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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E DE DIREITO PROCESSUAL PENAL ÍNDICE Princípios Básicos ................................................................................................................................................................................................... 01 Aplicação da lei penal; A lei penal no tempo e no espaço; Tempo e lugar do crime; Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal ............................................................................................................................................................................................................... 08 O fato típico e seus elementos; Crime consumado e tentado; Ilicitude e causas de exclusão; Excesso punível ............. 17 Crimes contra a pessoa ....................................................................................................................................................................................... 26 Crimes contra o patrimônio ............................................................................................................................................................................... 32 Crimes contra a fé pública .................................................................................................................................................................................. 42 Crimes contra a Administração Pública ........................................................................................................................................................ 51 Inquérito policial; Histórico, Natureza, Conceito, Finalidade, Características, Fundamento, Titularidade, Grau de Cognição, Valor Probatório, Formas de Instauração, Notitia Criminis, Delatio Criminis, Procedimentos Investigativos, Indiciamento, Garantias do Investigado; Conclusão ................................................................................................................................ 58 Prova; Preservação de Local de Crime; Requisitos e ônus da prova; Nulidade da prova; Documentos de prova; Reconhecimento de pessoas e coisas; Acareação; Indícios; Busca e Apreensão .......................................................................... 63 Restrição de Liberdade; Prisão em flagrante ............................................................................................................................................... 70 1 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL estrito cumprimento do dever legal, de modo a escla- recer quais seriam as condutas vedadas, as permitidas e aquelas penas toleradas. Na CULPABILIDADE se trata das questões relevantes que cuidam da atribuição do fato criminoso ao seu ator, examinando a sua imputabilidade penal: capacidade para responder por suas ações. E a reprovabilidade pessoal de seu ato, em face das circunstâncias concretas que cercam o evento danoso. O Direito Penal está interligado a todos os ramos do Direito, especialmente Direito Constitucional, que se tra- duz no estatuto máximo de uma sociedade politicamen- te organizada. Todos os ramos do direito positivo só adquiri a plena eficácia quando compatível com os Princípios e Normas descritos na Constituição Federal abstraindo-a como um todo. O estudo da aplicação da lei penal tem, quase que obrigatoriamente, passar pelos princípios constitucionais e assim avançar nesta ramos do direito. Tenha a ideia de que os princípios são o alicerce de todo sistema norma- tivo, fundamentam todo o sistema de direito e estabele- cem os direitos fundamentais do homem. O Direito Penal moderno se assenta em determinados princípios fundamentais, próprios do Estado de Direito democrático, entre os quais sobreleva o da legalidade dos delitos e das penas, da reserva legal ou da interven- ção legalizada, que tem base constitucional expressa. A sua dicção legal tem sentido amplo: não há cri- me (infração penal), nem pena ou medida de segurança (sanção penal) sem prévia lei (stricto sensu). O direito penal possui conceito de aspecto formal e de aspecto sociológico: Aspecto formal Direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos huma- nos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções a serem aplicadas. Aspecto sociológico O direito penal é mais um instrumento do controle social de comportamentos desvia- dos, visando assegurar a necessária disci- plina social, bem como a convivência har- mônica dos membros do grupo. #FicaDica Sobre a função (funcionalismo) do direito penal, a doutrinária divide em funcionalismo teleológico e fun- cionalismo sistêmico. Funcionalismo teleológico: o fim do Direito Penal é assegurar bens jurídicos indispensáveis à convivência dos homens valendo-se das medidas de políticas crimi- nais. Admite o princípio da insignificância. Funcionalismo sistêmico: a função do Direito Penal é resguardar o sistema, o império da norma, o direito pos- to, atrelado aos fins da pena. Não admite princípio da insignificância. PRINCÍPIOS BÁSICOS POR QUE DIREITO PENAL? Vamos retornar no tempo. Durante o período monár- quico, no Brasil havia o Código Criminal, pois naquela época o objetivo do estudo era o crime. Logo no início do período republicano, tivemos nosso primeiro Código Penal, pois os olhos passaram a observar o resultado, a pena. E isso vem até o presente. Há diferença entre Direito Penal e Direito Criminal? Direito Penal e Direito Criminal podem ser sinônimos, sem problemas. Mas, temos que saber que se o objetivo é a resultado: Direito Penal. Se o objetivo é a causa: Di- reito Criminal. Não vamos estudar história do direito. Basearemos o direito penal a partir da Constituição Federal de 1988. O Direito Constitucional define a estrutura do Estado e a posição dos direitos e garantias individuais no mode- lo político escolhido. O direito penal não vive sozinho, mas se comunica com a filosofia, sociologia, criminologia etc. A criminologia levanta as questões atinentes à legiti- midade do sistema penal e sobre as práticas das instân- cias oficiais que operam neste contexto: Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia etc. Embora de grande impor- tância, tem a função de servir de suporte argumentativo para a interpretação das leis penais. O processo penal, por sua vez, viabiliza a aplicação da lei penal. É também o instrumento que recebe da Consti- tuição Federal amplo repertório de garantias individuais. Um exemplo: No Código Penal (art. 100 a 106) temos a AÇÃO PENAL. Na Criminologia temos o suporte argumentativo. No Processo Penal temos a viabilização da lei penal. Imagine: “A” foi encontrado morto em um determi- nado local. Homicídio é crime (art. 121, do CP). Sem o Processo Penal, aquele corpo de “A” ficará ali, naquele local. Não teremos condições de interpretar a cena do crime. Viabiliza-se os procedimentos de preservar o lo- cal, instaurar a investigação, colher provas, fazer perícias, indiciar o autor, denunciar, praticar os atos processuais, aplicar a pena etc. Isso mostra que o direito penal não está sozinho. Além disso, o direito penal possui inúmeros princípios que estão presentes ao logo de toda a sua aplicação. Tipicidade, Ilicitude, Culpabilidade, que significa isso? Na TIPICIDADE se estuda o conceito da ação ou omis- são do comportamento humano: dolo, culpa, resultado, nexo causal e imputação objetiva do resultado, bem jurí- dico objeto da proteção penal. Na ILICITUDE se definem as valorizações sociais acer- ca da matéria proibida, com maior ênfase nas causas de justificação: estado de necessidade, legítima defesa, 2 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Exclui a imputação subjetiva, desde que, na concor- rência de ações, o agente que o invoca tenha agido com o dever de cautela exigível para o caso concreto, em con- sonância com as regras de experiência comum. É utilizado em atividades compartilhadas,como é o caso das relações no trânsito, em que há a participação dos pedestres de dos demais condutores, e nos trabalhos em equipe, como ocorre, por exemplo, nas intervenções cirúrgicas. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO PENAL O Direito Penal está interligado a todos os ramos do Direito, especialmente Direito Constitucional, que se tra- duz no estatuto máximo de uma sociedade politicamen- te organizada. Todos os ramos do direito positivo só adquiri a plena eficácia quando compatível com os Princípios e Normas descritos na Constituição Federal abstraindo-a como um todo. As disposições constitucionais aplicáveis ao Direito Penal também são chamadas de princípios constitucio- nais do Direito Penal. Enfim, esse estudo tem de passar pelos princípios constitucionais e assim avançar neste ramo do direito. Tenha a ideia de que os princípios são o alicerce de todo sistema normativo, fundamentam todo o sistema de direito e estabelecem os direitos fundamentais do homem. O Direito Penal moderno se assenta em determinados princípios fundamentais, próprios do Estado de Direito democrático, entre os quais sobreleva o da legalidade dos delitos e das penas, da reserva legal ou da interven- ção legalizada, que tem base constitucional expressa. Nasce, então, os princípios do Direito Penal. Princípio da Legalidade A sua dicção legal tem sentido amplo: não há cri- me (infração penal), nem pena ou medida de segurança (sanção penal) sem prévia lei (stricto sensu). Assim, o princípio da legalidade tem quatro funções fundamentais: A missão do direito penal está relacionada a alguns princípios, vejamos: • Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos; • Princípio da intervenção mínima (subsidiariedade e fragmentariedade); • Princípio da proibição de proteção deficiente; • Princípio da vedação à conta corrente – “carta de crédito carcerário”; • Princípio da confiança. Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos Impede que o estado venha a utilizar o direito penal para proteção de bens ilegítimos. Limitando sua missão no sentido de proteger os bens jurídicos mais relevantes do homem. Exemplo: não pode definir como crime ou- tros credos, budismo, ou até o ateísmo. Não é possível defender uma religião discriminando outras. Princípio da intervenção mínima O direito penal deve ser aplicado quando estritamen- te necessário mantendo-se SUBSIDIÁRIO e FRAGMENTÁ- RIO (características). Princípio da proibição de proteção deficiente Também denominado de princípio da insuficiência ou de proibição de omissão, o princípio da proibição de proteção deficiente consiste em uma verdadeira cláusula mandamental dirigida ao Estado, determinando a ado- ção das medidas suficientes e necessárias à proteção dos direitos fundamentais. O princípio da insuficiência não se dirige apenas ao legislador, impondo-lhe proibição de omissão, mas, tam- bém, ao Poder Judiciário. No plano legislativo, o aludido princípio se assemelha ao mandado de criminalização (ou penalização), no sen- tido da proibição do Poder Legislativo se omitir diante dos mecanismos de proteção dos direitos fundamentais. Princípio da vedação à conta corrente Significa que, mesmo que condenado erroneamente ou permanecer preso por tempo superior ao determina- do na sentença, o agente não terá direito a um crédito carcerário a seu favor, devendo a situação ser resolvida no âmbito da responsabilidade civil do Estado. Princípio da confiança Embora tratado por parte da doutrina como um prin- cípio trata-se, em verdade, de um critério de avaliação do comportamento, do dever de cuidado, segundo o qual se proíbe a exigência de que o indivíduo tenha previsão perante ações descuidadas de terceiros. Ao contrário, aquele que age dentro da normalidade das relações sociais, diga-se, dentro dos limites do risco permitido, tem o direito de esperar que os demais assim atuem (confiança permitida), impossibilitando que seja a ele imputada a previsibilidade de um comportamento imprudente, contrário ao dever de cautela praticado por outrem. 3 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Princípio da aplicação da lei mais favorável A regra do direito penal é a irretroatividade da lei penal, ressalvada a retroatividade favorável ao acusado, funda- mentam-se a regra geral nos princípios da reserva legal, da taxatividade e da segurança jurídica (princípio do favor libertatis), e a hipótese excepcional em razões de política criminal (justiça). Trata-se de restringir o arbítrio legislativo e judicial na elaboração e aplicação de lei retroativa prejudicial. A regra constitucional (art. 5°, XL, da CF) é no sentido da irretroatividade da lei penal; a exceção é a retroatividade, desde que seja para beneficiar o réu. Com essa vertente do princípio da legalidade tem-se a certeza de que ninguém será punido por um fato que, ao tempo da ação ou omissão, era tido como um indiferente penal, haja vista a inexistência de qualquer lei penal incriminando-o. Taxatividade ou da determinação Diz respeito à técnica de elaboração da lei penal, que deve ser suficientemente clara e precisa na formulação do conteúdo do tipo legal e no estabelecimento da sanção para que exista real segurança jurídica. Tal assertiva constitui postulado indeclinável do Estado de direito material - democrático e social. O princípio da reserva legal implica a máxima determinação e taxatividade dos tipos penais, impondo-se ao Poder Legislativo, na elaboração das leis, que redija tipos penais com a máxima precisão de seus elementos, bem como ao Judiciário que as interprete restritivamente, de modo a preservar a efetividade do princípio. Princípio da exclusiva proteção dos bens jurídicos O pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito Penal reside na proteção de bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade, dentro do quadro axiológico constitucional ou decorrente da concepção de Estado de Direito democrático (teoria constitucional eclética). Princípio da intervenção mínima ou da subsidiariedade ou do Direito Penal Mínimo Estabelece que o Direito Penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica das pessoas e que não podem ser eficazmente protegidos de forma menos gravosa. Desse modo, a lei penal só deverá intervir quando for absolutamente necessário para a sobrevivência da comunidade, como ultima ratio. O princípio da intervenção mínima é o responsável não só pelos bens de maior relevo que merecem a especial pro- teção do Direito Penal, mas se presta, também, a fazer com que ocorra a chamada descriminalização. Se é com base neste princípio que os bens são selecionados para permanecer sob a tutela do Direito Penal, porque considerados como de maior importância, também será com fundamento nele que o legislador, atento às mutações da sociedade, que com sua evolução deixa de dar importância a bens que, no passado, eram da maior relevância, fará retirar do ordenamento jurídico-penal certos tipos incriminadores. 4 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Princípio da pessoalidade da pena ou da responsabilidade pessoal ou da intrancendência da pena Impede-se a punição por fato alheio, vale dizer, só o autor da infração penal pode ser apenado (CF, art. 5°, XLV). Havendo falecimento do condenado, a pena que lhe fora infligida, mesmo que seja de natureza pecuniária, não poderá ser estendida a ninguém, tendo em vista seu caráter personalíssimo, quer dizer, somente o autor do delito é que pode submeter-se às sanções penais a ele aplicadas. Todavia, se estivermos diante de uma responsabilidade não penal, como a obrigação de reparar o dano, nada im- pede que, no caso de morte do condenado e tendo havido bens para transmitir aos seus sucessores, estes respondem até as forças da herança. A pena de multa, apesar de ser consideradaagora dívida de valor, não deixou de ter caráter penal e, por isso, con- tinua obedecendo a este princípio. • Com o falecimento do condenado, a pena que lhe fora infligida, mesmo que seja de natureza pecuni- ária, não poderá ser estendida a ninguém. Pena de multa tem natureza penal, não pode ser transferida. • A responsabilidade não penal, como a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte do condenado e tendo havido bens para transmitir aos seus sucessores, estes respondem até as forças da herança. #FicaDica Individualização da pena A individualização da pena ocorre em três momentos: Proporcionalidade da pena Deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio entre a gravidade do fato praticado e a sanção imposta. A pena deve ser proporcionada ou adequada à magnitude da lesão ao bem jurídico representada pelo delito e a medida de segurança à periculosidade criminal do agente. O princípio da proporcionalidade rechaça, portanto, o estabelecimento de cominações legais (proporcionalidade em abstrato) e a imposição de penas (proporcionalidade em concreto) que careçam de relação valorativa com o fato cometido considerado em seu significado global. 5 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL #FicaDica Princípio da humanidade ou da limitação das penas Em um Estado de Direito democrático veda-se a criação, a aplicação ou a execução de pena, bem como de qualquer outra medida que atentar contra a dignidade humana. Apresenta-se como uma diretriz garantidora de ordem material e restritiva da lei penal, verdadeira salvaguarda da dignidade pessoal, relaciona-se de forma estreita com os princípios da culpabilidade e da igualdade. Está previsto no art. 5°, XLVII, CF, que proíbe as seguintes penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis. Um Estado que mata, que tortura, que humilha o cidadão não só perde qualquer legitimidade, senão que contradiz sua razão de ser, colocando-se ao nível dos mesmos delinquentes (FERRAJOLI, 2014). Princípio da adequação social Apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal não será tida como típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo da ordem social da vida historicamente condicionada. Outro aspecto é o de conformidade ao Direito, que prevê uma concordância com determinações jurídicas de com- portamentos já estabelecidos. O princípio da adequação social possui dupla função, acompanhe: Uma delas é a de restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. A segunda função é dirigida ao legislador em duas vertentes. A primeira delas o orienta quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com a finalidade de pro- teger os bens considerados mais importantes. Se a conduta que está na mira do legislador for considerada socialmente adequada, não poderá ele reprimi-la va- lendo-se do Direito Penal. A segunda vertente destina-se a fazer com que o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade. Princípio da insignificância ou da bagatela Este princípio, enquanto manifestação contrária ao uso excessivo da sanção penal, postula que devem ser tidas como atípicas as ações ou omissões que afetam muito infimamente a um bem jurídico-penal. A irrelevante lesão do bem jurídico protegido não justifica a imposição de uma pena, devendo-se excluir a tipicida- de em caso de danos de pouca importância. A insignificância da afetação [do bem jurídico] exclui a tipicidade, mas só pode ser estabelecida através da considera- ção conglobada da norma: toda ordem normativa persegue uma finalidade, tem um sentido, que é a garantia jurídica para possibilitar uma coexistência que evite a guerra civil (a guerra de todos contra todos). A insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à ordem normativa, e, portanto, à norma em particular, e que nos indica que essas hipóteses estão excluídas de seu âmbito de proibição, o que não pode ser estabelecido à luz de sua consideração isolada. (ZAFFARONI e PIERANGELI - 2015) 6 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL 7 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Princípio da lesividade ou da ofensividade do evento A lei penal tem o dever de prevenir os mais altos custos individuais representados pelos efeitos lesivos das ações reprováveis e somente eles podem justificar o custo das penas e das proibições. O princípio axiológico da separação entre direito e moral veta, por sua vez, a proibição de condutas meramente imorais ou de estados de ânimo pervertidos, hostis, ou, inclusive, perigosos. Princípio da razoabilidade De todos os princípios estudados, este é o único que não é constitucional. Mas, não podemos deixar de estudá-lo neste momento. Segunda a doutrina, o razoável sobrepõe o que é legal. Faz com que a lei seja interpretada e aplicada em harmonia com a realidade, de modo social e juridicamente razoável., buscando aquilo que é justo. EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (PC-MA – INVESTIGADOR DE POLÍCIA – CESPE – 2018) O princípio da legalidade compreende a) A capacidade mental de entendimento do caráter ilícito do fato no momento da ação ou da omissão, bem como da ciência desse entendimento. b) O juízo de censura que incide sobre a formação e a exteriorização da vontade do responsável por um fato típico e ilícito, com o propósito de aferir a necessidade de imposição de pena. c) A oposição entre o ordenamento jurídico vigente e um fato típico praticado por alguém capaz de lesionar ou expor a perigo de lesão bens jurídicos penalmente protegidos. d) A obediência às formas e aos procedimentos exigidos na criação da lei penal e, principalmente, na elaboração de seu conteúdo normativo. e) A conformidade da conduta reprovável do agente ao modelo descrito na lei penal vigente no momento da ação ou da omissão. 8 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Resposta: Certo. Segundo posicionamento doutri- nário, o princípio da legalidade é desdobrado nas se- guintes vertentes. O princípio da taxatividade proíbe a criação de tipos penais que contenham condutas in- determinadas, imprecisas. O seguinte tipo penal seria vedado em nosso ordenamento jurídico: Violar a mo- ralidade pública. Reclusão, de 5 a 8 anos. O que vem a ser moralidade administrativa é um conceito vago, in- determinado, que pode ser interpretado de inúmeras maneiras conforme a análise de cada indivíduo. 5. (DETRAN-DF – Analista de Trânsito – CESPE – 2009) Acerca do direito penal, julgue os itens que se seguem. O princípio da legalidade veda o uso de analogia in malam partem e a criação de crimes e penas pelos costumes. ( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Certo. Dentre as características do prin- cípio da legalidade, a alternativa apresenta duas de- las: Vedação de se utilizar analogia para prejudicar o agente (in malam partem); Vedação de se criar crimes e penas pelos costumes. É importante mencionar que a analogia não é amplamente proibida no Direito Pe- nal Brasileiro, já que, se for para beneficiar (in bonam partem) o agente, ela será admitida. APLICAÇÃO DA LEI PENAL. A LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO. TEMPO E LUGAR DO CRIME. TERRITORIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL O Direito Penal está interligado a todos os ramos do Direito, especialmente Direito Constitucional, que se tra- duz no estatuto máximo de uma sociedade politicamen- te organizada. Todos os ramos do direito positivo só adquiri a plena eficácia quando compatível com os Princípios e Normas descritos na Constituição Federal abstraindo-acomo um todo. O estudo da aplicação da lei penal tem, quase que obrigatoriamente, passar pelos princípios constitucionais e assim avançar na nesta disciplina. Tenha a ideia de que os princípios são o alicerce de todo sistema normativo, fundamentam todo o sistema de direito e estabelecem os direitos fundamentais do homem. O Direito Penal moderno se assenta em determinados princípios fundamentais, próprios do Estado de Direito democrático, entre os quais destaca-se o da legalidade dos delitos e das penas, da reserva legal ou da interven- ção legalizada, tudo com base constitucional expressa. Sobre a aplicação da lei da lei penal é necessário compreender as fontes do direito penal: Resposta: Letra D. O princípio da legalidade penal também está relacionado ao devido respeito às nor- mas e procedimentos que devem ser respeitados para a produção das normas penais, assim como, também, com o conteúdo normativo das disposições sobre Di- reito Penal. 2. (DPRF – Policial Rodoviário Federal – CESPE – 2013) O princípio da legalidade é parâmetro fixador do con- teúdo das normas penais incriminadoras, ou seja, os ti- pos penais de tal natureza somente pode ser criados por meio de lei em sentido estrito. ( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Certo. O princípio da legalidade serve de parâmetro para fixação das normas penais incrimi- nadoras (aquelas que criam crimes e suas respectivas penas). Não é possível a criação de tipos penais in- criminadoras de nenhuma outra forma que não seja por meio de lei em sentido estrito (Lei Ordinária e Lei Complementar). Nenhum outro diploma normativo poderá criar crime e cominar penas. Previsão Legal: Artigo 1º do Código Penal e Artigo 5º, XXXIX, da Cons- tituição Federal. 3. (TJ-PB – Juiz Leigo-ADAPTADA – CESPE – 2013) É permitida a criação de tipos penais por meio de medida provisória. ( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Errado. Vigora no nosso ordenamento ju- rídico o princípio da reserva legal, desdobramento do princípio da legalidade, juntamente com o princípio da anterioridade. O princípio da reserva legal estabe- lece que somente lei em sentido estrito pode criar cri- mes e cominar penas. Segundo a Constituição Federal, em seu Artigo 62, § 1º, I, b, é vedado a edição de Me- dida Provisória sobre Direito Penal. Parte da doutrina e também a jurisprudência do STF, admitem a possibi- lidade de Medida Provisória em matéria penal, desde que seja para beneficiar o agente, mas eles também entender não poder a Medida Provisória criar crimes ou penas. 4. (TJ-ES – Comissário da Infância e da Juventude – CESPE – 2011) Com relação aos princípios de direito pe- nal, à aplicação da lei penal e ao crime, julgue os itens subsecutivos. Uma das funções do princípio da legalidade refere-se à proibição de se realizar incriminações vagas e indeter- minadas, visto que, no preceito primário do tipo penal incriminador, é obrigatória a existência de definição pre- cisa da conduta proibida ou imposta, sendo vedada, com base em tal princípio, a criação de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos. ( ) CERTO ( ) ERRADO 9 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL FONTES FORMAIS Mediatas a) Costume é a reiteração de uma conduta, de modo constante e uniforme, por força da convicção de sua obrigatoriedade. Possui um elemento objetivo, relativo ao fato (reiteração da conduta) e outro subjetivo, inerente ao agente (convic- ção da obrigatoriedade). Ambos devem estar presentes cumulativamente. No Direito Penal, o costume nunca pode ser empregado para criar delitos ou aumentar penas. Os costumes se dividem: 1) secundum legem ou interpretativo: auxilia o intérprete a esclarecer o conteúdo de elementos ou circunstâncias do tipo penal. No passado, pode ser lembrada a expressão “mulher honesta”, a qual era compreendida de diversas formas ao longo do território nacional. 2) contra legem ou negativo: também conhecido como desuetudo, é aquele que contraria a lei, mas não tem o condão de revogá-la. 3) praeter legem ou integrativo: supre a lacuna da lei e somente pode ser utilizado na seara das normas penais não incriminadoras, notadamente para possibilitar o surgimento de causas supralegais de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade. b) Princípios gerais do Direito são os valores fundamentais que inspiram a elaboração e a preservação do ordenamen- to jurídico. Não podem ser utilizados para tipificação de condutas ou cominação de penas. Sua atuação se reserva ao âmbito das normas penais não incriminadoras. c) Atos da Administração Pública: no Direito Penal, funcionam como complemento de algumas leis penais em branco. FONTE FORMAL Imediata É a lei penal, uma vez que, por expressa determinação constitucional, tem a si reservado, exclusivamente, o papel de criar infrações penais e cominar as respectivas penas respectivas. A estrutura da lei penal apresenta um preceito primário (conduta) e um preceito secundário (pena). #FicaDica As leis penais podem ser incriminadoras; não incriminadoras (permissivas, exculpantes; interpretativas; de aplicação, finais ou complementares; diretivas; integrativas ou de extensão); completas ou perfeitas; e incompletas ou imperfeitas. A lei penal não é proibitiva, mas descritiva. Incriminadoras quando descrevem crimes e cominam penas. As não incriminadoras podem ser permissivas ou explicativas, também chamadas complementares ou finais. As permissivas podem ser justificantes, quando excluem a antijuridicidade, e exculpantes, quando excluem a culpabilidade. As explicativas (complementares ou finais) esclarecem o conteúdo de outra norma, como no caso do conceito de funcionário público, ou tratam de regras gerais para aplicação das demais normas, como as que disciplinam a tentativa e o nexo de causalidade. 10 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Normas penais incriminadoras É fácil. São aquelas que definem as infrações penais e fixam as respectivas penas. São também chamadas de tipos penais. As normas incriminadoras possuem, necessariamente, duas partes. A primeira descreve a conduta típica e os demais elementos necessários para que o fato seja considerado criminoso. Também chamado de preceito primário da norma incriminadora. Crime de furto - art. 155, caput, CP: “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Os diversos requisitos que compõem o tipo penal são denominados elementos ou elementares e se subdividem em três espécies: elementos objetivos, subjetivos e normativos. Os elementos objetivos são os verbos constantes dos tipos penais (núcleos do tipo) e os demais requisitos, cujos significados não demandam qualquer juízo de valor, como a expressão “coisa móvel” no crime de furto. Todos os tipos penais possuem elementos objetivos. Os elementos subjetivos dizem respeito à especial finalidade do agente ao realizar a ação ou omissão delituosa. Não são todos os tipos penais que contêm elementos subjetivos. O crime de extorsão mediante sequestro, por exemplo, consiste em “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate” (art. 159 do CP). O elemento subjetivo do tipo é a intenção do agente de obter vantagem como decorrência do sequestro. Os elementos normativos, por sua vez, são aqueles cujo significado não se extrai da mera observação, dependendo de uma interpretação, ou seja, de um juízo de valor. No crime de furto, a expressão “coisa alheia” é considerada elemento normativo, pois só se sabe se um bem é alheio quando se está diante de um caso concreto e se faz uma análise envolvendo o bem e a pessoa acusada de tê-lo subtraído. São poucos os crimes que possuem elemento normativo. Os tipos penais compostos somente por elementos objetivos são chamados de normais, e aqueles que também contêm elementos subjetivos ou normativos são classificados de anormais (por serem exceção). Na segunda parte danorma incriminadora, a lei prevê a pena a ser aplicada a quem realizar a conduta típica ilícita. No caso do furto, a pena estabelecida é de “reclusão, de um a quatro anos, e multa”. Esse é o chamado preceito secundário da norma. Além da definição legal e da respectiva pena, as normas incriminadoras podem ser complementadas na Parte Espe- cial por circunstâncias que tornam a pena mais grave ou mais branda. Causas de aumento de pena As causas de aumento são índices de soma ou multiplicação a serem aplicados sobre a pena estabelecida na fase anterior. Continuando no exemplo do crime de furto: Art. 155, § 1º, do CP, “a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) se o crime é praticado durante o repouso noturno”. Qualificadoras As qualificadoras alteram a pena em abstrato (preceito secundário) como um todo, descrevendo novas penas má- xima e mínima. 11 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Quando a lei regula situações passadas, fatos anterio- res a sua vigência, ocorre a denominada retroatividade. Já, se sua aplicação se der para fatos após a cessação de sua vigência, será chamada ultratividade. Em se tratando de extratividade da lei penal, observa- -se a ocorrência das seguintes situações: a) “Abolitio criminis” – trata-se da supressão da fi- gura criminosa; b) “Novatio legis in melius” ou “lex mitior” – é a lei penal mais benigna; Tanto a abolitio criminis como a novatio legis in me- lius, aplica-se o princípio da retroatividade da Lei penal mais benéfica. A Lei nº 11.106 de 28 de março de 2006 descrimina- lizou os artigos 217 e 240, do Código Penal, respectiva- mente, os crimes de “sedução” e “adultério”, de modo que o sujeito que praticou uma destas condutas em fe- vereiro de 2006, por exemplo, não será responsabilizado na esfera penal. Segundo a maior parte da doutrina, a Lei nº 11.106 de 28 de março de 2006, não descriminalizou o crime de rapto, previsto anteriormente no artigo 219 e seguintes do Código Penal, mas somente deslocou sua tipicida- de para o artigo 148 e seguintes (“sequestro” e “cárce- re privado”), houve, assim, uma continuidade normativa atípica. A “abolitio criminis” faz cessar a execução da pena e todos os efeitos penais da sentença. A Lei nº 9.099/1999 trouxe novas formas de substitui- ção de penas e, por consequência, considerando que se trata de novatio legis in melius ocorreu retroatividade de sua vigência a fatos anteriores a sua publicação. c) Novatio legis in pejus – é a lei posterior que agra- va a situação; d) Novatio legis incriminadora – é a lei posterior que cria um tipo incriminador, tornando típica a conduta antes considerada irrelevante pela lei penal. A lei posterior não retroage para atingir os fatos pra- ticados na vigência da lei mais benéfica (Irretroatividade da lei penal). Contudo, haverá extratividade da lei mais benéfica, pois será válida mesmo após a cessação da vi- gência (Ultratividade da Lei Penal). Ressalta-se, por fim, que aos crimes permanentes e continuados, aplica-se a lei nova ainda que mais grave, nos termos da Súmula 711 do STF. Ainda no art. 1º, do CP, há o princípio da legalidade, em que a maioria dos nossos autores considera o princí- pio da legalidade sinônimo de reserva legal. A doutrina, orienta-se maciçamente no sentido de não haver diferença conceitual entre legalidade e reserva legal. Dissentindo desse entendimento o professor Fer- nando Capez diz que o princípio da legalidade é gênero que compreende duas espécies: reserva legal e anterio- ridade da lei penal. Com efeito, o princípio da legalida- de corresponde aos enunciados dos arts. 5º, XXXIX, da Constituição Federal e 1º do Código Penal (“não há crime No crime de furto, por exemplo, além do tipo básico já mencionado e descrito no caput do art. 155, do CP, existem as qualificadoras (rompimento de obstáculo, emprego de chave falsa, escalada, concurso de agentes etc.). Art. 155. (...) § 4º. A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido: I – com destruição ou rompimento de obstáculos à subtração da coisa; II – com abuso de confiança, ou mediante fraude, es- calda ou destreza; III – com emprego de chave falsa; IV – mediante concurso de duas ou mais pessoas. Abrandamento da pena Há hipóteses de abrandamento da pena, por exem- plo, o furto privilegiado. Art. 155, § 2º, do CP, “se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1 (um) a 2/3 (dois terços), ou aplicar somente a pena de multa”. Normas penais permissivas São as que preveem a licitude ou a impunidade de determinados comportamentos, apesar de se enquadra- rem na descrição típica. São normas permissivas, por exemplo, aquelas que excluem a ilicitude do aborto provocado por médico quando não há outro meio para salvar a vida da ges- tante, ou quando a gravidez resulta de estupro e há consentimento da gestante (art. 128, do CP), ou, ainda, as hipóteses de isenção de pena existentes nos crimes contra o patrimônio praticados contra cônjuge ou contra ascendente sem emprego de violência ou grave ameaça (art. 181, do CP). A legislação penal brasileira optou pela proibição in- direta, descrevendo o fato como pressuposto da sanção – técnica legislativa desenvolvida por Karl Binding e cha- mada de teoria das normas, segundo a qual é necessária a distinção entre norma e lei penal. A LEI PENAL NO TEMPO O Código Penal, logo no art. 1º dispõe que não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. A lei penal não pode retroagir, o que é denominado como irretroatividade da lei penal. Contudo, exceção à norma, a Lei poderá retroagir quando trouxer benefício ao réu. Em regra, aplica-se a lei penal a fatos ocorridos du- rante sua vigência, porém, por vezes, verificamos a extra- tividade da lei penal. A extratividade da lei penal se manifesta de duas ma- neiras, ou pela ultratividade da lei ou retroatividade da lei. Assim, considerando que a extra atividade da lei penal é o seu poder de regular situações fora de seu período de vigência, podendo ocorrer seja em relação a situações passadas, seja em relação a situações futuras. 12 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”) e contém, nele embutidos, dois princípios dife- rentes: o da reserva legal, reservando para o estrito campo da lei a existência do crime e sua correspondente pena (não há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia cominação legal), e o da anterioridade, exigindo que a lei esteja em vigor no momento da prática da infração penal (lei anterior e prévia cominação). Assim, a regra do art. 1º, denominada princípio da legalidade, compreende os princípios da reserva legal e da anterioridade. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA Vamos ver o que dispõe o Código Penal: Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Lei excepcional é aquela feita para vigorar em épocas especiais, como guerra, calamidade etc. É aprovada para vi- gorar enquanto perdurar o período excepcional. Lei temporária é aquela feita para vigorar por determinado tempo, estabelecido previamente na própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de cessação de sua vigência. Nessas hipóteses, determina o art. 3º do Código Penal que, embora cessadas as circunstâncias que a determinaram (lei excepcional) ou decorrido o período de sua duração (lei temporária), aplicam-se elas aos fatos praticados duran- te sua vigência. São, portanto, leis ultra ativas, pois regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo após sua revogação. TEMPO DO CRIME O Código Penal dispõe que: Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda queoutro seja o momento do resultado. A respeito do tempo do crime, existem três teorias: a) Teoria da Atividade – O tempo do crime consiste no momento em que ocorre a conduta criminosa; b) Teoria do Resultado – O tempo do crime consiste no momento do resultado advindo da conduta criminosa; c) Teoria da Ubiquidade ou Mista – O tempo do crime consiste no momento tanto da conduta como do resultado que adveio da conduta criminosa. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado (tempus regit actum). Assim, aplica-se a teoria da atividade, nos termos do sistema jurídico instituído pelo Código Penal. O Código Penal vigente seguiu os moldes do Código Penal português em que também é adotada a Teoria da Ativi- dade para o tempo do crime. Em decorrência disso, aquele que praticou o crime no momento da vigência da lei anterior terá direito a aplicação da lei mais benéfica. O menor de 18 anos, por exemplo, não será considerado imputável mesmo que a consumação ocorrer quando tiver completado idade equivalente a maioridade penal. E, também, o deficiente mental será imputável, se na época da ação era consciente, tendo sofrido moléstia mental tão somente na época do resultado. Novamente, observa-se a respeito dos crimes permanentes, tal como o sequestro, nos quais a ação se prolonga no tempo, de modo que em se tratando de “novatio legis in pejus”, nos termos da Súmula 711 do STF, a lei mais grave será aplicada. 13 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar terri- torial do Brasil” (§ 2º). Extraterritorialidade Observe o texto do Código Penal: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora come- tidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, au- tarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou do- miciliado no Brasil; II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei- ras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasilei- ra depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, se- gundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime co- metido por estrangeiro contra brasileiro fora do Bra- sil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. É a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos no exterior. Princípios norteadores: a) Princípio da nacionalidade ativa. Aplica-se a lei na- cional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local da infração. b) Princípio da nacionalidade passiva. A lei nacional do autor do crime aplica-se quando este for prati- cado contra bem jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de sua nacionalidade. A LEI PENAL NO ESPAÇO Territorialidade De acordo com o Código Penal: Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de con- venções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como ex- tensão do território nacional as embarcações e aero- naves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mer- cantes ou de propriedade privada, que se achem, res- pectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações es- trangeiras de propriedade privada, achando-se aque- las em pouso no território nacional ou em voo no es- paço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Há várias teorias para fixar o âmbito de aplicação da norma penal a fatos cometidos no Brasil: a) Princípio da territorialidade. A lei penal só tem apli- cação no território do Estado que a editou, pouco importando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo. b) Princípio da territorialidade absoluta. Só a lei nacio- nal é aplicável a fatos cometidos em seu território. c) Princípio da territorialidade temperada. A lei nacio- nal se aplica aos fatos praticados em seu território, mas, excepcionalmente, permite-se a aplicação da lei estrangeira, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção internacional. Foi este o princípio adotado pelo art. 5º do Código Penal: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de conven- ções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. O Território nacional abrange todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania: o solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12 milhas) e espaço aéreo. Os § 1º e 2º do art. 5ºdo Código Penal esclarecem ainda que: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do gover- no brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectiva- mente, no espaço aéreo correspondente ou em alto- -mar” (§ 1º). “É também aplicável a lei brasileira aos crimes prati- cados a bordo de aeronaves ou embarcações estran- geiras de propriedade privada, achando-se aquelas 14 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL c) Princípio da defesa real. Prevalece a lei referente à nacionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido o local da infração ou a nacionalidade do autor do delito. É também chamado de princípio da proteção. d) Princípio da justiça universal. Todo Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que o agente esteja dentro de seu território (que tenha voltado a seu país, p. ex.). e) Princípio da representação. A lei nacional é aplicável aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e em- barcações privadas, desde que não julgados no local do crime. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: • obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; • sujeitá-lo a medida de segurança. A homologação depende: • para os efeitos de obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis, de pedido da parte interessada; • para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro daJustiça. Contagem de prazo O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. Legislação especial As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 15 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Interpretação conforme a Constituição A Constituição Federal informa e conforma as normas hierarquicamente inferiores. Esta é uma importante for- ma de interpretação no Estado Democrático de Direito. Distinção entre interpretação extensiva e interpre- tação analógica Enquanto a interpretação extensiva amplia o alcance das palavras, a analógica fornece exemplos encerrados de forma genérica, permitindo ao juiz encontrar outras hipóteses, funcionando como uma analogia in malan partem admitida pela lei. Rogério Greco fala em interpretação extensiva em sentido amplo, a qual abrange a interpretação extensiva em sentido estrito e interpretação analógica. ANALOGIA Analogia não é forma de interpretação, mas de in- tegração de lacuna, ou seja, sendo omissa a lei acerca do tema, ou ainda em caso de a Lei não tratar do tema em específico o magistrado irá recorrer ao instituto. São pressupostos da analogia: certeza de que sua aplicação será favorável ao réu; existência de uma efetiva lacuna a ser preenchida (omissão involuntária do legislador). Dita o Código Penal em seu artigo 2º, afirma que nin- guém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. O parágrafo único deste artigo trata da exceção a re- gra da irretroatividade da Lei, ou seja, nos casos de bene- fício ao réu, ainda que os fatos já tenham sidos decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Outrossim, o Código dispõe que a Lei Penal só retroa- girá em benefício do réu. Frise-se, todavia que tal regra se restringe somente às normas penais. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍCIA – CESPE – 2018) Depois de adquirir um revólver calibre 38, que sabia ser produto de crime, José passou a portá-lo muni- ciado, sem autorização e em desacordo com determina- ção legal. O comportamento suspeito de José levou-o a ser abordado em operação policial de rotina. Sem a au- torização de porte de arma de fogo, José foi conduzido à delegacia, onde foi instaurado inquérito policial. Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item seguinte. Se, durante o processo judicial a que José for submetido, for editada nova lei que diminua a pena para o crime de receptação, ele não poderá se beneficiar desse fato, pois o direito penal brasileiro norteia-se pelo princípio de aplicação da lei vigente à época do fato. ( ) CERTO ( ) ERRADO INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL A interpretação é medida necessária para que com- preendamos o verdadeiro sentido da norma e seu alcance. Na interpretação, há lei para regular o caso em con- creto, assim, apenas deverá ser extraído do conteúdo normativo sua vontade e seu alcance para que possa re- gular o fato jurídico. Interpretação quanto ao sujeito Autêntica ou legislativa- aquela fornecida pela pró- pria lei (exemplo: o art. 327 do CP define quem pode ser considerado funcionário público para fins penais); Doutrinária ou científica- aquela aduzida pelo jurista por meio de sua doutrina; Jurisprudencial- é o significado da lei dado pelos Tri- bunais (exemplo: súmulas) Ressalte-se que a Exposição dos Motivos do Código Penal configura uma interpre- tação doutrinária, pois foi elaborada pelos doutos que criaram o Código, ao passo que a Exposição de Motivos do Código de Processo Penal é autêntica ou legislativa, pois foi criada por lei.2. Interpretação quanto ao modo • gramatical, filológica ou literal- considera o senti- do literal das palavras; • teleológica- se refere à intenção objetivada pela lei (exemplo: proibir a entrada de acessórios de ce- lular, mesmo que a lei se refira apenas ao aparelho); • histórica- indaga a origem da lei; • sistemática- interpretação em conjunto com a le- gislação em vigor e com os princípios gerais do direito; • progressiva ou evolutiva- busca o significado le- gal de acordo com o progresso da ciência. Interpretação quanto ao resultado Declarativa ou declaratória- é aquela em que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que a ela quis di- zer, sem restringir ou estender seu sentido; Restritiva- a interpretação reduz o alcance das pala- vras da lei para corresponder à intenção do legislador; Extensiva- amplia o alcance das palavras da lei para corresponder à sua vontade. Interpretação sui generis A interpretação sui generis pode ser exofórica ou en- dofórica. Veja-se: Exofórica- o significado da norma interpretativa não está no ordenamento normativo (exemplo: erro de tipo); Endofórica- o texto normativo interpretado empresta o sentido de outros textos do próprio ordenamento jurí- dico (muito usada nas normas penais em branco). 16 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL 4. (EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – CESPE – 2018) A respeito da aplicação da lei penal, julgue o item a seguir. Situação hipotética: João cometeu crime permanente que teve início em fevereiro de 2011 e fim em dezembro desse mesmo ano. Em novembro de 2011, houve alte- ração legislativa que agravou a pena do crime por ele cometido. Assertiva: Nessa situação, deve ser aplicada a lei que prevê pena mais benéfica em atenção ao princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. ( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Errado. No caso de crimes permanentes ou de crimes continuados, aplicar-se a lei penal vigente ao tempo do término da permanência ou da conti- nuidade, ainda que seja muito mais gravosa ao agen- te. Por exemplo: Se antes de uma vítima de extorsão mediante sequestra ser colocada em liberdade pelos sequestradores entrar em vigor lei penal que prejudi- ca o agente, é ela que será aplicada ao caso, já que é anterior ao término da permanência do crime. É im- portante que você conheça a Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 5. (EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) Com refe- rência à lei penal no tempo, ao erro jurídico-penal, ao concurso de agentes e aos sujeitos da infração penal, jul- gue o item que se segue. Situação hipotética: Um crime foi praticado durante a vigência de lei que cominava pena de multa para essa conduta. Todavia, no decorrer do processo criminal, en- trou em vigor nova lei, que, revogando a anterior, passou a atribuir ao referido crime a pena privativa de liberdade. Assertiva: Nessa situação, dever-se-á aplicar a lei vigente ao tempo da prática do crime. ( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Certo. A regra no nosso ordenamento ju- rídico é o princípio do tempus regit actum. A lei penal irá produzir efeitos durante o seu período de vigência. Caso uma lei penal seja revogada por outra mais grave (substituiu a multa por pena privativa de liberdade), a lei revogada continuará a ser aplicada aos fatos pra- ticados durante a sua vigência, devido a capacidade que tem a lei benéfica de ser ultrativa. Previsão Legal: Artigo 2º, Parágrafo único. Do Código Penal. Resposta: Errado. Em regra, a lei penal se aplica aos fatos praticados durante o seu período de vigente. Excepcionalmente, a lei penal poderá se movimentar no tempo, seja para ser aplicada a fatos ocorridos no passado, quando retroagirá, seja para ser aplicada no futuro, mesmo estando revogada, quando irá ultra- gir. Nos dois casos, um requisito se faz indispensável: deve ser feito para beneficiar o agente. A lei posterior,que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Previsão Legal: Artigo 2º, Parágrafo único, do Código Penal. 2. (POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE POLÍCIA FEDE- RAL – CESPE – 2018) Em cada item a seguir, é apresen- tada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com base na legislação de regência e na juris- prudência dos tribunais superiores a respeito de execu- ção penal, lei penal no tempo, concurso de crimes, crime impossível e arrependimento posterior. Manoel praticou conduta tipificada como crime. Com a entrada em vigor de nova lei, esse tipo penal foi formal- mente revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida em outro tipo penal. Nessa situação, Manoel responderá pelo crime praticado, pois não ocorreu a abolitio criminis com a edição da nova lei. ( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Certo. Ocorreu ao fato narrado pela alter- nativa o que se chama de continuidade típico-norma- tiva, que se dá quando o tipo penal é revogado, mas sua conduta continua sendo crime, contudo, tipifica- da em outro tipo penal. Exemplo do fato aconteceu quando o tipo penal de atentado violento ao pudor, antigo artigo 214 do Código Penal, foi revogado, mas a conduta que o configurava passou a integrar o tipo penal do crime de estupro, artigo 213 do CPB. Nas hi- póteses de continuidade típico-normativa, não há que se falar em abolitio criminis. 3. (EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – CESPE – 2018) A respeito da aplicação da lei penal, julgue o item a seguir. No ordenamento jurídico brasileiro, é adotada a teoria da ubiquidade quando se fala do tempo do crime, ou seja, o crime é considerado praticado no momento da ação ou da omissão. ( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Errado. Em relação ao tempo do crime, o Código Penal adotou a teoria da atividade, conside- rando-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resul- tado. Previsão Legal: Artigo 4º do Código Penal. 17 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL O FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS. CRIME CONSUMADO E TENTADO. ILICITUDE E CAUSAS DE EXCLUSÃO. EXCESSO PUNÍVEL. CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO Para estudarmos os crimes consumados e os crimes tentados, é importante conhecermos a iter criminis. Segundo Cleber Masson, iter criminis é o caminho do crime, corresponde às etapas percorridas pelo agente para a prática de um fato previsto em lei como infração penal. Considerando que já estudamos crime doloso, podemos concluir que iter criminis é um instituto exclusivo dos crimes dolosos. Os crimes possuem as seguintes fases: O que é crime-obstáculo? Classifica-se de crime-obstáculo quando os atos preparatórios são punidos como crime autônomo, por exemplo, associação criminosa, art. 288, do CP. 18 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Atos preparatórios e atos de execução. E se persistirem a dúvida se o ato é preparatório ou de execução? Deve considerar, neste caso, o ato preparatório, por ser mais benéfico ao agente. Para cada classificação do crime há o momento da consumação. Consumação de crime de ROUBO X LATROCÍNIO 19 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL O crime é consumado, quando nele se reúnem todos os elementos da sua definição legal. A tentativa ocorre, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstância alheias à vontade do agente. 20 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Quais são os crimes que admitem tentativa? 21 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Quais os crimes que não admitem tentativa? Pena da tentativa Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1 a 2/3. A tentativa é uma causa de diminuição de pena. A redução deve ser basear no iter criminis percorrido pelo agente. A definição do crime tentado (at. 14, II, do CP) é uma norma de extensão ou de ampliação, uma vez que, o tipo penal deve ser conjugado com o art. 14, II, do CP. O art. 14, II, do CP, dispõe que a tentativa é o início de execução de um crime que somente não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. O ato de tentativa é um ato de execução. Exige-se que o sujeito tenha praticado atos executórios, daí não sobrevindo a consumação por forças estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipicidade não finalizada, sem conclusão. 22 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Vamos exemplificar: 1. “A” subtrai o celular de “B” e foi condenado a pena de 2 anos. 2. “A” tentou subtrair o celular de “B” e foi condenado a pena de 1 ano e 4 meses. No exemplo 1 o crime foi consumado, por isso foi aplicada a pena de 2 anos (lembrando que a pena previs- ta para furto é de um a quatro anos, e multa). No exemplo 2 o crime foi tentado, motivo pelo qual a pena de 2 anos foi diminuída de 2/3, resultando em 1 ano e 4 meses. A tentativa constitui-se em causa obrigatória de dimi- nuição da pena. Incide na terceira fase de aplicação da pena privativa de liberdade, e sempre a reduz. A liberdade do magistrado repousa unicamente no quantum da diminuição, balizando-se entre os limites legais, de 1 (um) a 2/3 (dois terços). Deve reduzi-la, po- dendo somente escolher o montante da diminuição. E, para navegar entre tais parâmetros, o critério decisivo é a maior ou menor proximidade da consumação, é dizer, a distância percorrida do iter criminis. Excepcionalmente, entretanto, é aceita a teoria subje- tiva, voluntarística ou monista, consagrada pela expres- são “salvo disposição em contrário”. Olhe as teorias novamente. Essas teorias têm a tese de que a pena para os crimes consumados são as mesmas para os crimes tentados. Aplica-se essas teorias em alguns casos. Há casos, restritos, em que o crime consumado e o crime tentado comportam igual punição: são os delitos de atentado ou de empreendimento. Por exemplo: 1) evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352 do CP), em que o preso ou indivíduo submetido à medida de segurança detentiva, usando de violên- cia contra a pessoa, recebe igual punição quando se evade ou tenta evadir-se do estabelecimento em que se encontra privado de sua liberdade; 2) Lei nº 4.737/1965 – Código Eleitoral, art. 309, no qual se sujeita a igual pena o eleitor que vota ou tenta votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem. Crimes punidos apenas na forma tentada A regra vigente no sistema penal brasileiro é a puni- ção dos crimes nas modalidades consumada e tentada. Mas em algumas situações não se admite a tendência, seja pela natureza da infração penal, seja em obediência a determinado mandamento legal, razão pela qual ape- nas é possível a imposição de sanção penal para a forma consumada do delito ou da contravenção penal. É o que se verifica, a título ilustrativo, nos cri- mes culposos (salvo na culpa imprópria) e nos crimes unissubsistentes. Relembrando: Não esqueça que o dolo da tentativa é igual ao dolo da consumação. O sujeito quer o resultado! #FicaDica “A” quer subtrair o celular de “B”. Na consumação, “A” consegue subtrair. Na tentativa, quando “A” consegue colocar a mão no celular, é surpreendido por “C” que à distância, percebeu a ação de “A”. Neste momento, “A” deixa o celular e foge do local. A vontade de “A” era: subtrair o celular. O art. 14, II, do CP não tem autonomia, pois a tentati- va não existe por si só, isoladamente. Sua aplicação exige a realização de um tipo incrimi- nador, previsto na Parte Especial do CP ou pela legislação penal especial. O CP e a legislação extravagante não preveem, para cada crime, a figura da tentativa, nada obstante a maioria deles seja com ela compatível.Isso explica o motivo pelo qual não encontramos a descrição do crime, a pena prevista em caso de consu- mação e outra pena para a hipótese de tentativa. A tentativa de furto é a combinação de “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel” com iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”, certo! Furto tentado é: art. 155, caput, c/c o art. 14, II, ambos do CP. A lei penal (CP ou lei extravagante) não prevê a tentativa para cada crime, mas de- fine o delito e prevê a pena para o caso de consumação. Por isso, todo o crime tentado deve incluir na descrição do delito o art. 14, II, do CP. #FicaDica E a pena para o caso de crime tentado? A punibilidade da tentativa é disciplinada pelo art. 14, parágrafo único, do CP. O CP acolheu como regra a teoria objetiva, realística ou dualista. Quando falamos das teorias assusta. Mas fique tranquilo... Teoria objetiva, realística ou dualista significa que ao determinar a pena da tentativa deve corresponder à pena do crime consumado, diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços). Como o desvalor do resultado é menor quando com- parado ao do crime consumado, o agente deve suportar uma punição mais branda. 23 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Culpa: O agente não quer e nem assume o risco de produzir o resultado. Culpa imprópria: decorre do erro de tipo evitável nas descriminantes putativas ou do excesso nas causas de justifi- cação. O agente quer o resultado em razão de a sua vontade encontrar-se viciada por um erro que, com mais cuidado poderia ser evitado. Crime unissubsistente: é realizado por ato único, não sendo admitido o fracionamento da conduta, como, por exem- plo, no desacato (art. 331, do CP) praticado verbalmente. Entretanto, em hipóteses raríssimas somente é cabível a punição de determinados delitos na forma tentada, pois nesse sentido orientou-se a previsão legislativa quando da elaboração do tipo penal. Exemplos disso encontram-se nos arts. 9º e 11 da Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional. Art. 9º - Tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país. Pena: reclusão, de 4 a 20 anos. Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até um terço; se resulta morte aumenta- -se até a metade. Art. 10 - Aliciar indivíduos de outro país para invasão do território nacional. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. Parágrafo único - Ocorrendo a invasão, a pena aumenta-se até o dobro. Art. 11 - Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país independente. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos. Crime impossível Crime impossível: se, nas circunstâncias, o crime é impossível, não há relevância penal na conduta, pois não há risco ao bem jurídico. Súmula 145 do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Desistência voluntária e arrependimento eficaz Se o sujeito inicia o processo executório, mas desiste voluntariamente de nele prosseguir, evitando a consumação, há desistência voluntária. Se o sujeito já esgotou o processo executório imaginado, mas resolve voluntariamente atuar para evitar a consuma- ção, com sucesso, há arrependimento eficaz. Nos dois casos, conforme art. 15, do CP, a consequência é que o sujeito deve responder apenas pelos resultados já produzidos. 24 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Antes de esgotar a execução Depois de esgotar a Execução Consequência jurídica Motivos alheios à vontade do agente Tentativa imperfeita ou inacabada Tentativa perfeita ou acabada ou crime falho Responde pela tentativa: pena do crime consumado reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) Modificação da vontade do agente Desistência voluntária Arrependimento eficaz Só responde pelos atos já praticados Arrependimento posterior Causa de diminuição de pena para os crimes praticados sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa, nos quais o prejuízo é reparado por ato voluntário do infrator até o momento do recebimento da denúncia ou queixa. O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois terços, e prevalece que a redução será tanto maior quando mais célere a reparação. Casos excepcionais de arrependimento posterior no Código Penal: a) a reparação do dano no crime de estelionato por meio de cheque, até o recebimento da denúncia, tem efeito diverso. Conforme interpretação da Súmula 554 do STF não há justa causa para a ação penal nos casos em que, no crime previsto no art. 171, § 2.º, VI, do CP, há reparação do dano antes do recebimento da denúncia. b) no peculato culposo (art. 312, § 2.º, do CP), a reparação do dano até a sentença definitiva extingue a punibilidade, e se posterior ainda reduz a pena em metade (art. 312, § 3.º, do CP). ILICITUDE Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descumprimento de um dever jurídico imposto por normas de direito público, sujeitando o agente a uma pena. Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típico, até prova em contrário, é um fato que, ajustando-se a um tipo penal, é antijurídico. Exclusão de ilicitude Exclusão da ilicitude é uma causa excepcional que retira o caráter antijurídico de uma conduta tipificada como cri- minosa (fato típico). Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. A ação do homem será típica sob o aspecto criminal quando a lei penal a descreve como sendo um delito. Numa primeira compreensão, isso também basta para se afirmar que ela está em desacordo com a norma, que se trata de uma conduta ilícita ou, noutros termos, antijurídica. 25 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL • usa de um meio moderado e dentro do necessário para repelir à agressão; Haverá necessariamente o reconhecimento da legíti- ma defesa. • de maneira consciente emprega um meio des- necessário ou usa imoderadamente o meio necessário; A legítima defesa fica afastada por excluído um dos seus requisitos essenciais. • após a reação justa (meio e moderação) por impre- vidência ou conscientemente continua desneces- sariamente na ação. No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifi- ca demasiada e desnecessariamente a reação inicialmen- te justificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O agente responderá pela conduta constitutiva do excesso. PUNIBILIDADE A punibilidade é uma das condições para o exercício da ação penal (CPP, art. 43, II) e pode ser definida como a possibilidade jurídica de o Estado aplicar a sanção penal (pena ou medida de segurança) ao autor do ilícito. A Punibilidade, portanto, é consequência do crime. Assim, é punível a conduta que pode receber pena. A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um indivíduo a responsabilidade por uma infração. Segun- do prescreve o artigo 26, do Código Penal, podemos, também, definir a imputabilidade como a capacida- de do agente entender o caráter ilícito do fato por ele perpetrado ou, de determinar-se de acordo com esse entendimento. É, portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo entre a ação e seu agente, imputando a alguém a realiza- ção de um determinado ato. Quando existe algum agravo à saúde mental, os in- divíduos podem ser considerados inimputáveis – se não tiverem discernimento sobre os seus atos ou não possuí- rem autocontrole, são isentos de pena. Os semi-imputáveis são aqueles que, sem ter o dis- cernimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzidos ou prejudicados por doença ou transtorno mental. Causas que excluem a imputabilidadeDoença Mental, Desenvolvimento mental incompleto, Desenvolvimento mental retardado e Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior. Essa ilicitude ou antijuridicidade, contudo, consisten- te na relação de contrariedade entre a conduta típica do autor e o ordenamento jurídico, pode ser suprimida, desde de que, no caso concreto, estejam presentes uma das hipóteses previstas no artigo 23 do Código Penal: o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cum- primento do dever legal ou o exercício regular de direito. O estado de necessidade e a legítima defesa são con- ceituados nos artigos 24 e 25 do Código Penal, merecen- do destaque, neste tópico, apenas o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de um direito, como excludentes da ilicitude ou da antijuridicidade. A expressão estrito cumprimento do dever legal, por si só, basta para justificar que tal conduta não é ilícita, ainda que se constitua típica. Isso porque, se a ação do homem decorre do cumprimento de um dever legal, ela está de acordo com a lei, não podendo, por isso, ser con- trária a ela. Noutros termos, se há um dever legal na ação do autor, esta não pode ser considerada ilícita, contrária ao ordenamento jurídico. Um exemplo possível de estrito cumprimento do de- ver legal pode restar configurado no crime de homicí- dio, em que, durante tiroteio, o revide dos policiais, que estavam no cumprimento de um dever legal, resulta na morte do marginal. Neste sentido - RT 580/447. O exercício regular de um direito, como excludente da ilicitude, também quer evitar a antinomia nas relações jurídicas, posto que, se a conduta do autor decorre do exercício regular de um direito, ainda que ela seja típica, não poderá ser considerada antijurídica, já que está de acordo com o direito. Um exemplo de exercício regular de um direito, como excludente da ilicitude, é o desforço imediato, emprega- do pela vítima da turbação ou do esbulho possessório, enquanto possuidor que pretende reaver a posse da coi- sa para si (RT - 461/341). A incidência da excludente da ilicitude, conduto, não pode servir de salvo conduto para eventuais excessos do autor, que venham a extrapolar os limites do necessário para a defesa do bem jurídico, do cumprimento de um dever legal ou do exercício regular de um direito. Haven- do excesso, o autor do fato será responsável por ele, caso restem verificados seu dolo ou sua culpa. Nesse sentido é a regra do parágrafo único do artigo 23 do Código Penal. CULPABILIDADE A Culpabilidade é um elemento integrante do concei- to definidor de uma infração penal. A motivação e objeti- vos subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A culpabilidade aufere, a princípio, se o agente da conduta ilícita é penalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo (intenção), ou pelo menos com imprudência, negligência ou imperícia, nos casos em que a lei prever como puní- veis tais modalidades O excesso Punível Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente pode encontrar-se em três situações diferentes: 26 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente con- sanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - menosprezo ou discriminação à condição de mu- lher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homi- cídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o cri- me é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da in- fração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a me- tade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posterio- res ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da ten- tativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; CRIMES CONTRA A PESSOA TEORIA GERAL Os crimes contra a pessoa estão no início da parte es- pecial do Código Penal, sendo um título do Código Penal, contendo capítulos e seções. O título “crimes contra a pessoa” tem os seguintes capítulos: I- Crimes contra a vida; II- Lesões Corporais; III- Periclitação da vida e da saúde; IV- Rixa; V- Crimes contra a honra; VI – Crimes contra a liberdade individual. Vejam- -se, todos os crimes previstos neste título tem como ob- jeto a pessoa, sendo a vida, saúde, honra, liberdade etc... Vejamos agora os crimes em espécie conforme dis- posto no Código Penal. TÍTULO I CRIMES CONTRA A PESSOA CAPÍTULO I CRIMES CONTRA A VIDA Homicídio simples Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro- vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimula- ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impuni- dade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sis- tema prisional e da Força Nacional de Segurança Pú- blica, no exercício da função ou em decorrência dela, 27 N O ÇÕ ES D E D IR EI TO P EN AL E D E D IR EI TO P RO CE SS UA L PE N AL Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena
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