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Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 1 PROTOZOÁRIOS QUE PARASITAM O HOMEM FLAGELADOS DAS VIAS GENITURINÁRIAS TRICHOMONAS A família Trichomonadidae caracteriza-se por possuírem seus membros um número variável de flagelos (3 a 6); um citóstoma ou boca e uma estrutura peculiar em forma de bastonete (axóstilo) que originando-se do blefaroplasto passa através de todo o corpo do protozoáriol e ultrapassa sua extremidade posterior. No gênero Trichomonas verifica-se a existência de 3 a 6 flagelos (5), órgãos de locomoção e de captura de alimento, sendo que um dos flagelos se dirige para trás, formando uma típica membrana ondulante quando se locomove (6). Além disso possuem: Periplasto: membrana delicada que recobre o parasito (1); Complexo cinético do flagelo: grânulo basal ou blefaroplasto (situado no citoplasma, do qual se origina o flagelo); Citoplasma: sem diferenciação entre ecto e endoplasma, rico em glicogênio, pode ter pequenos vacúolos, sendo capaz, em algumas espécies, de fagocitar bactérias e eritrócitos (2); Axóstilo: em forma de fita, constituído pela justaposição de macrotúbulos e que se origina no blefaroplasto (grânulo basal) (9); Costa: estrutura em forma de bastonete, provavelmente de natureza esquelética (8); Citóstoma: abertura situada na origem do flagelo (4); Núcleo: relativamente grande (3). A movimentação dos flagelos atrai alimentação e a membrana ondulante produz movimento. Não há formação de cistos. Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 2 As espécies comumente encontradas no homem são Trichomonas vaginalis, Trichomonas tenax e Pentatrichomonas hominis. O T. tenax é um comensal, vive na cavidade bucal humana e também de chipanzés e macacos. O P. hominis, comensal, habita o trato intestinal humano. O Trichomitus fecalis, só foi encontrado em um único paciente e não existe certeza se o homem seria o seu hospedeiro primário. A espécie parasita é o Trichomonas vaginalis. Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 3 TRICHOMONAS VAGINALIS INTRODUÇÃO Foi descrito pela primeira vez em 1834, por Alfred Donné, em apresentação à Academia de Ciências com o título de “A propósito de aminoácidos observados em material purulento e produto de secreções dos órgãos sexuais do homem e da mulher“. Donné isolou o protozoário de uma paciente com vaginite e assinalou que o líquido no qual vive é ácido, acrescentando que era fato digno de nota, pois sua paciente era uma menina e nas crianças o muco vaginal é alcalino. Em 1894, Marchand e, independentemente, Miura (1894) e Dock (1896), observaram este flagelado na uretrite humana e também de chipanzés e macacos. T. vaginalis difere da maioria das células eucarióticas em diversos aspectos, notadamente na necessidade nutricional e do metabolismo energético, dependendo de um grande número de metabólitos pré-formados como nutrientes, o que revela uma ausência maior de biossíntese. Não tendo forma cística, é susceptível à dessecação e às altas temperaturas, mas pode viver, surpreendentemente, fora do seu habitat por algumas horas sob altas condições de umidade. Pode viver por mais de 48 horas no exudato vaginal; durante 3 horas na urina coletada; seis horas no sêmen ejaculado e 24 horas em toalhas molhadas com água a 35OC. Seu principal habitat é a vagina, mas tem sido encontrado em outras porções do sistema geniturinário da mulher, bem como nos órgãos geniturinários do homem. É um parasito cosmopolita, menos comum em meninas e em mulheres virgens. A tricomonose masculina é de grande importância na transmissão do protozoário. Difere da feminina exclusivamente na sua evolução. No homem a infecção é em geral latente ou apresenta forma subclínica, enquanto que na mulher a infecção decorre com sintomas externos, como corrimento no seu estado agudo. O T. vaginalis é o mais freqüente patógeno encontrado nas doenças sexualmente transmitidas, mas sua incidência exata é desconhecida. Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 4 MORFOLOGIA A forma do protozoário modifica-se facilmente, pois não existe sob a membrana, estruturas de sustentação que lhe confirmem rigidez. A forma típica é alongada, ovóide ou piriforme. Mede de 10 a 30 micra de comprimento (média – 15 micra), sendo o maior Trichomonas encontrado no homem. Apresenta 4 flagelos na parte anterior (AF), membrana ondulada menor que o comprimento do corpo (RF), acompanhada pela estrutura chamada costa (CO), muito estreita. O flagelo recorrente não se exterioriza posteriormente, como acontece com o do P. hominis. Uma de suas características é a presença de um aparelho parabasal, constituído por um corpo parabasal e uma fibrila parabasal (PG). Este aparelho assemelha-se ao do T. tenax, mas difere do P. hominis. O núcleo é bem típico: alongado e contendo cromatina constituída por grânulos pequenos ou finos, uniformemente distribuídos no seu interior. Os grânulos citoplasmáticos são muito aparentes no T. vaginalis, observando-se ao longo do axóstilo, da costa e também da fibrila parabasal. CICLO EVOLUTIVO O protozoário ao atingir o novo hospedeiro, encontrando condições favoráveis, passa a multiplicar-se por divisões binárias sucessivas, colonizando-se. Reproduz-se com mais intensidade na vagina com pH menos ácido (4,5 a 5) mas reproduz-se também na uretra masculina. Os mecanismos de transmissão ainda não estão inteiramente conhecidos. Em primeiro lugar está a possibilidade da infecção por via sexual, pois o homem alberga freqüentemente o parasito. A promiscuidade deve exercer papel importante na transmissão do flagelado de uma para outra mulher. O protozoário é resistente no meio externo em condições de umidade, conservando por algum tempo após sua expulsão do organismo, sua vitalidade e infecciosidade. Assim, roupas pessoais, roupas de cama, Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 5 tubos de clister ou artigos de toalete, assentos de privada, instrumentos ginecológicos, podem veicular o parasito. Admite-se ainda que as meninas se contaminem no momento do nascimento, de mães infectadas. O flagelado pode viver muitos anos no canal genital das meninas, em estado de vida latente, determinando o aparecimento de sintomas quando variam as condições fisiológicas da vagina infantil, como por exemplo, modificação da flora, alterando o pH vaginal. Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 6 PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA Em muitos casos o parasito pode ser encontrado em indivíduos sem nenhuma sintomatologia (portadores), em outros casos o T. vaginalis contribui para o aparecimento de uma forma peculiar de vaginite, caracterizada por leucorréia, edema, irritação e prurido vulvar. Sempre que há queixa de leucorréia e de prurido vaginal deve- se suspeitar de infecção por T. vaginalis. Para vários autores, a infecção pelo T. vaginalis estaria associada a uma diminuição da acidez vaginal, com diminuição do glicogênio e enfraquecimento da camada epitelial. Resumindo, as alterações vaginais que predispõem ao aparecimento da Tricomonose são: diminuição do glicogênio contido nas células epiteliais; modificação da flora (diminuição dos bacilos de Doderlein que se nutrem de glicogênioarmazenando nas células epiteliais da vagina e produzem grande quantidade de ácido láctico); diminuição da acidez e descamação epitelial. Tricomonose aguda: geralmente transmitida por via sexual. Grande número de parasitos aparece na secreção vaginal e o número de células epiteliais decresce, os bacilos de Doderlein ainda permanecem e o processo inflamatório se manifesta pelo aumento considerável do número de leucócitos. Esta fase geralmente é de curta duração e raramente é vista pelo clínico, pois as mulheres não o procuram, até que se transforme na segunda fase. Fase de estado da Tricomonose: os esfregaços da secreção vaginal mostram numerosos protozoários, leucócitos e várias espécies de bactérias. Há menos células epiteliais e os lactobacilos de Doderlein desaparecem. Tricomonose crônica: não são mais encontrados os bacilos de Doderlein; os protozoários podem ser encontrados mas seu número varia muito. Juntamente observa- se a presença de leucócitos, células epiteliais e uma mistura de bactérias diversas e de fungos. DIAGNÓSTICO CLÍNICO: apesar dos sintomas auxiliarem muito no diagnóstico, outros agentes como a Cândida, por exemplo, são também responsáveis pelos mesmos sintomas. LABORATORIAL: inicialmente faz-se a colheita do material. Coleta da amostra Homem: deverão comparecer ao local da coleta pela manhã, sem terem urinado no dia e sem terem tomado nenhum medicamento tricomonicida há mais de 15 dias. O material Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 7 uretral é colhido com uma alça de platina ou com swab de algodão não absorvente ou de poliéster. Também pode ser examinado o sedimento centrifugado (600g por 5 min.) dos primeiros 20 ml da urina matinal. A secreção prostática e o material subprepucial são coletados com um swab molhado em solução salina isotônica (0,15M) tépida.O organismo é mais freqüentemente encontrado no sêmen do que na urina ou em esfregaços uretrais. Uma amostra fresca poderá ser obtida por masturbação em recipiente limpo e estéril. Mulher: não deverão realizar a higiene vaginal durante um período de 18 a 24h anterior à coleta do material, e não devem ter feito uso de medicamentos tricomonicidas há mais de 15 dias. A vagina é o local mais facilmente infectado, e os tricomonas são mais abundantes durante os primeiros dias após a menstruação. O material é usualmente coletado na vagina com swab de algodão não absorvente ou de poliéster, com o auxílio de um especulo não lubrificado. Preservação da amostra O T. vaginalis é susceptível a desidratação. O material colhido que não for examinado em preparações a fresco, imediatamente após a coleta ou inoculado em meio de cultura, deverá ser preservado em líquidos ou em meios de transporte. Preservadores Temporários Líquidos de transporte: a solução salina isotônica (0,15M) glicosada a 0,2% mantém os tricomonas viáveis por várias horas à temperatura de 37OC, não havendo nenhuma alteração na morfologia e na mobilidade. As soluções de Ringer e de Locke também podem ser usadas. Meios de transporte: os meios de Stuart (1956) e de Amies (1967) modificados mantêm os organismos por um período de 24 horas. Após esse tempo há um significante declínio no número dos parasitos. Nas primeiras 24 horas de preservação, a temperatura não tem influência nas culturas. Preservadores permanentes A solução do fixador álcool polivinílico (fixador APV) mantém os microrganismos preservados sem que haja alterações na sua morfologia, estando assim preparados para serem corados pelos métodos de Leishman, Giemsa e pela Hematoxilina-férrica. Exame microscópico O exame microscópico convencional de preparações a fresco e de esfregaços fixados e corados, junto com os métodos de cultura, são os procedimentos laboratoriais mais comumente empregados no diagnóstico da tricomonose. Exame direto a fresco: A secreção deve ser homogeneizada em um ou duas gotas de solução fisiológica, colocadas em lâmina. A gota será coberta com uma lamínula e observada em microscópio em aumento de 400X (oculares de 10X e objetiva de 40X). Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 8 Preparações coradas: com o objetivo de aumentar a sensibilidade do exame microscópico direto, vário corantes podem ser utilizados. Os principais são: Alaranjado de acridina, Giemsa, Leishman, Gram, Ácido periódico de Schiff, Imunoperoxidase e Hematoxilina férrica. Cultura É um bom método mas são necessários os meios de cultura. Muitos meios líquidos ou semi-sólidos têm sido descritos para o isolamento e manutenção axênica do T. vaginalis. Diagnóstico imunológico Esses testes não são rotineiramente usados no diagnóstico desta protozoose e não substituem os exames parasitológicos, ma podem complementa-los, quando negativos, contribuindo para aumentar o índice de certeza do resultado. Os mais utilizados são: reações de aglutinação, métodos de imunofluorescência (direta e indireta) e técnicas imunoenzimáticas (ELISA). Têm significado maior naqueles casos de pacientes assintomáticos, permitindo uma triagem adequada com a possibilidade de um tratamento precoce e uma diminuição do risco da transmissão. TRATAMENTO O tratamento para ser efetivo, deve ser administrado tanto aos pacientes como aos seus parceiros sexuais. As drogas mais usadas são os derivados nitroimidazólicos, que atuam através da formação de radiais tóxicos. O metronidazol, por exemplo, ao ser reduzido em seu grupo -nitro- forma intermediário citotóxicos de curta duração. Metronidazol (Flagyl) Ornidazol (Tiberal) Tinidazol (Flasigyn) Nimorazol (Nagoxin) Carnidazol Secnidazol Esses medicamentos podem apresentar efeitos colaterais e são contra-indicados na gravidez, quando devem ser substituídos por clotrimazol (creme vaginal a 0,5%). Qualquer que seja a terapêutica adotada, as mulheres devem fazer uso concomitante de medicação local. A vacinoterapia é uma nova tentativa de tratamento da tricomonose. Cepas selecionadas de Lactobacillus acidophilus são comercializadas como vacinas sob o Apostila de Parasitologia Humana Parte I Protozoários Profa. Heloisa Werneck de Macedo Capítulo 1 - Trichomonas 9 nome de Solco-Trichovac e Gunatren. A média de cura, segundo alguns autores, depois de 3 a 4 doses da vacina se aproxima às dos nitroimidazóis. TRICHOMONAS TENAX É um flagelado de distribuição cosmopolita cujo habitat é a cavidade bucal, no tártaro em volta dos dentes, nas cáries dentárias e nas bolsas de pus. Ë de todos os tricomonas do homem o menor, medindo em média cerca de 6,5 micra. Morfologicamente é muito parecido com o T. vaginalis, apresenta membrana ondulante menor que o comprimento do corpo, costa estreita, posteriormente, o flagelo recorrente não se exterioriza. Como nas outras espécies não há formação de cistos. A multiplicação é por divisão binária do núcleo e longitudinal do corpo. Presume-se que a transmissão se dê pelo contato direto, como por exemplo pelo beijo. Não é patogênico. PENTATRICHOMONAS HOMINIS É um organismo em forma de pêra, medindo de 7 a 15 micra de comprimento por 4 a 7 micra de largura. A maioria apresenta 5 flagelos. Uma característica especial é que possui em todo o seu comprimento, uma membrana ondulate com flagelo livre na extremidade distal, ao contrário do que se observa com as outras duas espécies, nas quais a membrana ondulante não atinge a extremidade do corpo. São organismos pequenos, de difícil fixação e coloração. Embora encontrado tanto no intestino delgado como no grosso, é mais freqüente na última porção do íleo e no ceco, onde se multiplica abundantemente. Não determinam, em geral,nenhum dano ao organismo que os albergam.
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