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2022-Alexya Costa Moraes- Mercado de carbono

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLIMENTO REGIONAL 
BACHARELADO EM CIÊNCIA ECONÔMICAS 
 
 
 
 
ALEXYA COSTA MORAES 
 
 
 
 
 
O MERCADO DE CRÉDITO DE CARBONO NO BRASIL: Uma análise das propostas 
de implementação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ 
2022 
ALEXYA COSTA MORAES 
 
 
 
 
 
O MERCADO DE CRÉDITO DE CARBONO NO BRASIL: Uma análise das propostas 
de implementação 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvol- 
vimento Regional, da Universidade Federal 
Fluminense, como requisito parcial para 
conclusão curso de Bacharelado em Ciências 
Econômicas. 
 
 
 
 
Orientador: Profa Dra. Vanessa Lopes Teixeira 
Coorientador: Guilherme Rodrigues Lima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ 
2022 
ALEXYA COSTA MORAES 
 
O MERCADO DE CRÉDITO DE CARBONO NO BRASIL: Uma análise das propostas 
de implementação 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvol- 
vimento Regional, da Universidade Federal 
Fluminense, como requisito parcial para 
conclusão curso de Bacharelado em Ciências 
Econômicas. 
 
 
Orientador: Profa Dra. Vanessa Lopes Teixeira 
Coorientador: Guilherme Rodrigues Lima 
 
Aprovada em 16 de Dezembro de 2022 
 
BANCA EXAMINADORA 
______________________________________ 
Profa Dra. Vanessa Lopes Teixeira – UFF 
___________________________________________ 
Prof. Guilherme Rodrigues Lima – UFRJ 
___________________________________________ 
Prof. Saulo Jardim de Araújo – UFF 
_______________________________________ 
Prof. Dr. Samuel Alex Coelho Campos - UFF 
 
 
CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ 
2022 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente, agradeço à minha família, em especial à minha mãe, Verônica Costa, e à 
minha avó, Suely Costa, por todo suporte e cuidado na criação do meu filho para que eu 
nunca precisasse parar de estudar. Não chegaria aqui se não fosse por vocês. 
Ao meu filho, Benjamin, por todo aprendizado, mesmo que através de muitos desafios, e pelo 
amor que ser sua mãe me proporcionou ao longo desses anos. 
Agradeço à ProfessoraVanessa Lopes Teixeira, não só por toda paciência, suporte e 
orientação na presente monografia, mas também durante o projeto de Desenvolvimento 
Acadêmico do qual fiz parte como bolsista. 
Agradeço ao Professor Guilherme Rodrigues Lima por toda paciência, suporte e orientação 
durante o árduo processo de elaboração dessa monografia. 
Agradeço também a todo o corpo docente da Universidade Federal Fluminense por toda troca 
e aprendizado proporcionados ao longo dos anos. 
A todos meus colegas de graduação, mas em especial à minha amiga Brenda Guimarães, que 
sempre viu em mim potenciais para além do que eu era capaz de ver, sempre me 
incentivando. 
Ao meu companheiro, Christian Graf por toda parceria e incentivo, sempre acreditando e 
torcendo pelo meu sucesso. 
Por fim, agradeço à banca aqui presente por terem aceitado fazer parte de um momento tão 
importante e especial na minha vida. 
 
 
 
RESUMO 
 
Diante de um cenário climático alarmante e que exige comprometimento de todo o mundo no 
combate às mudanças climáticas, o Brasil assumiu metas de redução das emissões de Gases 
do Efeito Estufa (GEE) através de sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) no 
âmbito do Acordo de Paris. No entanto, a implementação das ações necessárias para que as 
metas sejam alcançadas demanda recursos expressivos dos quais o país ainda não dispõe. Um 
dos instrumentos que pode contribuir para viabilizar a implementação das ações de redução 
das emissões é o mercado de carbono, através do qual essas reduções geram créditos que 
podem ser negociados. O objetivo deste trabalho é analisar as bases teóricas do mercado de 
carbono, as propostas de regulamentação do instrumento no Brasil e os impactos de sua 
adoção sobre a economia para o cumprimento das metas assumidas pelo Brasil no Acordo de 
Paris. A elaboração deste trabalho se deu através de pesquisa bibliográfica sobre o surgimento 
do mercado de carbono na teoria econômica, e da análise descritiva das principais propostas 
para o instrumento no país e de estudos que avaliaram os impactos da sua implementação. 
Como principal resultado, observou-se que o mercado de carbono é um instrumento com 
potencial de contribuir para que as metas da NDC brasileira sejam atingidas, mas que ainda 
enfrenta muitos desafios para a sua plena implementação, dado que o arcabouço regulatório 
encontra-se em construção, ao mesmo tempo em que o país sofre com uma crise ambiental 
que vem se agravando no atual governo. 
Palavras-chaves: Mudanças Climáticas; Crédito de Carbono; Mercado de Carbono; 
Contribuição Nacionalmente Determinada; Externalidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Faced with an alarming climate scenario that requires the commitment of the whole world to 
combat climate change, Brazil has assumed goals to reduce greenhouse gas (GHG) emissions 
through its Nationally Determined Contribution (NDC) under the Paris Agreement. However, 
the implementation of the necessary actions for the goals to be reached demands significant 
resources that the country still does not have. One of the instruments that can contribute to 
enabling the implementation of emission reduction actions is the carbon market, through 
which these reductions generate credits that can be traded. The objective of this study is to 
analyze the theoretical bases of the carbon market, the proposals for regulating the instrument 
in Brazil and the impacts of its adoption on the economy for the fulfillment of the goals 
assumed by Brazil under the Paris Agreement. The elaboration of this study took place 
through bibliographic research on the emergence of the carbon market in economic theory, 
and through a descriptive analysis of the main proposals for the instrument in the country and 
studies that evaluated the impacts of its implementation. As a main result, it was observed that 
the carbon market is an instrument with the potential to contribute to achieving the goals of 
the Brazilian NDC, but it still faces many challenges to its implementation, considering that 
the regulatory framework is still under construction, whilst the country has been facing an 
environmental crises that has been getting worse under the current government. 
Keywords: Climate changes; Carbon Credit; Carbon Market; Nationally Determined 
Contribution; Externalities. 
 
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS 
 
AFOLU - Agriculture, Forestryand Land Use 
AR6 - Sexto Relatório de Avaliação do IPCC 
ASCEMA - Associação dos Servidores da Carreira Especialista em Meio Ambiente 
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento 
BNDES- Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social 
 
CBEDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável 
COP - Conferência das Partes 
CO2 - Dióxido de Carbono 
CH4 - Metano 
CQNUMC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima 
GEE - Gases de Efeito Estufa 
GLP - Gás liquefeito de petróleo 
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social 
IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima 
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo 
NDC - Contribuição NacionalmenteDeterminada 
ONU - Organização das Nações Unidas 
OVN - Offsets de Vegetação Nativa 
PIB - Produto Interno Bruto 
PL - Projeto de Lei 
PMR - Partnership for Market Readiness 
PNMC - Política Nacional sobre Mudança do Clima 
RCE - ReduçãoCertificada de Emissões 
UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change 
WG - Work Group 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Funcionamento do Mercado de emissão de licenças 22 
Figura 2 - Emissões brutas de GEE no Brasil por setor (2000 - 2020) 29 
Figura 3 - Lógica de Comparação dos Cenários 34 
Figura 4 - Cenários e Emissões 38 
Figura 5 - Emissões Evitadas Acumuladas (MtCO2e) por Setor entre 2021-2030 48 
Figura 6 - Indicadores Macroeconômicos 50 
Figura 7 - Poder de Compra por Classe. 51 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Cenários simulados no PMR e principais características 34 
Tabela 2 - Evolução do PIB por cenário (em bilhões de Reais) 42 
Tabela 3 - Evolução da renda disponível classe 4 (20% mais pobres) 44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................9 
 1 -AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O MERCADO DE CARBONO.......................... 12 
1.1 As mudanças climáticas no Brasil e no mundo..................................................... 12 
1.2 Análise teórica do mercado de carbono................................................................. 17 
 2 -PROPOSTAS PARA UM MERCADO DE CARBONO NO BRASIL ........................26 
2.1 Projeto de Lei 528/2021.......................................................................................... 27 
2.2 Projeto Partnership for Market Readiness........................................................... 30 
2.3 Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030........................................... 36 
2.4 Decreto nº 11.075 de 2022........................................................................................ 39 
2.5 Discussão................................................................................................................... 39 
 3 -IMPACTOS DE UM MERCADO DE CARBONO NO BRASIL.............................. 41 
3.1 Projeto Partnership for Market Readiness........................................................... 41 
3.2 Estudo Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030.............................. 47 
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 53 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 56 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
Em um cenário mundial em que se faz necessário de maneira urgente uma 
conscientização sobre as mudanças climáticas e combate ao aquecimento global, o mercado 
de crédito de carbono vem surgindo cada vez mais no debate como uma estratégia para 
mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa. 
Nas décadas de 1990 à 2020, os debates quanto às mudanças climáticas e 
principalmente sobre a influência das ações humanas nessas mudanças vêm se intensificando. 
No ano de 2021, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) apontou em 
seu 6° Relatório de Avaliação (AR6, na sigla em inglês) que é inequívoco o peso das ações 
humanas no aumento da temperatura da atmosfera, dos oceanos e da superfície terrestre, 
através principalmente da emissão de Gases de Efeito Estufa. Essas emissões são responsáveis 
por externalidades negativas para o meio ambiente e consequentemente para a sociedade, que 
além de necessitar dos recursos naturais ameaçados para a subsistência, sofre de maneira cada 
vez mais recorrente e intensa com os efeitos do aquecimento global em forma de catástrofes 
socioambientais. 
Diante da importância que o tema veio ganhando ao longo do tempo, nos anos 1990 
surgiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em conjunto com a Organização 
Meteorológica Mundial. Trata-se de um organismo intergovernamental com finalidade de 
debater as questões ambientais e criar um tratado global (uma governança mundial) para 
cuidar deste tema. Dentre os feitos desta governança, destacam-se a criação do Painel 
Intergovernamental em Mudanças Climáticas e da Convenção Quadro das Nações Unidas 
sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), promulgada em 9 de maio de 1992, na cidade de 
Nova Iorque. 
A partir do surgimento da UNFCCC foram realizadas diversas Conferências das Partes 
(COP), que têm como objetivo principal promover e revisar a implementação da própria 
UNFCCC, além de também revisar os compromissos assumidos pelas partes envolvidas. 
Entre as Conferências das Partes já realizadas, merecem destaque por sua relevância especial 
para o presente trabalho a COP 3, realizada em Quioto (Japão) em 1997, e a COP 21, 
realizada em 2015 na cidade de Paris (França). O destaque da COP de Quioto se dá pelo fato 
de que é nessa conferência que surge o Protocolo de Quioto, considerado um dos acordos de 
10 
 
maior importância, pois além de firmar compromissos quanto às reduções de GEE por parte 
dos países industrializados, é também considerado o marco inicial do Mercado de Crédito de 
Carbono (CENAMO, 2004). 
Quanto à COP 21, é nela que surge o chamado "Acordo de Paris", onde foi firmado 
um compromisso mundial, no qual mais de 195 países assumiram metas com o principal 
objetivo de conter o aumento da temperatura em até 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. 
O Brasil assinou o Acordo de Paris se comprometendo, através da sua Contribuição 
Nacionalmente Determinada (NDC), com a meta de redução das emissões de GEE em 37% 
até 2025 e de 43% até 2030, ambas em relação ao nível de emissões de 2005. Posteriormente 
houve uma atualização e foi estabelecido um novo patamar de redução de emissões em 50% 
até 2030, além da intenção de alcançar a neutralidade climática (zero emissões líquidas) até 
2050. 
Diferentes estudos estimaram o dispêndio que seria necessário para o alcance das 
metas da NDC brasileira. O estudo IES-Brasil (La Rovere et al, 2016) calculou que seriam 
necessários entre R$ 99 bilhões e R$ 372 bilhões (em valores de 2005), a depender das ações 
de mitigação adotadas. Já o “Documento-base para subsidiar os diálogos estruturados sobre a 
elaboração de uma estratégia de implementação e financiamento da Contribuição 
Nacionalmente Determinada do Brasil ao Acordo de Paris”, do Ministério do Meio Ambiente 
(MMA) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sugeriu investimentos entre 
R$ 890 bilhões e R$ 950 bilhões (em valores de 2017). A elevada necessidade de recursos 
para a implementação das ações de mitigação, aliada à indisponibilidade desses recursos pelo 
poder público, faz com que alternativas através de instrumentos econômicos, como é o caso 
do mercado de carbono, assumam grande importância para o cumprimento do compromisso 
assumido pelo país. 
O mercado de crédito de carbono pode ser entendido como um mercado de compra e 
venda de títulos, que permite a comercialização de uma parcela da redução de emissões de 
GEE. Isto é, aquele que conseguir manter suas emissões de carbono abaixo de um nível 
estabelecido pode vender os títulos que receber com esse feito para um terceiro cujas 
emissões excederam o nível permitido. Desta forma, o mercado de crédito de carbono é um 
instrumento de mitigação com grande potencial no cumprimento das metas de redução 
assumidas durante as Conferências das Partes, como o Acordo de Paris, visto que flexibiliza 
11 
 
as regras e permite que países com custos de abatimento das emissões mais elevados 
financiem a redução em regiões onde o custo é mais baixo. 
Para compreender o funcionamento deste mercado no Brasil e o seu impacto para as 
metas de redução assumidas pelo país recorreu-se à pesquisa bibliográfica sobre as bases 
teóricas do mercado de crédito de carbono, propostas para a implementação do instrumento 
nopaís e dois estudos que analisaram os impactos da sua adoção sobre a economia e as 
emissões de GEE. 
Esta monografia será composta por três capítulos, além da introdução e considerações 
finais. No primeiro capítulo, “As mudanças climáticas e o mercado de carbono”, são 
analisados os principais resultados dos relatórios mais recentes do IPCC e o embasamento 
para o mercado de carbono na teoria econômica. O segundo capítulo, "Propostas para um 
mercado de carbono no Brasil", apresenta as principais características das propostas para a 
regulamentação do mercado de carbono no Brasil. No terceiro capítulo, "Impactos de um 
mercado de carbono no Brasil", são apresentados os resultados encontrados em dois estudos 
sobre a implementação do instrumento no país. 
 
12 
 
1. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O MERCADO DE CARBONO 
 
Este capítulo tem como objetivo apresentar uma análise sobre as mudanças climáticas 
e seus impactos no Brasil e no mundo e sobre como o mercado de carbono surge como um 
instrumento que pode contribuir para a solução do problema. A primeira parte do capítulo 
analisará os achados mais recentes da ciência sobre as mudanças climáticas, tendo como 
principal referência os relatórios publicados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças 
Climáticas publicados nos anos de 2014, 2021 e 2022. Na segunda parte serão abordados os 
fundamentos existentes na teoria econômica que estão na base das propostas sobre mercados 
de carbono. Ao final do capítulo serão feitas algumas considerações finais sobre os temas 
analisados. 
 
1.1 As mudanças climáticas no Brasil e no mundo 
 
É inequívoco que a influência humana aumentou a temperatura da atmosfera, dos 
oceanos e da superfície terrestre (IPCC, 2021). Esta é uma das principais conclusões do sexto 
relatório de avaliação do Grupo de Trabalho 1 do Painel Intergovernamental de Mudanças 
Climáticas (IPCC). O IPCC é um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) 
responsável por avaliar aspectos científicos relacionados às mudanças climáticas. Assim, o 
IPCC realiza avaliações sobre as bases científicas das mudanças climáticas, seus impactos e 
riscos futuros, as opções de mitigação e adaptação, entre outros temas. 
O IPCC possui em sua estrutura três grupos de trabalho (workinggroups - WG) que 
avaliam esses diferentes aspectos. O Grupo de Trabalho 1 (WG1) é responsável pelos 
aspectos físicos, como níveis de concentração de gases do efeito estufa (GEE), aumento da 
temperatura, elevação do nível dos oceanos, entre outros. O Grupo de Trabalho 2 (WG2) se 
dedica a avaliar os impactos, necessidade de adaptação e vulnerabilidades às mudanças 
climáticas. Já o Grupo de Trabalho 3 (WG3) estuda principalmente as opções de mitigação, 
ou seja, as medidas que podem ser adotadas para reduzir as emissões de GEE nos diferentes 
setores ou capturar o carbono da atmosfera. 
13 
 
Desde 1990 o IPCC já publicou seis Relatórios de Avaliação (Assessment Reports - 
AR), sendo que o último (AR6) foi publicado entre 2021 e 2022 (a contribuição do WG1 foi 
publicada em 2021 e as contribuições do WG2 e WG3 em 2022). Entre os as conclusões do 
WG1 no 6º relatório, pode-se destacar que pela primeira vez foi afirmado que não há dúvidas 
com relação à influência sobre as mudanças climáticas. Nos relatórios anteriores utilizavam-
se expressões como “é atribuível”, “provável” ou “extremamente provável”, as quais denotam 
diferentes gradações com relação à responsabilidade humana e que foram evoluindo ao longo 
das publicações. Ainda de acordo com o relatório, as ações antrópicas causaram um 
aquecimento a uma taxa sem precedentes nos últimos 2.000 anos, e as mudanças climáticas já 
provocam eventos extremos em todas as partes do globo, tais como ondas de calor, 
inundações, secas e ciclones (IPCC, 2021). 
Com relação às previsões futuras, o relatório indica que a temperatura da superfície 
global continuará aumentando pelo menos até a metade do século de acordo com todos os 
cenários considerados. Além disso, a meta de limitar o aquecimento global entre 1,5º e 2º C 
em relação aos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no Acordo de Paris, não será 
possível a não ser que profundas reduções nas emissões de gás carbônico (CO2) e outros gases 
do efeito estufa ocorram nas próximas décadas. Limitar o aquecimento global induzido pelo 
homem requer que se limite as emissões, alcançando emissões líquidas nulas do gás (net-
zero), além de reduções significativas nas emissões de outros gases do efeito estufa (GEE), 
em especial o metano (CH4). 
Com relação ao Brasil, entre as mudanças já observadas, o relatório indica o aumento 
na ocorrência de extremos de calor, de fortes precipitações e de secas. O país também poderá 
sofrer no futuro, dependendo do cenário, aumentos de temperatura (em especial na região 
central e norte), redução na precipitação (principalmente na Amazônia), perda de umidade do 
solo, entre outros impactos (IPCC, 2021). 
A contribuição do Grupo de Trabalho 2, conforme explicado, apresenta as avaliações 
relativas aos impactos, necessidades de adaptação e vulnerabilidades. O documento adota uma 
escala para o grau de confiança de cada uma das conclusões apresentadas que possui cinco 
níveis: muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto. Esse grau de confiança é determinado 
pelo quão consistentes são as evidências existentes e pelo grau de concordância sobre cada 
uma das conclusões. 
14 
 
Com relação aos impactos já observados, podem-se destacar os impactos negativos 
sobre a produtividade agrícola mais comuns do que os impactos positivos (alta confiança), as 
alterações na localização, atividades sazonais, padrões migratórios e abundância de espécies 
terrestres e aquáticas (alta confiança) e impactos sobre a quantidade e qualidade de recursos 
hídricos devido às mudanças na precipitação e o derretimento de neve e gelo, os quais alteram 
os sistemas hidrológicos (média confiança). O relatório aponta ainda que o peso das 
mudanças climáticas sobre a ocorrência de doenças humanas é pequeno quando comparado a 
outros fatores, embora tenha ocorrido um aumento na mortalidade associada a altas 
temperaturas e redução daquelas causadas por baixas temperaturas devido ao aquecimento, 
além de que alterações na temperatura e regime de chuvas em alguns locais mudaram a 
distribuição de vetores de doenças (média confiança) (IPCC, 2022). 
Maiores graus de confiança podem ser encontrados quando se trata das conclusões 
sobre a vulnerabilidade às mudanças climáticas. Por exemplo, o Painel tem confiança muito 
alta de que as desigualdades causadas pelos diferentes níveis de desenvolvimento causam 
diferenças no nível de vulnerabilidade. Comunidades que são marginalizadas social, cultural, 
política, institucional ou economicamente são especialmente vulneráveis, como resultado de 
um processo social que resulta em desigualdades de status socioeconômico e de renda, o qual 
inclui a discriminação de gênero, classe, etnia, idade e de necessidades especiais. Também há 
confiança muito alta de que eventos extremos recentes relacionados às mudanças climáticas 
(ex.: ondas de calor, secas, inundações, ciclones e incêndios) revelaram significativa 
vulnerabilidade dos ecossistemas e de sistemas humanos à variabilidade climática, como 
problemas com produção de alimentos e fornecimento de água, danos sobre infraestruturas, 
mortalidade, entre outros (IPCC, 2022). 
A questão da adaptação, também abordada pelo Grupo de Trabalho 2, trata-se da 
redução de riscos e vulnerabilidade principalmente através de ajustes nos sistemas já 
existentes. São inúmeras as possibilidades de adaptação, mas a implementação depende da 
capacidade e eficiência da tomada de decisão das governanças (IPCC, 2022). De acordo com 
o relatório, no cenário atual, o processo de planejamento e adaptação tem sido crescente ao 
redor de diversas regiões (alta confiança), e isso tem ocorrido através da geraçãode 
conhecimento sobre impactos climáticos. A partir disso, as governanças de pelo menos 170 
países têm buscado se planejar além de adaptar políticas quanto às questões climáticas, 
iniciativas essas que têm gerado diversos benefícios para a população em geral, 
15 
 
principalmente nos setores voltados à agricultura, inovação, saúde e bem-estar, segurança 
alimentar e preservação e conservação da biodiversidade. 
Apesar do progresso, ainda existe um longo caminho a percorrer entre os níveis de 
adaptação atuais e os níveis que de fato podem levar à redução dos impactos e riscos das 
questões climáticas. Portanto, é necessário cada vez mais conhecimento quanto ao cenário 
mundial a respeito das mudanças climáticas, buscando mecanismos de mitigação de maneira 
urgente, com foco na implementação, mais do que em somente traçar um planejamento, com 
o intuito de criar um desenvolvimento resiliente e igualitário em relação ao clima. O relatório 
do WG2 conclui enfatizando a importância da próxima década para o fechamento das lacunas 
que ainda se encontram abertas quanto às medidas de adaptação e mitigação. 
O Grupo de Trabalho 3 analisa a evolução recente das emissões e as tendências atuais 
para o futuro, as opções de mitigação compatíveis com diferentes cenários de aquecimento 
global, as relações entre mitigação, adaptação e desenvolvimento sustentável, e as condições 
necessárias para a mitigação, como arranjos institucionais, políticas, financiamento, inovação 
e governança. 
O relatório aponta que as emissões líquidas continuaram a crescer na última década 
(2010 a 2019) em todos os setores, com uma média anual maior que em qualquer outra 
década, embora a taxa de crescimento tenha sido menor que na década anterior (2000 a 2009). 
Entretanto, há uma grande diferença na contribuição de cada região para as emissões. A 
população com 10% mais altos níveis de emissões per capita é responsável por algo entre 
34% e 45% das emissões totais. Também é destacado que as emissões nessa década foram 
provenientes principalmente de áreas urbanas, mas também de atividades no âmbito global 
nos níveis industriais, fornecimento de energia, transporte, agricultura e construção. 
Sobre as tendências futuras, o relatório concluiu que com os compromissos assumidos 
pelos países através de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) antes da 
COP 26 (realizada em Glasgow, Escócia, em 2021) as emissões de GEE deverão fazer com 
que o aquecimento global supere 1,5ºC, e que para atingir a meta de limitar o aumento de 
temperatura a 2ºC deverá ocorrer uma rápida aceleração de dos esforços de mitigação após 
2030. 
É interessante notar que os as opções de mitigação que custam menos que US $100 
por tonelada de CO2 equivalente (tCO2e) podem reduzir as emissões ao menos pela metade até 
16 
 
2030 (em comparação com o nível de 2019). Além disso, o PIB mundial continuaria 
crescendo e inclusive os ganhos econômicos com os esforços para limitar o aumento de 
temperatura a 2ºC superariam os custos de implementação das medidas. 
Como mencionado anteriormente, o relatório do ano de 2022 conta também com 
aspectos mais sociais quanto à mitigação, e enfatiza a importância da mudança no 
comportamento humano e no estilo de vida, pois o padrão de consumo de famílias que se 
encontram no topo da pirâmide representa grande parte das emissões total de GEE. Portanto, 
uma mudança no padrão do consumo entre os mais ricos poderia reduzir as emissões de GEE 
em até 70% no ano de 2050 em comparação às políticas climáticas vigentes. 
O relatório deixa claro que ainda é possível manter a temperatura global em 1,5ºC, 
mas somente com ação imediata, com foco na remoção do carbono, em níveis que dependem 
da rapidez em que conseguiremos reduzir as emissões de GEE de outros sistemas e até que 
ponto os limites de emissões estabelecidos serão ultrapassados. Outro ponto considerado 
muito importante para atingir as metas é o aumento do financiamento público e privado anual 
para as mitigações a adaptações a mudanças climáticas, que apesar de crescente com o passar 
dos anos, vem sofrendo uma desaceleração no período mais recente. Entre os setores em que o 
déficit de investimentos é mais acentuado está o de agricultura, florestas e outros usos do solo 
(AFOLU na sigla em inglês), com um déficit ainda maior em países em desenvolvimento. 
De maneira resumida, a conclusão do relatório do WG3 é de que é necessário um 
movimento urgente não só de conscientização, mas também de ações efetivas para aumentar 
subsídios para a mitigação, precificar as emissões de carbono e eliminar de maneira gradual o 
financiamento público em combustíveis não renováveis, além de também a criação de leis que 
regulam, incentive e até torne obrigatória a transição para modelos e estilo de vida de baixo 
carbono. Neste sentido, o mercado de carbono vem despontando como um instrumento 
relevante para o alcance das metas do Acordo de Paris. 
A partir das principais análises e conclusões do sexto relatório de avaliação do IPCC, a 
próxima seção se dedica a explicar como surge o mercado de carbono dentro da teoria 
econômica, para então entender se o mercado de carbono é de fato um instrumento relevante e 
que pode contribuir para que o Brasil assuma as metas e objetivos assumidos em sua NDC, no 
âmbito do Acordo de Paris. 
17 
 
1.2 Análise teórica do mercado de carbono 
 
Por muito tempo a teoria econômica ignorou a existência de uma relação entre o 
sistema econômico e o meio ambiente, de modo que um dos principais objetos de estudo das 
ciências econômicas, a escassez, não era aplicada aos recursos naturais. Da mesma maneira, 
os resíduos e a poluição atmosférica causados pelos processos produtivos não eram levados 
em consideração nos modelos existentes. Sendo assim, as teorias em geral consideravam que 
o sistema econômico funcionava de modo independente do ecossistema no qual ele está 
inserido, como se existissem fontes inesgotáveis de insumos materiais e energia e que, para 
além disso, toda matéria prima era convertida em produto e, portanto, não existia a geração de 
resíduos indesejados. ( SANTOS; JUNIOR; LUCENA, 2018) 
No entanto, a partir da década de 1960 os danos causados por atividades industriais e 
pela agricultura começaram a se refletir de maneira mais intensa na qualidade de vida da 
população, assim como a disponibilidade de recursos passou a se apresentar como uma 
limitação ao crescimento econômico. Nesse momento começaram a surgir correntes que 
passaram a incorporar mais diretamente as questões ambientais na teoria econômica, 
formando as bases para o surgimento do campo da economia do meio ambiente e dos recursos 
naturais. ( SANTOS; JUNIOR; LUCENA, 2018) 
Segundo Fiane e Santos (2018), a economia clássica, que abrange as teorias 
econômicas desenvolvidas durante os séculos XVIII e XIX e que teve como principais autores 
Adam Smith, David Ricardo, Thomas Robert Malthus e Karl Marx, aborda de certa maneira 
as questões ambientais. Ricardo desenvolveu toda sua análise em cima da teoria de Smith, 
tratando principalmente de como as terras férteis eram um elemento escasso e como isso 
afetaria o desenvolvimento humano. Na mesma linha, Malthus elaborou a teoria de que a 
população cresce geometricamente, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão 
aritmética, não acompanhando a expansão populacional, o que resultaria em um risco 
crescente de fome. Já Karl Marx se preocupava com a forma como o sistema capitalista 
crescia, degradando e contaminando o meio ambiente, e com como isso afetaria a 
humanidade, dado que o meio ambiente era um fator fundamental para a existência humana. 
Desta forma, pode-se notar que na teoria econômica clássica o meio econômico e o meio 
ambiente estavam relacionados, principalmente no que se refere à disponibilidade de recursos. 
18 
 
Entretanto, a partir de 1870 a teoria econômica tomou um novorumo com o 
surgimento da corrente neoclássica, que teve como principais nomes William Stanley Jevons, 
Carl Menger e Marie-Esprit-Léon Walras. Segundo essa corrente, são os preços de mercado 
que alocam os recursos produtivos de maneira eficiente. Isso é, em economias perfeitamente 
competitivas o mercado irá se regular até que o equilíbrio seja alcançado, de maneira que a 
oferta e demanda se igualem a longo prazo. A partir desse viés econômico, os problemas 
econômicos passaram a ser analisados pela óptica de maximização, onde o objetivo era 
encontrar o nível de funcionamento de uma economia que maximiza o ganho líquido. 
(FIANE; SANTOS, 2018) 
A teoria neoclássica, que atualmente é a base para as disciplinas de microeconomia em 
diversas escolas de economia ao redor do mundo, considera que os insumos do processo 
produtivo (também chamados de fatores de produção), em especial o capital, o trabalho, e a 
terra, podem ser substituídos um pelo outro indefinidamente, a chamada substitutibilidade dos 
fatores de produção. Esta substituição é feita sempre com o objetivo de maximizar o lucro e é 
determinada pela produtividade marginal e o custo de cada fator. 
No entanto, as hipóteses desse modelo se baseiam em diversas abstrações e, 
consequentemente, não condizem com a realidade econômica, principalmente pelo fato de não 
considerarem as falhas de mercado. As falhas de mercado são situações que ocorrem na 
prática e que contradizem as hipóteses adotadas no modelo, tais como o monopólio natural, a 
assimetria de informações, os bens públicos e as externalidades. Para o presente trabalho 
pode-se destacar os bens públicos e as externalidades devido à sua relevância no campo da 
economia do meio ambiente e dos recursos naturais. 
Os bens públicos são aqueles que têm como principais características ser não rivais e 
não exclusivos. Um bem é considerado não rival quando para qualquer nível de produção, o 
custo marginal de sua produção é zero para um consumidor adicional. Em outras palavras, o 
consumo por parte de um indivíduo não reduz a disponibilidade daquele bem para um outro 
indivíduo. Já um bem não exclusivo é aquele que as pessoas não podem ser impedidas de 
consumi-lo, o que inclusive torna possível consumir sem que se tenha que pagar por eles 
(PINDYCK, 2013) 
Os recursos naturais, como a água e o ar, são bens de propriedade comum, se 
assemelhando aos bens públicos, pois o consumo por um indivíduo não impossibilita o 
consumo de um outro indivíduos e, portanto, possuem características não disputável e 
19 
 
também não exclusivo. Outro ponto importante é que o recurso natural é considerado de 
todos, mas não tem um dono específico e, por esse fato, possui sempre mais consumidores do 
que o esperado, gerando um consumo irracional e muitas vezes excessivo. 
Quanto às externalidades, é necessário entender que elas ocorrem quando a ação de 
um ou mais agentes causa custos ou benefícios a uma terceira parte e que não eram o objetivo 
principal da ação, podendo ser classificadas como positivas ou negativas. Uma externalidade 
positiva é aquela em que a ação dos agentes gera um benefício para a terceira parte. Por 
exemplo, um proprietário que cultiva e mantém uma floresta na sua propriedade que fica 
situada em uma área importante para a provisão de água está beneficiando toda a sociedade 
com a provisão de recursos hídricos. Essa inclusive é a base do Programa Produtor de Água1, 
que usa o conceito de protetor-recebedor. 
Por outro lado, a externalidade negativa é quando a ação dos agentes gera um prejuízo 
ou custo a uma terceira parte. Um exemplo clássico é o caso de uma fábrica que no seu 
processo de produção causa poluição do ar (lembrando que o ar é um recurso natural que 
pertence a todos, mas não é propriedade de ninguém), afetando a qualidade do ar das pessoas 
que moram ao redor da fábrica. Esta situação pode gerar um aumento nos problemas 
respiratórios, entre outros que afetam o bem-estar geral daquela população, e os afetados pela 
ação não são compensados. 
Desta forma, quando externalidades estão presentes, o preço de um bem não 
necessariamente reflete seu valor social, dado que não tem embutido todos os custos 
associados à sua produção. No caso da fábrica, caso o produtor tivesse que “internalizar as 
externalidades”, isto é, arcar com os custos relacionados às doenças respiratórias causadas 
pela poluição, o preço do seu produto certamente seria mais elevado. Consequentemente, o 
nível de produção desta fábrica está acima do que seria considerado o “ótimo social”, que 
seria o nível caso todos os custos estivessem considerados no processo. (PINDYCK, 2013) 
Dois principais autores se destacam na discussão sobre a solução do problema da 
externalidade negativa. Pigou (1920), em seu trabalho "The Economicsofwelfare", que propôs 
que a solução para as externalidades negativas deve vir a partir da intervenção do Estado, por 
 
1
 Programa criado pela Agência Nacional de Águas (ANA) para estimular produtores a investir no cuidado com 
as águas, recebendo apoio técnico e financeiro para adoção de técnicas e medidas conservacionistas, gerando 
bem-estar econômico para os produtores e bem-estar social para a sociedade como um todo. (MINISTÉRIO DO 
MEIO AMBIENTE, 2008) 
 
20 
 
exemplo através de uma cobrança com base na diferença entre o custo marginal privado2 e o 
custo marginal social3, podendo ser chamada de uma espécie de "taxa do poluidor". Assim, 
Pigou elaborou o que ficou conhecido como “taxa pigouviana”, que deveria ser aplicada do 
produto, elevando seu custo para incorporar as externalidades. Desta forma, a taxa levaria o 
nível de produção para o “ótimo social”. 
Em contrapartida com a teoria de Pigou, Coase (1960), em seu trabalho "The 
Problemof Social Cost", afirma que a solução do problema da externalidade negativa não se 
encontra na intervenção do Estado, pois seria impossível mapear e acompanhar as ações de 
todos os agentes e avaliar os resultados dessas ações. Além disso, segundo Coase, a proposta 
de tributação de Pigou geraria empecilhos à produção de um dos agentes. Portanto, a solução 
do problema da externalidade se daria a partir da livre negociação entre as partes envolvidas. 
No entanto, para que essa livre negociação ocorra é preciso definir os direitos de propriedade, 
pois são eles que delimitam a ação de cada agente, discriminando quem são o causador e o 
receptor da externalidade. 
No caso da fábrica, definir os direitos de propriedade equivale a determinar se o 
produtor tem o direito de poluir ou se a população do entorno tem o direito ao ar puro, de 
modo que a partir de então os dois lados pudessem negociar entre si. Por exemplo, caso fosse 
estabelecido que a população tem direito ao ar puro, o produtor poderia pagar um certo valor 
aos moradores pela poluição causada para que ele pudesse produzir. Cabe notar que seria 
possível ainda estabelecer um meio termo, no qual o produtor poderia poluir até um 
determinado nível, a partir do qual precisaria pagar à população. De modo análogo, caso ele 
poluísse abaixo desse nível poderia ser recompensado por isto. 
Em resumo, o Teorema de Coase disserta que, uma vez definidos os direitos de 
propriedade, o processo de negociação (monetária) entre as partes leva a uma racionalidade 
econômica. Desse modo, segundo o autor, em concorrência perfeita, com custos de transação 
nulos, os agentes (sem intervenção do Estado) chegam a uma solução eficiente para eliminar o 
problema da externalidade. É a partir da análise do Teorema de Coase que o economista J. H. 
Dales atribui as externalidades à ausência ou má definição dos direitos de propriedades sobre 
os bens, pois para que exista a troca mercantil os direitos sobre as propriedades devem ser 
exclusivos e transferíveis. Esse autor busca definir os direitos para permitir as trocas entre2
 Custo direto gerado quando uma empresa produz uma unidade adicional de um bem. (PYNDICK, 2013) 
3
 Custo marginal privado + O custo adicional do processo de produção da empresa que recai sobre a sociedade 
(externalidade negativa) e que o causador não paga pelo mal estar gerado. (PYNDICK, 2013) 
21 
 
agentes, com o objetivo de atingir um equilíbrio com características de ótimo de Pareto. 
(SANTOS; JUNIOR; LUCENA, 2018) 
As análises de Dales deram origem em 1968 a um instrumento de internalização das 
externalidades chamado de mercado de licenças de emissão, no qual o Estado ou órgão de 
controle decide a quantidade aceitável de poluição e são emitidos títulos ou postos à venda no 
mercado de títulos os direitos de poluir. Desta forma, um agente terá o direito de emitir uma 
quantidade de poluição que é determinada no título que detém. Caso venha a poluir mais do 
que o permitido em seu título, esse agente deverá despoluir, o que pode ocorrer através da 
compra de licença daquele outro agente que poluiu abaixo do nível permitido, para que exista 
uma compensação da externalidade que excedeu o limite aceitável ( SANTOS; JUNIOR; 
LUCENA, 2018) 
Esse mercado de licenças de emissão funciona no formato “cap-and-trade”. Isto é, 
existe um “cap” (limite), que é dividido em licenças que conferem direitos de poluir, e um 
“trade” (comércio), que cria a possibilidade de compra e venda dessas licenças. Os preços das 
licenças variam de acordo com a oferta e demanda, mas com quantidades de licenças totais 
definidas de acordo com um limite de emissões considerado "seguro" para serem lançadas no 
meio ambiente, possibilitando os indivíduos de atuarem no mercado de acordo com seus 
interesses privados. 
Para ilustrar como funciona esse mercado, na Figura 1 é considerado um mercado 
composto por duas empresas (Empresa 1 e Empresa 2). Nesse mercado, o Estado determina o 
nível máximo de poluição permitido (Stotal), que para as empresas representam as metas S1 e 
S2, respectivamente. O nível de poluição é representado pela letra W, onde para representar o 
nível de poluição de cada empresa são utilizados W1 e W2. Neste gráfico, a CMgA1 e CMgA2 
são as curvas da demanda por licença de cada uma das empresas. Em uma situação sem a 
possibilidade de comércio de emissões, ambas as empresas deveriam reduzir suas emissões 
até atingir o nível estabelecido, que é igual para ambas. Entretanto, pode-se observar que a 
Empresa 2 terá um custo maior para alcançar esse limite, pois sua curva de demanda por 
licenças é maior, e no gráfico é possível ver que não atingiu sua meta (S2). Sendo assim, para 
atingir sua meta, a empresa 2 pode comprar o excedente da empresa 1 (região entre W1 e 
W1*), de forma a atingir a sua meta. 
 
 
 
Figura 1 - Funcionamento do Mercado de emissão de licenças
Este raciocínio é a base para as 
Um primeiro exemplo em nível internacional foi o Protocolo de Quioto, estabelecido em 1997 
durante a COP 3 no Japão. O Protocolo de Quioto é um tratado internacional que surge com o 
objetivo de firmar compromissos de maneira mais rígida quanto à redução das emissões de 
GEE e que pela primeira vez estabeleceu limites de emissões. De acordo com o Protocolo, os 
países desenvolvidos, em conjunto, deveriam reduzir suas emissões de GEE em pelo menos 
5% até 2012 em relação aos níveis de 1990. 
Para contribuir para o alcance dessa meta, o Protocolo de Quioto estabeleceu três 
instrumentos, conhecidos como mecanismos de flexibilização: o Comércio de Emissões; a 
Implementação Conjunta; e o Mecanismo de Desenvolvimento 
os dois primeiros envolvem somente os países desenvolvidos, enquanto o terceiro envolve 
países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O comércio de emissões foi proposto de forma que os países que superassem as suas 
metas de redução de emissões pudessem comercializar o excedente de sua redução para 
aqueles países que não conseguiram atingir suas metas. O objeto da transação seria um crédito 
de carbono, que é um certificado eletrônico emitido quando existe uma redução das emissões 
de GEE, sendo um crédito equivalente a uma tonelada de 
na atmosfera (MENEGUIN, 2012).
Funcionamento do Mercado de emissão de licenças
Fonte: SANTOS et al. (2018). 
Este raciocínio é a base para as propostas de implementação de mercados de carbono. 
Um primeiro exemplo em nível internacional foi o Protocolo de Quioto, estabelecido em 1997 
durante a COP 3 no Japão. O Protocolo de Quioto é um tratado internacional que surge com o 
romissos de maneira mais rígida quanto à redução das emissões de 
GEE e que pela primeira vez estabeleceu limites de emissões. De acordo com o Protocolo, os 
países desenvolvidos, em conjunto, deveriam reduzir suas emissões de GEE em pelo menos 
m relação aos níveis de 1990. 
Para contribuir para o alcance dessa meta, o Protocolo de Quioto estabeleceu três 
instrumentos, conhecidos como mecanismos de flexibilização: o Comércio de Emissões; a 
Implementação Conjunta; e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Dentre estes, 
os dois primeiros envolvem somente os países desenvolvidos, enquanto o terceiro envolve 
países desenvolvidos e em desenvolvimento. 
O comércio de emissões foi proposto de forma que os países que superassem as suas 
de emissões pudessem comercializar o excedente de sua redução para 
aqueles países que não conseguiram atingir suas metas. O objeto da transação seria um crédito 
de carbono, que é um certificado eletrônico emitido quando existe uma redução das emissões 
GEE, sendo um crédito equivalente a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitido 
na atmosfera (MENEGUIN, 2012). 
22 
Funcionamento do Mercado de emissão de licenças 
 
propostas de implementação de mercados de carbono. 
Um primeiro exemplo em nível internacional foi o Protocolo de Quioto, estabelecido em 1997 
durante a COP 3 no Japão. O Protocolo de Quioto é um tratado internacional que surge com o 
romissos de maneira mais rígida quanto à redução das emissões de 
GEE e que pela primeira vez estabeleceu limites de emissões. De acordo com o Protocolo, os 
países desenvolvidos, em conjunto, deveriam reduzir suas emissões de GEE em pelo menos 
Para contribuir para o alcance dessa meta, o Protocolo de Quioto estabeleceu três 
instrumentos, conhecidos como mecanismos de flexibilização: o Comércio de Emissões; a 
Limpo (MDL). Dentre estes, 
os dois primeiros envolvem somente os países desenvolvidos, enquanto o terceiro envolve 
O comércio de emissões foi proposto de forma que os países que superassem as suas 
de emissões pudessem comercializar o excedente de sua redução para 
aqueles países que não conseguiram atingir suas metas. O objeto da transação seria um crédito 
de carbono, que é um certificado eletrônico emitido quando existe uma redução das emissões 
que deixou de ser emitido 
23 
 
A implementação conjunta é um mecanismo que permite que um país desenvolvido, 
que tem metas a cumprir de acordo com o estabelecido no Protocolo de Quioto, possa 
implementar um projeto de redução em países que também possuem metas, mas que eram 
considerados “em transição econômica”. A lógica desse mecanismo é que um país possa 
desenvolver um projeto em outro onde o custo de redução seja menor, conforme explicado 
acima, e desse modo podem utilizar as Reduções Certificadas de Emissões (RCE), ou crédito 
de carbono, geradas por esses projetos para atingir suas metas. Com isso, os países que estão 
sendo hospedeiros do projeto também acabam se beneficiando, principalmente através de 
investimento de capital estrangeiro e com a transferência de tecnologia trazida pelos projetos. 
O Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, definido no artigo 12 do Protocolo de 
Quioto, é um instrumento semelhante à implementação conjunta, mas que ocorre entre países 
desenvolvidos e em desenvolvimento. O MDL tem o objetivo de incentivar um 
desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento ao mesmo tempo que incentivaos países desenvolvidos a cumprirem suas metas de redução. Os projetos de MDL, ao entrar 
em vigor, também geram a Redução Certificada de Emissões, na qual é estabelecida uma 
quantidade de crédito de carbono alcançada pelo projeto. Os interesses em projetos de MDL 
ocorrem justamente pelos créditos de carbono que são emitidos assim que o projeto entra em 
vigor, devido a possibilidade de comercializar esses créditos, já que os demais países devem 
estar alinhados com as políticas de desenvolvimento sustentável do país hospedeiro. 
Para que os projetos de MDL sejam certificados, é necessário seguir algumas normas, 
como por exemplo gerar um benefício real, mensurável e de longo prazo quanto à mitigação 
das mudanças climáticas e que as reduções geradas por esses projetos sejam adicionais as 
geradas sem a adoção do mesmo (critério da adicionalidade). Isso é, só é possível considerar 
as reduções geradas por um projeto se elas forem menores do que a base de referência em um 
cenário que o projeto não existe (DUARTE; TUPIASSU; NOBRE, 2020). 
Como existe um grupo de países com metas de redução e um outro grupo sem metas 
de redução, há também diferentes formas de cálculo das reduções. Para países desenvolvidos, 
o cálculo é a soma das emissões nacionais de todos os gases em todos os setores industriais, 
em relação com a base de emissões de 1990, gerando uma meta percentual a ser atingida. Já 
para os países em desenvolvimento, o cálculo é individual de cada projeto e, como 
mencionado anteriormente, é considerado como base o cenário de emissões que ocorreriam 
sem a adoção dos projetos. 
24 
 
Considerando os diferentes cálculos, metas e obrigações, surgem então dois mercados 
de crédito distintos, sendo um considerado regulado e o outro voluntário. A diferença entre 
eles é que no mercado regulado os créditos gerados servem para abater metas de redução 
assumidas no Protocolo, enquanto no mercado voluntário as metas são abatidas 
voluntariamente por empresas, por exemplo, sem serem regulamentadas pelo Protocolo. O 
Brasil, como é considerado um país em desenvolvimento, não teve metas obrigatórias de 
redução no âmbito do Protocolo de Quioto e, portanto, o seu mercado de crédito de carbono 
pode ser considerado voluntário. 
Entretanto, esta condição se alterou com o advento do Acordo de Paris. Em primeiro 
lugar, todos os países signatários passaram a ter metas de redução das emissões de GEE, ainda 
que essas metas sejam estabelecidas por cada país através de sua NDC. Além disso, um dos 
pontos do Acordo de Paris que mais tem sido discutido é seu Artigo 6º, que surge como uma 
espécie de nova versão dos mecanismos criados pelo Protocolo de Quioto, no sentido que 
também foram criadas modalidades com o objetivo de promover um desenvolvimento 
sustentável que garanta a integridade ambiental. As duas modalidades criadas possibilitam os 
países signatários do Acordo de cooperarem de maneira voluntária e transparente na 
implementação de suas NDCS, sendo elas: 
i) Comércio de certificados de redução de emissão entre países, chamados de Resultado de 
Mitigação Internacionalmente Transferidos (ITMO); 
ii) Mecanismo de transação dos créditos gerados por projetos de redução de emissão de GEE 
entre entidades públicas e privadas. 
No caso do Resultado de Mitigação Internacionalmente Transferidos é permitida a 
transação direta entre países dos certificados gerados pela redução de emissões. Isto é, os 
créditos gerados através de ações de mitigação em um país podem ser negociados com um 
outro país. O país comprador do crédito pode contabilizar o crédito comprado como parte da 
meta da sua NDC sem que tenha implementado diretamente a ação de mitigação que gerou o 
crédito. Um ponto importante a ser destacado é que após a transação, os créditos devem ser 
registrados de maneira transparente, assim como também os ajustes de acordo com sua NDC. 
No mecanismo de transação de créditos de redução por entidades públicas e privadas, uma 
empresa localizada em um determinado país que reduz a emissão de GEE e gera créditos por 
isso pode vender esses créditos para um outro país, que poderá usar o crédito para contribuir 
ao alcance das metas de sua NDC. 
25 
 
A plena implementação do Artigo 6º do Acordo de Paris ainda depende da 
regulamentação desses mecanismos, uma vez que é necessário que se estabeleça critérios 
rigorosos para que o mecanismo contribua de maneira efetiva para o alcance das metas do 
Acordo. Dois aspectos de maior destaque nas discussões sobre a sua regulamentação são a 
adicionalidade e a dupla contagem. O primeiro se refere à condição de que a geração de 
créditos ocorra apenas pela redução das emissões que não ocorreriam na ausência do projeto 
implementado, enquanto o segundo diz respeito à necessidade de evitar que dois ou mais 
países contabilizem ao mesmo tempo os créditos para o alcance da sua NDC. 
Em 2015 o Brasil assinou o Acordo de Paris se comprometendo, através da sua NDC, 
com a meta de redução das emissões de GEE em 37% até 2025 e uma meta indicativa de 43% 
até 2030, ambas em relação ao nível de emissões de 2005. No final de 2020 a NDC brasileira 
foi revisada (conforme preconizado pelo Acordo de Paris), com a nova versão reafirmando as 
metas anteriores e introduzindo uma meta indicativa de alcance da neutralidade climática, ou 
seja, emissões líquidas de GEE nulas, até 2060. Posteriormente houve uma nova atualização, 
inicialmente anunciada durante a COP 26, em novembro de 2021, e em seguida oficializada 
pelo governo. Nesta atualização foi estabelecida, entre outras coisas, uma nova meta de 
redução das emissões em 50% até 2030. 
Entretanto, enquanto essas propostas se desenvolvem em nível internacional, o Brasil 
ainda carece de um arcabouço regulatório para a implementação de um mercado de carbono 
doméstico, e sua implementação é considerada de grande importância para o alcance das 
metas da NDC. Os estudos Partnership for the Market Readiness e Clima e Desenvolvimento: 
Visões para o Brasil de 2030 analisaram como poderia se desenvolver o instrumento em 
ambiente nacional e quais seriam seus impactos, e algumas propostas foram apresentadas para 
a sua regulamentação, como um projeto de lei que tramita no Congresso e um decreto 
publicado pela presidência este ano. Estas iniciativas serão apresentadas no próximo capítulo. 
 
26 
 
2. PROPOSTAS PARA UM MERCADO DE CARBONO NO BRASIL 
 
De acordo com conclusões apresentadas através dos relatórios do IPCC, o cenário 
mundial quanto às mudanças climáticas tem sido crítico e exige ações imediatas. No caso 
específico do Brasil, desde 2019 o país sofre com uma crise ambiental que vem se agravando 
com o passar dos anos, devido principalmente a um desmonte das políticas ambientais, com 
flexibilização da legislação e redução de recursos. 
Nesse cenário, houve um aumento exacerbado nas queimadas, no desmatamento e um 
grande dano em reservatórios naturais de CO2 e sumidouros. No final do ano de 2019, o total 
de focos de fogo ativo, isto é, de queimadas, era de 19.763, enquanto no ano seguinte houve 
um aumento que levou a um total de 22.279. Já no ano de 2022, sem dados de novembro e 
dezembro, este valor já se encontra em 17.218 fogos ativos totais (INPE, 2022). Quanto ao 
desmatamento, somente na Amazônia, de acordo com dados do Sistema de Alerta de 
Desmatamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, no ano de 2019 o 
nível de desmatamento por km² era de 5.057 km². Já em 2021 este valor dobrou, resultando 
em uma área desmatada de 10.476 km². No ano de 2022, sem dados de novembro e dezembro, 
a área já ultrapassa o marco anterior, totalizando uma área de 10.781 km² desmatados, 
atingindo pela quarta vez consecutiva o pior índice de desmatamento desde 2008, quando o 
índice foi de 5.027 km². 
Para além de toda a problemática socioambiental gerada por este aumento nas 
queimadas e desmatamento, estes indicadorestambém contribuem para o aumento das 
emissões de GEE por parte do Brasil, que vem crescendo ao longo da última década e em 
2020, de acordo com dados do SEEG (2022), resultou em 2,16 GtCO2e emitidas, o que 
contribui ainda mais para o afastamento do país de suas metas no âmbito do Acordo de Paris. 
O mercado de carbono emergiu como um instrumento que pode contribuir para a 
redução das emissões de GEE, conforme apresentado no capítulo anterior. Sendo assim, o 
presente capítulo tem como objetivo apresentar os aspectos presentes em diferentes propostas 
para um mercado de carbono já elaboradas para o Brasil. A primeira parte apresentará o caso 
da PL 528/2021, projeto de lei que se encontra em tramitação no Congresso para a 
regulamentação do mercado de carbono no Brasil. A segunda parte analisará a proposta do 
projeto Partnership for Market Readiness (PMR), cujo objetivo foi discutir a inclusão da 
27 
 
precificação do carbono no pacote de instrumentos da Política Nacional de Mudança do Clima 
(PNMC). Em seguida será apresentado o estudo conduzido pela iniciativa "Clima e 
Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030" (COPPE, 2021) e, por fim, será abordado o 
Decreto de número 11.075/2022, instituído pela presidência. Ao final do capítulo são tecidas 
algumas conclusões à luz das diferentes propostas e estudos analisados. 
 
1.3 Projeto de Lei 528/2021 
 
O Projeto de Lei nº 528 de 2021 (PL 528/2021) foi apresentado em fevereiro de 2021 
pelo deputado Marcelo Ramos com a proposta de regulamentar o Mercado Brasileiro de 
Redução de Emissões (MBRE) previsto pela Política Nacional de Mudança do Clima de 
2009. Entre as justificativas para o projeto de lei está o desenvolvimento inteligente e 
estratégico da economia, respeitando o meio ambiente ao mesmo tempo que combate à 
pobreza, levando principalmente em conta as normas legais que preveem o mercado de 
carbono no âmbito nacional, como a PNMC. 
O projeto de lei também usa como justificativa a crise econômica desencadeada pela 
COVID-19, a qual gerou mudanças no consumo de energia e no comportamento do 
consumidor, além de ter desestabilizado economicamente muitos países e contribuído para o 
afastamento das metas de redução de emissões conforme o Acordo de Paris. Entretanto, 
apesar do cenário economicamente caótico, os países se encontram em fase de recuperação e 
retomada de estímulos, o que, segundo o projeto de lei, é propício para uma aceleração dos 
esforços e estímulos nas ações climáticas, sendo o mecanismo de precificação do carbono 
uma alternativa para reaquecer a economia brasileira. Diversos países ao redor do mundo têm 
aderido ao mercado de carbono ou expandido iniciativas de precificação de carbono e estima-
se que o mercado de crédito de carbono movimentou 194 bilhões de euros em 2019, de acordo 
com análises do Refiniv4 
A PNMC previu a compatibilidade entre o desenvolvimento econômico e a proteção 
climática, considerando o incentivo à redução de GEE, o reflorestamento e expansão de áreas 
de proteção e preservação ambiental. De acordo com a política, todas as ações e medidas 
 
4
 Refinitiv é um fornecedor global americano-britânico de informações de dados e infraestrutura do mercado 
financeiro (REFINITIV, 2022) 
28 
 
tomadas devem considerar os diferentes contextos socioeconômicos de sua aplicação, atuando 
principalmente em benefício das presentes e futuras gerações. A PNMC estabeleceu, em seu 
Artigo 9º, o desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, devendo este 
ser “operacionalizado em bolsas de mercadorias e futuros, bolsas de valores e entidades de 
balcão organizado, autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), onde se dará a 
negociação de títulos mobiliários representativos de emissões de gases de efeito estufa 
evitadas certificadas” (Lei nº 12.187/2009, Art. 9º). 
De acordo com o Artigo 3º do PL 528/2021, os objetivos do Mercado Brasileiro de 
Redução de Emissões são: o fomento de atividades de projetos de redução e remoção de gases 
de efeito estufa; o incentivo econômico à conservação e proteção ambientais; a melhoria do 
ambiente e segurança do mercado de carbono no Brasil; a valorização dos ativos ambientais 
do Brasil; a geração de riqueza de maneira que incentive o combate à pobreza por meio de 
atração de investimentos e negociações com os créditos de carbono; e a redução dos custos de 
mitigação de GEE para a sociedade. 
Importante enfatizar que, de acordo com o PL, serão elegíveis ao MBRE somente os 
créditos de carbono originados do Brasil a partir de projetos ou programas de redução ou 
remoção de GEE, sendo que esses programas devem ser verificados e emitidos de acordo com 
os padrões de certificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Além 
disso, os créditos devem ser registrados no Sistema Nacional de Registro de Inventário de 
Emissões de Gases de Efeito Estufa (SNRI-GEE), que seria criado a partir da aprovação e 
vigência da Lei e deve ser administrado pelo Instituto Nacional de Registro de Dados 
Climáticos (INRDC). O INRDC, por sua vez, tem a função de efetuar os registros dos 
projetos de redução ou remoção de GEE e crédito de carbono para, dessa forma, garantir a 
segurança e credibilidade das transações dos créditos de carbono, assim como também serve 
de ferramenta contábil nacional para as transações em âmbito nacional e internacional. O 
Instituto tem sua gestão e administração voltada estritamente ao incentivo do MBRE e outros 
ativos ambientais que possam vir a ser regulamentados, e deve ser fiscalizado e 
regulamentado pelo Ministério da Economia, devendo empregar os procedimentos 
necessários para a implementação do MBRE em até 180 dias a partir da publicação da Lei. 
Para além das regras já descritas, também são mencionadas regras específicas para o 
padrão de certificação, como o monitoramento das atividades do projeto e/ou programa, e a 
verificação periódica dos resultados aferidos pelo projeto, como também de dados gerais 
 
quanto ao monitoramento, verificação ou validação do mesmo. Um outro ponto destacado no 
projeto de lei a respeito dos padrões de certificação é que eles serão elaborados com base em 
metodologia e critérios compatíveis com as melhores práticas internacionais quanto ao 
mercado de carbono. 
A partir da publicação da Lei, o Ministério da Economia tem até 5 anos para 
regulamentar o programa nacional obrigatório de compensação de emissões de GEE, que 
deverá ser baseado em sistema de transação de crédito de carbono e utilizar dado
Inventários Nacionais de Emissões e Remoções de GEE, com foco nos setores da economia 
com o maior índice de emissões de GEE e também nos setores com maior capacidade de 
remoção e compensação de GEE. Um ponto de destaque no programa nacional de 
compensação é a criação de metas setoriais e individuais de redução e compensação de forma 
progressiva através da NDC. Além disso, o programa deverá criar proventos financeiros e 
administrativos para pessoas jurídicas públicas ou privadas que adotarem medidas de
compensação ou inventariação de suas emissões de gases de efeito estufa no MBRE. 
Na figura 2 é possível ter um 
maior índice de emissões de GEE e o comportamento dessas emissões por setor no período de 
2000-2020. 
Figura 2 - Emissões brutas de GEE no Brasil por setor (2000 
De acordo com a figura, é possível identificar o setor de "Mudança de Uso da Terra e 
Floresta" como o setor com o maior número de emissões brutas de GEE no Br
amento, verificação ou validação do mesmo. Um outro ponto destacado no 
projeto de lei a respeito dos padrões de certificação é que eles serão elaborados com base em 
metodologia e critérios compatíveis com as melhores práticas internacionais quanto ao 
A partir da publicação da Lei, o Ministério da Economia tem até 5 anos para 
regulamentar o programa nacional obrigatório de compensação de emissõesde GEE, que 
deverá ser baseado em sistema de transação de crédito de carbono e utilizar dado
Inventários Nacionais de Emissões e Remoções de GEE, com foco nos setores da economia 
com o maior índice de emissões de GEE e também nos setores com maior capacidade de 
remoção e compensação de GEE. Um ponto de destaque no programa nacional de 
sação é a criação de metas setoriais e individuais de redução e compensação de forma 
progressiva através da NDC. Além disso, o programa deverá criar proventos financeiros e 
administrativos para pessoas jurídicas públicas ou privadas que adotarem medidas de
compensação ou inventariação de suas emissões de gases de efeito estufa no MBRE. 
Na figura 2 é possível ter um Overview dos setores da economia brasileira com o 
maior índice de emissões de GEE e o comportamento dessas emissões por setor no período de 
Emissões brutas de GEE no Brasil por setor (2000 
 
Fonte: SEEG (2022) 
De acordo com a figura, é possível identificar o setor de "Mudança de Uso da Terra e 
Floresta" como o setor com o maior número de emissões brutas de GEE no Br
29 
amento, verificação ou validação do mesmo. Um outro ponto destacado no 
projeto de lei a respeito dos padrões de certificação é que eles serão elaborados com base em 
metodologia e critérios compatíveis com as melhores práticas internacionais quanto ao 
A partir da publicação da Lei, o Ministério da Economia tem até 5 anos para 
regulamentar o programa nacional obrigatório de compensação de emissões de GEE, que 
deverá ser baseado em sistema de transação de crédito de carbono e utilizar dados dos 
Inventários Nacionais de Emissões e Remoções de GEE, com foco nos setores da economia 
com o maior índice de emissões de GEE e também nos setores com maior capacidade de 
remoção e compensação de GEE. Um ponto de destaque no programa nacional de 
sação é a criação de metas setoriais e individuais de redução e compensação de forma 
progressiva através da NDC. Além disso, o programa deverá criar proventos financeiros e 
administrativos para pessoas jurídicas públicas ou privadas que adotarem medidas de 
compensação ou inventariação de suas emissões de gases de efeito estufa no MBRE. 
dos setores da economia brasileira com o 
maior índice de emissões de GEE e o comportamento dessas emissões por setor no período de 
Emissões brutas de GEE no Brasil por setor (2000 - 2020) 
 
De acordo com a figura, é possível identificar o setor de "Mudança de Uso da Terra e 
Floresta" como o setor com o maior número de emissões brutas de GEE no Brasil. Em 2003, 
30 
 
ano que apresentou o maior nível de emissão, o setor emitiu 2,1 GtCO2e. No entanto, é 
possível observar que durante o período de 2009 à 2013 houve uma redução nas emissões por 
parte deste setor, que neste ano emitiu 0,73 GtCO2e. O setor se manteve estável até 2013, 
quando voltou a subir, emitindo 0,8 GtCO2e. Em 2020 é possível observar que as emissões 
voltaram a subir, representando cerca de 1 GtCO2e apenas nesse setor. Apesar do nível 
consideravelmente baixo quando comparado ao nível de 2003, a figura mostra uma tendência 
de aumento das emissões no setor nos últimos anos. Em seguida, observamos a Agropecuária 
e Energia, respectivamente, como setores cujas emissões de GEE também se apresentam 
significativamente altas. Ao longo dos anos, ambos setores não apresentaram aumento 
significativo no nível de emissões. Em 2020, respectivamente, o setor da Agropecuária e de 
Energia emitiram 577.022.998 e 393.705.259 toneladas de emissões de CO2. 
De maneira resumida, este projeto de lei tem como principal objetivo conceituar e 
determinar a natureza jurídica dos ativos de carbono, estabelecer um sistema de registro de 
inventariação das emissões e suas transações, a fim de contabilizar para efeitos do Artigo 6º 
do Acordo de Paris, fomento a projetos de redução e remoção de GEE, estabelecimento de um 
mercado nacional de redução de emissões através da nossa NDC, de maneira que contribua 
com a conservação e proteção ambiental, gerando riquezas e combatendo a pobreza por meio 
de atração de investimentos e negociações com o crédito de carbono. 
 
1.4 Projeto Partnership for Market Readiness 
 
O projeto Partnership for Market Readiness (PMR), Parceria para Preparação para o 
Mercado em tradução livre, é um projeto idealizado pelo Banco Mundial e que no Brasil teve 
o apoio do então Ministério da Fazenda, tendo início em 2016 e finalizado em 2020. O projeto 
teve como objetivo discutir o processo de tomada de decisão, subsidiando o governo 
brasileiro quanto ao papel e conveniência dos instrumentos de precificação de carbono nas 
políticas de mitigação de emissões de GEE no país. A contribuição do projeto foi através de 
estudos detalhados e análise dos impactos de diversos instrumentos de mitigação na 
economia, sociedade e meio ambiente. 
O PMR Brasil buscou responder se seria viável a implementação de um instrumento 
de precificação de carbono como parte da política climática do Brasil no período pós-2020 e, 
31 
 
em caso afirmativo, quais as principais características o instrumento deveria ter para otimizar 
a relação entre o cumprimento de compromissos e objetivos climáticos e o desenvolvimento 
socioeconômico. Para isso, o projeto contou com a contribuição de mais de 80 especialistas, 
de diversas nacionalidades, além de também ter utilizado contribuições a partir de interações 
com membros do governo, do setor privado, pesquisadores e da sociedade como um todo. 
Um ponto destacado pelo projeto é que a adoção de precificação de emissões deve ser 
coordenada juntamente com o processo de melhoria regulatória e preparação da NDC 
brasileira, para que os papéis dos instrumentos sejam efetivos e comprováveis na esfera do 
alcance das metas de redução das emissões de GEE nacionais pós-2020. 
O projeto foi organizado em três componentes para responder às questões levantadas. 
O componente 1 corresponde a estudos setoriais, incluindo os setores de energia (eletricidade 
e combustíveis), indústria (química, papel e celulose, siderurgia, alumínio, cimento, cal, vidro, 
alimentos e bebidas, têxtil, mineração e cerâmica), e floresta e agropecuária (pecuária de 
corte). Com o objetivo de desenhar alternativas proeminentes de instrumentos de políticas 
climáticas, foram analisadas as estruturas econômicas e as tecnologias de mitigação de GEE, 
assim como todo o cenário institucional e regulatório de cada um desses setores. Em seguida 
foi feita uma revisão de experiências internacionais no tema, utilizando diferentes 
instrumentos para atingir as metas da NDC brasileira, mas com foco na implementação de 
instrumentos de precificação de carbono. Portanto, o foco do Componente 1 foi pesquisar e 
analisar as principais questões envolvidas na implementação de instrumentos de crédito de 
carbono nos principais setores da economia brasileira, bem como também questões 
relacionadas a opções de desenho para os instrumentos analisados. 
A partir dos resultados obtidos, o Componente 2 buscou fazer uma avaliação dos 
potenciais impactos da implementação dos instrumentos propostos. Esse componente foi 
dividido entre uma parte de modelagem macroeconômica para estimar os impactos 
(Componente 2A), e uma parte de análise do impacto regulatório (Componente 2B). Essas 
análises serão explanadas no Capítulo 3 "Impactos de um Mercado de Carbono no Brasil" 
desta monografia. Por fim, o Componente 3 teve como objetivo a comunicação e engajamento 
entre stakeholders, que se concentraram em compartilhar os resultados dos estudos realizados 
nos componentes que antecederam. Estes resultados foram compartilhados através de 
seminários públicos e workshops de acesso restrito. 
32 
 
Para além dos componentes técnicos, também foram feitas análises jurídicas e 
institucionais para analisar e criar o marco regulatório, a natureza jurídica dos direitos de 
emissões em um Sistema de Comércio de Emissões e o regulamentoinstitucional para o 
funcionamento desse sistema. 
A partir de análises do Componente 1, o projeto selecionou oito cenários, sendo um 
deles o cenário tendencial no qual são projetadas as emissões de GEE considerando a 
tendência atual de emissões de GEE e políticas de mitigação já existentes. Neste cenário não 
existe nenhum mecanismo de precificação, e não deve servir como cenário base de 
comparação de resultados, mas como base para implementação dos cenários de precificação 
propostos. Além desse cenário tendencial, foram elaborados sete cenários que envolvem 
algum tipo de regulação adicional, sendo que todos pressupõem o cumprimento das metas da 
NDC brasileira de maneira precisa, de modo que seja possível comparar os impactos 
socioeconômicos. 
O primeiro cenário a ser analisado foi o cenário considerado de referência, de maneira 
que os demais cenários o tiveram como base de comparação. Nesse primeiro cenário, o Brasil 
cumpre a NDC sem o auxílio de nenhum instrumento de precificação das emissões de 
carbono, tendo como referência medidas mencionadas no anexo da NDC brasileira, como 
políticas do comando e controle, que são políticas públicas que asseguram comportamentos 
socialmente aceitos através da implementação de leis, ou seja, através de fiscalização, 
regulamentação, etc. Os demais 6 cenários analisados envolveram a adoção de instrumentos 
de precificação de carbono de maneira diversificada, buscando justificar os diferentes 
cenários pela ótica da eficiência em relação ao cumprimento da NDC brasileira e o 
desenvolvimento econômico e da sociedade. Estes cenários são chamados de: i) cenário basal 
de precificação; ii) cenário distributivo; iii) cenário de ajuste de fronteira; iv) cenário de 
inclusão da pecuária; v) cenário de isenção de combustíveis sensíveis; e vi) cenário 
segmentado. 
O cenário basal de precificação analisa características de desenho que se adaptem à 
realidade nacional no âmbito econômico, regulatório, institucional e tecnológico. O 
instrumento utilizado nesse cenário é o Sistema de Comércio de Emissões, regulamentando os 
GEE, com foco na queima de combustíveis e processos industriais. O cenário também trata de 
alocação gratuita de 50% de direitos de emissões na primeira fase de todos setores , uso de 
33 
 
offsets5, isenção de exportação para não prejudicar a competitividade do produto brasileiro no 
mercado internacional e inibição de picos de preço, tudo isso com o principal objetivo de 
prevenir grandes impactos na competitividade dos agentes regulados. Um ponto de destaque 
quanto ao cenário basal é que nele a reciclagem das receitas geradas pela precificação seria 
uma redução na alíquota do INSS, gerando uma neutralidade fiscal. 
Os demais cenários tomam o cenário basal como base, adotando algumas 
especificidades em cada um dos casos: 
● Cenário distributivo - as receitas geradas pela precificação se destinam crucialmente a 
compensações distributivas em transferências diretas às famílias de baixa renda ao 
invés de redução na alíquota do INSS, como proposto no cenário basal. 
● Cenário de ajuste de fronteira - busca-se proteger a competitividade através de um 
tratamento justo entre produtos importados e nacionais, ao invés das alocações 
gratuitas das permissões. 
● Cenário de inclusão da pecuária - o escopo regulatório é ampliado, contando com a 
inclusão da fermentação entérica da pecuária de corte. 
● Cenário de isenção de combustíveis sensíveis - consiste em um escopo de regulação 
mais restrito, com a exclusão do diesel e do GLP dos combustíveis regulados, assim 
como também foi testada a exclusão da gasolina desse escopo. 
● Cenário segmentado - modifica o escopo da regulação com instrumentos setoriais 
particulares, ao invés de instrumentos multissetoriais de maior amplitude. Nesse 
cenário, não existe a possibilidade de comercialização entre os setores, o que 
implicaria diferentes preços de carbono entre setores. 
Na figura 3 é possível compreender a lógica de comparação entre os diferentes 
cenários e como se correlacionam, clarificando de forma ilustrativa o que foi descrito acima. 
 
 
 
 
 
5
 Crédito de compensação que pode ser usado para conciliação de até 20% das emissões em projetos verificados 
em atividades não reguladas nesse cenário. 
 
Figura 3 
 
Na tabela 1 é possível ter uma visão global, de maneira sucinta, das principais 
característica dos cenários e como se diferem entre si, dentro da lógica apresentada acima: 
 
Tabela 1 - Cenários simulados no PMR e principais características
Cenários 
Setores com 
precificação 
Tendencial Nenhum 
Referência Nenhum 
Investimentos 
adicionais em 
Basal 
Indústria, 
combustíveis, 
geração e consumo 
de combustíveis e 
energia 
Precificação de 
Investimentos 
adicionais em 
Figura 3 - Lógica de Comparação dos Cenários
Fonte: Centro Clima COPPE/UFRJ (2021) 
Na tabela 1 é possível ter uma visão global, de maneira sucinta, das principais 
característica dos cenários e como se diferem entre si, dentro da lógica apresentada acima: 
Cenários simulados no PMR e principais características
Choques 
Simulados 
Isenções 
Proteção a 
Competitividade
Nenhum - - 
Investimentos 
adicionais em 
medidas de 
mitigação 
- - 
Precificação de 
CO2e e 
Investimentos 
adicionais em 
medidas de 
mitigação 
50% de alocação 
gratuita na primeira 
fase de todos 
setores e 
exportação 
5% a 10% 
adicionais para 
setores vulneráveis
34 
Lógica de Comparação dos Cenários 
 
Na tabela 1 é possível ter uma visão global, de maneira sucinta, das principais 
característica dos cenários e como se diferem entre si, dentro da lógica apresentada acima: 
Cenários simulados no PMR e principais características 
Proteção a 
Competitividade 
Limite de 
Emissões 
Reciclagem 
Receitas 
- - 
Atingir NDC 
com 
comando e 
controle 
- 
5% a 10% 
adicionais para 
neráveis 
Relativo ao 
preço para 
atingir NDC 
Redução 
encargos 
trabalhistas 
35 
 
Distributivo 
Indústria, 
combustíveis, 
geração e consumo 
de combustíveis e 
energia 
Precificação de 
CO2e e 
Investimentos 
adicionais em 
medidas de 
mitigação 
50% de alocação 
gratuita na primeira 
fase de todos 
setores e 
exportação 
5% a 10% 
adicionais para 
setores vulneráveis 
Relativo ao 
preço para 
atingir NDC 
Transferência 
para a classe 
de renda mais 
pobre. 
Ajuste de 
Fronteira 
Indústria, 
combustíveis, 
geração e consumo 
de combustíveis e 
energia 
Precificação de 
CO2e e 
Investimentos 
adicionais em 
medidas de 
mitigação 
50% de alocação 
gratuita na 1a fase 
para todos os 
setores 
Ajuste de fronteira 
com base no 
conteúdo de 
carbono nacional. 
Relativo ao 
preço para 
atingir NDC 
Redução 
encargos 
trabalhistas 
Precificação da 
Pecuária 
Indústria, 
combustíveis, 
geração e consumo 
de combustíveis e 
energia e 
precificação da 
pecuária 
Precificação de 
CO2e e 
Investimentos 
adicionais em 
medidas de 
mitigação 
50% de alocação 
gratuita na primeira 
fase de todos 
setores e 
exportação 
5% a 10% 
adicionais para 
setores vulneráveis 
Relativo ao 
preço para 
atingir NDC 
Redução 
encargos 
trabalhistas 
Segmentado 
Indústria, 
combustíveis, 
geração e consumo 
de combustíveis e 
energia 
Precificação de 
CO2e e 
Investimentos 
adicionais em 
medidas de 
mitigação 
50% de alocação 
gratuita na primeira 
fase de todos 
setores e 
exportação 
5% a 10% 
adicionais para 
setores vulneráveis 
Esforço de 
redução 
percentual 
igual entre os 
setores 
regulados 
para atingir a 
NDC. 
Redução 
encargos 
trabalhistas 
Isenção de 
Combustíveis 
Indústria, 
combustíveis, 
geração e consumo 
de combustíveis e 
energia, no entanto 
isentando gasolina, 
GLP e Diesel 
Precificação de 
CO2e e 
Investimentos 
adicionais em 
medidas de 
mitigação 
50% de alocação 
gratuita na primeira 
fase de todos 
setores e 
exportação

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