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Avaliação e auditoria ambiental Prof.ª Camilla Haubrich Descrição A avaliação ambiental e a auditoria ambiental como ferramentas de preservação do meio ambiente. Propósito Para preservar o meio ambiente é necessário conhecer seu funcionamento e a dinâmica ao longo do tempo. Técnicas de avaliação e auditoria ambiental, bem como de avaliação dos recursos naturais são essenciais para que a preservação e a recuperação do meio ambiente sejam atingidas. Objetivos Módulo 1 Avaliação ambiental e auditoria ambiental Reconhecer a avaliação ambiental e a auditoria ambiental como importantes ferramentas para a conservação do meio ambiente. Módulo 2 Métodos de avaliação de recursos faunísticos e �orísticos Identificar os métodos de avaliação de recursos faunísticos e florísticos. Módulo 3 Métodos de avaliação de recursos límnicos Identificar os métodos de avaliação de recursos límnicos. Módulo 4 Biomonitoramento e bioindicadores Distinguir a relevância do biomonitoramento e dos bioindicadores na avaliação ambiental. Introdução A degradação do meio ambiente é um fato amplamente reconhecido em todo o mundo. Se, anteriormente, o homem acreditava que a natureza era fonte inesgotável de recursos, atualmente, sabe-se que os recursos naturais são limitados e finitos. Por causa disso, desde meados do século passado, uma preocupação com a preservação e recuperação dos ambientes naturais surgiu e vem crescendo ao redor do mundo. Neste conteúdo, estudaremos a avaliação ambiental e a auditoria ambiental como ferramentas de preservação do meio ambiente. Também conheceremos os métodos de avaliação faunísticos, florísticos e limníticos, que auxiliam a entender o estado e a evolução dos sistemas naturais. Por fim, entenderemos o biomonitoramento e os bioindicadores como importantes ferramentas de controle e preservação da natureza. 1 - Avaliação ambiental e auditoria ambiental Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a avaliação ambiental e a auditoria ambiental como importantes ferramentas para a conservação do meio ambiente. Avaliação ambiental Conceito de avaliação ambiental É de conhecimento geral que vivemos uma crise ambiental. O meio ambiente é cada vez mais explorado e a utilização de seus recursos beira o esgotamento. Mas como sabemos disso? Para entendermos que o meio ambiente não se encontra mais em sua condição original e vem se deteriorando com o tempo, é necessário avaliar as condições ambientais e compará-las com condições ambientais anteriores ou posteriores e com parâmetros de qualidade, de acordo com o uso previamente estabelecido. Vamos pensar em um exemplo. Situação 1 Imagine que um biólogo chegue a uma ilha nunca antes estudada. Vamos chamar essa ilha de Ilha Amanhecer. Ao realizar um profundo estudo das aves dessa ilha, ele verifica que ela abriga 7 espécies, com cerca de 30 indivíduos de cada espécie. Mas quanto de informação isso nos dá no que diz respeito à preservação do meio ambiente? Pouquíssima informação, não é verdade? Situação 2 Imagine agora que esse mesmo biólogo chegou a uma ilha vizinha, a Ilha Anoitecer. Em seus estudos sobre esse novo ambiente natural, ele encontrou 13 espécies de aves com cerca de 30 indivíduos de cada espécie. E agora? Quais informações sobre a preservação desses ambientes podemos obter? Uma pessoa poderia pensar que a Ilha Anoitecer é mais bem preservada do que a Ilha Amanhecer, por abrigar mais espécies. Porém, não podemos chegar a essa conclusão sem antes comparar tais resultados com outras avaliações ambientais feitas nas mesmas ilhas ao longo do tempo. Digamos que esse mesmo biólogo descubra que ambas as ilhas já haviam sido estudadas alguns anos antes, por outro grupo de pesquisadores. Vamos comparar os resultados obtidos! Estudo de 2019 Ilhas Amanhecer Anoitecer Número de espécies 7 16 Média de Indivíduos de cada espécie 27 33 Tabela: Resultados fictícios da amostragem de aves de diferentes ilhas ao longo do tempo. Camilla Haubrich. E agora, quais informações sobre preservação ambiental você consegue obter dos resultados encontrados em ambos os estudos? Vejamos: Ilha Amanhecer Manteve a quantidade de espécies ao longo do tempo e teve um aumento na média de indivíduos de cada espécie. Ilha Anoitecer Perdeu algumas espécies nos últimos anos e teve uma redução na média de indivíduos de cada espécie. Por meio dessa simples análise – e desconsiderando outros possíveis fatores que podem influenciar na manutenção das espécies das ilhas e na amostragem dos pesquisadores –, é possível imaginar que a Ilha Amanhecer provavelmente esteja mais conservada do que a Ilha Anoitecer. É evidente que esse é um exemplo fictício, bastante simplificado, porém, o objetivo da avaliação ambiental será sempre o mesmo, ou seja, observar parâmetros ambientais ao longo do tempo, de modo a entender como se comporta o meio ambiente. Podemos, então, conceituar avaliação ambiental como: A análise das características ambientais de um dado local, utilizando-se de metodologias predeterminadas com fins de obter um diagnóstico ambiental. A avaliação ambiental deve fundar-se em referências ou critérios de qualidade, que permitam observar o grau de conservação da área estudada ao longo do tempo. Avaliação ambiental no Brasil Como a avaliação ambiental é feita no país? De modo geral, no Brasil, a avaliação ambiental é definida por lei e é parte obrigatória para instalação e operação de empreendimentos que possam causar danos ao meio ambiente. Constituição Federal. A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) está disposta na Lei nº 6.938/81. E, apesar de essa não ser a única norma que trata sobre direito ambiental no país, é ela, junto com a Constituição Federal, que dispõe as diretrizes gerais que toda legislação brasileira sobre o meio ambiente deve seguir. A PNMA, em seu art. 9º, inciso III, define a Avaliação de Impacto Ambiental como um importante instrumento para preservar, melhorar e recuperar o meio natural. É uma ferramenta essencial para a gestão de planos, programas e projetos em todos os âmbitos da federação. A avaliação ambiental é tratada na legislação brasileira com diferentes finalidades e abordagens, de acordo com as características do impacto ambiental e com os objetivos de cada estudo. Vamos conhecer algumas formas de avaliação ambiental utilizadas em nosso país. Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) foi a primeira forma de avaliação ambiental definida por lei no país, ainda em 1981. Seu principal objetivo é identificar e analisar possíveis impactos que determinada atividade possa causar ao meio ambiente, de modo que seja possível traçar planos para mitigar eventuais impactos negativos e acentuar eventuais impactos benéficos. A AIA é um complexo processo, obrigatório para toda atividade potencialmente causadora de impacto ambiental, que envolve estudos das características do meio natural em que os impactos do empreendimento serão verificados. É realizada desde a fase prévia à instalação da atividade, durante a etapa de instalação, durante sua operação e, em alguns casos, mesmo após o encerramento da atividade. Consiste em um documento público, realizado com participação popular e de extrema importância para a gestão do meio ambiente do país. Nela são definidos os principais impactos de cada atividade, abrangendo impactos econômicos e socioambientais, com as respectivas diretrizes para mitigação de cada um deles. Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é uma forma de avaliação ambiental derivada da AIA. No entanto, a AAE não está relacionada somente a um empreendimento que potencialmente possa causar danos ambientais, mas a toda uma área. O objetivo da AAE é antecipar e integrar políticas publicas, planos e programas que visam preservar e recuperar o meio natural. Tal avaliação é proativa e antecipa-se aos danos ao meio ambiente,procurando evitar impactos. Entre alguns exemplos de AAE no país podem ser citadas a Política Nacional de Recursos Hídricos, os planos de bacias hidrográficas, e outros. Avaliação Ambiental Integrada (AAI) A Avaliação Ambiental Integrada (AAI) surgiu da necessidade de prevenir e mitigar impactos ambientais em áreas em que são dispostas mais de uma atividade que potencialmente possa causar impactos ambientais. Imagine o seguinte cenário: Em certo rio, encontram-se duas indústrias, uma de produção de derivados de petróleo e uma química. Ambas as atividades podem potencialmente causar danos ao rio. Sendo assim, não é razoável, tampouco produtivo que as avaliações ambientais foquem em cada indústria individualmente. É necessária uma avaliação integrada dos potenciais danos que cada atividade pode causar ou já causa ao ambiente aquático estudado. Foi por conta dessa necessidade que surgiu a AAI. A AAI é um processo interdisciplinar e social, ligando conhecimento e ação no contexto de decisão pública, para a identificação, análise e avaliação de todos os relevantes processos naturais e humanos e suas interações. Envolve análise do cenário atual e futuro do estado da qualidade do meio ambiente e recursos nas apropriadas escalas de tempo e espaço, facilitando a definição e implementação de políticas e estratégias. Saiba mais A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) e a Avaliação Ambiental Integrada (AAI) possuem conceitos distintos, mas que se complementam. A AAE é o processo formal, sistemático e abrangente de avaliar os impactos ambientais de uma política, plano ou programa e suas alternativas, incluindo a elaboração de um relatório contendo as conclusões da avaliação, usando-as em um processo decisório publicamente responsável. Já a AAI tem por escopo aferir os impactos cumulativos e sinérgicos decorrentes da presença ou da futura instalação de vários empreendimentos no mesmo ecossistema. Ainda existem outras ferramentas para avaliação ambiental no país, como: Avaliação de Desempenho ambiental (ADA); Perícia e arbitragem ambiental; Relatório Ambiental Preliminar (RAP); Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV); Relatório de Impacto de Vizinhança (RIV); Plano de Controle Ambiental (PCA); Relatório de Controle Ambiental (RCA); Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). Aqui, conhecemos alguns dos principais instrumentos de avaliação ambiental, você pode aprofundar seus estudos pesquisando sobre as outras formas de avaliação ambiental. Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) Confira agora as etapas da Avaliação de Impacto Ambiental abrangendo o EIA/RIMA e as diferenças entre AIA, AAE e AAI. Auditoria ambiental Conceito de auditoria ambiental Auditoria ambiental é o processo sistemático e documentado de verificação, executado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências de auditoria para determinar se as atividades, os eventos, sistemas de gestão e as condições ambientais especificadas ou as informações relacionadas a eles estão em conformidade com os critérios de auditoria e, para comunicar os resultados desse processo ao cliente (ABNT, 1996b). Em outras palavras, a auditoria ambiental consiste em verificar se a instituição auditada está cumprindo a normatização ambiental a que se submeteu. Vamos pensar em um exemplo? Situação 1 Imagine um posto de gasolina, que constantemente vem sofrendo sanções devido ao vazamento de óleo para os corpos hídricos da região em que se localiza. Esse posto, além de sofrer o prejuízo financeiro com o pagamento de multas, vem sofrendo também com a diminuição de clientes, que deixaram de frequentar o posto devido às manchetes de jornal que expuseram tal situação. Situação 2 Os proprietários do posto pretendem reerguer o seu negócio. Por conta disso, contrataram uma empresa que fez um planejamento de gestão ambiental para o empreendimento. Depois de implementada a gestão ambiental, todavia, os clientes não retornaram e os órgãos ambientais continuam a fiscalizar com frequência o posto de gasolina, o que é uma enorme fonte de tensão para todos os funcionários e clientes. Nesse caso, o que é aconselhável que os proprietários do posto de gasolina façam para melhorar a imagem do estabelecimento com os clientes e órgãos fiscalizadores? Poderia ser realizada uma auditoria ambiental! Por meio da auditoria, uma série de parâmetros de qualidade ambiental serão determinados e verificados com periodicidade pré-programada pelos auditores, que verificarão se o posto de gasolina está se comprometendo com os resultados prometidos. O resultado da auditoria pode, então, ser divulgado para clientes e órgãos fiscalizadores, de modo a melhorar a imagem do posto de gasolina no que tange à responsabilidade com a questão ambiental. Saiba mais As auditorias ambientais surgiram no final da década de 1970, nos Estados Unidos, quando as empresas voluntariamente buscaram adotar ferramentas de gerenciamento para identificar, mitigar e melhorar de forma antecipada os danos ambientais que poderiam causar. Dessa forma, tais empresas poderiam ser consideradas “ambientalmente responsáveis”. Atualmente, as auditorias ambientais ocorrem em todo o mundo e são voluntárias. Por meio delas, as empresas comprovam que se preocupam com o meio ambiente e trabalham a imagem da marca por meio do marketing verde. Além da vantagem competitiva com os consumidores, empresas que utilizam a auditoria ambiental também têm a vantagem de melhorar seu relacionamento com os órgãos fiscalizadores, o que pode evitar ou, ao menos, reduzir as sanções administrativas ou penais. Marketing verde Marketing verde ou marketing ambiental: é uma estratégia utilizada pelas empresas para divulgação de ações sustentáveis e ecológicas, visando demonstrar compromisso com as questões ambientais. Normas de auditoria ambiental A realização de uma auditoria ambiental depende necessariamente de uma norma. Assim, no processo de auditoria, verifica-se se aquela instituição está atendendo ao escopo determinado por aquela norma específica. A primeira norma específica para a realização de auditorias ambientais surgiu em 1992, no Reino Unido, e chamava-se BS 7750. Em 1995, a Comunidade Econômica Europeia criou o Environmental Management and Auditing Schemes (EMAS). Internacionalmente, a normatização das auditorias ambientais deu-se no âmbito da International Organization for Standardization (ISO), utilizada até hoje. No Brasil, as auditorias ambientais tiveram suas principais normas reconhecidas pela ABNT, a partir de 1996, por meio das NBR ISO 14010, 14011 e 14012. Vamos conhecer um pouco melhor cada uma a seguir: A NBR ISO 14010 estabelece princípios gerais aplicáveis a todos os tipos de auditoria ambiental. É estruturada em três grandes temas: NBR ISO 14010 Definições; Requisitos; Princípios gerais. Para essa norma devem estar bem definidos o objeto em foco para ser auditado e os responsáveis por tais objetos devem estar claramente definidos e documentados. A NBR ISO 14011 estabelece procedimentos para condução de auditorias de sistema de gestão ambiental. É estruturada em 4 grandes temas: Definições; Objetivos, funções e responsabilidades da auditoria do sistema de gestão ambiental; Etapas da auditoria de sistema de gestão ambiental; Encerramento de auditoria. A NBR ISO 14012 estabelece diretrizes quanto aos critérios que qualificam um profissional a atuar como auditor e como auditor- líder ambientais, tanto externo como interno. NBR ISO 14011 NBR ISO 14012 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Atualmente, as auditorias ambientais ocorrem em todo o mundo e são voluntárias. Por meio delas, as empresas comprovam que se preocupam com o meio ambiente e trabalham a imagem da marca por meio do marketing verde. No que tange ao surgimento da auditoria ambiental, assinale a alternativa correta. Parabéns! A alternativa D está correta. O primeiropaís a realizar auditorias ambientais foram os Estados Unidos. Dessa maneira, as empresas que buscavam a auditoria poderiam ser consideradas ambientalmente responsáveis. Questão 2 O planejamento ambiental pode ser feito em âmbito nacional, ou seja, abrangendo todo um aspecto ambiental do país. A Política A As auditorias ambientais surgiram na década de 1980, na Europa, quando a Comunidade Econômica Europeia criou o Environmental Management and Auditing Schemes (EMAS). B As auditorias ambientais surgiram no início da década de 1990, nos Estados Unidos, por meio da International Organization for Standardization (ISO), utilizada até hoje. C As auditorias ambientais surgiram no início da década de 1990, no Brasil, quando tiveram suas principais normas reconhecidas pela ABNT a partir de 1996, por meio das NBR ISO 14010, 14011 e 14012. D As auditorias ambientais surgiram no final da década de 1970, nos Estados Unidos, quando as empresas voluntariamente buscaram adotar ferramentas de gerenciamento para identificar, mitigar e melhorar de forma antecipada os danos ambientais que poderiam causar. E As auditorias ambientais surgiram no início da década de 1970, no Brasil, por meio da International Organization for Standardization (ISO), utilizada até hoje. Nacional dos Recursos Hídricos é um exemplo de plano de manejo ambiental que abrange todo o país. No que tange à avaliação ambiental, a Política Nacional dos Recursos Hídricos melhor se enquadra em qual dos tipos a seguir? Parabéns! A alternativa B está correta. A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é uma forma de avaliação ambiental derivada da AIA. No entanto, a AAE não está relacionada somente a um empreendimento que potencialmente pode causar danos ambientais, mas a toda uma área, como todo o país, hipótese em que melhor se enquadra a Política Nacional dos Recursos Hídricos. O objetivo da AAE é antecipar e integrar políticas públicas, planos e programas que visam preservar e recuperar o meio natural. Tal avaliação é proativa e antecipa-se aos danos ao meio ambiente, procurando evitar impactos. A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) B Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) C Avaliação Ambiental Integrada (AAI) D Avaliação de Desempenho Ambiental (ADA) E Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) 2 - Métodos de avaliação de recursos faunísticos e �orísticos Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os métodos de avaliação de recursos faunísticos e �orísticos. Monitoramento dos ciclos de vida e populações Natalidade, mortalidade e movimento Durante o procedimento de avaliação ambiental é importante conhecer as características dos recursos ambientais que estão sendo avaliados, entre eles, os recursos faunísticos e florísticos. Na avaliação da fauna e da flora, é essencial que entendamos como as populações de cada espécie e as comunidades por elas formadas se comportam no tempo e no espaço. Um dos primeiros parâmetros que podemos utilizar na avaliação dos recursos faunísticos e florísticos é a avaliação dos ciclos de vida. Ciclo de vida Cada indivíduo passará por um ciclo único no qual se dará a sua vida. Desde o nascimento, desenvolvimento, reprodução até a sua morte. Avaliar o ciclo de vida de cada indivíduo pode ser relevante para examinar os recursos de fauna e flora que estão sendo analisados. Ciclo de vida de um anfíbio até a fase adulta. Além disso, a avaliação dos ciclos de vida de cada indivíduo pode fornecer informações para a análise da população estudada como um todo. Isso significa que, em muitos estudos, não só o nascimento e a morte de cada indivíduo são relevantes, mas também suas consequências, ou seja, a quantidade de indivíduos presentes e como esse número varia ao longo do tempo. Nesse contexto, primeiramente, precisamos entender o conceito de população. População Uma população pode ser definida como um grupo de indivíduos, da mesma espécie, dentro de determinada área, em um espaço de tempo, que reproduzem e interagem entre si. Algumas características das populações são essenciais na avaliação ambiental, como o tamanho da população. Vamos entender melhor! Tamanho da população O tamanho da população, ou seja, a quantidade de indivíduos que formam uma população, é um importante critério de avaliação ambiental, uma vez que avaliar se o tamanho populacional aumenta, diminui ou se mantém estável ao longo do tempo pode ser um indicativo do que ocorrerá com aquela espécie no futuro. O tamanho da população pode ser avaliado pela contagem direta, ou seja, contam-se todos os indivíduos de uma população. No entanto, tal técnica é quase impossível de ser aplicada para a maioria das espécies, uma vez que seria demasiadamente trabalhosa. Por conta disso, a população também pode ser quantificada por estimativas, nas quais os indivíduos de uma área determinada são amostrados e o resultado é extrapolado para toda a área em análise, chegando ao tamanho estimado da população. Vamos ver a seguir como a análise do tamanho de uma população ao longo do tempo pode nos dar importantes informações sobre o meio ambiente. Imagine que um biólogo esteja estudando diferentes populações de borboletas em um parque nacional. Esse biólogo encontrou o seguinte resultado para uma das espécies: Tempo 1 Tempo 2 População A 27 25 População B 33 30 População C 4 8 Tabela: Estudo de diferentes populações de borboletas. Camilla Haubrich. O que poderia ser aferido a partir dos resultados apresentados? População A Manteve-se estável ao longo do tempo, dessa forma, é provável que essa população se perpetue, mantendo uma quantidade estável de indivíduos. População B Está diminuindo ao longo do tempo, dessa forma, é provável que, se nada se alterar, essa população seja reduzida, podendo se extinguir com o passar do tempo. População C Está aumentando ao longo do tempo, dessa forma, é provável que essa população se torne a maior população de borboletas com o passar do tempo. Outra forma de avaliar o que acontece com uma população é a partir da análise da quantidade de nascimentos e mortes. Tal técnica pode ser bastante complexa, uma vez que a quantificação de nascimentos e mortes pode ser bastante difícil no ambiente natural. Ainda, nesse contexto, é importante avaliar também se indivíduos entram e saem da população, ou seja, se há imigração e emigração de indivíduos entre as populações de uma mesma área. A interpretação dos resultados pode ser feita da seguinte maneira: Se (Nascimento + Imigração) > (Mortes + emigração): A população está crescendo. Se (Nascimento + Imigração) < (Mortes + emigração): A população está diminuindo. Se (Nascimento + Imigração) = (Mortes + emigração): A população está estável. Apesar de possuírem certa complexidade, os estudos das dinâmicas populacionais são bastante disseminados nas avaliações ambientais e nos dão importantes informações sobre o que poderá ocorrer com uma espécie ao longo do tempo. Saiba mais Outros fatores podem ser relevantes na avaliação ambiental das populações de fauna e flora, no entanto, tal análise deverá ser avaliada caso a caso e a metodologia de estudo deverá ser determinada de acordo com o caso em questão. Entre os fatores que podem influenciar no tamanho das populações estão: competição, predação, disponibilidade de água e alimentos, taxas reprodutivas, doenças etc. Monitoramento das comunidades Fatores espaciais e temporais que in�uenciam as comunidades Quando estudamos populações, necessariamente falamos do estudo de uma única espécie. No entanto, a natureza é muito mais complexa e os ambientes naturais são formados por conjuntos de diferentes espécies, dos mais diferentes grupos de seres vivos. Sendo assim, para uma avaliação ambiental completa, é importante abranger o estudo de toda a comunidade biológica em análise. Nesse contexto, a avaliação da riqueza de espécies pode nos dar importantes informações. Riqueza de espécies Pode ser definidacomo a abundância numérica, ou seja, a quantidade de espécies, em determinada área geográfica, região ou até comunidade sob estudo. Ou seja, riqueza de espécies é o número de espécies da área que está sendo avaliada. Imagine que uma pesquisadora estivesse analisando a comunidade de peixes em um riacho. Ela encontrou os seguintes resultados: Espécie Quantidade de indivíduos M. sanctaefilomenae 113 A. dentatus 28 O. pintoi 217 B. stramineus 55 A. fasciatus 14 P. caudimaculatus 74 Tabela: Análise de comunidade de peixes em um riacho. Camilla Haubrich. A partir dos resultados encontrados pela pesquisadora, qual a riqueza de espécies de peixes daquele riacho? No ambiente em questão, o riacho, estimou-se a riqueza de 7 espécies. Quando analisamos comunidades, além da riqueza de espécies, a quantidade de indivíduos dentro de cada espécie pode ser um outro parâmetro importante. A equidade ou equitabilidade pode ser definida como a proporção de distribuição de indivíduos entre as espécies da área estudada em relação ao total de indivíduos dessa área. Com base nessas informações, o pesquisador pode responder a perguntas como: Existe dominância de alguma espécie? Existem espécies que são mais raras de serem encontradas nessa comunidade? Dentro do número total de indivíduos de uma comunidade, qual é a participação de cada espécie? A quantidade de indivíduos está harmonicamente distribuída entre as espécies ou existem espécies dominantes na área estudada? Ainda nesse contexto, precisamos entender que fatores espaciais podem influenciar nas características das comunidades ao longo do tempo, afetando os parâmetros de riqueza de espécies e equitabilidade, por exemplo. Em outras palavras, o espaço, o ambiente, a área geográfica podem influenciar nas comunidades em questão. Para entendermos melhor como os fatores espaciais podem afetar a comunidade, vamos analisar um exemplo: Imagine que pesquisadores estão estudando uma espécie de ave. Em certo local, eles encontraram uma enorme população dessa ave que habita de forma permanente aquele local. É mais provável que outras populações dessa mesma espécie sejam encontradas mais próximas ou mais distantes dessa população em estudo? O que você acha? A resposta é: Depende! De forma simplificada, podemos considerar alguns cenários: Cenário 1 Se essa espécie de ave surgiu naquela região e tem dificuldade em sobrevoar longas distâncias, por longos períodos, é mais provável que se encontrem outras populações da mesma espécie mais próximas à população inicialmente estudada. Cenário 2 Se for uma espécie de ave altamente competitiva, na qual uma população mais forte tenha vantagem sobre os recursos em comparação com as demais populações mais fracas, é mais provável que você encontre outras populações da mesma espécie mais distantes da população incialmente estudada. Os principais parâmetros espaciais que influenciam na dinâmica das comunidades são: Isolamento e área Ex.: Ilhas vs. continentes. Gradiente latitudinal Ex.: Latitude ao longo da Mata Atlântica. Gradiente altitudinal Ex.: Altitude ao longo de uma montanha como a cordilheira dos Andes. Gradiente em relação à profundidade Ex.: Ao longo de diferentes zonas do oceano Atlântico. Os parâmetros temporais, aqueles relacionados ao tempo, também podem ser muito importantes na dinâmica das comunidades na natureza e devem ser levados em consideração nas avaliações ambientais. Veja: Efeito fundador É o estabelecimento de uma nova população em nova área a partir de um pequeno número de indivíduos da população base. Dominância Quando há uma espécie em maior número que exerce grande influência na comunidade. Estágios sucessionais É a sequência de mudanças estruturais e funcionais que ocorrem nas comunidades ao longo do tempo. São definidos a partir da análise das formações vegetais de uma floresta em pioneira, intermediária e clímax. No âmbito da avaliação ambiental e da conservação da natureza, tais parâmetros podem nos trazer informações muito importantes. Vamos a mais um exemplo: Se uma espécie de árvore é extinta em determinada área devido ao desmatamento, porém, se pode ser encontrada em manchas florestais próximas à área original, é possível que, por dispersão, essa espécie volte a aparecer na área que havia sido desmatada. Contudo, se não há fragmentos florestais próximos à área desmatada, será necessário o plantio de mudas, com intervenção antrópica, para que essa espécie volte a aparecer na área na hipótese de reflorestamento. Resumindo: a mensuração dos parâmetros relacionados às comunidades na avaliação ambiental pode nos dar importantes informações para a conservação das espécies. Riqueza de espécies e equitabilidade Confira agora dados reais e entenda, de forma prática, como calcular a riqueza de espécies e a sua equitabilidade em uma comunidade sob estudo. Avaliação do estado de conservação das espécies Conservação da fauna e �ora no país As avaliações do estado de conservação de flora e fauna realizadas por instituições oficiais no país seguem uma metodologia predefinida. Essa metodologia foi criada pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) e é amplamente utilizada em avaliações de espécies globalmente. Para essa avaliação, preferencialmente, utiliza-se o nível taxonômico de espécie e são analisados os parâmetros: Redução da população (passada, presente e projetada). Distribuição geográfica restrita apresentando fragmentação, declínio ou flutuações. População pequena e com fragmentação, declínio ou flutuações. População muito pequena ou distribuição muito restrita. Análise quantitativa de risco de extinção. Os resultados são avaliados de acordo com os critérios contidos no Roteiro metodológico para avaliação do estado de conservação das espécies da fauna brasileira de 2014 (BRASIL 2014). A. Redução da população (declínio medido ao longo de 10 anos ou 3 longo) Criticamente em perigo Em perigo A1 ≥ 90% ≥ 70% A2, A3 e A4 ≥ 80% ≥ 50% A1 Redução da população observada, estimada, inferida ou suspeitada de ter ocorrido no passado, sendo as causas da redução claramente reversíveis E compreendidas E tenham cessado. Baseado em um ou mais dos seguintes itens: (a) observação d (b) índice de abu táxon; A2 Redução da população (c) declínio na á ocorrência e/ou A. Redução da população (declínio medido ao longo de 10 anos ou 3 longo) observada, estimada, inferida ou suspeitada de ter ocorrido no passado, sendo que as causas da redução podem não ter cessado OU não ser compreendidas OU não ser reversíveis. A3 Redução da população projetada ou suspeitada de ocorrer no futuro (até um máximo de 100 anos). (d) níveis reais o A4 Redução da população observada, estimada, inferida, projetada ou suspeitada, sendo que o período de tempo deve incluir tanto o passado quanto o futuro (até um máximo de 100 anos), e as causas da redução podem não ter cessado OU não ser compreendidas OU não ser reversíveis. (e) efeitos de tá patógenos, polu parasitas. B. Distribuição geográfica restrita e apresentando fragmentação, dec Criticamente em perigo Em perigo A. Redução da população (declínio medido ao longo de 10 anos ou 3 longo) B1 Extensão de ocorrência < 100 km² < 5.000 km² B2 Área de ocupação < 10 km² < 500 km² E pelo menos 2 dos seguintes itens: (a) População severamente fragmentada, OU número de localizações. = 1 ≤ 5 (b) declínio continuado em um ou mais dos itens: (i) extensão de ocor (iii) área, extensão e/ou qualidade do habitat; (iv) número de localizaç número de indivíduos maduros. (c) flutuações extremas em qualquer um dos itens: (i) extensão de oc (iii) número de localizações ou subpopulações; (iv) número de indivídu C. Tamanho da população pequeno e com declínio Criticamente em perigo Em perigo Número de indivíduos maduros < 250 < 2.500 E C1 ou C2 C1 Um declínio continuado observado, estimadoou projetado de pelo 100 anos no futuro): 25% em 3 anos ou 1 geração 20% em 5 anos 2 gerações C2 Um declínio continuado observado, estimado, projetado ou inferido condições: (a) (i) número de indivíduos maduros em cada ≤ 50 ≤ 250 A. Redução da população (declínio medido ao longo de 10 anos ou 3 longo) subpopulação (ii) ou % indivíduos em uma única subpopulação 90–100% 95–100% (b) flutuações extremas no número de indivíduos maduros D. População muito pequena ou distribuição muito restrita Criticamente em perigo Em perigo D Número de indivíduos maduros < 50 < 250 D2 Área de ocupação restrita ou número de localizações, sob uma ameaça futura plausível de levar o táxon à condição de CR ou EX em curto prazo. - - E. Análises quantitativas Criticamente em perigo Em perigo Indicando que a probabilidade de extinção na natureza é de: ≥ 50% em 10 anos ou 3 gerações ≥ 20% em 20 an ou 5 gerações Tabela: Critérios para avaliação do estado de conservação das espécies da fauna brasileira. Ministério do meio ambiente. Cada espécie analisada será classificada com base nas seguintes categorias: Extinta (EX) – Extinct Extinta na natureza (EW) – Extinct in the Wild Regionalmente extinta (RE) – Regionally Extinct ou Extinta no Brasil Criticamente em perigo (CR) – Critically Endangered Em perigo (EN) – Endangered Vulnerável (VU) – Vulnerable Quase ameaçada (NT) – Near Threatened Menos preocupante (LC) – Least Concern Dados insuficientes (DD) – Data Deficient Não aplicável (NA) – Not Applicable Não avaliada (NE) – Not Evaluated De acordo com as informações obtidas por essa avaliação ambiental, planos de atuação voltados para a conservação das espécies são realizados e colocados em prática com fins de entender melhor o que ocorre com as espécies e como reverter tal estado de ameaça. Dessa maneira, busca-se evitar novas extinções de formas de vida. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Imagine que uma bióloga esteja estudando diferentes populações de um roedor em uma reserva biológica e tenha encontrado o resultado a seguir para a espécie: Tempo 1 Tempo 2 População A 117 107 População B 88 85 População C 10 20 O que pode ser aferido a partir dos resultados apresentados? Marque a alternativa correta. Parabéns! A alternativa C está correta. É possível observar nos dados analisados que a população C está aumentando em escala geométrica ao longo do tempo. Assim, é provável que ela se torne a população predominante no espaço estudado. Questão 2 O estudo da dinâmica das comunidades fornece informações importantes para as avaliações do meio ambiente. Assinale a alternativa a seguir que corretamente lista os fatores espaciais e temporais que influenciam na dinâmica de comunidade. A A população A manteve-se estável ao longo do tempo, dessa forma, é provável que essa população se perpetue em uma quantidade estável de indivíduos. B A população B está diminuindo ao longo do tempo, dessa forma, é provável que essa população se extinga com o passar do tempo. C A população C está aumentando ao longo do tempo, dessa forma, é provável que essa população se torne a maior população de roedores com o passar do tempo. D A população B está aumentando ao longo do tempo, dessa forma, é provável que essa população se torne a maior população de roedores com o passar do tempo. E A população A está diminuindo ao longo do tempo, dessa forma, é provável que essa população se torne a maior população de roedores com o passar do tempo. Parabéns! A alternativa E está correta. Os principais parâmetros espaciais que influenciam na dinâmica das comunidades são: isolamento e área; gradiente latitudinal, gradiente altidudinal e gradiente em relação à profundidade. Ainda, o tempo pode ser muito importante na dinâmica das comunidades na natureza e deve ser levado em consideração nas avaliações ambientais. O efeito fundador, a dominância e os estágios sucessionais podem influenciar na dinâmica de populações. A Fatores espaciais: isolamento e área; gradiente latitudinal; fatores temporais: gradiente em relação à profundidade, efeito fundador e a dominância. B Fatores espaciais: isolamento e área, gradiente altidudinal e gradiente em relação à profundidade; fatores temporais: gradiente latitudinal, efeito fundador e a dominância. C Fatores espaciais: efeito fundador, dominância e os estágios sucessionais; fatores temporais: isolamento e área; gradiente latitudinal, gradiente altidudinal e gradiente em relação à profundidade. D Fatores espaciais: dominância e os estágios sucessionais; fatores temporais: isolamento e área e gradiente em relação à profundidade. E Fatores espaciais: gradiente altidudinal e gradiente em relação à profundidade; fatores temporais: estágios sucessionais. 3 - Métodos de avaliação de recursos límnicos Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os métodos de avaliação de recursos límnicos. A água como um importante recurso Limnologia Quando falamos de recursos ambientais, é difícil quantificar o grau de importância de cada um deles para a vida humana, afinal de contas, nossa sociedade depende da natureza para sua sobrevivência. No entanto, não há dúvidas de que a água é um dos recursos ambientais mais importantes para a nossa espécie. O ser humano possui o corpo formado por aproximadamente 70% de água e depende desse recurso para realizar diversas das atividades essenciais do seu organismo. No entanto, apesar de cerca de 70% do planeta ser formado de água, estima-se que pouco menos de 5% desse total seja próprio para consumo humano. Para sobreviver, a espécie humana precisa de água doce, potável, livre de patógenos. Apesar de existirem técnicas de dessalinização da água, é consenso mundial que a água doce é mais simples de tratar e menos custosa para ser utilizada pelo ser humano. A ciência que estuda a ecologia das águas doces é chamada de limnologia. Por definição, limnologia é o estudo científico do conjunto das águas continentais em todo o planeta, incluindo lagos, represas, rios, lagoas costeiras, áreas pantanosas, lagos salinos e estuários. Na análise estrutural dos ecossistemas aquáticos dois aspectos básicos devem ser incluídos (Tundisi e Tundisi, 2008): A descrição dos componentes abióticos Suas propriedades, fatores físicos e químicos, concentrações, intensidades. A avaliação das comunidades bióticas Composição de espécies, abundância, biomassa, ciclos de vida. Estudaremos a seguir sobre a importância da avaliação ambiental dos fatores límnicos na conservação da água doce do planeta. Porém, primeiro, vamos entender um pouco mais sobre a legislação brasileira sobre o uso das águas. Legislação brasileira sobre recursos hídricos O Brasil é referência mundial no que diz respeito à legislação aplicada aos recursos hídricos. Com uma legislação moderna, abrangente e preocupada com a conservação dos recursos, nossas normas servem de referência para vários países do mundo. Curiosidade Apesar de termos um Código de Águas desde 1932, a Política Nacional dos Recursos Hídricos, positivada pela Lei nº 9.433, publicada em 1997, é o nosso norte no que diz respeito à legislação sobre recursos hídricos, atualmente. Entre as novidades legislativas, a elevação das águas como recurso hídrico, prioritário para conservação e uso humano e dessedentação de animais já demonstra, desde os seus fundamentos, a importância da conservação da água. Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: I - a água é um bem de domínio público; II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; [...] (BRASIL, 1997) Foi a partir dos instrumentos da Política Nacional dos Recursos Hídricos que surgiu um importante instrumento de avaliaçãoambiental: o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água. Você já entendeu a importância da avaliação ambiental. Todavia, de nada adiantaria mensurar parâmetros dos ecossistemas naturais, se tais resultados não fossem interpretados à luz da conservação da natureza. Com a água não é diferente. A existência de uma classificação nacional, com o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo seu uso preponderante, é um importante instrumento de avaliação ambiental. Vamos conhecer mais adiante. Classi�cação dos corpos hídricos Os corpos hídricos e seu uso preponderante Cabe ao Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) realizar o enquadramento das águas em classes de acordo com o seu uso preponderante. Mas o que isso quer dizer? Analise os três cenários a seguir: 1. Imagine um rio que corta uma região rural no interior do Mato Grosso do Sul. Esse rio é utilizado primordialmente pela população humana, que, além do consumo, utiliza essa água para banhar-se e para a realização das atividades domésticas. Além disso, essa água é utilizada também para a dessedentação de animais. 2. Agora imagine uma lagoa, no estado do Rio de Janeiro, que é utilizada primordialmente para fins de turismo ambiental (apreciação da sua beleza natural) e para atividades aquáticas com contato indireto com a água, como para a prática de caiaque, passeios de barco e pedalinho. 3. Por fim, imagine um rio, no estado de São Paulo, que já está linearizado e canalizado em alguns pontos e recebe os efluentes tratados de indústrias e da estação de tratamento de esgoto da região. Re�exão Você acha que esses três corpos aquáticos, utilizados de formas diferentes pela população, precisam ter as mesmas características ambientais? É preciso que a lagoa do Rio de Janeiro tenha a mesma potabilidade que o rio do interior do Mato Grosso do Sul? E o rio que recebe os efluentes em São Paulo, precisa ser enquadrado nos mesmos aspectos do que aquele ambiente onde as pessoas praticam esportes? É claro que não! Cada ambiente aquático pode e deve ser enquadrado de acordo com seus usos preponderantes, de modo que a avaliação ambiental nos mostre se ele está apropriado ao uso a que se destina. Classes da água Atualmente, algumas resoluções do Conama e do CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos) são responsáveis por enquadrar os recursos hídricos em classes. É importante que tenhamos em mente as seguintes normativas principais: Resolução Conama nº 357/2005 Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Resolução CNRH nº 91/2008 Estabelece os procedimentos gerais para o enquadramento dos corpos d’água superficiais e subterrâneos. Resolução Conama nº 396/2008 Estabelece o enquadramento das águas subterrâneas. Resolução Conama nº 397/2008 Altera o art. 34 da Resolução Conama nº 357/2005. A seguir, conheceremos alguns dos principais conceitos contidos na resolução Conama nº 357/2005, importantes nas avaliações ambientais de corpos aquáticos. Classe de qualidade É o conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos usos preponderantes, atuais ou futuros. Classi�cação das águas É a qualificação das águas doces, salobras e salinas em função dos usos preponderantes (sistema de classes de qualidade) atuais e futuros. Condição de qualidade Qualidade apresentada por um segmento de corpo d'água, em determinado momento, em termos dos usos possíveis d d f t à l d lid d com segurança adequada, frente às classes de qualidade. Controle de qualidade da água Conjunto de medidas operacionais que visa avaliar a melhoria e a conservação da qualidade da água estabelecida para o corpo de água. Enquadramento Estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (classe) a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo. Efetivação do enquadramento Alcance da meta final do enquadramento. Monitoramento Medição ou verificação de parâmetros de qualidade e quantidade de água, que pode ser contínua ou periódica, utilizada para acompanhamento da condição e do controle da qualidade do corpo de água. A partir dos conceitos acima apresentados, incialmente, as águas são classificadas de acordo com sua salinidade da forma que se apresenta a seguir: Águas doces: Águas com salinidade igual ou inferior a 0,5%; Águas salobras: Águas com salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%; Águas salinas: Águas com salinidade igual ou superior a 30%. A partir da classificação de acordo com a salinidade, as águas doces, salobras e salinas do território nacional são categorizadas segundo a qualidade requerida para os seus usos preponderantes, em 13 classes de qualidade. As águas de melhor qualidade podem ser aproveitadas em uso menos exigente, desde que este não prejudique a qualidade da água, atendidos outros requisitos pertinentes. Vejamos abaixo o destino de cada classe de água. Águas doces Classe especial Classe 1 Classe 2 • Destinadas ao abastecimento para consumo • Destinadas ao abastecimento para consumo humano, após • Destinadas ao abastecimento para consumo humano, após Padrão Valor limite adotado como requisito normativo de um parâmetro de qualidade de água ou efluente. Parâmetro de qualidade da água Substâncias ou outros indicadores representativos da qualidade da água. Classe especial Classe 1 Classe 2 humano, com desinfecção; tratamento simplificado; tratamento convencional; • À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; • À proteção das comunidades aquáticas; • À proteção das comunidades aquáticas; • À preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. • À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução Conama nº 274, de 2000; • À recreação de contato primário tais como nataç esqui aquático e mergulho, conforme Resolução Cona nº 274, de 2000; • À irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; • À irrigação de hortaliças, plant frutíferas e de parques, jardins campos de espo e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; • À proteção das comunidades aquáticas em terras indígenas. • À aquicultura e atividade de pes Tabela: Classificação de acordo com a salinidade – Águas doces. Camilla Haubrich. Águas salinas Classe especial Classe 1 Classe 2 • Destinadas à preservação dos ambientes • Destinadas à recreação de contato primário, • Destinadas à pesca amadora; Classe especial Classe 1 Classe 2 aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; conforme Resolução Conama nº 274, de 2000; • À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. • À proteção das comunidades aquáticas; • À recreação de contato secundário. • À aquicultura e à atividade de pesca. Tabela: Classificação de acordo com a salinidade – Águas salinas. Camilla Haubrich. Águas salobras Classe especial Classe 1 Classe 2 • Destinadas à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; • Destinadas à recreação de contato primário, conforme Resolução Conama nº 274, de 2000; • Destinadas à pesca amadora; • À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. • À proteção das comunidades aquáticas; • À recreação de contato secundário. • À aquicultura e à atividade de pesca; • Ao abastecimento para consumo humano após tratamento convencional ou avançado; Classe especial Classe 1 Classe 2 • À irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentesao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película, e à irrigação de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto. Tabela: Classificação de acordo com a salinidade – Águas salobras. Camilla Haubrich. Dessa maneira, de acordo com o uso preponderante a que se destina o copo hídrico, as águas podem ser avaliadas e sofrer intervenções para garantir que estejam apropriadas ao uso a que se destinam. Qualidade da água e avaliação ambiental Parâmetros físico-químicos da água para a avaliação ambiental De acordo com sua classificação, as águas precisam atender a critérios de qualidade, que se baseiam, principalmente, na avaliação de parâmetros físicos, químicos e biológicos. Vamos conhecer, a seguir, os principais parâmetros físico-químicos utilizados na avaliação ambiental dos corpos aquáticos. Condições de qualidade de água: a) Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes; b) Óleos e graxas: virtualmente ausentes; c) Substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes; d) Corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes; e) Resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes; f) DBO (demanda bioquímica de oxigênio) 5 dias a 20°C até 3 mg/L O2 (oxigênio); g) OD (oxigênio dissolvido), em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2 (oxigênio); h) Turbidez até 40 unidades nefelométrica de turbidez (UNT); i) Cor verdadeira: nível de cor natural do corpo de água em mg Pt/L; j) pH: 6,0 a 9,0. Aplicam-se a essas águas as condições e padrões da classe 1 previstos anteriormente, à exceção do seguinte: I. Não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais; II. Cor verdadeira: até 75 mg Pt/L; III. Turbidez: até 100 UNT; IV. DBO (demanda bioquímica de oxigênio) 5 dias a 20°C até 5 mg/L O2; V. OD (oxigênio dissolvido), em qualquer amostra, não inferior a 5 mg/L O2; Águas doces de classe 1 Águas doces de classe 2 VI. Densidade de cianobactérias: até 50.000 cel/mL ou 5 mm³/L; VII. Fósforo total: a) Até 0,030 mg/L, em ambientes lênticos; b) Até 0,050 mg/L, em ambientes intermediários, com tempo de residência entre 2 e 40 dias, e tributários diretos de ambiente lêntico. Essas águas observarão as seguintes condições e padrões: I. Condições de qualidade de água: a) Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes; b) Óleos e graxas: virtualmente ausentes; c) Substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes; d) Não será permitida a presença de corantes provenientes de fontes antrópicas que não sejam removíveis por processo de coagulação, sedimentação e filtração convencionais; e) Resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes; f) DBO (demanda bioquímica de oxigênio) 5 dias a 20°C até 10 mg/L O2; g) OD (oxigênio dissolvido), em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2; h) Turbidez até 100 UNT; i) Cor verdadeira: até 75 mg Pt/L; j) pH: 6,0 a 9,0. Essas águas observarão as seguintes condições e padrões: I. Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes; Águas doces de classe 3 Águas doces de classe 4 II. Odor e aspecto: não objetáveis; III. Óleos e graxas: toleram-se iridescências; IV. Substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento de canais de navegação: virtualmente ausentes; V. Fenóis totais (substâncias que reagem com 4 - aminoantipirina) até 1,0 mg/L de C6H5OH (fenol); VI. OD (oxigênio dissolvido), superior a 2,0 mg/L O2 (Oxigênio) em qualquer amostra; VII. pH: 6,0 a 9,0. Parâmetros biológicos da água para a avaliação ambiental Entre os principais parâmetros biológicos importantes na avaliação ambiental da água doce, podem ser citados: Presença ou ausência de coliformes termotolerantes, que são bactérias gram-negativas, em forma de bacilos, oxidase negativas, caracterizadas pela atividade da enzima galactosidase. Podem crescer em meios contendo agentes tensoativos e fermentar a lactose nas temperaturas de 44 - 45°C, com produção de ácido, gás e aldeído. Além de estarem presentes em fezes humanas e de animais homeotérmicos, ocorrem em solos, plantas ou outras matrizes ambientais que não tenham sido contaminados por material fecal. Presença ou ausência de Escherichia coli (E.coli), bactérias pertencentes à família Enterobacteriaceae caracterizada pela atividade da enzima glicuronidase. Produz indol a partir do aminoácido triptofano. É a única espécie do grupo dos coliformes termotolerantes, cujo hábitat exclusivo é o intestino humano e de animais homeotérmicos, onde ocorre em densidades elevadas. Vamos conhecer a seguir a classificação dos corpos aquáticos, de acordo com seu uso preponderante no que diz respeito aos principais parâmetros biológicos utilizados na avaliação ambiental. Essas águas observarão as seguintes condições de qualidade: Águas doces de classe 1 a) Não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela realização de ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido. b) Coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário deverão ser obedecidos os padrões de qualidade de balneabilidade, previstos na Resolução Conama 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 200 coliformes termotolerantes por 100mL em 80% ou mais, de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. A E. coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente. Aplicam-se a essas águas as condições e padrões da classe 1 previstos anteriormente, à exceção do seguinte: I. Coliformes termotolerantes: para uso de recreação de contato primário deverá ser obedecida a Resolução Conama 274, de 2000. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mL em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. A E. coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente; II. Densidade de cianobactérias: até 50.000 cel/mL ou 5 mm³/L. I. Essas águas observarão as seguintes condições e padrões: a) Não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições nacionais ou internacionais renomadas, comprovado pela realização de Águas doces de classe 2 Águas doces de classe 3 ensaio ecotoxicológico padronizado ou outro método cientificamente reconhecido; b) Coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato secundário não deverá ser excedido um limite de 2.500 coliformes termotolerantes por 100mL em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. Para dessedentação de animais criados confinados não deverá ser excedido o limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100mL em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 4.000 coliformes termotolerantes por 100mL em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras coletadas durante o período de um ano, com periodicidade bimestral. A E. coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes de acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente; c) Cianobactérias para dessedentação de animais: os valores de densidadede cianobactérias não deverão exceder 50.000 cel/ml, ou 5 mm³/L. Parâmetros biológicos de avaliação ambiental Confira agora outros parâmetros biológicos de avaliação ambiental, como a comunidade zooplanctônica, fitoplanctônica, bentônica, macroalgas, bactérias etc. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Na avaliação ambiental, os parâmetros biológicos podem nos dar importantes informações sobre a qualidade da água. Assinale a seguir a alternativa que somente contém parâmetros biológicos. Parabéns! A alternativa D está correta. Os principais parâmetros biológicos de análise ambiental da água são quantificação de bactérias termotolerantes, de coliformes totais e fecais, de cianobactérias e presença e/ou ausência de E. coli. Questão 2 Na avaliação ambiental, a classificação da água de acordo com a salinidade pode fornecer importantes informações sobre sua qualidade. Assinale a seguir a alternativa que corretamente contém a classificação das águas de acordo com tal parâmetro. A Medição de turbidez, medição de pH, análise de E. coli. B Quantificação de bactérias termotolerantes, quantificação da concentração de fósforo e enxofre, quantificação de cianobactérias. C Quantificação de coliformes totais e fecais, medição de pH, análise de E. coli. D Quantificação de bactérias termotolerantes, quantificação de coliformes totais e fecais, quantificação de cianobactérias. E Quantificação da concentração de nutrientes, quantificação de coliformes totais e fecais, quantificação de cianobactérias. A Águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5%; águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%; águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30%. Parabéns! A alternativa A está correta. As águas podem ser classificadas em águas doces: com salinidade igual ou inferior a 0,5%; águas salobras: com salinidade superior a 0,5% e inferior a 30%; e águas salinas: com salinidade igual ou superior a 30%. B Águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,2%; águas salobras: águas com salinidade superior a 0,2% e inferior a 15%; águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 15%. C Águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,0%; águas salobras: águas com salinidade superior a 0,0% e inferior a 30%; águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30%. D Águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 1%; águas salobras: águas com salinidade superior a 1% e inferior a 30%; águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30%. E Águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 1%; águas salobras: águas com salinidade superior a 1% e inferior a 15%; águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 15%. 4 - Biomonitoramento e bioindicadores Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir a relevância do biomonitoramento e dos bioindicadores na avaliação ambiental. Biomonitoramento Conceito de biomonitoramento O primeiro passo para a resolução dos problemas socioambientais ocasionados pela má gestão dos recursos é o desenvolvimento de metodologias de diagnóstico eficientes. Monitoramento pode ser definido como a medição ou verificação de parâmetros de qualidade e quantidade, que pode ser contínua ou periódica, utilizada para acompanhamento da condição e do controle da qualidade. O monitoramento dos recursos naturais, há muito tempo, é utilizado na avaliação ambiental. Avaliar constantemente o meio ambiente é um importante instrumento para a conservação da natureza. No entanto, somente nas últimas décadas marcadores biológicos começaram a ser utilizados de forma frequente como instrumentos de proteção da natureza, por meio do biomonitoramento. Saiba mais A ideia de que espécies podem ser usadas para indicar certas condições ambientais pode ser verificada ao longo da história. Um exemplo ocorreu durante a Revolução Industrial (século XIX), quando canários eram colocados dentro de minas de carvão para monitorar a qualidade do ar. Caso o canário sofresse alguma alteração desfavorável, causada por altas concentrações de monóxido de carbono, as pessoas eram imediatamente retiradas do local, evitando possíveis danos à saúde (BUSS et. al., 2003). O biomonitoramento pode ser definido como o uso sistemático das respostas de organismos vivos para avaliar as mudanças ocorridas no ambiente, geralmente, causadas por ações antropogênicas (BUSS et. al., 2003). A resposta dos organismos é a base dos índices biológicos utilizados. Em termos práticos, é uma avaliação da qualidade ambiental dentro de uma escala espacial e temporal definidas. Consiste na análise da resposta de indivíduos, populações, assembleias ou comunidades a diferentes gradientes de contaminação ou poluição. O uso de parâmetros biológicos para avaliação ambiental se baseia nas respostas dos organismos em relação ao meio onde vivem. Assim, se um meio tem suas características ambientais preservadas, alguns parâmetros biológicos serão encontrados. Todavia, se há uma deterioração na qualidade ambiental, outros parâmetros, condizentes com essa degradação, serão observados. Espécies bioindicadoras são aquelas escolhidas por sua tolerância ou sensibilidades às condições ambientais. Tais espécies terão uma “resposta biológica” aos estímulos recebidos pelo meio em que vivem. De acordo com a resposta das espécies bioindicadoras, pode-se prever o que está acontecendo ou acontecerá com determinado ambiente natural. O uso das respostas biológicas como indicadores de degradação ambiental é vantajoso em relação às medidas físicas e químicas da água, pois estas registram apenas o momento em que foram coletadas, como uma fotografia do rio, necessitando de um grande número de análises para a realização de um monitoramento temporal eficiente. Porém, a desvantagem é que se forem feitas longe da fonte poluente, as medições químicas na água não serão capazes de detectar perturbações sutis sobre o ecossistema. Por sua vez, as espécies integram as condições ambientais durante toda a sua vida, permitindo que a avaliação biológica seja utilizada com bastante eficiência na detecção tanto de ondas tóxicas intermitentes agudas quanto de lançamentos crônicos contínuos. Além disso, as metodologias biológicas são bastante eficazes na avaliação de poluição não pontual (difusa), tendo, portanto, grande valor para avaliações em escala regional (BUSS et. al., 2003). O biomonitoramento tem trazido respostas importantes e eficazes na avaliação ambiental e quando utilizado conjuntamente com as análises dos parâmetros ambientais físico-químicos podem trazer resultados ainda mais completos. Apesar disso, no Brasil, o biomonitoramento ainda é pouco utilizado pelos órgãos ambientais, com um uso bastante incipiente. Bioindicadores e biomonitoramento na avaliação ambiental Características dos bioindicadores Ao selecionar um bioindicador ou indicador biológico, ou seja, uma espécie que será utilizada como bioindicadora, Buss e colaboradores (2003) definem alguns critérios importantes. Confira! Ser taxonomicamente bem definido e facilmente reconhecível por não especialistas. Apresentar distribuição geográfica ampla. Ser abundante ou de fácil coleta. Ter baixa variabilidade genética e ecológica. Preferencialmente possuir tamanho grande. Apresentar baixa mobilidade e longo ciclo de vida. Dispor de características ecológicas bem conhecidas Ter possibilidade de uso em estudos em laboratório. Deve-se atentar para a escolha do grupo ou espécie bioindicador, pois seu monitoramento deve facilitar a análise ambiental e não ser uma dificuldade adicional. Entenda: Imagine que um pesquisador está em processo de seleção de um bioindicador para determinada área. Suponha que certa ilha, no sul do Brasil, tem sofrido os efeitos da poluição do ar produzida por uma região industrial na área costeira. O depósito de material particuladosobre as rochas e a morte de algumas espécies já estão sendo notados por turistas e moradores locais. Após uma extensa análise, existe dúvida sobre qual espécie poderá ser utilizada como boa bioindicadora da qualidade do ar na região. Opção número 1 A primeira espécie consiste em um mamífero, de pequeno porte, com hábitos noturnos. Por conta da poluição do ar, os indivíduos sofrem de um achatamento do sistema respiratório que pode levar à morte de toda a população em poucos meses, ou seja, ao desaparecimento daquela população. Tal espécie é muito parecida com outros roedores e há certa confusão em sua taxonomia e identificação. Seu ciclo de vida é curto e entre nascimento e morte, em média se passam 33 dias. Opção número 2 A segunda espécie é de um líquen, presente nas árvores da região, bem conhecido taxonomicamente e de fácil identificação. Tal espécie apresenta mudança em sua coloração quando entra em contato com alguns componentes químicos presentes na fumaça das indústrias em questão. Seu ciclo de vida, entre nascimento e morte, pode durar anos. Então, qual espécie o pesquisador deve usar para biomonitorar a qualidade do ar na região? A segunda espécie, certo? Vamos entender o porquê. Resposta O ciclo de vida curto, a rápida extinção de populações e a confusão na taxonomia/identificação da espécie indicam que a primeira espécie não deve ser utilizada como bioindicadora, apesar de ela sofrer com os efeitos da poluição. Já a segunda espécie possui ciclo de vida longo, é bem conhecida e de fácil identificação, é séssil, ou seja, possui baixa mobilidade, e passível de ser estudada em laboratório, o que a caracteriza como potencial boa espécie bioindicadora. Utilização de biomonitoramento na avaliação ambiental Como vimos, o biomonitoramento é um importante instrumento de avaliação ambiental. Imagine a seguinte situação: Um grupo de macroinvertebrados aquáticos é extremamente sensível à presença de metais pesados, muito comuns em efluentes industriais. Em certo lago no Pará, as análises dos parâmetros físico-químicos e biológicos habituais da água estão dentro dos valores esperados, de acordo com o enquadramento do corpo aquático segundo seu uso pretendido. No entanto, a modificação da comunidade de macroinvertebrados chamou a atenção de pesquisadores que trabalhavam na região. O que essa alteração biológica pode significar? Nesse caso hipotético, é possível que efluentes industriais clandestinos estejam sendo jogados no lago. As análises habituais da água somente perceberiam tal alteração depois de muito tempo, quando a degradação ambiental fosse praticamente irreversível. Porém, nesse exemplo fictício, o trabalho dos pesquisadores possibilitou que as autoridades fiscalizadoras fossem capazes de identificar a indústria clandestina e impedir o descarte de efluentes industriais no lago em questão. Na prática, os macroinvertebrados bentônicos são utilizados com frequência como bioindicadores dos ecossistemas aquáticos. Isso acontece, pois esses grupos de organismos possuem características que facilitam a análise e a interpretação das respostas obtidas. Entre tais características estão: São ubíquos, podendo responder a perturbações em todos os ambientes aquáticos e em todos os períodos. Incluem grande número de espécies, oferecendo um amplo espectro de respostas. Mesmo em rios de pequenas dimensões, sua fauna pode ser extremamente rica. Têm natureza relativamente sedentária na maioria das espécies, o que permite uma análise espacial eficiente dos efeitos das perturbações. Requerem metodologias de coleta simples e de baixo custo, que não afetam adversamente o ambiente. São relativamente fáceis de se identificar/nomear segundo as metodologias existentes. Agora, vamos a um exemplo de caso real. Para a avaliação da qualidade do ar, o estado de São Paulo já utilizou o biomonitoramento. As respostas das plantas bioindicadoras aos poluentes podem ser observadas tanto em nível macroscópico (com o aparecimento de necroses, cloroses, quedas de folhas e diminuição do seu crescimento) como em nível genético, estrutural, fisiológico ou bioquímico. Para a avaliação do potencial fitotóxico foram determinadas as concentrações de poluentes em amostras de folhas de espécies vegetais existentes no local (biomonitoramento passivo) e também de espécies cultivadas em ambiente não poluído e expostas por tempo determinado ao poluente (biomonitoramento ativo). O biomonitoramento com plantas tem sido usado para confirmar impactos fitotóxicos de poluentes atmosféricos e demonstrar descarga de compostos tóxicos no meio ambiente e na cadeia alimentar. O biomonitoramento utilizando plantas é uma metodologia efetiva, fácil e econômica. Cabe ressaltar que o emprego de bioindicadores não pretende e não consegue substituir medições de concentrações ambientais de poluentes por meio de métodos físico-químicos, mas fornece informações adicionais referentes aos efeitos sobre organismos vivos (CETESB, 2015). Ainda, pode-se citar os líquens como importantes bioindicadores da qualidade do ar. A espécie Cladonia verticillaris é uma das mais utilizadas em biomonitoramento. Seu tecido acumula poluentes que podem ser observados por meio de análises químicas e servem como importante instrumento de avaliação da qualidade do ar. Tal técnica é utilizada em algumas cidades do país. Líquen em galho de árvore. Exemplos de utilização de bioindicadores no mundo Confira agora casos reais da utilização de bioindicadores pelo mundo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os bioindicadores são uma importante ferramenta de avaliação ambiental. Assinale a assertiva que contém uma característica esperada dos bioindicadores. Parabéns! A alternativa D está correta. Ao selecionar bioindicadores, os profissionais devem se atentar a algumas de suas características, entre elas: ser taxonomicamente bem definido e facilmente reconhecível inclusive por não- especialistas; apresentar distribuição geográfica ampla; ser abundante ou de fácil coleta; ter baixa variabilidade genética e ecológica; preferencialmente possuir tamanho grande; apresentar baixa mobilidade e longo ciclo de vida; dispor de características ecológicas bem conhecidas; e ter possibilidade de uso em estudos em laboratório. A Somente devem ser reconhecidos por especialistas. B Devem apresentar distribuição geográfica restrita à área de estudo. C Devem possuir alta variabilidade genética e ecológica. D Devem dispor de características ecológicas bem conhecidas. E Devem possuir tamanho pequeno e alta mobilidade. Questão 2 Os bioindicadores são uma importante ferramenta de avaliação ambiental. Assinale a assertiva que contém uma característica dos macroinvertebrados, que os tornam excelentes bioindicadores: Parabéns! A alternativa E está correta. As características que tornam os macroinvertebrados excelentes bioindicadores incluem as seguintes: são ubíquos, respondendo a perturbações em diferentes ambientes aquáticos e em diferentes períodos; incluem muitas espécies que oferecem um amplo espectro de respostas; mesmo em rios de pequenas dimensões, a fauna pode ser extremamente rica em número de espécies; várias espécies são sedentárias e permitem uma análise espacial eficiente; requerem metodologias de coleta simples e de baixo custo; e são relativamente fáceis de serem identificados/nomeados. Considerações �nais A Baixo número de espécies com resposta restrita. B Espécies restritas a rios de grandes dimensões. C Espécies com alta mobilidade. D Espécies com distribuição restrita. E Espécies fáceis de se identificar de acordo com as metodologias existentes. A avaliação ambiental é uma importante ferramenta para a conservação dos ambientes naturais. Nesse conteúdo, você aprendeu um pouco sobre o que é avaliação ambiental e sua importância para a manutenção da vida de forma geral – da nossa e dos outrosorganismos vivos que habitam a Terra. Você descobriu como a auditoria ambiental pode ser uma alternativa para empresas privadas certificarem sua preocupação ecológica e reduzirem seu impacto negativo nos ambientes naturais. Em seguida, você aprendeu as principais metodologias de avaliação ambiental utilizadas para análise da fauna, da flora e dos ambientes aquáticos, incluindo os parâmetros relacionados às populações e às comunidades biológicas, assim como os aspectos legais relacionados ao uso dos recursos hídricos. Por fim, você conheceu o biomonitoramento e acessou alguns exemplos de seu uso e de espécies bioindicadoras. Podcast Ouça agora um pouco sobre as iniciativas de monitoramento de represas no estado do Rio de Janeiro. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14010. Diretrizes para auditoria ambiental – Princípios gerais. Rio de Janeiro: ABNT: 1996, b. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14011. Diretrizes para auditoria ambiental: procedimentos de auditoria – Auditorias em sistema de gestão. Rio de Janeiro: ABNT: 1996, c. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14012. Diretrizes para auditoria ambiental: critérios de qualificação de auditores ambientais. Rio de Janeiro: ABNT: 1996, d. BEGON, M.; TOWSEND, C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de Julho de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências. Brasília, DF: Casa Civil, 1981. BRASIL. Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília, DF: Casa Civil, 1997. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Roteiro metodológico para avaliação do estado de conservação das espécies da fauna brasileira. Brasília, DF: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade – Coordenação Geral de Manejo para Conservação, 2014. BUSS, et al. Bases conceituais para a aplicação de biomonitoramento em programas de avaliação da qualidade da água de rios. Cadernos de Saúde Pública, v. 19, n. 2, abr. 2003. CETESB. Biomonitoramento da vegetação na região de Cubatão: fluoreto, cádmio, chumbo, mercúrio e níquel. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 2015. ESTEVES, F. A. (org). Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro: Interciência, 2011. SCHMID, M. L. Auditoria e perícia ambiental. Curitiba: Contentus, 2020. TUNDISI, J. G.; TUNDISI, T. M. Limnologia. São Paulo: Oficina de textos, 2008. Explore + Confira as indicações que separamos para você! Conheça uma avaliação ambiental real no site do ICMBIO. Pesquise Programa Áreas Protegidas da Amazônia ARPA – Fase II e veja os reais resultados apresentados. Você pode ver a íntegra da metodologia de avaliação de fauna do país, pesquisando por Roteiro metodológico para avaliação do estado de conservação das espécies da fauna brasileira. O material completo está no site do ICMBIO. Leia a íntegra da Resolução Conama nº 357/2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes para o seu enquadramento e aprenda mais sobre o enquadramento dos corpos aquáticos em classes.