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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Apendicite Aguda Aspectos anatômicos O apêndice é uma bolsa em fundo cego originada no ceco. Contém tecido linfoide em seu interior, que vai atrofiando com a idade. Sua função permanece desconhecida. Pode ter várias posições. Epidemiologia Causa mais frequente de Abdome Agudo Inflamatório de tratamento cirúrgico. 69% dos casos acontecem entre os 10 e 30 anos de idade. Nos extremos de idade (recém-nascidos e idosos), costuma causar um quadro mais complicado pelo atraso diagnóstico. Mortalidade de 0,1 a 0,2% nos casos não perfurados e de 3 a 5% nos casos de perfuração. Fisiopatologia Obstrução mecânica intraluminal do apêndice cecal por um fecalito (principal causa), hiperplasia do tecido linfático apendicular, tumor, fibrose cística, corpo estranho ou parasita Aumento da pressão intraluminal Drenagem linfática inibida (edema e inchaço) Obstrução venosa com isquemia tecidual (infarto e gangrena) Acúmulo de secreção com invasão bacteriana, gerando inflamação (taquicardia e leucocitose) Exsudato inflamatório da parede apendicular - contato peritônio, iniciando quadro de dor localizada (Ponto de Mc Burney) Ruptura/Perfuração (forma abscesso localizado ou peritonite generalizada) geralmente após 48 horas do início dos sintomas, cursando com febre alta / leucocitose > 14000 / Sinais peritonite. Obs.: A flora do apêndice cecal normal é semelhante à do cólon, com várias bactérias aeróbicas e anaeróbicas facultativas. Achados clínicos Dor em cólica no mesogástrio, acompanhada de náuseas, vômito, anorexia (perda de apetite), indigestão, diarréia de curta duração e pequena quantidade Quando o peritônio parietal é comprometido pela inflamação do apêndice, a dor migra para a FID, passando a ter caráter contínuo, acompanhada de sinais inflamatórios (febre baixa e taquicardia). Dor periumbilical: relacionada à distensão do apêndice (peritônio visceral). Dor em FID: relacionada à inflamação (peritônio parietal). Anorexia, dor inicialmente periumbilical que migra para o quadrante inferior direito após 24 horas, acompanhada de náuseas e vômitos. Diarréia pode estar presente. Descompressão brusca é um sinal tardio. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Exame Físico: Dor e/ou plastrão palpável no ponto de McBurney, com descompressão brusca positiva. Pacientes com apendicite procuram se movimentar o mínimo possível devido à irritação peritoneal. Movem-se devagar e com cautela. Quando deitados, assumem uma atitude característica: permanecem em decúbito dorsal com as pernas fletidas, principalmente a perna direita. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Sinal de Chutro: Desvio da cicatriz umbilical para o lado do processo inflamatório. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Complicação A principal complicação é a perfuração do apêndice, que geralmente ocorre distalmente ao ponto de obstrução, na borda antimesentérica do apêndice. Ela pode se apresentar de duas formas: perfuração bloqueada (mais comum), com formação de abscesso periapendicular, ou perfuração livre para o peritônio, com peritonite generalizada. No primeiro caso, o paciente pode se encontrar oligossintomático, queixando-se de algum desconforto em fossa ilíaca direita. Pode haver massa palpável (plastrão). No segundo caso, a dor abdominal é de grande intensidade e difusa, com presença de abdome em tábua (rigidez generalizada). Nessa situação, a temperatura encontra-se muito elevada (39 a 40°C) e o paciente pode evoluir para sepse. Situações especiais CRIANÇAS Quadro totalmente atípico: apenas febre, letargia, vômito intenso e diarreia. A perfuração é muito mais comum do que em adultos, pois o omento é imaturo e não consegue localizar o processo. IDOSOS Apresentação também é atípico (dor menos intensa, temperatura menos elevada e leucograma pouco alterado) e o prognóstico ruim. GESTANTES O diagnóstico é mais difícil por dois motivos: deslocamento cranial do apêndice pelo útero gravídico e confusão com sintomas comuns da gravidez (náuseas, vômito e dor abdominal). OBESOS MÓRBIDOS Dificuldade de se obter imagens confiáveis. Diagnóstico diferencial Diagnóstico Diagnóstico é clínico: anamnese e exame físico. O grande valor dos exames laboratoriais é sugerir perfuração (leucocitose > 20.000 células/mm3, desvio a esquerda) e excluir doenças do trato geniturinário. Exames complementares que podem ser solicitados: Beta HCG em mulheres em idade fértil; Urinálise: hematúria ou piúria podem estar presentes pela proximidade do apêndice com a bexiga; Hemograma completo (leucocitose); Proteína C reativa; Uréia e creatinina para avaliar desidratação. Radiografia: Baixa sensibilidade e especificidade. Presença de apendicólito é bem específico, mas presente em apenas 2% dos casos. Podem ser vistos: níveis hidroaéreos, borramento do psoas, alça sentinela, escoliose para direita e gás no interior do apêndice. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C USG (em gestantes e crianças): 86 a 100% de especificidade. Bom para diagnóstico diferencial de acometimento do trato gênito-urinário. O apêndice pode não ser visto devido a obesidade, interposição gasosa, perfuração e localização retrocecal. Achados: apêndice distendido e não compressível; ausência de peristalse do apêndice; diâmetro > 6mm; aumento de ecogenicidade da parede e espessura > 2mm; líquido periapendicular. Tomografia Computadorizada: Considerado o exame de maior confiabilidade no diagnóstico de apendicite aguda. 97 a 100% de sensibilidade e 95% de especificidade (não importa se com ou sem contraste). É indicada para avaliação de pacientes sem diagnóstico clínico claro. Achados: aumento do diâmetro; espessamento e realce da parede; apendicólito; borramento de gordura adjacente; líquido livre na pelve. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Atenção: Por mais que a máxima de que o diagnóstico da apendicite aguda é clínico ainda exista e deva ser respeitado, devemos observar que na dúvida (independentemente do caso) o exame de imagem deve ser solicitado. Tratamento Apendicectomia por via aberta ou por laparoscopia (melhor qualidade de vida, menos dor, menor tempo de hospitalização e menores taxas de infecção da ferida cirúrgica). - Pacientes adultos jovens com apresentação clássica devem ser operados sem exames, com acurácia de 95%. - Se dúvida ou suspeita de perfuração realizar tomografia. - US reservado para gestantes ou grade suspeita de patologia geniturinária. - Se não tiver US, observação e reavaliação ou LAPAROSCOPIA. - Se insegurança, não liberar paciente. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C No tratamento VLD: Anestesia geral e 3 portais (1 de 10mm e 2 de 5mm). No tratamento aberto: Anestesia geral, Raqui + sedação. Cirurgia preferencialmente nas primeiras 12h após o diagnóstico. Pode ser postergada até 24h (dia seguinte). Antibióticoterpia complementar: Gentamicina ou Ciprofloxacino (contra gram -) + Metronidazol (contra anaeróbios). - Se apendicite não complicada (edematosa ou flegmonosa) ATB profilático por 24 horas; - Se apendicite complicada (gangrenosa ou perfurativa) ATB até 48 horas após o último episódio de febre e por no mínimo 5 dias. Suporte clínico + hidratação. Descrição cirúrgica Hospital Universidade Nove de Julho; Paciente JBL, Reg20202020, 26a, masc., DN 01/01/1994; Cirurgião FDT, 1º aux. BDT, 2º aux. SDT, Instrumentador ABC, anestesiologista DEF; Cirurgia proposta: apendicectomia aberta; Diagnóstico pré-op.: apendicite aguda; Cirurgia realizada: apendicectomia aberta; Diagnóstico pós-op.: apendicite aguda; Início 07:00, término 08:00h; Paciente em DDH sob Anestesia geral; Antissepsia,manutenção de técnica asséptica; Colocação de campos estéreis; VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Incisão transversal de três cm no ponto de McBurney; Abertura por planos; Achado apêndice com hiperemia e edema, sem coleção, base do apêndice e ceco preservados; Dissecção, ligadura dupla de algodão 2-0 e secção do mesoapêndice em sua base; Dissecção, ligadura de algodão 2-0 e transfixante de nylon 4-0, e secção do apêndice em sua base; Sepultamento do coto com sutura em bolsa de nylon 4-0; Revisão de hemostasia; Fechamento dos planos musculares com suturas contínuas de nylon 3-0 e da pele, com 4-0; Curativo; Intercorrências intraoperatórias: Não; Sangramento estimado: 20 ml; Material para anatomopatológico: Apêndice Cecal; Assinatura Dr. FDT, carimbo, data e hora da descrição.
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