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slides erlanio do 23 a 33

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1. DIRETRIZES, ESTRATÉGIAS E AÇÕES ANTERIORES AO CRIME: PREVENÇÃO
Em consonância com a Constituição (BRASIL, 1988, art. 5º, caput), “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade [...]”. No mesmo passo, o art. 144 preceitua que a segurança pública é “[...] dever do Estado, direito e responsabilidade de todos [...]”, devendo ser “[...] exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...]” (BRASIL, 1988, art. 144, caput).
Assim, embora tenha de respeitar os direitos da pessoa investigada ou acusada, o Estado possui o dever de proteção, por meio de:
planos políticos institucionais com diretrizes, 
estratégias e ações adequadas para esse fim(políticas eficientes voltadas para a prevenção de crimes), 
reduzir, ao máximo, a criminalidade;
instrumentos de ordem legislativa, executiva e judicial hábeis e eficazes.
O dever de proteção não é confiado unicamente ao Estado, mas, sim, a todos, sejam aos órgãos estatais, às pessoas jurídicas e até mesmo aos indivíduos, como está implícita no caput do art. 5º da Constituição e expressa, de forma cogente, no caput do art. 144, na parte em que preceitua ser a segurança pública “[...] dever do Estado, direito e responsabilidade de todos [...]” (BRASIL, 1988, artigos 5º e 144, caput). 
Essa tarefa deve ser desempenhada, em harmonia, pela União, como órgão central e formulador da política nacional, pelos Estados-membros e municípios, com o alinhamento dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Nesse particular, os municípios têm muito a contribuir, especialmente no que diz respeito a diversas medidas de ordem preventiva, com utilização da Guarda Municipal, por exemplo, para monitorar grupos de risco, como é o caso das mulheres sujeitas à violência de gênero.
O foco das políticas de segurança pública e criminal deve ser no sentido de direcionar as ações para o cumprimento com algum grau de eficiência do dever de proteção, priorizando o que mais aflige todo e qualquer cidadão brasileiro, que tem sido privado do direito de sentir-se em segurança.
Essa sensação de insegurança da sociedade emerge da criminalidade violenta, representada fundamentalmente pelos crimes de homicídio e roubo. De acordo com o Atlas da Violência publicado em 2019, no ano de 2017 houve 65.602 homicídios no Brasil, o que representa a taxa de 31,6 mortes para cada cem mil habitantes, a maior taxa histórica de letalidade violenta no País (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA; FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2019). 
Não raro, esses crimes são subprodutos dos delitos de tráfico de entorpecentes, negócio que, segundo dados da United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC, 2018)6 , promove uma arrecadação ao redor do mundo em torno de U$ 600 a U$ 800 bilhões de dólares ao ano. 
O crime organizado, que tem como base o tráfico ilícito de drogas e, de permeio, o contrabando de armas e a corrupção, movimenta no planeta cifras que representam três vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a ponto de transformar-se em um dos maiores empreendimentos financeiros do mundo. Estas considerações revelam que a preocupação em eliminar os ganhos financeiros com a comercialização de drogas ilícitas é tão ou mais importante quanto cuidar dos tipos penais pertinentes a essa modalidade de criminalidade. 
A finalidade do tráfico de entorpecentes é a obtenção de lucro. Ir para a prisão, mas conservar os ganhos financeiros da atividade ilícita, em certo sentido, compensa e serve para que a pessoa ou a organização que ela integra permaneça na criminalidade e tenha poder de liderança. 
Tem-se, portanto, que a diretriz geral da política criminal deve ter como foco:
 i) a criminalidade violenta; 
 ii) o tráfico ilícito de entorpecentes;
 iii) o crime organizado;
 iv) a corrupção. 
Mediante a adoção de estratégias e ações com suporte em dados e evidências, tendo como metas:
Reduzir os índices de violência;
 (b) Ampliar a sensação de segurança; 
(c) Diminuir a impunidade; 
(d) Difundir a cultura da paz.
Independentemente da discussão se no Brasil se prende muito ou pouco, uma verdade é incontestável: a população carcerária no Brasil, nos últimos anos, cresceu exponencialmente, como pode ser observado pelo gráfico a seguir. 
A população carcerária brasileira é formada prioritariamente por jovens, de 18 e 34 anos, o percentual é de 74%. Dado preocupante, pois conforme Gonçalves Júnior e Shikida (2013), quanto mais jovem alguém pratica um crime, maior é a possibilidade de ele voltar a reincidir. Veja-se o gráfico a seguir sobre a faixa etária dos presos: 
É necessário a implementação de políticas adequadas para a ressocialização, a fim de evitar que essas pessoas, quando saírem da prisão, voltem a praticar crimes e mesmo retornem para o sistema prisional. A uma superlotação no sistema carcerário, em 2016 o déficit de vagas no sistema prisional alcançou algo em torno de mais de 358.663 vagas e uma taxa de ocupação média de 197,4% em todo o País (INFOPEN, 2017).
 
Todavia, precisa-se investir em uma política de diminuição do encarceramento, por meio da organização de estrutura para o cumprimento de medidas e penas alternativas, de incentivos e cursos nas escolas da magistratura e do Ministério Público específicos para a maior aplicação dos institutos da transação, da suspensão condicional do processo e do acordo de não persecução criminal, mas conforme dados extraídos do BNMP2, as prisões estariam, em certa medida, conforme se observa do gráfico a seguir, 63,59% dos presos no sistema prisional dizem respeito aos crimes que mais impactam a sociedade brasileira (roubo, tráfico de drogas, homicídio) e que fazem o cidadão experimentar angustiante sentimento de medo e de sensação de impunidade.
Porém, um exame mais atento dos números denota uma situação diferente, levando à conclusão de que é preciso prender melhor. De acordo com os dados coletados em pesquisa de campo (2019), as pessoas presas pelo crime de tráfico de entorpecentes não são os grandes traficantes, mas, sim, quando não meras mulas, simples operários do tráfico, representados por jovens presos em flagrante, primários, integrantes da classe baixa, desempregados, negros ou pardos e com a defesa sendo realizada pela defensoria pública. 
Outro dado extremamente preocupante, que segue sendo um incentivo à criminalidade, é a impunidade. Segundo estimativas do Instituto Sou da Paz (2017), que apresentou dados para os estados do Pará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rondônia, São Paulo e Mato Grosso do Sul, a taxa de resolutividade de inquéritos policiais foi, em média, de 20,7%.
Muitos crimes não chegam a ser levados a julgamento simplesmente porque nos inquéritos policiais não se consegue, sequer, apontar alguém como o possível responsável pelo delito –, a taxa de extinção de punibilidade é inaceitável, principalmente quando se observa a situação do Rio Grande do Norte, em que dos 76% dos casos de extinção de punibilidade, 46% são devido à morte dos agentes apontados como autores dos delitos. 
A constatação é de que aqueles que praticam crimes de homicídio, pelo menos em sua maioria, possuem mais medo de morrer do que eventualmente de serem investigados, julgados ou presos. 
A uma grande disparidade em relação a condenações e desfechos das ações penais como mostra o quadro a seguir:

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