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Éticas 6

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AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÉTICA, DIREITOS HUMANOS E 
DIREITOS DA CIDANANIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Juliana Bertholdi 
 
 
 
 
2 
TEMA 1 – POVO NEGRO E QUILOMBOLA 
Na aula anterior, trabalhamos a importância do reconhecimento e do estudo 
dos grupos minoritários para a realização efetiva dos direitos humanos e dos 
direitos da cidadania. Na presente aula, seguiremos os estudos de grupos 
minoritários e as principais legislações e políticas públicas que os envolvem, 
caminhando para a finalização do conteúdo. 
 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os 
brasileiros pretos ou pardos representam 54% da população do país. Não 
obstante, os mesmos dados do IBGE demostram que ainda é grande a 
desigualdade entre pretos e brancos: três em cada quatro pessoas das 10% mais 
pobres do país são negras. Em 2015, eles correspondiam a 76% daqueles com 
renda média de R$130,00 per capita na família (Brasil, 2018, online1). 
No ano de 2017, a publicação do Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto 
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), trouxe mais uma informação 
preocupante para essa parcela da população: de cada 100 pessoas assassinadas 
no Brasil, 71 são negras. Para historiadores e especialistas, esses números 
podem ser justificados por um fato: a escravidão (Brasil, 2018, online2). 
Não obstante inexistam registros precisos dos primeiros escravos negros 
que chegaram ao Brasil, há um consenso de que o povo negro sofreu 
aproximados 3 séculos de escravidão, sendo a tese mais aceita a de que, no ano 
de 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário de pau-brasil, teria traficado os 
primeiros escravos africanos para a Bahia. 
 Os negros escravizados tornaram-se a principal mão de obra, inicialmente 
nas plantações e engenhos, e, mais tarde, nas vilas, cidades, minas e fazendas 
de gado. Para além disso, o escravo tratava-se de verdadeira riqueza, uma 
valorosa propriedade que podia ser vendida, alugada, doada e leiloada, símbolo 
de poder e prestígio. 
Entre os anos de 1701 e 1810, atingiu-se o apogeu do tráfico escravocrata, 
quando 1.891.400 africanos foram desembarcados nos portos coloniais. O 
período foi marcado por inomináveis atrocidades, que remontam desde a privação 
de alimentação adequada até cruéis torturas empregadas. 
 
1 Informações disponíveis em: <http://www.brasil.gov.br/consciencianegra/noticias/negros-ainda-
lutam-para-superar-consequencias-da-escravidao>. Acesso em: 14 abr. 2019. 
2 Idem. 
 
 
3 
O caminho para a abolição foi percorrido a duras penas, após longa 
pressão internacional: 
a. 1850 – Promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que acabou 
definitivamente com o tráfico negreiro intercontinental. Com isso, caiu a 
oferta de escravos, já que eles não podiam mais ser trazidos da África para 
o Brasil. 
b. 1865 – Cresciam as pressões internacionais sobre o Brasil, única nação 
americana a manter a escravidão. 
c. 1871 – Promulgação da Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do 
Ventre Livre, que estabeleceu a liberdade para os filhos de escravas 
nascidos depois desta data. Os senhores passaram a enfrentar o problema 
do progressivo envelhecimento da população escrava, que não poderia 
mais ser renovada. 
d. 1872 – O Recenseamento Geral do Império, primeiro censo demográfico 
do Brasil, mostrou que os escravos, um dia maioria, agora constituíam 
apenas 15% do total da população brasileira. O Brasil contou uma 
população de 9.930.478 pessoas, sendo 1.510.806 escravos e 8.419.672 
homens livres. 
e. 1880 – O declínio da escravidão se acentuou nos anos 80, quando 
aumentou o número de alforrias (documentos que concediam a liberdade 
aos negros), ao lado das fugas em massa e das revoltas dos escravos, 
desorganizando a produção nas fazendas. 
f. 1885 – Assinatura da Lei Saraiva-Cotegipe ou, popularmente, a Lei dos 
Sexagenários, pela Princesa Isabel, tornando livres os escravos com mais 
de 60 anos. 
g. 1885-1888 – O movimento abolicionista ganhou grande impulso nas áreas 
cafeeiras, nas quais se concentravam quase dois terços da população 
escrava do Império. 
h. 13 de maio de 1888 – assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel3. 
Após a abolição, seguiram-se ainda décadas de escravidão clandestina e 
o inegável racismo institucionalizado. Ambas situações deploráveis seguem 
objetos de combate por parte do governo. 
 
3 Informações disponíveis em <https://www.faecpr.edu.br/site/portal_afro_brasileira/3_IV.php>. 
Acesso em: 14 abr. 2019. 
 
 
4 
1.1 Movimento negro 
Os Movimentos Negros se consolidam no Brasil na década de 1970, 
durante a Ditadura Militar, relacionando o resgate da cultura africana com as 
reivindicações periféricas. No ano de 1978, o Movimento Negro Unificado (MNU) 
lançou seu manifesto, com o seguinte conteúdo: 
[...] como princípio básico o trabalho de denúncia permanente de todos 
os atos de discriminação racial, a organização constante da comunidade 
para enfrentar qualquer tipo de racismo […]. Por essa razão, propomos 
a criação de centros de luta do movimento negro unificado contra a 
discriminação racial nos bairros, nas cidades, nas prisões, nos terreiros 
de candomblé, em nossos terreiros de umbanda, no trabalho, nas 
escolas de samba, nas igrejas, em todos os lugares onde as pessoas 
vivem: Centros de Luta que promovam o debate, a informação, a 
conscientização e a organização da comunidade negra […]. Convidamos 
os setores democráticos da sociedade que nos apoiam a criarem as 
condições necessárias para uma verdadeira democracia racial. 
O MNU e outros movimentos e organizações negras tiveram papel 
fundamental durante a Constituinte de 1988, especialmente por meio da 
realização de uma convenção nacional em 1986, cuja resolução propõe normas a 
serem inseridas na nova Constituição, tratando de “direitos e garantias individuais, 
violência policial, condições de vida e saúde, direitos da mulher e do menor, 
educação, cultura, trabalho, questão da terra e relações internacionais”. A 
articulação conseguiu, junto a outros movimentos sociais, a formação de 
Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e 
Minorias. Neste sentido: 
As principais conquistas inseridas na Constituição foram a definição de 
igualdade, a proibição de qualquer discriminação racial e o direito ao 
território. O conceito de remanescentes de quilombos foi introduzido na 
Constituição de 1988 (hoje, o Movimento Quilombola não aceita esta 
denominação, preferindo descendentes dos quilombos). A Constituição 
Federal determina o direito ao território por parte daquelas comunidades 
que se autorreconheçam como quilombolas e comprovem as 
Comunidades Quilombolas (Conaq). O Decreto 4.887/2003 
regulamentou os procedimentos de identificação, reconhecimento, 
delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por 
remanescentes das comunidades quilombolas. Esse processo está mais 
atrasado que o dos indígenas e sofrerá igualmente as consequências da 
PEC 215, se aprovada. Atualmente, apenas 253 comunidades 
quilombolas contam com o título de propriedade de seu território, número 
que representa apenas 8% da totalidade estimada de três mil 
comunidades no Brasil (Levino, 2017). 
Desta feita, há de se ressaltar também o Movimento Quilombola, que luta 
pelo território e pelo Movimento Negro, bem como por políticas de inclusão social, 
a exemplo das cotas para negros nas universidades e a implementação do 
Estatuto da Igualdade Racial. 
 
 
5 
1.2 Legislação e políticas públicas para realização dos Direitos Humanos da 
população negra 
Nosso país tem legislação consolidada e é signatário de diversos tratados 
internacionais relativos a direitos individuais e coletivos do povo negro. Não 
obstante, assim como no caso da população indígena, resta uma série de 
deficiênciaspara cumprir a legislação, sendo o racismo um dos principais 
obstáculos no que concerne à efetivação dos Direitos Humanos em nosso país. 
Assim, passaremos a discutir as principais leis e políticas públicas voltadas 
à garantia dos Direitos Humanos e Direitos da Cidadania da população negra, 
buscando sempre uma visão crítica. 
a. Estatuto de Igualdade Racial (Lei 12.288/2010): em seu artigo 1.º, a lei 
determina que o Estado brasileiro deve “garantir à população negra a 
efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos 
individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais 
formas de intolerância étnica.” 
Assim, a legislação tem por escopo tratar dos Direitos Fundamentais da 
população negra em áreas como Saúde; Educação, Cultura, Esporte e 
Lazer; Liberdade de Consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos 
religiosos; Acesso à terra e à moradia adequada; Trabalho e Meios de 
Comunicação. 
b. Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir): cunhado 
para implementar o conjunto de políticas e serviços públicos destinados a 
superar as desigualdades étnicas no país. Além de implementar ações 
afirmativas, o Sinapir criou Ouvidorias Permanentes, garantindo acesso à 
Justiça e à Segurança. 
c. Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial: o Estatuto da Igualdade Racial 
determinou a criação da Ouvidoria Nacional para receber denúncias de 
discriminação racial e racismo e conduzir aos órgãos responsáveis, bem 
como para acolher sugestões e críticas da sociedade para garantir o 
cumprimento dos direitos dos cidadãos. A Ouvidoria Nacional da Igualdade 
Racial pode ser acessada por diversos meios, disponíveis no website 
envolvendo o sistema de denúncias do Disque 100. 
1.3 Crime de Racismo e Injúria Racial 
 
 
6 
Dois são os delitos envolvendo diretamente atitudes racistas, sendo 
fundamental para denunciar conhecer a diferença entre ambos, que têm conceitos 
e responsabilidades penais próprias. 
A diferença entre esses crimes está explicada detalhadamente no Portal 
da Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, que se replica parcialmente abaixo: 
a. Racismo: a CF/88, em seu art. 5.º, inciso XLII, avalia a prática do racismo 
como “crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão”. O 
praticante do racismo, da Lei n. 7716/1989, age com o intuito de 
menosprezar, inferiorizar, de forma genética, determinado grupo étnico, 
raça ou cor. Não há um destinatário específico. 
b. Injúria Racial: a legislação penal contempla o crime de injúria racial em 
seu parágrafo 3.º do art. 140 como forma de preencher as lacunas deixadas 
pela Constituição Federal. A injúria consiste em ofender a dignidade e o 
decoro de determinada pessoa, imputando-lhe qualidade negativa. O 
parágrafo 3.º do art. 140 do Código Penal traz o delito de injúria em sua 
forma qualificada. 
Desta feita, a diferença entre racismo e injúria qualificada pelo preconceito 
de cor está, sobretudo, no elemento subjetivo do agente, que, no primeiro caso, 
age sem um destinatário específico e, no segundo caso, age para ofender a 
dignidade e o decoro de determinada pessoa. 
TEMA 2 – AS MULHERES: VIOLÊNCIAS SIMBÓLICAS E FÍSICAS 
Maioria numérica no Brasil, atingindo quase quatro milhões de excedentes 
em 2010, (Alves, 2017, p.22), as mulheres vêm adquirindo, gradativamente, maior 
relevância social e econômica, representando, atualmente, 43% do mercado de 
trabalho formal e constituindo a maioria em setores essenciais, como saúde e 
serviços sociais (73,3%), educação (66,6%) e alimentação (57,6%)4. Em 2010, 
38,7% dos 57,3 milhões de domicílios registrados no IBGE já eram comandados 
por mulheres5 (Bertholdi, 2018). 
A expressiva representatividade da mulher, no entanto, não vem sendo 
traduzida em direitos: as mulheres brasileiras seguem dentre as mais violentadas 
 
4 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. Síntese de Indicadores Sociais, 2016. 
[online]. Disponível em: 
<https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=9>. 
Acesso em: 14 abr. 2019. 
5 Idem. 
 
 
7 
do mundo. Somos o 5.º lugar em número de feminicídios6, possuímos baixíssima 
representatividade política e seguimos recebendo salários em média 30% 
menores que o dos homens7. 
É evidente, portanto, que as mulheres representam grupo que merece uma 
maior tutela do Poder Público, constituindo incontestável minoria. 
2.1 Legislação 
Há uma série de legislações e dispositivos esparsos que visam a proteção 
da mulher, sendo impossível esgotá-los neste tópico. Dentre estes mecanismos, 
destacaremos uma variedade neste tópico, bem como a Lei Maria da Penha e a 
Lei de Cotas Eleitorais, em tópico apartado. 
Na seara trabalhista, são amplas as normas jurídicas de proteção à mulher 
em respeito à proibição de discriminação, proteção à gestação e também à 
amamentação no ambiente de trabalho, estabelecidos, sobretudo, nos artigos 389 
e seguintes da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). 
No âmbito penal, há crimes mais severamente punidos quando praticados 
contra a mulher, em que se destaca o feminicídio (art. 121, IV, CP) e os aumentos 
de pena envolvendo delitos praticados em contexto de violência doméstica. 
No âmbito eleitoral, destacam-se as recentes disposições legais e os 
posicionamentos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no sentido de buscar a 
isonomia de gênero nas eleições. 
 
2.2 Lei Maria da Penha 
Segundo dados coletados pelo Datafolha, uma em cada três mulheres 
brasileiras já sofreu violência doméstica. Só de agressões físicas, o número é 
alarmante: 606 mulheres brasileiras vítimas a cada hora8, sendo 164 estupros por 
dia. 
Os dados, divulgados em agosto de 2018, mostram que 22% das 
brasileiras sofreram ofensa verbal no ano de 2017, um total de 12 milhões de 
 
6 Fernanda Matsuda, socióloga e advogada que integrou o grupo responsável pela pesquisa A 
violência doméstica fatal: o problema do feminicídio íntimo no Brasil (Cejus/FGV, 2014). 
7 Dados do IBGE disponíveis em: 
<https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/04/11/desigualdade-salarial-homem-mulher-
ibge.htm>. Acesso em: 14 abr. 2019. 
8 Dados disponíveis em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/brasil-registra-606-
casos-de-violencia-domestica-e-164-estupros-por-dia.shtml>. Acesso em: 14 abr. 2019. 
 
 
8 
mulheres. Além disso, 10% das mulheres sofreram ameaça de violência física, 8% 
sofreram ofensa sexual, 4% receberam ameaça com faca ou arma de fogo. E, 
ainda: 3% ou 1,4 milhões de mulheres sofreram espancamento ou tentativa de 
estrangulamento e 1% levou pelo menos um tiro. 
A pesquisa mostrou que, entre as mulheres que sofreram violência, 52% 
se calaram. Apenas 11% procuraram uma delegacia da mulher e 13% preferiram 
o auxílio da família. 
Por sua vez, o agressor, na maior parte das vezes, é um conhecido (61% 
dos casos). Em 19% das vezes, eram companheiros atuais das vítimas e em 16%, 
eram ex-companheiros. As agressões mais graves ocorreram dentro da casa das 
vítimas, em 43% dos casos, ante 39% nas ruas. 
A Lei Maria da Penha é o caso clássico de resposta Estatal no âmbito dos 
Direitos Humanos após pressão internacional: o caso n. 12.051/OEA, de Maria da 
Penha Maia Fernandes, julgado na Corte Interamericana de Direitos Humanos, 
deu origem à lei n. 11.340/2013, lei que leva o nome da vítima e ativista. 
Neste sentido, o website do Instituto Maria da Penha bem resume os 
caminhos traçados9: 
Maria da Penha conheceu Marco Antonio Heredia Viveros, colombiano, 
quando estava cursando o mestrado na Faculdade de Ciências 
Farmacêuticas da Universidade de São Paulo em 1974. À época, ele 
fazia os seus estudos de pós-graduação em Economia na mesma 
instituição. 
Naquele ano, eles começaram a namorar, e Marco Antonio demonstravaser muito amável, educado e solidário com todos à sua volta. O 
casamento aconteceu em 1976. Após o nascimento da primeira filha e 
da finalização do mestrado de Maria da Penha, eles se mudaram para 
Fortaleza, onde nasceram as outras duas filhas do casal. Foi a partir 
desse momento que essa história mudou. 
As agressões começaram a acontecer quando ele conseguiu a 
cidadania brasileira e se estabilizou profissional e economicamente. Agia 
sempre com intolerância, exaltava-se com facilidade e tinha 
comportamentos explosivos não só com a esposa mas também com as 
próprias filhas. 
[...] 
No ano de 1983, Maria da Penha foi vítima de dupla tentativa de 
feminicídio por parte de Marco Antonio Heredia Viveros. 
Primeiro, ele deu um tiro em suas costas enquanto ela dormia. Como 
resultado dessa agressão, Maria da Penha ficou paraplégica devido a 
lesões irreversíveis na terceira e quarta vértebras torácicas, laceração 
na dura-máter e destruição de um terço da medula à esquerda – 
constam-se ainda outras complicações físicas e traumas psicológicos. 
[...] 
A próxima violência que Maria da Penha sofreu, após o crime cometido 
contra ela, foi por parte do Poder Judiciário:o primeiro julgamento de 
Marco Antonio aconteceu somente em 1991, ou seja, oito anos após o 
 
9 Dados disponíveis em: <http://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-
penha.html>. Acesso em: 14 abr. 2019. 
 
 
9 
crime. O agressor foi sentenciado a 15 anos de prisão, mas, devido a 
recursos solicitados pela defesa, saiu do fórum em liberdade. 
Mesmo fragilizada, Maria da Penha continuou a lutar por justiça, e foi 
nesse momento em que escreveu o livro Sobrevivi... posso contar 
(publicado em 1994 e reeditado em 2010) com o relato de sua história e 
os andamentos do processo contra Marco Antonio. 
O segundo julgamento só foi realizado em 1996, no qual o seu ex-marido 
foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão. Contudo, sob a alegação 
de irregularidades processuais por parte dos advogados de defesa, mais 
uma vez a sentença não foi cumprida. 
1998 
O ano de 1998 foi muito importante para o caso, que ganhou uma 
dimensão internacional. Maria da Penha, o Centro para a Justiça e 
o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-americano e do 
Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) 
denunciaram o caso para a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA). 
Mesmo diante de um litígio internacional, o qual trazia uma questão 
grave de violação de direitos humanos e deveres protegidos por 
documentos que o próprio Estado assinou (Convenção Americana sobre 
Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica; Declaração 
Americana dos Direitos e Deveres do Homem; Convenção 
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher – Convenção de Belém do Pará; Convenção sobre a Eliminação 
do Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher), o Estado 
brasileiro permaneceu omisso e não se pronunciou em nenhum 
momento durante o processo. 
2001 
Então, em 2001 e após receber quatro ofícios da CIDH/OEA (1998 a 
2001) − silenciando diante das denúncias −, o Estado foi 
responsabilizado por negligência, omissão e tolerância em relação à 
violência doméstica praticada contra as mulheres brasileiras. 
[...] 
Diante da falta de medidas legais e ações efetivas, como acesso à 
justiça, proteção e garantia de direitos humanos a essas vítimas, em 
2002 foi formado um Consórcio de ONGs Feministas para a elaboração 
de uma lei de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher: 
Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA); Advocacia 
Cidadã pelos Direitos Humanos (ADVOCACI); Ações em Gênero, 
Cidadania e Desenvolvimento (AGENDE); Cidadania, Estudo, Pesquisa, 
Informação e Ação (CEPIA); Comitê Latino-americano e do Caribe para 
a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM/BR); e Assessoria Jurídica e 
Estudos de Gênero (THEMIS), além de feministas e juristas com 
especialidade no tema. 
Após muitos debates com o Legislativo, o Executivo e a sociedade, o 
Projeto de Lei n. 4.559/2004 da Câmara dos Deputados chegou ao 
Senado Federal (Projeto de Lei de Câmara n. 37/2006) e foi aprovado 
por unanimidade em ambas as Casas. 
Assim, em 7 de agosto de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da 
Silva sancionou a Lei n. 11.340, mais conhecida como Lei Maria da 
Penha. 
No entanto, apesar de a LMP ser compreendida como “um dos mais 
empolgantes e interessantes exemplos de amadurecimento democrático no 
Brasil”, a pesquisa demonstrou que a efetividade da lei não ocorreu de forma 
homogênea no país, devido aos “diferentes graus de institucionalização dos 
 
 
10 
serviços protetivos às vítimas de violência doméstica”10, sendo que o Brasil segue 
o país que mais mata mulheres no mundo. 
2.3 Representatividade política 
Com desempenho medíocre, o percentual brasileiro de participação 
feminina na política é bem abaixo da média mundial, que é de quase 23%, e da 
média para as Américas, que é de quase 28%. Com muito esforço, atingimos 11% 
de participação no Parlamento brasileiro. Assim, também não surpreende que o 
primeiro banheiro feminino do Senado brasileiro destinado às parlamentares 
tenha sido inaugurado apenas em janeiro do ano de 2016 (Alegretti, 2017). 
Nitidamente, os dados percentuais apresentados traduzem desproporção 
que demonstra o quanto a pretensa democracia nacional nega às mulheres 
participação mínima nas tomadas de decisões inerentes ao processo político nas 
verdadeiras democracias representativas11, em contradição aos próprios 
fundamentos democráticos e determinações constitucionais. 
Ao tratar da representatividade política feminina no Brasil, Clara Araújo 
aponta que: 
[...] a desigual participação feminina nos espaços políticos, 
particularmente aqueles que exigem representação, está assentada em 
razões históricas, relacionadas com o processo de exclusão das 
mulheres como sujeitos políticos de direitos no momento em que o 
político era institucionalizado na esfera pública”. A autora ainda vai além 
ao analisar que “o background histórico marcou a inserção das mulheres 
no mundo político (Araújo, 2001). 
De fato, histórica e mundialmente, a representatividade política feminina 
está bastante aquém do desejável. 
Não por outra razão, organismos internacionais vêm se engajando na 
divulgação de dados e relatórios sobre o assunto, defendendo, inclusive, a 
instituição de cotas de gênero para garantir que as mulheres venham a constituir, 
pelo menos, “minorias críticas”, que constituíram de 30% a 40% dos Parlamentos 
nacionais (Dahlerup, 2017). Atualmente, estima-se que metade dos países se 
utilizem de algum tipo de quota eleitoral de gênero12, justamente com o escopo de 
 
10 Idem. 
11 Ao tratar do tema, Vergo e Schuck apontam que a proposta de democracia paritária surge como 
marco estratégico ao combate do monopólio masculino no exercício do poder em todas as esferas 
de tomadas de decisões. In: VERGO, T. M. Woelffel; SCHUCK, E. de O. A representação política 
das mulheres enquanto desafio à qualidade da democracia. V Congresso Uruguaio de Ciência 
Política. Outubro de 2014, p. 3-4. 
12 Idem. 
 
 
11 
realização implementação progressiva de políticas de igualdade proposta por 
Diamond e Morlino ao tratar da qualidade da democracia. 
Como já anotamos anteriormente: 
O Brasil não é exceção a essa regra. No país, a legislação aprovada 
para melhorar as oportunidades das mulheres de ingressarem na vida 
política vigora desde 1995, ano em que entrou em vigor a Lei nº 
9.100/95, determinado que ao menos 20% das vagas de cada partido ou 
coligação fossem preenchidas por um dos gêneros. A Lei nº 9.504/97 
(Lei das Eleições) elevou o percentual mínimo de cada gênero para 25%, 
sendo novamente elevado a 30% nas eleições posteriores, percentagem 
mantida atualmente. 
Em adição,no ano de 2009 a reforma eleitoral introduzida pela lei 12.034 
instituiu novas disposições na Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 
9096/1995) de forma a privilegiar a promoção e difusão da participação 
feminina na política ao determinar que os recursos do fundo partidário 
sejam aplicados na criação e manutenção de programas de promoção e 
difusão da participação política das mulheres em ao menos 5% do total 
repassado. 
As medidas, no entanto, não vem impactando como se esperava: há de 
se questionar a qualidade e eficácia dos métodos e legislações 
atualmente aplicados, vez que as cotas adotadas no sistema brasileiro, 
como bem anotado por Raquel Preto13 “chamam para o baile, mas não 
nos tiram para dançar” (informação verbal), permitindo falhas graves que 
impedem a real participação feminina na democracia e o alcance de uma 
“maior igualdade”(Sartori, 2017, p. 205). (Bertholdi, 2018, online) 
Tal fato fica nítido dos bancos de dado da Justiça Eleitoral: apesar de as 
cotas estarem em vigor desde 199514, adquirindo o formato atual em 201015, as 
evoluções vêm sendo bastante tímidas: de 5% de cadeiras no Parlamento 
Brasileiro em 1990, passamos para 9,9% em 2016. 
 
TEMA 3 – IMIGRANTES E REFUGIADOS 
Conforme informações e dados da Agência das Organizações das Nações 
Unidas para Refugiados (Acnur), o ano de 2017 teve o maior número de pedidos 
de refúgio no Brasil, totalizando 33.866 pessoas que solicitaram o 
reconhecimento da condição de refugiado nesse ano: 
 
13 Anotação da Advogada Raquel Preto na VI Conferência Estadual da Advocacia Paranaense, 
em agosto de 2017. 
14 A Lei n. 9.100/1995 prescrevia a exigência do registro de no mínimo 20% de candidaturas 
femininas por cada partido ou coligação, inaugurando a política de cotas no Brasil. 
15Conforme decidido pelo TSE nas eleições de 2010, o § 3º do art. 10 da Lei n. 9.504/1997, na 
redação dada pela Lei nº 12.034/2009, estabelece a observância obrigatória dos percentuais 
mínimo e máximo de cada sexo, o que é aferido de acordo com o número de candidatos 
efetivamente registrados. Conteúdo disponível em: <http://temasselecionados.tse.jus.br/temas-
selecionados/registro-de-candidato/reserva-de-vaga-por-sexo>. Acesso em: 14 abr. 2019. 
 
 
12 
a. Venezuelanos representam mais da metade dos pedidos realizados, com 
17.865 solicitações; 
b. Cubanos – 2.373 solicitações; 
c. Haitianos – 2.362 solicitações; 
d. Angolanos – 2.036 solicitações. 
No que concerne à imigração, o IBGE calcula que o Brasil deve chegar, 
em 2022, com cerca de 79 mil imigrantes venezuelanos. 
Esta população é internacionalmente reconhecida como grupo altamente 
vulnerável. Após a Segunda Guerra Mundial e com a instauração do sistema das 
Nações Unidas, criou-se um Estatuto para Refugiados, que, em 1951, limitava-se 
a proteger refugiados europeus, mas em 1967 passou a integrar a todos. 
Tal Convenção deu início ao Direito Internacional hodierno, que incluiu 
instituições para migrados e refugiados, separando as categorias em relação a 
motivação (Aveni; Mello; Gonçalves, 2017, p.4). O Art. 1 da convenção de 1951 
estabelece que é refugiado: 
[...] toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição 
devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado 
grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem 
e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer fazer uso da 
proteção desse país ou, não tendo uma nacionalidade e estando fora do 
país em que residia como resultado daqueles eventos, não pode ou, em 
razão daqueles temores, não quer regressar ao mesmo. 
 Assim, mais uma vez, vemos a reafirmação da já estudada universalidade 
dos direitos humanos, contemplando, portanto, migrantes e refugiados. 
O Brasil aderiu à Convenção dos Refugiados de 1951 em 1960, bem como 
posteriormente ao Protocolo de 1967, tomando o conceito ampliado de refugiado 
estabelecido na Declaração de Cartagena de 1984, que considera a “violação 
generalizada de direitos humanos” como uma das causas de reconhecimento da 
condição de refugiado. 
No processo de redemocratização, foi estabelecido na Constituição Federal 
de 1988, em seu artigo 1.º, que o Brasil tem, como fundamentos da República, a 
cidadania e a dignidade da pessoa humana, razão pela qual entende-se como 
abarcada a integral proteção aos refugiados. 
O Brasil foi, ainda, pioneiro na América Latina ao elaborar uma lei 
específica sobre refugiados, a Lei n. 9.474 de 1997. A chamada Lei de Refúgio 
estabelece padrões para avaliação das razões de requerimento de refúgio 
considerando as condições políticas do país de origem do refugiado. 
 
 
13 
3.1 Atualidades 
Os dados mais recentes foram divulgados pelo Ministério da Justiça na 3ª 
edição do relatório Refúgio em Números. Atualmente, os sírios representam 35% 
da população de refugiados com registro ativo no Brasil, sendo que, do total, 52% 
moram em São Paulo, 17% no Rio de Janeiro e 8% no Paraná. 
Além da Lei n. 9.474 de 1997, uma série de outras políticas públicas vem 
demonstrando a preocupação estatal com a dignidade humana dos refugiados. 
Cita-se como exemplo o vestibular promovido exclusivamente para os migrantes 
com visto humanitário e refugiados que desejam cursar graduação na 
Universidade Federal do Paraná (UFPR). 
Segundo informações do sítio da universidade, para se inscrever no 
vestibular, o candidato precisa apresentar documentos comprobatórios da 
conclusão de Ensino Médio e da condição de migrante com visto humanitário ou 
refugiado, tais como cópia da solicitação de refúgio no Ministério da Justiça ou na 
Polícia Federal ou atestado reconhecido pelo Comitê Nacional de Refugiados 
(Conare), do Ministério das Relações Exteriores. Os aprovados devem fazer o 
curso de Acolhimento Linguístico e Acadêmico, organizado pelo Projeto 
Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH). 
TEMA 4 – POPULAÇÃO LGBT 
No ano de 2017, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais 
(LGBT) foram mortos em crimes motivados por homofobia, representando uma 
vítima a cada 19 horas. Tais dados foram levantados pela organização não 
governamental “Grupo Gay da Bahia” (GGB), que aponta ter registrado o maior 
número de casos de morte relacionados à homofobia desde que o monitoramento 
anual começou a ser elaborado pela entidade, há 38 anos16. Os dados de 2017 
representam um aumento de 30% em relação a 2016, quando foram registrados 
343 casos. 
Assim, a população Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual e Travesti (LGBT), 
diante do contexto social sexista, machista, lesbofóbico, homofóbico, bifóbico e 
transfóbico que ainda persiste em todo mundo – e especialmente no Brasil – 
 
16 Levantamento aponta recorde de mortes por homofobia no Brasil em 2017. Publicado em 
18/01/2018 - 18:46. Por Jonas Valente – Repórter Agência Brasil Brasília. Disponível em: 
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-01/levantamento-aponta-recorde-
de-mortes-por-homofobia-no-brasil-em>. Acesso em: 14 abr. 2019. 
 
 
14 
enfrenta grandes desafios na realização de seus direitos mais básicos e no acesso 
às políticas públicas, fatos que acabam por limitar o exercício da cidadania. 
Quando o primeiro desafio é sobreviver, realizar torna-se ainda mais dificultoso. 
4.1 Legislação internacional 
A Declaração Universal dos Humanos traz, em seu bojo, uma série de 
dispositivos que podem e devem ser interpretados em favor da liberdade sexual, 
assim como os Princípios de Yogyakarta, que enfatizam a promoção e proteção 
dos direitos humanos e liberdades fundamentais universalmente reconhecidos e 
sua incorporação pelos países signatários vincula o Estado ao seu cumprimento. 
4.2 Legislação nacional 
Diferentemente das demais minorarias abordadas, a população 
LGBT encontra-se à margem da legislação nacional,não havendo leis federais 
que assegurem, de forma direta, os direitos dessa população. 
Muito embora se observe a existência de normas e planos de governo em 
âmbito estadual para proteção desta população, a criação de uma lei protetiva 
para esta categoria, que seria de competência do âmbito Federal, jamais foi 
editada. 
Foram editados planos nacionais, dentre os quais destacamos o Plano 
Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Travestis e Transexuais de 2009. Ao final do mesmo ano, com o 
objetivo de efetivar os compromissos adotados, criou-se a Coordenação dos 
Direitos Humanos da Presidência da República e, em dezembro de 2010, por meio 
do Decreto n. 7388, o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e 
Promoção dos Direitos de LGBT. 
Ainda, em dezembro de 2009, foi lançado o Programa Nacional de Direitos 
Humanos (PNDH-3), que emerge com determinações acerca dos direitos 
humanos e liberdades individuais. 
Inegáveis os avanços em assegurar o direito de união estável e casamento 
dessa população, bem como o direito à adoção, em razão de decisões judiciais, 
referendadas por normativas do Conselho Nacional de Justiça. 
Anota-se, no entanto, a ausência de previsão de maior proteção na esfera 
criminal, sendo os crimes cometidos contra a categoria LGBT julgados da mesma 
 
 
15 
forma que quaisquer outros, sem prerrogativas processuais penais ou 
agravamentos de pena. 
4.3 Planos de Políticas Públicas – o exemplo do Estado do Paraná 
Em sua introdução, o Plano de Políticas Públicas, voltado ao atendimento 
da População LGBT do Paraná, afirma-se como consequência de longo processo 
de luta dos movimentos sociais LGBT, por meio da sociedade civil organizada. 
O Plano foi cunhado tendo em vista as demandas da comunidade LGBT do 
Paraná apontadas nas I e II Conferências Estaduais LGBT e tendo como norte o 
já mencionado Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), o Programa 
Nacional Brasil sem Homofobia. 
Orientado pelos princípios da igualdade, respeito à diversidade, equidade, 
laicidade estatal, universalidade das políticas públicas, justiça social, 
transparência dos atos públicos, participação popular e controle social, o 
programa visa a garantia dos direitos de todas e todos à justiça, educação, saúde, 
segurança pública, previdência e assistência social. 
TEMA 5 – CONCLUSÃO: A ÉTICA, OS DIREITOS HUMANOS E OS DIREITOS DA 
CIDADANIA COMO INSTRUMENTOS DEMOCRÁTICOS 
Durante a presente disciplina, buscamos cumprir o desafio de investigar a 
interação entre a ética, os direitos humanos e os direitos da cidadania. 
Procuramos entender por que e como garantir o acesso de todos aos Direitos 
assegurados pela Constituição Federal, incluindo as minorias éticas e sociais. 
Procuramos, igualmente, demonstrar a importância de se construir uma cidadania 
eticamente comprometida com a realidade e a transformação social. 
Buscamos desenhar uma Política de Direitos Humanos com base na ética 
e na participação cidadã, que garanta aos indivíduos a condição de ser, no plano 
econômico, um cidadão sadio; no plano político, um cidadão participante; no plano 
intelectual, um cidadão consciente das relações de poder; no plano da ética, um 
cidadão comprometido com a realidade social. 
Flavia Piovesan (2009, p. 189) comenta as motivações que levam à 
necessidade de organização e ação pública no sentido de promover o acesso aos 
direitos humanos fundamentais: 
 
 
16 
Enquanto a igualdade pressupõe formas de inclusão social, a 
discriminação implica a violenta exclusão e intolerância à diferença e 
diversidade. O que se percebe é que a proibição da exclusão, em si 
mesma, não resulta automaticamente na inclusão.” E, logo a seguir, 
complementa: “… para garantir e assegurar a igualdade não basta 
apenas proibir a discriminação mediante legislação repressiva. São 
essenciais as estratégias promocionais capazes de estimular a inserção 
e inclusão desses grupos socialmente vulneráveis nos espaços sociais. 
Sobre a exclusão, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos 
(2008, p. 280-281) explica o funcionamento engenhoso que a promove e sustenta: 
Se a desigualdade é um fenômeno sócio-econômico, a exclusão é 
sobretudo um fenômeno cultural e social, um fenômeno de civilização. 
Trata-se de um processo histórico através do qual uma cultura, por via 
de um discurso de verdade, cria o interdito e o rejeita. Estabelece um 
limite para além do qual só há transgressão, um lugar que atira para 
outro lugar, a heterotopia, todos os grupos sociais que são atingidos pelo 
interdito social, sejam eles a delinquência, a orientação sexual, a 
loucura, ou o crime. Através das ciências humanas, transformadas em 
disciplinas, cria-se um enorme dispositivo de normalização que, como 
tal, é simultaneamente qualificador e desqualificador. 
Assim, apontamos como a igualdade é o cerne da realização dos direitos 
humanos e a mola propulsora da realização dos direitos da cidadania, destacando 
a importância de garantias aos chamados grupos vulneráveis/minoritários, 
abordando as principais legislações e políticas públicas que possuem tal objetivo. 
Leitura obrigatória 
AVENI, A.; MELLO, A. S. de; GONÇALVES, E. S. Vulnerabilidade dos 
imigrados e refugiados no Brasil. Disponível em: 
<http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/index.php/Projecao2/article/view/1013/9
03>. Acesso em: 14 abr. 2019. 
 
MACHADO, M. de T. A proteção constitucional de crianças e adolescentes e 
os direitos humanos. 2002. 414 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002. 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
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no contexto das transformações sociodemográficas do Brasil. In: BLAY, E. A.; 
AVELAR, L. (orgs.). 50 Anos de Feminismo: Argentina, Brasil e Chile: a 
construção das mulheres como atores políticos e democráticos. São Paulo: 
Editora da Universidade de São Paulo; Fapesp, 2017. p. 22. 
ARAUJO, C. Construindo novas estratégias, buscando novos espaços políticos – 
as mulheres e as demandas por presença. In: MURARO, R. M.; PUPPIN, A. B. 
(orgs.). Mulher, Gênero e Sociedade. Rio de Janeiro: Relume Dumará; FAPERJ, 
2001. 
BULOS, U. L. Constituição Federal anotada. São Paulo: Saraiva, 2002. 
DAHLERUP, D. About Quotas. Quota Project. Disponível em: 
<http://www.quotaproject.org/aboutQuotas.cfm>. Acesso em: 14 abr. 019. 
KARPSTEIN, C. Representatividade feminina na política e nas cadeias de 
comando: a meritocracia e o preconceito – Meritocracia pura e simples só pode 
ser aplicada se partirmos de uma igualdade de base. Disponível em: 
https://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/justicaedireito/artigos/representati
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53h8jn34e47v46uv058javwo4/>. Acesso em: 16 abr. 2019. 
MORAES, A. de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2002. 
PIOVESAN, F. Temas de direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 
415 p. 
SANTOS, B. de S. A construção intercultural da igualdade e da diferença. In: 
_____. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 2. ed. São Paulo: 
Ed. Cortez. 2008, p. 279-316. 
SARTORI, G. O que é Democracia? Coletânea da Democracia. Curitiba: 
Atuação, 2017. p. 205.

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