Buscar

DESENVOLVIMENTO HUMANO - AULA 03

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/14
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA PSICOSSEXUAL DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/14
Profª Raquel Berg
CONVERSA INICIAL
Bem-vindos(as)!
Na aula de hoje, falaremos sobre os textos “análise de uma fobia em um menino de cinco anos”,
“Leonardo Da Vinci e uma lembrança de sua infância” e “Duas mentiras contadas por crianças”. O
texto do Pequeno Hans tem sua importância no contexto da formação psicossexual infantil pelo fato
de trazer de modo aprofundado a questão do Complexo de Édipo e do Complexo de Castração,
associados à fobia que o menino desenvolve por cavalos. Já o texto sobre Leonardo da Vinci segue
com os questionamentos de Freud a respeito da sexualidade infantil e do narcisismo. Para a prática,
falaremos do desafio do desmame e do desfralde de meninos e meninas.
TEMA 1 – ANÁLISE DE UM MENINO DE CINCO ANOS: DESCRIÇÃO
O caso do Pequeno Hans (que Freud inicialmente chamou de Pequeno Herbert) foi baseado no
relato do pai desse menino. Freud chegou a ver a criança somente uma vez, porém, o
acompanhamento e as observações foram compartilhados pelo pai, que realizou toda a análise
juntamente com Freud. A partir desse estudo, Freud concluiu que na observação das crianças somos
capazes de identificar impulsos e desejos sexuais que depois aparecem na análise de adultos,
especialmente de forma distorcida nos neuróticos. Para que o tratamento fosse possível, Freud havia
dado um desafio aos pais, que era o de evitar a coerção na educação da criança, a menos que isso
fosse inevitável. E, à medida que Hans cresceu, observou-se que o menino evoluiu de modo
satisfatório e feliz. Embora a maior relevância desse estudo seja a análise da fobia, nesse primeiro
tópico apresentaremos Hans e como ele se enquadra nas características comportamentais das
crianças em geral, incluindo nas de hoje em dia.
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/14
Os relatos começaram quando a criança tinha três anos de idade. Nessa época, o menino já
demonstrava um vivo interesse pelo seu “pipi”. Em um momento, ele perguntou à mãe se ela tinha
um “pipi” e ela confirmou; depois, ele viu uma vaca sendo ordenhada e concluiu que ela tinha vários
“pipis”. O menino também passou a querer se tocar frequentemente. Um dia, ao ver ele com esse
comportamento, a mãe ameaçou cortar o pênis fora se ele continuasse a fazer aquilo. E, ao perguntar
como ele depois poderia fazer xixi, ele respondeu que seria com o bumbum. Embora a resposta
parecesse não ter culpa, esse foi o momento quando se iniciou o complexo de castração.
Com três anos e meio, Hans foi passear no zoológico e viu um leão na jaula, e gritou que estava
vendo o “pipi” do leão. Para Freud (1909), além dessa contestação mostrar que as crianças também
observam os animais como provedores de informações que os adultos muitas vezes tentam omitir,
também mostra a capacidade de pensamento abstrato e derivação de conhecimento (se eu tenho
um pipi, aquilo que vejo em um leão também pode ser um pipi). Depois, ao ver uma locomotiva,
perguntou-se onde estava o pipi dela, pois tinha a impressão de que ela estava fazendo xixi. Depois,
concluiu que animais têm pipi, mas objetos não têm, fazendo então uma diferenciação entre objetos
animados e inanimados.
Com três anos e nove meses, Hans perguntou a seu pai se ele tinha pipi e o pai confirmou.
Depois, ao observar a mãe sem roupa, Hans comentou que achava que ela teria um pipi como o de
um cavalo, pois ela era maior que ele. Uma das experiências marcantes na vida de Hans foi o
nascimento da irmã. Hans, em um primeiro momento, acreditava que a irmã seria trazida pela
cegonha. Porém, depois de ver o médico na casa, além de recipientes com água e sangue, Hans
começou a questionar da veracidade da história da cegonha. Depois, começou a sentir ciúmes da
irmã, ciúmes esses demonstrados nos comentários sobre o fato do bebê não ter dentes, e começou a
ter sonhos e fantasias de que duas amigas suas tinham se tornado suas filhas.
Hans, desde pequeno, também tinha dificuldade de evacuação. Tomava remédios
frequentemente e precisou ter a alimentação alterada, com poucos efeitos. Por isso, durante a análise
clínica, Freud também identificou a relação de Hans com o “lumf” (nome dado ao cocô) e sua relação
de prazer e nojo ao ver o próprio “lumf” ou o de outras pessoas, e como isso poderia ter relação com
o nascimento de crianças, pois ambos poderiam sair do ânus (o que era sua conclusão lógica, já que
a mãe não tinha “pipi”).
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/14
Aos quatro anos, começou a apresentar as relações de objeto: ao ver as filhas de um casal de
amigos dos seus pais, as chamava de “minhas meninas”; ao encontrar seu primo, ficava abraçando-o
e dizendo como gostava desse primo (numa demonstração de afeto homossexual); ao ver uma
vizinha de sete anos no pátio, ficava admirando-a pela janela todos os dias. Durante uma viagem,
quis dormir com uma das amigas. Quando lhe disseram que não podia, pediu para que ela dormisse
com seus pais; e quando novamente disseram que não, ele decidiu que iria dormir com ela e com os
pais dela, em uma demonstração que queria que ela fizesse parte da família, como “um adulto
apaixonado” (Freud, 1909, p. 25), que ruborizava ao encontrar a amada.
Para todos aqueles que já conviveram com uma criança em idade pré-escolar ou que está nos
primeiros anos da escola, sabemos como é comum as crianças trazerem o relato de novas namoradas
ou namorados, e como os pais se divertem ao verem a relação de amor que algumas vezes se
estabelece entre essas crianças, com cartas apaixonadas, presentes e encontros familiares. Também
não é incomum as crianças andarem de mãos dadas como os adultos fazem, e darem beijos e
abraços de carinho, embora saibamos que uma disputa de brinquedos pode ser o suficiente para
uma ruptura drástica da relação. Tanto nos meninos quanto nas meninas também é comum vermos o
interesse pelos órgãos genitais, e como é desafiador nos consultórios quando as crianças decidem
mostrar seus próprios genitais e ver os genitais das outras crianças, e isso é interpretado pelos pais
como tentativa de abuso sexual ou algo do gênero, embora saibamos que nessa fase a criança não
tem entendimento sobre o ato sexual em si, nem capacidade de efetuá-lo mesmo que queira. Além
disso, é importante enfatizar que, nessa idade, as demonstrações de afeto também podem ocorrer
entre meninos ou entre meninas, e essa demonstração de homossexualidade não representa
qualquer demonstração de tendência futura da criança (assim como gostar de rosa ou de azul
também não demonstra qualquer tendência de gênero), apenas mostra a disposição de todo ser
humano para amar homens e mulheres sem distinção – fato esse que se confirma na vida adulta de
todas as pessoas pela capacidade de ter amigos e amigas, e pelo fato de amarmos pais e familiares.
A interpretação do comportamento sexual, até determinada idade, se dá muito mais por parte dos
adultos, pois nas crianças não há uma compreensão de tudo o que implica as escolhas sexuais.
TEMA 2 – O CASO CLÍNICO DO PEQUENO HANS
Hans começou a desenvolver o temor de sair de casa, sendo que isso veio depois do nascimento
de sua irmã. Ao ser questionado sobre o motivo de ter medo de sair, o menino explicou que, na
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/14
verdade, tinha medo de que um cavalo o mordesse. O pai acreditava que esse comportamento
poderia ter se dado pelo excesso de amor da mãe pelo menino, ou por causa de sua excessiva
preocupação com pênis, ou mesmo pela possibilidade de ter visto alguém nu na rua, um tipo de
exibicionista. Segundo o pai, tudo começara quando Hans acorda chorando porque tinha tido um
pesadelo, sonhara que a mãe tinha ido embora e elenão a teria mais para acariciá-lo (ou seja, um
sonho de ansiedade). Depois, durante um passeio com a babá, começou a chorar e disse que queria
voltar para casa para ver a mamãe. Quando sua mãe o levou para passear, o menino começou a
chorar e disse que tinha medo de que um cavalo o mordesse. À noite, colocou a mão no pipi e a mãe
o advertiu, mas ele o fez mesmo assim e depois se desculpou. Esse é o início da fobia.
Quando o médico da família examinou o menino, concluiu que a ansiedade se devia apenas à
masturbação. No entanto, a extração de prazer pela masturbação (seja no adulto ou na criança) não
pode ser tirada como a causa em si de uma neurose, seja ela qual for. Freud (1909) combinou com o
pai que ele diria ao menino, usando o método da sugestão, que deveria esquecer os medos, que sua
mãe voltaria a levá-lo para a cama e que os seres femininos não tinham “pipi”. Hans aceitou as
informações, teve um breve período de calma e logo voltou a ter sua fobia.
Depois de um tempo, Hans deixa de acreditar que todos os cavalos poderiam morder, mas
apenas os brancos. Depois, perceberam que isso se relacionava com um dia no qual ele tentou
colocar a mão na boca de um cavalo branco e o pai de sua amiga disse que se colocasse a mão na
boca do cavalo, o cavalo morderia. Na mesma época, o pai esclareceu que não podia pôr a mão na
boca do cavalo, assim como não poderia colocar a mão no “pipi”, criando a associação entre as
proibições. Hans concordou com o pai que o seu medo se devia provavelmente ao hábito da
masturbação, mas a fobia não desaparece com isso, pois a causa estava ligada à fantasia de
castração, ou seja, o temor de perder os dedos estaria associada ao medo de perder o pênis. O
cavalo aqui comparece como animal totêmico. Quando Hans conhece Freud, o médico pede que o
menino desenhe um cavalo. Ao desenhar, o menino desenha um grande facho na boca desse cavalo,
que Freud associa na hora ao fato de o pai do menino ter um bigode, e lhe pergunta se o menino
tinha medo de seu pai ou achava que ele não gostava dele por também amar sua mãe. Hans
confirma, e aqui se apresenta uma ambivalência, no sentido de que o menino gostava de seu pai,
mas tinha medo de que ele pudesse ir embora por causa do desejo de querer ficar sozinho com a
mãe. O pai surge como um obstáculo na relação com a mãe, que levou ao desenvolvimento de uma
fobia, associada ao sentimento ambíguo de amor e medo desse pai. Freud também associa o medo
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/14
fóbico à visão do sangue que saíra da mãe no nascimento da irmã, além de suas hipóteses sobre o
coito (que ele traz no sonho da girafa grande e da girafa amarrotada que ele precisava tirar do local e
se sentar em cima, fazendo referência ao ato sexual dos pais e à necessidade de tirar a girafa
amarrotada – a mãe – debaixo da girafa grande e se sentar em cima como uma demonstração de
posse).
Hans depois passa a ter medo de cavalos que puxavam carroças, e dizia que tinha medo de que
a carroça fosse se desvincular do cavalo e quebrar. Essa associação era feita a uma área de depósito
na qual passavam cavalos com carroças e eles tinham que fazer um contorno para passar pelos
portões e sair. Aqui, Freud (1909) entende que a fobia evolui, como se ele entendesse que a mãe
estava se desvinculando dele e se aproximando do pai. Depois, Hans estabelece uma conexão entre
um encanador e a banheira da irmã, e com isso Freud conclui que a fobia estava se resolvendo, pois
Hans estava encontrando um lugar para si e compreendendo o contexto no qual se dava as relações
sexuais.
TEMA 3 – LEONARDO DA VINCI
Freud se detém no estudo da vida de Leonardo da Vinci para trabalhar o conceito das fantasias,
trazendo também um consistente estudo que depois daria as bases para a psicanálise da arte.
Leonardo da Vinci é uma figura única para a história. Viveu no século XV, foi cientista, inventor,
anatomista, pintor, dentre tantos outros. Segundo Freud (1910, p. 73): “Leonardo da Vinci (1452 –
1519) foi admirado, até mesmo pelos seus contemporâneos, como um dos maiores homens da
renascença italiana [...] Era um gênio universal, ‘cujos traços se podia apenas esboçar, mas nunca
definir’)”. Seus trabalhos mais conhecidos foram as pinturas de Monalisa e A última ceia, seu estudo
anatômico O homem vitruviano, além dos protótipos de helicóptero, tanque de guerra e da
calculadora. Sua vida afetiva era tratada com muita discrição, e nunca se soube ao certo se ele era
heterossexual, homossexual ou simplesmente desinteressado nas questões sexuais de modo geral, o
que acabou por criar especulações em diversos estudiosos como o próprio Freud.
Leonardo da Vinci teve uma vida desafiadora. Apreciava as coisas boas da vida, era um homem
eloquente e agradável, de belas feições e que sabia aproveitar a vida, segundo relato de
historiadores. No entanto, pouco compreendido por seus contemporâneos, que acreditavam que ele
desperdiçava o tempo criando projetos impossíveis de serem executados, sendo que ele poderia
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/14
dedicar melhor o tempo para a arte e para fazer fortuna com o talento que possuía para a pintura.
Depois que precisou sair da Itália e fugir para a França, seu talento foi diminuindo à medida que
vivenciava decepções.
Segundo Freud (1910), quando estudamos personagens como Leonardo da Vinci, nos
perguntamos como a questão da sexualidade se encaixa em sua vida, já que ela se apresenta de
maneira muito peculiar em comparação com as outras pessoas. Ao estudar os neuróticos, o autor
supõe que seu instinto de saber já tinha uma força excessiva e supremacia tal, desde a primeira
infância, que foi capaz de substituir uma grande parcela de sua vida sexual. Assim, “uma pessoa desse
tipo poderia, por exemplo, dedicar-se à pesquisa com o mesmo ardor com que uma outra se
dedicaria ao seu amor, e seria capaz de investigar em vez de amar” (Freud, 1910, p. 86). Ou seja, a
intensificação do desejo de saber substituiria de modo intenso o próprio desejo sexual e poderia,
desde a infância, substituir por completo os impulsos sexuais tão comuns, e essa atrofia se
completaria na vida adulta pelo impulso dominante do conhecimento e da arte. Para aqueles que já
tiveram um contato com pessoas excessivamente inteligentes e sagazes, a percepção sobre a
eventual falta de interesse delas nas questões sexuais, ou a presença de um interesse temporário,
muitas vezes gera dúvida sobre sua sexualidade devido a essa falta de interesse no sexual, que fica
canalizada quase que na totalidade na investigação e na necessidade de saber.
Assim, ao analisarmos essas crianças superinteligentes, Freud diz que a curiosidade infantil é
guiada pelo instinto supremo de investigar, seja referente às questões sexuais, seja referente a
qualquer outra questão que ela vivencie em seu cotidiano. Assim, a criança tem prazer em fazer
perguntas, e ela as faz de maneira repetitiva e para diferentes pessoas apenas para se certificar de
que as respostas são condizentes entre si e a ajudam a esclarecer o funcionamento do mundo. É
difícil e desafiador respondermos a todas as perguntas, e hoje inclusive nos deparamos com uma
quantidade infinita de desenhos infantis e programas dedicados a responder a cada uma dessas
perguntas, o que poderia esclarecer em partes a ligação quase que imediata que as crianças fazem
com a internet e com os programas infantis que podem ser assistidos na televisão.
A maioria das crianças, segundo Freud (1910), ou ao menos as crianças com intelecto dentro ou
acima da normalidade, passa pela fase das pesquisas sexuais infantis. Em geral, a curiosidade surge
por alguma experiência externa que ameaça seus interesses egoístas, como o nascimento de um
irmão ou irmã. Quando as crianças recebem respostas e não se satisfazem, passam elas mesmas a
investigar e ligar os fatos, criando assim suas hipóteses. Nessa fase, criam hipóteses inclusive sobreo
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/14
ato sexual, como algo violento e hostil. Quando a criança se sente fracassada em suas hipóteses, ela
abandona essa primeira tentativa de independência intelectual e desenvolve um caráter posterior
mais depressivo com relação à sua própria capacidade de inteligência, conectado à repressão sobre
poder falar desse tema. Quando então termina esse período de repressão, o impulso de pesquisa
pode ter três diferentes destinos: no primeiro, a pesquisa e o desejo de saber passa a participar do
destino da sexualidade, e pode ser recalcada pela influência religiosa na inibição do sexo (criando os
primórdios da neurose); no segundo, o desenvolvimento intelectual é forte o suficiente para resistir
ao recalque primário, prevenindo a própria repressão sexual, e retorna mais tarde sob o formato de
um desejo compulsivo de estudar e pesquisar, que pode inclusive substituir o ato sexual em si e
erotizar o próprio pensamento. O terceiro, mais raro, escapa tanto à inibição do pensamento quanto
à compulsão de saber, e ainda que o sexo esteja inibido, a libido não é recalcada, simplesmente
sublima desde suas origens para a curiosidade, e se fortalece com a maturidade. E esse terceiro é o
modelo que Freud acredita estar mais em sintonia com Leonardo.
Nesse sentido, responderia um pouco porque temos a impressão de que as crianças nos dias de
hoje parecem ser mais inteligentes que as crianças de gerações anteriores – ou seja, possivelmente as
primeiras hipóteses sexuais não foram frustradas, mas respondidas adequadamente, e essa tentativa
de independência intelectual passou a representar não uma frustração, mas um primeiro sucesso e
conexão de prazer com o aprendizado.
TEMA 4 – UMA REFLEXÃO SOBRE AS MEMÓRIAS DE LEONARDO
Segundo Strachey (1910), uma parte importante desse estudo foi a lembrança [ou fantasia] de
Leonardo de ter sido visitado por uma ave de rapina enquanto era um bebê, possivelmente um
abutre, que pousou no seu berço e colocou a cauda em sua boca. Freud associa, em um jogo de
palavras, o abutre com a mãe, e discute a figura materna com as mães-deusas andrógenas no Egito
antigo. Descreve Freud (1910, p. 90):
Parece que já era meu destino preocupar-me tão profundamente com abutres; pois guardo como
uma das minhas primeiras recordações que, estando em meu berço, um abutre desceu sobre mim,
abriu-me a boca com sua cauda e com ela fustigou-me repetidas vezes os lábios.
Essa foi uma recordação estranha de Leonardo da Vinci sobre sua infância. Do ponto de vista da
psicanálise, poderíamos inicialmente sugerir que essa cauda representa um pênis que foi introduzido
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/14
na boca do bebê, como uma fantasia homossexual passiva. No entanto, considerando que essa
recordação se origina de um período muito precoce, parece ser mais plausível acreditar que essa
recordação se assemelha à lembrança da experiência com o seio materno, com o ato de sugar.
Considerando que ambas as hipóteses estão interligadas, esclareceria que talvez a homossexualidade
não se trate do ato sexual em si, mas da atitude emocional envolvida.
Freud (1910) também associa a figura do abutre à figura da mãe, tal como os antigos egípcios
associam a figura materna aos abutres. Embora tenhamos em nossa sociedade uma associação
negativa com a figura do abutre, como um animal de rapina que simplesmente come animais mortos,
para muitas culturas ele tem um significado diferente. Para os egípcios, o abutre simboliza a mãe; em
muitas culturas, ele simboliza a conexão entre a vida e a morte, o renascimento e a paciência diante
de eventos desagradáveis da vida. Assim, ao rever a figura do abutre, Freud (1910) também interpreta
como a figura da mãe verdadeira de Leonardo que, sozinha e com poucos recursos, teve que cuidar
dessa criança e alimentá-lo. Inclusive, em alguns símbolos egípcios, é possível encontrar personagens
femininos com um pênis, como é o caso de Ísis e Hanthor (Freud, 1910). Não seria estranho supor
que, mais tarde, o interesse de Leonardo por pássaros tinha relação com seus próprios interesses
sexuais.
Aqui, Freud também traz a questão da homossexualidade de Leonardo no sentido de um pai
fraco e uma mãe forte que amava seu filho, provocando um retorno ao autoerotismo; com isso, os
rapazes que Leonardo escolhia mais tarde eram, na verdade, substitutos dele mesmo durante a
infância, “meninos que ele ama da maneira que sua mãe o amava quando ele era uma criança (Freud,
1910, p. 106), fazendo referência ao narcisismo e à figura de Narciso, o qual, segundo a lenda grega,
preferia sua imagem à de qualquer outra.
No entanto, na história há apenas indícios de uma sexualidade não transformada de Leonardo,
de uma predisposição homossexual. Leonardo apenas escolhia como discípulos homens belos,
mesmo que não tivessem nenhum talento, e cuidava deles como uma mãe cuidava de seus filhos.
Nenhum deles chegou a seguir os passos do mestre depois de sua morte, e nenhuma evidência foi
encontrada de que Leonardo tivesse qualquer relação sexual com algum deles.
Outra interpretação de Freud a esse trecho do abutre poderia ser pela possibilidade de sua mãe
biológica ter-lhe beijado na boca – associando com o trecho “e fustigou muitas vezes sua cauda
contra meus lábios” (Freud, 1910, p. 113). A relação sexual com essa mãe pode ser interpretada com a
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/14
obra Monalisa, no qual seu sorriso provoca efeitos fortes e controversos, pois ao mesmo tempo que
o sorriso de Monalisa parece terno e sedutor, também parece frio e opressivo, como se representasse
o contraste da vida erótica feminina, entre a reserva e a sedução, como uma sereia, que encanta e
destrói os homens que se apaixonam por ela. Assim, a Monalisa poderia ser interpretada como a
mulher ideal, concretizada e possuída por Leonardo, que em alguma instância poderia ter sido a
réplica de um sorriso que vira em sua mãe.
A questão da homossexualidade não esclarecida de Leonardo vinha com a mesma intensidade
com a questão de sua posição a respeito da religião. Embora Leonardo da Vinci tivesse sido
denunciado mais de uma vez por heresia, não deixava claro em nenhum momento qual era sua real
opinião sobre o Cristianismo. Alguns de seus trabalhos nos fazem concluir que ele talvez fosse
contrário ao beatismo e à santificação, pois em todos os seus quadros ele representa os apóstolos,
Jesus e Deus como figuras humanas, que tinham carne e osso e desprovidas de uma divindade
intrínseca. Em seus estudos sobre geologia, Leonardo pôs em dúvida a existência do dilúvio, e
durante sua vida sempre explicitou os erros contidos no relato da Criação. Isso, sem dúvida, o afastou
das questões religiosas, assim como já tinha se afastado das questões sexuais.
TEMA 5 – DUAS MENTIRAS CONTADAS POR CRIANÇAS
Freud (1913) traz nesse texto o relato de duas mentiras e como elas foram responsáveis pelo
desenvolvimento posterior de neurose. O autor comenta, aqui, que em geral as mentiras contadas
por crianças são apenas reproduções do comportamento de mentir por parte dos adultos, e por isso
devemos ter muita cautela quando tomamos a decisão de mentir – “faça o que eu falo, mas não faça
o que eu faço” talvez reproduza aqui a inconsistência que leva às crianças à angústia.
Na primeira história, a paciente conta que quando tinha sete anos pediu ao pai dinheiro para
comprar tinta para suas pinturas. O pai negou o pedido. Depois, a menina pediu dinheiro como
contribuição para a compra de uma coroa para um funeral, o pai lhe deu o dinheiro. Ela extraiu uma
parte do valor, fez a doação e depois comprou as tintas. No fim do dia, durante o jantar, seu pai lhe
perguntou o que havia feito com uma parte do dinheiro, ela fingiu não entender a pergunta, porém
seu irmão a delatou e contou ao pai que ela havia comprado as tintas. O pai a censurou e, depois doocorrido, ela deixou de ser uma criança feliz e brincalhona e passou a ser acanhada e tímida. Quando
adulta, ela noivou e, quando sua mãe decidiu comprar o enxoval, a moça sentiu raiva, e explicou esse
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/14
sentimento como se o dinheiro fosse dela e ninguém mais tivesse o direito de gastá-lo com qualquer
coisa. Depois, durante o casamento, a moça tinha dificuldade de pedir dinheiro ao marido, insistia
que precisava de uma separação entre o dinheiro dela e o dinheiro dele, e quando ele eventualmente
deixava de lhe dar algo, ela ficava sem nada e não tinha coragem de cobrar os valores. Freud (1913)
chegou a se oferecer para lhe dar dinheiro quando faltasse, mas ela não conseguiu pedir a ele, pois
não se sentia no direito de fazer essa espécie de pedido a um outro, fosse ele quem fosse. A moça
trouxe depois mais dois exemplos de experiências que teve quando criança e como se sentira na
relação com o dinheiro, mostrando a Freud uma dificuldade de lidar com o controle, e esse erotismo
anal mal resolvido representava sua dificuldade em lidar com a questão financeira, com o gastar e o
reter.
A segunda história conta sobre uma moça que se apresentava enferma, mas que tinha sido
outrora alguém saudável e feliz. Quando criança, conta que um dia um colega lhe disse que tiveram
gelo ao jantar, e ela replicou que eles tinham gelo todos os dias, pois não havia entendido o que o
colega queria dizer e interpretou o comentário como uma competição sobre o que cada um poderia
ter a seu dispor durante as refeições. Depois, recebeu o desafio de fazer um círculo perfeito, e em
segredo usou um compasso para fazer o círculo. Ao se gabar para um vizinho de seu círculo, a
professora a chamou e pediu que confessasse a mentira, mas a menina não o fez. Depois, a
professora conversou com o pai da menina e eles concluíram que ela apenas deveria ser
acompanhada para que não mentisse novamente. Nesse caso, assim como no anterior, a menina
amava o pai e queria vangloriá-lo, e o comportamento de exibição de poder e a mentira refletiam
esse amor que não poderia sofrer qualquer abalo.
Com isso, Freud conclui que as histórias das crianças não podem, em um primeiro momento, ser
interpretadas como reflexo do caráter das crianças, mas antes como a expressão de seus anseios e
que podem, caso sejam tratadas de forma inadequada, se tornar sintomas neuróticos.
NA PRÁTICA
A primeira proposta aqui é referente ao estudo do Pequeno Hans. No exemplo, trazemos aqui a
experiência com o desfralde das crianças. Alguns dos desafios que os pais recorrentemente
enfrentam com seus filhos são o desmame e o desfralde. No processo de amamentação, embora os
profissionais orientem que o seio seja oferecido somente enquanto a criança tem fome, é comum as
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/14
mães deixarem a criança permanecer um pouco mais como uma forma de reforçar o vínculo. Porém,
uma vez que a criança percebe o prazer do chuchar para além do processo de alimentação, a criança
anseia por ficar cada vez mais tempo nesse seio, em uma conexão escravizadora com a mãe. Algumas
mães, por dificuldade em cortar esse vínculo, acabam depositando a responsabilidade no outro para
interromper esse ciclo (no médico, no pai ou em algum problema externo), ou simplesmente buscam
argumentos científicos pouco embasados para justificar sua permissão em deixar a criança continuar
seu seio para além da nutrição. Inclusive, não é incomum que o abandono do seio acabe se dando
pela própria criança, quando se vê constrangida socialmente por manter o comportamento de
vínculo inadequado com a mãe.
Já o desfralde representa outro grande desafio na vida de pais e filhos. Pois a criança, para
aprender a ficar sem a fralda, precisa ser acompanhada de perto por seus pais até que seja capaz de
controlar seus esfíncteres por si mesma. Nas escolas com poucos recursos, é comum encontrarmos
crianças que ficam assadas porque não conseguiram tirar as fraldas, e seus professores não lhe
ajudam a trocar para ficarem limpas. Ocorre também que, porque a criança passou por uma
experiência desagradável de desfralde, ela precise segurar ao máximo a defecação, podendo até ficar
doente pela dificuldade de evacuar. Outra coisa que observamos com frequência são as crianças que,
durante o desfralde, descobrem que suas mães estão grávidas de novo. Quando têm essa
descoberta, boa parte regride e o desafio de desfralde precisa ser postergado até que a criança se
sinta confiante de novo para tentar tirar as fraldas.
O controle do xixi é adquirido mais rápido que o controle do cocô, talvez porque a criança urine
mais vezes, talvez porque o aprendizado da urina é acompanhado pela experiência de prazer e, uma
vez que a criança dessa idade também começa a se masturbar e se interessar pelos órgãos genitais, o
controle sobre esses órgãos também seja uma preocupação mais imediata que o controle anal. Os
meninos também costumam apresentar mais dificuldade em controlar as fezes que as meninas, em
partes talvez porque o ânus também represente um tabu na masculinidade, algo da ordem do
feminino que o menino também precisa lidar, diferentemente da menina.
Também ocorre de crianças desmamarem e desfraldarem sem qualquer dificuldade ou esforço
dos pais, mas embora muitos aleguem que tenham essa experiência com os filhos, o fato é que
poucos realmente experimentam dessa sorte.
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/14
FINALIZANDO
Na aula de hoje, apresentamos dois casos que foram precursores dos estudos sobre o
narcisismo, o complexo de Édipo e o complexo de castração, que foram o Pequeno Hans e o estudo
sobre Leonardo da Vinci. Embora os estudos sobre Leonardo sejam escassos, a ausência do desejo
pelo sexo representa um mistério e um tabu, explicado por Freud pela via da sublimação pelo
intelecto, e o narcisismo enquanto escolha de figuras (no caso, os pupilos de Leonardo) que apenas
refletissem a imagem de si mesmo e a figura da mãe esclarecem, em partes, como se dá a escolha
objetal quando não é feita apenas pelo genital complementar.
Esperamos que tenham aproveitado as discussões apresentadas aqui para conhecer um pouco
mais das origens da psicanálise, e convidamos a todos a continuar acompanhando as aulas para
saber mais sobre esse campo do saber tão envolvente como é a psicanálise.
REFERÊNCIAS
FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud
(1886-1899) – livro X, XI e XII. Rio de Janeiro: Imago, 1977.
GARCIA-ROZA, L. A. Introdução à metapsicologia freudiana. v. 1, v. 2 e v. 3.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2001. 552 p.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998. 874 p.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BIRMAN, J. Freud e a interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1991.
MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980. 350 p.
20/05/2023, 18:26 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/14

Outros materiais