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‘’ 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 INTRODUÇÃO A NUTRIÇÃO FUNCIONAL ............................................... 3 2.1 Princípios básicos da nutrição funcional............................................... 8 3 NUTRIÇÃO FUNCIONAL E DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNTS) ..................................................................................... 10 4 ALIMENTAÇÃO E ATIVIDADE ESPORTIVA ............................................ 14 4.1 Substratos energéticos no exercício físico ......................................... 18 4.2 Aspectos nutricionais na atividade física ............................................ 23 5 SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS NA PRÁTICA ESPORTIVA ................ 31 5.1 Classes dos suplementos nutricionais................................................ 32 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 38 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro - quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 INTRODUÇÃO A NUTRIÇÃO FUNCIONAL Fonte: revistaabm.com.br A alimentação é uma das necessidades fundamentais do homem para manter- se vivo. Através da alimentação, nosso organismo recebe os nutrientes e as substâncias necessárias para a manutenção, o funcionamento e a diferenciação das células que o compõem. Os nutrientes e não nutrientes que ofertamos ao organismo influenciam a forma como as células funcionam, condicionando assim, nosso estado de saúde, uma vez que, dependendo dos hábitos, podemos dar-lhe proteção ou contribuir para o desenvolvimento de doenças. A nutrição funcional trabalha com a individualidade bioquímica e os efeitos dos alimentos no organismo de cada um, investigando, identificando e tratando a causa, para corrigir os distúrbios que provocam o desequilíbrio apresentado no organismo. Para isso, são utilizados como tratamento, alimentos que contenham alegações funcionais. Nutrição funcional A nutrição funcional surgiu para trazer equilíbrio ao organismo por meio da alimentação, com o intuito de prevenir e tratar doenças crônicas. Os desequilíbrios no organismo ocorrem devido à inadequada qualidade da alimentação, do ar poluído que 4 respiramos, da água que bebemos, da falta ou do excesso de exercícios físicos e das alterações emocionais que vivenciamos. Todas essas inadequações são avaliadas no contexto da individualidade genética. Por exemplo, uma pessoa é alérgica a determinada substância, mas a outra não é. Isso significa que cada organismo funciona conforme o nutriente que lhe é fornecido e processado, seja o nutriente bom ou ruim, equilibrado ou desequilibrado. Nossa tendência é ignorar as influências que o organismo recebe, embora sejamos afetados e regulados por inúmeros fatores, assim como a maré é afetada pela lua. Nosso organismo faz parte da natureza, e ela age na fisiologia dos organismos vivos. A cronobiologia explica que o ciclo de claro e escuro, ou seja, luz e escuridão, dia e noite, influencia na secreção hormonal humana, no comportamento alimentar, na atividade motora e cognitiva, na atividade celular e na temperatura corporal. Ciclos circadianos são aqueles que se repetem a cada 24 horas, aproximadamente, e que estão sob regulação do hipotálamo (do núcleo supraquiasmático, mais especificamente). É dessa área que partem informações que geram harmonia entre os sistemas e os relógios central e periféricos. Essa sincronia do ritmo circadiano, quando é interrompida, pode gerar distúrbios hormonais, de sono e psiquiátricos, como depressão, câncer e redução de qualidade de vida, além de facilitar a ocorrência de doenças metabólicas, como a obesidade (SAWAYA; LEANDRO; WAITZBERG, 2013). O exemplo usado com os ciclos circadianos reflete apenas uma das muitas ligações que temos com agentes que nem suspeitamos que influenciam nosso organismo. Se a luz, a escuridão e o ciclo de 24 horas conseguem interferir no funcionamento do corpo humano, não seria lógico pensar que alimentos e medicamentos, que são substâncias que ingerimos, se transformariam em partes do nosso corpo? Imagine o tamanho da influência dos nutrientes e das substâncias que ingerimos, nas células que, por sua vez, são as estruturas que formam o aparelho humano. O organismo humano é uma rede de infinitas conexões que se encontram entrelaçadas, umas interferindo nas outras. É como uma bicicleta, onde todas as peças devem estar bem encaixadas, lubrificadas e colocadas no local certo, para que o movimento seja adequado. O processo digestivo envolve as seguintes etapas: ingestão, digestão, absorção, transporte, utilização e excreção. As células do intestino, chamadas de 5 enterócitos, se renovam a cada 4 ou 5 dias, o que ressalta o quanto a alimentação é importante, pois ela é capaz de mudar todo o perfil da microbiota intestinal, podendo até torná-la mais permeável constantemente. Além disso, “os nutrientes e compostos bioativos dos alimentos são capazes de modular a expressão gênica e, da mesma forma, características genéticas podem influenciar na forma pela qual se responde à alimentação” (SAWAYA; LEANDRO; WAITZBERG, 2013, p. 285). Sawaya, Leandro e Waitzberg, evidenciam a importância da alimentação adequada ao apontarem que: […] em um estudo sobre investigação genética, verificou-se em mulheres que não apresentavam uma variação genética específica necessária à formação de HDL, que o maior consumo de ácidos graxos poli-insaturados foi inversamente associado com as concentrações de HDL, enquanto efeito contrário foi verificado nas mulheres que apresentavam tal polimorfismo. Esse estudo mostra que os indivíduos podem responder de formas distintas a uma mesma intervenção nutricional e que, muitas vezes, o maior consumo de determinado nutriente, considerado benéfico à saúde a priori, pode ter, inclusive, efeitos deletérios (SAWAYA; LEANDRO; WAITZBERG, 2013, p. 287). Você pode perceber, então, como são necessários o estudo e a análise do paciente em seus aspectos genéticos e metabólicos, assim como de tudo o que possa causar alterações em seu organismo, pois, só assim será possível prescrever um plano alimentar personalizado, que atenda, corrija e previna os desequilíbrios fisiológicos e bioquímicos do organismo. Dessa forma, a nutrição funcional pode ser compreendida como o estudo da relação entre os vários sistemas do organismo, reconhecendo que existem vários fatores que influenciam no desequilíbrio do estado de saúde do indivíduo, trabalhando, a partir disso, na prevenção e no tratamento, bem como corrigindo os desequilíbrios que geram doenças, utilizando alimentos funcionais como terapia. A diferença entre nutrição funcional e nutrição tradicional A nutrição é a área da saúde que estuda o comportamento dos nutrientes como agentesfundamentais para a saúde do organismo humano. Conforme a resolução CFN nº 600, de 25 de fevereiro de 2018, existem várias áreas de atuação na nutrição, entre as quais estão: ✓ Nutrição em Alimentação Coletiva. 6 ✓ Nutrição Clínica. ✓ Nutrição em Esportes e Exercício Físico. ✓ Nutrição em Saúde Coletiva. ✓ Nutrição na Cadeia de Produção, na Indústria e no Comércio de Alimentos. ✓ Nutrição no Ensino, na Pesquisa e na Extensão. Na nutrição clínica, seja no atendimento de home care, personal diet, nutrição hospitalar ou atendimento ambulatorial, são seguidos padrões e protocolos baseados em comprovações científicas sobre o benefício da ingestão de nutrientes necessários para a manutenção da saúde. Geralmente, são seguidas as recomendações da pirâmide alimentar, o porcionamento recomendado de grupos alimentares e a contagem de calorias. A avaliação de exames também é muito empregada, como exames bioquímicos, avaliação antropométrica e clínica, hábitos alimentares e história familiar. Na nutrição funcional, também não são conduzidas abordagens aleatórias, sendo essa uma área com embasamento científico e profundo conhecimento da fisiologia e bioquímica do organismo. Ela realiza uma abordagem individualizada do paciente, envolvendo estudos da nutrigenômica, assim como a capacidade de nutrientes e compostos bioativos agirem em alvos fisiológicos. Cada indivíduo, por exemplo, pode ser entendido como uma parte do mundo, mas também como um país com características que o diferenciam de outros. A rota para navegar nesse “mapa”, que é o corpo humano, deve ser escolhida de acordo com as características geográficas do país, isto é, do paciente atendido. O Institute for Functional Medicine (2017), faz uma analogia interessante sobre os princípios e a forma de ser aplicada a nutrição funcional, realizando assim, uma comparação entre a nutrição funcional e uma árvore. Na medicina funcional, os fatores mais importantes e examinamos em primeiro lugar ao coletar informações sobre o paciente, relacionam-se ao estilo de vida, tais como sono, exercício, nutrição, níveis de estresse, relações e genética, que podem ser vistos como as raízes e o solo de uma árvore. Essas partes, por sua vez, são influenciadas por fatores predisponentes específicos (antecedentes), eventos discretos (desencadeadores) e processos fisiológicos em andamento (mediadores), 7 podendo resultar em desequilíbrios fundamentais no tronco. Tais desequilíbrios são capazes de gerar sinais e sintomas diagnosticáveis, ou seja, a doença, passa a ser representada pelos ramos e pelas folhas. (Figura 1). Figura 1 - A árvore da medicina funcional Fonte: Adaptado de Haiat (2016) 8 A medicina convencional tende a olhar para os sintomas em primeiro lugar (ramos e folhas), o que costuma resultar em um diagnóstico, que muitas vezes, está associado a uma substância que pode ser prescrita para tratar os sintomas, e assim se resolve o problema. No entanto, essa abordagem negligencia os aspectos mais fundamentais da saúde e que residem nas raízes e no tronco da árvore. Além disso, ela trata da mesma forma todos os pacientes que apresentam sintomas semelhantes e desconsidera as diferenças inerentes entre os pacientes, assim como a abundância de possíveis causas que uma “doença” pode ter (THE INSTITUTE OF FUNCTIONAL MEDICINE,2017). 2.1 Princípios básicos da nutrição funcional De acordo com Carnauba (2018, p. 29), pode-se dizer que a nutrição funcional tem cinco princípios básicos, os quais são: Individualidade bioquímica — cada organismo recebe e reage a um nutriente particularmente, sendo que a genética interage com a alimentação e o ambiente. Isso determinará quais alimentos funcionais serão benéficos ou maléficos ao organismo, bem como as necessidades e carências específicas. Tratamento centrado no paciente — conhecendo a individualidade bioquímica, pode-se traçar o tratamento mais adequado a cada indivíduo, considerando sempre os fatores genéticos, ambientais e emocionais que o cercam. Equilíbrio nutricional e biodisponibilidade de nutrientes — é importante que a oferta de nutrientes seja realizada em quantidades adequadas e em equilíbrio, para haver otimização da absorção e o aproveitamento pelas células. Inter-relações em teia de fatores fisiológicos — todas as funções do organismo estão interligadas, assim, para o adequado funcionamento, tais funções devem estar em equilíbrio. O desequilíbrio é a situação que pode causar doenças crônicas. Saúde como vitalidade positiva — o estado de saúde é o equilíbrio físico, emocional e ambiental. 9 Classificação Os alimentos e ingredientes funcionais podem ser classificados de dois modos: ✓ quanto à fonte (se de origem vegetal ou animal); ✓ quanto aos benefícios que oferecem. Além disso, os alimentos e ingredientes funcionais atuam em seis áreas do organismo: ✓ no sistema gastrintestinal; ✓ no sistema cardiovascular; ✓ no metabolismo de substratos; ✓ no crescimento, no desenvolvimento e na diferenciação celular; ✓ no comportamento das funções fisiológicas; ✓ como antioxidantes. Uma grande variedade de produtos tem sido caracterizada como alimentos funcionais, por incluir componentes que podem afetar várias funções no organismo, sendo relevantes para a saúde e para a redução do risco de doenças. Essa classe de compostos pertence à nutrição e não à farmacologia, merecendo uma categoria própria, diferenciando-se dos suplementos alimentares. Sendo assim, seu papel em relação às doenças estará, geralmente, concentrado mais na redução dos riscos. Os alimentos funcionais devem apresentam as seguintes características: ✓ ser alimentos convencionais e consumidos na dieta normal/usual; ✓ ser constituído por componentes naturais — às vezes em elevada concentração ou presentes em alimentos que normalmente não os supririam; ✓ ter efeitos positivos além do valor básico nutritivo, o que pode aumentar o bem- estar e a saúde e/ou reduzir o risco de doenças, promovendo benefícios à saúde, além de aumentar a qualidade de vida, incluindo os desempenhos físico, psicológico e comportamental; ✓ ter embasamento científico na alegação da propriedade funcional; ✓ ser um alimento natural ou um alimento em que um componente tenha sido removido; 10 ✓ ser um alimento onde a natureza de um ou mais componentes tenha sido modificada; ✓ ser um alimento onde a bioatividade de um ou mais componentes tenha sido modificada. Tendo o conhecimento de que o equilíbrio do organismo de cada indivíduo, através dos alimentos funcionais, é um dos meios de ser saudável, o conceito de contagem de calorias perdeu o sentido. A qualidade e a quantidade dos alimentos e nutrientes passou a se destacar como meio de proteger o organismo de toxinas ambientais, as quais predispõem as pessoas às doenças crônicas, como obesidade e outras desordens metabólicas. Não é contando as calorias ingeridas que se perde peso, mas equilibrando os nutrientes ingeridos, em qualidade e quantidade. É assim que funciona a relação entre nutrição funcional e doenças crônicas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis já são responsáveis por 72% das mortes ocorridas no Brasil, sendo que, no mundo, esse valor corresponde a 60%. A OMS acredita que 80% dos problemas prematuros do coração, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes tipo II, além de 40% dos casos de câncer, poderiam ser evitados se as pessoas corrigissem seus hábitos alimentares, reduzissem o uso de tabaco e praticassem uma atividade física regularmente (BRASIL, 2011). 3 NUTRIÇÃO FUNCIONAL E DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS (DCNTS) As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) são responsáveis pelas altas taxas de morbimortalidade no Brasil e no mundo. Assim, identificar a alta incidência de mortalidadee fatores de risco semelhantes em doenças crônicas é fundamental para que a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolva estratégias de prevenção para lidar com as DCNTs. Os fatores de risco para o desenvolvimento de DCNTs incluem questões sociais, que podem estar associados a fatores de riscos que podem ser modificados, como por exemplo, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e alimentação inadequada. 11 A prevenção das DCNTs começa com a correção dos fatores de risco modificáveis, podendo ser feita em qualquer fase da vida, considerando que o principal fator de risco a ser alterado é a alimentação inadequada. Deve-se reforçar a recomendação quanto ao padrão alimentar, baseado em uma nutrição equilibrada, sempre reconhecendo e respeitando a cultura pessoal, preconizando hábitos alimentares razoáveis e colaborando para garantir a segurança alimentar e nutricional. Uma alimentação nutricionalmente equilibrada deve basear-se principalmente no consumo de produtos naturais que forneçam à dieta quantidades elevadas de vitaminas e minerais, podendo ser complementada com alimentos funcionais que possuem benefícios fisiológicos e/ou reduzem o risco de DCNTs, somada a suas funções nutricionais. Sendo assim, entre os benefícios da alimentação adequada estão a redução de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, obesidade, osteoporose e outras DCNTs. Importante ressaltar que a incidência dessas doenças aumenta à medida que o sujeito envelhece, assim, pode-se dizer que o envelhecimento e a longevidade também possuem uma intima relação com a nutrição, considerando que a incidência das DCNTs pode ser reduzida com uma alimentação balanceada. Como o organismo passa por ajustes quando o metabolismo fica mais lento, os alimentos funcionais parecem ser o equilíbrio perfeito no processo de envelhecimento saudável, podendo retardar o aparecimento ou agravamento de doenças. Vários estudos (TODT; CISNEIRO, 2020; PALMA, 2020), têm sido feitos para comprovar as propriedades benéficas dos alimentos funcionais na prevenção de doenças, como por exemplo, a diarreia causada por desequilíbrio da flora microbiótica, as enfermidades inflamatórias do intestino, o eczema atópico, entre outras. Além disso, foi comprovado cientificamente (TODT; CISNEIRO, 2020; PALMA, 2020), que o consumo de alimentos funcionais, previne a degeneração do organismo, a partir da ingestão de frutas, verduras e grãos, tanto in natura, com propriedades fitoquímicas, quanto seus derivados processados, que também podem apresentar propriedades terapêuticas. O mercado de alimentos funcionais está crescendo em todo o mundo, uma vez que se buscam, constantemente, ingredientes e produtos inovadores com características funcionais, tecnológicas e fisiológicas. Assim, o consumo de alimentos 12 funcionais tornou-se um fator essencial para desenvolver qualidade de vida, não apenas para a nutrição básica do organismo, mas também para a melhora dos efeitos metabólicos e fisiológicos, prevenindo o agravo causado por doenças e promovendo a saúde do indivíduo. Nesse sentido, o uso de alimentos funcionais na redução de riscos de DCNTs vem motivando o desenvolvimento de novas pesquisas com a finalidade de esclarecer os efeitos benéficos dos elementos fitoquímicos ou compostos bioativos das dietas. Por isso, alguns alimentos e compostos são considerados, por vários pesquisadores no mundo, como funcionais e benéficos na prevenção de doenças. Embora esses alimentos e compostos não sejam registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pesquisas e experimentos tem evidenciado a eficácia dos mesmos. Alguns desses compostos são: Nutrição funcional como coadjuvante no tratamento das doenças crônicas não transmissíveis Diversos alimentos funcionais, como peixes, vinho, soja, tomate, alho e hortaliças, já têm comprovação científica, e muitos outros estão sendo pesquisados a respeito de seus atributos, por apresentarem características que geram melhoria na qualidade de vida, promovendo auxílio na prevenção de doenças como hipertensão e diabetes, assim como na manutenção da saúde de uma forma geral. No caso da obesidade, a qual é uma das doenças crônicas mais prevalentes e que está associada a maioria das demais DCNTs, a nutrição funcional tem papel 13 essencial em seu tratamento, já que, por meio de diferentes alimentos anti- inflamatórios, poderá modular o estado de inflamação crônica. Importante mencionar, que na Nutrição, a obesidade se dá quando o equilíbrio entre calorias ingeridas e calorias gastas é ultrapassado, ou seja, são envolvidos fatores metabólicos complexos que podem ser influenciados diretamente por alimentos, nutrientes e compostos bioativos. Além do aspecto inflamatório, outros fatores estão relacionados a etiologia da obesidade, incluindo alteração da saúde intestinal, desequilíbrios imunológicos, problemas de destoxificação hepática, desequilíbrio de micronutrientes e desordens hormonais, estando todos esses agentes relacionados diretamente a qualidade da alimentação do indivíduo. Portanto, considerando que a alimentação correta é muito importante para evitar os desequilíbrios no organismo, bem como as sobrecargas ao sistema imunológico e deficiências no metabolismo, a nutrição funcional está fortemente envolvida em tratamentos de variados distúrbios metabólicos e em diversas áreas, como o setor esportivo, incluindo academias, clubes e atletas individualmente, hospitais e, até mesmo, orientações às gestantes. Mas cuidado! Esses alimentos não devem ser confundidos com “alimentos mágicos” ou com medicamentos tradicionais. Por fazerem parte de uma área de estudo ainda considerada nova, é preciso mais pesquisas sobre as substâncias biologicamente ativas contidas nesses alimentos, pois, assim, será possível determinar seus efeitos benéficos com mais segurança, além de quantificar as doses máximas e mínimas que podem ser ingeridas pela população. Dessa forma, pode-se oferecer eficácia com o mínimo de riscos de toxicidade, sempre avaliando os efeitos colaterais através do uso prolongado. 14 4 ALIMENTAÇÃO E ATIVIDADE ESPORTIVA A prática de atividade física de maneira regular pode ser altamente benéfica para a qualidade vida e o estado de saúde das pessoas. Entretanto, não é garantido que um indivíduo ativo fisicamente tenha um organismo equilibrado em termos metabólicos. Saiba que o esforço físico ocasiona alterações fisiológicas e nutricionais, que podem levar o atleta, ou o praticante de atividade física, ao limite entre a saúde e o estado patológico, caso não aconteça uma adequada compensação desses eventos. Desta forma, é preciso ter cuidado especial quanto às práticas alimentares na atividade física para que seus efeitos benéficos à saúde sejam atingidos. Benefícios da atividade física Você sabe o que significa o termo aptidão física? É a capacidade de realizar atividades físicas moderadas a vigorosas sem apresentar excesso de fadiga. Agora, sabe qual é sua importância? Ele tem efeito específico sobre a forma de aproveitamento da gordura corporal para o fornecimento de energia, especialmente em atividades com duração a partir de 20 minutos. Além deste efeito sobre a mobilização de energia a partir do tecido adiposo, são considerados outros benefícios da atividade física: melhora da função cardíaca, melhora na qualidade do sono, modificação na composição corporal (redução de gordura e aumento de massa muscular), e diminuição do risco de lesões. Além disso, a prática de atividade física pode diminuir o nível de estresse, melhorar os níveis pressóricos, aumentar o HDL colesterol, estabilizar a glicemia e otimizar a função imunológica. Na Figura 2, estão listados os principais benefícios da atividade física: 15 Figura 2 – Benefícios da atividade físicaFonte: Wardlaw e Smith, 2013. Conforme você viu, a prática de exercícios é indicada para a manutenção da saúde e prevenção de agravos, e deve ser realizada da maneira correta e sob a orientação profissional específica, ou seja, de um Educador Físico. Dessa forma, entende-se que a prática de qualquer atividade física é positiva, visto que o simples fato de manter o corpo em movimento traz benefícios à saúde, envolvendo atividades que podem ser realizadas em ambientes abertos, mais acessíveis e com companhia, como parques, clubes, pistas de caminhada e até mesmo em casa. 16 Influência da alimentação na prática esportiva Sabe-se que a representatividade da nutrição no desempenho e na condição de saúde de atletas e esportistas já se encontra muito bem documentada na literatura mundial, uma vez que a alimentação prepara o organismo para o esforço, fornecendo os nutrientes necessários, que irão variar de acordo com o tipo de exercício e o objetivo que se pretende alcançar como, por exemplo, perda de peso ou ganho de massa muscular. Além disso, entende-se também que a atividade física pode ocasionar alterações no metabolismo (digestão, absorção e excreção) de nutrientes e em decorrência disso, as necessidades de nutrientes específicos podem ser afetadas conforme as demandas fisiológicas, em resposta ao esforço. Sendo assim, a alimentação deve levar em consideração, variáveis, como a necessidade nutricional do indivíduo, de acordo com a composição corporal, com o seu objetivo e com o gasto energético no esporte praticado. Em contrapartida, práticas alimentares inadequadas podem resultar em fornecimento insuficiente de nutrientes importantes relacionados ao metabolismo energético, à reparação tecidual, ao sistema antioxidante e à resposta imunológica. É importante que você saiba, que alimentos contendo agentes anti-inflamatórios como açafrão, gengibre, frutas vermelhas, cenoura, alho e cebola, são importantes, pois a inflamação é um dos principais causadores de lesões e do desenvolvimento de doenças em atletas e praticantes de atividade física. A hidratação também faz parte de uma nutrição adequada, já que a reposição insuficiente pode trazer consequências desagradáveis, entre elas a diminuição da força muscular, o aumento do risco de cãibras e a hipertermia, com consequente queda no desempenho. Portanto, você deve saber que a prática esportiva regular será benéfica somente se aliada a uma alimentação nutricionalmente adequada, que forneça ao organismo energia e nutrientes em quantidade e qualidade suficientes às suas demandas. 17 Sempre quando a relação entre a atividade física e as práticas alimentares é abordada, é importante você diferenciar atletas de pessoas fisicamente ativas. Atletas são esportistas profissionais que se submetem a uma carga intensa em seus treinamentos diários, tendo, em função disso, modificações importantes no metabolismo e aumento significativo em suas demandas nutricionais. Como característica, o esporte é uma atividade sistematizada, que tem por objetivo a competição, possuindo regras universais que precisam ser seguidas. Já as pessoas fisicamente ativas são aquelas que buscam na prática de atividades físicas, a promoção da saúde, a qualidade de vida e o bem-estar. Entenda que a atividade física é qualquer movimento feito voluntariamente, que tenha um custo calórico maior do que o repouso. Ela pode ser profissional, doméstica ou de lazer. Já o exercício é a atividade física realizada de maneira organizada, repetitivamente visando manter ou melhorar a força, a flexibilidade, a coordenação motora e o equilíbrio. Apesar de ter certo gasto calórico, atividades como lavar a louça, varrer a casa, entre outras, não são suficientes para tornar uma pessoa fisicamente ativa. Assim, para ser considerado fisicamente ativo, o indivíduo precisa realizar 30 minutos diários ou 150 minutos semanais de exercícios físicos, de maneira sistemática. Muitas pessoas praticam atividade física em jejum, principalmente com o objetivo de elevar a queima de gordura. Durante o jejum, de fato, a gordura é disponibilizada para a queima e fornecimento de energia. Porém, este processo metabólico é um tanto limitado e, a partir de certo momento, que depende do tipo de 18 atividade, intensidade e tempo, o organismo começa a utilizar as reservas proteicas (massa magra) com o propósito do fornecimento de energia. Acrescido a este fato, durante o jejum, há uma redução nos níveis de glicose sanguínea, fazendo com que o organismo entenda que há uma deficiência de carboidrato e se previna, poupando a retirada de glicose do sangue pelos tecidos, provocando uma elevação continuada na glicemia e, com isso, pode-se aumentar o risco para o desenvolvimento de Diabetes tipo 2. Além disso, o estado de jejum sistemático pode provocar aumento no acúmulo de gordura, pois recebendo alimento poucas vezes ao dia, o organismo estoca energia para os períodos de fome. Durante a atividade física, a falta de alimentos pode provocar um impacto ainda maior: desânimo, indisposição, visão turva e cansaço, sintomas esses que acarretam prejuízos à prática da atividade. Desta forma, fazer refeições com intervalos regulares, em quantidades suficientes e com alimentos variados, mantém o metabolismo funcionando de maneira adequada e contribui para o atingimento e manutenção de um bom condicionamento físico. 4.1 Substratos energéticos no exercício físico Qualquer atividade física exige contração muscular para gerar movimento, em maior ou menor escala e, para que os músculos possam se contrair, torna-se necessário um dispêndio de energia. Você sabia que a base fisiológica e nutricional aplicada à atividade física é exatamente a mesma, tanto para atletas quanto aos praticantes de atividade física, sendo a intensidade e a duração da atividade quem concretizarão a diferença e determinarão os cuidados específicos? Perceba, então, que é a contração muscular que inicia o processo de solicitação de energia aos músculos e, a partir das reservas corporais, esta energia é liberada por processos oxidativos dos macronutrientes (carboidratos, lipídeos e proteínas) para gerar ATP (adenosina-trifosfato). Cada sistema de fornecimento de energia é específico para atender as demandas de um tipo de atividade física, entretanto, não há ausência ou exclusividade de um destes sistemas, já que ambos se completam e contribuem de maneira sequencial para atender às demandas energéticas do exercício físico. Assim, ao longo 19 da atividade física, as células musculares consomem energia, que podem ser provenientes de diferentes fontes, dependendo do tipo, duração e intensidade do exercício. No Quadro 1 temos o resumo: Quadro 1 – Substratos energéticos utilizados pelas células musculares Fonte: Wardlaw e Smith, 2013. ATP ATP é uma sigla utilizada para se referir à adenosina trifosfato (ou trifosfato de adenosina), a qual corresponde a nossa principal forma de energia química. O ATP tem sua molécula constituída por uma base nitrogenada adenina, uma ribose e três 20 grupos de fosfato. Na célula, o ATP se torna fundamental, pois ele fornece a energia livre que elas necessitam para que possam realizar as suas atividades. Nesse sentido, o ATP é responsável por manter a homeostase celular, garantindo assim a realização dos diversos processos fundamentais para o seu funcionamento, apresentando-se como uma moeda de energia no organismo, pois é responsável pela contração muscular. Além disso, ele também pode doar um grupo de fosfato para outras moléculas, ou seja, fosforilar. Uma única molécula de ATP contém carga energética suficiente para realizar um único movimento de força, isto é, um movimento de pontes cruzadas nas estruturas musculares esqueléticas. A energia em forma de ATP nos músculos é produzidae utilizada para a contração por meio dos sistemas bioquímicos: anaeróbio alático (ATP-CP), que é conhecido como o sistema imediato de contração muscular em que o exercício é realizado em uma velocidade rápida em alta intensidade, anaeróbio lático, que é conhecido pelos exercícios de média duração de intensidade moderada, e aeróbio, que é conhecido por ter uma longa duração e ter velocidade e intensidade moderadas. Sistema anaeróbio alático (ATP-CP) A célula muscular tem uma quantidade de ATP que pode ser utilizada de forma imediata, resultando na quebra do ATP em adenosina difosfato (ADP) + fosfato inorgânico (Pi). A quebra dessa ligação entre os fosfatos ligados à adenosina gera a energia que é utilizada pelo músculo. No entanto, essa reserva de ATP muscular é pequena e, somente ela, não seria suficiente para manter a demanda energética de uma atividade intensa, pois logo ocorreria a desfosforilação de todo o ATP estocado, restando apenas ADP. No entanto, as células musculares têm uma reserva energética de fosfato diferente. Elas contêm um composto de fosfato que tem muita energia, conhecido como fosfocreatina (CP), que nada mais é do que uma creatina ligada a um fosfato. O fosfato é extraído da fosfocreatina por meio de uma enzima chamada creatina fosfoquinase. Esse fosfato é transferido para o ADP para que se possa ser produzido o ATP. Esse sistema pode suprir as necessidades energéticas da musculatura em atividades de curta duração e com grande intensidade e velocidade. Além disso, esse 21 sistema é caracterizado por não necessitar de oxigênio e embora tenha uma limitada quantidade de ATP produzido, a sua velocidade de síntese do ATP é muito alta. Sistema anaeróbio lático O sistema anaeróbio lático fornece uma fonte rápida de energia para o organismo por meio da glicólise. Esta, por sua vez, é a segunda fonte utilizada para sustentar as atividades físicas que são realizadas em alta intensidade, ficando atrás apenas da rota anaeróbica alática da reação ATP-CP. Assim, o metabolismo anaeróbico lático é utilizado predominantemente em atividades de alta intensidade, conseguindo manter tal produção de energia por aproximadamente 2 a 3 minutos. O principal fator que limita a capacidade do sistema é o acúmulo de lactato. Quanto maior a capacidade do organismo de resistir ao ácido lático, maior será a intensidade apreendida na atividade física. A glicólise é uma etapa anaeróbia da respiração celular, que acontece no citosol e envolve 10 reações químicas diferentes dentro da célula. É nessas reações que ocorre a quebra da molécula de glicose, que tem como produto duas moléculas de ATP. Esse processo se inicia quando são adicionados dois fosfatos originários de duas moléculas de ATP à molécula de glicose para que ela seja ativada. Esse processo é chamado de fosforilação, assim, a glicose é convertida em glicose-6- fosfato. Na sequência, esse composto sofre mudanças estruturais que, por fim, originam frutose-6-fosfato e, posteriormente, frutose-1,6-bifosfato. Após essas alterações, as substâncias são quebradas em moléculas menores mais facilmente. Ainda nesse processo ocorre a entrada de fosfato na molécula e a desidrogenação (retirada de hidrogênios) das substâncias que são produzidas, com a utilização da molécula NAD. Desse modo, os elétrons dos hidrogênios migram para a cadeia respiratória. Nesse processo, na forma de NADH, é realizado o transporte dos hidrogênios, sendo assim, a NAD é a molécula receptora de elétrons. Um novo rearranjo ocorre nas moléculas até que, após a décima e última reação enzimática, o produto final da glicólise são duas moléculas de piruvato que seguirão para as etapas seguintes da respiração celular. 22 Ao final desse processo glicolítico, o piruvato pode ser direcionado para o sistema aeróbico, onde um transportador de membrana da mitocôndria (MCT) fará o transporte dessa molécula para o interior da mitocôndria, onde será realizado o processo de obtenção de energia, caracterizando assim a glicólise aeróbica. Ou ainda, caso esse piruvato não seja transportado pelos (MCTs), o mesmo acaba acumulado no citoplasma, onde sofre a ação da enzima lactato desidrogenase (LDH) responsável por converter a molécula de piruvato em lactato. Esse lactato pode servir como um substrato para a síntese de glicose por meio da glicogênese, que é uma síntese da glicose a partir de novas substâncias. Esse processo ocorre no que se chama de ciclo de Cori, o qual no fígado, converte a glicose em lactato produzido nos tecidos musculares durante o período em que o organismo tem deficiência de oxigênio, e posteriormente, converte o lactato em glicose. Nesse momento e nesse sistema, o lactato vem servir como um tampão muscular, e não como um substrato responsável pela fadiga muscular. O lactato ainda pode gerar uma hiperacidez nos músculos e isso pode vir a causar dor e desconforto após a realização das atividades físicas de longa duração, como uma maratona, porém é importante mencionar que a maratona é uma atividade com predominância no sistema aeróbio. Esse processo ocorre por conta da produção e do acúmulo do lactato de forma acelerada, pois o indivíduo, quando realiza atividades físicas de forma intensa e as células musculares têm dificuldades de atender às demandas de forma aeróbica, tem limitações para que o lactato seja oxidado no mesmo ritmo em que é produzido. Ao ser mensurada na corrente sanguínea a quantidade de lactato presente, pode-se avaliar a acidose metabólica da atividade física no organismo do indivíduo, lembrando sempre que o organismo de cada indivíduo reage de um modo diferente. A mensuração ocorre em um teste semelhante ao da glicemia em jejum. Assim, a quantidade de lactato no organismo proporciona que se avalie a intensidade do exercício. Como se pode perceber no ATP-CP e no sistema lático, não há a utilização do oxigênio para a produção de energia, porém, é perceptível que em algumas atividades físicas os indivíduos têm uma reação chamada de hiperventilação (respirar muito 23 rápido e buscar muito ar). Então, há um sistema de energia que utiliza o oxigênio como fator importante para a produção energética. Esse sistema é o aeróbio. Sistema aeróbio O sistema energético aeróbio é caracterizado pela predominância do oxigênio para a produção de energia e ele pode produzi-la de duas formas. A primeira trata-se da glicólise, que é quando o substrato utilizado para a produção de energia é o carboidrato e esse processo é chamado de glicólise aeróbica. A segunda é quando o substrato utilizado para a produção de energia é a gordura e, nesse sentido, o processo recebe o nome de lipólise. Quando se realiza uma atividade física, depois de três minutos o organismo já é capaz obter energia pela via oxidativa, pois a energia formada nas fases dos sistemas ATP-CP e anaeróbio alático já foi utilizada pelo organismo para a realização das atividades. Nesse momento, o ATP é formado na mitocôndria com a presença de oxigênio por meio da oxidação dos carboidratos, dos lipídios e das proteínas que estão presentes no musculo ou na corrente sanguínea. 4.2 Aspectos nutricionais na atividade física Você sabia que a alimentação adequada é uma grande aliada tanto para atletas quanto para pessoas fisicamente ativas? Entretanto, é importante salientar que as estratégias e objetivos nutricionais são específicos para cada um destes. Em ambos os casos, deve-se verificar os cuidados alimentares, pois eles devem englobar não apenas a melhora da performance durantes os treinamentos e as competições, mas também a reposição das perdas de diversos nutrientes que ocorrem durante os exercícios. Desta forma, lembre-se que praticantes de atividade física não podem ter como padrão de referência a alimentação indicada para atletas profissionais, e vice-versa. Observe o que as práticasalimentares nutricionalmente adequadas no exercício oportunizam: ✓ Aprimorar o desempenho físico. ✓ Otimizar os programas de condicionamento físico. ✓ Acelerar o processo de recuperação na vigência de fadiga. 24 ✓ Evitar lesões. Ingestão de nutrientes antes, durante e pós-exercício Como você sabe, a atividade física, aliada aos bons hábitos dos indivíduos, é altamente benéfica para a qualidade de vida e o estado de saúde. Porém, não se pode garantir que as pessoas fisicamente ativas tenham equilíbrio metabólico, uma vez que o exercício físico provoca alterações fisiológicas e nutricionais que podem levar o atleta/desportista ao limiar entre a saúde e a doença, caso não ocorra uma adequada compensação desses eventos. Assim, é preciso que você saiba a importância de dispensar um cuidado especial quanto às práticas alimentares na atividade física, para que os efeitos benéficos da alimentação sejam atingidos. A representatividade da nutrição no desempenho e na condição de saúde de atletas e esportistas já está muito bem documentada na literatura mundial (VERDAN, K. F. G.; SANTOS, J. E.; SENNA JUNIOR, V. A., 2021). Os nutrientes no exercício físico Os nutrientes podem ser categorizados conforme as funções que desempenham no organismo: ✓ nutrientes fornecedores de energia; ✓ nutrientes que promovem crescimento, desenvolvimento e manutenção das estruturas corporais; e ✓ nutrientes que mantêm o organismo em pleno funcionamento. A Figura 3 a seguir, apresenta as funções dos nutrientes conforme a tarefa desempenhada. 25 Figura 3 - As principais funções das classes de nutrientes. Fonte: Fonte: Wardlaw e Smith (2013, p. 30). Precisamos de carboidratos, proteínas, lipídios e água em quantidade relativamente grande, por isso eles são denominados macronutrientes. Por outro lado, precisamos de vitaminas e minerais na dieta em quantidades menores e por isso, são chamamos de micronutrientes. Os macronutrientes, representados por carboidratos, proteínas e lipídios, são considerados nutrientes fornecedores de energia ao organismo, provendo o combustível necessário à realização das funções orgânicas involuntárias como a respiração, circulação, funcionamento cerebral, formação de novos compostos, e e às atividades físicas voluntárias, ou seja, a realização dos movimentos musculares. Carboidratos: Os carboidratos servem de substrato para a produção de glicogênio muscular, que é a principal fonte de energia utilizada durante os exercícios. Pelo fato de os estoques musculares e hepáticos de glicogênio serem limitados, a reposição de carboidratos através do consumo alimentar deve ser feita constantemente. Assim, a alimentação de um praticante de atividade física precisa ser composta, em grande parte, por alimentos fonte de carboidrato. Proteínas: As proteínas são responsáveis pela recuperação e regeneração celular, sendo fundamentais na prática esportiva. O consumo de alimentos fonte desse nutriente, deve ser em quantidade adequada, mas não aumentado, já que a prioridade é dos carboidratos. Também é importante que a ingestão ocorra de maneira 26 fracionada, ao longo do dia, para que haja melhor aproveitamento dos aminoácidos pelo tecido muscular. Lipídios: Depois dos carboidratos, os lipídios representam o principal substrato energético para o exercício, sendo sua utilização mais acentuada durante as atividades prolongadas e de baixa ou moderada intensidade. As gorduras também são responsáveis pela reserva de energia, pelo transporte das vitaminas lipossolúveis e pela composição de hormônios, além de outras funções. Os micronutrientes, representados pelas vitaminas e pelos minerais, são considerados nutrientes facilitadores (cofatores) e desempenham funções essenciais no nosso organismo. Estes componentes alimentares participam diretamente na produção de energia, na saúde óssea, na síntese de hemoglobina sanguínea, na manutenção do funcionamento adequado do sistema imune e na proteção do corpo contra os danos oxidativos. Além disso, as vitaminas e os minerais têm papel fundamental na síntese e no reparo do tecido muscular, que sofre lesões em função da prática esportiva. Vitaminas: Muitas facilitam o metabolismo de substratos energéticos comuns (proteínas, carboidratos, gorduras), e a deficiência de uma vitamina afeta a atuação de outra. As repercussões da deficiência de vitaminas no organismo podem ser notadas conforme o componente. Confira: o menor consumo de vitaminas do complexo B e da vitamina C pode diminuir a capacidade respiratória e a capacidade anaeróbia em um curto espaço de tempo. As vitaminas antioxidantes, como C, E e betacaroteno, têm grande potencial em aumentar a performance esportiva, protegendo contra o dano muscular induzido pelo exercício, além de reduzir o estresse oxidativo. Minerais: Os minerais apresentam funções que podem influenciar diretamente o desempenho esportivo, como a contração muscular, impulsos nervosos, batimentos cardíacos, transporte de oxigênio, função imunológica, função antioxidante, saúde óssea e equilíbrio acidobásico do sangue. Como exemplos, podemos citar o potássio e o cálcio, cujo papel é fundamental na contração muscular. O magnésio, além de atuar no relaxamento dos músculos, ajuda na produção de energia. O ferro é essencial para o transporte de oxigênio nos músculos e o sódio atua diretamente na transmissão de impulsos nervosos musculares. 27 Após os conhecimentos adquiridos até este ponto da leitura, você certamente compreendeu que a alimentação associada ao exercício físico deve ser equilibrada para prover macro e micronutrientes em quantidade e qualidade adequadas às demandas. Assim, as reações metabólicas e o fornecimento de energia serão suficientes e peculiares à condição de saúde do praticante, bem como à modalidade e intensidade do exercício, favorecendo o rendimento e a qualidade de vida É preciso desmistificar que quanto maior a ingestão de proteínas, maior será a hipertrofia muscular. Isso colabora com o consumo desnecessário e, muitas vezes, prejudicial à saúde, uma vez que inúmeros praticantes de atividade física não recebem orientação profissional específica e acabam seguindo condutas erradas. O ganho de massa muscular está diretamente relacionado ao treinamento de força e ao descanso suficiente entre as sessões, condutas essas que são associados a uma alimentação variada e equilibrada em nutrientes, não somente com a oferta de proteínas. Características da alimentação antes do exercício físico A refeição pré-exercício é de grande importância! Seus principais objetivos são manter a hidratação, preencher os estoques corporais de energia, prevenir a fome e minimizar o desconforto gástrico. Assim, o volume oferecido, a composição e o momento de realizar a refeição são aspectos que merecem destaque especial e precisam ser observados. Também é de fundamental importância que preferências e gostos individuais, assim como as formas de preparo, sejam considerados. Dependendo das porções alimentares e da composição da refeição, o tempo para a digestão pode ser mais longo e demorar mais que três horas, podendo gerar desconforto abdominal, náuseas e vômitos, além de atrapalhar o tempo de início da atividade. A alimentação no período que antecede a prática desportiva tem os seguintes objetivos: prevenir a hipoglicemia e/ou sintomas associados (tonturas, cansaço, sonolência), evitar a sensação de fome antes ou durante o evento esportivo, fornecer energia adequada à contração muscular durante a atividade e proporcionar oferta suficiente de líquidos para manter o estado de hidratação. Antes da atividade, é aconselhável não consumir alimentos gordurosos e atípicos (fora do padrão alimentar diário) e excesso de fibras. Orienta-se o consumo de uma refeição leve, rica em 28 carboidratoscomplexos e alimentos que promovem esvaziamento gástrico mais rápido. Carboidratos: É aconselhável realizar uma refeição (em torno de 200 gramas de carboidratos), até três horas antes do início da atividade física ou um pequeno lanche (com mais ou menos 15 gramas de carboidratos), em torno de 45 minutos a uma hora antes. Quando possível, é interessante dar maior ênfase ao consumo de carboidratos complexos antes da atividade física (até 3 horas antes), visto que tais alimentos evitam os picos glicêmicos, tornando a oferta de glicose mais equilibrada e constante. Proteínas: Na refeição anterior à atividade física, o consumo de proteínas deve ser em quantidade adequada, mas não aumentado, pois a prioridade é dada aos carboidratos. Levando-se em consideração que a ingestão proteica por refeição precisa ser relacionada à massa corpórea do indivíduo, a razão de proteínas em gramas por quilo de peso soma 0,25 a 0,3 g/kg de peso em cada refeição. Ou seja, o consumo proteico superior a este limite em uma refeição é considerado desaconselhável, uma vez que não será aproveitado para a síntese de novas proteínas (o acúmulo de proteínas nos diversos tecidos corporais é limitado). Salienta-se que o excesso proteico, muitas vezes, está relacionado a uma menor ingestão de carboidratos. Quando isso acontece, o organismo pode produzir uma quantidade considerável de ácidos, que modificarão o equilíbrio acidobásico do sangue, provocando perda de massa muscular com consequente redução no desempenho. Lipídios: Como se sabe, as gorduras também são responsáveis pela reserva de energia, pelo transporte das vitaminas lipossolúveis e composição de hormônios, além de outras funções. Não se deve aconselhar o consumo elevado de lipídios antes do exercício físico, pois pode causar desconforto ao sistema digestório e atrapalhar a performance. Portanto, assim como as proteínas, a oferta de lipídios deve ser fracionada nas refeições ao longo do dia, conforme as necessidades do praticante. Água: A hidratação adequada é importante para o bom desempenho físico. É interessante programar a ingestão de líquidos na quantidade de 5 a 7 mL/kg de peso corporal ao longo das quatro horas que antecedem a prática esportiva. Imediatamente antes do exercício, deve-se evitar o excesso na ingestão de líquidos, pois ocorre 29 estímulo da função renal, ou seja, o corpo produzirá maior quantidade de urina, gerando desconforto. Você deve se lembrar sempre da importância da alimentação nutricionalmente adequada, composta por quantidades corretas de macronutrientes, com variabilidade nos tipos de alimentos e no fracionamento ao longo do dia. É dessa forma que a oferta de micronutrientes estará garantida para a maioria dos desportistas, com raras exceções. Atenção! Conforme as adaptações individuais e a cultura de consumo de determinados alimentos, pode ocorrer uma vasta indicação de conduta nutricional no período que antecede o exercício físico. Alimentação durante o exercício físico Assim como o consumo alimentar é importante no período que antecede o exercício físico, a alimentação durante e após a prática esportiva também merece atenção especial. O tipo e o volume de alimentos ou preparações, assim como os horários, são aspectos que devem ser observados a fim de evitar desconforto e indisposição à prática esportiva. Ademais, o nutricionista deve considerar as preferências alimentares, pois seu paciente terá mais facilidade em aderir ao plano alimentar. Na alimentação durante o exercício, os principais objetivos são manter a glicemia, melhorar o desempenho e a disposição para o exercício e evitar a fadiga precoce. Para isso, é fundamental manter o estado de hidratação, com a ingestão de líquidos em quantidades que respeitem a aceitabilidade do atleta, sua tolerância individual e o tempo de esvaziamento gástrico. Nos exercícios com duração superior a uma hora, recomenda-se oferecer carboidratos, preferencialmente em soluções com concentração de 6 a 8% a cada 15 minutos. Misturas de água com carboidratos de absorção rápida (glicose, frutose, sacarose, maltodextrina) parecem promover certa melhora no rendimento esportivo. A preferência por líquidos ocorre porque estes promovem esvaziamento gástrico mais rápido e favorecem a reposição de líquidos e eletrólitos, que são perdidos pelo suor. Ressalta-se que para atividades com duração inferior a 60 minutos, é necessária apenas a reposição hídrica, e a água é uma excelente opção. É recomendado que a ingestão de líquido seja mantida a cada 15 ou 20 minutos durante a prática da 30 atividade física, sendo que o volume deve variar conforme o nível de sudorese (em média 500 a 2.000 mL). Alimentação depois do exercício físico O principal propósito da alimentação após o exercício é recuperar, de forma rápida e eficaz, o glicogênio muscular utilizado durante a atividade. O atleta também precisa repor os nutrientes perdidos, para que o equilíbrio metabólico seja restabelecido, prevenindo o aparecimento de lesões e a queda no sistema imunológico. A recuperação muscular começa a partir da ingestão de uma refeição que contenha carboidratos e proteínas, além da oferta de líquidos para manter o estado de hidratação e a reposição dos eletrólitos perdidos, principalmente pelo suor. A combinação de carboidratos com proteínas oportuniza melhor recuperação muscular, além de reduzir os níveis do hormônio cortisol, que favorece a proteólise muscular. Ao término da atividade, o carboidrato também deve ser ingerido para que os estoques de glicogênio sejam repostos rapidamente, preparando os músculos para as atividades seguintes, sendo neste momento, os carboidratos simples os mais indicados, pois apresentam ação rápida. O momento imediatamente após a atividade física é o período ideal para consumir fontes alimentares de proteína de boa qualidade, para que a recuperação muscular seja efetiva. Entretanto, em caso de indivíduos não treinados, aconselha-se a ingestão de proteína de maneira fracionada, ao longo do dia, em quantidades adequadas, para o melhor aproveitamento dos aminoácidos pelo tecido muscular. O consumo de lipídios também deve ocorrer de forma fracionada, no decorrer do dia, conforme as demandas do praticante. Portanto, a refeição pós-exercício precisa conter quantidades e tipos adequados de lipídios, sem excessos, da mesma maneira que nas demais refeições ao longo do dia. Quanto à hidratação, a ingestão de água em todas as etapas do exercício precisa ser suficiente para repor a perda hídrica em atividades leves e moderadas (caminhada, musculação e ginástica, por exemplo). Apenas no caso de atletas, em que o treinamento é intenso, indica-se o consumo de bebidas isotônicas, pois estes repõem rapidamente os eletrólitos (sódio, potássio, cloro) perdidos, além de terem 31 também glicose para manter a glicemia constante. O período imediatamente após o exercício físico é de extrema importância para restabelecer as reservas hídricas e energéticas, otimizando a condição de saúde e a recuperação muscular. Depois da atividade, a reposição hídrica deve ser fracionada em pequenos volumes. A quantidade a ser reposta é variável conforme a sudorese, a intensidade e o tempo da atividade. Estima-se que para cada 100 gramas de peso corporal “perdido”, sejam necessários em torno de 100 mL de líquidos de reposição (aí está a importância de verificar o peso antes e após a sessão de exercícios). O consumo de bebidas com sódio auxilia na recuperação rápida e completa do equilíbrio hidroeletrolítico, mediante a estimulação da sede e da retenção de líquidos. Após o exercício físico, as bebidas com cafeína, cola ou as alcoólicas devem ser evitadas, pois aumentam a possibilidade de desidratação. 5 SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS NA PRÁTICA ESPORTIVA Fonte: privatelabelbrazil.com.br Como já mencionado,a alimentação de um praticante de atividade física se diferencia em relação a de outras pessoas em função de seu gasto energético elevado, que varia conforme o modelo de atividade, o treinamento e o momento da ingestão de nutrientes. Para aqueles que buscam melhores resultados, o consumo de 32 macro e micronutrientes no pré e pós-treino nem sempre é suficiente para atingir os objetivos. Nesse sentido, os suplementos podem ser utilizados. Os suplementos nutricionais são produtos destinados a melhorar a saúde física, o desempenho ou a alteração da composição corporal. Eles se tornaram prontamente disponíveis no mundo inteiro. Os atletas são os maiores consumidores desses produtos e seus hábitos podem ser seguidos por outros grupos de indivíduos, principalmente aqueles que praticam atividade física regularmente. O desejo de alcançar resultados rápidos tornou o uso de tais substâncias muito atraentes. No entanto, é sabido que o seu uso deve ser realizado com a orientação de um profissional especializado, que avaliará a real necessidade e o objetivo do praticante de esportes. Vale salientar que o consumo em excesso pode prejudicar o organismo, provocando doenças graves, como disfunções hepáticas, renais e cardiovasculares. 5.1 Classes dos suplementos nutricionais A oferta equilibrada de nutrientes pela dieta do indivíduo forma a base para um melhor desempenho físico. Nos últimos anos, comprovou-se que a prática regular de atividades físicas contribui para a prevenção de patologias, diminuindo os efeitos da fadiga muscular e ainda contribuindo para redução de lesões, dado que gera condições para que o organismo produza energia de modo mais eficiente. Para que a dieta seja considerada nutritiva, ela deve abranger as seguintes características: ✓ adequação ao fornecimento suficiente de cada nutriente essencial, fibra e energia; ✓ equilíbrio, respeitando o balanço entre todos os nutrientes; ✓ controle calórico, que gera energia suficiente para manter o peso apropriado; ✓ moderação de componentes de alimentos que não sejam fontes em excesso de gordura, sal e açúcar; ✓ variedade, ofertando uma maior variedade de alimentos diferentes a cada dia. 33 O Quadro 2 apresenta a recomendação de ingestão de nutrientes, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ OMS, 2003) e o Instituto de Medicina (THE NATIONAL ACADEMIES, 2002). Quadro 2 – Recomendação de ingestão de nutrientes Fonte: The National Academies (2002); FAO/OMS (2003) Entretanto, situações cotidianas, como falta de horários adequados para realizar refeições, estilo de vida agitado, excesso de treinamento físico, entre outros motivos, contribuem para que o indivíduo não consiga ter uma dieta adequada. Nessas situações, a relação entre alimentação e saúde pode ficar comprometida e é comum que se recorra ao uso de recursos ergogênicos visando obter melhores resultados na prática esportiva em curtos períodos. O termo ergogênico é derivado de duas palavras gregas: ergon (trabalho) e gennan (produzir). Portanto, um ergogênico normalmente se refere a uma substância que produz ou intensifica o trabalho. Os recursos ergogênicos são substâncias, equipamentos ou técnicas utilizadas com a finalidade de aumentar a capacidade do trabalho corporal pela intensificação da potência física, força mental ou do limite mecânico, prevenindo ou retardando o início da fadiga muscular, para melhoria no desempenho físico. Nesse aspecto, podem ser classificados em cinco categorias: nutricionais, farmacológicos, fisiológicos, psicológicos e biomecânicos ou mecânicos (PEREIRA, 2014). Sendo assim, os suplementos alimentares correspondem a uma categoria dos recursos ergogênicos. O órgão responsável pela regulamentação de normas de fabricação e comercialização desses produtos é o Ministério da Saúde, que, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é responsável pela fiscalização e pelo controle, estabelecendo normas para as vendas. No Brasil, as normas nacionais para a comercialização dos produtos para ganho de massa muscular e redução do percentual de massa gorda, na maioria das vezes, são ignoradas por muitos produtores. 34 Segundo a RDC nº 243, de 26 de julho de 2018, a qual dispõe sobre os requisitos para composição, qualidade, segurança e rotulagem dos suplementos alimentares, bem como para atualização das listas de nutrientes, substâncias bioativas, enzimas e probióticos, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar destes produtos, são adotadas as seguintes definições: I — constituinte: probióticos e ingredientes utilizados na composição de suplementos alimentares com a finalidade de fornecer nutrientes, substâncias bioativas ou enzimas; II — enzima: proteína capaz de catalisar reações bioquímicas, aumentando sua velocidade, e possui ação metabólica ou fisiológica específica no organismo humano; III — ingrediente: toda substância, incluídos os aditivos alimentares, que se emprega na fabricação ou preparo de alimentos, e está presente no produto final em sua forma original ou modificada; IV — nutriente: substância química consumida normalmente como componente de um alimento, que proporcione energia, que seja necessária para o crescimento, o desenvolvimento e a manutenção da saúde e da vida ou cuja carência resulte em mudanças químicas, ou fisiológicas características; V — probiótico: micro-organismo vivo que, quando administrado em quantidades adequadas, confere um benefício à saúde do indivíduo; VI — substância bioativa: nutriente ou não nutriente consumido normalmente como componente de um alimento, que possui ação metabólica ou fisiológica específica no organismo humano; VII — suplemento alimentar: produto para ingestão oral, apresentado em formas farmacêuticas, destinado a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou combinados. Segundo a legislação, os nutrientes, as substâncias bioativas e as enzimas devem ser comprovadamente seguras para consumo humano e ter a eficácia de suas alegações comprovadas. Além disso, eles devem: a) ter limites mínimos de ingestão estabelecidos, sempre que possível, para garantir uma ingestão significativa com base nas evidências científicas sobre as necessidades diárias ou o efeito metabólico, ou fisiológico; b) ter limites máximos de ingestão estabelecidos para reduzir o risco de consumo excessivo, considerando as evidências científicas relativas aos 35 limites superiores de segurança, as especificidades do grupo populacional a que se destinam e as quantidades consumidas através de outras fontes alimentares (BRASIL, 2018). Entre os suplementos mais comercializados estão: Whey protein As proteínas em sua forma monomérica, chamada aminoácidos, compõem o grande grupo de suplementos alimentares conhecidos como whey protein, que possuem comprovada ação quando associados ao treino. O valor biológico de uma proteína depende principalmente da sua composição em aminoácidos indispensáveis. Sabe-se que é possível prever, dentro de certas limitações, o seu comportamento no corpo. Isto só requer um padrão adequado de comparação. O problema fundamental na seleção de um padrão reside no fato de que o valor biológico de uma proteína não é constante, mas depende de uma série de variáveis, incluindo espécies, idade e estado fisiológico. O whey protein ou proteína do soro do leite é obtido após a extração da caseína, considerada uma das proteínas com maior valor biológico devido a sua rápida digestibilidade e por possuir componentes com alto teor de aminoácidos tanto essenciais quanto ramificados e alto teor de leucina, além de estimular a síntese proteica muscular. O produto whey protein possui três subdivisões, conforme a seguir: ✓ Whey protein concentrado(WPC): possui em média 70% a 80% no seu teor de proteína com quantidades de carboidratos e lipídeos significativas. ✓ Whey protein isolado (WPI): tem quantidades de proteína entre 92% e 98% e menos de 1% de gordura e lactose. A fração de carboidratos é muito pequena. Outro apontamento é que o whey protein isolado possui todas as vitaminas e os minerais presentes no leite e todos os aminoácidos essenciais e não essenciais. Tem uma melhor absorção proteica quando comparado aos outros, chegando de forma quase inteira no trato gastrintestinal. ✓ Whey protein hidrolisado (WPH): considerado, em sua composição, o mais puro, isto é, 99%, portanto, tem a absorção mais rápida. O uso do suplemento depende de variáveis como estatura, peso corporal, estilo de vida e tipo de exercício praticado, podendo variar de meia a duas doses diárias. 36 Uma dose oferta entre 18 a 27 g de proteína. O produto é comercializado em cápsulas ou pó e estudos apontam que o melhor uso é após o treino, favorecendo a hipertrofia. Creatina A creatina ou ácido metil guanidina acético possui um efeito positivo no treinamento de força. No corpo, é encontrada em uma quantidade entre 60 e 70% na forma livre, enquanto a creatina fosforilada é encontrada entre 30 e 40%. No organismo, 5% dessa creatina total é estocada no cérebro, nos testículos, no coração e em músculos lisos. Os outros 95% são estocados no músculo esquelético. Ela pode ser sintetizada pelos rins, pelo pâncreas e fígado, a partir de três aminoácidos: glicina, arginina e metionina. É encontrada em alimentos de origem animal, principalmente nas carnes vermelhas. Carboidratos Como se sabe, a prática de exercícios físicos ou treinamento de rendimento necessita de um aporte energético adequado e a principal fonte são os carboidratos (CHO). Os carboidratos podem ser encontrados de forma livre na corrente sanguínea ou armazenados no tecido como glicogênio muscular e hepático. As formas mais práticas para a suplementação de carboidratos, seja antes, durante ou após o exercício, são os géis, as bebidas, as barras ou as balas energéticas (FONTAN; AMADIO, 2015). A relação da escolha do carboidrato com seu índice glicêmico é fundamental, visto que o controle da liberação de insulina e a manutenção dos estoques de glicogênio, no treinamento para hipertrofia, são recomendados. Termogênicos Os termogênicos são alimentos ou compostos utilizados para aumentar a termogênese do organismo. Com o uso desses alimentos haverá um aumento no consumo de calorias na digestão, ocasionando a diminuição do apetite e, consequentemente, o aumento do gasto energético. Os mais conhecidos são o chá- verde, a piperina, o gingerol e a capsaicina. 37 Micronutrientes Tal como os macronutrientes, as vitaminas e os minerais são essenciais à vida, mas são requisitados em pequena quantidade sendo referidos como micronutrientes. Embora sejam necessários em quantidades pequenas quando comparados com os macronutrientes, eles são extremamente essenciais para garantir o funcionamento diário do organismo humano. As carências em vitaminas e minerais são bastante difíceis de se diagnosticar e são largamente ignoradas. A deficiência de micronutrientes está frequentemente associada com a destruição de várias reações bioquímicas que ocorrem no nosso corpo, podendo ocasionar algumas doenças. A depressão, os hábitos alimentares pouco saudáveis e a exposição a poluentes nocivos podem levar à perda de nutrientes essenciais, o que consequentemente, pode desencadear outras doenças crônicas. Embora estejam facilmente disponíveis a partir de alimentos comuns, nenhum deles tem composição completa desses nutrientes. A quantidade de micronutrientes necessária para o organismo é influenciada por idade, sexo, altura, atividade física e estado de saúde. 38 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAM, B. O. et al. Conhecimento nutricional de praticantes de musculação em uma academia da cidade de São Paulo. Brazilian Journal of Sports Nutrition, v. 2, n. 2, p. 24–36, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 243, de 26 de julho de 2018. Dispõe sobre os requisitos sanitários dos suplementos alimentares. Brasília, DF: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011- 2022. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. CARNAUBA, R. A. 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