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AULA 1 MODELOS DE NEGÓCIOS INOVADORES Prof. Antonio Carlos Pisicchio 2 CONCEITOS BÁSICOS EM INOVAÇÃO Neste estudo, apresentaremos conceitos fundamentais a respeito do desenvolvimento de inovações e das tendências de mercado que têm gerado organizações cada vez mais eficientes, adaptáveis e focadas na resolução de problemas para os consumidores. Para tanto, estudaremos conceitos básicos acerca de inovações, fundamentos a respeito de empreendedorismo, novas tendências de mercado e novos modelos de negócio que se destacam no mundo atual. Tudo isso se volta para que, ao final dos estudos, tenhamos os conhecimentos necessários à identificação de oportunidades, planejamento de modelo de negócio, implementação e avaliação de inovações, que devem ser um ponto de vantagem competitiva sustentável. É um caminho longo, porém gratificante. Bons estudos! TEMA 1 – POR QUE A INOVAÇÃO É IMPORTANTE? Muito se fala sobre inovações, e há um consenso dentro das organizações de que são importantes, que são elas que movem o mundo, que as empresas inovadoras dominam os mercados etc. Frequentemente nos vemos repetindo essas afirmações, porém nem sempre refletimos no real significado delas; outras vezes, consideramos que inovação seja qualquer avanço tecnológico; e ainda há casos em que reforçamos o senso comum de que inovações ocorrem apenas no lançamento de novos produtos e serviços. Portanto, o primeiro passo para compreendermos a importância das inovações dentro do mundo dos negócios é definir seu conceito, para então entender sua real importância. Para Tidd e Bessant (2015), elas vão além de boas ideias ou da invenção de novos produtos; podem ser caracterizadas como um processo de transformar ideias em realidade e capturar o seu valor. Ou seja, uma inovação não consiste simplesmente em se ter uma nova ideia, mas implementar uma ideia capaz de agregar valor, modificar a realidade de um negócio, organização, processo etc. Mais adiante discutiremos em mais profundidade a inovação como processo. 3 1.1 Por que as organizações se interessam e buscam inovações? A inovação é tema frequente no ambiente de negócios, mas por que inovar é tão relevante? É fácil encontrar dados sobre a importância das inovações. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países mais ricos do mundo, a inovação é a fonte principal de dinamismo econômico e bem-estar social, sendo a chave tanto para vencer a recessão econômica quanto para colocar o desenvolvimento numa trajetória ambientalmente sustentável (Altenfelder, 2020). Tidd e Bessant (2015) destacam a pesquisa “Líderes em inovação” que, ao analisar os valores de ações na bolsa Nasdaq, concluiu que as empresas líderes em inovação têm aumento considerável nos preços de suas ações. Essas corporações, em sua maioria, são responsáveis por liderar diversos avanços em seus negócios. Ao definir o conceito de inovação, Drucker (2014) reforça sua importância: é a ferramenta específica dos empreendedores, o meio mediante o qual eles exploram a mudança como oportunidade para um negócio ou um serviço diferente. É possível apresentá-la sob a forma de disciplina, aprendê-la e praticá- la. Desse modo, podemos observar que o desenvolvimento de determinadas indústrias, empresas e economias está ligado à capacidade de empreender e inovar, uma vez que essa inovação possibilita explorar mudanças e oportunidades que são constantes no mercado contemporâneo. TEMA 2 – CONCEITO BÁSICO DE INOVAÇÃO Como vimos anteriormente, inovação muitas vezes é confundida com invenções ou com outros conceitos, e em outras acredita-se que uma boa ideia é uma inovação. Entretanto, sabemos que se trata de um processo de transformar ideias e capturar valor a partir delas (Tidd; Bessant, 2015). Essa definição aparentemente simples traz uma grande implicação: não é apenas uma boa ideia que caracteriza uma inovação, mas sim a aplicação dela; portanto, essa ideia precisa ser transposta para a realidade, impactá-la e ser explorada para ser considerada uma inovação. Além disso, inovação é a ferramenta pela qual empreendedores geram negócios, ou seja, não tem um fim determinado. Isso significa que inovar não é algo que possa ser iniciado, realizado 4 e finalizado, mas um processo constante em que empresas e empreendedores desenvolvem novas ideias, as aplicam, geram resultados e estão prontos para em seguida modificá-las, como é o caso do Iphone (Figura 1). Figura 1 − Iphone é um exemplo de inovação; seu design e suas funcionalidades foram responsáveis pela ampliação na indústria de smartphones Créditos: marleyPug/Shutterstock. 2.1 Inovação como processo De acordo com Tidd e Bessant (2015), inovação é um processo que segue basicamente quatro fases, apresentadas na Figura 2 e descritas na sequência. Figura 2 − Processo de inovação Fonte: elaborada com base em Tidd; Bessant, 2015. Busca Seleção Implementação Captura de valor 5 • Busca: fase em que se avaliam as condições e o mercado em busca de novas ideias; • Seleção: momento no qual se fazem as escolhas estratégicas; deve-se verificar qual inovação é capaz de gerar vantagens estratégicas; • Implementação: criar e escolher não é suficiente para gerar de fato inovações, é necessário implementar essas ideias, ou seja, trazê-las para o mundo real; • Captura de valor: é o que justifica a inovação, uma vez que não basta inovar por inovar, é preciso que ela tenha sentido no mundo e impacte a sociedade; é esse impacto que agrega valor às inovações, por isso as organizações precisam perceber e capturar esse valor. Portanto, para gerarmos inovação devemos buscar novas ideias mediante a observação da realidade (adiante discutiremos as fontes de inovação), selecioná-las, implementá-las e gerar valor à sociedade por meio delas a fim de tornar a inovação sustentável e capaz de alterar o contexto. TEMA 3 – TIPOS DE INOVAÇÃO Há muitas formas de inovar. Existem empresas que lançam produtos completamente inéditos; outras que aprimoram constantemente seus processos; aquelas que modificam e alteram pequenas partes de um produto; e as que adentram novos mercados. Todas essas situações podem ser inovações, uma vez que constituem um processo que transforma novas ideias em valor; porém, ao mesmo tempo, são muito diferentes, geradas de forma distinta, criando valor de modo específico, tendo custos e implementação também variados. Isso explica por que nos estudos sobre inovações é fundamental tipificar e classificá-las de acordo com certas características. É o que faremos a seguir. 3.1 Dimensões da inovação Para Tidd e Bessant (2015), a inovação pode assumir diversas formas, resumidas em quatro dimensões apresentadas na Figura 3 e descritas a seguir. 6 Figura 3 – Dimensões da inovação Fonte: elaborada com base em Tidd; Bessant, 2015. • Inovação de produto: são as mudanças nos produtos ou serviços que as empresas oferecem; por exemplo, quando a Fiat lançou o novo modelo do Uno com design diferente do anterior; • Inovação de processo: são mudanças na forma como produtos e serviços são entregues; por exemplo, quando uma fábrica cria uma nova máquina para processamento de café; • Inovação de posição: refere-se a mudanças no contexto em que os produtos e serviços são ofertados; por exemplo, quando uma fábrica de doces decide exportar seus chocolates para outro país ou quando uma empresa muda seu posicionamento de mercado; • Mudança de paradigma: são mudanças normalmente mais radicais nos pensamentos básicos que guiam a organização; por exemplo, na década de 1980 Havaianas deixou de ser uma empresa voltada para com enfoque em custo para focar novos designs, novos produtos, qualidade e variedade de produtos. Ao observarmos os exemplos aqui apresentados, também fica claro que a linhaentre uma dimensão de inovação e outra é geralmente tênue. A mudança de posicionamento de uma empresa como Havaianas, citada acima, traz consigo modificações nos produtos, nos processos e no posicionamento. Além dessas quatro dimensões, Tidd e Bessant (2015) incluem outros dois fatores relevantes que são o grau de inovação. Eles afirmam que as inovações Processo Paradigma Produto ou serviço Posição 7 podem ter uma característica incremental, ou seja, ser melhorias, aprimoramentos, pequenas mudanças que não alteram a proposta básica dos produtos ou serviços, ou um caráter radical, que são grandes modificações que alteram completamente a proposta de valor dos produtos e serviços. Para ajudar a ilustrar esse modelo, o Quadro 1 apresenta alguns exemplos de inovações dentro de um mesmo segmento, porém com características diferentes conforme o modelo que acabamos de mencionar. Quadro 1 – Exemplos de inovação Tipo de inovação Inovação incremental Inovação radical Produto Os aparelhos de celular Apple X e XI possuem as mesmas características básicas, porém com melhorias de uma geração para outra Quando a Apple lançou o Ipod, que foi o primeiro aparelho portátil para músicas com grande capacidade de armazenamento e design completamente diferente dos demais concorrentes à época Processo Operadoras de telefonia passaram da tecnologia 3G para 4G, ampliando o alcance e a potência das redes de internet móvel Quando o Skype, no início dos anos de 2000, lançou o serviço de chamadas em vídeo, ao vivo, que substituiria a chamada de voz tradicional e que depois foi incorporada nos smartphones e aplicativos Posição Empresas aéreas de baixo custo como a TAP expandiram suas operações para Espanha e Alemanha Quando essas empresas iniciaram suas operações, reduzindo ao máximo os custos extras de viagem, diminuindo o número de linhas e otimizando trajetos 8 com maior volume de passageiros Paradigma A IBM passou a ter um enfoque maior em consultoria e sistemas ao em vez de hardware, reduzindo drasticamente a produção de máquinas e equipamentos Quando o Google passou a oferecer uma nova forma de venda de anúncios por meio do uso de palavras-chave e leilões dentro da sua plataforma; a mudança foi seguida por todos os demais buscadores e até hoje guia o uso de anúncios on-line 3.2 Aspectos das inovações Já destacamos o grau de novidade de uma inovação (inovação radical ou incremental) como importante aspecto dela. Tidd e Bessant (2015) indicam outros elementos que devem ser considerados para classificar e caracterizar inovações: • grau de novidade; • plataformas ou família de inovação; • inovação descontínua; • nível de inovação; • tempo/oportunidade. 3.2.1 Grau de novidade: inovação radical ou incremental? O grau de novidade de uma inovação é fundamental para compreendê-la; para tanto, primeiramente é necessário entender que quem o define não é a empresa, mas o mercado. Portanto, mudanças que podem parecer incrementais para a empresa podem ser vistas como radicais pelos consumidores, e vice-versa. Essa compreensão é essencial para a gestão de inovações e para evitar um erro de miopia de mercado. Muitas vezes, organizações se prendem aos próprios conceitos e se esquecem de quem dá valor a seus produtos e serviços são os consumidores. O mesmo vale para as inovações, cujo valor (portanto, seu grau de novidade) é definido pelo mercado. 9 A grande maioria das corporações alinhadas com os conceitos de melhoria contínua e qualidade total buscam ampliar mudanças gradualmente; por isso, inovações incrementais tendem a ser as mais comuns, até porque demandam menos recursos para ser realizadas do que radicais, que são mais raras. 3.2.2 Plataformas e família de inovação Outra forma pela qual as inovações ocorrem é por meio das plataformas ou famílias de produtos. Por exemplo, a Sony possui sua plataforma de videogames, o Playstation, ao passo que a Microsoft conta com o X-Box. Essa inovação é bastante comum nas indústrias de tecnologia e automobilística, e depende de a capacidade da plataforma básica ser competitiva dentro do mercado e possuir elasticidade para inovações incrementais que serão implementadas em seguida. Assim, é fundamental que o produto inicial seja robusto o suficiente para o momento atual e ainda tenha a capacidade de melhorias. As inovações mais comuns dentro de uma família ou plataforma estão relacionadas a melhoria de desempenho, design, preço etc. (Figura 4). Figura 4 – Inovação por meio das plataformas PS1, PS3 e PS5 Créditos: Anthony McLaughlin/Shutterstock (esq.); Dipson Hamal/Shutterstock (centro); e ALDECA studio/Shutterstock (dir.) 3.2.3 Inovação descontínua: o que acontece quando ocorrem mudanças no ambiente? É importante também discutirmos como se dão as inovações quando mudanças ambientais impulsionam ou forçam transformações radicais em determinadas indústrias. A descontinuidade de um produto ou serviço geralmente ocorre pela emergência de uma nova tecnologia ou de um novo player no mercado 10 com características muito diferentes, por uma mudança macroeconômica ou social ou mesmo pela descontinuidade na visão a respeito de um segmento. Um exemplo clássico disso é o Cirque du Soleil, que se aproveitou da queda de popularidade dos circos tradicionais para propor uma inovação radical na sua proposta de valor (Figura 5). Figura 5 – Circo tradicional x Cirque du Soleil Créditos: benchart/Shutterstock (esq.); Randy Miramontez/Shutterstock (dir.) O grande desafio de inovações descontínuas é o fato de que na maioria das vezes essas transformações radicais de paradigmas surgem de maneira inesperada para muitas organizações, exigindo grande capacidade de mudança e velocidade. Caso não consigam acompanhar esses movimentos radicais de mercado por meio de inovações, a tendência é que sejam engolidas. O surgimento de câmeras fotográficas digitais e sua posterior incorporação nos smartphones fez diversas empresas de câmera acabarem. Aquelas que voltaram seus produtos para fotógrafos profissionais ou que se uniram aos fabricantes de smartphones conseguiram se manter no mercado. 3.2.4 Nível de inovação: inovação em componentes ou na estrutura/arquitetura Também é possível observar o nível em que se dão as inovações, podendo ser em relação a componentes, que tendem a ser mais incrementais, ou na arquitetura da organização, envolvendo um conjunto maior de fatores. 11 3.2.5 Tempo/oportunidade: considerando o ciclo de vida da inovação O estágio de vida no qual as corporações se encontram também influencia a maneira como as inovações devem ocorrer nesses contextos. Por exemplo, indústrias novas, como de biotecnologia, nanomateriais e smartwear, ainda não possuem produtos e serviços tão estabelecidos como outras mais tradicionais; isso oferece uma brecha maior para experimentação de produtos e outras soluções, ou seja, as inovações tendem a ser mais disruptivas e radicais nas indústrias nessa fase. Por outro lado, organizações já estabelecidas tendem a gerar inovações mais incrementais e nos processos, uma vez que os produtos, serviços e soluções que oferecerem já são consolidados no mercado, levando-as a focarem melhorias incrementais e de processo. Figura 6 – Ciclo de vida da inovação Fonte: elaborada com base em Tidd; Bessant, 2015. A Figura 6 que acabamos de apresentar ajuda a ilustrar esse movimento. Em mercados em um primeiro estágio chamado de fluido, os produtos ainda não estão estabelecidos, então o enfoque das empresas está em inovações de produto e mais disruptivas. À medida que a indústria avança para o estágio transicional, a ênfase se volta para o planejamento e desenvolvimento de produtos adequados a demandas futuras que, nessafase, já são possíveis de visualizar, uma vez que ela já possui certo conhecimento de mercado. Ao avançar para o estágio 3, a indústria já tem demandas específicas, o que faz com que as inovações ocorram muito mais de forma incremental e focada Estágio 1: Fluido Ênfase na inovação de produtos Exploração Incerteza Flexibilidade Estágio 2: Transicional Ênfase no desenvolvimento de projetos Inovação de produtos e processos no mesmo nível Estágio 3: Específico Inovação de processos predominante Padronização Integração 12 nos processos, buscando eficiência produtiva e melhorias nos produtos e serviços. TEMA 4 – ESTRATÉGIA PARA INOVAÇÃO É de conhecimento geral que as organizações estão inseridas em contextos complexos, e o advento de novas tecnologias, entre outros fatores, torna o ambiente de negócios complexo e em mudanças constantes. Nesse sentido, é fundamental que desenvolvam uma estratégia que leve em conta suas capacidades internas e o ambiente externo. Além disso, é importante o estabelecimento de uma estratégia de inovação capaz de gerar valor às organizações e prepará-las para cenários futuros. Isso vai depender do posicionamento competitivo delas, sua proposta de valor, os caminhos tecnológicos e das capacidades e processos internos. Tidd e Bessant (2015) dividem as estratégias para inovação em racionalista ou incrementalista. Essa categorização não é fixa, mas constitui formas de melhor compreendermos as organizações; portanto, no mundo real as estratégias tendem a se misturar e agir de forma conjunta. 4.1 Estratégia racionalista É a estratégia tradicional, linear e racional, pela qual se entende que as estratégias são anteriores às ações, daí ser necessário descrever detalhadamente as ações que as empresas irão tomar. Estas são determinadas por meio de uma análise SWOT (Figura 7), que analisa as forças e fraquezas da empresa, bem como as oportunidades e ameaças que o ambiente oferece. Figura 7 – Análise SWOT Créditos: Trueffelpix/Shutterstock. 13 A principal vantagem ao se adotar esse modelo é que a organização destina um momento para examinar o mercado e determina com clareza as funções e atividades de cada parte dela. Por outro lado, a desvantagem é que tal modelo dificulta mudanças radicais e rápidas. 4.2 Estratégia incrementalista Esse tipo de estratégia parte dos princípios mais modernos de estratégia em que se entende que é impossível à organização conhecer todos os fatores que impactam o desenvolvimento de seus processos. Portanto, é necessário que ela, em vez de perder tempo buscando analisar todos esses fatores, trace um objetivo geral, avalie os resultados das ações e incrementalmente as ajuste para mantê- las na direção dos objetivos. Podemos resumir da seguinte forma, usando uma metáfora: • Identificação de sintomas – diagnóstico – tratamento – avaliação dos resultados – ajuste do tratamento – cura (resultado esperado). Dentro do ambiente das organizações: • Design – desenvolvimento – testes – reajustes – testes – implementação e operação. A principal vantagem desse tipo de abordagem é que é mais facilmente adaptável e focado em gerar mudanças de forma mais rápida; por outro lado, as organizações correm o risco de não enxergar todos os outros fatores que influenciam seus processos. 4.3 Liderança x acompanhamento de inovação Independentemente da abordagem de planejamento estratégico (incrementalista ou racionalista), as organizações devem escolher um posicionamento perante a emergência de inovações, baseado em uma perspectiva de estratégia de posicionamento, mais especificamente de Porter (1980), podendo buscar: • liderança nas inovações; • acompanhar as inovações da indústria. Empresas que buscam a liderança em inovações estão alinhadas com o conceito de diferenciação descrito por Porter (1980); dessa forma, procuram 14 desenvolver produtos com características diferentes dos demais concorrentes, podendo até focar um segmento específico (estratégia de foco), criando soluções únicas para aquele público. Já aquelas que acompanham as inovações se alinham com o conceito de enfoque no custo, ou seja, não desenvolvem inovações, apenas acompanham a concorrência e se voltam para melhorias menos disruptivas e muitas vezes focadas em processos. Evidentemente no mundo real não existe uma dicotomia tão clara entre empresas que lideram e empresas que acompanham. Em determinados momentos, para determinados segmentos ou influenciadas por diferentes fatores, as organizações podem assumir parcialmente uma postura; porém, conforme destaca Porter (1980) e reforçado por inúmeros estudos na área de marketing, um posicionamento claro perante o mercado pode propiciar diversas vantagens competitivas em longo prazo. Nesse momento, é importante refletirmos sobre quais as consequências de se adotar uma postura mais reativa ou outra, de liderança, ante as inovações e o mercado. Veja no Quadro 2 um resumo dessa ideia. Quadro 2 – Posicionamento Posicionamento Processos necessários Resultados esperados Liderar Maior investimento em tecnologia Adoção de riscos Desenvolvimento de novos produtos Posição de liderança na mente do consumidor Maior valor agregado a produtos e serviços Inovações de produto Seguir Menos investimento Menos risco Enfoque na proficiência operacional Necessidade de redução de custos Acompanhamento dos concorrentes Menos risco Maior eficiência operacional Foco na operação Inovações de processo 15 TEMA 5 – FONTES DE INOVAÇÃO De onde vem a inovação? Essa é uma pergunta muito intrigante, e muitas vezes, até por nossa inabilidade em inovar, acreditamos que as ideias simplesmente surgem naquelas mentes inovadoras. Porém, sabemos que a inovação é um processo, ou seja, demanda tempo, refinamento e procura por novas oportunidades e necessidades. Portanto, para o desenvolvimento de inovações é necessário um trabalho de pesquisa, um conhecimento a respeito do mercado, do público e das tecnologias disponíveis ou não para determinado segmento. Combinar esses conhecimentos é a chave para as inovações. A Figura 8 resume as principais fontes de inovação. Figura 8 – Fontes de inovação Fonte: Elaborado com base em Tidd; Bessant, 2015. 5.1 Estímulo ao conhecimento A fonte mais tradicional de inovações é a pesquisa e experimentação, ou seja, a busca por novos conhecimentos técnicos ou gerenciais dentro das indústrias; para tanto, é fundamental que as organizações invistam em pesquisa e desenvolvimento. As pesquisas podem ocorrer de forma tradicional (por meio de um departamento responsável por coletar informações, analisar trabalhos acadêmicas, propor experimentos etc.) ou de forma menos estruturada. É essencial reforçar que para o desenvolvimento de pesquisas válidas são necessários tempo e método, saber visualizar oportunidades, recombinar conhecimentos e testar métodos. Inovações • Eventos globais • Acidentes ou fatos inesperados • Observação, imitação ou extensão • Recombinação, aplicação de ideias de um universo para outro • Regulamentação • Propaganda • Inspiração • Estímulo ao conhecimento • Design • Exigência da necessidade • Usuários – inovação aberta • Exploração 16 5.2 Exigência da necessidade O dito popular “a necessidade é a mãe da invenção” resume bem como mudanças ambientais podem influenciar fortemente o desenvolvimento de inovações. Isso é muito relevante no contexto brasileiro em que a maioria das microempresas surgem a partir do empreendedorismo de necessidade. Todavia, sabemos que não basta uma necessidade ocorrer para a inovação nascer; é importante que as organizações saibam identificar quais são as novas necessidades e se adaptar a elas. Tão crucial quanto acertar o alvo é ser o primeiro a fazê-lo. 5.3 Inovaçãoaberta: o papel dos consumidores na inovação A inovação aberta é uma das novas tendências no desenvolvimento de inovações. Esse fenômeno ocorre quando consumidores ou usuários são responsáveis direta ou indiretamente por inovações em produtos e serviços. A emergência de novas tecnologias de comunicação, novas ferramentas de pesquisa e redes sociais constitui fator que facilita o desenvolvimento de inovações abertas, especialmente para o setor de tecnologia. Empresas como Facebook, WhatsApp e Google frequentemente recrutam usuários para testar novos mecanismos, e outras mantêm canais de comunicação abertos com clientes. Há também aquelas que permitem que consumidores participem do desenvolvimento de produtos por meio de concursos de ideias ou grupos especialmente selecionados para isso, ao passo que existem as que deixam seus softwares abertos para que usuários voluntariamente possam aprimorá-los. 17 REFERÊNCIAS ALTENFELDER, R. A importância da inovação tecnológica. Correio Braziliense, 19 ago. 2020. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2020/08/4869539-a-importancia- da-inovacao-tecnologica.html>. Acesso em: 30 abr. 2022. BARON, R.; SHANE, S. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007. DRUCKER, P. Innovation and entrepreneurship. New York: Routledge, 2014. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing: a bíblia do marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. PORTER, M. E. Industry structure and competitive strategy: keys to profitability. Financial Analysts Journal, v. 36, n. 4, p. 30-41, 1980. TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da inovação. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
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