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Potássio: hipo e hipercalemia 1 Potássio: hipo e hipercalemia Potássio Balanço do K+ Principal íon do meio intra-celular (35-145 mEq/l). Baixa concentração no plasma → 3,5-5,0 mEq/l. Atua na excitabilidade muscular - alterações podem levar a parada cardíaca. Efeitos celulares do K+: Como o potencial de membrana depende do K+, suas variações, especialmente no espaço extracelular, podem promover perturbações funcionais das células cardíacas (arritmias) Principal responsável pela manutenção do volume intracelular. A quantidade total de K+ em um adulto normal é 3500-4000 mmol, com 90% no espaço intracelular (fígado, hemácias, m. esquelético etc) e 10% extracelular (8% tecido ósseo e 2% no plasma e fluido intersticial). Há separação de meios pela membrana celular, em geral, altamente permeáveis ao K+, com efluxo contínuo, e manutenção do equilíbrio pela bomba Na/K. Potássio: hipo e hipercalemia 2 Para manter o equilíbrio, há: BALANÇO EXTERNO → relação entre ingestão (50-150 mmol/dia) e excreção (90% urinária e 10% TGI). obs.: diarreias, vômitos → muita perda de K+ = balanço negativo BALANÇO INTERNO → diferença entre a quantidade de K+ que passa do compartimento intra ao extracelular e vice- versa Regulação do balanço externo A única maneira de promover um ajuste fino externo é por meio da regulação da excreção renal. A maior parte do K+ ultrafiltrado é reabsorvido no túbulo proximal (muito associado ao Na+, principalmente passivamente) e na porção espessa da alça de Henle (AH - transportador NKCC ativo e paracelular). Há secreção nos túbulos de conexão e coletores, via células principais com transportadores ROMK, com a entrada de Na+, via ENaC, favorecendo a secreção de K+. obs.: células intercaladas podem reabsorver K+, via trocador H+/K+, que auxilia nesse ajuste - acidificação da urina (se não funciona = acidose tubular distal com hiperpotassemia) Assim, há excreção de 90% (maior parte proveniente da secreção). Potássio: hipo e hipercalemia 3 Este processo é regulado pelo SRAA, mais especificamente, pela aldosterona, que atua nos receptores de aldosterona na célula principal. Há aumento da atividade da bomba de Na/K e estímulo de ENaC. Fatores que influenciam a excreção renal de potássio Dieta → ingestão de K+ Aldosterona Aporte de N+ ao distal/coletor → com o aumento de Na+ nas células principais, há maior reabsorção por ENaC, promovendo desregulação eletrolítica intracelular e, logo, a secreção de K+ por ROMK Fluxo intratubular → com o aumento de fluxo, aumenta-se o aporte de Na+ nas células principais Alcalose metabólica → com o aumento de HCO3- nos segmentos coletores, há maior saída de K+ por equilíbrio iônico Potássio: hipo e hipercalemia 4 Magnésio → hipermagnesemia promove a absorção de K+ e redução a excreção (equilíbrio iônico); atua na porção espessa da AH Fatores que influenciam o balanço interno de potássio Insulina → promove a entrada de K+ intracelular; estimula bombas Na/K e cotransportador Na/H; K+ estimula liberação de insulina também (feedback negativo) Catecolaminas → estimulam receptores beta-2-adrenérgicos (redução da degradação de AMPc e aumento de AMPc), que estimula bombas Na/K, aumentando a entrada de K+ na célula Aldosterona Equilíbrio ácido-base → pH baixo = redução K+ intra; altas [H+] inibem a bomba Na/K, com redistribuição de K+ intra para extracelular; pH ácido também aumenta a permeabilidade das membranas celulares ao K+ (ex.: abertura de ROMK), com aumento do efluxo; porém depende da condição. Alcaloses promovem secreção K+ Tonicidade do meio extracelular → aumento da tonicidade do plama (osmolaridade efetiva) promove desidratação intracelular, em que a saída de água leva o K+ (mecanismo de arraste) = hipercalemia; cetoacidose diabética Assim, há um balanço de K+, que demonstra perda, quando negativo, e ganho, quando positivo. Observa-se que a queda de [K] plasmático, mesmo que pouca, já indica agravamento e grande perda. Potássio: hipo e hipercalemia 5 Hipopotassemia/hipocalemia K+ plasmático < 3,5 mEq/l. Pode provocar parada cardíaca em sístole. Etiologia Pseudo-hipopopotassemia Alterações na redistribuição Alcalose → pH alto ativa bombas Na/K, promovendo a entrada de K+ intracelular e aumenta a secreção por ROMK; alcaloses metabólicas promovem mais hipocalemia do que respiratórias Hipertireoidismo → aumento da FC, aumenta fluxo; estimula bomba Na/K, com influxo de K+ para célula e redução dos seus níveis plasmáticos (semelhante à paralisia periódica familiar) Excesso de insulina → insulina estimula bomba Na/K Agonistas beta-adrenérgicos Excesso de catecolaminas (feocromocitoma - tumor de células cromafins) → estímulos de receptores beta-2, aumento de AMPc e do influxo celular de K+, via estímulo da bomba Na/K Paralisia periódica hipocalêmica → acúmulo de K+ nas células Intoxicação por bário Intoxicação por tolueno Depleção de potássio → pode ser por perdas renais ou extra-renais Perdas renais Distúrbios hipertensivos → hipertensão renovascular, hipertensão maligna, tumores produtores de renina, hiperaldosteronismo primário, sd. Liddle (abertura excessiva de ENaC), sd. Cushing (cortisol tem ação ~aldosterona) Distúrbios normotensivos → acidose tubular renal, uso de diuréticos (de alça e tiazídicos), anfotericina B (promove a formação de poros nas células principais), hipomagnesemia (absorção de Mg2+ = excreção de 2K+), ureterossigmoidostomia, sd. Bartter (~furosemida - transportador NKCC), sd. Gitelman (~tiazídicos - transportador NCC). obs.: furosemida tem baixa meia-vida = pouca excreção de K+; tiazídicos tem alta meia-vida, excreta mais K+ Perdas extra-renais Redução da ingestão Diarreia → mais comum em diarreias crônicas; perda de HCO3- gera acidose e excreção de K+; pode ser mascarado por acidade metabólica por perda fecal de bicarbonato - deve-se corrigir a acidose e repor o K+ obs.: nesses casos, há redução da secreção de K+ e maior ativação do trocador K/H, embora a aldosterona seja ativada pela hipovolemia Abuso de laxativos Vômitos → hipocalemia ocorre por conta da perda de ácido e pela alcalose metabólica, que promove a secreção de K+ renal e o deslocamento de K+ para intracelular; a aldosterona, nesse caso, promove mais ainda a secreção renal de K+ Fístula digestiva Adenoma viloso Quadro clínico Alterações cardíacas (arritmias) Achatamento da onda T e aparecimento da onda U Batimentos ectópicos atriais e ventriculares Potássio: hipo e hipercalemia 6 Aumento da sensibilidade ao digital Alterações neuromusculares → fraqueza Nefropatia hipocalêmica Vasoconstrição renal Diabetes insípidus nefrogênico Tto Reposição de K+, mesmo com casos de redistribuição (cuidado com hipercalemia iatrogênica). SE 3-3,4 mEq/l: Reposição oral Tto causa SE <3 mEq/l: Infusão IV → dor e pode causar arritmia Velocidade máxima de infusão preconizada = 20 mEq/hora Velocidade máxima permitida (emergência) = 40 mEq/hora❗ (mesmo em hipocalemia grave!!!) obs.: sempre com SF, nunca SG! Hiperpotassemia/hipercalemia [K+] plasmático >5 mEq/l. O acúmulo de quantidades modestas do íon pode alterar drasticamente a [K] plasmática. Etiologia Pseudo-hiperpotassemia Alterações na redistribuição Acidose metabólica → deslocamento K+ intra para extra, especialmente acidoses hiperclorêmicas; acidoses orgânicas são mais leves (exceto cetoacidose diabética) Hipoinsulinemia (DM1) → deslocamento K+ intra para extra por redução da insulina e por cetoacidose diabética DM1 → hipoinsulinemia, hiperglicemia, hipernatremia (maior perda de água do que Na+), acidose orgânica (há perda renal de K+, mas o deslocamento supracitado é maior) Potássio: hipo e hipercalemia 7 obs.: deve-se corrigir insulina e administrar K+, pois há perdas também. Bloqueadores beta-adrenérgicos → propanolol; receptores beta-2 facilitam o influxo celular de K+ obs.: substituir pelo atenolol (seletivo) Quimioterapia nas neoplasias → destruição celular libera K+; esmagamento, hemólise e hipercatabolismosão semelhantes (ocorrem em casos de muito exercício e pouca água) Infusão de arginina → para entrarem na célula, são trocados por K+ Succinil-colina → liberação de K+ durante a despolarização Intoxicação digitálica → inibição da bomba Na/K obs.: coleta inadequada pode promover pseudo-hipercalemia Retenção de potássio (balanço externo positivo) Insuficiência renal: IRA → reduz muito TFG; a capacidade secretora do néfron diminui em razão da queda de fluxo intraluminal e da [Na+] nos túbulos distal e coletor, além da lesão por si. Pode haver deslocamentos súbitos de K+ de intra para extra, em decorrência de hemólise, rabdomiólise, catabolismo aumentado ou acidose metabólica IRC → perda da função renal insidiosa, com adaptação dos néfrons remanescentes para excreção de K+; cólon aumenta a excreção = paciente pode se manter em balanço de K+. Porém TFG≤20% tal compensação não é suficiente. Relacionada com ttos adicionais. Carga de potássio exógena ou endógena (esmagamento, hemólise ou hipercatabolismo) Bloqueadores do sistema renina/angiotensina → iECA e BRA; CI em TFG<20% Diuréticos poupadores de potássio → amilorida, triantereno; CI em TFG<20% Trimetoprim / sulfametoxazol → ~amilorida; bloqueia ENaC Hipocortisolismo → cortisol aumenta aldosterona Hipoaldosteronismo → deficiência da suprarrenal; nos pacientes hipovolêmicos há hipercalemias mais graves; doença de Addison, nefropatia diabética (hipoaldosteronismo hiporreninêmico) Ciclosporina / tacrolimus → hipoaldosteronismo secundário; reduzem atividade da bomba Na/K Tubulopatias → ex.: acidose tubular distal obs.: AINEs podem induzir hipercalemia em pacientes com déficit renal e bloqueio de prostaglandinas Quadro clínico Oligo ou assintomática. Alterações eletrocardiográficas → arritmia grave, com aumento do automatismo (focos ectópicos) e bloqueios de condução; onda T apiculada e, em casos graves, prolongamento de intervalo PR e alargamento do QRS (>6-6,5s) - pode evoluir Potássio: hipo e hipercalemia 8 para FV Fraqueza Arreflexia Paralisia muscular flácida → pode atingir mm. respiratórios (na paralisia periódica hipercalêmica) Parestesias Tto ❗Verificar função renal❗ Antagonistas do potássio na fibra muscular Gluconato de cálcio / Cloreto de cálcio 1 amp EV lento → Ca2+ antagoniza os efeitos ECG, reduzindo o automatismo e aumentando a velocidade de condução do es´timulo Redistribuidores de potássio para o meio intra-celular (efeito rápido e temporário) Bicarbonato de sódio EV 15-20 minutos Correção do pH (cuidado com alcalose metabólica) Entrada de íons K+ para o intracelular Saída de íons H+ para o extracelular obs.: cuidado com hipernatremia - deve ser isotônico Solução de glicose + insulina → 1 UI insulina regular / 5g glicose Solução polarizante BIC = peso.0, 3.(24 − [HCO3]plasm) Potássio: hipo e hipercalemia 9 obs.: IV só insulina regular Beta agonistas → β2 agonistas β2 adrenérgico → promovem influxo de K+ na célula Inalação de 10mg salbutamol em 5ml de SF → pico de ação: 90 minutos 0,5mg de salbutamol em 100ml de SG 5% EV em 15 minutos → pico de ação: 30 minutos Cuidados: taquicardia, arritmia, angina Expoliadores de potássio (efeito lento) → em pct com função renal preservada Análogos da aldosterona (fludrocortisona/florinefe) Diuréticos de alça (via urinária) Promove perda urinária de K+ Furosemide (1 ampola = 20mg) - 1-2 amp EV até 6/6 horas Resina de troca iônica (via digestiva) → agem no intestino Poliestirenossulfonato de cálcio (Sorcal) VO 30g até 6/6h Adsorve íons K+ dos capilares intestinais e troca por Ca2+. K+ é eliminado nas fezes. Diálise se insuficiência renal grave CUIDADOS AMBULATORIAIS (RFG <30) → restringir ingestão de K+, evitar AINEs, administrar BIC, utilizar diuréticos não retentores