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João Manuel – Medicina Nove de Julho ABSORÇÃO E DIARREIA INTRODUÇÃO A principal porção do intestino que absorve o os nutrientes é o intestino delgado, principal- mente não porção do jejuno e íleo. Então uma má absorção apresenta-se como diarreia crô- nica ou esteatorreia. A má absorção é caracteri- zada por absorção inadequada de nutrientes, logo, alguma disfunção, assim, sendo expelido por diarreia crônica ou esteatorreia. Quando a má absorção quando crônica é acom- panhada o paciente apresentará distensão abdo- minal, borborigmos, perda de peso, com conse- quência tem fraqueza muscular. MÁ ABSORÇÃO É causada por distúrbios em uma ou mais fases da absorção de nutrientes. Temos 4 fases de ab- sorção: 1. Digestão intraluminar: Quando o quilo alimentar sai do estômago e chega no du- odeno, irá sofrer ação do suco biliar e do suco pancreático. Logo, essa fase é carac- teriza em nutrientes que são quebrados em formas adequadas para absorção. Algumas doenças que podem impedir essa frase é a coledocolitíase, pancreatite crônica, fibrose cística. 2. Fase de digestão terminal: Ação do suco pancreático e biliar não é suficiente para quebrar as enzimas do alimento. Marcada por carboidratos e peptídeos são clivados por dissacaridases e pep- tidases presente na borda em escova dos enterócitos. Doenças que levam o comprometimento na digestão terminal, enteropatia infecciosa, doença celíaca, Doença de Crohn, deficiência de lactase (ao longo dos anos se perde a lactase pre- sente na borda em escova). 3. Fase de transporte transepitelial: Captação de nutrientes, eletrólitos e fluidos que são processados e trans- portados pelos enterócitos. Agora ali- mento será captado, caindo na corrente sanguínea ou circulação linfática. Doen- ças que levam o comprometimento no transporte transepitelial, enteropatia in- fecciosa, doença celíaca, Doença de Crohn, a deficiência de lactase não entra porque a digestão já foi realizada. 4. Transporte linfático de lipídeo: A mai- oria dos nutrientes captados são trans- portados para circulação sanguínea me- nos o lipídeo que vai para a circulação linfática devido ao tamanho. É caracteri- zada pelo transporte linfático de lipí- deos, doenças que podem comprometer essa fase: Doença de Whipple, compro- mete os canais linfáticos das vilosidades e o quilomícron não consegue ser jogado na circulação linfática. Sintomas gerais: Diarreia; Flatulências; Disten- são abdominal; Anemia (perda de ferro, vita- mina B12, folato); Perda de peso; Anorexia, He- morragia (queda dos fatores de coagulação; De- ficiência de vitamina K); Osteoporose (deficiên- cia de cálcio, vitamina D e magnésio); Neuropa- tia periférica (deficiência de vitamina A e vita- mina B12 à Gastrite autoimune, por conta da destruição das células parietais, diminuição HCL e fator intrínseco, importante para absorção de vitamina A). João Manuel – Medicina Nove de Julho Esteatorreia: É caracterizada por fezes volu- mosas, espumantes, ricas em gorduras e de co- loração amarelada ou cor de barro. Diarreias: Caracterizada pelo aumento de massa (mais de 200 gramas) ou frequência ou fluidez das fezes. Em casos graves chega até 14 litros por dia. Pode ser classificada de algumas formas, sendo pelo tempo de duração ou consti- tuição das fezes. • Tempo de duração: o Aguda: mais de 2 semanas – princi- palmente enteropatias infeciosas (vírus e bactérias), principalmente virais. o Persistentes: 2 a 4 semanas. o Crônica: mais de 4 semanas – doen- ças inflamatórias, obstrutivas ou ductos pancreáticos. • Constituição das fezes: Diarreia secre- tória, diarreia osmótica, diarreia de má absorção, diarreia exsudativa/inflamató- ria. DIARREIAS Diarreia Secretória: Tem fezes isotônicas, permanece durante o jejum, associada com en- teropatias infecciosas. Na região apical do ente- rócitos temos 3 canais importantes, sendo CFTR (canal regulador de transmembrana da fibrose cística, tem a função de jogar o cloreto para o lú- mem), NHE3 (canal trocador de sódio e hidro- gênio, tem função captar sódio do lúmem para dentro do enterócito), Cacc (canal de cloreto ati- vado por cálcio, tem função de jogar cloreto para o lúmen). Quando o paciente tem uma enteropa- tia infecciosas (vírus ou bactéria) ou algumas condições inflamatórias, causa alterações em níveis células, vírus e bactérias causa um au- mento do AMPc e GMPc, quem causa isso são as enterotoxinas desses agentes infecciosos, o problema disso é que ativa constantemente o canal CFTR, assim, esse canal começa jogar muito cloreto. Citocinas pró-inflamatório in- duzem o aumento intracelular do cálcio, blo- queia o canal NHE3, assim, não absorve sódio do lúmem. O cálcio em excesso ativa o CACC, que passa a jogar mais cloreto (Cl-) para o lú- men. Logo, terá muito cloreto no lúmem, muita carga negativa, assim, atraindo carga positiva, dessa forma chama o sódio (Na+), por conta disso a água vai junto, tendo uma diarreia bem fluida e aquosa. Na diarreia secretória tem um GAP osmolar menor 50 mEq/L, fundamental para diferenciar diarreia secretória da osmolar, é uma estimativa da contribuição de eletrólitos para retenção de água do lúmem. Um dos métodos é por o paciente em jejum, para evitar a diarreia por causa alimentar, logo, se continuar, desconfia-se que uma diarreia mais grave. Diarreia Osmótica: Tem uma força osmótica excessiva por aumento de solutos intralumi- nal não absorvidos. Como dentro do intestino tem grande quantidade soluto, por conta disso tem atração de água, comum em pacientes que tenha intolerância a lactase, como não tem lac- tase suficiente, terá lactose em excesso no intes- tino, como é um soluto, terá atração de água. Dessa forma, o jejum é um meio de diminuição do quadro dessa diarreia, o GAP osmolar maior que 125 meq/L. João Manuel – Medicina Nove de Julho Diarreia de má absorção: Falha generalizada absorção de nutrientes, associado normal- mente a esteatorreia. Logo, essa diarreia dimi- nui durante o jejum. Diarreia exsudativa/inflamatória: está asso- ciada a doenças inflamatórias, comum em do- ença de Crohn ativa, colite ulcerativa, logo, é uma diarreia que permanece em jejum. Disenteria: Caracterizada uma diarreia dolo- rosa, sanguinolenta e de pouco volume. DOENÇA CELÍACA É uma enteropatia mediada pelo sistema imu- nológico e causada pela ingestão de alimentos que contém glúten. São comuns em pacientes com predisposição genética, comum em mulhe- res, distribuição etária bimodal (primeiro pico em crianças, de 8 a 12 meses, o segundo em 30 a 40 anos), acomete 1% da população mundial. • Fatores de risco: Ingestão de alimentos que contêm glúten; Histórico familiar, principalmente de grau; Pacientes que ti- veram infecção intestinal nos primeiros anos de vida; Predisposição genética; Pa- cientes com doenças autoimune, princi- palmente diabetes tipo 1, tireoidite (Hashimoto – fase inicial hiper e no final da doença é hipotireoidismo e Doenças de Graves – hipertireoidismo), dermatite herpetiforme (lembra lesões de herpes). Patogênese: Predisposição genética – Poli- morfismo no gene HLA no cromossomo 6, gene do antígeno do leucócito humano, importante para formar MHC-II. Tem dois polimorfismo, HLA-DQ2, HLA-DQ8; Essas mutações é comum em aparecer em células apresentadoras de antí- geno. O paciente fará ingestão de alimentos ri- cos em glútens, que tem prolina, elas são de di- fíceis digestão, logo, nosso organismo não tem capacidade de digerir todo glúten, formando vá- rios peptídeos, um deles é o gliadina-33-mer, principal que levar a doença de celíaca. Essa gli- adina estimula ascélulas epiteliais a produzi- rem interleucina 15, assim, ativa e estimula a proliferação de linfócitos intraepiteliais TCD8, assim, provocando citotoxicidade, tendo um dano tecidual, que leva a um aumento da perme- abilidade mucosa, isso faz com a gliadina vá para a lâmina própria, assim, ela sofrerá ações enzi- máticas, transglutaminase 2, transformando em gliadina desaminada, ela será reconhecida pelo APC, mas será a com polimorfismo, levando para o LTCD4, tendo resposta de IFNg e IL-21, tendo inflamação, assim, dano na mucosa. O LTCD4 também apresenta esse antígeno para a célula B, que passa a produzir anticorpos, mais especificamente a anti-gliadina, anti-glutami- nase-2-tecidual e anti-endomismo. João Manuel – Medicina Nove de Julho Morfologia: • Macroscopia – Dependerá do cuidado paciente com a sua intolerância; Mucosa hiperêmica, Erosão de mucosa; Atrofia de pregas circulatória (em casos graves). • Microscopia – O glúten é absorvido no duodeno distal e jejuno próxima, essa será a região de biópsia; Linfocitose in- traepitelial, Hiperplasia de criptas (por conta do estimulação de proliferação ce- lular do tecido perdido); Atrofia de vilo- sidades (diminuído absorção). Aspecto clínicos: Na maioria dos casos os paci- entes são assintomáticos, quando são sintomáti- cos, apresentam: Diarreia crônica (osmótica ou exsudativa); Distensão abdominal; Anorexia; Fraqueza pulmonar; Cansaço físico. Sintomas extra-intestinais: Atrite, artralgia, estomatite, anemia ferropriva. Diagnóstico: Baseado na biópsia no achado da microscopia + sorologia para os anticorpos (po- sitivo anti-gliadina, anti-endomismo e anti-glu- taminase-2-tecidual – não precisa ter os três po- sitivos juntos, geralmente o que dar o especifici- dade maior é o anti-endomismo). Complicações: Má absorção de nutrientes; Em fase crônica pode evoluir com linfoma de cé- lula T agressivo (linfoma não-hodking, já que não é de célula B); Cancer do intestino. DEFICIÊNCIA DE LACTASE Lactase é uma das dissacaridases, presente na borda escova dos enterócitos, a sua principal função é a clivagem da lactose em glicose. A lac- tase é codificado pelo gene LCT do cromos- somo 2, é um polimorfismo que veio de uma evolução genética, já que não seria normal após a infância. Tem 3 tipos de deficiências de lactase: • Deficiência congênita – condição rara, doença autossômica recessiva, caracteri- zada pela redução ou ausência da en- zima lactase após o nascimento, isso é péssimo, pois a criança não consegue ali- mentar com leite materno, precisando das variações de leite de soja, apresenta- se com a diarreia explosiva, espumante, de fezes aquosas e distensão abdominal. • Deficiência primária de lactase – causa mais comum, 70% dos casos, tem um de- clínio gradual da atividade da enzima ao longo dos anos, começa entre 2 e 5 anos, apresenta-se com distensão abdo- minal, flatulência e diarreia osmótica. João Manuel – Medicina Nove de Julho • Deficiência secundária de lactase – é caracterizada por perda das enzimas lactase do dano da mucosa intestinal, comum em doenças inflamatórias e in- fecciosas, sendo as, gastroenterites infec- ciosas, doença celíaca e doença Crohn. Pessoas podem nascer com um silenciamento do gene LCT, controlado pelo gene MCM6 , as- sim com o passar do anos essa deficiência de lac- tase / intolerância à lactose diminui ou até some. 3 polimorfismo no gene LCT 13910: 2 alelos C/C > declínio; 2 alelos C/T > intermediária; 2 alelos T/T > permanente. DOENÇAS INTESTINAIS INFLAMA- TÓRIAS Doenças intestinais inflamatórias: é um dis- túrbio inflamatório crônico mediado por ati- vação inadequada pelo sistema imunológico da mucosa. Existem dois tipos, Colite ulcera- tiva (acomete preferencialmente reto e colón- sigmoide, lesões contínuas, ou sejas, são difusas e são superficiais, limitadas a mucosas e submu- cosa – normalmente surge no reto e vai acome- tendo de forma proximal do cólon) e Doença Crohn (Acomete preferencialmente a porção terminal do íleo, podendo ter o compromete qualquer porção do trato gastro intestinal, as le- sões são segmentares e multifocais, chamando- as de lesões salteadas, ou seja, área afetada à área normal à área afetada...; são lesões profun- das, são transmurais, logo, o processo inflama- tório compromete todas camadas, com isso, po- dendo ter fistula e fissuras). Esses distúrbios diferenciam-se pela distribuição do local afe- tado e pela expressão morfológica da doença. Colite Ulcerativa: É uma doença inflamatória crônica idiopática da mucosa do intestino grosso. Tem uma maior incidência em mulheres, principalmente as caucasianas, tem uma distri- buição etária bimodal, ou seja, temos dois picos, 15 a 30 anos e 50 a 70 anos. Quando a lesão está localizada só no reto, é chamada de proctite, quando a lesão é em todos os segmentos do có- lon, é pancolite. Ela inicia-se no reto, na maio- ria dos casos reto e cólon sigmoide. • Fatores de risco: infecção do trato gas- trointestinal (isso aumenta de 2x), des- cendente de judeus (ashkinazi – por conta de relação consanguínea e muta- ções – aumenta de 3-5x), histórico fami- liar (parente de primeiro grau), ex-taba- gista (a nicotina em efeito protetor da mucosa). • Patogênese: é uma doença idiopática, mas é uma doença multifatorial com- plexo. Disfunção da parede da mucosa, alterações da microbiota intestinal (dis- biose), desregulação do sistema imuno- lógica, predisposição genética. A combi- nação desses fatores levará uma infla- mação crônica da parede com padrão Th2, isso que leva ao dano tecidual. João Manuel – Medicina Nove de Julho • Morfologia: o Macroscopia: lesão inicia-se no reto e estende-se para o colón, do intes- tino grosso. Lesão continua e difusa. Mucosa granular e hiperêmica, úlcera com base alargada, pseudopólipo na mucosa regenerativa e pontes de mucosa (junção dos pseudopólipos). Megacólon tóxico (o infiltrado neu- trofílico começam a produzir a leuco- trieno b4, o qual lesiona a muscular da mucosa, outra coisa que produz é óxido nítrico, por conta do ON tem o relaxamento muscular externa, tendo o megacólon tóxico). Quando a ulce- rativa for crônica, irá apresentar a trofia da mucosa. Mucosa granular e hemorrágica. Por conta de ser uma doença de quadro inflama- tório crônico, o ideal acaba sendo a remoção do intestino e implante de bolso de colostomia, pois tem por ser uma inflamação crônica, tem gran- des chances para evoluir a um carcinoma. o Microscopia: Infiltrado inflamató- ria difuso, podendo ser rico em neu- trófilo (aguda) ou monucleares (crônica). Limitada a mucosa e sub- mucosa; microabscesso de criptas (presença de neutrófilo nas criptas) e metaplasias pseudopilórica (quando as criptas passam a apresentar célu- las que lembram as células do piloro). Passou o quadro inflamatório, co- meço a regenerar, apresenta distor- ção de arquitetura, atrofia de mucosa e fibrose subepitelial. Microabscesso: o Aspecto clínicos: apresenta diar- reia exsudativa, dor abdominal infe- rior (QIE – quadrante inferior es- querdo), cólica (dura enquanto a do- ença está ativa), colectomia (remoção do colón, 30% retiram em 3 anos da doença). Manifestações extra-intesti- nais: poliartrite migratória (mais de 4 articulações inflamada ao mesmo tempo, e vai mudando con- forme os anos), uveite (inflamação João Manuel – Medicina Nove de Julho da ulvea, camada média do olho) e sa- croleite. o Complicações: carcinoma colorretal. Doença de Crohn: doença inflamatória crônica idiopática, recidivante (picos de doenças ativas e picos de remissão – quando não estáativa) da mucosa do trato gastro intestinal. Maior inci- dência em mulheres, caucasianos, distribuição etária bimodal (20 a 40 anos e 50 a 60 anos). 40% dos casos são localizados no intestino del- gado, principalmente porção terminal do íleo, válvula ileocecal e ceco; mas 30% dos casos têm lesão no intestino grosso. • Fatores de risco: histórico família (1º grau), predisposição genética, judeus ashkinazi, tabagista (2x mais). • Patogênese: É uma doença multifatorial complexo. Disfunção da parede da mu- cosa, alterações da microbiota intestinal (disbiose), desregulação do sistema imu- nológica, predisposição genética (10% dos casos estão no polimorfismo dos genes, NOD2 (estão envolvidos no reco- nhecimento de bactérias intracelular), IRGM (autofagia), AT616L1 (autofagia). • Macroscopia: Lesão surge preferencial- mente na porção terminal do íleo, mas pode compromete qualquer porção do TGI; são lesões salteadas; mucosa hipe- rêmica e hemorrágica; úlceras longitudi- nais e serpentiformes; úlceras profun- das; aspecto de pedra de calçada (surge porque a ulcera vai destruindo a mucosa adjacente); estenose de parede (seg- mento do intestino pode sofrer um es- trangulamento por fibrose do tecido de- corrente da inflamação); fissuras (infla- mação transmural) que podem virar fis- tulas (é uma junção de duas paredes – al- ças intestinais com bexiga, vagina, pelo do abdome e pele pereanal). • Microscopia: Infiltrado neutrofílico, inflamação transmural (inflamação de todas as paredes), microabscesso de criptas e úlceras, essas são quando está ativa. Metaplasia do pseudopilórico, metaplasia de células de Paneth. Distor- ção de arquitetura, atrofia de mucosa, perda das criptas, essas três é quando está crônica. Granuloma não caseoso (35% dos casos), podendo evoluir para um granuloma cutâneo, sendo chamado de doença de crohn metastática. João Manuel – Medicina Nove de Julho • Aspecto clínico: diarreia exsudativa, cólica intestinal, dor abdominal, todas essas tendem a cessa na fase de remis- são. Comum apresentar febre leve, sudo- rese, taquicardia, por conta da dor do pa- ciente. Comum apresentar leucocitose leve ou moderada; aumento de fosfa- tase alcalina (isso quando tem compro- metimento das vias biliares). Manifesta- ções extra-intestinais: eritema nodoso, poliartrite migratória, uveíte, sacroileíte, colangite esclerosante (inflamação da mucosa das vias biliares), baqueatea- mento dos dedos. • Complicação: Adenocarcinoma intesti- nal; abscesso localizado; perotonite e sepse. Mas comum ter cancer na ulcerativa, por conta de ser localizada e crônica, já a de Cronh é por picos.