como um programa para as famílias. Um dos mais afamados cafés brasileiros era 
a Confeitaria Colombo, existente no Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor, uma das 
principais ruas comerciais do Brasil no início do século XX. Além destes espaços 
de entretenimento, os botequins eram espaços públicos de frequência popular. 
Sendo muitos deles localizados nas regiões centrais das cidades brasileiras, a 
frequência aos mesmos, além do consumo de algumas bebidas, como a cachaça 
e a cerveja, eram parte integrante do universo social masculino, assim como a 
presença nos cabarés (CHALHOUB, 2001). 
4 O CAMPO RELIGIOSO NO BRASIL DA PRIMEIRA REPÚBLICA
A República estabeleceu uma novidade no campo religioso brasileiro. 
Isto porque o Estado se tornou laico com a Constituição republicana de 1891. 
Algo que possibilitou uma radical transformação nas relações sociais, pois, desde 
os tempos coloniais, a Igreja Católica era a religião oficial do Brasil. No Império, 
alemães luteranos, assim como ingleses anglicanos, tiveram a liberdade de culto, 
porém, acompanhado da proibição de fazer proselitismo religioso. Todavia, o 
catolicismo continuava como a religião do Estado, a ponto de grande parte da 
legislação civil se relacionar com as diretrizes da Igreja Romana. Porém, no 
mundo ocidental, foi amadurecendo a ideia de que o Estado e a religião deveriam 
ser separados. 
A ideia de Estado laico, segundo os sociólogos Raymond Aron (ARON, 
2002) e Antônio Flávio Pierucci (PIERUCCI, 2006), surgiu no mundo ocidental 
como uma consequência das guerras de religião, instituídas na Europa Ocidental 
após a Reforma Protestante. Tal perspectiva teve presença na chamada Paz de 
Vestfália (os acordos políticos do século XVII), que culminou com o fim das 
guerras entre católicos e protestantes na Europa Ocidental. Posteriormente, o 
Iluminismo possibilitou um arcabouço teórico maior para as ideias de Estado 
laico. Livros como O tratado da Tolerância, de Voltaire, ou Imanuel Kant, em livros 
como A Religião nos Limites da Simples Razão, apresentavam uma ideia contrária 
à determinação de que “A religião do Rei era a Religião do Povo” (cujus ejus ejus 
religio). Um Estado laico, portanto, não é um Estado ateu, mas sim um Estado que 
respeita a diversidade religiosa. No Brasil, o Estado passou a ser laico no final 
do século XIX, sendo a medida adotada na Constituição Republicana de 1891, e 
mantida até o presente. 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL
71
Podemos lembrar que uma das motivações para a queda da monarquia foi 
a denominada questão religiosa. Um dos bispos envolvidos, D. Macedo Costa, foi 
o articulador, ao lado de Rui Barbosa, dos acordos responsáveis por concretizar 
o Estado laico como um direito garantido pela Constituição, que foi promulgada 
em 1891. Mais que um desejo do Estado em se separar da Igreja, podemos pensar 
que também existia um desejo da Igreja Católica de possuir maior autonomia, 
pois as bulas papais poderiam ser reinterpretadas pelo imperador, algo que não 
ocorria com uma organização republicana de governo. 
A Igreja Católica passou por grandes transformações institucionais no 
período em que a República foi instituída no Brasil. As transformações principais 
da Igreja Católica no período da Primeira República são classificadas como 
“processo de romanização”. Isto é, um aumento da gestão direta do papa na 
organização da Igreja. Assim, uma das principais alterações na vida da Igreja 
Católica foi a ampliação do número de dioceses. Com isto, consequentemente, 
uma maior quantidade de bispos, paróquias e seminários (VIEIRA, 1980). Na 
época da Primeira República, a Igreja Católica teve de enfrentar a concorrência de 
outras ideologias religiosas, como as representadas pelos positivistas, espíritas 
kardecistas, protestantes, além de umbandistas e candomblecistas. 
O Positivismo foi uma das principais ideologias que sustentaram a 
Proclamação da República. Pelo termo, são classificados os seguidores da filosofia 
desenvolvida pelo francês Augusto Comte, que acreditava no progresso como 
meta principal da humanidade. Assim, podemos compreender que grande parte 
da elite política e militar das primeiras décadas da República Velha era ligada ao 
pensamento positivista. Entre os líderes militares que eram adeptos dos preceitospositivistas, podemos citar o Marechal Rondon e Benjamin Constant. Entre os 
civis, foram destaques Miguel Lemos e Teixeira Mendes (CASTRO, 1995). 
Também entre a classe média e profissionais liberais estão os que aderiram 
a uma importante filosofia de características religiosas, o Espiritismo Kardecista. 
Seguidores das doutrinas religiosas elaboradas por Alan Kardec, que afirmava 
ter codificado livros nos quais os espíritos tinham lhe ofertado novos preceitos 
morais. Alguns líderes da sociedade brasileira aderiram à nova fé, como o poeta 
parnasiano Coelho Neto. O principal líder kardecista das primeiras décadas 
republicanas foi o médico Bezerra de Menezes. Uma das características dos 
seguidores desta religião é o transe mediúnico, no qual se acredita que os espíritos 
de pessoas falecidas se incorporam nos médiuns. Em geral, se dedicaram a obras 
caritativas com as populações pobres (CAMARGO, 1961). 
Outra religião que também acredita no transe mediúnico e que foi 
institucionalizada no Brasil da Primeira República foi a Umbanda, que tem como 
data de fundação o dia 15 de novembro de 1908, por Zélio de Moraes. Em grande 
parte, a Umbanda discordava do Kardecismo, ao permitir a incorporação dos 
espíritos de indígenas e negros, que eram classificados pelos kardecistas como 
“baixo espiritismo”. A Umbanda seria, segundo seu fundador, a manifestação 
do espírito para a caridade. A primeira casa fundada se chamava Piedade, e se 
72
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
localizava na Baixada Fluminense. No tocante às religiões afro-brasileiras, um 
destaque é o Candomblé. Tal manifestação religiosa tem uma grande importância, 
em especial na Bahia, onde os terreiros de candomblé possuíam, no início do 
século (como na atualidade), grande número de seguidores. O candomblé tem 
uma profunda ligação africana, sendo a religião que cultua os orixás (CAMARGO, 
1961). 
Por sua vez, os protestantes, durante a República Velha, tiveram um 
aumento de sua representação social. Muitas missões protestantes adentraram 
no Brasil na segunda metade do século XIX, mesmo sendo legalmente proibidos 
os cultos das igrejas reformadas. Porém, com o advento da laicidade, as igrejas 
acabaram por aumentar o proselitismo entre os brasileiros. Missões estrangeiras 
eram as principais motivadoras da divulgação dos ideais protestantes na Velha 
República. As Igrejas Metodista, Presbiteriana e Batista eram as principais 
divulgadoras dos ideais protestantes no Brasil. Além destas igrejas, classificadas 
como pertencentes ao denominado “protestantismo de missão”, existem 
instituições religiosas protestantes ligadas profundamente aos descendentes de 
alemães, o denominado “protestantismo de imigração” na qual se destacaram 
a IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) e a IELB (Igreja 
Evangélica Luterana Brasileira), responsáveis pela divulgação do ideal luterano 
no Brasil (GERTZ: 2001).
Neste período temos também a vinda de Testemunhas de Jeová, Mórmons 
e Adventistas do Sétimo Dia para o Brasil. Entre as igrejas protestantes ligadas ao 
reavivamento pentecostal, surgiram no Brasil em 1909 a Congregação Cristã do 
Brasil, e no ano seguinte, 1910, as Assembleias de Deus. A congregação cristã 
ligada, no início, a missionários norte-americanos, e a Assembleia de Deus aos 
missionários suecos. Contudo, as missões protestantes estavam ligadas, em 
sua maioria, às igrejas norte-americanas, que observavam que os males sociais 
da população latino-americana teriam solução com uma “evangelização do 
continente”. Uma das principais formas de inserção do protestantismo no Brasil 
foi a construção de escolas, inspiradas no ideal de educação estadunidense, além 
da distribuição de livros e demais materiais propagandísticos (MENDONÇA, 
1995). 
Neste contexto, a Igreja Católica procurou reagir contra a pluralização 
da vivência da religiosidade no Brasil. Em alguns casos extremos, fora atitude 
comum da população, sob as “vistas grossas” dos padres, o apedrejamento de 
templos protestantes, casas espíritas e terreiros de umbanda. Todavia, é importante 
destacar que a reação dos sacerdotes católicos não foi com violência, mas com um 
debate público em relação às questões da teologia. Nestes debates, dois sacerdotes 
se destacaram. O pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira e o padre católico 
Leonel Franca. Através de jornais, livros e debates em praças públicas, as questões 
clássicas da Reforma e da Contrarreforma, como a autoridade da Bíblia, o celibato 
e a validade ou improcedência da intercessão pelos santos, eram temas de debates 
(MICELI, 2009). 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL
73
Outro dado de reação do catolicismo foi uma tentativa de recatolização da 
sociedade brasileira, papel desempenhado entre os cadetes da escola militar pelo 
Padre Miguel, e entre os intelectuais pelo líder leigo católico Jakson de Figueiredo, 
que atuou na conversão de grandes líderes à Igreja Romana, em especial Alceu 
Amoroso Lima, leigo católico que foi um importante líder da Igreja em todo o 
século XX. 
5 OS NOVOS SÍMBOLOS DA REPÚBLICA BRASILEIRA
Nas primeiras décadas republicanas, tivemos como um dos principais 
legados, do ponto de vista cultural, a formação dos símbolos nacionais. Quatro 
são eles: a bandeira, as armas nacionais, o selo nacional e o hino nacional. Podemos 
refletir que estes símbolos possuem importância para uma análise pormenorizada 
da sociedade brasileira. 
Nas escolas primárias se ensinava que a bandeira brasileira era o símbolo 
das riquezas da nacionalidade. O verde das matas, o amarelo do ouro, o azul 
dos mares e a beleza do céu no qual resplandece o Cruzeiro do Sul. Todavia, tal 
visão poética e nacionalista não condiz com os fatos políticos que criaram este 
que é o principal símbolo nacional. A bandeira brasileira foi criada no Império, 
sendo as cores verde e amarela os símbolos das duas principais casas reais da 
qual D. Pedro I era pertencente, Bourbon e Bragança. A Bandeira Imperial tinha 
no centro uma coroa, representando o poder real da monarquia brasileira. A 
bandeira republicana manteve as duas cores, porém, substituiu no centro a coroa 
real pelo céu brasileiro, sendo transpassado por uma faixa nas cores branca e 
verde, com o lema positivista Ordem e Progresso. A bandeira foi confeccionada 
pelo líder republicano positivista Benjamin Constant, tendo sido ela tecida pela 
esposa do professor da Academia Militar. Outras bandeiras foram idealizadas, 
porém a atual foi a proposta vitoriosa (CARVALHO, 1990). 
As armas nacionais apresentam o Brasão da República, que substituiu a 
coroa imperial como símbolo do Estado brasileiro. Por sua vez, o selo nacional 
é composto pelo símbolo do Cruzeiro do Sul. Todavia, dos símbolos nacionais, 
o que contou com maior participação popular foi o Hino Nacional. Isto porque 
foi realizado um concurso para a escolha do hino brasileiro, pois, antes, ele era 
apenas composto por música. A letra do hino surgiu de um concurso nacional, no 
qual outros poetas saíram vencedores. Apenas em 1922 foi oficializada a letra de 
Joaquim Osório Duque Estrada como letra do hino brasileiro. 
Além dos símbolos já citados, podemos pensar na criação de novos 
heróis. Os militares, durante toda a Velha República, transformaram os oficiais 
do Exército e da Marinha que combateram na Guerra do Paraguai em heróis. Tal 
fato pode ser constatado pela presença de nomes dos mesmos na nomenclatura 
de diversas ruas e praças em todo o Brasil. Por vezes, nomes de antigas ruas, 
designadas por personalidades ligadas à família imperial, como Princesa Isabel 
e Tereza Cristina, foram substituídos por nomes como Deodoro da Fonseca ou 
Floriano Peixoto. 
74
UNIDADE 1 | A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
O mito de Tiradentes também se relaciona à República, pois, mais de um 
século após ser morto, ele foi elevado à categoriade “herói nacional”. Durante 
todo o Brasil Império, Tiradentes não foi considerado personagem de destaque 
no antigo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Porém, com o advento da 
República, a memória de sua execução em 21 de abril se transformou em feriado 
nacional. Tiradentes, além de militar, possuía convicções políticas republicanas 
(CARVALHO, 1990). 
Como conclusão possível do tópico, podemos refletir que os anos da 
República Velha foram intensos no que se refere ao panorama cultural. O Brasil e 
o mundo ocidental se transformavam, ganhando os contornos que hoje possuem. 
O monopólio religioso católico foi suprimido, com a laicidade do Estado, um 
dos pontos advindos com a Constituição Republicana de 1891. Mesmo com o 
advento de uma república, a educação no Brasil continuou sendo um privilégio 
de poucos, pois parcelas consideráveis da população se mantiveram analfabetas. 
A cultura popular teve, com o aumento dos meios tecnológicos, a 
possibilidade de ser registrada, como no caso do samba e da música caipira. 
Assim como uma cultura de massa se fez presente nas primeiras décadas do 
século XX, sendo o cinema um dos principais símbolos da modernidade urbana. 
A cultura erudita no Brasil, marcadamente de orientação europeia, encontrou a 
produção artística da população empobrecida na Semana de Arte Moderna de 
1922, na qual a maior parte das expressões folclóricas foi valorizada pela elite 
intelectual brasileira. 
Também na Velha República foram estabelecidos os símbolos que 
representam a pátria: a bandeira, o hino, as armas nacionais e o selo nacional. 
Podemos observar também que, mais que meramente ter sua representação 
oficial, a República buscou forjar heróis nacionais, como o exemplo máximo de 
Tiradentes.
Assim, podemos compreender que o campo cultural na Primeira 
República foi vasto, amplo, e capaz de várias e distintas formas de expressão das 
sensibilidades humanas. 
75
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico você viu que:
• A educação no Brasil era elitista, sendo amplas parcelas da população 
majoritariamente analfabetas. 
• A música erudita teve em Carlos Gomes e Alberto Nepomuceno seus principais 
artistas.
• A poesia parnasiana foi uma das principais formas de expressão artística, 
tendo como principais poetas Olavo Bilac e Coelho Neto. 
• As artes brasileiras foram revolucionadas com a Semana de Arte Moderna de 
1922. 
• Os esportes foram destaque, sendo os mais populares o remo e o futebol. 
• A cultura de massa tinha como principal símbolo o cinema, sendo que no 
período tivemos a inauguração do rádio no Brasil. 
• O campo religioso foi ampliado, com a laicidade do Estado, sendo presentes 
na esfera pública os cultos protestantes, mediúnicos, afrodescendentes e 
positivistas. 
• Os cafés e o teatro de revista eram diversões comuns das camadas médias 
urbanas. 
76
AUTOATIVIDADE
Questão única: Uma das principais questões para os que se prestam a analisar a 
história republicana brasileira são as contradições existentes nos mais variados 
campos de atuação da inteligência humana. No Brasil das primeiras décadas do 
século XX, vários artistas compuseram obras de profundo valor estético, isto é, 
de grande valor artístico, pela beleza que expressam. Porém, contraditoriamente, 
a maior parte da população era analfabeta. Apresente uma reflexão sobre este 
contraste sociocultural. 
77
UNIDADE 2
O PERÍODO NACIONAL 
DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender as relações políticas do nacional-desenvolvimentismo;
• analisar o processo de industrialização do Brasil;
• avaliar a importância dos movimentos sociais;
• contemplar as diferentes formas de expressão das sensibilidades artísticas.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada tópico, você 
encontrará atividades que possibilitarão a apropriação de conhecimentos na 
área.
TÓPICO 1 – A HISTÓRIA POLÍTICA DO BRASIL – 
DESENVOLVIMENTISMO 
TÓPICO 2 – A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
TÓPICO 3 – OS MOVIMENTOS SOCIAIS
TÓPICO 4 – O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL-
DESENVOLVIMENTISTA
78
79
TÓPICO 1
A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-
DESENVOLVIMENTISMO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Entre 1930 até 1964, o Brasil passou por profundas transformações no 
campo social, político, econômico e artístico. Muitos historiadores, sociólogos 
e cientistas políticos buscaram compreender o significado deste período para 
o desenvolvimento da sociedade brasileira contemporânea. Em busca de uma 
aprofundada compreensão, três conceitos foram desenvolvidos pelas ciências 
humanas: populismo, trabalhismo e nacional-desenvolvimentismo. 
O conceito populismo foi amplamente difundido por uma tradição do 
pensamento social brasileiro, cujo principal articulador foi o cientista político 
Francisco Weffort (WEFFORT, 1989), e que aponta o período histórico entre 
1930 até 1964 como “período populista”. Tal conceito, exposto em um artigo 
denominado O Populismo na Política Brasileira, apontava a presença de lideranças 
carismáticas e a ideia da colaboração entre as classes sociais como uma das 
características principais do período. Tal arranjo político-social teria entrado em 
colapso, sendo apresentado um grande desgaste, cuja “solução” foi o golpe militar 
de 1964. O sociólogo Octávio Ianni apontava o golpe de 1964 como o “colapso do 
populismo” (IANNI, 1975). Porém, o conceito populismo sofreu grandes críticas 
por parte de alguns historiadores. Daniel Aarão Reis Filho, professor de História 
da Universidade Federal Fluminense, chegou a escrever um texto denominado 
O Colapso do Colapso do Populismo, no qual aponta as limitações de tal perspectiva 
teórica. 
Outro conceito possível para compreender o período entre 1930 até 1964 
é o de trabalhismo. Tal conceituação é utilizada pela historiadora Ângela de 
Castro Gomes, que aponta os governos populares e nacionalistas das décadas em 
estudo, como responsáveis por permitir o acesso à cidadania a grandes parcelas 
populacionais excluídas do jogo político durante a República Velha (GOMES, 
1994). Todavia, tal conceito é mais vinculado à figura de Getúlio Vargas que 
necessariamente a todo o período em análise. 
Devido aos questionamentos e limitações apontadas pelos conceitos 
populismo e trabalhismo é que utilizamos o termo científico “nacional-
desenvolvimentismo” como chave conceitual para a compreensão do período 
histórico que abordaremos nesta unidade. Em geral, é utilizado pelos economistas, 
como Carlos Lessa e Celso Furtado (FURTADO, 1987), que pensam no processo 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
80
de industrialização realizado pelo Brasil, que, em grande parte, contou com 
incentivos e recursos estatais (isto é, do governo federal), e que possibilitou um 
amplo desenvolvimento a toda a nação brasileira, transformando as feições de 
uma nação agrário-exportadora em industrial e urbana.
2 DA REVOLUÇÃO DE 1930 AO ESTADO NOVO
O início do processo de transformação política vivida no país nos 34 anos 
em análise tem como símbolo o dia 3 de outubro de 1930. Pois, naquela data, 
grupos ligados às oligarquias dissidentes da política do café com leite iniciaram 
um movimento armado que depôs o então presidente Washington Luiz, iniciando 
um novo período na política brasileira, inaugurado com a Revolução de 1930 
(FAUSTO, 1979). 
Para a compreensão dos eventos que desencadearam na Revolução de 
1930 é importante compreendermos a conjuntura sociopolítica. Ao analisarmos 
estas questões, podemos compreender que as bases de legitimação social da 
república das oligarquias estavam profundamente abaladas. Nas forças armadas, 
o movimento tenentista questionou a existência do voto de cabresto, isto é, da 
coerção que a populaçãosofria no momento do voto, além de ele ser a descoberto e 
não secreto. Além dos tenentes, as sufragistas reclamavam o direito da população 
feminina em ter acesso ao voto. Afora este questionamento no campo político, nas 
dinâmicas econômicas, as finanças sofriam com os graves problemas decorrentes 
da crise mundial de 1929, que se iniciou com a quebra da Bolsa de Valores de 
Nova Iorque e se alastrou por todo o mundo capitalista. A crise econômica 
atingia tanto os grandes proprietários cafeicultores, que tinham dificuldades 
para exportar sacas de café para os Estados Unidos, assim como os industriais 
urbanos, os proletários fabris e as famílias de classe média e pobre, que sofriam 
com a alta generalizada de preços em produtos e serviços elementares. 
Apesar deste clima social tenso, com amplos setores sociais apresentando 
grande descontentamento político, as eleições presidenciais transcorreram 
normalmente em 1930. Com fraudes eleitorais nos dois lados em disputa, Júlio 
Prestes ganhou de Getúlio Vargas. Porém, não chegou a assumir, devido à 
Revolução de 1930, um típico golpe de Estado latino-americano, articulado por 
lideranças políticas civis e militares. 
Em relação às lideranças civis, podemos citar o político sul-rio-grandense 
Oswaldo Aranha, que foi um importante articulador a arregimentar forças políticas 
contrárias à oligarquia paulista. Também podemos pensar na figura de Lindolfo 
Collor, parlamentar que clamou pela revolução, em um discurso inflamado no 
Senado ao perguntar: “Washington Luiz, o que fizeste de João Pessoa?”
João Pessoa foi o candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por 
Getúlio Vargas. Político natural da Paraíba que teve como principal padrinho 
político Epitácio Pessoa, ex-presidente da República. Após o término das eleições 
em 1930, João Pessoa foi assassinado em um bar no Recife. Algumas versões 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
81
indicam que se tratava de um crime passional, outras indicam que se tratava de 
um crime político. Todavia, independente da motivação, o crime foi utilizado 
politicamente. Pois, o senador Lindolfo Collor utilizou de tal artifício para, 
diretamente, acusar o então presidente Washington Luiz pelo crime. 
Para alguns estudiosos, o crime também poderia ter alguma vinculação 
política, por se relacionar com a Revolta de Princesa. A cidade de Princesa, no 
interior paraibano, utilizava o porto de Recife para escoar sua produção agrícola. O 
que desagradou ao presidente estadual João Pessoa, que para evitar o decréscimo 
das receitas estaduais, intensificou a cobrança de impostos na fronteira com 
Pernambuco, o que gerou uma insatisfação por parte dos coronéis do interior 
paraibano. Com a liderança do Coronel José Pereira, a cidade de Princesa se rebela 
contra o presidente do Estado da Paraíba. Dentre as motivações do Coronel José 
Pereira, podemos também relatar as disputas políticas em torno da indicação de 
deputados no interior do Partido Republicano da Paraíba. 
O coronel José Pereira liderou homens armados, que declararam a região 
de Princesa um território livre. Virgulino Lampião, importante líder cangaceiro, 
chegou a ser cogitado para lutar em favor das tropas de João Pessoa, e contrárias 
ao coronel José Pereira. A Revolta de Princesa foi combatida pelo governo de 
Washington Luiz, que acabou por entrar em acordo com o coronel José Pereira. 
Com a morte de João Pessoa, o movimento de Princesa se esvaziou.
UNI
O famoso baião de Luiz Gonzaga, “Paraíba Mulher Macho”, faz indicações diretas 
à Revolta de Princesa em vários de seus versos. Vale a pena ler e ouvir.
Além destes aspectos da política nordestina, no extremo sul do país as 
alianças políticas também foram importantes para a concretização da Revolução 
em 1930. O Rio Grande do Sul possuía dois grandes grupos políticos, que foram 
formados no início da República, durante a Revolução Federalista. Em 1928, os 
dois grupos, Chimangos e Maragatos, se uniram em torno da figura de Getúlio 
Vargas, que por sua vez foi o presidente do governo do Estado do Rio Grande do 
Sul. 
Além das lideranças civis, a Revolução de 1930 contou com forte apoio 
militar. Podemos citar, antes de tudo, os antigos tenentes que compuseram a 
coluna Miguel Costa–Luís Carlos Prestes. Dentre os principais nomes da Coluna, 
o denominado “Estado Maior”, muitos dos antigos tenentes compuseram os 
quadros da revolução. Podemos citar Miguel Costa, que aderiu ao movimento 
revolucionário, o tenente João Alberto e, principalmente, Juarez Távora. Todavia, 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
82
duas importantes lideranças não participaram da revolução. Siqueira Campos, 
que fora um dos 18 do Forte de Copacabana, morreu no exílio em Montevidéu. 
Outro importante líder a não participar foi Luís Carlos Prestes, pois o líder 
principal da Coluna que percorreu o interior brasileiro nos anos 1920 acabou 
aderindo ao comunismo. Um dos pontos polêmicos foi a doação de uma quantia 
em dinheiro que Getúlio teria dado a Prestes para comandar a Revolução de 
1930. Dinheiro este que Prestes ofertou ao movimento comunista internacional, 
ao invés de comprar armamentos para a revolução no Brasil. Apesar da polêmica, 
tal ato não desabona o líder comunista, pois o tal dinheiro não ficou com ele, mas 
sim com sua causa. Prestes não aderiu à Revolução de 1930, ao exigir de Getúlio 
Vargas medidas socializantes, como uma reforma agrária, algo que não era de 
interesse de Getúlio, um rico estancieiro gaúcho. 
FIGURA 19 - GETÚLIO VARGAS
FONTE: Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/
ex-presidentes/getulio-vargas>. Acesso em: 4 maio 2015.
Entre as lideranças militares que realizaram a Revolução de 1930, um 
nome, até então pouco conhecido, se destacou: o então Coronel Pedro Aurélio 
de Góis Monteiro. Coube a Góis Monteiro ser a principal liderança militar da 
revolução, comandando, com amplitude estratégica, o deslocamento das tropas 
do Rio Grande do Sul rumo ao Rio de Janeiro, a então capital do Brasil. O efetivo 
do Exército brasileiro de então era pequeno, sendo que a revolução contou com 
forte apoio da Brigada Militar (Polícia Militar) do Rio Grande do Sul. As tropas 
que partiram do Rio Grande do Sul, rumo ao Rio de Janeiro, se encontraram 
com forças legalistas na cidade de Itararé, na divisa entre os estados do Paraná e 
São Paulo. As tropas de cavalaria do Exército que serviam no Rio Grande, assim 
como as tropas legalistas, não chegaram a abrir fogo, pois, no Rio de Janeiro, 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
83
os generais Mena Barreto e Tasso Fragoso, acompanhados pelo almirante Isaías 
de Noronha, depuseram o Presidente Washington Luiz, instalando um governo 
provisório. O Cardeal Leme, acompanhando a decisão dos militares, acabou por 
acompanhar Washington Luiz em sua deposição, evitando hostilidades por parte 
da população, que demonstrou eufórica alegria com o fim da “república dos 
governadores”. 
Um dos marcos da Revolução de 1930 foi a presença dos soldados gaúchos 
no Rio de Janeiro. Muitos dos soldados, que partiram do interior do Rio Grande 
do Sul, se admiravam com o esplendor urbano da capital federal. Uma das 
medidas que demonstrava as diferenças culturais e apontava como uma atitude 
de vitória de uma oligarquia regional, em um dos principais pontos urbanos da 
cidade, o Obelisco, os soldados gaúchos o utilizaram para amarrar seus cavalos. 
Assim, podemos compreender que mais que mera vitória de um grupo político 
sobre outro, 1930 simbolizou uma nova forma de compreensão das estruturas 
regionais de poder na História do Brasil. 
A Revolução de 1930 é um dos temas candentes da historiografia 
brasileira, pois, para alguns historiadores mais antigos, como Nelson Werneck 
Sodré (SODRÉ, 1965) ou Leôncio Bausbaun (BAUSBAUN,1986), a Revolução de 
1930 simbolizou a chegada de novos grupos no poder político, social e econômico 
brasileiro. Em especial, das classes médias urbanas e da burguesia nacional. Tal 
interpretação é possível se isolarmos um fator que acompanhou o getulismo: o 
incentivo à industrialização. Todavia, muitos historiadores, em especial Boris 
Fausto (FAUSTO, 1979), compreendem a Revolução de 1930 como um rearranjo 
entre as elites agrárias brasileiras, pois Getúlio Vargas, que era o principal líder 
da Revolução de 1930, também era um grande proprietário rural. E o fato de 
se “amarrar os cavalos no Obelisco” informa mais que representar determinado 
projeto de poder, pois, para Boris Fausto, 1930 simbolizou ainda a vitória de um 
grupo regional sobre outro. 
Todavia, podemos compreender que nos primeiros anos da Revolução, 
muitas alterações foram tomadas no campo político, visando aumentar a 
presença do poder da União sobre os estados. Uma das primeiras foi a instituição 
de interventorias nos estados, sendo a maior parte delas comandadas por jovens 
tenentes do Exército brasileiro. No Nordeste, a liderança de Juarez Távora era 
eminente, a ponto de ser considerado o ‘vice-rei do Nordeste’. A presença dos 
tenentes interventores demonstrava uma nova forma de compreensão da vida 
política nacional. Muitos dos tenentes acabaram por se opor a velhas práticas 
dos antigos governantes. Porém, aos poucos, foram sendo cooptados pelas elites 
estaduais. 
Uma questão importante de ser frisada é que não foram todos os militares 
que aderiram à Revolução de 1930. Importantes lideranças do Exército brasileiro, 
como o Marechal Rondon, além de outros personagens importantes para a 
história da política brasileira, como os oficiais Teixeira Lott e Castelo Branco, não 
aderiram à revolução. 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
84
Entre os civis, a elite paulistana foi a que demonstrou maior 
descontentamento em relação ao governo provisório de Vargas. Em parte, a falta 
de quadros militares paulistas no Exército brasileiro ocasionou um estranhamento 
entre a elite do Estado de maior desenvolvimento econômico e os interventores. 
Tal estranhamento está na raiz da denominada Revolução Constitucionalista de 9 
de julho de 1932 (FAUSTO, 2007). 
O estopim para a revolta foi o assassinato de quatro estudantes, que 
protestavam contra Getúlio. Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo (MMDC). 
As iniciais destes nomes se tornaram o símbolo do movimento. Liderados pelos 
generais Bertoldo Klinger e Euclides Figueiredo (pai do Presidente Figueiredo), 
o movimento militar buscava contar com o apoio dos estados de Minas Gerais 
e Matogrosso, que acabaram por não aderir à revolta. Getúlio Vargas, acusando 
os paulistas de separatismo, acabou por contar com o apoio dos demais estados, 
vencendo militarmente a revolta paulista. Uma nota triste da revolução foi o 
suicídio de Alberto Santos Dumont. Alguns afirmam que a causa do suicídio do 
eminente inventor, que se encontrava na cidade de Santos, foi uma profunda 
depressão causada pela utilização do avião na guerra. 
Do ponto de vista militar, a elite paulista, que convocou os voluntários 
para a guerra, saiu derrotada. Porém, do ponto de vista político saiu vitoriosa, ao 
ser convocada uma Assembleia Nacional Constituinte em 1934. A Constituição de 
1934 foi um interessante processo democrático pioneiro pelo qual o país passou. 
Contando inclusive com os denominados representantes classistas, que eram 
os constituintes responsáveis por zelar pelos interesses das várias categorias de 
profissionais. Além da Constituição, podemos lembrar que o início da revolução 
marcou o início do voto feminino, em 1932, além das eleições serem, a partir de 
então, sendo realizadas pelo voto secreto. 
Pelas determinações da Constituinte, Getúlio Vargas deveria ter convocado 
novas eleições após o término de seu mandato em 1938. Porém, dois movimentos 
políticos (a Intentona Comunista e o Pushing Integralista), possibilitaram ao 
caudilho gaúcho sua permanência no poder. 
No Brasil, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado no ano de 
1922. Seu primeiro grande líder foi Astrogildo Pereira. Todavia, o maior líder 
comunista brasileiro foi Luís Carlos Prestes, antigo líder tenentista que ingressou 
no Partido Comunista Brasileiro às vésperas da Revolução de 1930. No início 
desta década, havia sido o líder da Aliança Libertadora Nacional, um órgão 
supraideológico, que tentava dar um rumo social aos ideários da Revolução de 3 
de outubro de 1930. Porém, Getúlio Vargas, como presidente eleito interinamente 
pela Constituinte de 1934, acaba por considerar tal organização ilegal (KONDER, 
1995).
Em 1935, o PBC lançou-se em uma aventura revolucionária, visando 
modificar radicalmente a exploração que as massas trabalhadoras sofriam. O 
partido contou com uma forte adesão de militares (Agildo Barata, Apolônio de 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
85
Carvalho, entre outros), pois Prestes havia sido um líder do tenentismo. Assim, 
após a ALN ter sido colocada na ilegalidade por Vargas, os comunistas acabaram 
por realizar alguns levantes militares visando à tomada de poder. Nas cidades 
de Natal e no Rio de Janeiro houve os principais levantes, que foram vencidos 
pelo governo de Vargas. Grande parte dos militares envolvidos foi expulsa do 
Exército. Inclusive, contava-se que alguns militares comunistas teriam matado 
alguns colegas que dormiam nos alojamentos dos quartéis do Rio de Janeiro, fato 
provavelmente inverídico, envolto em uma institucionalização do anticomunismo 
no Exército brasileiro. 
Outro importante movimento político do Período Vargas foi a Ação 
Integralista Brasileira. A AIB tinha uma forte inspiração no fascismo italiano. 
A principal liderança do movimento coube ao paulista Plínio Salgado. Um 
intelectual que tinha boa oratória e que compunha marchas cívicas dos seus 
liderados uniformizados com camisas verdes e um símbolo no peito: o sigma. 
Este lembrava a suástica nazista. Assim como a saudação, o anauê. Que era 
pronunciado levantando a mão direita, de um modo próximo ao Heil-Hitler. 
Em maio 1938, esta facção política tenta um golpe de Estado, o chamado 
Putchin Integralista. Muita polêmica envolve esta ação. Existiria um denominado 
Plano Cohen, no qual os integralistas deveriam assumir o poder. Com uma ação 
militar fracassada, na qual os militares integralistas foram derrotados ao tentar 
tomar o Palácio do Catete, então sede do governo, a Ação Integralista Brasileira 
foi posta na ilegalidade e seus líderes, em especial Plínio Salgado, foram para o 
exílio (GERTZ, 1987). 
Estas revoltas comandadas por integralistas e comunistas foram uma 
das motivações para Getúlio, apoiado por setores conservadores do Exército, 
instituir o Estado Novo, fechando o Congresso e constituindo uma rude ditadura. 
Durante o Estado Novo foi instituído um verdadeiro e temido Estado policial 
sob o comando de Felinto Müller, tendo os generais Eurico Gaspar Dutra e Góis 
Monteiro como principais líderes do Exército. 
3 DO ESTADO NOVO AO SUICÍDIO DE GETÚLIO VARGAS
O Estado Novo foi um típico regime ditatorial, no qual as liberdades 
individuais foram suprimidas em nome dos interesses nacionais. Uma cerimônia 
na qual as bandeiras estaduais foram queimadas pode ser considerada um 
símbolo que movia o “espírito” do novo regime. Alguns intelectuais, como 
Marilena Chauí, observam no Estado Novo uma grande semelhança com as 
ditaduras totalitárias europeias, como o fascismo de Mussolini, e também com 
os governos ditatoriais da Península Ibérica, exemplificados nas ditaduras de 
Salazar, em Portugal, e de Franco, na Espanha. 
A face ditatorial do governo Getúlio, exposta de modo claro no Estado 
Novo, pode ser medida na existência de uma polícia política, comandada 
por FelintoMüller, um importante líder estadonovista. O Departamento de 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
86
Ordem Política e Social, o DOPS, criado em 1924, teve a sua atuação ampliada 
e intensificada. Muitos comunistas e demais opositores do regime, como alguns 
intelectuais, foram presos. O presídio situado em Ilha Grande, no litoral do Estado 
do Rio de Janeiro, foi utilizado como principal destino dos presos políticos. 
Tal presídio foi um dos principais símbolos da falta de liberdade do governo 
varguista. 
Uma polêmica que envolve as perseguições políticas aos comunistas 
ocorreu um ano antes do golpe do Estado Novo, e envolve o nome de Olga 
Benário Prestes, esposa do líder do Partido Comunista Brasileiro, Luis Carlos 
Prestes, e que se encontrava grávida. Getúlio permite que ela, que tinha sangue 
judeu, fosse deportada para a Alemanha Nazista, e acabasse morta em um campo 
de concentração. A menina, filha do casal, Anita Leocádia Prestes, sobreviveu 
graças à solidariedade de grupos internacionais.
UNI
A filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário se chama Anita Leocádia Prestes. 
Após voltar ao Brasil, se tornou uma das principais estudiosas da vida de seu pai, e uma das 
mais renomadas historiadoras brasileiras. Por muitos anos foi professora do Departamento de 
História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
A marca principal do Estado Novo era o carisma que envolvia o Presidente 
Getúlio Vargas. Getúlio Dorneles Vargas permaneceu como um mito após seu 
suicídio. Em muitas residências da população pobre brasileira, até fins do século 
XX, havia um retrato de Getúlio Vargas na sala de visitas. A explicação para 
esta ação social de vários indivíduos tem pelo menos dois vetores explicativos. 
A conquista de direitos por parte dos trabalhadores na era Vargas e a difusão 
do rádio como vetor físico da construção de uma identidade nacional (GOMES, 
1994). 
A partir do Estado Novo, Getúlio começou a instituir um programa diário 
no qual falava diretamente à população brasileira: a Hora do Brasil, atual Voz do 
Brasil. Através dela, pela primeira vez na história, a população brasileira pôde 
ouvir, na intimidade da sala de estar de seu domicílio, a voz do Presidente da 
República. Tratava-se de uma programação obrigatória a ser veiculada em todas 
as emissoras de rádio do país, na qual eram transmitidas as ações governamentais. 
Com forte censura, os aspectos positivos do governo eram ressaltados, em 
detrimento de possíveis críticas. O rádio foi um instrumento político habilmente 
utilizado por Getúlio, visando sua permanência no poder. 
O presidente acabou por se transformar em um personagem do rádio. 
Com isto, podemos observar um processo de sacralização da política (LENHARO, 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
87
2000), pois o ditador se apresentava como o “Pai dos Pobres”. Tal identificação 
ocorria, em grande parte, graças a uma bem trabalhada propaganda. Para 
este marketing político, Vargas instituiu um órgão que zelava pela imagem do 
presidente, o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda. A principal 
vinculação que o departamento buscava realizar era colocar as conquistas sociais 
da classe trabalhadora, como o direito à sindicalização, o direito de greve e as leis 
que regulam a remuneração e as demais relações trabalhistas como um favor do 
“Doutor Getúlio”. Com isto, podemos observar uma radical oposição à política 
desenvolvida na República Velha, na qual a questão social era tratada como 
caso de polícia. Vargas, ao contrário, observa nas populações empobrecidas seu 
principal aliado. 
A política de Getúlio em relação à vida nacional era a da uniformização em 
torno de valores nacionalistas. Com isto, foi instituída a denominada Campanha 
de Nacionalização. Isto é, os imigrantes deveriam ser integrados à cultura nacional. 
Com isto, em 1938, foi instituída a nacionalização do ensino, na qual as escolas 
eram obrigadas a lecionar em português. No ano seguinte, 1939, foi instituída a 
proibição de falar idioma estrangeiro em público. A lei proibia até mesmo falar 
outro idioma em cerimônias religiosas. Com a Declaração de Guerra ao Eixo Roma-
Tóquio-Berlim, os imigrantes e descendentes das nacionalidades italianas, alemãs 
e japonesas foram perseguidos por militares do Exército. Houve casos de extrema 
violência, incluindo torturas e roubos realizados por militares contra os habitantes 
de colônias estrangeiras no Brasil. 
A Segunda Guerra Mundial foi um dos períodos no qual podemos observar 
uma profunda alteração nas dinâmicas sociais e políticas do Brasil durante a vigência 
do Estado Novo. Isto porque a conjuntura internacional, que era marcadamente 
favorável a governos fortes e ditatoriais, se modificou no início da década de 1940. 
Em grande parte, tal modificação foi ocasionada pela reação dos países aliados. 
Em especial, os Estados Unidos, com a política de boa vizinhança, acabaram 
por influenciar a política interna do Brasil. Influência esta que se ampliou após a 
entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado das potências democráticas. 
Tal perspectiva apontava para modificações em um regime tão fechado como o do 
Estado Novo.
O Estado Novo, além de buscar se legitimar em uma colaboração das 
massas trabalhadoras, dependia em grande parte do apoio das forças armadas. 
Apoio este que Getúlio teve desde a Revolução de 1930, e que foi intensificado 
em 1937. Porém, tal apoio ficou periclitante, após a entrada do Brasil na 
Segunda Guerra Mundial. Isto porque muitos militares de alta patente foram 
profundamente influenciados pelas doutrinas militares norte-americanas. Assim, 
os oficiais que combateram ao lado do V Exército Estadunidense nos campos da 
Itália, se opuseram às políticas autoritárias e nacionalistas de Getúlio Vargas. 
Com uma intensificação da oposição interna ao seu governo, o ditador Vargas 
buscou abrir o regime. Uma das medidas foi uma campanha popular conhecida por 
queremismo. Marcado pelo slogan “Queremos Getúlio”, o queremismo era uma 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
88
tentativa de manter Vargas como o líder do Poder Executivo nacional. Todavia, o 
Exército acabou por realizar uma ação militar que destituiu Getúlio Vargas do poder. 
Porém, a sua figura política ainda permaneceu influente no cenário nacional. 
Com o fim do Estado Novo, tivemos o início, no Brasil, de um sistema 
pluripartidário, formado por partidos nacionais. Isto é, com regionais estaduais, 
mas em um sistema de representação nacional. Dois partidos políticos foram 
formados por Getúlio Vargas. O PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, e o PSD – 
Partido Social Democrático. Em oposição ao Presidente Getúlio Vargas, temos a 
instituição da UDN – União Democrática Nacional. Estes três partidos foram os 
mais influentes entre o fim do Estado Novo, em 1945 até 1966, quando a ditadura 
militar os extingue. Todavia, outros partidos tinham influência. Notadamente o 
PCB, Partido Comunista do Brasil, além do PSB – Partido Socialista Brasileiro, o 
PRP – Partido da Representação Popular, do líder integralista Plínio Salgado, o 
PSP – Partido Social Progressista, do líder populista de São Paulo Adhemar de 
Barros, além do Partido Democrata Cristão, o PDC, e outras siglas minoritárias, 
como o PAN, Partido Agrário Nacional. 
Estes partidos se envolveram nas eleições para a Presidência da República 
em 1946, além das disputas na Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou 
a Constituição de 1946. As eleições presidenciais em 1946 foram marcadas por 
propagandas e polêmicas públicas que envolveram os principais candidatos em 
disputa. A saber, o general Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD, e o brigadeiro Eduardo 
Gomes, pela UDN. Outros candidatos minoritários foram o engenheiro Yedo Fiúza, 
pelo PCB, além de Mário Rolin Teles, pelo inexpressivoPAN – Partido Agrário 
Nacional. 
O brigadeiro Eduardo Gomes era um dos nomes favoritos, pois tinha 
ele sido um dos sobreviventes do ato dos Dezoito do Forte de Copacabana. Ao 
mesmo tempo, era um tipo benquisto pelas classes médias. Um dos slogans da 
campanha era “Vote no brigadeiro, que além de bonito, é solteiro”. Todavia, 
mesmo com a simpatia das camadas médias da população, sua candidatura não 
conseguiu impacto. Em grande parte, por uma campanha difamatória, na qual 
afirmava que o candidato teria dito que não precisava de votos dos “marmiteiros”. 
Assim, grande parte da sua campanha foi prejudicada em relação às massas. E, 
a campanha do general Eurico Gaspar Dutra, fortalecida. O fortalecimento da 
campanha de Dutra pode ser medido no slogan “O candidato dos marmiteiros”. 
Mesmo Dutra não tendo um grande carisma, como possuía Eduardo Gomes, 
contou com o forte apoio de Getúlio Dorneles Vargas. Assim, ganhou com uma 
ampla margem de votos. 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
89
UNI
O doce brigadeiro, comum em festas infantis, foi criado por uma dona de casa que 
era partidária da candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes para a Presidência da República. O 
candidato perdeu a eleição... porém, o doce brigadeiro foi escolhido com ampla margem na 
preferência do paladar da maioria dos brasileiros. 
As eleições para a Câmara dos Deputados e para o Senado, por sua 
vez, tiveram como grandes vitoriosos o ex-presidente Getúlio Vargas e o líder 
comunista Luís Carlos Prestes. À época, o eleitor poderia escolher qualquer 
candidato ao Senado ou para a Câmara dos Deputados, independente do estado 
de origem. Assim, tanto Prestes como Vargas foram eleitos por vários estados da 
federação. Porém, Vargas escolheu representar o Rio Grande do Sul, e Prestes o 
Distrito Federal. Todavia, Getúlio Vargas pouco participa da vida parlamentar, se 
retirando para o denominado “Exílio de Itu”. Isto é, o líder político escolheu viver 
como um típico estancieiro gaúcho, em sua fazenda de São Borja, no interior do 
Rio Grande. Luiz Carlos Prestes teve uma postura atuante, como líder da bancada 
comunista na Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição 
de 1946. Todavia, Prestes não terminou o seu mandato, sendo cassado junto com 
seus companheiros comunistas (FAUSTO, 2007). 
FIGURA 20 - EURICO GASPAR DUTRA
FONTE: Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/
ex-presidentes/gaspar-dutra/foto>. Acesso em: 10 maio 
2015.
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
90
O governo do General Eurico Gaspar Dutra manteve posturas políticas 
de grande conservadorismo, no qual se destacaram o fechamento dos cassinos e 
a declaração de ilegalidade do Partido Comunista Brasileiro. Em grande parte, 
podemos compreender uma influência do pensamento conservador católico, pois 
tanto o jogo nos cassinos, quanto o comunismo, foram tidos por pecados pela Igreja 
e passaram a ser considerados ilegais. Em relação ao Partido Comunista, podemos 
lembrar que o mundo passava pelo período da Guerra Fria e que o Brasil acabou 
por se alinhar ao bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América. 
Em 1950, o Brasil passou por novas eleições, visando à sucessão do governo 
Dutra. Alguns nomes foram alçados à candidatura do cargo mais importante do 
Executivo federal. O Brigadeiro Eduardo Gomes novamente foi lançado candidato 
pela União Democrática Nacional. O baiano João Mangabeira foi lançado candidato 
pelo Partido Socialista Brasileiro, o PSB. Por sua vez, o PSD lançou como candidato 
Cristiano Machado, prefeito de Belo Horizonte. Todavia, a maior parte do PSB 
apoiou o candidato do Partido Trabalhista Brasileiro à Presidência da República, 
o ex-presidente Getúlio Vargas. Tendo como principal slogan de campanha a 
marchinha composta por Braguinha, “O retrato do velho”, sua imagem como 
“pai dos pobres”, possibilitou grande parte da simpatia do eleitorado. O apoio de 
grande parte de líderes locais, em especial de Adhemar de Barros, em São Paulo, 
possibilitou uma base para a eleição de Getúlio. 
Todavia, mesmo com uma expressiva eleição, a UDN buscou impugnar a 
eleição de Getúlio, levantando a tese de que Getúlio não obteve a maioria absoluta 
dos votos. Muitos setores das forças armadas não simpatizavam mais com o carisma 
getulista. Porém, a maior oposição que Getúlio Vargas obteve em todo o seu governo 
foi realizada pelo jornalista Carlos Lacerda. A aversão lacerdista foi realizada com 
muita violência. Em grande parte, as medidas nacionalistas do governo Vargas 
no campo econômico desagradaram a amplos setores de classe média, que eram 
altos funcionários das empresas multinacionais. Campanhas nacionalistas como 
“O Petróleo é Nosso”, que levou à criação da Petrobrás, polarizavam a sociedade 
brasileira. 
Algumas acusações de corrupção foram realizadas pela imprensa contra 
Getúlio Vargas. Assim, a imagem pública do presidente era denegrida. Ao mesmo 
tempo, o apoio dos militares ao presidente foi paulatinamente diminuindo. Um 
estopim para uma grave crise política ocorreu com uma tentativa de assassinato, 
que ocorreu na Rua Toneleiros, no bairro carioca de Copacabana. A intenção era 
matar o jornalista Carlos Lacerda, que fazia oposição violenta a Vargas. Porém, o 
mesmo sobreviveu, sendo atingido o major-aviador Rubem Vaz, da Força Aérea 
Brasileira. O chefe da guarda pessoal de Getúlio, Gregório Fortunato, foi acusado 
pelo crime. (FAUSTO, 2007). 
Em 1954, as bases de sustentação entre o governo Getúlio e os militares 
ficaram estremecidas. Após a morte do major Vaz, os oficiais da FAB realizaram 
uma investigação própria, interrogando alguns suspeitos, dentre eles, o próprio 
Gregório Fortunato. Estes inquéritos foram realizados na Base Aérea do Galeão, 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
91
no Rio de Janeiro, evento que era retratado como a “República do Galeão”. Além 
disto, aumentando a instabilidade sociopolítica, dois manifestos assinados por 
oficiais do Exército tiveram grande repercussão. Um primeiro, conhecido por 
Manifesto dos Coronéis, era composto por diversas críticas ao governo Getúlio 
Vargas. A principal foi o aumento do salário mínimo em 100%, proposto pelo 
recém-nomeado Ministro do Trabalho, senhor João Goulart. Um segundo 
manifesto, com forte teor de críticas a Getúlio, foi assinado por vários generais. O 
Ministro da Guerra de Getúlio, na ocasião, era o General Zenóbio da Costa, que 
fora acusado por Alzira Vargas do Amaral Peixoto (filha do presidente e esposa 
do governador do Estado do Rio de Janeiro Amaral Peixoto) de titubear entre o 
apoio ao chefe do Estado e o apoio aos seus camaradas de armas. 
As pressões que o governo sofria eram tanto internas quanto externas. 
Internamente a população pressionava por ações devido aos problemas 
socioeconômicos de um país que paulatinamente se industrializava. Também a 
imprensa fez forte oposição. Em especial, o (já citado) jornalista Carlos Lacerda, 
que empreendia ataques violentos ao chefe do Estado. Em relação às pressões 
vindas do estrangeiro, as mesmas vinham do governo dos Estados Unidos, devido 
à oposição de Getúlio Vargas a algumas políticas norte-americanas. A campanha 
“O Petróleo é Nosso” contrariava os interesses das multinacionais estadunidenses. 
Deste modo, podemos compreender que no mês de agosto de 1954, Getúlio era um 
chefe de Estado que sofria fortíssima oposição. Após uma reunião acalorada com o 
seu ministério, que durou até alta madrugada, Getúlio cometeu suicídio, revirando 
de maneira drástica o quadro político. Pois, se até aquele momento grande parte 
da opinião pública era contrária a várias atitudes do governo federal, o falecimento 
do presidente foi acompanhado de grande comoção popular. Em geral, pessoas 
pobres faziam questão de enfrentar horasna fila e visitar o caixão com o corpo de 
presidente morto. Muitos choravam copiosamente. O principal jornal de oposição, 
Tribuna da Imprensa, foi empastelado, isto é, depredado por populares. Com o 
suicídio de Getúlio Vargas, podemos observar o fim de um ciclo na história política 
brasileira, que foi iniciada com a Revolução de 1930. 
Durante grande parte do século XX, a figura de Vargas foi motivo 
de polêmica. Para alguns brasileiros, era ele o “pai dos pobres”. Tal visão 
era corroborada por aqueles que compreendiam serem as leis trabalhistas, 
simbolizadas na Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943, como uma benesse 
do presidente. Também muitos observaram em Getúlio posturas nacionalistas, 
em especial na defesa de interesses econômicos e em alguns aspectos de sua 
política cultural. Outra faceta também atribuída a Getúlio Vargas era o de “A 
Mãe dos Ricos”. Isto porque grande parte do processo de industrialização e 
desenvolvimento econômico vivenciado pelo Brasil contou com grande apoio 
do governo Vargas. Tal perspectiva negativa também era corroborada pela 
dura perseguição aos opositores políticos durante o Estado Novo, cuja polícia 
política era de extrema violência. Um personagem ambíguo, mas independente 
da associação que se realiza em relação à imagem do ex-presidente, se positiva 
ou negativa, é inegável que não se pode estudar a História do Brasil Republicano 
sem passar por uma profunda reflexão sobre a importante participação deste 
personagem histórico nos destinos nacionais.
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
92
4 JUSCELINO, JÂNIO E JANGO
Após a morte de Getúlio Vargas, a vaga de presidente da República 
foi ocupada pelo vice-presidente, o político oriundo do Rio Grande do Norte 
Café Filho. Todavia, Café Filho não completou o mandato de seu governo. A 
importância de seu governo pode ser medida pelo fato de que o mesmo manteve 
o pleito democrático, sendo realizadas as eleições presidenciais no ano de 1955. 
Alguns candidatos se lançaram ao cargo de mandatário da nação. Pela UDN, 
o general Juarez Távora. Pelo PSD, Juscelino Kubistchek de Oliveira. Pelo PSP 
– Partido Social Progressista –, Adhemar de Barros. E pelo PRP – Partido da 
Representação Popular –, o antigo líder integralista Plínio Salgado. Juscelino, 
Juarez Távora e Adhemar de Barros foram os principais candidatos. Juarez foi um 
militar com destaque no movimento tenentista e na Revolução de 1930. Juscelino 
era médico, ligado por casamento a uma tradicional família mineira relacionada 
com a política estadual. Adhemar era um político paulista, com forte carisma 
entre as massas populares. Porém, também criticado por suspeitas de corrupção. 
Contando com pequena vantagem de votos, Juscelino foi eleito presidente 
da República do Brasil. Porém, a sua posse foi extremamente atribulada. Como 
na época não existia segundo turno, os partidários da UDN tentaram impugnar 
as eleições, com o argumento de que Juscelino não alcançou a maioria absoluta 
dos votos dos brasileiros. 
Neste cenário político conturbado, o presidente Café Filho foi acometido 
de uma grave doença, sendo a Presidência da República dos Estados Unidos do 
Brasil ocupada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz. O Ministro 
da Guerra, Marechal Teixeira Lott, que tinha votado em Juarez Távora, mas que 
ao mesmo tempo possuía um histórico de legalismo, ao observar que o grupo 
ligado a Carlos Luz não desejava a posse do presidente eleito, realizou um golpe 
preventivo, destituindo Carlos Luz do poder e empossando como presidente o 
político catarinense Nereu Ramos, à época o então presidente do Senado. Nereu 
Ramos, que era ligado ao PSD, mesmo partido do presidente eleito, acabou por 
garantir a posse do presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
93
FIGURA 21 - Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos 
FONTE: Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes>. Acesso 
em: 10 maio 2015.
O governo Juscelino contou com forte oposição. A primeira através dos 
jornais, em especial com a postura agressiva do jornalista Carlos Lacerda, que em 
seu jornal, Tribuna da Imprensa, buscou desestabilizar as ações da Presidência 
da República. Outra ação oposicionista agressiva ocorreu entre oficiais da 
Aeronáutica do Brasil, que realizaram duas revoltas militares no interior do Brasil, 
nas cidades de Arçagarças e Jacareacanga. Revoltas que foram debeladas, em 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
94
FIGURA 22 - JUSCELINO KUBISTCHEK DE OLIVEIRA
FONTE: Disponível em: <ttp://www.biblioteca.presidencia.gov.br/
ex-presidentes/jk/foto>. Acesso em: 10 maio 2015.
grande parte, pela ação do Marechal Lott, que foi mantido no cargo de Ministro 
da Guerra por Juscelino Kubitscheck. Porém, mesmo debelando o golpe, Juscelino 
teve a postura de anistiar os envolvidos nos episódios de insubordinação militar 
(FAUSTO, 2007). 
Mesmo contando com forte oposição, o que é saudável em uma 
democracia (quando a oposição não apela para ações de violência), o governo 
Juscelino Kubitscheck foi um empreendimento político de grandes realizações. 
O slogan do governo, 50 anos em 5, refletia a imagem prática do ideal nacional-
desenvolvimentista. Para concretizar o seu ambicioso plano de fazer o Brasil 
progredir em cinco décadas, o presidente estabeleceu o “Plano de Metas”. Tratava-
se de 21 metas para o desenvolvimento do país. Uma das medidas foi a instalação 
de uma Universidade Federal na capital de cada estado. Também se destacaram 
a instalação de companhias multinacionais, em especial as montadoras de 
automóveis que se abrigaram nos municípios da Grande São Paulo. Porém, o 
maior símbolo do governo JK foi a transferência da Capital Federal da cidade do 
Rio de Janeiro para o sertão de Goiás.
A construção de Brasília foi um capítulo à parte, que ao mesmo tempo 
simboliza o ideal desenvolvimentista do governo Juscelino. Em um comício, no interior 
de Goiás, Kubitscheck foi interpelado por um popular, que perguntou se o candidato, 
caso eleito, iria cumprir o antigo preceito constitucional que indicava a transferência 
da capital da República para o Centro-Oeste. Na ocasião, o candidato respondeu que, 
caso eleito, iria cumprir a Constituição na íntegra. E tal promessa de campanha acabou 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
95
FIGURA 23 - JÂNIO QUADROS
FONTE: Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/
ex-presidentes/janio-quadros/foto>.
sendo cumprida. Contando com os projetos do urbanista Lúcio Costa e do arquiteto 
Oscar Niemayer, Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, no Dia de Tiradentes. 
A capital foi formada contando com a mão de obra nordestina que migrou para o 
Centro-Oeste, os chamados candangos, que trabalhavam na Nova Cap, a companhia 
responsável pela construção da nova cidade. 
As eleições que levaram à sucessão de Juscelino foram relativamente 
tranquilas. Três nomes se lançaram ao pleito. O Marechal Teixeira Lott, pelo 
PSD, tinha o apoio oficial de Juscelino. Por sua vez, os outros dois candidatos 
à Presidência eram políticos com carreira realizada em São Paulo: Adhemar de 
Barros, pelo PSP, e Jânio Quadros, pela UDN. A campanha para vice-presidente 
teve os nomes de João Goulart, pelo PTB, Milton Campos, pela UDN, e Fernando 
Ferrari, pelo Movimento Trabalhista Renovador. Todavia, a campanha não seguiu 
os ditames partidários, e João Goulart, vice de Lott, apoiou indiretamente Jânio 
Quadros na denominada campanha JAN-JAN, isto é, Jânio e Jango. 
Jânio Quadros pode ser considerado um verdadeiro fenômeno político de 
massas. Demagogo, gostava de fazer campanha com ternos sujos de caspa, cabelo 
despenteado, e comendo pão com mortadela no palanque político.Sua principal 
bandeira política era o conservadorismo, se afirmando católico e anticomunista. 
Este tipo irônico formado por Jânio Quadros agradou grande parte do eleitorado 
urbano, que se identificava com os discursos populares realizados por Jânio 
Quadros. Não tinha ele grande respeito pelos partidos, tendo trocado algumas 
vezes de filiação, o que agradava ao eleitorado, pois se colocava “acima dos 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
96
interesses de grupo”. Ao mesmo tempo, o Marechal Lott, mesmo tendo um 
discurso nacionalista, não possuía carisma e eloquência para discursar para as 
massas, o que em grande parte explica sua derrota, mesmo tendo o apoio de 
Juscelino Kubitschek. 
A instabilidade econômica gerada com altas dívidas contraídas pelo 
governo Juscelino, aliada a uma postura agressiva contra JK, explicam em 
parte a curta permanência de Jânio Quadros no poder. Em geral, o presidente 
foi capaz de, em um mundo bipolarizado pela guerra fria (a disputa entre os 
blocos capitalista e comunista pelo domínio global), ter atitudes que agradavam 
a conservadores e a revolucionários. Em relação a medidas conservadoras, o 
Presidente Jânio Quadros tomou atitudes controversas, como a proibição de 
rinhas de galo, além de proibir a utilização de biquínis nas praias brasileiras. 
Atitudes que agradavam à classe média católica. Porém, ao mesmo tempo, tomou 
atitudes que agradavam a setores de esquerda, como a condecoração de Ernesto 
Guevara, líder da Revolução Cubana, com a Ordem do Cruzeiro do Sul, a maior 
honraria da República brasileira.
UNI
O filme Jânio a 24 Quadros é um documentário brasileiro, produzido em 1981 e 
dirigido por Luis Roberto Pereira, que trata da vida deste polêmico presidente brasileiro. Vale 
a pena conferir! 
Esta postura dúbia colocava o presidente sob suspeição, tanto de setores 
da direita, quanto dos setores de esquerda. Porém, a maior surpresa para a nação 
foi o seu pedido de renúncia do cargo de Presidente da República. No dia 25 de 
agosto de 1961, em meio às comemorações do Dia do Soldado, o Presidente Jânio 
Quadros renunciou ao cargo, comunicando a sua decisão aos ministros militares, 
Brigadeiro Moss, Marechal Denys e Almirante Rademacker. O pedido foi aceito 
pelos ministros militares. Porém, muitos setores no interior das forças armadas 
não aceitavam o nome do vice-presidente, João Goulart, mesmo sendo Goulart 
o sucessor legal. Quando Jânio renunciou, Jango se encontrava em uma visita 
oficial dos Estados Unidos do Brasil à República Popular da China, que tinha se 
transformado em um país comunista (DREIFFUS, 1987).
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
97
FIGURA 24 - JOÃO GOULART
FONTE: Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/
ex-presidentes/joao-goulart/foto>. Acesso em: 10 maio 2015.
Havia rumores da realização de um golpe de Estado pelos ministros 
militares, visando impedir a posse de João Goulart. Buscando garantir a posse, 
Leonel Brizola, seu cunhado, à época governador do Estado do Rio Grande do 
Sul, liderou a denominada Campanha da Legalidade, um movimento armado 
que, contando com o apoio da Brigada Militar gaúcha (Polícia Militar do Rio 
Grande do Sul), acabou por garantir a posse de Goulart, que, voltando da China, 
desembarcou em Porto Alegre via Uruguai, e acabou por aceitar um grande 
acordo, articulado pelo político mineiro Tancredo Neves, que garantiu a posse de 
Jango, modificando o regime de governo, de presidencialista para parlamentarista, 
sendo o primeiro-ministro Tancredo Neves. 
O sistema parlamentarista, todavia, não foi capaz de resolver os graves 
problemas econômicos que o país viveu, com grandes dívidas externas e inflação. 
Com isto, temos uma grande insatisfação da população com o sistema de governo. 
Ao observar esta situação, além da grande rotatividade de políticos no cargo de 
primeiro-ministro, um plebiscito foi conclamado em 1963, que instituiu novamente 
o Presidencialismo no Brasil. Assim, o Presidente João Goulart teve possibilidade de 
implementar seu plano de governo, que foi intitulado como as “Reformas de Base”. 
Para conseguir apoio popular aos seus projetos, o Presidente Goulart 
programou grandes comícios nas cidades brasileiras, sendo um dos primeiros o 
Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Este comício (realizado próximo 
das dependências do Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro, onde se encontrava 
o chefe do Estado Maior do Exército, o Marechal Humberto de Alencar Castelo 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
98
Branco), foi uma tentativa do governo de demonstrar aos militares que a 
população apoiava as medidas governamentais. Todavia, muitas propostas 
desagradavam a vários setores das camadas médias e das elites brasileiras. 
Em especial, a declaração de uma reforma agrária às margens das rodovias e 
ferrovias pertencentes ao governo federal, motivou uma forte reação das classes 
médias e setores conservadores. Em São Paulo, mulheres da elite econômico-
social organizaram a “Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade”, no dia 
19 de março de 1964. Menos de um mês depois, um antigo militar integralista 
envolvido no golpe do Estado Novo, Olímpio Mourão Filho, deslocou as tropas 
do Exército de Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro, destituindo assim o governo 
Goulart. 
Dentre as diversas causas para o golpe, podemos citar a relação política de 
Jango com os militares. A política militar do governo João Goulart foi, em grande 
parte, de complexa e difícil execução. Pois foi instituída a denominada “Política 
dos Sargentos”. Isto é, como, dentre os oficiais, João Goulart não contava com 
popularidade, o governo buscou valorizar os praças. Estes seriam comandados 
pelos denominados “Generais do Povo”, que, por sua vez, eram promovidos não 
pela competência profissional, mas sim por proximidade com a política instituída 
pelo governo. Assim, as relações hierárquicas no interior dos quartéis ficaram 
minadas. Isto porque muitos oficiais se sentiram desprestigiados (SODRÉ, 1965). 
Nos últimos dias de março de 1964, uma associação de marujos da 
esquadra brasileira se reuniu no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos da 
Guanabara para comemorar o terceiro aniversário da Associação de Marinheiros 
e Fuzileiros Navais do Brasil. Todavia, por ser considerada uma instituição ilegal, 
os fuzileiros navais foram enviados para pôr fim ao que foi considerado um 
motim. Porém, os marinheiros e fuzileiros navais não foram punidos, carregando 
em triunfo o Almirante Aragão, oficial responsável por debelar a reunião de 
praças da Marinha de Guerra. Ao anistiar a Associação de Marinheiros, que fora 
punida e considerada ilegal pela maior parte do almirantado, o Presidente Jango 
passou a ter a oposição da maior parcela dos oficiais das forças armadas, que 
acabaram por apoiar a ação militar do General de Brigada Olímpio Mourão Filho, 
um antigo líder integralista, que comandava as tropas do Exército em Juiz de 
Fora-MG, e que a 1º de abril tomou o Rio de Janeiro, com apoio dos soldados da 
Vila Militar de Deodoro, subúrbio carioca.
O Presidente João Goulart acabou por se refugiar no Rio Grande do 
Sul. Porém, ao considerar que não possuía apoio militar suficiente, resolveu se 
exilar no Uruguai. Com a tomada do poder pelos militares, temos o fim de um 
período de democracia no Brasil, sendo substituído por um governo ditatorial, 
que permaneceu no poder por 21 anos. 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
99
5 AS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL ENTRE 1930 ATÉ 
1964
As relações internacionais do Brasil no período nacional-desenvolvimentista 
podem ser divididas em três períodos: um até a entrada dos Estados Unidos na 
II Guerra Mundial, outra ao longo do período de conflito, e uma com o advento 
da Guerra Fria.Até a entrada dos Estados Unidos da América na II Guerra, as trocas 
comerciais com a Alemanha eram muito grandes, sendo parte dos oficiais 
generais do Exército francamente favoráveis às ações nazistas. Especificamente 
durante o Estado Novo, muitos destes generais ousavam declarar publicamente 
a eficiência do Partido Nacional-Socialista em guiar os destinos alemães como um 
exemplo aos brasileiros. Todavia, após a entrada dos Estados Unidos da América, 
personagens influentes no governo Vargas e considerados americanófilos, 
como Oswaldo Aranha, ganham destaque. O Brasil não acenava de início um 
incondicional apoio, seja com a Alemanha de Hitler ou com os estadunidenses.
O evento que motivou a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial 
foi o torpedeamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães. 
A ação, considerada um ato de manifesta covardia, foi um “estopim” para uma 
manifestação de estudantes nas ruas, exigindo a participação brasileira. Assim, 
o Brasil passou a fazer parte dos exércitos aliados. Algumas pessoas afirmavam, 
na época, que os Estados Unidos tinham obrigado o Brasil a participar da guerra, 
sendo que não teriam sido submarinos alemães, mas sim americanos, que teriam 
atingido as embarcações brasileiras. Porém, tal hipótese jamais foi comprovada. 
A estrutura do Exército brasileiro de então era precária. A Missão Militar 
Francesa tinha buscado aumentar a capacitação dos militares nacionais. Porém, 
não era o Brasil capacitado para a moderna guerra de movimentos, sem ter os 
meios para combater a guerra relâmpago nazista. Mesmo assim, os reservistas 
foram convocados. Nos anos 1940, foi a primeira vez, desde a Guerra do Paraguai, 
que o Brasil recrutava jovens para lutar no front de guerra. Muitos jovens tiveram 
de abandonar suas casas e se engajar no Exército. A declaração de guerra ocorreu 
em 1942, mas apenas dois anos depois, em 1944, o Brasil efetivamente participou 
do conflito (MAXIMIANO, 2004). 
Apesar dos problemas estruturais, a participação militar do Brasil na II 
Guerra Mundial foi ativa. Muitos diziam ser mais fácil uma cobra fumar que 
o Brasil participar do conflito. Porém, a “cobra fumou”. Com o apoio norte-
americano foram criadas a FEB (Força Expedicionária Brasileira) e a FAB (Força 
Aérea Brasileira). Ambas guerrearam no sul da Itália, buscando cooperar com a 
vitória dos aliados na Europa. O Exército enviou tropas que foram comandadas 
pelo então General de Divisão (posteriormente Marechal) Mascarenhas de Moraes. 
A FEB era uma Divisão que fazia parte do V Exército Americano, comandado 
pelo General Marc Clarck. Nossos soldados e aviadores tiveram feitos heroicos, 
como na tomada de Monte Castelo. Todavia, tiveram muitas dificuldades 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
100
devido ao pouco preparo do oficialato nas lides da guerra, além das condições 
meteorológicas adversas do inverno europeu, pois os pracinhas treinavam para 
o combate no calor dos trópicos, e tiveram de lutar na neve italiana. O Brasil 
enviou um total de 25.000 homens, sendo que aproximadamente 500 morreram 
em combate, além de um muito maior número de brasileiros que voltaram com 
sérios distúrbios psicológicos ou mesmo mutilados. Os brasileiros mortos foram 
enterrados na Itália, no cemitério de Pistoia, e posteriormente, os restos mortais 
foram transladados para o Rio de Janeiro, onde se encontram no Monumento 
aos Pracinhas no Aterro do Flamengo. Não houve, por parte das autoridades 
políticas e militares nacionais, um preparo para a baixa dos recrutas que haviam 
combatido na Itália. O Brasil, infelizmente, não dispensou um tratamento digno 
aos expedicionários. 
A barganha comercial, visando industrializar o país, foi a pauta das 
negociações para a entrada do Brasil na guerra. Os estadunidenses tinham 
interesses em instalar bases militares no Nordeste brasileiro. A cidade de Natal-
RN teve uma das principais bases aéreas estadunidenses em todo o mundo. Estes 
quartéis foram criados por ser o Nordeste um ponto estratégico, visando derrotar 
as tropas do Eixo que se encontravam no Norte da África. Não apenas em Natal, 
como em várias cidades do litoral nordestino, a presença norte-americana foi 
sentida. A utilização do litoral brasileiro foi a pauta para o Brasil receber em 
troca os capitais e a qualificação de mão de obra que possibilitaram a criação 
da Companhia Siderúrgica Nacional na cidade de Volta Redonda, no interior 
fluminense (TRONCA, 1981). 
No que tange às influências das doutrinas militares estrangeiras em 
relação às forças armadas brasileiras, o período do pós-guerra simbolizou o final 
da influência francesa no Exército, e o início de uma perene influência militar 
norte-americana. Esta influência, que se iniciou nos campos de batalha da Itália, 
se ampliou de modo formal em 1952, com a assinatura, pelo Presidente Getúlio 
Vargas, do Acordo Militar Brasil–Estados Unidos, no qual o Exército, a Marinha 
e a Força Aérea norte-americana auxiliavam os militares brasileiros. Também no 
início dos anos 1950 foi fundada uma instituição de altos estudos militares, por 
influência norte-americana, a Escola Superior de Guerra. 
Após a guerra, a diplomacia brasileira ganha destaque com a fundação 
da Organização das Nações Unidas. O primeiro presidente da instituição foi o 
brasileiro Oswaldo Aranha. Porém, neste período, o Presidente da República 
já era o Marechal Eurico Gaspar Dutra. Houve a chamada reunião de cúpula 
dos países americanos no Rio de Janeiro em 1947. Nesta reunião foi estabelecido 
o TIAR – Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca, no qual todos os países 
americanos se comprometeriam em auxiliar qualquer nação signatária do acordo 
se fosse militarmente atacada. Em 1948 foi estabelecida a OEA – Organização dos 
Estados Americanos, aprofundando ainda mais o Pan-americanismo. 
Mas a marca geral da política brasileira com a instituição da Guerra Fria, a 
disputa indireta dos Estados Unidos e da União Soviética pelo domínio mundial, 
TÓPICO 1 | A HISTÓRIA POLÍTICA DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO
101
foi estar em grande parte ligada aos ocidentais, liderados pelos Estados Unidos 
da América. Esta postura teve sérias repercussões nas crises políticas internas. 
Uma delas foi colocar o Partido Comunista do Brasil na ilegalidade. Como 
legitimação da arbitrariedade foi utilizada uma entrevista do então senador Luís 
Carlos Prestes no qual ele teria afirmado que em uma guerra do Brasil contra a 
União Soviética, os comunistas brasileiros apoiariam os russos. 
No segundo governo Getúlio, o Itamaraty possuiu uma postura da 
tentativa de política externa independente aos interesses dos Estados Unidos da 
América. Esta política se revelou tanto na esfera militar quanto na econômica. 
Na esfera militar, apesar da assinatura do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, 
o governo se negou a enviar soldados para o campo de batalha na Guerra da 
Coreia, em auxílio às tropas norte-americanas, que foram comandadas pelos 
generais Douglas MacArthur e Mark Clark (antigo superior americano da FEB 
na Itália). No campo econômico, as multinacionais dos Estados Unidos com 
presença no mercado brasileiro tiveram seus interesses prejudicados com a 
política nacionalista de Getúlio Vargas. 
A política externa brasileira, após a Segunda Guerra Mundial, ganhou 
um crescente espaço no cenário político internacional. Podemos acompanhar que 
os diferentes governos buscaram preservar alguns valores importantes, como a 
defesa da livre determinação dos povos, quando da descolonização da África e 
da Ásia após o fim da 2ª Guerra Mundial, a defesa dos princípios dos direitos 
humanos e da dignidade da pessoa humana, além de defender a preservação 
ambiental e a não proliferação das armas nucleares. Porém, os diferentes 
governos apresentaram diferentes posições em relação a problemasespecíficos 
que o mundo viveu nos anos da Guerra Fria e com o fim dela, na configuração de 
uma Nova Ordem Mundial. 
A tônica da política externa brasileira após o governo JK foi a de 
permanecer vinculada ao bloco capitalista durante os anos da Guerra Fria. O 
governo Juscelino apoiou a ocupação de tropas britânicas e francesas no Canal 
de Suez, que havia sido fechado pelo presidente nacionalista egípcio Nasser. 
Inclusive mandando tropas para o front no Norte africano. Outra medida de 
cunho continental foi a instituição da chamada Aliança para o Progresso, um 
acordo de países latino-americanos com o governo dos Estados Unidos da 
América, vinculando preservação do apoio político aos estadunidenses com o 
auxílio humanitário. No ponto de vista militar, o governo brasileiro dos anos 
JK comprou um porta-aviões da Inglaterra, na Marinha brasileira rebatizado de 
Minas Gerais. Ainda durante o governo JK, o Brasil acabou por realizar novos 
acordos diplomáticos com a Bolívia, nos chamados Acordos de Roboré, pelos 
quais o país revia antigos acordos realizados por Getúlio Vargas em 1938, sendo 
grande parte destes acordos diplomáticos vantajosos para ambos os países, ao 
possibilitar livre trânsito entre bolivianos e brasileiros na estrada de ferro que liga 
Corumbá a Santa Cruz de La Sierra, que fora inaugurada em 1955. 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
102
UNI
A compra do porta-aviões Minas Gerais foi inspiração para uma engraçada sátira 
composta pelo artista Juca Chaves, de título “O Brasil já vai à guerra”. Vale a pena ouvir e 
conferir as críticas sociais presentes na bela e divertida canção. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=2P1J7Gndt4w>.
Durante o fim do governo Juscelino, o Brasil fez ensaios de uma política 
externa independente. Eram ensaios que terminaram com a ditadura militar. 
Ainda no governo JK foi decretada a moratória (recusa em pagar a dívida externa). 
No rápido governo Jânio Quadros, a política em parte se manteve. A tentativa de 
uma política externa independente foi uma das principais revoltas dos setores 
conservadores contra Jânio, pois foi ele o autor de uma condecoração com a 
honrosa Ordem do Cruzeiro do Sul ao revolucionário internacional Che Guevara. 
Esta tentativa de se criar uma política externa independente foi aprofundada 
no governo João Goulart. As perspectivas internacionais de um aumento das 
rivalidades entre a União Soviética e os Estados Unidos foram trabalhadas no 
sentido de tentar tornar o Brasil um país não alinhado diretamente com nenhum 
dos dois polos de poder global. Uma atitude que exemplifica esta busca de uma 
política externa independente ocorreu durante a chamada crise dos mísseis 
de 1961, na qual por muito pouco o mundo não assiste a uma terceira guerra 
mundial. Naquele episódio, do qual se afirmava existirem mísseis soviéticos em 
Cuba para atingir o território estadunidense, por orientação do chanceler San 
Tiago Dantas, o Brasil se mostrou contrário ao ato de punir o governo cubano, 
se abstendo de expulsar Cuba da Organização dos Estados Americanos em 1961 
(BANDEIRA, 1983). 
Uma das marcas da política externa norte-americana, que ocorreu após a 
Revolução Comunista em Cuba, foi a criação, pelo Presidente John Kennedy, da 
Aliança para o Progresso. Tratava-se de uma instituição que visava fornecer aos 
países da América Latina apoio humanitário, visando ao desenvolvimento social 
de uma região do mundo que sofria com o sério problema da fome. Assim, doações 
eram feitas para amenizar o estado de miséria da população latino-americana, da 
qual os brasileiros fazem parte. A aliança vigorou durante os anos 1960. 
Assim, podemos compreender que durante o período populista, as 
relações internacionais brasileiras foram de grande destaque no cenário sul-
americano e mundial. A política em geral foi vincular os interesses brasileiros 
aos interesses dos Estados Unidos da América, por vezes chamados de forma 
irônica de “O Grande Irmão do Norte”. Ao mesmo tempo, certos períodos em 
que o Brasil não se alinhou aos ditames dos interesses americanos foram poucos. 
As relações internacionais do Brasil com os Estados Unidos foram aprofundadas 
durante o regime militar brasileiro. 
103
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você pôde observar que:
• Populismo, nacional-desenvolvimentismo e trabalhismo foram os conceitos 
desenvolvidos pela História e Sociologia para compreender a política brasileira 
entre 1930 e 1964. 
• A Revolução de 1930 possibilitou a ascensão ao poder de uma oligarquia 
dissidente, o Estado do Rio Grande do Sul, com a liderança de Getúlio Vargas. 
• Durante o nacional-desenvolvimentismo, o Brasil foi regido por três 
constituições: 1934, 1937 e 1946. 
• Entre 1937 e 1945, o Brasil vivenciou a ditadura do Estado Novo.
• Em 1942, o Brasil declarou estado de beligerância à Alemanha Nazista, 
participando da Segunda Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos da 
América. 
• Eurico Gaspar Dutra foi o vencedor das eleições de 1946.
• Getúlio Vargas foi o vencedor das eleições de 1950. Porém, não completou o 
mandato ao cometer suicídio, em 1954. 
• Juscelino Kubistchek foi o presidente eleito nas eleições de 1955.
• O Brasil, no governo Juscelino, enviou tropas ao canal de Suez, no Egito, 
apoiando a França e a Inglaterra.
• Jânio Quadros foi o presidente eleito no pleito de 1960, porém renunciou ao 
cargo no Dia do Soldado de 1961. 
• João Goulart, vice-presidente eleito, assumiu o poder após a emenda 
parlamentarista. 
• Em 31 de março de 1964, um golpe militar depôs o presidente Jango Goulart, 
finalizando o período nacional-desenvolvimentista. 
104
AUTOATIVIDADE
Questão única: O período nacional-desenvolvimentista contou com a presença 
de políticos de grande carisma, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, 
dois presidentes que possibilitaram um amplo desenvolvimento nacional. 
Todavia, a biografia de Getúlio o ligou a um regime ditatorial, o Estado Novo. 
Todavia, sua morte foi motivo de grande comoção nacional. Neste sentido, 
como podemos compreender a construção desta popularidade durante o 
Estado Novo? 
105
TÓPICO 2
A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
As dinâmicas da economia brasileira durante o chamado nacional-
desenvolvimentismo sofreram as maiores alterações da história pátria. 
Isto porque o Brasil, desde os primeiros séculos de exploração colonial, se 
caracterizou como uma nação agrário-exportadora, que tem como participação 
na divisão internacional do trabalho o papel de exportador de matérias-primas 
e importador de produtos manufaturados. Durante a República Velha foram 
dados os primeiros passos da industrialização, que foram alargados nos governos 
Getúlio e Juscelino. Também foi um período de grande instabilidade econômica, 
com grande inflação, e a alteração do nome da moeda brasileira, dos mil réis para 
o cruzeiro. Também foi um período das regulamentações das leis trabalhistas e 
da implantação de institutos que buscavam o desenvolvimento nacional. 
2 A QUESTÃO DO CAFÉ E AS DEMAIS ATIVIDADES 
AGRÍCOLAS DURANTE A GRANDE DEPRESSÃO
A Revolução de 1930 está, do ponto de vista econômico, ligada aos efeitos 
de uma das maiores crises econômicas da história do capitalismo mundial: a crise 
de 1929. A crise econômica, que se iniciou com a quebra da Bolsa de Valores de 
Nova York, em 1929, se alastrou por todo o mundo capitalista durante os anos 
1930, período conhecido por Grande Depressão. A crise teve efeitos diretos 
no Brasil, pois os estadunidenses eram os maiores importadores do principal 
produto de exportação e que garantia o balanço de pagamentos do país: o café.
 Os Estados Unidos da América viveram um período de grande 
prosperidade durante os anos 1920. Isto porque o parque industrial europeu 
estava em grande parte dizimadodurante a Primeira Guerra Mundial, sendo os 
ianques os principais fabricantes de produtos industrializados. Todavia, com a 
recuperação industrial europeia, os Estados Unidos perderam grande parte do 
monopólio da produção industrial mundial. Isto gerou uma superprodução 
industrial, que, aliada à irresponsabilidade da ação de especulação na Bolsa de 
Valores de Nova York, gerou uma crise sem precedentes no principal país do 
mundo capitalista. A crise possibilitou uma alteração na compreensão teórica 
da economia, pois, se antes tínhamos na maior parte dos países a ideia de um 
liberalismo econômico, com a crise temos o início das teorias que pregavam uma 
intervenção do Estado na economia. Intervenção esta que foi vivenciada no Brasil 
durante o período nacional-desenvolvimentista. 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
106
Os efeitos da crise de 1929 no Brasil foram profundos, pois o café acabou 
sofrendo grande desvalorização no mercado internacional. Esta desvalorização 
do café poderia gerar a quebra econômica de muitos fazendeiros e demais 
profissionais e setores da cadeia produtiva, que eram ligados à exportação deste 
produto. Uma das primeiras medidas realizadas pelo governo Getúlio Vargas 
para tentar evitar uma quebra generalizada de fazendas cafeicultoras foi a 
compra, pelo Estado, de grande parte da produção. Após o Estado as adquirir, 
muitas sacas de café foram queimadas, como também lançadas ao mar. Com isto, 
buscava-se a valorização do produto no mercado internacional, com a redução 
da oferta. 
Uma das medidas tomadas pelo governo Getúlio Vargas foi a criação 
do CNC – Conselho Nacional do Café, substituído em 1933 pelo Departamento 
Nacional do Café. Esta instituição possibilitou uma maior racionalidade na gestão 
do principal produto da pauta de exportações. Durante os três primeiros anos 
da Revolução de 1930 foi proibida a plantação de café, além de ter sido adotada 
uma política de baixos salários. Estas medidas foram muito impopulares entre os 
cafeicultores, pois tiveram que se subordinar às medidas governamentais. Porém, 
as medidas possibilitaram a manutenção do produto como importante para a vida 
nacional, além de possibilitarem a recuperação econômica do produto no mercado 
internacional (FURTADO, 1987). 
As medidas adotadas pelo governo Getúlio em relação ao café foram 
mantidas e aprofundadas pelos demais governos do período nacional-
desenvolvimentista, pois, mesmo passando por um processo de industrialização, 
foram as sacas de café o principal produto de exortação brasileiro durante todo o 
período nacional-desenvolvimentista. 
3 A POLÍTICA DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES 
 A política de substituição de importações é como ficou conhecida a fase 
da economia brasileira que se iniciou com a Revolução de 1930 e terminou com 
o governo de Juscelino Kubitschek, com a vinda de empresas multinacionais 
nos setores automobilístico e naval. A política econômica de substituir produtos 
importados por aqueles de fabricação nacional teve no governo federal seu 
principal condutor, em grande parte, porque a então denominada burguesia 
nacional não possuía mecanismos de suportar a livre concorrência do comércio 
exterior. Outro ponto é a dependência de determinadas indústrias (as indústrias 
de base, como a siderurgia e a metalurgia) para o desenvolvimento de outros 
setores da cadeia produtiva (LEOPOLDI, 2000). 
A crise europeia foi um dos vetores para a iniciativa de substituir produtos 
antes importados por aqueles de fabricação nacional. Assim como também, uma 
das motivadoras para uma maior diversificação e integração entre os diferentes 
eixos geoeconômicos do Brasil. Uma das nações que apoiou o desenvolvimento 
industrial do Brasil foram os Estados Unidos da América, em uma articulação 
diplomática do governo Vargas, que, ao declarar guerra à Alemanha em 1942, 
TÓPICO 2 | A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
107
vinculou o apoio ao governo americano com a criação da Companhia Siderúrgica 
Nacional, na cidade de Volta Redonda, no interior do Estado do Rio de Janeiro. 
Por isso, o presidente Vargas é por alguns historiadores econômicos considerado 
o líder político responsável por estabelecer as indústrias de base no Brasil. Por 
indústria de base podemos considerar a indústria siderúrgica e a metalurgia, pois 
elas produzem as bases para os demais setores industriais, como os ramos naval 
e automobilístico. 
Entre os anos 1930 até 1960, o Brasil possuiu diversas iniciativas estatais 
de nacionalizar empresas estrangeiras, vindas para o Brasil durante a República 
Velha, além de criar estatais para o controle de setores considerados estratégicos. 
Um dos principais setores foi o do petróleo e a exploração dos demais recursos 
minerais. Outra presença estatal era na navegação de longo curso, com a 
Companhia Loide Brasileiro. A ação estatal de fomentar indústrias surtiu certo 
efeito, despontando, nesta época, diversas empresas que atuaram nos mais 
variados setores. A FNM – Fábrica Nacional de Motores e a INA – Indústria 
Nacional de Armamentos, foram alguns exemplos de indústrias notadamente 
guiadas pelo capital estatal. 
Outra ação característica da época de substituição de importações foi a 
do corporativismo dos industriais, através das fundações de órgãos de interesses 
patronais, as federações estaduais das indústrias (por exemplo: a Federação das 
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP). Algumas empresas foram criadas 
naqueles tempos, outras tantas alcançaram um mercado consumidor maior. 
Podemos citar alguns exemplos, como: Biscoitos São Luiz, Brahma Chopp e 
Companhia Antártica Paulista. 
Um período de interregno na política de substituições de importação 
ocorreu no governo Dutra. O general Eurico Gaspar Dutra realizou um governo 
que contou com ações autoritárias e políticas econômicas desastradas. Entre as 
principais ações que demonstram o autoritarismo do governo Dutra está o fato 
de em seu governo ter sido designada a ilegalidade do Partido Comunista. Uma 
(certa) tradição autoritária permeava o governo. Todavia, o maior problema foi 
a sua política econômica, pois o Brasil terminou a guerra como credor do Velho 
Mundo. Todavia, ao invés de aproveitarmos o saldo positivo da guerra, acabamos 
por nos endividar em curto espaço de tempo (LEOPOLDI, 2000). 
No início do governo Dutra, a tendência foi seguir uma política econômica 
liberal. Isto é, o fim do controle do câmbio e das importações dos produtos. Com a 
desvalorização da moeda e crise financeira, causada pela importação de produtos 
de toda monta, o governo voltou a ter controle sobre as importações e o câmbio, 
tendo a partir de 1948 uma recuperação e aumento no Produto Interno Bruto da 
economia nacional. 
Com a volta de Vargas ao poder em 1951, o liberalismo econômico cede 
espaço para um dirigismo estatal. Não existem dúvidas de que a principal marca 
da política nacionalista do segundo governo Getúlio Vargas foi a política de 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
108
nacionalização do petróleo. A campanha “O petróleo é nosso” mobilizou as mais 
diferentes camadas da população com um forte ideário nacionalista, buscando 
primeiro provar a existência de petróleo no território brasileiro. Num segundo 
lugar, garantir o monopólio do petróleo na direção de uma empresa estatal. 
A Petrobrás é uma grande estatal brasileira. Porém, a sua criação 
dividiu a sociedade. De um lado, tínhamos as posições dos nacionalistas, 
que eram liderados pelo general Horta Barbosa. De outro, as posições dos 
internacionalistas, liderados pelos generais Juarez Távora e Cordeiro de Farias. 
Com isto, podemos notar que, além da campanha pública, as questões em relação 
à política petrolífera se refletiam no interior do Exército, mais notadamente nas 
disputas pela presidência do Clube Militar. Osgrupos nacionalistas se reuniam 
em torno da candidatura do general Estilac Leal, que eram simbolizados pela 
chapa de cor amarela. Os internacionalistas eram representados pelo general 
Humberto de Alencar Castelo Branco, e faziam parte da chapa de cor azul. A 
vitória dos nacionalistas no Clube Militar nos anos 1950 foi a possibilidade de 
uma garantia de que a política petrolífera, apoiada pelo general Horta Barbosa, 
saísse vitoriosa no embate político. A vitória deste grupo se materializou na 
criação da Petrobrás e na manutenção de um monopólio estatal da exploração 
de petróleo no Brasil. A importância da Petrobrás, além de facilitar o setor de 
transportes com a possibilidade do aumento da oferta de combustíveis, também 
se relaciona ao desenvolvimento industrial, em especial de setores com produtos 
derivados do petróleo. Mais notadamente, aqueles que utilizam o plástico como 
matéria-prima. 
A Petrobrás começou a explorar e refinar petróleo em alto-mar. No 
litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, na Bacia de Campos, foi encontrado 
petróleo. O monopólio estatal do petróleo também foi acompanhado por outras 
medidas. Uma delas foi a monopolização de todos os recursos minerais presentes 
no subsolo, que por determinação legal passaram a pertencer à União (governo 
federal). Para tanto foi criada a Companhia Vale do Rio Doce. No interior 
fluminense também havia sido criada a Companhia Siderúrgica Nacional. Assim, 
uma estrutura mínima para o desenvolvimento industrial estava presente no 
território brasileiro. 
FIGURA 25 - PETROBRAS
FONTE: Disponível em: <http://www.petrobras.com.br>. 
Acesso em: 20 jul. 2015. 
TÓPICO 2 | A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
109
FIGURA 26 – COMPANHIA VALE DO RIO DOCE 
FONTE: Disponível em: <http://www.vale.com>. Acesso em: 20 jul. 2015.
FIGURA 27 – COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL
FONTE: Disponível em: <http://www.csn.com.br>. Acesso em: 20 jul. 2015.
Para a presença de uma indústria nacional autônoma, se faz necessário o 
desenvolvimento científico. Neste sentido, foram criados alguns órgãos durante o 
período getulista. Os símbolos desta época foram a CAPES, o CNPq e o CBPF. A 
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior) visava 
qualificar os docentes universitários e possibilitar uma expansão das faculdades. O 
CNPq (Centro Nacional de Pesquisas Científicas) pretendia estimular a inovação 
tecnológica. Outro importante órgão foi o CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas 
Físicas), que contou com importantes cientistas, como César Lattes, Lopes Leite e 
Mário Schenberg. 
Outra questão importante para se criar uma estrutura urbana e industrial 
foi disciplinar as relações trabalhistas. A luta dos trabalhadores brasileiros por 
melhores salários, tendo uma condição de vida mais digna, se mostra presente 
em todos os 500 anos de história pátria. Todavia, com o incremento da Revolução 
Industrial e da constituição de uma indústria urbana, as reivindicações ganharam 
peso. Os sindicatos começaram se institucionalizar ainda na República Velha, 
sendo os principais intermediadores entre os funcionários e os patrões. Todavia, 
as instituições sindicais não eram reconhecidas pelo governo. Em 1932 foi 
reconhecido o Sindicato dos Estivadores. Em 1934, na Assembleia Nacional 
Constituinte, foram presentes representantes classistas, que visavam defender 
direitos das mais diferentes categorias profissionais. Com o Estado Novo, em 1943, 
foi instituída a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Trata-se de instituir em 
um único dispositivo legal as mais variadas leis que regiam os trabalhadores, 
evitando assim discrepâncias entre as organizações sindicais e as instituições 
patronais. Uma carta que regia direitos e deveres aos chefes e subordinados, 
instituindo o salário mínimo nacional regido por lei federal, férias, décimo terceiro 
salário e aposentadoria por tempo de serviço, além de estabilidade no emprego 
após dez anos interruptos na mesma empresa. Uma característica do período 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
110
eram as associações por profissões, como o IAPB (Instituto de Aposentadoria e 
Previdência dos Bancários), IAPI (Instituto de Aposentadoria e Previdência dos 
Industriais), IAPC (Instituto de Aposentadoria e Previdência dos Comerciários) 
etc. O símbolo máximo das determinações legais getulistas em relação às 
questões trabalhistas foi a instituição da Carteira de Trabalho como documento 
de identificação individual do trabalhador. 
Mesmo com uma estrutura sendo criada visando ao desenvolvimento 
industrial, o Brasil do período getulista foi marcado pela dependência econômica 
dos setores tradicionais agrícolas. Uma defesa dos interesses de cafeicultores e 
demais setores rurais foi a tônica do período getulista. Em especial, porque o café 
representava um peso muito forte na balança comercial, sendo o responsável pelas 
divisas monetárias que possibilitavam a criação de uma estrutura industrial. Um 
dos principais pontos que permitem entender o peso dos produtores agrícolas é 
em relação à política trabalhista. Enquanto nas cidades os trabalhadores poderiam 
contar com uma série de leis que os beneficiariam, como décimo-terceiro salário, 
férias e descanso semanal remunerado. Os trabalhadores rurais ficaram ao largo 
das conquistas destes direitos, mesmo sendo a população rural maior que a 
urbana no período getulista (GOMES, 1994). 
Será a partir do governo Juscelino que o Brasil vai deixar de ser uma nação 
agrário-exportadora para se transformar em um país urbano e industrial. Será o 
início do Brasil Moderno. 
As políticas econômicas do Brasil Republicano na contemporaneidade sofrem 
as influências da abertura ao capital estrangeiro, ação formulada no governo Juscelino. 
Uma das principais marcas econômicas do governo JK foi justamente a vinda de 
indústrias multinacionais ao Brasil. Pois, ao invés de importar diretamente ou de 
fomentar indústrias e uma burguesia nacional, JK agiu com uma espécie de meio-
termo: a presença em território brasileiro das fábricas estrangeiras. Assim, agradava 
tanto aos setores nacionalistas, que tinham o desejo do desenvolvimento industrial, 
quanto aos liberais, que buscavam a integração com a ordem capitalista internacional. 
As primeiras indústrias automobilísticas a adentrarem no mercado brasileiro foram 
a alemã Volkswagen, além das norte-americanas Ford e General Motors, na Grande 
São Paulo. Atualmente, várias outras empresas automobilísticas estão presentes no 
mercado brasileiro. No Rio de Janeiro, foram presentes indústrias de construção naval, 
como os estaleiros Verolme e Ishibrás, de origens holandesa e japonesa. 
A principal cidade a se beneficiar com a vinda de um parque industrial 
automotivo foi São Paulo, que se firmou como um centro dinâmico da economia 
brasileira, atraindo capitais, mão de obra e as mais diferentes indústrias. A partir 
dos anos 1950, São Paulo ultrapassou o Rio de Janeiro em número de habitantes, 
se transformando na maior cidade brasileira. Em grande parte, poderia naqueles 
tempos (talvez até hoje), se afirmar existir um eixo econômico Rio-São Paulo, 
monopolizando grande parte da vida urbana e industrial do país, sendo os 
demais centros industriais e agrícolas submetidos aos dois maiores mercados 
consumidores do Brasil. 
TÓPICO 2 | A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
111
A construção de Brasília e as várias obras de infraestrutura realizadas pelo 
Governo Federal, como a compra do porta-aviões Minas Gerais, acarretaram em 
dificuldades econômicas. O Brasil teve dificuldades em relação aos seus credores 
externos. Como uma das últimas medidas realizadas pelo governo Juscelino está 
a decretação da moratória – negar-se a pagar a dívida externa (PRADO JÚNIOR, 
1987).
O curto governo Jânio Quadros não foi eficienteem resolver os problemas 
que o Brasil enfrentava. Com a sucessiva crise política causada pela sua renúncia, 
o governo posterior, João Goulart, teve sérias dificuldades em estabelecer uma 
política econômica clara e eficiente, buscando conter a inflação que estava 
corroendo o bolso dos assalariados. Para tentar vencer a forte crise econômica, o 
ministro Celso Furtado tenta estabelecer o plano trienal, que acabou se revelando 
fracassado. Necessitava-se de um plano que visasse ao controle dos gastos 
públicos e austeridade fiscal, porém esta política de estabilização se mostrava 
antagônica à pretensão do governo de aplicar as Reforma de Base. Um projeto 
nacionalista ambicioso, no qual, pelo discurso do presidente na Central do Brasil 
– Rio de Janeiro – em março de 1964, o país realizaria uma reforma agrária e 
impediria a remessa dos lucros das empresas estrangeiras atuantes no Brasil para 
suas matrizes na Europa e nos Estados Unidos. Esta radicalização nas políticas 
de nacionalização da economia desagradou a diversos setores da sociedade. 
Aos altos funcionários das multinacionais, aos latifundiários do campo e aos 
profissionais liberais urbanos. 
4 A POLÍTICA MONETÁRIA E CAMBIAL 
O governo Vargas foi instituído em um período de grande instabilidade 
econômica, causado pela crise econômica de 1929. Do ponto de vista do câmbio, 
foi o período em que o mundo assistiu ao fim da libra esterlina inglesa como 
moeda parâmetro das relações internacionais e a instituição do dólar como 
moeda padrão, no Conselho de Breton Woods, em 1944. A política monetária 
dos vários países do Ocidente foi marcadamente alterada nas décadas de 1930 e 
1940. Isto porque a depressão econômica alterou certos paradigmas das relações 
internacionais, tanto do ponto de vista político como econômico. Um economista 
inglês, Maynard Keynes, lançou uma publicação que revolucionou o pensamento 
econômico do século XX, de título Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. 
Em grande parte, Keynes defendia uma postura intervencionista do Estado em 
relação à economia. A intervenção estatal possibilitou a ampliação do número de 
empregos durante os períodos de crise econômica. 
Uma das marcas do período getulista em relação à economia foi a mudança do 
nome da moeda brasileira. Dos tempos do Império, até 1942, se chamava réis, sendo 
naquele ano substituída para cruzeiro. O cruzeiro acabou por ser a nomenclatura da 
moeda brasileira até o período da ditadura militar. 
A política monetária e cambial dos governos nacional-desenvolvimentistas 
é de fundamental importância para a compreensão do processo de industrialização 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
112
brasileiro, pois foram em grande parte as medidas cambiais as responsáveis 
pelo desenvolvimento de amplos setores da economia nacional, pois a principal 
contribuição do Estado no processo de industrialização vivido pelo país foi uma 
política de taxas alfandegárias que beneficiavam o produto nacional. Muitos 
setores da economia eram beneficiados por este tipo de ação governamental. Os 
produtos nacionais, mesmo se possuíssem qualidade inferior, eram preferidos 
pelo consumidor brasileiro. Isto porque as taxas e impostos cobrados pelos 
produtos importados os encareciam. As marcas nacionais eram mais baratas para 
o consumidor final. Esta foi uma tônica da política cambial, que visava beneficiar 
os produtores nacionais. 
Durante todo o período nacional-desenvolvimentista, o Brasil não possuía 
um Banco Central, como órgão responsável pela emissão monetária. Em 1945 foi 
criada a SUMOC - Superintendência da Moeda e do Crédito. Tratava-se de um 
órgão responsável pela política cambial e pela emissão de moeda no mercado 
brasileiro (LEOPOLDI, 2000). 
O Brasil possuiu, durante o período, duas grandes Bolsas de Valores, a Bolsa de 
Valores do Rio de Janeiro e a Bolsa de Valores de São Paulo. Ambas eram importantes 
instituições que possibilitavam às empresas se capitalizar, com a venda de ações. As 
empresas nacionais que se comportavam como sociedades anônimas eram em número 
considerável. Porém, também existiam muitas empresas de grande porte que eram 
sociedades limitadas, isto é, sem participação no mercado de ações. 
Além das Bolsas de Valores, o governo brasileiro possuía alguns bancos, que 
possibilitavam crédito aos empreendedores capitalistas nacionais. Os principais 
eram o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, além 
dos bancos de desenvolvimento regionais. 
O Banco do Brasil era o principal banco estatal do período. Sua função 
como instituição pública também era compartilhada com outros bancos, que 
pertenciam aos governos estaduais, cujo maior destaque era o BANESPA, 
o Banco do Estado de São Paulo, que foi fundado em 1909, mas que teve sua 
expansão como instituição durante os anos do nacional-desenvolvimentismo. 
Outros bancos estatais criados no período foram os bancos de fomento, entre os 
quais se destacara o BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, 
atual BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Criado 
durante o governo Getúlio Vargas, em 1952, sua principal função é fomentar o 
desenvolvimento econômico, com o fornecimento de crédito para os empresários 
nacionais. Naquele mesmo ano foi fundado o Banco do Nordeste do Brasil, sediado 
em Fortaleza, e que possuiu uma função semelhante à do BNDES, todavia com 
destaque para os estados do Nordeste. 
TÓPICO 2 | A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
113
FIGURA - BRASÃO DE GRANDES EMPRESAS ESTATAIS
FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.com/>. Acesso em: 26 out. 2015.
Também visando ao desenvolvimento econômico da região Nordeste, foi 
criado um importante órgão estatal, fundado nos anos 1950, durante o governo 
Juscelino Kubistchek, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, a 
SUDENE, com sede em Recife-PE. A SUDENE teve como um de seus principais 
articuladores o economista Celso Furtado. A ideia era criar bases para o 
desenvolvimento econômico da região. 
Apesar das ações estatais que visavam ao desenvolvimento econômico 
do Brasil entre as décadas de 1930 até 1960, a população brasileira teve, no final 
do período nacional-desenvolvimentista, de conviver com a inflação. O processo 
inflacionário, isto é, de uma alta generalizada dos preços dos produtos ao 
consumidor, pode ser compreendida devido a uma série de fatores. Em especial, 
como um dos “efeitos colaterais” do próprio desenvolvimento econômico latino-
americano. Também podemos elencar como uma das causas da inflação os 
grandes gastos estatais e as grandes obras públicas. 
As medidas estatais para tentar acabar com a inflação foram em geral 
fracassadas. Uma das principais medidas anti-inflacionárias foi o denominado 
plano trienal, estabelecido pelo economista Celso Furtado durante o governo 
João Goulart. O plano previa medidas drásticas, como o aumento de impostos e a 
redução dos gastos públicos. Porém, estas medidas não foram postas em prática. 
Talvez por isso, grande parte das camadas médias urbanas não apoiou o governo 
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
114
Goulart, pois uma das reações das camadas populares em relação à inflação eram 
greves visando ao aumento dos salários, pois assim, os trabalhadores teriam 
menos perdas salariais com o aumento do custo de vida. As greves, em especial 
do setor de serviços, transtornavam o cotidiano de muitos profissionais liberais, 
que também sofriam, assim como os demais trabalhadores, com o aumento do 
custo de vida. 
Entre as principais questões que envolviam a relação do Brasil com o 
exterior no tocante à economia foram duas medidas simbólicas, tomadas nos 
governos Juscelino e João Goulart, de profunda significação geopolítica. JK 
decretou moratória ao Fundo Monetário Internacional. Isto é, o governobrasileiro 
se negou a pagar os juros da dívida externa, por considerá-los abusivos. Por sua 
vez, João Goulart, no bojo das reformas de base, decretou a lei da remessa de 
lucros, com a qual o governo brasileiro impediria as multinacionais de remeter 
para as suas matrizes os lucros com as atividades industriais realizadas no 
Brasil. Tal medida tinha como objetivo expandir o mercado interno, forçando as 
empresas a “gastar os lucros” adquiridos no Brasil em solo brasileiro. Em relação 
a esta política, ela foi duramente rechaçada. O Presidente Goulart foi deposto do 
poder político do Brasil com o auxílio do governo norte-americano. 
5 O SETOR DE TRANSPORTES
O setor de transportes foi dinamizado com as transformações 
socioeconômicas do período nacional-desenvolvimentista. Podemos dizer que as 
principais ações da economia brasileira estão ligadas ao setor de transportes, como 
a vinda de multinacionais nos setores automobilístico e naval. Pode-se afirmar 
também que no período nacional-desenvolvimentista, em especial nas décadas 
de 1950 e 1960, tivemos a maior variedade de tipos de transporte à disposição 
da população e das indústrias nacionais. As ferrovias, estradas de rodagem e o 
transporte marítimo e fluvial eram presentes em diversas regiões brasileiras. 
O transporte marítimo ainda era muito importante para a compreensão 
das dinâmicas econômicas e da circulação de pessoas no Brasil durante o período 
populista. Isto porque as principais estradas de rodagem somente passaram a 
ser construídas no final do período. A empresa estatal Lloide Brasileiro acabou 
por se tornar a principal empresa de Marinha Mercante a atuar em todo o 
território nacional. Isto porque o Lloide adquiriu algumas pequenas empresas de 
cabotagem, o que possibilitou a ampliação da atuação da companhia. 
A ação estatal se fez presente no período, no qual se estatizaram muitas 
das antigas empresas que estavam vinculadas ao setor de transportes. Como 
exemplo, grande parte das estradas de ferro, de propriedade de capitalistas 
ingleses e norte-americanos, assim como alguns serviços públicos de bondes, que 
eram de propriedade de empresas estrangeiras, foram encampados pelo Estado 
brasileiro. 
TÓPICO 2 | A ECONOMIA NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
115
Também fez parte da ação estatal no tocante ao setor de transporte a 
criação de uma indústria estatal de carros. Tratava-se da FNM (popularmente 
conhecida por FeNeMê), a Fábrica Nacional de Motores. Empresa que tinha seu 
parque industrial na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e que 
se notabilizou pela fabricação de caminhões, que cruzavam as estradas brasileiras 
carregando os mais variados produtos. 
Porém, a principal característica deste período, no que tange às questões 
de transporte, se liga ao setor rodoviário. Pois foi neste período que tivemos a 
abertura da maior parte das estradas de rodagem brasileiras. Naquele tempo 
foram abertas vias de ligação terrestre das regiões Sul, Sudeste e Nordeste à então 
capital da República, a cidade do Rio de Janeiro. A primeira foi a ligação direta 
entre as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, a Via Dutra, estrada inaugurada 
pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra em 1951, tratava-se de uma moderna ligação 
entre a capital com a maior cidade do Brasil. A ligação do Sudeste com o Sul por 
estrada de rodagem ocorreu durante o governo Juscelino Kubistchek, quando 
tivemos a inauguração da Rodovia Régis Bittencourt. Em relação à ligação do 
Nordeste com o Sul, tivemos a construção da Rodovia Rio-Bahia. 
No que tange aos transportes urbanos, nos anos do nacional-
desenvolvimentismo tivemos uma ampliação dos bondes e trens urbanos. Todavia, 
foi neste período que tivemos um início dos ônibus urbanos, que até o presente 
fazem parte da paisagem da maior parte das cidades brasileiras, sendo os ônibus 
os principais meios de transporte urbano brasileiro da atualidade. 
116
RESUMO DO TÓPICO 2
• O Brasil sofreu as consequências da Crise Mundial de 1929, em especial com a 
desvalorização do preço do café no mercado internacional. 
• Uma das soluções para a monocultura do café foi a industrialização, que 
ocorreu primeiramente na Região Sudeste.
• O governo Getúlio Vargas incentivou a industrialização com a criação de 
companhias estatais.
• O governo Juscelino Kubistchek dinamizou o processo de industrialização 
brasileiro com a abertura do capital para as multinacionais. 
• O governo João Goulart escreveu a lei da remessa de lucros, proibindo o lucro 
das filiais brasileiras das multinacionais para as matrizes no estrangeiro.
• Durante o nacional-desenvolvimentismo, o Brasil contou com duas moedas 
nacionais. O mil réis até 1942 e, após este ano, o cruzeiro. 
• Foi criada a Superintendência da Moeda e do Crédito, a SUMOC.
• O dólar substituiu a libra esterlina como moeda padrão das trocas internacionais.
• O setor de transportes viveu o início da construção de longas estradas de 
rodagem, como as rodovias Régis Bittencourt, Via Dutra e Rio-Bahia. 
117
AUTOATIVIDADE
Questão única: O Brasil foi um país eminentemente agrário-exportador até 
o período nacional-desenvolvimentista, no qual a ação do Estado, criando 
políticas específicas, possibilitou o desenvolvimento da industrialização no país. 
Neste sentido, pergunta-se: como podemos compreender as ações de Getúlio 
Vargas e Juscelino Kubitschek para o desenvolvimento da industrialização no 
Brasil? 
118
119
TÓPICO 3
OS MOVIMENTOS SOCIAIS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Durante os anos que se estenderam da Revolução de 1930 até o golpe 
militar de 31 de março de 1964, pode-se observar que a população brasileira 
se engajou em diversos e importantes movimentos sociais. Por vezes, alguns 
destes são classificados como movimentos sociais conservadores. Como, por 
exemplo, o Integralismo de Plínio Salgado. Outros foram os movimentos sociais 
ligados aos ideais de esquerda, como o Comunismo de Luís Carlos Prestes. 
Porém, independente da conjuntura ideológica, se trataram de utopias sociais 
que buscaram resolver os males brasileiros. Deste modo, analisaremos vários 
e importantes episódios da história social brasileira que acompanharam o 
desenrolar dos eventos vivenciados no mundo ocidental no século XX. 
2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS DE DIREITA: A AÇÃO SOCIAL 
DA IGREJA CATÓLICA, O INTEGRALISMO E A TRADIÇÃO 
FAMÍLIA E PROPRIEDADE
A ação política no período populista não se caracterizou apenas pelas 
eleições ou pelos golpes militares empreendidos por facções na busca no poder 
político. Os movimentos sociais de massa também podem ser classificados como 
importantes agentes sociais a atuar politicamente no Brasil. Assim, observaremos 
a ação de diversos grupos que lutaram por suas ideologias no campo político 
brasileiro. 
Utilizamos um conceito útil para a compreensão das dinâmicas políticas 
brasileiras do século XX. Esquerda e direita. Por esquerda se compreende a ação 
de grupos políticos que buscavam uma profunda e rápida transformação social, 
simbolizados pela cor vermelha. Por direita se compreendia, ao longo do século 
XX, grupos sociais que visavam manter a estrutura social já existente, apesar de 
suas incoerências ou injustiças. 
O comunismo e o integralismo foram os dois principais movimentos 
sociais que fizeram parte do espectro sociopolítico do Brasil entre a Revolução de 
1930 até o golpe de 1964. Em nossa explicação, não buscaremos tipo de juízo de 
valor em relação a estes dois movimentos, mas sim mostrar suas características, 
que por vezes são opostas, como na compreensão de solidariedade social, e que 
por vezes se assemelham, como na compreensão de um governo autoritário como 
meio eficaz de solucionar os problemas nacionais. 
120
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
O comunismo surgiu no Brasil inspirado pelaRevolução de Maio de 1917, 
na Rússia. Fundado em 1922, em um congresso na então capital do Estado do 
Rio de Janeiro, a cidade de Niterói, o Partido Comunista Brasileiro foi um dos 
principais personagens políticos do Brasil ao longo de todo o século XX. Uma das 
principais ações políticas de direita no Brasil foi inspirada pela Igreja Católica, 
entre os anos 1920 até os anos 1960, quando o Concílio Vaticano II alterou os 
panoramas da Igreja Romana. Assim, começaremos analisando as ações políticas 
de direita. 
Sendo o catolicismo a religião que contava com o maior número de 
adeptos na sociedade brasileira ao longo do século XX, podemos compreender 
os principais grupos conservadores que atuaram no Brasil ao longo do século 
XX (mais notadamente a Sociedade Brasileira em Defesa da Tradição Família 
e Propriedade e a Ação Integralista Brasileira), influenciados pelo pensamento 
católico conservador. Em especial pelo pensamento de Jackson de Figueiredo, 
importante intelectual católico, fundador do Centro D. Vidal, instituto do 
pensamento cristão brasileiro, além da Revista Ordem, principal órgão de 
divulgação dos ideais destes intelectuais. 
A partir dos anos 1920, observa-se um interesse por parte do alto clero 
católico de se empreender um processo de recatolização de membros das elites 
econômicas e políticas nacionais, pois a República foi instituída segundo um 
legado do pensamento positivista, além de não ser ligada diretamente ao ideário 
católico grande parte das elites econômicas. Assim, muitos dos intelectuais 
foram, graças à influência de Jackson de Figueiredo, reconduzidos às fileiras da 
fé católico-romana. Entre os nomes que foram reconvertidos ao catolicismo está 
o do ex-ministro da Guerra Pandiá Calógeras, assim como o do crítico literário 
Alceu Amoroso Lima, que utilizava o pseudônimo Tristão de Athaíde. 
Um dos símbolos da tentativa de aumentar o imaginário católico na sociedade 
brasileira foi a construção do Cristo Redentor na então capital republicana, a cidade 
do Rio de Janeiro. Inaugurado em 1931, em sua festividade de abertura contando 
com a presença do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme e do 
presidente Getúlio Vargas, o Cristo Redentor foi um dos principais símbolos de todo 
o Brasil, reafirmando a tradição católica do povo brasileiro. 
O pensamento dos conservadores católicos, como Jackson de Figueiredo 
e Alceu Amoroso Lima, estava profundamente influenciado por um movimento 
intelectual católico de língua francesa, o denominado neotomismo, que tinha no 
filósofo Jacques Maritain seu principal ideólogo. Tratava-se de uma tentativa de 
adequar o imaginário católico à modernidade do século XX, que no Ocidente 
se materializava na construção de uma sociedade urbana e industrial. Assim, 
podemos compreender que o neotomismo foi, no Brasil, uma tentativa de 
apresentar uma “modernidade alternativa”, com duras críticas ao liberalismo, ao 
ateísmo cientificista, e em especial, um rechaço ao comunismo soviético. 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS
121
Uma das principais marcas da participação social da Igreja Católica na 
vida brasileira foi a denominada Ação Católica. Influenciada pela Ação Católica 
Italiana, o movimento brasileiro foi instituído em 1935, com os Mandamentos 
dos Bispos do Brasil, sendo instituídas várias entidades de ação social católica 
apostólica romana. Entre as entidades, as mais lembradas foram as destinadas à 
juventude. Em especial, a JEC (Juventude Estudantil Católica), JOC (Juventude 
Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica). Estes grupos, que 
no início tinham uma postura conservadora, foram se transformando em grupos 
mais à esquerda. Por isso, após o golpe de 1964, foram extintos. 
Dois intelectuais se espelharam neste ponto mais conservador da Ação 
Católica no Brasil. Plínio Salgado, líder da Ação Integralista Brasileira, e Plínio 
Correia de Oliveira, da Tradição, Família e Propriedade. A ação dos principais 
grupos influenciados pela Igreja manteve-se coerentemente conservadora, 
fortemente antiliberal e anticomunista.
Ao lado do comunismo, e atuando como uma reação a este, surgiu 
no Brasil, em 1932, a Ação Integralista Brasileira. O integralismo foi um dos 
principais movimentos sociais do Brasil. Teve a capacidade de aglutinar milhares 
de pessoas em torno de um ideal autoritário de sociedade. Em especial, teve 
entre os imigrantes italianos e alemães no Sul e Sudeste, especial acolhida. O 
integralismo foi uma das principais ações sociais que podem ser classificadas 
como um movimento social de direita. 
O principal líder dos integralistas foi Plínio Salgado, um intelectual que 
participou da Semana de Arte Moderna de 1922 e que era um escritor modernista. 
Plínio Salgado foi autor de vários livros, nos quais apontava a ideia de um 
Homem Integral. Tal conceito era baseado em uma visão conservadora católica e 
corporativa da sociedade.
FIGURA 29 - PLÍNIO SALGADO
FONTE: Disponível em: <http://www.pliniosalgado.org.br>. Acesso 
em: 10 maio 2015. 
122
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
Além de Plínio Salgado, outros dois grandes ideólogos do integralismo 
foram: Miguel Reale e Gustavo Barroso. Miguel Reale foi um dos principais juristas 
brasileiros. Foi reitor da Universidade de São Paulo. A sua principal função da 
Ação Integralista era a de chefe de Doutrina Integralista, e Gustavo Barroso, chefe 
de Milícia Integralista. Apesar da liderança de Plínio Salgado, coube a Miguel 
Reale ser o autor dos principais livros doutrinários do integralismo: O Estado 
Moderno, publicado em 1934, e o ABC do Integralismo, de 1935. 
O movimento integralista possuiu uma grande complexidade para a 
sua compreensão, devido às contrariedades de sua doutrina e sua prática. Pois, 
mesmo contando com a participação de líderes negros, como Abdias Nascimento 
e João Cândido, a maior parcela dos membros da AIB possuía posturas sociais 
racistas. Estas posturas podem ser explicadas pelas inspirações teóricas e políticas 
do integralismo enquanto movimento social. 
A principal inspiração exterior para o integralismo foi o fascismo italiano 
de Benito Mussolini. Em grande parte, o fascismo foi inspiração tanto ética 
quanto estética para o movimento. A inspiração ética estava vinculada à noção 
de Estado coorporativo. Uma noção advinda do autoritarismo fascista italiano, 
no qual as corporações profissionais eram a principal instituição a representar os 
indivíduos. Ainda do ponto de vista ético, se tinha como um dos principais ideais 
o antiliberalismo e o anticomunismo. Estes aspectos da doutrina tinham grande 
aceitação nas camadas altas e médias da sociedade brasileira, temerosa de perder 
seu status social devido ao proselitismo socialista que buscava igualitarismo 
social. Assim, esta camada social apoiava de modo inconteste. Entre as instituições 
do Estado, a Marinha de Guerra foi o local no qual o integralismo teve maior 
aceitação. Todavia, membros do Exército, como Olímpio Mourão Filho, eram 
ligados ao integralismo. Como maior característica do integralismo temos o 
autoritarismo. Pois, para os integralistas, apenas um Estado forte seria capaz, de 
modo totalitário, impor aos indivíduos normas de conduta. Este autoritarismo 
também se relacionava à Igreja Católica, em especial nos tradicionalistas 
ultramontanos, que observavam a sociedade de um modo hierárquico. 
Também do ponto de vista estético, o integralismo buscou inspiração 
no fascismo italiano. Os integralistas se portavam como soldados. Utilizavam 
uniformes que lembravam as fardas militares, com camisas de cores verdes e calças 
na cor preta ou cáqui. Os adeptos da AIB realizavam desfiles em ordem unida, 
marchando pelas ruas das principais cidades brasileiras. Também possuíam uma 
saudação que lembrava o nazismo e o fascismo, levantando o braço direito. No 
caso dosintegralistas, a saudação não era Heil-Hitler, mas sim Anauê, que em 
tupi significa “você é meu irmão”. Um caso específico das colônias alemãs do 
Sul do Brasil, existiu uma relação direta entre o integralismo e o nazismo, sendo 
muitos colonos alemães militantes da ação integralista brasileira e adeptos do 
nazismo hitlerista. Outro aspecto de afinidade entre o integralismo e o nazismo 
foi a postura antissemita de um dos principais líderes do movimento, o intelectual 
Gustavo Barroso. Além disto, assim como o nazismo possuía um símbolo, a 
Suástica, o integralismo brasileiro possuiu um símbolo semelhante, o Sigma. 
Plínio Salgado, assim como Hitler, ostentavam um bigode curto (GERTZ, 1987). 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS
123
Mesmo apoiando o Estado Novo de Getúlio Vargas, a Ação Integralista 
Brasileira foi posta pelo Presidente Vargas na ilegalidade, devido ao Pusching 
Integralista em 1938. Porém, Plínio Salgado, não tendo tomado parte direta 
na ação, foi preso somente em 1939, após nova tentativa de golpe de Estado 
por parte de militantes integralistas. Plínio Salgado ficou exilado em Portugal 
durante a maior parte do Estado Novo. Mesmo distante, Plínio Salgado tentou 
uma aproximação com Getúlio, realizando discursos no qual elogiou atitudes do 
presidente, como a guerra contra os países do eixo Roma-Tóquio- Berlim.
Com o fim do Estado Novo, Plínio Salgado retornou ao Brasil, fundando 
um partido político, o PRP - Partido da Representação Popular. Sua principal 
característica foi a manutenção de um discurso inspirado no pensamento 
tradicionalista e conservador. Todavia, não teve ele o mesmo êxito como líder de 
massas, apesar de ser respeitado como intelectual e político entre os conservadores. 
Em 1955, Plínio Salgado foi candidato à Presidência da República, tendo apenas 
7% dos votos, muito menos que Juarez Távora e Juscelino Kubistchek de Oliveira, 
o candidato eleito. Uma das suas últimas participações políticas foi ser um dos 
oradores na Marcha da Família com Deus, Pela Liberdade. Após a instituição do 
bipartidarismo em 1966, os militantes do PRP ingressaram na ARENA – Aliança 
Renovadora Nacional. Uma das ligações entre o integralismo e o golpe de 1964 
foi a ação de Olímpio Mourão Filho, que tinha sido militante integralista nos anos 
1930, ligado ao Plano Cohen, tentativa de golpe de Estado da AIB. 
Outro importante movimento social ligado ao pensamento de direita 
e muito atuante para a instalação da ditadura militar foi a Tradição, Família e 
Propriedade, conhecida pela sigla TFP (ZANOTTO, 2007). Fundado em 1960, este 
movimento social teve como seu líder e principal ideólogo o professor de história 
Plínio Correia de Oliveira. Sua principal bandeira eram ideias inspiradas no 
conservadorismo católico, em especial a defesa da família nuclear monogâmica e 
da propriedade privada da terra e dos meios de produção. 
O livro principal a proporcionar as teses centrais do pensamento TFPista foi 
Revolução e Contrarrevolução, de Plínio Correia de Oliveira. Grupo conservador 
formado no final do período nacional desenvolvimentista, a TFP foi um dos 
braços religiosos e políticos que possibilitaram a instalação do regime militar no 
Brasil. Em comparação ao Integralismo, a Tradição Família e Propriedade possuiu 
um ideário conservador monarquista. Existe dentro da TFP um núcleo forte de 
adeptos do monarquismo, que sonham restaurar a família Orleans e Bragança 
no poder do Estado brasileiro. D. Bertrand de Orleans e Bragança e Luis Gastão 
de Orleans e Bragança, membros da família real expulsa do Brasil em 1889, são 
militantes ativos da Tradição Família e Propriedade. Todavia, existem duas 
coesões da Família Real. Uma que mora em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e não 
tem ligações com a TFP, e o núcleo de Vassouras, também no interior fluminense, 
que se manteve tradicionalista. 
124
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
FIGURA 30 - PLÍNIO CORREIA DE OLIVEIRA
 FONTE: Disponível em: <http://ipco.org.br/ipco/>. Acesso em: 10 
maio 2015.
A principal forma de divulgação dos ideais da TFP foi a Revista Catolicismo. 
Pelo nome, aparenta ser uma revista oficial da Igreja no Brasil. Com isso, consegue 
um considerável número de assinantes. Todavia, não tem ela ligação direta com a 
hierarquia da igreja romana no Brasil. Seu prestígio ficou menor após o Concílio 
Vaticano II, no qual a Igreja Católica se abriu à modernidade, reavaliando sua 
liturgia, e tendo uma mentalidade mais adepta aos ideais de solidariedade cristã 
que da tradição monárquica.
3 OS GRUPOS DE ESQUERDA NA IGREJA CATÓLICA, O 
PARTIDO COMUNISTA, O MOVIMENTO SINDICAL E O 
MOVIMENTO ESTUDANTIL
Assim como a ação da Igreja Católica esteve relacionada às ações políticas 
de direita, também podemos relacionar ações da Igreja Católica a ações mais à 
esquerda. Tal possibilidade de compreensão é possível, devido à ação social de 
alguns religiosos católicos, que se vincularam às políticas populistas. Mesmo 
sendo um grupo minoritário no interior da Igreja, durante o período populista 
tivemos a atuação da Igreja em alguns movimentos. Uma das principais figuras 
a relacionar as ideias sociais da Igreja foi D. Hélder Câmara, um antigo religioso 
ligado ao Integralismo, mas que posteriormente foi denominado de “Bispo 
Vermelho”. 
Os grupos políticos de esquerda surgiram no Brasil ainda durante o século 
XIX e foram intensificados no início do século XX. Tivemos várias experiências 
da formação de colônias anarquistas compostas por imigrantes, em especial de 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS
125
origem italiana. Os ideais socialistas, porém, foram ampliados com a criação 
em 1922 do Partido Comunista Brasileiro. Durante todo o período populista, o 
“Partidão” teve uma destacada e importante influência na vida política nacional. 
No final dos anos 1920, Luis Carlos Prestes, principal líder do tenentismo, aderiu 
à doutrina comunista. Assim, o partido ganhou a sua maior expressão política do 
século XX. Porém, a atuação do Partido Comunista no Brasil contou com grandes 
oposições, em especial entre as igrejas cristãs e nas forças armadas. 
FIGURA 31 - LUIZ CARLOS PRESTES
FONTE: Disponível em: <http://www.ilcp.org.br/prestes/>. Acesso 
em: 12 maio 2015.
As igrejas protestantes, assim como a Igreja Católica, que era majoritária 
no Brasil (quase 90% da população, segundo o Censo de 1946), não toleravam a 
doutrina socialista soviética, por seu caráter materialista, pois Karl Marx, ideólogo 
do comunismo, considerava a Igreja como uma instituição a serviço do Estado e 
da burguesia. Somado a este aspecto ideológico, existiu uma forte perseguição 
aos religiosos nos países comunistas, o que ocasionou um temor do comunismo 
por parte das lideranças cristãs. 
Com a adesão de Prestes ao partido, muitos jovens oficiais militares 
aderiram ao comunismo. Podemos citar Agildo Barata, além de Apolônio 
de Carvalho. Todavia, em 1935, com a derrota dos comunistas para os 
militares getulistas e legalistas na Intentona Comunista, o Exército se manteve 
profundamente anticomunista. O anticomunismo militar foi uma das principais 
doutrinas estabelecidas no interior do Exército. No dia da Intentona, as forças 
militares, em todo o Brasil, relembravam os militares governistas que foram 
mortos no levante de 1935. Assim, o Exército, em especial, criava um imaginário 
entre os recrutas de que os comunistas eram de mal caráter, relembrando um 
episódio no qual alguns militares legalistas foram mortos enquanto dormiam. 
Mesmo muitos historiadores tendo considerado tal história falsa, a rememoração 
126
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
da Intentona possibilitava uma criação de identidade, na qual o militar era 
considerado, antes de tudo, um anticomunista, pois todos os soldados deveriam 
ficar “Em guarda contra o perigo vermelho”(SÁ MOTTA, 2002). 
Porém, mesmo com a proibição de um militar ser comunista, era comum 
entre os soldados no período nacional-desenvolvimentista a presença dos 
denominados melancias. Isto é, eram verdes por fora, mas vermelhos por dentro. 
Tal perspectiva era real, pois existiu no interior das forças armadas um núcleo 
de militares comunistas, que formavam o denominado ANTIMIL. Todavia, 
este grupo secreto era considerado ilegal, assim como qualquer propaganda 
comunista no período. 
Durante o Estado Novo, assim como em todo o período entre a Revolução 
de 1930 e o golpe de 1964, a perseguição aos comunistas foi grande. A maior parte 
dos simpatizantes das causas socialistas foi enquadrada na Lei de Segurança 
Nacional e eram levados presos para a penitenciária da Ilha Grande, localizada 
no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro. O Partido Comunista teve um curso 
período de legalidade, entre o fim do Estado Novo até os primeiros anos do 
governo Eurico Gaspar Dutra. Todavia, foi posto na ilegalidade na segunda 
metade da década de quarenta. No governo Juscelino, o Partido Comunista não 
foi perseguido pelo governo federal. Porém, continuou a ser considerado ilegal. 
A importância dos ideais socialistas no Brasil pode ser medida pela 
grande adesão de intelectuais às causas de esquerda, e a filiação de vários artistas 
e pensadores aos quadros militantes do PCB. Nomes como o do pintor Cândido 
Portinari, o do escritor Jorge Amado, além de músicos e atores, como Mário 
Lago, eram membros do partido. Em grande parte, estes artistas foram, em vários 
momentos, presos devido aos seus ideais políticos. 
Apesar de durante o governo Juscelino Kubistchek o partido não ter sido 
perseguido, foi justamente na segunda metade da década de 1950 que tivemos 
a grande divisão entre os comunistas brasileiros. Pois, o PCB era ligado às 
políticas que Joseph Stálin comandava na União Soviética. Todavia, com a morte 
do ditador, o seu sucessor, Nikita Kruschev, divulgou ao mundo uma série de 
bárbaros crimes cometidos por Stálin. Tal revelação de uma faceta sombria do 
líder carismático soviético gerou forte polêmica nos partidos comunistas de todo 
o hemisfério ocidental. No caso brasileiro, três foram as posturas. Existiu um 
grupo que se desligou do partido, como o caso do escritor Jorge Amado e do 
capitão Agildo Barata. Outros, se mantiveram stalinistas, como o secretário-geral 
do partido, Luiz Carlos Prestes. E, por fim, existiu um grupo, liderado por João 
Amazonas, que fundou outro partido comunista, o PC do B, Partido Comunista do 
Brasil, que teve como um de seus quadros o escritor Jacob Gorender (KONDER, 
1995). 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS
127
Uma das principais ideias alimentadas pelos intelectuais ligados ao 
Partido Comunista no Brasil era a de ser o latifúndio, ao lado do imperialismo 
estadunidense, os principais inimigos da classe trabalhadora brasileira. Por isso, 
uma das soluções apontadas pelos formuladores da ideologia comunista no 
Brasil era a da constituição de uma aliança tática entre o proletariado urbano 
com a burguesia nacional. Na cabeça dos comunistas brasileiros, a política de 
colaboração de classes entre estes dois novos personagens da vida brasileira 
possibilitaria uma dupla melhora da vida dos mais pobres, pois a burguesia 
nacional poderia cumprir um papel revolucionário, ao retirar o poder tanto dos 
latifundiários, ao ser um setor progressista e favorável a uma reforma agrária, 
além de ser um agente social que poderia, com o desenvolvimento das indústrias 
em solo brasileiro, expulsar os capitais norte-americanos do Brasil, pois o 
latifúndio seria um resquício do “feudalismo colonial” brasileiro. 
Mesmo sendo esta uma teoria complexa e bem fundamentada teoricamente 
nos escritos de Karl Marx, os eventos que antecederam o golpe militar de 1964 
comprovaram que as ideias comunistas para o Brasil estavam equivocadas, pois o 
Brasil não passou pelo feudalismo, como os países europeus. Além disto, grande 
parte dos industriais brasileiros não era nacionalista, mas buscaram se aliar 
ao capital internacional que adentrava na economia brasileira após o governo 
Juscelino Kubistchek. Um dos principais segmentos sociais no qual os ideais 
comunistas tiveram êxito foi entre a juventude estudantil. 
O movimento estudantil foi uma das principais forças políticas do Brasil 
em todo o século XX. Os estudantes universitários brasileiros tradicionalmente 
participaram das principais causas políticas que envolveram o Brasil desde o 
final da monarquia, como nas campanhas abolicionista e republicana. Porém, se 
organizaram enquanto movimento social durante o período getulista. Na segunda 
metade da década de 1930 foram fundadas as duas principais instituições da 
representação político-estudantil: a UNE – União Nacional dos Estudantes – e a 
UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. A UNE (mais conhecida) 
era destinada aos estudantes do ensino superior e a UBES aos estudantes colegiais. 
FIGURA 32 - BANDEIRA DA UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES
FONTE: Disponível em: <http://www.une.org.br/>. Acesso em: 12 maio 
2015.
128
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
Uma das primeiras e importantes participações políticas dos estudantes 
foram passeatas no Rio de Janeiro, solicitando a participação brasileira na Segunda 
Guerra Mundial, após submarinos alemães terem torpedeado navios mercantes 
brasileiros no litoral baiano. Este clamor da juventude foi uma das motivações 
para a declaração de guerra ao eixo. Em grande parte, a juventude estudantil foi 
se afinando aos movimentos sociais de esquerda, sendo entre estes recrutados os 
principais militantes do PCB.
Com o retorno de Getúlio Vargas ao poder, novamente, os estudantes tiveram 
importante participação política, ao apresentarem forte militância na campanha “O 
Petróleo é Nosso”. A participação dos universitários foi de fundamental importância 
no convencimento da opinião pública em relação à importância da instauração da 
manutenção do monopólio estatal do petróleo. 
Também no governo de Juscelino Kubistchek, a atuação do movimento 
estudantil foi de grande relevância. Pode-se lembrar o apoio dos estudantes ao 
decretamento da moratória ao FMI em 1959. 
Todavia, a participação estudantil foi grandemente destacada na primeira 
metade dos anos 1960, durante o governo João Goulart. O apoio estudantil ao 
presidente começou na Campanha da Legalidade, responsável por permitir 
a posse do presidente. Posteriormente ficaram famosos os chamados CPCs – 
Centros Populares de Cultura, em que os estudantes faziam um esclarecimento à 
população em geral dos seus direitos sociais através das mais variadas formas de 
expressão artística. Naquele tempo ficou conhecida uma canção denominada O 
Subdesenvolvido, uma crítica contumaz ao processo de modernização capitalista 
que o país estava vivenciando. 
Além da participação dos grupos políticos estudantis, outro importante 
movimento social vivido no Brasil Nacional-Desenvolvimentista foram as Ligas 
Camponesas, que tiveram uma atuação destacada no Nordeste brasileiro. As 
ligas foram organizadas pelo Partido Comunista do Brasil na década de 40, 
porém tiveram maior destaque na segunda metade da década de 1950. As ligas 
camponesas lutavam pelo direto do acesso à propriedade da terra pelos pequenos 
lavradores. Um ideal de reforma agrária era presente dentre os membros das 
ligas. Entre os mais destacados líderes do movimento estava a figura de Francisco 
Julião, que chegou a ocupar o posto de deputado federal. O nome de Julião se 
confunde com o das ligas camponesas, pois ele não era camponês, mas sim 
advogado dos camponeses que buscavam garantir acesso à terra. Acusado de 
marxista, se dizia socialista. Todavia, não seguidor de Karl Marx, mas de Teilhard 
de Chardin, teólogo jesuíta francês. As ligas camponesaseram em parte apoiadas 
pelo governador de Pernambuco Miguel Arraes. Todavia, foram postas na 
ilegalidade após a tomada do poder pelos militares em 31 de março de 1964. 
Muitos camponeses foram perseguidos e Francisco Julião acabou se exilando no 
México. Outro importante líder das ligas camponesas foi o comunista Gregório 
Bezerra, um antigo sargento do Exército, que ingressou nos quadros do partido 
e que foi duramente torturado nos quartéis do Recife, nas primeiras semanas de 
ditadura instalada no Brasil. 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS
129
4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO INTERIOR DA CASERNA
Existiram durante todo o século XX movimentos sociais que envolveram 
as forças armadas. O mais conhecido foi a Revolta da Chibata de 1910, na qual 
os marinheiros reclamavam por um tratamento digno no interior dos navios da 
esquadra brasileira. Durante o período nacional-desenvolvimentista, existiram 
vários movimentos sociais e políticos no interior das forças armadas brasileiras. 
Um dos mais importantes movimentos sociais e políticos que ocorreu no 
interior da caserna foi o ANTIMIL. Por esta sigla era denominado o movimento de 
militares comunistas no interior das forças armadas. O ANTIMIL chegou a contar 
com vários simpatizantes e membros ativos (CUNHA, 2005). Todavia, tratava-se de 
uma associação completamente secreta, o que dificulta o estudo de tal ação política 
no interior do Exército. Também podemos nos lembrar de outros grupos políticos 
que tiveram ampla participação na caserna, mais notadamente o Integralismo. 
Porém, a grande ação política no interior das forças armadas se relaciona 
ao espectro de luta de classes. Em grande parte, tivemos no final do período 
nacional-desenvolvimentista, entre os anos 1950/60, uma disputa social entre os 
praças, que em geral eram recrutados entre as camadas mais pobres da sociedade, 
e os oficiais, que eram recrutados entre as camadas médias urbanas e entre a 
oligarquia rural decadente. 
A importância de uma melhor capacitação profissional dos praças militares 
se fez presente ao ser o século XX um período no qual a arte da guerra contou 
com um aumento tecnológico considerável. Com isto, o Exército buscou criar 
ou qualificar escolas para a formação de marinheiros e sargentos, reformulando 
as Escolas de Aprendizes Marinheiros, além de criar a Escola de Sargentos das 
Armas e a Escola de Especialistas da Aeronáutica. 
Em fins dos anos 1950 e início dos anos 1960, dois movimentos sociais 
ocorreram entre os praças das forças armadas. O “Movimento dos Sargentos” e o 
Movimento dos Marinheiros. 
O Movimento dos Sargentos lutou pela ampliação da participação 
destes militares na política partidária. Os oficiais podiam votar, além de se filiar 
a partidos políticos e se lançar candidatos a cargos públicos. Sendo a presença 
militar constante nas campanhas presidenciais no período entre 1946 até 1960. 
Todavia, os sargentos poderiam apenas votar, mas era vetado aos mesmos se 
filiar aos partidos e concorrer nas eleições. Aos cabos e soldados sequer o voto 
era permitido. Alguns sargentos até se lançavam candidatos e eram eleitos, 
porém não assumiam, pois não poderiam ser diplomados pelo Poder Judiciário, 
pois o Código Penal Militar não garantia este direito. Algumas manifestações de 
sargentos ocorreram no governo Goulart, que em parte apoiou o movimento. Na 
época alguns chamavam a ação do presidente de “política dos sargentos”. Para 
comandar esta política, Jango contava com os generais do povo (CUNHA, 2014).
130
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
Os marinheiros, fuzileiros navais e cabos da Armada Brasileira lutam não 
apenas pelo direito de votar, que não lhes era permitido, como outros direitos 
básicos da dignidade humana, como o de poder se casar e constituir uma família, ou 
de sair às ruas nos horários de folga sem a obrigação de usar a farda. No início dos 
anos 1960, um grupo de marujos fundou a AMFNB – Associação dos Marinheiros 
e Fuzileiros Navais do Brasil. O principal líder da associação foi o cabo Anselmo 
Duarte dos Santos. Após o golpe, este militar aderiu à luta armada, para depois 
atuar como um agente duplo para os órgãos de repressão da ditadura. A presença 
de Jango nas festividades, reuniões e encontros destes movimentos dos praças das 
forças armadas era mal visto pelos oficiais de alta patente. A presença do presidente 
Goulart em uma reunião de sargentos no Automóvel Clube do Rio de Janeiro, a sua 
recusa em punir marinheiros que se reuniam no Palácio do Aço – sede do Sindicato 
dos Metalúrgicos do Estado da Guanabara – são apontados como estopim para o 
golpe de Estado consumado em 1º de abril de 1964 (RODRIGUES, 2005). 
5 MOVIMENTOS SOCIAIS PRÓ-GOLPE MILITAR
No final do período nacional-desenvolvimentista, alguns movimentos 
sociais existiram no Brasil nos anos antecedentes da ditadura militar, e 
possibilitaram as bases civis para o golpe de Estado que se consumou em 1964. 
Três movimentos sociais, que contaram com ampla participação de setores da 
classe média, se destacaram: a CAMDE, o IPES e o IBAD.
A CAMDE era a sigla da Campanha das Mulheres pela Democracia. 
Tratava-se de um típico movimento social promovido por mulheres de classe 
média, que divulgavam o imaginário do medo do comunismo na sociedade 
brasileira. Em geral, tratava-se de um grupo bastante coeso, formado por donas 
de casa de famílias abastadas ou das camadas médias urbanas. A campanha das 
mulheres pela democracia foi um importante agente desestabilizador do governo 
João Goulart (DREIFFUS, 1987). 
O IPES era o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais. A sua principal função 
era ser uma instituição a formar uma ideologia para as classes empresariais do eixo 
econômico mais desenvolvido do país, formado pelas cidades do Rio de Janeiro 
e São Paulo. Também as elites industriais dos demais estados da Federação se 
ligavam ao denominado complexo IPES/IBAD. O IBAD era o Instituto Brasileiro 
de Ação Democrática. Sua principal função era a de incentivar a participação de 
candidatos de direita nas eleições brasileiras. Todavia, mesmo com o dinheiro 
destinado às campanhas eleitorais ligadas à UDN (União Democrática Nacional), 
a participação de políticos de direita no cenário político brasileiro não foi 
expressiva no final dos anos 1950 e na primeira metade dos anos 1960. 
Estes três movimentos sociais podem ser classificados como modernos 
movimentos sociopolíticos de direita. Todavia, mesmo possuindo uma postura 
política próxima a grupos mais tradicionalistas, como a Tradição Família e 
Propriedade e a Ação Integralista Brasileira, como a luta anticomunista, o 
TÓPICO 3 | OS MOVIMENTOS SOCIAIS
131
complexo IPES/IBAD e a CAMDE são movimentos que possuem singularidades. 
Não são ligados diretamente ao clero católico, nem possuem vinculação com os 
grandes latifundiários. Estas associações são ligadas aos empresários nacionais, 
que, por sua vez, ao contrário do que o PCB acreditava, buscavam se integrar 
ao capitalismo norte-americano. Portanto, eram grupos majoritariamente da 
burguesia industrial urbana que os compunham (DREIFFUS, 1987). 
A importância destes movimentos sociais pode ser medida na sustentação 
que ofertaram ao golpe militar de 1964, possibilitando aos militares a hegemonia 
cultural ideológica para a manutenção e surgimento do regime de exceção. 
132
RESUMO DO TÓPICO 3
• Os principais conceitos utilizados para compreender os movimentos sociais do 
período nacional-desenvolvimentista são os de direita e esquerda.
• O Integralismo foi um movimento político conservador, liderado por Plínio 
Salgado e inspirado no fascismo italiano.
• A Tradição Família e Propriedade foi um movimento sociopolítico conservador, 
liderado por Plínio Correia de Oliveira, inspirado em ideais místicos do 
catolicismo romano. 
• O Partido Comunista Brasileiro,liderado por Luis Carlos Prestes, foi um dos 
principais movimentos políticos de esquerda no Brasil. 
• O Movimento Estudantil, liderado pela União Nacional dos Estudantes, a 
UNE, teve grande relevância enquanto movimento contestador da estrutura 
social brasileira. 
• A CAMDE, o IPES e o IBAD foram importantes movimentos sociais que deram 
sustentação ao golpe militar de 31 de março de 1964.
• O movimento dos sargentos por direitos políticos, além da atuação da 
Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais, são retratos de movimentos 
sociais no interior das forças armadas, em um período anterior à ditadura 
militar. 
133
Questão única: Em relação aos movimentos sociais vivenciados na História do 
Brasil, no período nacional-desenvolvimentista, podem ser classificados como 
movimentos políticos de direita e de esquerda. Mesmo hoje, esta terminologia 
estando ultrapassada, ela foi útil para a compreensão da política no século 
passado. Assim compreendendo, responda à seguinte questão: quais são as 
principais diferenças entre estes dois tipos de movimentos sociais? 
AUTOATIVIDADE
134
135
TÓPICO 4
O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- 
DESENVOLVIMENTISTA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O panorama cultural durante a vigência do nacional desenvolvimentismo 
pode, sem exageros, ser considerado revolucionário. Pois, muitas das principais 
instituições culturais do Brasil contemporâneo foram criadas durante os anos de 
1930 até 1964, como o Museu de Arte Moderna, as Universidades como a USP 
e a PUC, além de ter sido neste período a construção de obras intelectuais das 
ciências humanas e sociais que possibilitaram o alargamento da compreensão 
sobre a vida nacional, como Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre; Raízes 
do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda; Formação do Brasil Contemporâneo, 
de Caio Prado Júnior; como também Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro. 
Além dos personagens intelectuais de grande erudição e da formação de 
instituições, também podemos compreender como uma época de expansão das 
artes populares no mercado da indústria cultural, com a valorização de ritmos 
como a música caipira, o baião e o samba. Artistas extremamente populares 
como Carmem Miranda, assim como de reconhecimento internacional, tal qual 
Tom Jobim, são exemplos deste momento da história brasileira. Também foi uma 
época de expansão da educação e do acesso da massa popular a cultura erudita, 
temática pela qual iniciaremos as explicações sobre o período. 
2 A EDUCAÇÃO E A CULTURA ERUDITA NA REPÚBLICA 
NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
Durante o denominado período nacional-desenvolvimentista, os 
brasileiros vivenciaram uma melhora no acesso à educação em todos os níveis 
de ensino. Esta melhora, porém, não disfarçou o estado de penúria que vivia 
a educação no Brasil, pois, mesmo com os progressos no campo educacional, 
a maior parcela da população brasileira continuou analfabeta durante todo o 
período nacional-desenvolvimentista. 
Uma das primeiras grandes ações da sociedade brasileira em prol da 
educação universal foi O Manifesto dos Pioneiros da Nova Educação, publicado 
em 1932, tendo vários signatários, entre eles Lourenço Pinto, Anísio Teixeira e 
Fernando Azevedo. O manifesto possibilitou que a educação para as massas 
136
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
populares fosse pauta do debate público. O ensino primário evoluiu, com a abertura 
de novas e maiores escolas durante todo o período nacional-desenvolvimentista 
(TEIXEIRA, 1971).
Um dos aspectos da melhora foi a criação do Ministério da Educação, 
no mesmo ano de 1932. Também nos anos 1930 tivemos a fundação das duas 
primeiras universidades brasileiras. A Universidade de São Paulo (USP) e a 
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. A expansão do Ensino Superior se 
concretizou de modo mais efetivo no governo Juscelino Kubistchek, quando em 
cada capital de Estado foi fundada uma universidade. 
A história da educação durante o período nacional-desenvolvimentista 
também se relaciona ao desenvolvimento do ensino técnico. Em 1944 foi fundado 
o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, que possibilitou a 
capacitação profissional de milhares de brasileiros. 
Uma das características do governo Getúlio Vargas foi concretizar uma 
política cultural. Por vezes lembrada pelos tristes anos da ditadura do Estado 
Novo. De toda forma, a política cultural getulista deixou um legado que se 
reflete no presente da vida brasileira. Uma das primeiras instituições culturais 
criadas por Getúlio foi o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional, tendo como principal ideólogo o ministro Gustavo Capanema. O 
IPHAN foi o responsável por preservar determinados locais históricos, em 
especial a arquitetura colonial brasileira, como expressa nas obras de Aleijadinho, 
no interior de Minas Gerais. Como também por efetivar a criação e a manutenção 
de museus, como, por exemplo, o Museu Imperial, de Petrópolis, no interior do 
Estado do Rio de Janeiro. 
Uma das características e principais ações preservacionistas do IPHAN é 
o tombamento. Este termo é oriundo da Torre do Tombo, local onde se preservam 
os documentos referentes ao passado de Portugal. Quando determinado edifício é 
tombado, o proprietário tem o dever de manter a construção nos mesmos moldes 
e estilos com que foi edificada, sendo aquele local considerado como o símbolo 
da cultura nacional. 
A relação entre o desenvolvimento cultural e a tentativa de expansão 
do sistema escolar se mostrou mais afinada no campo da música erudita. Em 
especial, o maestro Heitor Villa-Lobos desempenhou importante papel social, 
ao desenvolver nas escolas brasileiras aulas obrigatórias de cultura musical, o 
denominado canto orfeônico. As escolas do Rio de Janeiro, então capital federal, 
eram incumbidas de desenvolver corais com os alunos, que, por sua vez, formavam 
um único e grande coral, em apresentações regidas pelo maestro Villa-Lobos. 
Além da música, durante os anos de 1930 até 1964 tivemos um grande 
desenvolvimento das artes plásticas. Podemos afirmar que as artes plásticas, no 
período, foram dominadas pelos modernistas de 1922, que durante os anos de 
política nacional-desenvolvimentista tiveram seu talento reconhecido e admirado, 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
137
não apenas no Brasil, como também nos países estrangeiros. Um dos destaques 
foi Cândido Portinari, pintor de lindas telas, como a belíssima Guerra e Paz, que 
compõe o prédio da Organização das Nações Unidas, em Nova York. 
Na literatura, um dos destaques foi o surgimento do denominado 
Romance Regional. Muitos escritores da região Nordeste alcançaram sucesso 
nacional com seus romances e poesias. João Cabral de Mello Neto, José Lins 
do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, entre outros, se 
destacaram nas letras durante este período. A poesia de Carlos Drummond de 
Andrade também despontou neste período. Uma tradição foi o emprego de 
grande parte destes romancistas e poetas como jornalistas. Assim, no Brasil, 
tivemos o desenvolvimento das crônicas jornalísticas. Os escritores assinavam 
colunas diárias ou semanais nos jornais de grande circulação, opinando tanto 
sobre questões políticas quanto acerca do cotidiano da vida urbana brasileira 
(BOSI, 1997). 
Na arquitetura, Oscar Niemeyer foi um dos principais nomes de destaque 
durante o desenvolvimentismo, ao ser o arquiteto responsável por projetar, ao 
lado do urbanista Lúcio Costa, a cidade de Brasília. Uma importante obra de 
Niemeyer foi a sede do Partido Comunista Francês. O paisagista Burle Max 
também pode ser considerado um dos grandes nomes do panorama cultural 
brasileiro no século XX. Ele foi um dos responsáveis pelo embelezamento dos 
jardins do Vaticano após aSegunda Guerra Mundial.
Além das artes plásticas, da música sinfônica e da literatura, consideradas 
pelos críticos de arte como cultura erudita, também podemos elencar outras formas 
de expressão dos sentimentos e da criatividade dos brasileiros ao longo do século 
XX, indicadas como cultura de massa. 
3 CULTURA POPULAR & CULTURA DE MASSA
Durante o período nacional-desenvolvimentista, dois foram os principais 
canais de comunicação utilizados pelos brasileiros: o rádio e os jornais. 
O rádio era o meio de comunicação mais popular entre os brasileiros. 
Em grande parte, devido ao fato de o rádio ser uma novidade tecnológica, o 
que gerava uma grande curiosidade neste instrumento capaz de captar, através 
de ondas invisíveis, a voz humana. Também porque a população brasileira 
era majoritariamente analfabeta, o que possibilitava ser o rádio o principal 
meio utilizado pelos brasileiros para se informar sobre as questões políticas e 
econômicas do país, além de ser ele um meio de entretenimento. Os primeiros 
aparelhos, nos anos 1930, eram caros e grandes. Porém, nos anos 1950, uma 
inovação tecnológica possibilitou ainda mais a ampliação e o prestígio do rádio 
como meio de informação: o jocosamente chamado “radinho de pilha”. 
138
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
Até o ano de 1932, o rádio era um instrumento apenas educacional. Por 
isso, o governo federal não permitia propagandas comerciais no rádio. Porém, 
após a Revolução de 1930 e seus ventos modernizadores, a propaganda comercial 
foi permitida. Com isto, se formou a denominada Era do Rádio. Muitos foram 
os artistas que se destacaram como artistas radiofônicos. Os primeiros artistas 
a alcançar sucesso nacional eram os ligados às rádios do Rio de Janeiro, mais 
especificamente a Rádio Nacional. Nomes como Noel Rosa, Pixinguinha, Orlando 
Silva, Ataúlfo Alves e tantos outros despontaram como artistas de renome nacional 
(MÁXIMO, 1990). 
FIGURA 33 - NOEL ROSA E ORLANDO SILVA
FONTES: Disponível em: <www.ebc.com.br> e <www.abi.org.br>. Acesso em: 26 out. 2015.
Os programas de auditório, a exemplo do programa de Ari Barroso, assim 
como o Programa do Cazé, eram os principais da época. A música popular era 
um sucesso entre as massas. Artistas como Orlando Silva e Carmen Miranda 
dispunham de grande popularidade. Uma das principais formas de contato 
visual dos ouvintes com os artistas era através da Revista do Rádio. 
Os principais ritmos brasileiros eram o samba, além da música caipira e 
do forró nordestino. O Rio Grande do Sul também produzia uma música de tom 
regionalista, em especial com o cantor Teixeirinha. 
A música popular também teve grande importância no período. Muitos 
ritmos surgiram como “produtos de consumo” da indústria cultural. O samba, 
em especial, ganhou destaque como um típico ritmo musical brasileiro. Nomes 
como o do compositor Cartola, assim como os de compositores como Noel Rosa, 
eram de grande fama. Em geral, estes artistas descreviam cenas do cotidiano 
carioca, como a vida dos marginalizados e excluídos sociais. Também o carnaval 
passou a ser um evento disciplinado pelo governo federal. 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
139
O carnaval possuía duas festividades concomitantes nas cidades 
brasileiras. As festas de salão e as sociedades festivas, que congregavam a elite e 
setores médios urbanos, e que culminava com o desfile de carros nas ruas. Existia 
também o desfile das Escolas de Samba, em geral. A primeira Escola de Samba 
surgiu no Rio de Janeiro, no Bairro do Estácio de Sá. O nome Escola de Samba 
foi inventado porque a maior parte dos primeiros dirigentes da agremiação 
carnavalesca eram professores da Escola Normal, instituição que formava 
futuros professores. Não apenas o carnaval, como também as festas juninas eram 
celebradas pela população brasileira, que na época era mais de 90% católica, e que 
cultuava seus santos de julho, como Santo Antônio e São João, em festas juninas 
e julinas. Estas festividades eram presentes no imaginário católico ibérico, e eram 
reproduzidas em todo o país. Com isto, as primeiras indústrias fonográficas 
brasileiras, como a Casa Édison e a Odeon, produziam os discos de 78 RPM, que 
divulgavam músicas julinas e carnavalescas. Em relação às músicas carnavalescas, 
eram comuns as denominadas “marchinhas de carnaval”, em geral compostas 
por alguns autores como Braguinha, que se notabilizou por estas composições, 
tendo como intérpretes cantoras como Marlene e Emilinha Borba. Em relação às 
músicas julinas, tivemos dois grandes artistas, os sanfoneiros Luiz Gonzaga e 
Mário Zan. Luiz Gonzaga cantava as coisas do Nordeste, e Mário Zan foi o autor 
do Hino do quarto centenário da cidade de São Paulo. 
Nos anos 1950, um movimento musical acabou por revolucionar a Música 
Popular Brasileira: a Bossa Nova. Tendo como principais artistas as cantoras Nara 
Leão e o cantor e violonista João Gilberto, além do pianista Antônio Carlos Jobim 
(Tom Jobim) e do poeta e diplomata Vinicius de Moraes (o “poetinha”). A Bossa 
Nova foi um movimento musical que congraçou jovens da zona sul do Rio de 
Janeiro, então capital federal. Com um ritmo que misturava influências do jazz 
americano com o samba dos morros cariocas, a Bossa Nova foi uma das principais 
trilhas sonoras do governo do Presidente Juscelino Kubistchek. 
FIGURA 34 - TOM JOBIM E VINICIUS DE MORAES
FONTE: Disponível em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br>. Acesso 
em: 15 maio 2015.
140
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
Durante os anos 1950 se popularizaram, no Brasil, alguns instrumentos 
tecnológicos que alteraram de forma profunda as artes nacionais: o rádio de 
pilha e o disco long-play, o LP. O LP possibilitou que, ao invés de apenas duas 
canções, os artistas pudessem expor 12 canções para o público. O rádio de pilha 
(jocosamente chamado radinho) possibilitou que os indivíduos pudessem levar o 
rádio para onde estivessem, no bonde, no trem, na praia ou no campo de futebol. 
Assim, a velocidade e o acesso às informações se ampliaram, pois os radinhos 
possuíam um preço mais barato que os antigos aparelhos. 
A história do rádio no Brasil também se confunde com grande parte 
da história do jornalismo brasileiro. No rádio tivemos os primeiros programas 
jornalísticos, como o Repórter Esso, que tinha como bordão “Repórter Esso, 
Testemunha Ocular da História”, e a Hora do Brasil, atualmente denominada 
Voz do Brasil, que é produzida pela companhia estatal Radiobras, e ainda hoje é 
transmitida às 19 horas nas emissoras brasileiras. 
No Brasil, a televisão também foi inaugurada no período nacional-
desenvolvimentista. Em 1950 foi inaugurada a TV Tupi em São Paulo. No 
decorrer da década de 1950, as emissoras de televisão foram sendo inauguradas 
nos estados do Brasil. Porém, mesmo com a televisão se expandindo, o rádio foi 
o principal veículo de comunicação de massa do Brasil entre a Revolução de 1930 
e o golpe de 1964. 
Durante o nacional-desenvolvimentismo tivemos um aumento da 
profissionalização da imprensa brasileira. O principal jornalista humorístico do 
período foi o Barão de Itararé. Com o apoio de Getúlio, se formou a primeira 
grande rede de comunicação brasileira, os Diários Associados, de propriedade 
de Assis Chateaubriand, dono de jornais como A Última Hora. Também foi do 
período nacional-desenvolvimentista o surgimento de grandes jornais de circulação 
nacional, como O Globo, a Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e o Jornal do 
Brasil. Jornais que eram vendidos nas bancas de jornais e revistas por todo o país 
(SODRÉ, 1990). 
Além da música e do jornalismo, outras duas manifestações da cultura 
de massa se relacionam à história da radiodifusão no Brasil. Os programas 
humorísticos e as radionovelas. O humor era presente nos programasde auditório. 
Muitos importantes radioatores se destacaram, e posteriormente se transformaram 
em humoristas e atores de televisão. Chico Anísio e a Escolinha do Professor 
Raimundo, assim como outros atores, como Mário Lago, eram radioatores. 
O cinema também foi uma importante forma de expressão cultural durante 
o nacional-desenvolvimentismo. A Companhia Cinematográfica Vera Cruz se 
destacava com suas grandes produções. Outro tipo de cinema desenvolvido à 
época eram as denominadas Chanchadas da Atlântida. Eram filmes humorísticos, 
passados no Rio de Janeiro, e que faziam críticas dos costumes e problemas sociais 
urbanos. Mazzaropi e seu principal personagem, o Jeca Tatu, representavam a 
história das populações anônimas que saíam do campo e migravam para a capital 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
141
paulista em busca de melhores condições de vida. Também fazia crítica ao poder 
dos coronéis locais. Em relação à cultura caipira, durante os anos 1940 surgiu a 
principal dupla caipira brasileira, Tonico e Tinoco (CALDAS, 1987). 
Em relação ao cinema, os anos 1950 apresentaram uma novidade na forma 
de se fazer cinema no Brasil, o denominado Cinema Novo, cuja principal inspiração 
era a crítica social. Um dos principais ideólogos desta nova forma de se pensar 
a sétima arte foi o cineasta baiano Glauber Rocha, que tinha como lema “Uma 
câmera na mão, uma ideia na cabeça”. O principal filme que simboliza o ideal 
do Cinema Novo foi Cinco Vezes Favela, no qual cinco cineastas apresentavam 
diferentes versões para retratar a vida em um morro carioca. 
4 O CAMPO RELIGIOSO NO BRASIL DA REPÚBLICA 
NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA
O campo religioso no Brasil durante o período nacional-desenvolvimentista 
era de predominância institucional católica. Porém, com Getúlio Vargas, ao mesmo 
tempo em que as minorias religiosas foram respeitadas, a ideia de um Estado 
laico, já exposto no Brasil com a Constituição de 1891, foi institucionalmente 
confirmada no governo. As manifestações religiosas minoritárias foram 
respeitadas institucionalmente. Importante salientar que a ideia de respeito por 
parte do Estado às minorias religiosas não significa uma ausência de preconceito 
em relação aos adeptos de cultos que não o predominante no país. Para a 
compreensão da religiosidade nacional, dividiremos o campo religioso em duas 
grandes vertentes. As religiões cristãs institucionalizadas e as religiões do campo 
mediúnico (ISAIA, 2009).
Em relação às religiões cristãs institucionalizadas, durante o período 
nacional-desenvolvimentista tivemos algumas ações políticas da Igreja Católica, 
cujo principal evento foi a formação, em 1935, da ação católica. Em relação à 
vivência da religiosidade, o Brasil passava pelo processo pelo qual se buscava 
“modernizar” a Igreja, conforme os ditames do Concílio Vaticano I. Já durante a 
República Velha, o número de dioceses foi ampliado, além da criação de seminários, 
visando ao aumento da formação de vocações sacerdotais no Brasil. No que tange 
às igrejas protestantes, muitas das instituições religiosas ampliaram o número de 
seus membros. Existia certa atração das camadas médias urbanas pelo estilo de 
vida proposto pelo protestantismo, como o valor à disciplina do trabalho, além 
da valorização das funções técnicas e fabris. Alguns colégios e universidades 
protestantes tiveram amplo prestígio social, como o Mackenzie, em São Paulo. 
Durante a República Velha, era comum a presença de missionários protestantes de 
língua inglesa e alemã no Brasil. No período nacional-desenvolvimentista tivemos 
uma “nacionalização” da formação de pastores no Brasil. Uma nota importante 
para a compreensão das relações institucionais das igrejas com o Estado foi a 
reativação do serviço de capelania do Exército quando do envio da FEB para a 
Itália. Os expedicionários contaram com 30 padres e dois pastores como capelães 
das tropas, tendo um deles, Frei Orlando, tombado no front de guerra. 
142
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
As religiões do campo mediúnico também tiveram um maior reconhecimento 
por parte do Estado. A perseguição que os terreiros de umbanda sofriam por parte 
da polícia diminuíram, sendo a umbanda considerada uma religião típica do Brasil. 
Também os cultos africanos do candomblé tiveram um maior reconhecimento 
social, tendo a Mãe Menininha do Gantois, importante mãe-de- santo do candomblé 
da Bahia, um status como importante líder religiosa brasileira. Porém, nas religiões 
que acreditam no transe mediúnico, uma que ganhou grande divulgação nos 
anos 1950 foi o espiritismo de feição kardecista. Em especial, pelo surgimento de 
importantes lideranças mediúnicas, como Divaldo Pereira Franco e, especialmente, 
Chico Xavier. Chico foi o maior e mais relevante líder do espiritismo no Brasil do 
século XX. Sua liderança era baseada na sua capacidade de psicografia, isto é, de 
conseguir publicar livros ditados pelos espíritos-guias, e que eram vendidos em 
todo o país. Muitas pessoas peregrinavam para a cidade de Uberaba, município 
onde Chico Xavier morava, em busca de milagres. Sua figura pública era a de uma 
espécie de santo. Morreu em 2002, tendo sido um símbolo da cultura nacional. 
FIGURA 35 - CHICO XAVIER
FONTE: Disponível em: <www.febnet.org.br>. Acesso em: 15 de 
maio de 2015
A religião possuía uma importância cultural maior, sendo o prestígio social 
dos religiosos. Prestígio este que mesmo a modernização do pós-Segunda Guerra 
Mundial não abalou profundamente. Porém, as principais questões relativas 
à religião se relacionam com as questões sociopolíticas. O campo religioso no 
Brasil nos anos 1950 também sofreu alterações, em especial pelas transformações 
da Guerra Fria e a radicalização dos discursos, somadas aos problemas sociais 
advindos do êxodo rural, o que acarretou a ampliação das favelas e populações 
pobres nas cidades brasileiras. 
A Igreja Católica buscou uma nova forma de organização em relação 
ao Estado brasileiro. Esta nova forma de representação era necessária, pois, 
na primeira metade do século XX, aumentou o número de dioceses, portanto 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
143
o número de bispos no país também cresceu. Visando alinhar a ação pastoral 
do clero, em 1952 foi fundada a CNBB, a Confederação Nacional dos Bispos do 
Brasil. Entre 1952 até 1964, a CNBB foi comandada por D. Hélder Câmara, um 
importante e carismático bispo. 
A Igreja Católica teve no Primeiro Congresso Episcopal Latino-Americano 
(CELAM), em 1955, na cidade do Rio de Janeiro, uma nova forma de atuação em 
relação ao subcontinente. O clero católico em toda a América Latina passava por 
novos momentos em sua organização e sua relação com os fiéis e com o Estado. 
Também em 1955 se teve um marco da ação social católica no Brasil. Com 
a liderança de D. Hélder Câmara foi fundada no bairro do Leblon, no Rio de 
Janeiro, a Cruzada São Sebastião, um conjunto de prédios destinados às famílias 
de baixa renda. Por sua atuação entre os mais pobres, e por condenar a avareza 
de muitos endinheirados em suas homilias, D. Hélder passou a ter o epíteto de 
“Bispo Vermelho”. 
FIGURA 36 - D. HÉLDER CÂMARA
FONTE: Disponível em: <www.domhelder.edu.br>. Acesso em: 
15 maio 2015.
A ação social católica foi muito forte e atuante entre os jovens. Membros 
das Juventudes Católicas foram destacados militantes em causas contra a exclusão 
social no Brasil. Exclusão social que aumentava em face do desenvolvimento de 
um processo de urbanização.
No campo protestante, uma das novidades do fim do período nacional-
desenvolvimentista foi a tentativa do desenvolvimento de ações formais de 
ecumenismo institucional. A cooperação entre as diferentes denominações 
protestantes no Brasil, mesmo com a profunda divergênciateológica, foi comum 
em todo o processo de missões evangélicas no Brasil. Porém, nos anos 1950 esta 
144
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
prática foi institucionalizada, com o Encontro Nacional das Igrejas Evangélicas. 
Assim, tivemos em 1962 o Congresso do Nordeste, no qual as igrejas protestantes 
se reuniram tendo como tema de reflexão O Evangelho e a Revolução Brasileira. O 
título do congresso demonstra certa afinidade com a proposta de transformação 
social no Brasil (MOTA DIAS, 2014). 
Durante o nacional-desenvolvimentismo, o Brasil teve o seu primeiro 
presidente da República adepto do protestantismo. Café Filho era adepto da 
fé calvinista, sendo membro da Igreja Presbiteriana de Natal, capital potiguar. 
Sua militância favorável ao divórcio, aceita pelos adeptos do protestantismo, era 
repudiada pela Liga Eleitoral Católica. 
Tanto católicos quanto protestantes estavam divididos, pois uma 
oposição às reformas de base também existiu entre os dois polos do cristianismo. 
A oposição às reformas de base ocorria porque, para alguns pastores e padres, 
tais reformas eram um sinal de comunismo. O socialismo soviético era temido 
pelos religiosos devido às perseguições do Estado totalitário à fé cristã. Este 
temor ao comunismo aumentava devido à Revolução Cubana, no início dos 
anos 1960, ter expulsado grande parte dos religiosos de Cuba. Neste sentido, no 
campo protestante, o pastor batista Enéas Tognini, em 1963, promoveu um Dia 
de Jejum e Oração Contra a Ameaça Comunista. Entre os católicos, muitas irmãs 
do Sagrado Coração de Jesus e as congregações marianas, influenciadas pela TFP, 
também possuíam uma posição fortemente anticomunista (ZANOTTO, 2007). 
Esta divisão interna entre grupos cristãos se manteve cada dia mais forte, 
até a consolidação do golpe militar em abril de 1964, quando o grupo direitista, 
em geral ligado ao pentecostalismo protestante e conservadorismo católico, se 
tornou vitorioso. 
A Igreja Católica e as denominações protestantes atuaram como artífices 
ideológicos que possibilitaram o fim da época nacional-desenvolvimentista 
e o início do período militar. Tal ação não deve ser julgada como uma ação 
coordenada e pensada, mas sim, uma das consequências do medo do comunismo, 
que legitimava e motivava ações de pequenos grupos radicais. Pequenos grupos 
estes que, infelizmente, dominaram a política brasileira por muitos anos após o 
fim da democracia no dia 1º de abril de 1964. 
5 AS ARTES E OS ESPORTES COMO UM SÍMBOLO 
DIPLOMÁTICO E DE IDENTIDADE NACIONAL
A importância política das artes durante o período nacional-
desenvolvimentista não se restringia apenas às questões regionais, pois a cultura 
popular foi utilizada como um dos produtos de exportação brasileiros, sendo as 
expressões populares da cultura mediadas pela denominada indústria cultural. 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
145
Um dos primeiros aspectos a se considerar foi uma profunda transformação 
da utilização das artes como forma de identidade nacional brasileira, a qual está 
relacionada ao momento de uma alteração da relação dos Estados Unidos da 
América com os demais países latino-americanos, na denominada política da boa 
vizinhança. Esta nova política dos Estados Unidos em relação à América Latina 
possibilitou uma maior amplitude internacional das artes populares nacionais. 
Um dos principais símbolos foi a ida de Carmen Miranda, acompanhada de seu 
conjunto Bando da Lua, para os Estados Unidos da América, sendo a cantora a 
primeira artista brasileira que teve suas mãos imortalizadas na Calçada da Fama. 
Porém, grande parte da intelectualidade brasileira, além de outros membros da 
elite nacional, rechaçaram a figura pública da “pequena notável”. Em grande 
parte, porque Carmen Miranda retratava a beleza de uma parcela da população 
da qual a burguesia e a inteligência brasileira se envergonhavam. Em especial, 
o povo negro, que com sua irradiante alegria possibilitou, com suas músicas, a 
Carmen Miranda conquistar reconhecimento internacional. 
Outra importante faceta da política de boa vizinhança dos Estados Unidos 
estava relacionada aos estúdios de Walt Disney, pois, em homenagem ao Brasil, 
o importante e reconhecido desenhista estadunidense criou o personagem Zé 
Carioca, um papagaio que vivia no Rio de Janeiro e que tinha uma postura de 
vida próxima à boemia e à malandragem (MOURA, 1984).
FIGURA 37 - CARMEN MIRANDA E WALT DISNEY
FONTE: Disponível em: <segall.ifch.unicamp.br>. Acesso em: 15 maio 2015.
A vida privada de Carmen Miranda foi muito sofrida após o reconhecimento 
internacional. Pois, por ter sido rejeitada por grande parte da crítica de arte brasileira, 
acabou por fechar contratos apenas nos Estados Unidos. A ausência de sua terra natal 
acabou por desencadear uma profunda depressão. Depressão esta que culminou com 
a morte prematura de uma das mais talentosas artistas brasileiras. 
146
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
Além da música popular, o desporto também se transformou em 
um dos símbolos da cultura brasileira, que passou, no período nacional-
desenvolvimentista, a ser utilizado tanto do ponto de vista da política interna, 
como nas relações diplomáticas brasileiras. O futebol se transformou nos anos 
1930 em uma “mania nacional”. Em 1930 se realizou a primeira Copa do Mundo 
de Futebol, no Uruguai. Porém, o Brasil teve uma péssima participação. Em 1932, 
o futebol no Brasil se profissionalizou. Nos anos 1930 surgiram os dois primeiros 
ídolos de massa do futebol brasileiro. Os jogadores negros Domingos da Guia e 
Leônidas da Silva, conhecido como “Diamante Negro”. Em 1950 se realizou uma 
Copa do Mundo no Brasil. Para tanto, foi criado o Estádio Jornalista Mário Filho, 
popularmente conhecido como Maracanã. Porém, o Brasil perdeu a final para a 
seleção do Uruguai. Oito anos depois, em 1958, o Brasil se consagrou campeão 
mundial de futebol, repetindo a façanha em 1962. 
Não apenas no futebol o Brasil se sagrou campeão. Também no tênis uma 
atleta brasileira ganhou grande destaque. Trata-se de Maria Ester Bueno, que foi 
tricampeã do mais importante torneio do circuito mundial, o de Wimbledon, na 
Inglaterra, nos anos de 1958/1959 e 1964. Nas olimpíadas, foi destaque Adhemar 
Ferreira da Silva, que se sagrou bicampeão olímpico no salto triplo (uma modalidade 
do atletismo). Também durante o período nacional-desenvolvimentista tivemos a 
primeira participação de uma mulher representando o Brasil nos Jogos Olímpicos. 
A nadadora Maria Lenk, em 1932, representou o Brasil nos jogos de Los Angeles. 
FIGURA 38 - PELÉ E O PRESIDENTE JK, NO PALÁCIO DO CATETE, APÓS O BRASIL 
SE SAGRAR CAMPEÃO DO MUNDO (1958)
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/>. Acesso em: 15 maio 2015.
Além do destaque dos esportistas, do ponto de vista da organização 
do esporte, o Brasil, além de sediar uma Copa do Mundo de Futebol, em 1960, 
sediou as disputas do Torneio Pan-americano, em 1963. A importância do 
esporte revelava as dificuldades sociais vividas pelos brasileiros, pois, mesmo 
com o desenvolvimento do profissionalismo, grande parte dos atletas brasileiros 
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
147
daquela época não enriqueceu com o esporte, e grande parcela acabou sua vida 
em condições de grande pobreza. Todavia, podemos afirmar que foi durante o 
período nacional-desenvolvimentista o tempo no qual os esportes e as artes se 
transformaram em bandeiras representativas da nacionalidade brasileira. 
6 OS GRUPOS DE INTELECTUAIS A SERVIÇO DO 
DESENVOLVIMENTISMO ESTATAL
A ESG (Escola Superior de Guerra) foi um órgão ligado ao Estado-Maior 
das Forças Armadas (atual Ministério da Defesa) e que se empenhava em criar 
uma estratégia nacional de defesa e colaborar para odesenvolvimento do Brasil. 
Era chamada jocosamente de “Sorbonne” pelos oficiais que a ela não aderiram. 
O ideólogo principal da ESG foi um general-de-brigada da reserva, Golbery do 
Couto e Silva, que nos livros Geopolítica do Brasil e Planejamento Estratégico traçou 
linhas para uma ação política conservadora, materializada durante os anos de 
ditadura militar. Sua ideia básica era a de que o desenvolvimento brasileiro só 
seria possível se o Brasil aderisse ao bloco ocidental durante os anos da Guerra 
Fria. As bases do pensamento da ESG eram variadas. Havia uma influência das 
doutrinas militares francesas e inglesas (em menor escala) e das doutrinas de 
defesa norte-americanas (em maior escala). Porém, a tradição do pensamento 
conservador brasileiro foi a maior influência dos intelectuais da ESG. Em especial 
o pensamento de Francisco Torres e, principalmente, do intelectual conservador e 
professor da Escola de Direito de Niterói-RJ Francisco José Oliveira Vianna. 
Oliveira Vianna escreveu dois livros principais: Populações do Brasil 
Meridional e Organização Política do Brasil. Livros em que retrata uma visão 
autoritária e racista da vida nacional. Afirmava ele uma superioridade das 
populações meridionais brasileiras, como os colonos alemães de Santa Catarina 
em relação aos mestiços do litoral. Também se posicionava contra as eleições 
livres para os cargos eletivos, afirmando que o povo, a massa, não aderiria a 
ideias democráticas. Oliveira Vianna foi um dos principais ideólogos do Estado 
Novo, período sombrio da vida política brasileira (FAUSTO, 2001).
A influência da Escola Superior de Guerra na historiografia universitária 
é pequena. Porém, foi muito grande no ensino primário nos anos da ditadura 
militar, ao ser o material de disciplinas como Preparação para o Trabalho, 
Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil e Estudos 
dos Problemas Brasileiros, inspirado nos ditames da ESG. Além disto, muitos 
políticos, empresários e demais lideranças civis faziam o curso da ESG, formando 
a ADESG – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra. 
Todavia, estas ideias conservadoras eram questionadas pelos intelectuais 
que se opunham ao conservadorismo: liberais, marxistas e nacionalistas. Estes se 
agruparam no Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o ISEB, um órgão ligado 
ao Ministério da Educação durante os governos JK e Jango. Órgão que tentava 
ser uma antítese à conservadora Escola Superior de Guerra. O ISEB pode ser 
148
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
classificado como tendo duas fases. Uma mais pluralista, ligada ao governo JK, e 
outra mais esquerdista, ligada ao governo Jango. 
Durante o governo JK, os intelectuais que compunham o ISEB eram das 
mais distintas correntes ideológicas. Alguns eram mais radicais, com simpatias 
pelo bloco socialista. Outros, mais conservadores, e outros independentes. O ISEB 
foi uma instituição que contou com vários e importantes intelectuais das mais 
diversas orientações teóricas, como intelectuais influenciados por Max Weber, 
como Alberto Guerreiro Ramos, e outros como o sociólogo Hélio Jaguaribe e o 
intelectual católico Cândido Mendes, além do já citado marxista Nelson Werneck 
Sodré. O nacionalista Barbosa Lima Sobrinho, autor de livros clássicos sobre a 
temática como Desde quando somos nacionalistas?, foi um nome importante na 
formação de um ideário político não conservador, e em parte consonante com o 
ideal isebiano. 
Muitos dos intelectuais de inspiração liberal ou mesmo conservadora que 
faziam parte do grupo do ISEB abandonam este centro de pensamento democrático 
com o governo João Goulart. Com Jango no poder, o órgão deu uma guinada à 
esquerda, sendo este um centro de muitas atividades intelectuais dos esquerdistas. 
Com o golpe no dia 31 de março de 1964, o ISEB foi fechado e grande parte dos 
historiadores e sociólogos a ele ligados foi perseguida pela ditadura, tendo de 
responder criminalmente por suas ideias. Com a perseguição à intelectualidade 
que se encontrava no Rio de Janeiro, o pensamento historiográfico nos anos 60 
passou a se concentrar em São Paulo, em torno da Universidade de São Paulo. 
Estes órgãos eram diretamente ligados a instituições do governo brasileiro, 
como o Ministério da Guerra e o Ministério da Educação. Porém, um outro órgão 
importante para a compreensão da participação de intelectuais na vida política 
brasileira foi a CEPAL. Entre os órgãos internacionais que estudaram sobre o 
Brasil se destacou a CEPAL - Comissão para o Desenvolvimento Econômico 
da América Latina, um órgão ligado à Organização das Nações Unidas e que 
congregou muitos sociólogos e economistas brasileiros que sofriam a perseguição 
da ditadura militar. Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, 
Fernando Henrique Cardoso e muitos outros participaram do instituto de 
pesquisas sociais e econômicas, que era, por sua vez, comandado pelo economista 
argentino Raul Prebich (FURTADO, 1998). 
O pensamento cepalino, por vezes, é identificado com o economista 
brasileiro Celso Furtado. Esta identificação é em parte por causa da importante 
tese desenvolvida por Furtado: a teoria do subdesenvolvimento. Por esta teoria se 
relacionava o fato dos países subdesenvolvidos sempre estarem com forte carga 
de dívida externa em relação aos desenvolvidos. Isto ocorre, para os adeptos 
da teoria do subdesenvolvimento, devido ao fato dos produtos industriais 
terem um valor agregado maior que as matérias-primas fornecidas pelos países 
subdesenvolvidos. Assim, a relação de dominação só seria quebrada com uma 
industrialização dos países mais pobres. Industrialização que se torna improvável 
devido à dívida externa, formando assim um ciclo de dependência.
TÓPICO 4 | O PANORAMA CULTURAL NA REPÚBLICA NACIONAL- DESENVOLVIMENTISTA
149
LEITURA COMPLEMENTAR
Carta Testamento de Getúlio Vargas
 
Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se 
e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me 
combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha 
voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre 
defendi, o povo e principalmente os humildes. 
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e 
espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de 
uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de 
liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A 
campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais 
revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários 
foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se 
desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das 
nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de 
agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem 
que o trabalhador seja livre. 
Não querem que o povo seja independente. Assumi o governo dentro da 
espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas 
estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que 
importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares 
por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos 
defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, 
a ponto de sermos obrigados a ceder. 
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão 
constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando 
a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada 
mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves derapina querem o sangue 
de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto 
a minha vida. 
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, 
sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, 
sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando 
vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício 
vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de 
meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração 
sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. 
150
UNIDADE 2 | O PERÍODO NACIONAL DESENVOLVIMENTISTA (1930-1964)
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era 
escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui 
escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em 
sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do 
Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, 
as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora 
vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no 
caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História. (Rio de Janeiro, 
23/08/54 - Getúlio Vargas)
FONTE: Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividadelegislativa/plenario/discursos/
escrevendohistoria/getulio-vargas/carta-testamento-de-getulio-vargas>. Acesso em: 15 
maio 2015.
151
RESUMO DO TÓPICO 4
• A música erudita teve em Heitor Villa-Lobos seu principal personagem.
• A literatura foi um dos mais importantes campos das artes nacionais, com 
escritores talentosos, como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, 
Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, entre tantos outros nomes. 
• O cinema contou com o talento da Companhia Vera Cruz, do humor das 
Chanchadas da Atlântida, além do engajamento político do Cinema Novo. 
• Nas artes plásticas, Cândido Portinari foi destaque ao pintar o quadro Guerra 
e Paz, exposto na sede da Organização das Nações Unidas em Nova York. 
• A música popular contou com o talento de vários artistas, como Noel Rosa, Luiz 
Gonzaga, além de novos movimentos musicais, como a Bossa Nova, de Vinícius 
de Moraes e Tom Jobim. 
• O rádio foi o principal meio de comunicação de massa naquele período da 
história nacional. 
• A televisão foi inaugurada no Brasil em 1950, sob patrocínio de Assis 
Chateaubriand.
• O Brasil possuiu alguns grandes e importantes jornais, como a Tribuna da 
Imprensa, O Globo, Jornal do Brasil, Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. 
• No campo religioso, tivemos a presença de líderes carismáticos, como Chico 
Xavier e D. Hélder Câmara, além do surgimento da CNBB, a Confederação 
Nacional dos Bispos do Brasil. 
• Nas questões relativas à arquitetura e urbanismo, foram destaque Oscar 
Niemeyer Lúcio Costa, como também o paisagista Burle Marx. 
• Entre a intelectualidade, foram destaques grupos ligados a instituições 
intelectuais, como o ISEB, a ESG e a CEPAL. 
152
• Nos esportes, foram destaques Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico 
no atletismo, Maria Ester Bueno, campeã do torneio de tênis de Wimbledon, e a 
seleção brasileira de futebol campeã mundial em 1958-62. 
153
Questão única: As artes e os esportes foram muito valorizados pelos países do 
mundo ocidental durante todo o século XX, pois, além de serem expressões 
belas da capacidade, sensibilidade, força e talento humano, eram uma 
oportunidade de divulgar a ação dos governos nacionais. Assim, os desportos 
e as artes eram uma propaganda perene dos estados nacionais. Desta forma, 
pergunta-se: como podemos compreender a relação das artes e dos esportes 
como símbolo de uma identidade nacional brasileira? 
AUTOATIVIDADE
154
155
UNIDADE 3
O BRASIL ENTRE A DITADURA E A 
DEMOCRACIA (1964-2010)
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender as relações políticas do Brasil nas últimas cinco décadas;
• analisar as distintas políticas econômicas dos governos autoritários e de-
mocráticos;
• refletir sobre a produção cultural, as vivências da fé e as distintas formas 
de participação política dos brasileiros;
• avaliar a produção historiográfica sobre o período republicano brasileiro.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles, 
você encontrará atividades para exercitar os conteúdos abordados.
TÓPICO 1 – AS QUESTÕES POLÍTICAS
TÓPICO 2 – A GESTÃO ECONÔMICA DO BRASIL: ENTRE A 
INTERVENÇÃO ESTATAL E O LIBERALISMO ECONÔMICO
TÓPICO 3 – CULTURA & SOCIEDADE: MOVIMENTOS ARTÍSTICOS, 
SOCIAIS E RELIGIOSOS
TÓPICO 4 – UM POUCO DE HISTORIOGRAFIA DO BRASIL 
REPUBLICANO
156
157
TÓPICO 1
AS QUESTÕES POLÍTICAS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
As principais questões políticas no Brasil dos últimos cinquenta anos serão 
abordadas neste primeiro tópico. Analisaremos as diferenças entre os governos 
do ciclo autoritário e do ciclo democrático, como também as similaridades entre 
os dois períodos da história nacional. A ênfase será cronológica e irá abordar os 
diferentes personagens que ocuparam a cadeira da Presidência da República 
Brasileira. Começaremos pelo presidente Castelo Branco, o primeiro militar do 
ciclo autoritário, e terminaremos analisando os governos de Fernando Henrique 
Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva. Também passaremos em revista as ações da 
política externa brasileira nas últimas cinco décadas. Deste modo, com o acesso a 
estas informações, poderemos observar de modo mais profundo a política brasileira 
contemporânea. Pois o Brasil vive o legado do ciclo autoritário, ao mesmo tempo 
em que almeja ser uma próspera e feliz democracia. 
2 A POLÍTICA NO CICLO AUTORITÁRIO
A História do Brasil após o dia 1º de abril de 1964 se transformou de uma 
forma radical. Antes, o país era uma típica nação agrário-exportadora latino-
americana. Atualmente é uma nação urbana e industrial. Ao mesmo tempo, uma 
nação que ainda hoje sofre as agruras da falta de democracia durante 21 anos. 
Assim, o estudo da história da vida nacional nas últimas décadas deve ser medido 
do ponto de vista acadêmico, e não segundo as paixões políticas de determinados 
líderes ou grupos da política brasileira contemporânea. 
A ditadura militar no Brasil deve ser compreendida como um dos vários 
episódios nacionais de uma disputa política internacional: a Guerra Fria. Por 
este termo se compreende a disputa indireta entre os Estados Unidos e a União 
Soviética pelo domínio do mundo (FICO, 2008). Além das questões referentes 
à geopolítica, podemos entender que as dinâmicas internas da sociedade 
brasileira nos permitem compreender que existiam duas grandes propostas 
para o desenvolvimento brasileiro. Uma, a mais ligada aos grupos nacionalistas, 
buscava desenvolver o capitalismo com bases da economia interna. Outra, 
ligada aos grupos estrangeiros, buscava desenvolver o Brasil com base no capital 
internacional. 
UNIDADE 3 | O BRASIL ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA (1964-2010)
158
FIGURA 39 - GENERAIS PRESIDENTES DA DITADURA MILITAR
FONTE: Disponível em <http://www.militar.com.br/> Acesso em: 15 out. 2015
Humberto de Alencar Castelo Branco foi o primeiro militar escolhido 
para ser o presidente dos Estados Unidos do Brasil. Cearense, por tradição 
familiar pertencia à Arma de Infantaria, como grande parte dos nordestinos que 
ingressavam na então Escola Militar do Brasil, localizada no Realengo, um bairro 
do subúrbio carioca. Castelo Branco teve uma carreira militar de grande destaque 
como soldado legalista. Isto é, ele se opôs aos principais eventos revolucionários, 
tendo inclusive, como jovem oficial, combatido os revolucionáriostenentistas 
nos anos 1920. Participou da Segunda Guerra Mundial com a patente de tenente-
coronel, tendo sido responsável pelo contato da Força Expedicionária Brasileira 
com os oficiais norte-americanos. Na guerra, travou uma duradoura relação de 
amizade com o oficial do U. S. Army (exército estadunidense) Vernon Walters. A 
sua primeira grande participação política foi no interior do Exército, sendo em 
1947 o candidato vitorioso em uma chapa da Associação dos Ex-combatentes do 
Brasil, na qual vencera o candidato comunista Jacob Gorender. Nos anos 1950 
foi candidato derrotado em uma candidatura à presidência do Clube Militar, no 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
159
Rio de Janeiro. Apesar de ter sido um importante líder de tropas, sendo, como 
general, comandante do IV Exército, com sede em Recife, Castelo teve seu maior 
destaque na carreira militar como um “intelectual orgânico”, isto é, como um 
professor de escolas militares, sendo comandante da Escola de Comando e Estado 
Maior do Exército, como também, homem ligado à Escola Superior de Guerra. 
Assim, sua biografia não era a de um militar comum, mas sim de um militar 
com veleidades intelectuais. Estas foram explicitadas em suas aparições públicas 
após ser presidente. Gostava de aparecer publicamente ao lado do Marechal 
Mascarenhas de Moraes, seu comandante na FEB, em frisa comum, assistindo à 
música erudita no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Assim como também era 
visto na Academia Brasileira de Letras, sendo amigo da escritora cearense Rachel 
de Queiroz (GASPARI, 2004). 
A escolha do Marechal Castelo Branco para a Presidência da República foi 
por meio de uma eleição indireta, no mês de abril de 1964, na qual participaram 
os oficiais generais Juarez Távora e Eurico Gaspar Dutra. Todavia, de antemão já 
se sabia que Castelo Branco assumiria o poder. Porém, Castelo Branco afirmou 
que iria apenas cumprir seu mandato até o fim do mandato de João Goulart, 
que se encerraria em 1965, prometendo eleições presidenciais em 1965. Eleições 
presidenciais que não aconteceram, pois o ministro da Guerra, general Arthur 
da Costa e Silva, se impôs como presidente da República. Castelo Branco acabou 
não cumprindo sua palavra, vindo a falecer em um misterioso acidente aéreo em 
1967, no interior de seu estado natal, o Ceará. 
No governo Castelo Branco foi instituído o Ato Institucional número 1, 
responsável por cassar diversos direitos políticos de cidadãos brasileiros. Muitos 
políticos, inclusive personalidades que apoiaram a candidatura de Castelo no 
colégio eleitoral, como o ex-presidente Juscelino, foram perseguidos. Membros de 
partidos com forte ligação ao governo Goulart, como Leonel Brizola e Miguel Arraes, 
então governador de Pernambuco, além de Celso Furtado, líder na SUDENE, foram 
cassados pelo regime. Porém, uma das primeiras medidas foi o expurgo no interior 
das forças armadas. Isto é, cassar a patente e excluir das fileiras militares membros 
das corporações que eram comunistas, que possuíam convicções nacionalistas, ou 
que eram radicalmente democratas. A perseguição e tortura a militares nacionalistas 
nos indicam que a principal questão é que o Exército e demais forças armadas não 
eram totalmente favoráveis ao golpe de Estado, sendo fundamental a perseguição 
a praças e oficiais nacionalistas.
Outra questão importante foi a presença de uma divisão interna entre os 
militares, que fora batizada pelo jornalista Carlos Castelo Branco como os da Linha 
Dura e os da Linha Moderada. 
A ação militar, que no início estava vinculada a um curto período, pois Castelo 
afirmava passar o poder para um civil após as eleições de 1966, foi alterada com a 
instituição do Ato Institucional Nº 2, que instituiu o bipartidarismo. Isto é, apenas 
dois partidos poderiam existir no espectro político nacional. A ARENA, Aliança 
Renovadora Nacional, partido governamental, e o MDB, o Movimento Democrático 
UNIDADE 3 | O BRASIL ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA (1964-2010)
160
Brasileiro, que congregava, no início, uma pequena oposição consentida ao regime. 
Eram jocosamente chamados de o Partido do Sim e o Partido do Sim Senhor. 
Se a figura pública de Castelo Branco era a de um culto oficial, apreciador 
da poesia e da música clássica, Costa e Silva era tido como um militar sem 
composturas e desprovido de inteligência. Um anedotário de piadas se fez 
em torno do presidente, tratando de sua pouca argúcia e perspicácia. Um dos 
exemplos: conta-se que, certa vez, o presidente perguntou à sua esposa porque 
tinham criado uma nova estatal sem o seu consentimento: emobras. Na realidade 
se tratava de uma placa indicando: em obras. Tais historietas eram inverídicas, 
porém revelam a falta de carisma que o presidente possuiu perante as massas. 
No governo Costa e Silva, três grandes líderes políticos se uniram na 
denominada frente ampla pela democracia: João Goulart, Juscelino Kubitscheck 
e Carlos Lacerda. Porém, a Frente Ampla foi considerada ilegal, e os três 
articuladores acabaram por permanecer vários anos exilados, morrendo durante 
a década de 1970 em situações suspeitas. 
Uma das atitudes políticas de maior repercussão do governo Costa e Silva foi a 
promulgação de uma nova Constituição, em 1967. Todavia, o governo Costa e Silva foi 
marcado pela elaboração do Ato Institucional Número 5, o AI-5. Tendo como estopim 
um discurso do deputado federal Márcio Moreira Alves, que incitava as mulheres 
dos militares se negarem a dormir com os mesmos pelo mal que estavam fazendo ao 
Brasil, este dispositivo legal retirava direitos básicos dos cidadãos brasileiros, como o 
direito ao Habeas Corpus, além da ampla defesa. O AI-5 possibilitou a prisão de vários 
suspeitos de ações terroristas contra a ditadura, independentemente de qualquer 
prova empírica de atos de violência por iniciativa dos indivíduos, possibilitando 
injustiças por parte dos agentes do Estado, que em vários momentos utilizaram da 
tortura como meio de obter informações dos agentes de grupos armados de esquerda 
(GASPARI, 2005). 
A morte do presidente Marechal Arthur da Costa e Silva foi um dos eventos 
mais nebulosos da história política brasileira. O presidente, que sofria de derrame, 
acabou falecendo. Porém, devido à conturbada conjuntura política do Brasil na 
época, sua morte demorou meses para ser oficialmente divulgada. Assim, os três 
ministros militares, que foram duramente criticados pela opinião pública (que os 
denominou de “três patetas”), dividiram a cadeira da Presidência da República. Esta 
situação jocosa foi considerada inconcebível por importantes generais, comandantes 
de tropas, que acabaram por escolher o general de exército Emílio Garrastazu Médici. 
O governo Médici foi um dos períodos mais conturbados da ditadura 
militar brasileira. Médici foi um oficial de carreira destacada, porém, fora dos 
ambientes militares, ele não era conhecido, pois não possuiu vinculações políticas. 
Nascido na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, iniciou a carreira como aluno 
do Colégio Militar de Porto Alegre, se formando oficial da arma de Cavalaria 
na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro. Vivenciou a maior parte de 
sua carreira em quartéis do Estado do Rio Grande do Sul, na época denominado 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
161
Terceiro Exército. Durante o golpe de 31 de março de 1964, possuiu a função de 
comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, sediada no município de 
Resende, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ordenou aos cadetes impedir o tráfico 
na Rodovia Presidente Dutra, que liga as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. 
Durante o governo Costa e Silva foi o chefe do Serviço Nacional de Informações, 
responsável por investigar as condutas dos indivíduos que eram considerados 
perigosos para o regime (GASPARI, 2003). 
Ao assumir o poder, Médici teve de enfrentar desafios para a manutençãoda ordem política em uma ditadura já instalada, e sua figura auxiliou na elaboração 
de instituições especializadas na repressão aos perseguidos políticos do regime. 
Uma das principais características do governo foi a perseguição implacável à 
denominada guerra contrarrevolucionária, na qual os centros de repressão do 
Exército tiveram maior ênfase na perseguição a grupos opositores à ditadura 
militar. Durante seu governo, os órgãos de repressão cometeram graves abusos 
de poder, sendo por várias vezes desrespeitados os direitos humanos. 
Durante a ditadura, as forças armadas possuíam uma organização 
administrativa um pouco diferente da atual. O Exército Brasileiro possuía uma 
estrutura na qual existiam quatro grandes comandos, os denominados “exércitos”: 
o I Exército tinha sede no Rio de Janeiro, o II Exército, sede em São Paulo, o 
III Exército, com sede em Porto Alegre, e o IV Exército, com sede na cidade do 
Recife. Além destes exércitos (grandes comandos), existiam o Comando Militar 
do Planalto (Brasília) e o Comando Militar da Amazônia (Manaus). A Força Aérea 
era dividida em zonas aéreas regionais, e a Marinha em distritos navais. Uma 
característica do período era um certo inchaço da presença das forças armadas 
no Rio de Janeiro, pois havia pouco tempo da transferência da capital federal 
para Brasília. Dentro desta estrutura oficial do Exército, capacitado para a guerra 
contra exércitos estrangeiros, foi formulada uma outra estrutura, que se ligava 
à guerra revolucionária, e que tinha sua base nos órgãos de informação. Assim, 
pode-se dizer que foi criado um “poder militar paralelo” ao oficial. 
A estrutura da repressão foi formulada na ideia da existência de um inimigo 
interno da pátria brasileira. Este seria a penetração comunista (CASTRO, 2002). 
Assim, para perseguir os comunistas que se espalhavam em várias instituições 
da sociedade brasileira, foram criadas ou dinamizadas algumas instituições já 
existentes. Havia o DOPS – Departamento de Ordem Política e Social, criado 
ainda na República Velha, em 1924. O CIEX – Centro de Informações do Exército, 
o Cenimar – Centro de Informações da Marinha, o CIAR – Centro de Informações 
da Aeronáutica. Também existiram órgãos específicos da ditadura militar, como 
o DOI-CODI. Tais órgãos foram os responsáveis por matar, torturar, prender 
sem direito a ampla defesa, uma grande quantidade de cidadãos brasileiros. Tais 
ações, inomináveis, não devem ser jamais toleradas, independente da ditadura 
ser de “esquerda” ou de “direita”. Também podemos lembrar que a presença de 
censores nos jornais foi uma das tônicas da ditadura militar. 
UNIDADE 3 | O BRASIL ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA (1964-2010)
162
Além da repressão, o governo Médici foi marcado por uma espécie de 
“populismo ditatorial”. Era comum encontrar o general-presidente em partidas 
de futebol, ouvindo rádio de ondas curtas, em especial, na tribuna de honra do 
Maracanã. A ideia de demonstrar um presidente simpático, mais um "homem do 
povo”, permeou todo o imaginário que tentou se criar no início dos anos 1970. Uma 
campanha de forte apelo popular foi: Brasil, ame-o ou deixe-o. Tal perspectiva 
buscava vincular os discursos críticos da oposição, em especial do Movimento 
Democrático Brasileiro, como vinculados a ideias antipatrióticas. Este tipo de 
visão dicotômica buscava relacionar sentimentos, como patriotismo, às posturas 
da ditadura militar. Neste sentido, buscava-se legitimar a presença do governo 
federal nas mais diferentes áreas de atuação da vida nacional. Músicas compostas 
pela dupla Dom e Ravel, como Este é um País que Vai pra Frente e Eu te amo meu 
Brasil, eram o tom do discurso governamental. Um símbolo deste populismo 
estatal foram as comemorações para o sesquicentenário da Independência do 
Brasil, em 1972. Foi organizado um mundialito de futebol, ganho pelo Brasil. 
A ação governamental também se mostrou forte com o objetivo de promover 
políticas de reafirmação de valores sociais machistas, como o patrocínio que a 
ditadura ofertou a filmes pornográficos, as pornochanchadas. 
Em relação à educação, no governo Médici foi promulgada uma nova Lei 
de Diretrizes e Bases. A LDB de 1972 teve como grande novidade a exclusão de 
disciplinas humanísticas dos currículos escolares, sendo substituídas por matérias 
que buscavam fazer a divulgação, entre a juventude, dos ideais do regime. Assim, 
disciplinas como História, Geografia, Filosofia e Sociologia eram substituídas por 
disciplinas ideológicas em relação aos ideais do governo, que acompanhavam 
os valores propostos pelo regime, como Educação Moral e Cívica, Organização 
Social e Política do Brasil, Preparação Para o Trabalho, e Estudos de Problemas 
Brasileiros. 
Do ponto de vista sociopolítico, o ano de 1973 foi um dos marcos de um dos 
primeiros desgastes do regime militar. A crise internacional do petróleo alterou a 
dinâmica econômica interna, gerando o fim do denominado Milagre Econômico 
Brasileiro, um plano de crescimento econômico em larga escala, a ser realizado em 
um curto período. Assim, a inflação gerou aumento do custo de vida. Aumento 
mascarado à população pela censura, e por artimanhas como aumentar a oferta de 
produtos da cesta básica nas cidades nas quais a pesquisa era realizada, na semana 
em que a mesma era feita. Todavia, a consciência política da população brasileira 
era maior do que poderia supor a classe dirigente. Apesar da forte popularidade 
do governo Médici, um fruto de uma excelente e bem coordenada propaganda, as 
eleições de 1974 representaram uma grande derrota para o governo. Pois o partido 
de oposição consentido pela ditadura, o Movimento Democrático Brasileiro, 
saiu vitorioso em muitos estados, conseguindo grande número de deputados e 
senadores. Tal vitória foi possível devido à anticandidatura Ulysses Guimarães 
e Barbosa Lima Sobrinho. A anticandidatura foi um processo de oposição à 
ausência de eleições diretas para a Presidência. No Colégio Eleitoral, composto 
por senadores e deputados, Ernesto Geisel foi referendado como o chefe máximo 
da nação, tendo como vice-presidente o discreto general Adalberto Pereira dos 
Santos (REIS FILHO, 2010). 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
163
Geisel era gaúcho de Bento Gonçalves, sendo o filho mais novo de uma 
família de imigrantes alemães luteranos. Geisel foi o segundo presidente da 
República brasileira que não era católico. Estudou no Colégio Militar de Porto 
Alegre, tendo posteriormente se formado oficial da arma de artilharia. Como 
tenente, aderiu à Revolução de 1930, tendo o cargo de interventor federal na 
Paraíba. Não participou da FEB, pelo preconceito de seus superiores devido à sua 
origem familiar alemã (ARAÚJO; CASTRO, 1997). 
A escolha de Ernesto Geisel para a Presidência da República pode ser 
explicada por questões econômicas e patrimonialistas. Em relação às questões 
econômicas, a principal crise que o mundo capitalista viveu teve como causa a crise 
internacional do petróleo em 1973. Em relação ao patrimonialismo (confusão entre 
o direito público e o privado), Ernesto Geisel era o presidente da Petrobras e irmão 
mais novo do ministro da Guerra do governo Médici, Orlando Geisel. 
UNI
O Presidente Ernesto Geisel deixou suas memórias registradas em uma longa 
entrevista concedida ao antropólogo Celso Castro e à cientista política Maria Celina D’Araújo, 
que foi publicada em 1997 pela Editora Fundação Getúlio Vargas. Obra que deve ser lida, 
para compreender o pensamento da geração de militares que governou o Brasil entre 1964 
e 1985. 
Durante os anos 1970, a ação militar desbaratou a Guerrilha do Araguaia, 
assim como a ação das guerrilhas urbanas que lutaram contra a ditadura. Assim, 
com a vitória da oposição nas eleições de 1974, Geisel iniciou o processo de 
Distensão Lenta, Gradual e Segura. Isto é, o regime iria, aos poucos, possibilitar aabertura política. Porém, tutelada pelo próprio regime. Esta ação foi tanto política 
quanto militar. Em relação às questões políticas, com o aumento dos senadores 
oposicionistas, foi criada a figura do senador biônico, isto é, indicado pelo governo 
Geisel para votar sempre favorável às indicações do Planalto. 
Uma das principais características do período foi a ação forte do governo 
Geisel em possibilitar a abertura, porém com mão-de-ferro em relação aos 
militares. Um dado importante foi a postura do governo em relação às mortes 
do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Wladimir Herzog. Em relação a 
estas mortes, que ocorreram nas dependências do II Exército, em São Paulo, 
Geisel puniu o então comandante da jurisdição militar do II Exército, general 
Ednardo D’Ávilla Mello, exonerando-o do cargo. Em relação à linha dura do 
regime, Ernesto Geisel entrou em tensão com o ministro do Exército, general 
Sílvio Frota. Em relação a este oficial general, que abertamente criticou Geisel 
em seu processo de abertura, foi solenemente demitido por Geisel. Com estas 
ações, Geisel conseguiu demonstrar, simbolicamente, que estava no comando do 
UNIDADE 3 | O BRASIL ENTRE A DITADURA E A DEMOCRACIA (1964-2010)
164
processo de abertura. Assim, grande parte dos militares da denominada linha 
dura perdeu postos importantes no comando do Exército (GASPARI, 2003). 
Concomitantemente, Geisel escolheu alguém ligado ao sistema repressivo, 
da linha dura, para comandar o processo de abertura política: o general João 
Batista Figueiredo. Foi necessária uma grande artimanha político-militar para 
possibilitar a Figueiredo ser presidente. Figueiredo era um general de três 
estrelas, isto é, general de divisão. Para que pudesse ser presidente, era necessário 
que fosse promovido a general de quatro estrelas (general de exército). Para 
que fosse promovido, foi necessário remover diversos generais para a reserva 
remunerada. Porém, tal medida se fazia necessária para que o Brasil buscasse 
a redemocratização. Isto porque Figueiredo foi chefe do SNI (Serviço Nacional 
de Informações). Tal função desempenhada pelo general possibilitou a abertura, 
pois era um homem do sistema de informações, que poderia conter os radicais 
ligados ao referido sistema.
João Batista Figueiredo, gaúcho de Alegrete, foi um oficial da arma de 
Cavalaria, que se formou, assim como os demais oficiais generais da ditadura, na 
antiga Escola Militar do Realengo. Sua carreira militar seguiu aspectos comuns 
de um oficial de sua geração. Porém, com a ditadura, substituiu o general Emílio 
Garrastazu Médici no cargo de chefe do Sistema Nacional de Informação (SNI). 
A imagem pública do general Figueiredo era a de um homem temperamental, 
pouco afeito à sociabilidade e cordialidade no trato humano. Algumas de suas 
frases ficaram famosas na época de sua estada no Palácio do Planalto. O presidente 
chegou a afirmar que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo. Certa feita, 
perguntado por jornalistas em relação à campanha em incentivo ao consumo do leite 
de soja, afirmou: este leite é uma porcaria. Também ficou famosa a sua presença em 
um evento em Florianópolis, posteriormente conhecido como Novembrada, onde 
tentou brigar fisicamente com estudantes contrários à ditadura militar. Em outra 
feita, perguntado sobre o que faria se ganhasse um salário mínimo, teria respondido: 
daria um tiro na cabeça. Tais posturas revelavam a decadência da ditadura, e ao 
mesmo tempo focavam uma imagem do presidente como alguém “durão”, isto é, 
que era capaz de enfrentar os radicais que eram contrários à abertura do regime 
(FAUSTO, 2002). 
Um dos principais eventos que revelam a violência de grupos radicais, 
como o Comando de Caça aos Comunistas, foi um atentado ao Riocentro, local 
do Rio de Janeiro no qual ocorria uma apresentação de música, em comemoração 
ao Dia do Trabalho, quando militares tentaram realizar um atentado para matar 
civis e incriminar grupos terroristas. O atentado não deu certo porque a bomba 
explodiu no saco escrotal de um sargento, sendo a falha mecânica do projétil a 
salvação da vida de milhares de pessoas. O caso acabou sendo arquivado, porém 
revelou que havia setores militares contrários à abertura. O general Newton Cruz 
foi um dos principais líderes da linha dura no período final do regime. Acusado 
pela morte do jornalista Alexandre von Baumgarten, e também envolvido no caso 
Riocentro, sua figura pública acabou por lhe proporcionar um legado político 
após o final do ciclo autoritário. 
TÓPICO 1 | AS QUESTÕES POLÍTICAS
165
‘Apesar das ações de grupos radicais, os avanços democráticos foram 
grandes no Brasil nos últimos anos da década de 70 e em toda a década de 1980. 
Três marcos importantes no processo de abertura política foram o fim da censura 
prévia à imprensa, a anistia aos perseguidos políticos e o fim do bipartidarismo 
(FAUSTO, 2002).
Em 1978 foi declarado o fim da censura prévia à imprensa. O fato das 
principais notícias serem censuradas dava à população uma falsa impressão de 
segurança, apesar do aumento da violência urbana no período militar, com a 
presença de grupos de extermínio em regiões pobres das cidades brasileiras, como 
ocorreu na Baixada Fluminense nos anos 1970, com os esquadrões da morte. As 
notícias referentes à inflação não eram divulgadas. Também em relação à saúde 
pública, muito não fora divulgado, como o surto de meningite em São Paulo. A 
censura, porém, era maior em relação às notícias relativas às questões políticas, 
em especial, as ações da oposição democrática ao regime.
No ano seguinte, em 1979, o Brasil passou por um processo de anistiar 
os perseguidos políticos. Assim, a palavra de ordem era Anistia Ampla, Geral e 
Irrestrita. A anistia tinha um duplo componente político. Ela tanto anistiou os jovens 
que tinham se envolvido em ações armadas terroristas e violentas, assim como 
também perdoou as ações dos militares que agiram contra os Direitos Humanos 
e a Convenção de Genebra, ao torturar presos políticos. Porém, a principal 
memória social sobre a anistia foi o retorno de exilados políticos da oposição. 
Importantes nomes da política nacional, além de figuras da intelectualidade, 
estavam morando no estrangeiro. Assim, após a anistia, nomes como Luís Carlos 
Prestes, Fernando Gabeira, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, 
Leonel Brizola, Miguel Arraes, entre tantos outros, puderam retornar ao Brasil. 
Uma das máximas pronunciadas pelos líderes da ditadura favoráveis ao processo 
de anistia era “Lugar de brasileiro é no Brasil”. 
Também em 1979 tivemos outro dos marcos do processo de abertura 
política, o fim do bipartidarismo, com a extinção da Aliança Renovadora 
Nacional, a ARENA, e do MDB, o Movimento Democrático Brasileiro. Tal ação 
foi motivada pelo aumento do poder da oposição. Assim, a ARENA virou o 
PDS, Partido Democrático Social, e o MDB se tornou no PMDB, o Partido do 
Movimento Democrático Brasileiro. Outros partidos surgiram com o processo de 
redemocratização, como o Partido dos Trabalhadores, o PT, assim como também 
houve uma disputa pela sigla do antigo partido de Getúlio Vargas, o PTB. Leonel 
Brizola desejava disputar as eleições pelo antigo partido. Porém, perdeu a disputa 
da sigla para Ivete Vargas. Com isto, Brizola liderou o surgimento de uma nova 
sigla, o PDT, Partido Democrático Trabalhista. Em 15 de novembro de 1982, o 
Brasil passou por eleições gerais. Uma das marcas desta eleição foi o fato de nos 
estados mais populosos do país, a oposição se mostrou vitoriosa, com as vitórias 
de Franco Montoro, então no PMDB, em São Paulo, e de Leonel Brizola, no Rio de 
Janeiro, pelo PDT. Porém, nos estados menos populosos, os chamados grotões, 
o PDS ainda mantinha a dianteira na liderança política (FAUSTO, 2002). Assim, 
o governo Figueiredo teve importante papel ao possibilitar a transição

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