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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO Os materiais produzidos para os cursos ofertados na Plataforma Eskada e intermediados pelo UEMAnet/ UEMA são licenciados nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhada, podendo a obra ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença. Professoras Conteudistas Ilka Márcia R. de Souza Serra Lílian de Sousa Sena Designer de Linguagem Lucirene Ferreira Lopes Maria das Dores de M. Coutinho Designer Pedagógico Erica Costa Sousa Lidiane Saraiva Ferreira Lima Projeto Gráfico e Diagramação Nayana Gatinho da Silva Reitor Gustavo Pereira da Costa Vice-Reitor Walter Canales Sant´ana Pró-Reitora de Graduação Fabíola de Jesus Soares Santana Núcleo de Tecnologias para Educação Ilka Márcia Ribeiro S. Serra - Coordenadora Geral Sistema Universidade Aberta do Brasil Ilka Márcia R. S. Serra - Coord. Geral Maria das Graças Neri Ferreira - Coord. Adjunta | Coord. de Curso Coordenação do Design Educacional Cristiane Peixoto - Coord. Administrativa Danielle Martins Leite Fernandes Lima - Coord. Pedagógica Sena, Lílian de Sousa Gamificação no ensino inclusivo de surdos [ebook]. / Lílian de Sousa Sena, Ilka Márcia R. de Souza Serra. – São Luís: UEMAnet, 2022. 50 f. ISBN: 1.Gamificação. 2.Inclusão de Surdos. 3.Práticas Pedagógicas.. I.Serra, Ilka Márcia R. de Souza II.Título. CDU: 376-05.34:004 Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 3 APRESENTAÇÃO Neste território digital de aprendizagem, seremos parceiros de jornada e pretendemos cumprir uma missão muito importante para a comunidade escolar e para a sociedade em geral, que é ampliar nosso conhecimento sobre o uso da gamificação e a inclusão de estudantes surdos. Em nosso trajeto, faremos leituras e solucionaremos enigmas que nos levarão às chaves que desbloqueiam as próximas fases. Assim, empenhados em avançar em cada etapa, conquistaremos nossos objetivos, que são o conhecimento e a inclusão. Em nossa trilha, compreenderemos o conceito de Gamificação e como esta proposta pode contribuir para a potencialização da aprendizagem e inclusão de estudantes sur- dos. Além disso, faremos uma reflexão sobre a educação escolarizada destes e, no posto final, conheceremos experiências didáticas exitosas com Gamificação. Este e-book é o nosso mapa e nos levará a três módulos: No módulo 1 - Educação Escolarizada de Surdos, você conhecerá as conquistas legais relacionadas à educação escolarizada de pessoas surdas; os aspectos culturais e a cons- tituição identitária de Surdos, além da importância da visualidade e da Pedagogia Visual para a aprendizagem; Já no módulo 2 – Gamificação, Interação e Aprendizagem, você conhecerá o conceito e alguns elementos de Gamificação, a importância da mediação nos processos interativos e de que maneira a ludicidade contribui para a aprendizagem e o desenvolvimento humano; Por fim, no módulo 3 – Vivências Pedagógicas Gamificadas para a Educação de Surdos, conheceremos algumas vivências pedagógicas gamificadas. Que a aventura... COMECE! Caro(a) cursista! SUMÁRIO 1 Educação escolarizada de surdos 05 1.1 Aspectos legais da educação de surdos 06 1.2 Cultura surda 10 1.3 Pedagogia Visual 13 RESUMO 17 REFERÊNCIAS 18 2 Gamificação, interação e aprendizagem 21 2.1 Percurso introdutório 22 2.2 Conceituando gamificação 24 2.3 Interação em ambientes de aprendizagem 25 2.4 Aprendizagem lúdica 28 RESUMO 31 REFERÊNCIAS 32 3 Vivências pedagógicas gamificadas para a educação de surdos 34 3.1 Competências e habilidades do ensino médio 35 3.2 Competências gerais da educação básica 36 3.3 Aprendizagem inventiva 38 3.4 Inventando possibilidades 40 RESUMO 48 REFERÊNCIAS 49 EDUCAÇÃO ESCOLARIZADA DE SURDOS MÓDULO 1 Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 6 EDUCAÇÃO ESCOLARIZADA DE SURDOS “Olho do mesmo modo como que poderia escutar. Meus olhos são meus ouvidos. Escrevo do mesmo modo que me exprimo por sinais. Minhas mãos são bilíngues. Ofereço-lhes minha diferença. Meu coração não é surdo a nada neste duplo mundo...” Emmanuelle Laborit Listar as conquistas legais relativas à educação escolarizada de Surdos no Brasil; Descrever os aspectos culturais dos Surdos; Definir a Pedagogia Visual. OBJETIVOS 1.1 Aspectos legais da educação de surdos Iniciamos, aqui, mais uma etapa da nossa jornada de leituras. Dessa forma, é importante partirmos do entendimento de que as políticas públicas voltadas às pessoas surdas são resultado de muitas reivindicações individuais e coletivas tanto de surdos quanto ouvin- tes por direitos, inclusão e acessibilidade à comunidade surda que, apesar das conquis- tas, ainda necessita de representatividade nos diferentes espaços sociais. É importante pontuar que alguns avanços legais foram percebidos ao longo da história e que as conquistas não significam que na prática aconteçam. Conhecer a legislação é importante, pois a hegemonia ouvinte e o padrão de “normalidade” até o momento são, infelizmente, barreiras que precisam ser transpostas pelas pessoas surdas. E estas bar- reiras são, principalmente, atitudinais. Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 7 Vamos, então, observar a linha do tempo que apresenta os decretos e as leis relativos à educação escolarizada de pessoas surdas no Brasil, a partir do ano de 2000. Lei Federal nº 10.098: dispõe sobre a formação de profissionais intérpre- tes de escrita em braile, língua de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunica- ção direta à pessoa com deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. Decreto nº 5626: trata sobre a formação e certificação do tradutor e intérprete de Libras/Língua Portuguesa que poderá acontecer em cursos de profissionaliza- ção, de extensão universitária e/ou de formação continuada em instituições de ensino superior. Além disso, insere obri- gatoriamente a Libras na grade curricular dos cursos de formação de professores, licenciatura e cursos de Fonoaudiologia, em instituições públicas ou privadas. Lei Federal nº 10.436: reconhe- ce a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio de comunica- ção e expressão das comunidades surdas do Brasil. Decreto nº 6.949: promulga a Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Defi- ciência. Lei Federal nº 12.319: regulamenta o exercício da profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) em território nacional. Decreto nº 7.611: dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e a pro- dução e distribuição de recursos de acessibilidade que possibilitam o acesso ao currículo. Lei Federal nº 13.005: trata também da garantia da oferta de professores (as) do atendimento educacional especializado, profissionais de apoio ou auxiliares, tra- dutores (as) e intérpretes de Libras, guias-intérpretes para surdos-cegos, professores de Libras, prioritaria- mente surdos, e professores bilíngues. Lei Federal nº 13.146: dispõe sobre a oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas. Lei Federal nº 14.191: inclui a educação bilín- gue de Surdos como modalidade de ensino independente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). 2000 2005 2002 2009 2010 2011 2014 2015 2021 Como você pôde perceber, este compilado de leis é referente às conquistas relacionadas ao ensino de Surdos. Graças a reivindicações individuais e coletivas das comunidades surdas, outras garantias legais também já foram alcançadas. À comunidade escolar, cabe a compreensão do contexto histórico e das políticas públi- cas direcionadas à educação tanto de Surdos quanto de ouvintes.Nesse sentido, Lima (2020) afirma que: Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 8 O conhecimento sobre os avanços legais na educação e nos outros setores da sociedade são essenciais para o posicionamento crítico acerca das políticas públicas que podem surgir sobre o modo como são constituídas e quem se beneficia com elas. A participação social é necessária nessas construções políticas. Em 30 de setembro de 2020, o Decreto nº 10.502/2020 institui a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Em seu texto, dentre outras pautas, embora aponte a inclusão como necessária, menciona as escolas e classes especiais como opção para a escolarização de alunos com necessi- dades educacionais especiais, retirando a prioridade da inclusão nas escolas regulares. Nesse sentido, este decreto aquece muitas discussões acerca da inclusão desse grupo nas escolas regulares. Tais discussões não podem ser findadas, visto que o desenvolvi- mento humano não se faz apenas pelo cognitivo, mas também pelas relações interpes- soais que promovem o enxergar e o compreender ao outro. Com a necessidade de descobrir alternativas plausíveis para que a sociedade passe, efetiva- mente, por transformações na realização de ati- tudes que visem à formação dos cidadãos críticos e reflexivos acerca da sociedade em que vivem, compete ao professor pensar sobre o momento histórico em que se encontra (LIMA, 2020, p.85). “ SAIBA MAIS VOCÊ PODERÁ ACESSAR O TEXTO DO DECRETO Nº10.502/2020 no link abaixo: Para aprofundar seus conhecimentos sobre os decretos e leis mencionados na li- nha do tempo, você pode acessar os seguintes botões: 2000 2011 2002 2014 2005 2015 2009 2021 2010 https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/936694859/decreto-10502-20 SAIBA MAIS http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2021/lei-14191-3-agosto-2021-791630-norma-pl.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/936694859/decreto-10502-20 Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 9 Muitos são os estereótipos relacionados às pessoas surdas. Estereótipos estes que estão associados à falta de algo, de deficiência, inaptidão, dentre outros que reforçam a ideia de inferiorização (SKLIAR, QUADROS, 2000). Portanto, as lutas por acessibilidade e ci- dadania continuam para além do que é registrado em leis. Pensar em uma política pelas diferenças exige um olhar mais atento às especificidades e suas implicações. Para que as mudanças sejam efetivas e eficientes, é imprescindível a participação política das pessoas surdas, pois suas vivências e suas percepções con- ferem propriedade para o que deve constar no currículo escolar (QUADROS, 2003). A representatividade surda necessita habitar os espaços políticos. As legislações orques- tradas por ouvintes são mais eficientes com a participação daqueles cuja experiência visual é o que dá significado a tudo à sua volta. O estereótipo de ser deficiente e, por conta da “deficiência”, não possuir habilidades cog- nitivas tal qual ouvintes “padrão” demonstra apenas o quanto a sociedade é carente de esclarecimentos relacionados à surdez e o quanto precisamos avançar nessa temática. Isto posto, é importante pontuar que a Língua de Sinais, embora seja reconhecida por lei como meio de comunicação e expressão, ainda é pouco conhecida pela comunidade oral-auditiva. A escola exerce um papel muito importante na desconstrução dos estigmas relacionados à pessoa surda. Estimular o protagonismo dos estudantes por meio da sua língua natural, a Língua de Sinais, promover atividades interculturais, criar um ambiente de aprendizagem harmonioso são a base para a inclusão e para a construção de valores que engrandecem o ser, como o respeito e a solidariedade, além da criticidade ao contexto em que se vive. O FILME “O MILAGRE DE ANNE SULLIVAN” É INSPIRADO NA HISTÓRIA DE HELLEN KELLER E SUA PROFESSORA ANNE SULLIVAN. A JOVEM FOI A PRIMEIRA PESSOA SURDOCEGA A CON- QUISTAR UM BACHARELADO. A HISTÓRIA DE KELLER É INSPIRADORA. DICA DE FILME NO LINK ABAIXO, VOCÊ ENCONTRA UMA PRODUÇÃO DA TV INES SOBRE O HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESCOLARIZADA DE SURDOS NO MUNDO. CONFIRA!!! BÔNUS PELA LEITURA! https://www.youtube.com/watch?v=kcVHHBQh7hM BÔNUS PELA LEITURA! DICA DE FILME https://www.youtube.com/watch?v=kcVHHBQh7hM Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 10 Texto alternativo: A imagem apre- senta ao centro, a ilustração do pla- neta Terra, com uma criança desli- zando sobre ele para tocar a mão de outra criança. Ao redor do planeta estão quatorze crianças com carac- terísticas físicas diferentes, repre- sentando a pluralidade étnica, cul- tural e fisiológica. Perto do planeta tem uma bola e um par de sapatos. Há, ainda, a imagem de uma mulher adulta com semblante sorridente, re- presentando uma professora. 1.2 Cultura surda Caro(a) cursista, que bom que você continua nesta jornada! Fonte: http://diferenteedaiautismo.blogspot. com/2016/04/inclusao-social-teoria-ou-pratica.html. Percebeu como a sociedade organizada em prol do bem comum impulsiona a criação de políticas públicas inclusivas? Então, para que as conquistas continuem acontecendo, vamos conhe- cer um pouco sobre cultura e identidade surda? É necessário o entendimento de que não existe uma única cultura disponível. Os muitos contextos sociais e étnicos apresentam diferentes perspectivas que são percebidas na cultura, na língua e nas diferentes identidades (SKLIAR, QUADROS, 2000). Nesse senti- do, as experiências de vida, as manifestações artísticas, as crenças, os diferentes con- textos sociais, os interesses coletivos, as políticas, as significações vão construindo a cultura de um povo. Figura 1 - Representação da diversidade cultural A palavra cultura possui conceitos que se aplicam a diferentes contextos que vão desde o cultivo de vegetais a construção identitária de um povo. Em nosso estudo, seguiremos seu uso de acordo com as Ciências Sociais, en- tendendo que a cultura é construída a partir das nossas vivências em socie- dade. Cultura é, portanto, a herança transmitida em um grupo social em diferentes gerações e que são per- cebidas como característica de um povo, mesmo que se possuam novas configurações com o passar do tempo (STROBEL, 2016). Dessa forma, os elementos que utilizamos para expressar nossas ideias, costumes e características compõem a nossa cultura. As manifestações culturais são, pois, a concretude dos nossos pensamentos. Assim, os pensamentos são influenciados ou construídos a partir das nossas vivências e toda a gama de estímulos que recebemos. Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 11 Fonte: elaborado pelas autoras, com base em Strobel (2016). Em conformidade com o pensamento de Strobel (2008), entendemos que é importante conhecer e respeitar a expressão cultural surda com suas manifestações de pensamentos, identidades, políticas, histórias, língua, pedagogia e experiências. Assim como ocorre com as diferentes culturas, a cultura surda também é construída e manifestada a partir das experiências e interações com os seus semelhantes e que são re- fletidas no comportamento e posicionamento em diferentes espaços formais ou informais, dentre eles, o meio familiar e escolar (PERLIN, STROBEL, 2014). Os ambientes escolares precisam de representatividadesurda para que o indivíduo se reconheça no outro e se de- senvolva consciente de suas potencialidades e fortalecendo sua identidade. Os artefatos culturais, associados às experiências vivenciadas em diferentes contextos, corroboram, pois, a construção da identidade surda. Identidade esta que, segundo Perlin (2002), pode ser classificada, conforme o Quadro 1, a seguir: Portanto, os elementos culturais surdos, não são só formas concretas e manipuláveis materialmente, valores éticos, comportamentais, tradições e valores, mas também configuram a representação cultural de um povo (STROBEL, 2016). Perceber e compreender o mundo pela visualidade é apenas uma das muitas individualidades que compõem a heterogeneidade social e, logo, a riqueza humana e cultural que compõem quem somos. Para facilitar seu entendimento, o mapa mental abaixo traz os artefatos culturais surdos, segundo Strobel (2016): Experiência visual Artes visuais Família Vida social e esportiva Desenvolvimento Linguístico Política Literatura surda Materiais (Acessibilidade e tecnologia assistiva) AR TEFA TOS CUL TURAIS Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 12 IDENTIDADE RESUMO DA CARACTERÍSTICA Política Identifica-se e aceita-se como surdo; utiliza a Língua de Sinais; é consciente de seus direitos e deveres; utiliza recursos tecnológicos de acessibilidade; partici- pa ativamente da comunidade surda. Híbrida Dependendo da idade em que ficou surdo, conhece a estrutura da língua portu- guesa; pode oralizar, mas identifica-se e aceita-se como surdo; utiliza a Língua de Sinais; é consciente de seus direitos e deveres; utiliza recursos tecnológicos de acessibilidade; participa ativamente da comunidade surda. Embaçada São pessoas vistas como incapacitadas, pois desconhecem a estrutura da lín- gua portuguesa e da Língua de Sinais; sua sinalização é confusa ou inexistente; geralmente são pessoas impedidas de ter contato social pela família. Flutuante Surdo que não tem contato com a comunidade surda; não utiliza Língua de Si- nais; prefere utilizar aparelho auditivo, pois não se aceita como surdo. Intermediária Por possuir resíduo auditivo, não se identifica como surdo; prefere oralizar e não utilizar a Língua de Sinais. Transição Surdo que não tem contato com a comunidade surda na infância e possui traços de ouvintização; a identidade surda é construída à medida que passa a interagir com os outros surdos, num processo de des-ouvintização. Diáspora Surdo que precisa se mudar de um lugar para outro ou de um grupo de surdo para outro. Quadro 1 - Tipos de identidade surda Fonte: elaborado pelas autoras. Adaptado de PERLIN, G. As diferentes identidades surdas. In: Revista da Feneis, ano 4, n.14, p.15-16, 2002. As referências culturais recebidas e as vivências no contexto familiar contribuem para a formação identitária. Importa igualmente mencionar que pessoas ouvintes, filhas de sur- dos, cuja identidade é denominada CODA (Children of Deaf Adults ou Filho de Adultos Sur- dos), possuem experiências linguísticas visuais e recebem influências orais-auditivas. O processo de escolarização da CODA também compreende duas realidades linguísticas e culturais distintas: a surda, no seio familiar, e a ouvinte, na escola. Além disso, a interação entre esses mundos distintos acontece permanentemente. A empatia é um dos fatores que reforça a busca por alternativas adequadas para compre- ender de fato as necessidades do outro. De acordo com Quadros e Massuti (2007, p. 261), “A empatia de uma CODA é um processo de abertura ao conjunto de problemáticas vistas a partir de ângulos comuns aos surdos”. Desse modo, é válido reforçar que reconhecer as configurações identitárias dos alunos é importante para que o planejamento das ativida- des possa acontecer de maneira inclusiva e exitosa. Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 13 Até aqui, você conheceu algumas das diferentes possibilidades identitárias que as pessoas surdas podem manifestar, mas é im- portante compreender que a construção da identidade depende de muitos fatores e contextos aos quais o indivíduo está exposto. Nesse sentido, pertencer a uma comunidade cultural, manifes- tar-se e dentro dela e nela construir relações e subjetividade é balizador para a percepção e formação da identidade. Caro(a) cursista! PARABÉNS!! VOCÊ GANHOU A DICA DE UM UM DOCUMEN- TÁRIO QUE RETRATA O COTIDIANO DE PESSOAS CODA, INTITULADO “NASCIDOS NO SILÊNCIO”. DISPONÍVEL EM: BÔNUS PELA LEITURA! https://culturasurda.net/2014/08/14/nascidos..... 1.3 Pedagogia Visual A Língua de Sinais é resultado das experiências visuais das pessoas surdas. Experiências estas que se revelam, por exemplo, em narrativas, manifestações artísticas e culturais, por meio de estruturas linguísticas próprias da língua visual-espacial. As práticas pedagógicas necessitam, dessa forma, orientar-se sobre a perspectiva vi- sual a fim de que, a inclusão de estudantes surdos em escolas regulares e o acesso ao currículo sejam garantidos. Para tanto, é fundamental reconhecer e valorizar suas dife- renças linguísticas e culturais. É importante elaborar materiais didáticos aces- síveis às pessoas surdas. O que não se deve é adaptá-los da cultura ouvinte, pois a percepção oral-auditiva é diferente da visual-espacial. A Pedagogia Visual pode ser compreendida como aquela que é construída a partir da ex- periência visual, que tem como base o signo visual e, por isso, este é tão importante no pro- cesso de ensinar e aprender (CAMPELLO, 2008). Assim, uma prática que valorize o signo BÔNUS PELA LEITURA!BÔNUS PELA LEITURA! ATENÇÃO! https://culturasurda.net/2014/08/14/nascidos-no-silencio/ Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 14 visual, contextualizada com a arte, narrativas e demais aspectos culturais surdos é uma pedagogia que inclui o estudante surdo e reverbera positivamente na aprendizagem deste. Ao tempo em que a criança possui um ambiente linguístico e cultural adequado que oportuniza o contato com a língua de sinais e que a visualidade é a base dos processos interativos em diferentes situações, certamente terá mais facilidade em organizar seu pensamento e construir sua identidade pessoal (QUADROS, 2007). Nesse sentido, as escolas devem estar preparadas para criar possibilidades de ensino e aprendizagem que atendam à individualidade do estudante. É necessário compreender que a visualidade vai além de colocar imagens no material escolar ou ambiente de aprendizagem. Elas devem ser significativas aos diferentes con- textos dos alunos para que se possa construir sentido e, consequentemente, aprendiza- do. Campello (2007) apresenta um direcionamento bastante didático das possibilidades da pedagogia visual. Veja: Uma pedagogia visual que contemple a elabo- ração do currículo, didática, disciplina, estra- tégia, contação de história ou estória, jogos educativos, envolvimento da cultura artística, cultura visual, desenvolvimento da criativida- de plástica, visual e infantil das artes visuais, utilização da linguagem de Sign Writing (escrita de sinais) na informática, recursos visuais, sua pedagogia crítica e suas ferramentas e práticas, concepção do mundo através da subjetividade e objetividade com as “experiências visuais” (CAMPELLO, 2007, p. 129). “ Compreender o pluralismo cultural que compõe a realidade brasileira e valorizar as ex- periências individuais dos estudantes, assim como seu contexto social, é fundamental para a adoção de práticas pedagógicas inclusivas. Com relação à Pedagogia Visual, o docente necessita entender a importância da visualidade em suas práticas e ter cons- ciência das diferenças linguísticas entre a língua de sinais e a Língua Portuguesa e suas implicações na comunicação. Nesse sentido, faz-se necessária uma proposta pedagógica que se utilize de referências visuais e espaciais, bem como de materiais concretos para melhor exemplificação dos conteúdos trabalhados e, consequentemente,maior entendimento por parte dos estu- dantes que têm melhor compreensão pelo canal visual. Então, perceber as peculiarida- des de cada aluno, em suas diferentes características auditivas e cognitivas, que com- põem a sala de aula é fundamental para nortear a prática docente. STI Realce STI Realce STI Realce STI Realce Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 15 Para amparar sua compreensão sobre Pedagogia Surda, apresentamos a seguir alguns apontamentos feitos pela autora Shirley Vilhalva (2002): O Surdo tem a sua própria experiência visual. Ainda que os professores estejam, por serem de experiência oral-auditiva, mais distante, é impor- tante prover de sentimentos, aceitação e aos poucos ir incorporando no seu saber viver surdo. Dessa forma, haverá progresso no objetivo proposto (VILHALVA, 2002, p.3); O trabalho pedagógico requer muita flexibilidade e criatividade dialógica sinalizada, sempre reafirmando a importância da compreensão da cultura surda existente (VILHALVA, 2002, p. 3); Sobre os objetos de conhecimento, é necessário ter proximidade de en- tendimento e passá-lo de forma que pelo menos um dos alunos entenda e, assim, se permita que este repasse de forma que os demais compreen- dam. É fundamental que o docente compreenda que esta atitude faz parte do processo de ensino-aprendizagem (Adaptado de VILHALVA, 2002, p.4); É imprescindível observar se o professor está ocupando todo o seu tempo explicando as aulas, pois com essa prática ele não oportuniza tempo para o aluno elaborar, construir o que está sendo exposto (VILHALVA, 2002, p.4); Não adianta teimar no modelo da Pedagogia Oral-auditiva. Desde que o professor entre para a Pedagogia Surda, ele necessita se inserir como diz o ditado popular “de corpo e alma” na Educação de Surdo, buscando o mode- lo com os usuários da Língua de Sinais mais experientes e manter o ensino do valor e da preservação cultural (VILHALVA, 2002,p.5). Sabemos que o trabalho docente não segue um modelo padrão aplicável a todos os con- textos. Entretanto, a criatividade, a dedicação e a empatia são essenciais para que a missão de ensinar seja bem-sucedida. Nesse sentido, as estratégias pedagógicas de- senvolvidas devem ser significativas aos estudantes, de modo que se perceba a aplica- ção do conhecimento teórico à vida prática. Caro(a) cursista! Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 16 ASSISTA À PALESTRA DA PROF.ª DRA. ANA REGINA CAM- PELLO SOBRE PEDAGOGIA SURDA E PRÁTICAS PEDAGÓGI- CAS. ACESSE O LINK ABAIXO: BÔNUS PELA LEITURA! https://www.youtube.com/watch?v=i2PoG-RbRmM Compreendendo que a pessoa surda tem o canal visual como sua forma principal de percepção e comunicação, é fácil o entendimento de que sua cultura e construção iden- titária são diferentes das pessoas com percepção oral-auditiva. E, desse modo, a Língua Brasileira de Sinais - Libras - é a forma de comunicação e expressão legítima da pessoa surda, por isso é tão importante que a aquisição desta aconteça o mais cedo possível. Sobre a Língua de Sinais, Quadros (2007, p. 55) afirma que “esta língua é, antes de tudo, a imagem do pensamento dos surdos e faz parte da experiência vivida da comunidade surda”. Então, por mais criativo e dedicado que seja o docente, é fundamental que este conheça a estrutura linguística de seus alunos, suas particularidades e ritmos de apren- dizagem para que o trabalho seja exitoso. Isso deve acontecer tanto no desenvolvimento das habilidades cognitivas quanto nas relações interpessoais tão importantes dentro e fora do ambiente escolar. VOCÊ CONQUISTOU DOIS BÔNUS PELA CONCLUSÃO DA UNIDADE!!! CONFIRA: PARABÉNS!!! Dica do curso gratuito de Língua de Sinais Brasileira – LIBRAS. Disponível em: Sugestão de leitura do livro “O grito da gaivota”, autobiográfico de Emanuelle Laborit, surda profunda e premiada atriz francesa. https://eskadauema.com/course/view.php?id=58 BÔNUS PELA LEITURA! https://www.youtube.com/watch?v=i2PoG-RbRmM https://eskadauema.com/course/view.php?id=58 https://www.youtube.com/watch?v=i2PoG-RbRmM Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 17 resumo Neste módulo, vimos que: As lutas da comunidade surda em busca de seus direitos educacionais re- sultaram em importantes leis que favorecem a inclusão e o exercício da cidadania; A Lei nº 10.436/ 2002, que legitima a Língua de Sinais, foi um marco im- portante para que o sujeito surdo se utilize da Libras e que sua livre expres- são por meio dela seja garantida; As experiências de vida, as manifestações artísticas, as crenças, os dife- rentes contextos sociais, os interesses coletivos, as políticas, as significa- ções vão construindo a cultura de um povo; Os artefatos culturais, associados às experiências vivenciadas em diferen- tes contextos corroboram, portanto, a construção da identidade surda; Segundo Perlin (2002), a identidade surda pode ser classificada em: Polí- tica, Híbrida, Embaçada, Flutuante, Intermediária, de Transição e Diáspora; O processo de escolarização da CODA também compreende duas realida- des linguísticas e culturais distintas: a surda, no seio familiar, e a ouvinte, na escola; As práticas pedagógicas necessitam, pois orientar-se sobre a perspectiva visual para que a inclusão de estudantes surdos em escolas regulares e o acesso ao currículo sejam garantidos; A Língua Brasileira de Sinais é a forma de comunicação e expressão legíti- ma da pessoa surda. Por isso, é tão importante que a aquisição da Língua de Sinais aconteça o mais cedo possível. Gamificação no Ensino INCLUSIVO de Surdos MÓDULO 1 18 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l10098.htm. Acesso em: 4 nov. 2021. BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, 25 de abril de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436. htm. Acesso em: 4 nov. 2021. BRASIL. Decreto-lei nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dez. 2005. Seção 1, p. 30. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 4 nov. 2021. BRASIL. Decreto-lei nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, 26 de agosto de 2009. 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