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Criminologia | 
Criminologia e as Ciências Criminais 
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DISCIPLINA 
CRIMINOLOGIA 
 
CONTEÚDO 
Aspectos Penais e Políticas do 
Estado 
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Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Criminologia e as Ciências Criminais ----------------------------------------------------------------- 4 
2 Mecanismos institucionais de criminalização: lei penal, justiça criminal e prisão ------ 5 
3 Criminologia e o papel da polícia judiciária -------------------------------------------------------- 6 
4 Criminologia e política criminal ---------------------------------------------------------------------- 10 
5 Políticas de segurança pública no Estado Democrático de Direito ------------------------- 13 
5.1 Estado Democrático de Direito e a criminologia prevencionista ----------------------------------------- 14 
5.1.1 Princípios básicos da criminologia prevencionista ----------------------------------------------------------------------- 15 
6 Mídia e Criminalidade ----------------------------------------------------------------------------------- 16 
7 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 20 
 
 
 
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1 Criminologia e as Ciências Criminais 
Inicialmente, podemos definir a criminologia como sendo uma ciência autônoma e 
empírica, que estrutura suas análises com base na observação e não na indução. 
Contudo, embora seja uma ciência empírica que utiliza os métodos experimental, 
naturalístico e indutivo para analisar o delinquente, também teve de buscar guarida 
nos métodos estatísticos, históricos, sociológicos e biológicos, pois os meios utilizados 
não foram suficientes para concluir os estudos criminológicos. 
 
Assim, dizemos que o estudo da criminologia se trata de uma matéria interdisciplinar, 
pois dialoga de forma direta com outras ciências, como, por exemplo, a psicologia, a 
sociologia, a estatística, o direito, a medicina legal e tantas outras. Inclusive, analisando 
pelo viés da criminologia moderna, o crime não pode ser examinado unicamente sob 
o aspecto do delinquente, pois, o real motivo vai muito além disso, por isso devem 
ser considerados os objetos sociológicos, por exemplo, que são capazes de coletar as 
informações que podem ter influenciado na prática do delito. 
 
No entanto, considerando que a criminologia possui um caráter autônomo, ela não se 
inclui em outras ciências, vez que não faz parte da política criminal, do direito penal, 
e, tampouco, do processo penal. Porém, não é incomum encontrarmos algumas 
noções criminológicas nessas matérias, ou seja, ela não faz parte de uma ciência em 
específico, mas sim de todas elas, mesmo que de forma indireta. 
 
Desta forma, é possível afirmar que um dos principais objetivos da criminologia é a 
prevenção do delito, de modo que o diagnóstico do crime é feito através da tipologia 
do criminoso, analisando, entre outros fatores, as condições do meio em que ele vive, 
a chamada ecologia criminal. Isto é, a criminologia busca conhecer a realidade do 
indivíduo para depois interpretá-la, criando soluções para prevenir o delito, visando o 
progresso social. Diferente do direito penal que, não dá o diagnóstico do fenômeno 
criminal como ocorre na criminologia, pois, considerando que se trata de uma ciência 
normativa e deôntica, o direito penal preocupa-se apenas com o crime enquanto fato 
descrito na norma, com o intuito de definir a adequação típica da conduta. 
 
Por fim, a política criminal, embora alguns autores defendam estar incorporada a 
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Mecanismos institucionais de criminalização: lei penal, 
justiça criminal e prisão 
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criminologia, não pode ser confundida com esta. A política criminal é uma ciência que 
tem como objetivo reduzir a criminalidade, através das análises empíricas elaboradas 
pelos criminólogos. Neste aspecto, a criminologia oferece informações válidas sobre 
a origem, a dinâmica e as variáveis do crime, enquanto fenômeno individual e social 
possibilitando firmar parâmetros contra uma prevenção eficaz (política preventiva), 
bem como para delimitar as formas, técnicas e estratégicas da reação contra o fato 
criminoso (política criminal repressiva). Isto é, de forma sucinta a política criminal deve 
unir todas essas informações apresentadas pela criminologia, em prol da construção 
de um sistema normativo coerente, proporcionando o bom funcionamento da 
sociedade. 
 
2 Mecanismos institucionais de criminalização: lei penal, 
justiça criminal e prisão 
Em determinadas situações, a criminalização pode ter como principal fato o próprio 
Estado, muitas vezes os mecanismos desenvolvidos justamente para controlar o crime 
podem se converter em sua matéria prima. De acordo com Sérgio Salomão (2020) não 
é de hoje que se questiona, nos estudos da criminologia, a possibilidade da justiça 
criminal ao invés de frear, promover a criminalidade. 
 
Um exemplo claro da ineficiência do Estado diante da crescente criminalidade é a 
própria legislação penal que, acaba por se tornar seletiva em seu nascedouro, ou seja, 
ao tipificar determinadas condutas a Lei escolhe quem receberá a pena, ainda que de 
forma velada, justificando a punição pelos bens juridicamente tutelados. Assim, a 
seletividade estigmatiza o indivíduo, trazendo à tona uma sensação de injustiça e 
revolta, que gera a opção de não seguir as regras formais, estabelecidas por quem 
detém o princípio da legalidade nas mãos. 
 
Neste sentido, Alessandro Baratta (2011) observa que existe uma tendência de 
manifestação punitiva em privilegiar os interesses das classes dominantes, 
imunizando-as do processo de criminalização, isso ocorre devido a influência de uma 
classe dominantesobre as outras. É o chamado processo de seletividade na criação 
primária das normas, quando os responsáveis pela força repressiva e punitiva do 
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Criminologia e o papel da polícia judiciária 
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Estado não agem da mesma maneira com relação a todas as pessoas, sendo 
complacentes com os membros do meio social que integram e, extremamente 
positivistas e discriminatórios com as demais classes. 
 
Assim, além da lei penal, a justiça criminal como um todo também tem fomentado o 
processo de criminalização. Isto é, considerando que a lei penal engloba tanto a 
investigação preliminar (polícia judiciária, ministério público, CPI no congresso, entre 
outros), quanto o processo penal e a execução penal, o sujeito ao ser indiciado, 
processado criminalmente e condenado traz uma mácula social que posteriormente 
se transformará em preconceito, ausência de oportunidades e, até mesmo, na 
exclusão social do agente, contribuindo para o aumento no índice de reincidência. 
 
Neste sentido, destacam Newton e Valter Fernandes (2010, p. 305) que de um modo 
geral, os indivíduos reincidentes representam, ainda que de forma indireta, o fracasso 
da instituição com relação “aos mecanismos de controle social, em especial das 
unidades prisionais. É reflexo também da reincidência a insuficiência das medidas 
preventivas e repressivas utilizadas pelo Estado para combater a delinquência”. 
 
Inclusive, no Brasil a prisão é um dos fatores que mais estigmatiza o sujeito, pois, além 
de não ressocializar o indivíduo como determina a Lei de Execução Penal, ela impede 
na prática o retorno social do indivíduo para o plano profissional. Corroborando, 
Sérgio Salomão (2020, p. 323) afirma que “um grande número de criminologistas, por 
exemplo, notou que a prisão, uma das mais graves formas de reprovação penal, 
contribuía de alguma forma para a criminalização”. Isto é, embora tenha a função de 
reprimir um comportamento criminoso dentro do estabelecimento carcerário, 
punindo de forma mais severa os indivíduos, não é exatamente isso que ocorre, ao 
invés de se tornar mais sociável o indivíduo acaba se retraindo e age de forma 
individualista. 
 
3 Criminologia e o papel da polícia judiciária 
Nas palavras de Aury Lopes Jr. (2020, p. 184) “a polícia judiciária está encarregada da 
investigação preliminar, sendo desempenhada nos estados pela Polícia Civil e, no 
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âmbito federal, pela Polícia Federal”, ou seja, essa polícia está encarregada de realizar 
a investigação criminal através de processos autônomos de investigação e de 
instrução cartorária do inquérito policial (pré-policial). 
 
Além disso, o próprio Código de Processo Penal brasileiro, em seu art. 4º, conceitua a 
polícia judiciária como sendo agência de política pública, cuja atividade será exercida 
por autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições, tendo por 
fim qualquer finalidade de investigação, apuração das infrações, autoria e 
materialidade. 
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas 
respectivas circunscrições e terá, por fim, a apuração das infrações penais e da sua autoria. 
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades 
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. 
 
Assim, logo que tiver conhecimento da prática de uma infração, a autoridade policial, 
deverá tomar uma série de medidas. Essas medidas são diligências que visam à 
constatação e apuração do fato investigado, cuja formalização deve ocorrer 
obrigatoriamente por meio do inquérito policial, para facilitar o controle do Ministério 
Público e subsidiar uma possível ação penal, podendo servir para auxiliar na 
condenação do sujeito (art. 6º, CPP). 
 
 
Figura 1 – Polícia judiciária. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
O objeto da investigação preliminar e, essencialmente, do inquérito policial é 
averiguar a veracidade das informações relatadas na notitia criminis, toda a 
investigação é baseada na tentativa de esclarecer os fatos, o grau de verossimilhança 
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e a autoria do crime, sendo, este último, dispensável no início do procedimento, dado 
que para iniciar a investigação basta a mera possibilidade de que exista um fato 
punível. Conforme destaca Aury Lopes (2020, p. 224) “o inquérito policial nasce da 
mera possibilidade, mas almeja a probabilidade”. 
 
Figura 2 – Persecução penal e autoria. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
Dessa forma, as informações sobre a materialidade do delito e os indícios de autoria, 
são obtidas, em regra, pela polícia judiciária, pois, esta atua como titular da 
investigação, possuindo autonomia, poder de decisão e determinando a linha de 
investigação, os objetos a serem apreendidos e as testemunhas a serem inquiridas. 
Além disso, nesse sistema não existe uma subordinação funcional e nem interferências 
externas, pois, assim que formalizado, o resultado das investigações deve ser 
submetido ao poder judiciário. 
 
Figura 3 – Investigação preliminar. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
Em outras palavras, o inquérito policial pode ser definido como uma ação inquisitorial, 
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conduzida pela polícia judiciária, que interfere na intimidade e na liberdade das 
pessoas com um grau de seletividade e discricionariedade, na busca de esclarecer os 
fatos relatados na notitia criminis. No entanto, é válido destacar que, embora possa 
auxiliar na condenação do indivíduo, o inquérito policial jamais poderá ser o único 
elemento utilizado no convencimento do magistrado. 
 
 
 
Contudo, no âmbito da criminologia crítica a polícia judiciária se mostra de forma 
diferente, por meio de um enquadramento nas agências de criminalização. Neste 
sentido, afirmam os criminólogos Zaffaroni, Batista, Alagia e Slokar (2011) que, o 
sistema penal é formado por três diferentes agencias de criminalização, ao passo que 
a primária é exercida pelo poder legislativo, no momento em que os parlamentares 
sancionam as leis e tipificam determinadas condutas como criminosas, atribuindo a 
elas uma pena. Já a criminalização secundária é aquela realizada através da ação 
punitiva da polícia, exercida sobre pessoas concretas, de modo que a terciária é a 
estigmatização realizada pelo sistema prisional durante a execução da pena. 
 
 
 
Assim, embora a polícia judiciária seja considerada um instrumento da política de 
Criminalização
Primária Legislador
Secundária
Identificação 
do criminoso
Terciária
Sistema 
penitenciário
No Brasil, ninguém pode ser condenado apenas com base no inquérito policial, 
é preciso ter a ratificação das informações obtidas na persecução penal em juízo, 
através do depoimento dos envolvidos ou da produção de outras provas. 
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Criminologia e política criminal 
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segurança pública do Estado, também pode ser vista como uma anomalia se analisada 
pela ótica da criminologia crítica, pois, a sua atração repressiva incide diretamente nas 
pessoas estigmatizadas. Mudar essa concepção é uma tarefa Copernicana, visto que, 
na criminalização secundária e terciária é necessário desconstruir paradigmas de 
pensamento e implementar ações dentro de uma nova concepção. 
 
É justamente nesse sentido que surge a ideia de uma prevenção da criminalidade nas 
esferas primária, secundária e terciária. O criminólogo Nestor Sampaio (2020, p. 136) 
afirma que, a prevenção no âmbito primário deve ser realizada pelo Estado, 
garantindo os direitos básicos a população (educação, saúde, segurança pública, 
qualidade de vida, entre outros). Já, na esfera secundária, a prevenção “destina-se a 
setores da sociedade quepodem vir a padecer do problema criminal e não ao 
indivíduo”. Por fim, a prevenção terciária está relacionada a população carcerária, 
implementando medidas voltadas a recuperação do indivíduo, evitando a 
reincidência. 
 
4 Criminologia e política criminal 
A proposta de criminologia sempre esteve ancorada na ideia de que é possível 
fornecer subsídios, relatórios, estatísticas e/ou elementos para permitir que a 
sociedade trate a questão do crime, adotando medidas realmente capazes de reduzir 
a criminalidade e o seu equacionamento. 
 
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Criminologia e política criminal 
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Figura 4 – Relatório criminológico. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
Nesse sentido, em 1889, Franz von Liszt, Gerardo van Hammel, Adolphe Prins e Carlos 
Stoos, fundaram a União Internacional de Direito Penal, que serviu como base para o 
movimento da política criminal. Esse movimento tinha o intuito de fornecer estratégias 
eficazes para a proteção da sociedade contra a criminalidade, pautado nos seguintes 
ideais: 
a) O crime deve ser enfrentado pelo Direito Penal, partindo sempre da premissa 
de que se trata de um fenômeno social; 
b) Para enfrentar o problema criminal, é necessário encontrar medidas 
substitutivas da pena; 
c) A pena tem finalidade de correção, não podendo ser puramente retributiva; 
d) A compreensão do autor do fato delitivo depende do entendimento do meio 
social de qual ele provém. 
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Criminologia e política criminal 
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O desenvolvimento da política criminal, fez com que se atrelasse ao pensamento do 
jurista no Direito Penal uma nova ideia e o sistema é estruturado por outra perspectiva, 
não visando somente questões técnicas das estruturas jurídicas, mas também os 
objetivos políticos criminais existentes em cada construção. Ao passo que, 
manifestou-se, notadamente, após os anos 1990, um forte crescimento da confusão 
entre política criminal e adoção de medidas punitivas mais severas, com a redução da 
margem de liberdade. 
 
Assim, a problemática decorre da utilização do termo “impunidade”, que, após o 
término da Guerra Fria, foi empregado com o intuito de manter a dominação sobre 
grande maioria da população, devido ao constante estado de pânico que foram 
submetidos, ou seja, o medo fez com que a população renunciasse a sua liberdade 
em busca de um bem maior. 
 
Influenciada pelo movimento da época, os novos ideais incitados pela política criminal 
foram rapidamente incorporados em diferentes grupos sociais. A América Latina, por 
exemplo, sofria com a ideia da existência de um mal imaginário, conhecido pelo nome 
de impunidade e acreditava que deveria combatê-lo a todo custo, com isso, de 
maneira pouco refletida, passaram a ser continuamente adotadas medidas de 
endurecimento da Legislação Penal, com o pretexto de enfrentar esse “inimigo” 
abstrato, através da política criminal. 
 
Desta forma, sob a justificativa de tratar a questão criminal impulsionada pelo medo 
da impunidade, a política criminal propõe a adoção de algumas estratégias: 
● A questão criminal faz parte da fenomenologia social; 
● Ao tratar do crime, estamos protegendo a própria sociedade, logo se deve usar 
a política criminal para proteger a sociedade do crime; 
● Como se proclama a existência da impunidade como causa do crime, para 
conter um crime, deve-se conter a impunidade; 
● A política criminal se converte em mera habilitadora e justificadora do 
incremento crescente de medidas criminais. 
 
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Políticas de segurança pública no Estado Democrático 
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Assim, a política criminal que era inicialmente utilizada para fornecimento de 
estratégias a partir da análise criminológica, se converteu numa justificativa para 
contínuas respostas penais mais duras. O discurso da impunidade transformou a 
política criminal, de uma medida preocupada com a melhoria das pessoas para uma 
política criminal vinculada ao punitivismo. 
 
5 Políticas de segurança pública no Estado Democrático de 
Direito 
O Estado Democrático de Direito representa a instituição pública, constituída de forma 
democrática pelo sufrágio universal, tendo como principais fundamentos: a soberania; 
a cidadania; a dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre 
iniciativa; e o pluralismo político. Ao passo que todo poder emana do povo, que o 
exerce por meio de representantes eleitos. 
 
No entanto, embora o Estado Democrático preze pela participação social, com relação 
as políticas públicas ela é realizada de forma indireta, pois, a sociedade, assim como 
definido no art. 1º da Constituição Federal, tem o direito de escolher e eleger seus 
representantes de forma democrática, os escolhidos comporão os poderes executivo 
e legislativo, sendo responsáveis por implementar medidas de segurança pública mais 
eficazes no combate à criminalidade. 
 
Assim, ainda que a visão técnico-jurídica do crime seja, até certo ponto, considerada 
suficiente para o trabalho de juízes, promotores, delegados de polícia, advogados 
criminais, defensores públicos e autoridades carcerárias, é considerada precária no 
âmbito da segurança pública, pois, como ela é encarregada de garantir a ordem e a 
tranquilidade pública evitando que os crimes ocorram, é necessário trabalhar a 
definição de crime em sentido amplo. 
 
O reconhecimento de que a criminalidade é um fenômeno inerente à convivência em 
sociedade, é crucial para que as autoridades e os operadores do sistema dimensionem 
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Políticas de segurança pública no Estado Democrático 
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de forma adequada as possibilidades e os limites da polícia. Caso contrário, se as 
forças policiais assumirem uma postura negativa diante da continuidade do crime e 
da violência, sem considerar que são, sobretudo, fenômenos sociais, é muito provável 
que mantenham uma atitude condenável. 
 
Isto é, a compreensão da dinâmica que condiciona a manifestação da criminalidade, 
da sociedade em si e do próprio sistema penal, são fatores que permitem aos 
estudiosos propor mudanças racionais e menos inconsequentes no âmbito das 
políticas públicas. É justamente neste aspecto que se destacam estudos propostos 
pela criminologia crítica, pois, é uma área que procura conhecer o crime e a violência 
em todas as suas dimensões, apresentando ações mais efetivas no combate à 
criminalidade. 
 
5.1 Estado Democrático de Direito e a criminologia prevencionista 
Considerando os fundamentos do Estado Democrático de Direito mencionados acima, 
é tarefa do Estado prezar, sobretudo, pela dignidade da pessoa humana, estando 
abrangidos neste preceito os direitos a liberdade e a segurança do indivíduo, criando 
formas de prevenção ao cometimento de infrações penais, é a partir de então que 
surge a criminologia prevencionista. 
 
De acordo com Natacha Alves (2020, p. 159) “a prevenção criminal representa o 
conjunto de medidas, públicas ou privadas, adotadas com o escopo de impedir a 
prática de delitos, abarcando tanto as políticas sociais para a redução da delinquência, 
quanto as políticas criminais com a formulação de respostas penais adequadas”. Isto 
é, a criminologia prevencionista pode ser definida como uma ciência humana e social 
que estuda o delinquente e os fatores criminógenos ou causas que contribuem para 
a formação do seu caráter perigoso ou antissocial. 
 
Além disso, essa ciência se dedica a análise da criminalidade como um conjunto, 
examinando os criminosos, as infrações penais cometidas, a região em que a conduta 
foi praticada, o grau de periculosidade que o indivíduo representa para a sociedade e 
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Políticas de segurança pública no Estado Democrático 
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as oscilações de comportamento que ele apresenta diante das medidas que lhe são 
impostas. É através dessas análisesiniciais, com base nos resultados obtidos, que a 
criminologia prevencionista busca criar e implementar novas medidas de segurança 
pública, são as chamadas fases de pré-delinquência e pós-delinquência. 
 
A fase de pré-delinquência representa as medidas impostas através das políticas 
governamentais, são aquelas capazes de evitar os fatores criminógenos ou as causas 
do caráter criminoso do delinquente. Já, a fase chamada de pós-delinquência, são as 
ações implementadas com o intuito de prevenir a reincidência do sujeito, elas 
possuem o condão de recuperar ou socializar o delinquente, reintegrando-os a 
sociedade como cidadãos decentes. 
 
5.1.1 Princípios básicos da criminologia prevencionista 
Assim como outras ciências, o estudo da criminologia prevencionista é pautado em 
alguns princípios básicos, quais sejam: 
• Existencialismo absoluto da relação, causa e efeito, ou seja, nada existe sem o 
fator criminógeno; 
• Os fatores criminógenos só serão neutralizados através da prevenção, se as 
causas forem evitadas, a criminalidade não se desenvolverá; 
• A solução, para o problema criminal, está em transformar o criminoso em uma 
pessoa sociável. 
 
Em outras palavras, a criminologia preventiva parte do princípio de que se o crime 
decorre da má formação do caráter do indivíduo, basta que os pais e educadores, 
formem bem o caráter das crianças e adolescentes, para que no futuro não se tornem 
delinquentes e antissociais. No entanto, se mesmo com uma boa base educacional, o 
indivíduo seguir o caminho do crime, basta que seu caráter seja aperfeiçoado através 
de um processo restaurador, que ressocializará o sujeito. Isto é, de forma suscinta, 
para a criminologia preventiva, os problemas com a criminalidade surgiam de uma 
má-formação no caráter do indivíduo. 
 
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Contudo, o problema desta teoria surge quando o mau-caratismo do sujeito resulta 
de fatores endógenos, ou seja, quando o problema parte de fatores psicopatológicos, 
de modo que o indivíduo só pode ser recuperado por meios médico-psiquiátricos, 
desde que isso seja possível ou viável (5 a 10%). Diferente do que ocorre com o 
indivíduo que é mau-caráter por fatores exógenos ou sociais, onde o índice de 
recuperação é de 90 a 95%. 
 
6 Mídia e Criminalidade 
O estudo da mídia e criminalidade é feita por uma análise técnica, que envolve tanto 
questões de direito humanos, quanto questões de distribuição de oportunidades. A 
sociedade se organiza a partir da formação de grupos de interesses e expectativas 
comuns, a qual apresenta uma estrutura de poder a partir de grupos que dominam e 
grupos que são dominados. Isto é, verifica-se a existência de um controle social na 
conduta dos homens que integram a sociedade, “controle que não só se exerce sobre 
os grupos mais distantes do centro do poder, como também sobre os grupos mais 
próximos a ele, aos quais se impõe controlar sua própria conduta para não debilitar-
se” (ZAFFARONI e PIERANGELI, 1999, p. 60). 
 
Assim, percebe-se neste ponto que, à medida que o sistema penal integra o controle 
social, este se manifesta de forma punitiva e seletiva ao indicar as qualidades pessoais 
do indivíduo como indicadores de criminalidade em detrimento da ação praticada, ou 
seja, o sistema penal seleciona determinadas pessoas ou ações, classificando os 
indivíduos com base na sua classe e posição social. Inclusive, analisando o cenário 
brasileiro, verifica-se a difusão do medo do caos e da desordem como justificativa 
para detonar estratégias de neutralização e disciplinamento das pessoas, elas utilizam 
um cerimonial da morte como espetáculo de lei e ordem, valendo-se do medo para 
justificar as políticas genocidas de controle social (BATISTA, 2003). 
 
Outro fator que deve ser levado em consideração é a luta pela pureza moderna, que 
se expressa diariamente nas ações punitivas contra as classes perigosas, enquanto a 
pureza pós-moderna se revela através da ação punitiva contra moderadores das ruas 
pobres e das áreas urbanas proibidas, vagabundos e indolentes (BAUMAN, 1999). É 
justamente nesse sentido que se sustentam as políticas de tolerância zero e as versões 
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tupiniquins, como prova da busca por ordem urbana em face dos camelôs, flanelinhas 
e mendigos. 
 
Nesta senda, manifesta-se Vera Malaguti Batista, ao referir que: os estranhos “não se 
encaixam no mapa cognitivo, moral ou estético do mundo”, eles “poluem a alegria 
com angústia”, embaralham as fronteiras e por isso produzem mal-estar e 
insegurança. Na guerra contra os estranhos apresentam-se duas estratégias: uma é a 
antropofágica, que ao devorar assimila, a outra é a antropoêmica, que ao vomitar 
exclui (BATISTA, 2003, p. 80). 
 
Percebe-se, por conseguinte que, há uma tendência para criminalizar a precariedade, 
deslocando tudo que for público para o penal, bem como (re)institucionalizando o 
Direito Penal pós-moderno na estratégia de purificação e do sacrifício. Desta forma, 
compreende-se que o sistema penal não passa de um instrumento de controle 
fundado em uma política criminal, cujos valores se baseiam em determinada 
sociedade, com o escopo de garantir a ordem social. Por isso, pode-se afirmar que os 
valores escolhidos como vigentes são impostos por determinada classe social, a qual 
detém o controle das demais. 
 
Em complemento, afirma Baratta (2011) que o sistema penal, a partir do 
desenvolvimento da sociedade capitalista, solidificou-se como um sistema de controle 
de desvio ao possuir mecanismos seletivos destinados a determinado grupo social, de 
forma que o controle atinja dos desvios de grupos sociais marginalizados sociais e 
economicamente. 
 
No mesmo sentido, refere Zaffaroni (1999, p. 73) que não somos todos igualmente 
‘vulneráveis’ ao sistema penal, que costuma orientar-se por ‘estereótipos’ que 
recolhem os caracteres dos setores marginalizados e humildes, que a criminalização 
gera fenômeno de rejeição do etiquetado como também daquele que se solidariza ou 
contrata com ele, de forma que a segregação se mantém na sociedade livre. O autor 
defende ainda que, assim como os sistemas penais selecionam um grupo de pessoas 
dos setores marginalizados como limites de seu ‘espaço social’, os setores que na 
estrutura de poder têm a decisão geral de determinar ou subtrair o sentido da 
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criminalização (ZAFFARONI 1999, p. 74). 
 
Desta forma, destaca-se que a seletividade, a reprodução da violência, a corrupção 
institucionalizada, a verticalização social, a destruição das relações comunitárias não 
são características de determinado grupo social, pelo contrário, esses elementos 
fazem parte da estrutura do exercício de poder de todos os sistemas penais 
(ZAFFARONI, 2001). Assim, utilizam-se os meios de comunicação de massa – rádio, 
televisão e internet – como mecanismos de promoção de medidas emergenciais, ao 
elevar a função simbólica no sistema penal eminentemente repressivo, além de 
fomentar crenças, culturas e valores com o intuito de sustentar os interesses que 
representam. 
 
Sendo assim, conforme expõe Mário Rosa (2003), a mídia exerce dois papéis 
fundamentais no mundo moderno: [...] definir a pauta do cotidiano e expor os 
personagens que a encaram. A mídia funcionaria como uma espécie de espelho 
seletivo do ambiente social, pois, se concentra não sobre todos os temas do universo 
social, mas apenas sobre aqueles que são mais importantes ou surpreendentes. Logo, 
em sua essência, as mídias estão adaptadas a um certo grau de distorção, já que não 
refletem a realidade como um todo, mas apenas alguns aspectos. 
 
Ademais, percebe-se que os meios de comunicação criam a ilusão de um sistema 
penal ineficaz e, quando o poder das agências de segurança está ameaçado, as 
agências de comunicaçãoacabam por estimular, mesmo que de forma indireta, 
campanhas de “lei de ordem”, através da apresentação dos fatos a partir da distorção 
do espaço publicitário, fomentando a violência coletiva e a formação dos chamados 
“justiceiros da lei”. 
 
Portanto, verifica-se que os julgamentos antecipados carregam o etiquetamento 
social, estereótipos e rotulação de toda natureza, atribuídos, sobretudo, aos pobres, 
negros, desempregados, subempregados, criminoso ou aqueles que já estão 
presentes nos arquivos policiais, revelando a grande manipulação no sentido da 
perpetuação da cultura do medo. A sociedade distingue e julga comportamentos e 
pessoas consideradas como ‘desviantes’, por meio do poder de controle pelo qual é 
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Mídia e Criminalidade 
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desempenhado formalmente, através de órgãos institucionalizados ou informalmente, 
no âmbito familiar, escolar e na mídia (REIS, 2008). 
 
Neste rumo, Glassner (2003) refere que os meios de comunicação de massa não criam 
a notícia, apenas direcionam-na a determinado grupo social, associando a prática 
delituosa ao homem negro e favelado. À medida que, a ‘imagem da criminalidade’ e 
o ‘alarme social’ encontram-se atrelados às imagens veiculadas do que ao concreto, 
razão pela qual “os efeitos dos meios de comunicação e da circulação massificada 
dessas imagens acrescentam à percepção real uma espécie de percepção imaginária 
da criminalidade de rua” (REIS, 2008). 
 
A capacidade reprodutora de violência dos meios de comunicação em massa é 
enorme, eis que se verifica a necessidade de uma criminalidade mais cruel para melhor 
explicitar a indignação moral, requerendo apenas o exagero da televisão ao veicular 
casos de violência gratuita para que “as demandas de papéis vinculados ao 
estereótipo assumam conteúdos de maior crueldade e, por conseguinte, os que 
assumem o papel correspondente ao estereótipo ajustem sua conduta a estes papéis” 
(ZAFFARONI, 2001, p. 131). Desta forma, ao veicular a notícia, a mídia o faz de tal 
maneira que possa atingir a todas as camadas sociais, fazendo com que a realidade 
cotidiana seja conceituada e confirmada como se fosse consenso. 
 
Percebe-se, portanto, que o sistema penal contemporâneo se fundamenta no poder 
e na proteção dos bens jurídicos de maior importância para a elite, ao mesmo tempo 
que direciona o foco punitivo naqueles indivíduos pertencentes às mazelas sociais, 
que têm maior probabilidade de colocar em risco a redoma de segurança das camadas 
superiores. A humanidade requer um sistema penal baseado na convivência, na 
harmonia e no pacto entre iguais, que permita a coexistência de valores e princípios 
norteadores da dignidade humana e igualdade social. Assim, por ser uma curiosidade 
humana, o crime é visto na mídia com frequência, transmitindo e criando uma 
realidade fictícia, com a cultura do medo e de insegurança. 
 
 
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Referências Bibliográficas 
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São Paulo: Saraiva Educação, 2020. 
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Criminologia | 
Referências Bibliográficas 
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	Sumário
	1 Criminologia e as Ciências Criminais
	2 Mecanismos institucionais de criminalização: lei penal, justiça criminal e prisão
	3 Criminologia e o papel da polícia judiciária
	4 Criminologia e política criminal
	5 Políticas de segurança pública no Estado Democrático de Direito
	5.1 Estado Democrático de Direito e a criminologia prevencionista
	5.1.1 Princípios básicos da criminologia prevencionista
	6 Mídia e Criminalidade
	7 Referências Bibliográficas

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