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1 Isadora Silva Patologia Isquemia, infarto e choque Isquemia É a redução ou cessação do fluxo sanguíneo para um órgão ou território do organismo. Aporte insuficiente de sangue para manter as necessidades metabólicas dos tecidos. Pode surgir: hipóxia (ausência de O2) ou anóxia (extremo de hipóxia). A isquemia pode ser local ou comprometer vários órgãos. Na maioria das vezes a isquemia resulta de redução da luz do vaso (obstrução vascular). A região ou órgãos isquêmicos são mais pálidos. - Se a isquemia resulta de obstrução venosa, vemos um caso de hiperemia passiva. CAUSAS: Na maioria das vezes é causada por obstrução total ou parcial de artérias, veias ou capilares. As causas da obstrução por acontecer na luz do vaso ou fora dela por compressão extrínseca. Obstrução arterial: é a principal causa de isquemia, que pode ser provocada por obstáculos intravasculares, por compressão extrínseca ou espasmos da parede arterial (desequilíbrio de agentes vasodilatadores e vasoconstritores). Resulta em grande parte nos casos aterosclerose, embolia, trombose arterial e artrites. A compressão extrínseca pode acontecer por tumores, úlceras de pressão e em síndrome compartimental (aumento da pressão do compartimento muscular), ou até pelas bandas de miocárdio existentes em torno dos ramos coronarianos subepicárdicos. - A existência de circulação colateral pode manter a circulação compensadora eficiente (como ocorre nos MMSS e MMII), onde o paciente pode recuperar grande parte da circulação dias após uma obstrução, e assim acontece uma redução da isquemia. No entanto, em alguns casos a circulação colateral não é suficiente, e assim nesses casos a obstrução de um ramo provoca acúmulo de sangue no território, porque as colaterais trazem sangue para a região, porém sem força para conduzir até as veias. Isso causa estease circulatória (parada da circulação no local) o que leva a anóxia e pode causar hemorragia. - A isquemia é mais acentuada em regiões limítrofes de irrigação, como no cérebro e intestino grosso. Obstrução da microcirculação: em obstrução localizada pode ser causada por: -Aumento da viscosidade sanguínea (anemia falciforme) -Coagulação intravascular disseminada (microtrombos) -Compressão extrínseca (úlceras de decúbito) -Embolia gasosa e gordurosa -Parasitismo de células endoteliais e de células de Kupffer (macrófagos do fígado). Obstrução venosa: Pode resultar de trombose ou de compressão extrínseca. -Compressão venosa extrínseca: torção do pedículo vascular, compressão por tumores ou linfonodos aumentados. A isquemia por obstrução venosa depende também das vias colaterais de drenagem. Se essa obstrução interrompe o retorno venoso e 2 Isadora Silva aumenta consequentemente a pressão hidrostática, o fluxo sanguíneo fica comprometido e pode até cessar (estease circulatória, onde a pressão H se iguala a arterial). Esse é um caso de isquemia progressiva associada a hiperemia passiva, que vai contribuir para a formação de edema local, sendo que cada vez mais o território vai ficar mais congesto. - Ex de isquemia por obstrução venosa: Hérnia intestinal estrangulada, torções do testículo e ovário ou tumores pediculados, tromboses nas veias renais e mesentéricas ou nos seios venosos da dura-máter. CONSEQUÊNCIAS A principal consequência da isquemia é a redução no fornecimento de O2 e até ausência do seu suprimento, capazes de provocar necrose. As lesões variam de acordo com natureza do órgão afetado. O tecido nervoso, por exemplo, é muito sensível à hipóxia. Enquanto isso, o tecido muscular estriado e ósseo são mais resistentes. Suas consequências dependem de diversos fatores: Extensão da área isquêmica e sua localização: quanto mais extensa, mais grave. Isquemias pequenas podem levar a arritmias graves também. Velocidade de instalação (súbita ou lenta). Em instalação lenta e progressiva os tecidos tendem a adaptar-se à nova condição e as células tendem a hipotrofiar-se, por apoptose). Existência de circulação colateral Sensibilidade dos tecidos atingidos à hipóxia ou anóxia. -A queda de consciência de pacientes se deve ao fato de rápida queda no nível de glicose e O2. -Oclusão abrupta de um ramo coronariano provoca isquemia em certa área do miocárdio e pode causar morte súbita, antes mesmo de aparecerem lesões. Infarto É uma área localizada de necrose isquêmica, por interrupção do fluxo sanguíneo arterial ou venoso. Pode ser caracterizado como: Infarto branco: é o infarto em que a região afetada fica mais clara do que a cor normal do órgão. É causado por obstrução arterial em território sem ou com escassa circulação colateral. Acontece especialmente em regiões que necessitam de alta demanda de O2, onde há queda abrupta de pressão arterial, choque ou anemia. Acontece tipicamente no coração, encéfalo, rins e baço. Infarto vermelho: onde a região comprometida adquire coloração vermelha em razão da hemorragia que se fora na área infartada. Pode ser causado por obstrução arterial ou venosa, ocorrendo caracteristicamente em órgãos com estroma frouxo (pulmões) com circulação ou rica em vasos colaterais. Nos pulmões, se o indivíduo tiver insuficiência cardíaca, com hiperemia passiva e aumento da pressão venosa, somente o fluxo das colaterais não é suficiente para garantir a irrigação necessária, sendo que isso causa obstrução dos ramos da artéria pulmonar pela embolia, o que causa o infarto pulmonar. Como o pulmão é 3 Isadora Silva um órgão frouxo, e o sangue continua chegando pelas artérias brônquicas, a área do infarto torna-se hemorrágica. Clinicamente, os pacientes com infarto pulmonar apresentam: dispneia, dor torácica, hemoptise. Outro lugar que pode ter esse tipo de infarto é nos intestinos. A obstrução de um ramo da artéria mesentérica (por ateroma, embolia ou trombose) leva a isquemia e necrose do território, no entanto, continua recebendo sangue por outro ramo das arcadas vasculares mesentéricas. Pode também acontecer obstrução venosa por compressão, trombose, torção do pedículo vascular. CONSEQUÊNCIAS/ EVOLUÇÃO As consequências e a gravidade dos infartos dependem da sua extensão e do órgão comprometido. Muitos podem ser fatais (miocárdio, encéfalo, intestino), como também podem passar despercebidos (renais, esplênicos, ou pequenos no miocárdio). Os infartos cerebrais comprometem a via piramidal e deixam sequelas motoras. Os infartos no miocárdio podem levar à morte por insuficiência cardíaca, arritmias e outras complicações. Necrose isquêmica nos MMII causada por aterosclerose, mais comum em indivíduos diabéticos, evolui para gangrena e é a principal causa de amputação. Infartos renais podem manifestar-se com dor lombar e hematúria, mas poucos casos levam a insuficiência renal Infartos intestinais manisfestam-se com quadro de abdome agudo e têm alta taxa de letalidade. A gravidade de infarto pulmonar está relacionada com a embolia pulmonar. Infartos evoluem para cura com cicatrização ou gliose no SNC, que podem ser completas resultando em cicatriz retrátil, com a formação de cistos. Por serem áreas desvitalizadas podem ser locais de infecção bacteriana anaeróbica, originando abscessos ou gangrena. OBS: cura de infartos por calcificação é rara. Choque É o distúrbio hemodinâmico agudo e sistêmico caracterizado pela incapacidade do sistema circulatório de manter a pressão arterial em nível suficiente para manter a perfusão sanguínea que resulta em hipóxia generalizada. A manutenção da PA e da pressão de perfusão depende: Bomba cardíaca para impulsionar sangue Volume de sanguecirculante Compartimento vascular. Em princípio, o choque pode ser provocado por: Falência da bomba cardíaca (choque cardiogênico) Redução da volemia (choque hipovolêmico) Aumento do compartimento vascular (choque distributivo) Falência no enchimento do ventrículo esquerdo (choque obstrutivo). ETIOPATOGÊNESE -Choque hipovolêmico: é causado por redução aguda e intensa do volume circulante por perda de líquidos, seja por: hemorragia grave, 4 Isadora Silva vômitos, diarreia, perda cutânea, passagem rápida de líquido do LIC para MEC. -Choque cardiogênico: surge por insuficiência cardíaca aguda, especialmente do VE que resulta em incapacidade do coração em bombear o sangue para a circulação sistêmica. Perda de massa do miocárdio de pelo menos 40% e redução da capacidade de ejeção de 80%. Causas: infarto agudo do miocárdio, miocardite aguda, ruptura de valvas cardíacas. -Choque distributivo: deve-se a vasodilatação arteriolar periférica que resulta em queda da resistência periférica, inundação de capilares e redução drástica do retorno venoso. Exemplo típico é o choque anafilático (liberação de histamina, que provoca a vasodilatação arteriolar e queda rápida na pressão). Temos também o choque séptico causado por resposta sistêmica que o organismos monta contra invasores biológicos (infecções) ou por lesões teciduais. -Choque obstrutivo: tem como mecanismo básico restrição no enchimento das câmaras cardíacas esquerdas de instalação súbita. As principais causas são: embolia pulmonar, hidro e hemopericárdio agudos. RESPOSTAS ADAPTATIVAS Uma vez iniciado o choque, o processo passa por um estágio inicial, geralmente reversível por intervenções nas causas básicas, mas que pode ser seguido de um estágio progressivo (irreversível). Nas fases iniciais, a hipotensão arterial induz modificações a fim de reduzir o fluxo sanguíneo esplâncnico e redistribuí-lo a fim de garantir suprimento de órgãos vitais (coração e encéfalo). Assim, com essa mudança, feita por mecanismo simpático por estimulação de receptores de volume e pressão e quimiorreceptores, é ela responsável por manifestações perceptíveis na fase inicial do choque: - Aumento da frequência cardíaca -Pele úmida por sudorese. Há também a manifestação de insuficiência renal por causa da hipotensão arterial. No choque distributivo essa fase é nomeada de fase quente, já que existe a vasodilatação periférica, a FC aumenta progressivamente, mas a pressão sistólica continua baixa. Além dos mecanismos compensatórios simpáticos, há também a ação de vasoconstritores endógenos (adrenalina, vasopressina, aldosterona). Há uma retenção de sódio por redução na fração de filtração e por ação da aldosterona. Essa retenção aumenta a resposta vasoconstritora das arteríolas e induz o acúmulo de água, e por consequência, aumenta a volemia. Outro mecanismo é a redução da pressão coloidosmótica e reabsorção de líquido influenciada pela baixa pressão hidrostática dos capilares. Com a progressão do choque, o quadro clínico tende a se agravar e instalar em fase de descompensação. Podem surgir estímulos que pioram o distúrbio hemodinâmico. Essa fase de descompensação associa-se sobretudo a redução da função miocárdica e acidose metabólica, sendo que o débito cardíaco passa a ser incapaz de manter a perfusão tecidual, sendo que a hipóxia dos tecidos gera acidose lática. 5 Isadora Silva A acidose piora o quadro hemodinâmico porque deprime o miocárdio, reduz a resposta vascular as catecolaminas e aumenta a abertura dos esfíncteres pré-capilares. Citocinas inflamatórias (IL-1, TNF alfa) também são depressoras do miocárdio. Com a vasodilatação progressiva e o sequestro de sangue na microcirculação, a pele passa ater aspecto cianótico e é fria. Lesão endotelial por hipóxia aumenta o risco de trombose por exposição de fatores teciduais da coagulação. Nesses casos, pode ocorrer um quadro de coagulação intravascular disseminada (CID), seguida de coagulopatia de consumo. Esses quadros podem levar a lesões degenerativas e necroses. Os sinais de insuficiência funcional vão se acumulando e surge a falência de múltiplos órgãos (FMO), fase final do processo. * Necrose isquêmica: -Rins: necrose tubular aguda -Coração: infartos subendocárdicos -SNC: necrose em faixa -Baço: necrose subcapsular -Trato digestivo: úlceras na mucosa -Fígado: necrose centrolobular -Pâncreas: necrose acinar.
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