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BRASIL UMA NOVA POTENCIA REGIONAL NA ECONOMIA-MUNDO_compressed

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UMA NOVA POTÊNCIA REGION L 
NA ECONOMIA- MUNDO 
Bertha K. Becker 
Claudio A. G. Egler 
• 
Brasil 
Uma Nova Potência Regional 
na Economia-Mundo 
Bertha K. Becker 
e 
Claudio A. G. Egler 
Brasil 
Uma Nova Potência Regional 
na Economia-Mundo 
s• EDIÇÃO 
• URTIANDBRASIL 
• 
Copyri!J)1r C> C.mbridgc Univcnlcy Ptc:t~ 1992 
Clp2: prQjero gr.Sfico de Fel1pe Tuborda 
2006 
lmp~ no Rr:~gl 
rrinr~.d ;n Br.u:i/ 
9-1-1$37 
Inclui bibtiotnfU 
ISIIN IS-116 0171-1 
TodO$ 06 dirtiros: rescrvldos pela: 
EOrrORA BERTI\AND BRASIL LTDA. 
COD - Jl0.12098l 
COU - JUtl.t 
Ru:a Argtntina, 17 1 - 1• ;mdlr-Slo Crl$tóv1o 
_20921-380- Rio de J•nciro- RJ 
Tcl.: (OXXl l) 2585-2010 F••' (0XX21) 2585-2087 
Não 6: pcrmit.idn a 1't1JMduç.1o COtál 01t ~rcl"l dc:,trl obrca, por quai~quc:r 
meios, l't:m a prévia ouroriuç!lo por eliCJi'o da. Editoro. 
SuMARJO 
LN ~ DE fiGURAS 
I.J\TA DE T A8fLAS 
l'lu:rioetO 
11 
A AMIRVAI.&ICIA De UMA PoTEI<CIA RiGtONAI. 
Um continente des.:onhecido 
Capitalismo histórico, economia-mundo e 
semiperiferia 
Uma via autoritária para a modernidade 
Este livro 
A INCORI'OIIAc;.\0 oo BRASIL NA EcoNO~tv.·MUNOO: 
DA CoLONIA A INOU!imlAUU.Ç.-10 NACCIONAl. 
O periodo colonial 
O impêrio mercantil 
O Estado e 11 indusuializaçilo nacional 
7 
11 
13 
17 
18 
24 
29 
36 
37 
~o 
53 
67 
m A EcoNOMIA·MuNOO e: AS ReGtOES BRI\SILE!RAS 89 
O espaço de produçao colonial 91 
O arquipélago merc:mlll 102 
Centro e periferia 111 
I 
LV A EMERGfNOA DO BltASILCO>IO Poml'ICIA R&itONAl 
NA EcONOMIA·MUNOO 123 
O projeto geopolítico para a modernidade 124 FIGURAS 
A modernização conservadora 136 
A projeção do Brasil no Cénárlo internacional 153 
v 0 LEGADO DA MODt:Jl"ZAÇ,\0 Coi<S!:RVAEIORA E A 
RErn-Rt!IURAÇ!.O 00 TERRITO~IO 169 2.1 Controle d1> território no perlodo colonial "" 
A modernidade da pobreza 170 
2.2 Exportações coloniais brasileiras -1650·1820 48 
23 Exportações brasileiras durante o Império -
O novo signiflcado da urbanlzi1çao 181 1821-1890 63 
Complexos e redes: a armaduro do terrilório 186 2.4 Imigração para o Estado de São Paulo -
O espaço rrnnsDgumdo 199 
1870.1940 72 
2.5 Produção e preços do caf~ -1880-1946 75 
O domínio agromcxcantil com frentes de 2.6 Investimentos de capital estrangeiro por 
model'nidade 208 setores da economia -1920·1980 84 
A grande frontei~a 211 
2.7 Brasil: Pffi por setores da economia -
1948-1960 85 
VI CRISE t DESAFIOS DA POTl!NCI.I REGIONAL 215 
3.1 Brasil: vegetação original 93 
3.1 O espaço de produção colonial 101 
A dimensão Lerritorial da crise 217 3.3 A região mercanlil de Recife no inicio do 
A componente autoritária da crise 227 século XX 105 
O caráler tardio da crise 236 
3.4 Expansao das ferrovias no llrasil-1854·1929 108 
3.5 Tipos de regtao em função das interaçoes 
vu CoNcwsl.o 247 espaciais -1960 
115 
3.6 Regionalização olkial -1975 116 
BIBUOGltAflA 255 
3.7 A. marcha do caft -1975 118 
3.8 Densidades demográficas do Brasll - (I I AmazOnia: parques nacionais, reservas 
1900-1970 121 indigenas e OorrSllllS 220 
'1.1 A Doutrina da Segurança Nacional como r. 1 O projeto "Calha Norte· 221 
uma estratégia 129 ft I A cidadela de Caraj:ls t seu ciruur!o 
'1.2 Concentração tspacial da indústria bélica de segurança 222 ' • 
no Brasil 135 b~ Percentagem de depuU1clos federais eleitos 
4.3 Gastos do Fundo Nnclonal de Desenvoh·~ pelos partidos conservadores e 
mento Cientffico e TecnolOglco (FNDCT) crescimento do eleitorado no Brasil -
em P &: D -1970-1988 136 1945-1982 232 
4.1 Investimentos públicos no Brasil-1973-1987 140 IHl A escalada da dlvldu brasileira -1967-1988 238 
4.5 Politica de desenvolvimento urba.no 147 n 7 Divida externa: n panicipaç~o do setor 
4.6 PoUUca regional - 1975-1979 149 público -1982-1988 242 
47 AmazOnia legal: pollrica de ocupaçâo 152 
4.8 Os dez maiorts ímponadores de vtlculos 
brasileiros - 1986-1987 160 
4.9 Incremento das exportações brasileiras por 
d~ino -1967-1985 162 
5.1 Transiçao dcrnogr:lflca no Brasil 172 
5.2 Fluxos rnigratôrios no Brasil-1970-1980 179 
5.3 Urbnniuçao brasileira por mcsorregiao 183 
5.'1 Produçllo industrial e força de trobalho por 
mr.sorregiao -1970-1980 189 
5.5 Evolução da área cultivada com soja 196 
56 Redes nacionais 197 
5.7 O espaço 1rans6gurado 203 
5.8 Denstdade populacional por mesorregiao 205 
5.9 Expansao da área mttropolitana de 
Stlo Paulo -1930·1980 206 
5.10 Expansão industrial no l!stado de Sao Paulo 
-1975 ·1986 207 
5. 1 I Drosllla e ddades-sat~litcs 209 
5.12 Sistema logistico global do programa 
Grande Carajás 213 
6.1 Dtstribuiçllo dos acampamentos dos 
"sem-terra" no Brasil 218 
TABELAS 
1.1 Crescimento mtdJo do PIB a preços 
constanle.s 19 
1 2 Distrlbulçlio de renda = 1"1lst• !.<lecionados 23 
1.3 Situaçao ttnlca 23 
2 l Matriz espaço-temporal da economhrmundo 38-39 
2 2 Esúmallw dos escravos africanos chegados 
ao Brasil 49 
2.3 Esumativa da populaçto colonial brasUeua 
-1789 51 
l.4 Total de investimentos britfinlcos na 
América Latina e no llrasil - 1825·1913 64 
31 Produçto de açúcar no Brasil - 17l0 95 
32 Rio de janeiro; comércio de mercadorias 100 
33 Indicadores eeonOtnicos e demogtificos das 
regiOes brasolelras - 1841·1850 101 
•1.1 ComposiçM do mercado de armamentos -
1971-1985 132 
i2 Número de empresas públiCliS crlnclas -
1941-1976 1'11 
-13 Evotuçaodos setoresttonõtnicos -1960-J 980 142 
• 
• 
4.4 Exportações brasileiras por destino -
1969-197~ 
4.5 Produto interno bruto percapira -1950·1980 
4.6A Mudança estrutural das exportaçoes 
brasileiras -1965-1982 
4.6B Estrutura das exportaçOes brasileiras-
1981-1989 
4.7 Percentagem do total de investimentos e 
reinvestimentos no Brasll, por pais de 
origem -1970-1982 
5.1 Taxas mtdias de alfabetismo no Brasil por 
região e sexo -1970-1989 
5.2 DlsuibuiÇJ!o da renda no Brasil -1970-1988 
5.3A Desigualdades de relida por sexo -
1981· 1989 
53a Desigualdades regionais de renda -1989 
5.4 Abastecinltnto de água e esgoto por regiões 
-1970-1986 
5.5 Taxa de urbanização no Brasil - 195().1989 
5.6 Taxas de crescimento das categorias 
mdustrials no Brasil -1966·1980 
5.7 Perfol de efkltncia dos complexos 
Industriais no Brasil - 1984 
5.8 Empréstimos do sistema bancário nacionil 
a agricultura -1973-1980 
5.9A Ptrttntagem do tora! de área penmcen~ As 
5% maiores propriedades rurais no Brasil 
-1960-1980 
5.9a Posse da terra no Brastl-1985 
6.1 Número de sindicatos dos trabalhadores no 
Brasil -1956-198~ 
6.2 Endividamento do setOr publico -
1982-1987 
6.3 Divida extema: total e proporçao do PJB 
156 
159 
161 
163 
161 
174 
175 
175 
176 
177 
182 
187 
190 
193 
194 
195 
231 
239 
240 
• 
PREFACIO 
Inquirido recenrementl!sobrequais as transformações mais 
marcantesqueteStemunhoudesdeasuaprimelravisitaaoBrasU 
ran l958,John Kenneth Galbraith rtspondeu: foi a sua emer· 
nt ncia, apesar do todas as dificuldades, como uma das grandes 
)IOtênclas do mundo (Veja. 20 de junho de 1990). Esta decla· 
ro~Çlo pode J)O!ectrestranha para um pais que, após o carnaval 
r o futebol, ~upa hoje as manchetes da midia internacional 
JlOr possuir uma das maiores dividas externas e assimetrias na 
illstribuiçAo de renda do planeta, rem como pela polemica eco· 
lógica em torno da desuuiçAo da lloresa &INZO<lica. 
Na verdade o Brasil é uma pottncb regional emergeme com 
!<>das estas dificuldades e. sobretudo, com a pobreza de mais 
tb metade de sua populaçao agravada pelos efeatos de uma 
profunda crise econOmica. O ritmo aalerado das transforma-
\Oes num pais de dímensõu continentais gerando mt'Jhiplos 
tempos e espaços, estatlstlcas oficiais obsoletas no momento 
mesmo de sua publlcaçloeo fechamento das informaçOes que 
vigorou no nglmc autoritário slo fatons que dificultam o 
conhecimento sobre a realidade do Brasil e sua poslçto no 
mundo, manifestAndo-se em poswras polarizadas e progn6~ 
doos multo dispares sobre seu futuro. 
Este f um livro de Geografia Regio.W e rem uma proposa 
muito clara delniUr uma visao doBrasil enquanto parte Inte-
grante e diferenciada de um conjunto maior: a economla-mun· 
do 01phalista O conceito de região está associado ao trabalho 
do geógrafo. Deld·lo de lado é abandortar um signo que lden· 
tifica a geograrta perante as demais ci~ncias. Repensar a regiOo 
hoje significa uma maneira de conlTibuir para a superaç~o da 
crise dns clenclas sociais c colaborar, enquanto geovafQ. na 
compreensão das contradições e impasses do mundo comem· 
pon\nco. No entanto. a rcnovaçto critica da geografialdcnttft· 
cou o conceito de rq:iao com a tradição empirista da cseola 
clássica, r<neg~~ndo-o como um estigma do mftodo ideogrAfl· 
eo, acabando por jogar fora a criança junto com a aguado banho. 
A tarefa deste livro t relacionar espaço e tempo, Isto t escre-
ver uma geografia regional na perspectiva da eeonomla·mun-
do, arra\'é.< do <XJome do processo de inserçM do Brasil no 
sistema cnpotal151a mundoal. o que simultaneamentecorrespon-
de i sua lndlvlduallzaçJo como regiao. t uma tentativa de 
participar do esforco de construir uma nova vb para a geogra· 
fia regional. bem como de desenvoh·er uma perspecuva da 
economia-mundo ma os senstvel aos lugares. 
V4rlas pcssoes col~boraram para viabilizar este livro e a elas 
o nooso agradecimento. Peter Taylor iniciou c estimulou o em· 
preendhnento. Maria Helenalacorte e Rodolfo Berwnoello 1\:e-
ram úteis comenUirlos crftJcos. O Conselho Nacional de ~sen· 
volvlmento ClcnoiOco c Tecnológico (CNPq) e a Financladora 
de Esrudos e l'mjetos (FINEP) apoiaram nossas pesquisas por 
vários anos. Por Ultimo. rnas não menos itnport.ante. nossos 
companheiros e nlhos que deram a tolert!ocia e o carlnhoessen· 
• 
c&ais parasuporwos longos mt$<$ de elaboraÇio do texto, tU® 
pela qual a eles dedicamos o Uvro. 
' 
Benha K. Beclcu 
Oaudio A. Egler 
junho de 1990 
1 
A AMBIVALENCIA DE UMA POTI:.'IOA btERGENTE 
• 
Os cade1es da Real Força Aérea Britânica estão sendo treit1a-
o.loscom os EMJl.3l2Tucano, um turbO<! !ice desenvolvido pela 
empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER) c momado sob 
contrato de cessão de tecnologia, na Gra-Bretanha. lsto ilustra 
o sucesso de umã nascente indúsU'ia bélica, que colocao BrasU 
como um dos 10 maiores produtores de armas do. mundo, 
' ituaçJto que não encontra sim1lar em nenhum outro pais lati-
no-americano. Entretanto, se na_guerr3 ele se faz presente na 
modernidade, na paz apresenta-se apenas no seu llmiar. A 
es perança media de vida do br-dSileiro f de 65 anos, ioferior:l 
M seus vizinhos do Paraguai (67 anos), Argemina (70 anos)e 
Uruguai (71 anos). 
O Brasil é pouco conhecido, mesmo por aqueles que nele 
vivem e trabalham. A rapidez com que se processaram trans.-
fl>rmaçOcs nos últimos trinta anos. aliada ao controle sistcmá· 
tlco das informações por parte do Estado autorilário dillcul-
tom a compreensão de suas reais dimensões. Ele ni!o é a grande 
17 
potcnda. ulmcjada como destino manifesto pelos mititares. nem 
tampouco um dos membros do chamado •terceiro mundo", 
como pregam seus crtucos mats simpll5las. t um <xemplo de 
pot~da emergeme de dmbito regional, marcada por felçOes 
conlnldatOnas. 
1\ ambivolend• de uma potfncia regional diz rcspdto a ttés 
e.<ealas d< poder A primeira significa cresttr em um espaço 
!tubmctidu J hegemonia de um cemro mund1al. no caso a 
Americ.' Latin• sob a influencia dominante dos Estados Um 
dos. A scgund• rtpresentnum deslocamento das pretensoes de 
concorrente< no ambuo regional, no caso a Argenl.lna. que att 
reoentemen1e em a mais Importante economia da Amerlca ao 
sul do Equador A terceira ""pressa o controle polltko do ter· 
ritOrio c ti~ so~terlode que no llrnsll assumiu a forma ele um 
projeto nndonnl nutorlt:lrio. 
Este capllulo n·tmto ns fciçocs conuad.itórlas do 6ra•ll no 
contexto mund lnl.l!xpôeosconceitosde capitalismo histórico 
e. sls1.en1a mundiJI, de.c;envolvidos originalmente por lmm:lnu-
el Wnllcr>tctn, que permitem slluar o Brasd na sennpcrifenn 
do sl~tema mundial capitalista Por Rm, uliliza alguns elemtn· 
Los do pensamento ~ia I latino--americano e brasileiro, para 
c.rnacu:n:.·u suas espe:c:tflcicbdes como uma regl.lo da ttono-
mt;t-mundo. 
Um continente dtsconhecido 
O Brastl ~um pnis de múiliplos tempos e multJplos~paço>. 
A velocidnde de lncorporaç~o de inovações t.ecnolOgic~ts ~ 
cxi i'C11ltlmcntc n\plda em purccltts loca!IL3das de seu tcrrltOrlo 
e. sillc:ronicanlCIIIC, vh~c~~c~ t 1n condições pdmltivas, com rlt· 
mo• dctcnnlnndos pela natureza em ítncnsas cxtcnsocs Grun· 
dcs t•eclc•n•cionais de tclcvls.\o, •cmclllllnu:s ao pudl'llo norte· 
americano. estabelecem diariameme a ponte entre passado e 
18 
futuro, entre garimpeiros isolados na selva em busca do Eldo-
rado e gerentes de grandes corporoçOes multlnacionais lnslll-
ladas da Avenida PauliSia, a •wau Street" brasileira 
Um tempo acdaado 
O Brasil enquanto parcda da economiB mundial constitui 
um dos segmentos mais dinllmicos, do ponto de vista dos in· 
dicadores econOmicos. Suas taxas históricas de crescimento 
do PIB s:!o compardvels :!s economias avançadas desde o nnal 
d() século passado. 4 panlr de 1940, o crescimento do PIB 
manteve-se em uma média de 7% no o no, chcgandoall %entre 
1967 e 1973, os anos do "milagre econOmlco", quando ores-
t;tnte do mundo dava sinais evidentes de arrefecimento no seu 
ritmo de crescimento. (Tabela I L) 
TABELA t.l • 
Cresdmento mtdw de P/8 a preços constanres 
P.at-ses t870/191J 191)/SO 1950m 1973183 
l"'liJõS Umd.os 1.2 2.11 3.7 t ,9 
Alrmanha 2,8 1.) 5.9 1,6 , ...... 2,5 2,1 9,1 3.7 
Mrxlco 2,0 2.7 6.6 4,6 
llra'il1 2.) 1.9 7.J 4,5 
l.wme Adaptado de t.biddison.I982.19&!J 
A acelerada urbanlzaçGo to expressao mais flagrante deste 
llTocesso no espaço. Ao conll'llrlo da moi orlo dns economias 111 mo-americanas. o Brasil nao apresenta umatolevndn concen-
19 
tração em apenas umagrandemcrropole nacional, mas sim uma 
constelação de nove âreas meLropoliranas com mais de 1 mi· 
lhao de habitantes e um grande numero de cidades médias e 
pequenas di$J>ersas em seu território. 
A Industrialização recente distinguiu o Brasil na América 
Latina; suplantou largamente a Argentina e [oi acompanhado 
com menor intensidade pelo México. A associação com o capi-
tallntemacional foi traço comum no desenvolvimento da re-
gi~o mas, no Bt·asil. o Est:tdo teve papel decístvo na aceleração 
do riuno de crescimentó, avançando a frente do setor privado 
e mantendo elevadas taxas de investimento. Em contraparllda, 
o Brasil está presente Lambem como um dos maiores devedo-
res, em termos absolutos, do sistema flnanceiro mundiat com 
um paSSivo to~.al da ordem de cerca de 112 bilhões de dólares 
em 1988, d[ra equivnleme a um pouco mais do que um terço 
de seu Produto Nacional Bruto (PNB}. 
O modelo de industriaUzaç<'\O latlno·americano. fundado na 
substituição de importaçoes. procurou administrar o mercado 
domesticocomo principal atrnlivo para as grandes corporações 
traosnactonaís. O Brasil atingiu etapas mais avançadas oeste 
processo, chegando a consolidar um parque industrial diver-
sificado -em gn>1tde parte devido ao p01encial de stta econo-
mia -cuja capacidade de atração de capitais foi viabirtzada e 
ampliada pela atuação do Estado. 
lhna Jrot~teíra mõvel 
O Brasil é um continente. Isto t! uma diferença fundameni.al 
em relação aos seus vizinhos latino-americanos. Sua exte.nsilo 
territórial o coloca na quinta posição entre os maiores países 
do globo, com uma ãrea de 8,5 milhões de km' e uma popula-
Ção de H 6 núlhóes de habitantes em 1991. Uma densidade 
20 
dt.mográfica de 17). habitantes por km' significa grande poten-
cialidade de crescimento, pois a ocupação do territ.órlo é inferior a 
dos Estados Unldoseprõxima ã situação da União Soviética. 
A potencialidade de recursos se amplia pela disponibilidade 
de espaço útil, decorrente de sua posição geográfica. O Brasil 
corresponde a dois terços da América L:tlina, e t seguramente 
o maior pais situado na faixa imeruopical. A grande reserva de 
L.euas do Brasil é a maior florestapluvial do planeta - a Ama-
zônia - com uma imensa variedade de espédes. Apesar disso, 
o seu delicado equillbrio ecolõgico constitui alnda um desafio 
,I sociedade brasileira e á citncia mundial na busca de [onnas 
upropriadas de ocupação. 
As condiçõesnan.trais são importantes, mas oãodctcrrn!nnn-
tes. Enquanto a Argentina manteve orieruaçào agrop:IStoril su-
plementar ao centro mundial, o Brasil. que historicamente teve 
papel complementar, hoje diversillcou sua pauta de exporta· 
çào de produtos agrtcolas. Originalmente .grande fornecedor 
de café, é atualmente o segundo maior exportador de soja e 
derivados, com a vantagem de colocar sua produÇão no mer-
~o.:-ldO no pe.rlodo da entressafra norte~americana. A soja. pouco 
~onhec!da no Brasil há 15 anos, graças a investimemosem me-
lhorias genéticas e no desenvolvimento de tTatos culturais, 
venceu a bamim ecológieados"cerrados· e espraiou-se no Planlll-
oo Brasileiro. Em 1975, os "cerrados· eram responsáveis pela 
produÇão de cerca de 6% da soja brasileira; em 1982 este número 
mlngia 22% e, com a grande safra de 1987/88, responderam por 
fi milhoes de toneladas de soja. is«> t, 44,5% do toi.al nacionru. 
A economia brasileira cresceu, e conlinua crescendo. atra~ 
v~s de uma impressionante capacidade de incorporar rapida-
mente novas terras. A área moa! dos estabelecimentos agrfcolas 
rrn de 198 milhOes de hectares em 1940, saltando para 365 
milhões em 1980, que representam ainda cerca da metade da 
tlrea liquida disponlvel para a agropecuária. 
O papel da fronteira e do acesso à terra ê fundamen~1l para 
diferenciar o Brasil de seus parceiros latino-americanos, con-
21 
lico e a crise atual oetntua sua ambivaJencia, expondo a vulne-
rab.Udadeda poltnctae a fragllidade da naçao. Paracomprttn-
der o slgnlflcado do Brasil e necessdrio dtflnir sua posicno na 
econoiiÚa-ntundo tapitalisu. 
Capitalismo histórico, ttonomJa-mundo e 
semiperiferia 
Para Wallerstein ( 1983), o capitalismo é antes de tudo unt 
sistema social hi~tórko. Parn compreender suas origens. fun-
cionamento e petSpectivas atuais, precisamos olhar pora a re-
ahdade presente. A prem1ssat fundamental para prcds:lra his-
toricidade do fato gcogrdflcoeasua intel'j>retaÇ3.0. Nao se trota 
aqui de buscar exphc;tç()es universats e a temporais, mas pelo 
contràrio, ddlnlr e rcnfLrmar o cnrO.Lcr hlsl6rico, n!Jo npcnns 
dos processos sociais, mas umbem das formasgeograflcas por 
eles criadas. O Urnsu que aqui senl descrito t uma regi ao his-
loricamentt inscrita na economia-mundo. 
Resgatando a /llstória 
O conce~to de capitalismo histórico baseia-se nas concep-
ç()es de Braudel (1979) acerca da "longa duração" do tempo 
histOrico, rompendo com os limites impostos pela divisAo em 
pcrtodos estanqu~ e isolados. O capitalismo hislOrlco tem a 
sua prOpria din4mlca que, de inicio, se contrapOc à vtsao po-
sllivista de progressoSOC:ial. t'iào se trata de "historlcismo",l.~ .• 
de visão determinista da história, mas de bistorlcldade. Nada 
exlst~ de peculiar no modo capilalista de produzir mercador!-
u que o identifique como um "progresso socbl• em relaçaoaos 
111udos de produÇllo an~riores, nem mullo menos que ele se 
r •!llllc por si próprio. 
A dtnamica do capilulismo histórico se faz attavés de ciclos 
•I• longa du.-..çao de crescimento e recessao. As causas desse 
1••clrilo são objeto de controvérsia. Mas h~ hoje consldcnlvd 
• • odencia de que. pelo menos desde o final do stctdo XVIII, a 
•umoaua-mundo passou porquatrogrand~ Cocfos, com [ases 
olr crescimento (A) e estagnaÇllo {B) denominados ciclo• ou 
• •tttl.ts longas KondrJLiefT( 1935), historiodor russo que pnmel-
''''" ldemiOcou. Suas datas aproximadO$ sao: 
I 
11 
111 
I v 
178~ 
t8H-51 
1890.96 
19+M5 
A 
181().17 
1870.75 
t91+20 
1~67-73 
8 
Uma explicação amplommtc aceita, embora niio dellniuva, 
r.,, Jloza a conttadtçlo entre interesses Imediatos de firmas 
ltttllvlduai~, de um lado, e as necessidades gerais dos negõcu.>s, 
o lo• uutro. Em [ases de crescimento os lucros sdO maiores c:.; 
l1!111a< tendem a sobrclnvestir na produçlo, gerando criStl de 
•HI><f]>nodUÇ<lO. 
AcorrelaÇãOcomamudaoçatecnológkatall.l.Omsctn><IIIO 
IM~ r~ A nos SUtts.)JVOS ciclos corrtspondc. respccuv:. mel .. 
I• ,llllcvoluçao Lndustrtnl (l),àexpoosoodns ferrovias c do slde-
llll~ln (11), da qulmicn e da eletricidade (111), e do setor 1tcro-
,. I>.IC'ial e da eleL~Onlco no ciclo atuo L 
Mos h:i também lmpoo·~11nes corrclat()es polltJcas e espncl-
ol• De acordo com Wallerstein (1979), os quatro ciclos Kon-
do•uerr, quando coloc:ldos em um contexto político, podem 
25 
ser descritos como "dois pares Kondratleffs". O primeiro, c"' 
brindo o ~cuJo XIX. envolve a ascensão e o declfnio da dom~ 
naçJ.o inglesa. e o segundo dtsett\·e wna teruiencla súnilarpara 
os EUA no s«ulo atual, sem que isto represente formas Iguais 
de domlnaçao. 
Quanto oo perlodo amerlor • 1780,1ul pouca evldendo de 
ciclos Mas t posstvd idenliftcar"ondas log!sllcas", de cuca de 
300 :mos. Wallcrstcm reconhece duas: 
c. 10$0 
c. li50 
A 
c. 1~50 
c. 1600 
B 
A pt·imclrn correspondeã ascens.~o e declínio da Europa l'eu· 
dai, e • srgunda cobre a emergencla e crise do cnpltallsmo ogr1· 
colo e mei'CIInttl europeu. de onde emergiu a moderna econc>-
mta mundo. 
A concepção da e-conomia-mundo capJt.atlsl3., enquanto 
unlvtr>O de an:lli>e hlstOrlca e geogranca~mnte determinado, 
rompe com tmpredsOes espaetais de origem poshJVÍ$ta, l.lJS 
como superflde da terra ou espaço terrestre. O ponto de par· 
tida para a conSlruÇllodeste modelo é que a economia-mundo 
consiste essenci.llmtnte tm um único mercado mundial capi-
talista Isto slgnillca nllo apenas que as mert~doruJs são produ-
zidas primordialmente para o mercado e nao pal'l uso, masque 
o desenvolvtmcnto dàS trocas com o exterior e n extstencia de 
um mercado mundial saocondiçOes inerentes aosurgtmento e 
desenvolvimento do modo de produção capilallsta. Wallersteln 
~ cateAórl~oqtJando afirn>J~ que 'o capitalismo foi desde o Inicio 
un1o questM de econornia mundial e nao ele Estlldos-nnçOes" 
(1979:1 9). O vetor dinâmico da economia-mundo esul justa• 
mente: na formaçao e desenvolvimento deste mercado mun· 
dlal, origem e produto do prOprlo capitalismo. 
26 
EnrreLaruo, se existe: apenas um C.mlco mercado mundial~ ele 
<''-IJ assentado em uma muhtplicldode de estados naçionais. 
"Como estrururn forma~ uma economia· mundo é definida 
J><>r uma única divisão do trabalho dentro da qual estão loca-
h<odas múltiplas eutturas• (Wallmttln. 1979:159). 
Este é um segundo elemento na concepçto de Walkrstem, 
l"''tscasocontr.irio ocorre:na um •mptfio.mundo, ou seja. um 
tn1cnso terrltOrlo Sltbmcttdo • um anlco controle polltico. 
O papel do Estado nacional t de disiDrcer, no interesse de 
<IJsscs ou grupos sociais, o functonamcnto do mercado mun-
dial. Quamo mais fone for a motqulnn tStatal, maior a sua ca-
l>.tcldade de influtr no funcionamento do tnercado, em uma 
~-.cola geográfica slgnirtcatlva, que pode extrapolar os limit.es 
<lu .eu território. Assim o Estado moçâo e um Instrumento 
JHtlltkoecconõmlco utilizo cio prlo' dosse~e setorc<dominan· 
1••.,., regionais ou nacionais, part:l monte r parcelas do mercado 
111undíal sob seu con1role, nllo apenns o m<.'rcado de bens e 
pto>dutos,mastambém,e princ•p.tlmcntc,odc força de trah,lho 
F xcetuando a ind uSt rl~lizatAo originAria, onde ns vantagea< 
11 unõmicasdaGra+Breu:anha.em rt'Jaçloastu.st\'eotuaLScom+ 
1•·1tdorcs. permitiam n:latlviz.1r o papel do ESiado. todas as 
tl..-mais industrialt2açoes dHa~ .. tardaas·. como os [srados 
llmdos. Alemanha ejapio, contaram com uma auva polltk:l 
r ..._atai e territonal de supone a çuas empresas '"nacionais• 
O resultado de.stn auva partictp•tAo do Estado na luta entre 
munopóhos Só poden~ ter dcscmboClldo em conllitos abertos. 
·nmo ocorreu nas duas grande~ guerras. de onde emerge a 
t1cgemonia norte-americana ~bre a economia· mundo. A gl~ 
hultzaç:!ododólar,enquantomoeda internacioMI.edospàdrocs 
dr produçao e gestãonone-omcricanos, c.•pressos no rordisn10e 
no wylonsmo, levou n um duplo movimento na economia· 
tnundo. De um lado, o rApido Ct'Cl>timento c expansão da gran-
•lr .:orporaçlo multlnaclonul, cujos interesses definiam um 
••11aço planellirio de atuatllo; de outro a Imensa prollferaç~o 
oh• botados-nacionais, oriundos do processo de dtseolonlução, 
27 
que reronava o t<rrltbrlo em porç<)cs cada wz menores e nda 
vtz malsdlsl:lnt<Sdoconceito "dãssico" de oaÇllo (Hobsbawn, 
1977). 
A dimens4o tcrrlr.orlal da economia-mundo 
Esl:l complexn rode de relações molda uma esll\lrura espa-
Cial que, na conccpçaode Wallers1e10, niloseesgota no modelo 
clássico cenrro/pcriferla porque n econom•a·mundo cnpilolis-
Ul necessita de um setor scmip<rif~rlco. A semiperlfert• ussu· 
me um papel fundamental no funcionamento do economia· 
mundo, nilo tanto econOmico, mas sobretudo politico, favore-
cendo a estabilidade do sistema muncllôll 
"Aexlstencla do terceira categoria significa precisamente que 
o estrnto superior ndo enfrenta a oposiç~o unificada de todos 
os outros porque o estrato intermediário é tanto explorado 
quanto explorador. ~por isto que o papel especlneamente 
econOmico nlo t w Importante, e tem mudado •o longo dos 
dl'ersos estllg•os históricos do sistema mundial moderno• 
(Wallerstein, 1979 21/3). 
Há no conceito de semipelifcrio um aspecto imporwntc: o 
papel do Estado na politluçao do economia 
·o Interesse Imediato e direto do Estado como uma máquioa 
polllica no controle do mercado (interno ou Internacional) t 
maiQr do que nos Estados do core e nos da petiferia,jâ que os 
Es~<~dos semipenftrlcos não podem depender do me r<::~ do pura 
mru<lmízar, a curto prazo. a sua margem de lucro" (Wallerstein, 
1979:72). 
O papel dos fundos públicos em uma economia semlperift-
rica assume papel pecultu, pois o Estado t um instrUmento 
28 
lundamemal no processo de acumulaçao e está presente dire-
t•tncnte tamo como motor do crescimento econômico, como 
''*' !lllvidacte produliV"..t, Mas, o reverso desta moeda também t 
IIIII>Urtante; ao assumir o papel de grande nnandador, o 13sta· 
,j,, ucaba por arca•· com o passivo da economia, comando·se o 
~ 11 \·f'tlor po·rexcelfnclft, cumprindo um pnpcl quehistoricnmen-. 
11 fn1 dos bancos de lnveslime.nw. Na reversdo do odo. \ •tm ll 
I· IM o CMãterambavalente dasemipt.n(er~. poisac:rtseecon6-
tt1lt•' .\S.Su.me o caráter de uma profunda crise. politia 
A -.em i periferia é o slnll!se dns contrudiçôes do capilull•mo 
hi,.Htr-ico dentro de umn mesma cconomlu naciomtl. E o loclt.S 
• l11 ptol'unda heterogeneidade cstn.tural uctunul:>da pelo copi· 
• •ll,mo na sua long3 histbria, do qual o Dmsil é um magntrlco 
nuplo. 
\loL• a ~ria de semiperiferia nao esgou. a especillc.d.•tle 
llmsU como potenda regional É prtclso lustonciLi·la 
I hun via autoritária para a modernld,.dc 
1\ Amêcic.a Lanna t a mais antiga penferia da economJ.:t 
'"""do. Ela é part< <v•ISiitulntt do processo de form>ç3o < 
·I· a.nwolvimemo do sistema capitalista mundial, orientad:l 
do ""'o Inicio da colonlzaçiio, para a pruduçilo t.lc mercadoria• 
''' .1hu valor p:lrll n l'uropa. Partilhncln enu•c Porlugal r r;,p.l· 
"I"' '""formação econOmica foi marcada pelo mercan1illsmo 
1 ·• <ociedade moldada i imagem da lbtria. Seu desenvolvi 
11 ••'tHo ulterior estt'\'C tntlrnameme associado ã din1mica dos 
· • 1'\ttos de ecumuloçno da e.conomta*mundo - pnmcaro a 
' • "' llrcl:lnho e po>teriormente os Es~<~dos Unidos - pM lei· 
l'•llldo da divisAo lnternnclooal do trnbalho como economlus 
'{I'..,IIJdoras de mntélio.s~pri.mas. 
Nu cnLanto, o movimento geral d•economln-mundo n:lodevc 
I· urecer a impon3ncia que tiveram os fatores imemos na 
29 
foonaçao da América Latina. Esta é um produto de uma com· 
plexa interação em que o contexto internacionaJ e a situação 
interna tlveram papéis significativos, cuja import:incio variou 
ao longo do tempo. Ê nes..e semi do que a tarefa de repensar a 
História daAmerica Latinaten1avançado nos1ilumos anos. Sua 
História n3o pode ser descri ~a como um estágio atrasado de 
desenvolvimento, nem como mera extensão dBs met:rópoles 
imperialistas, mas sbn como pane integrante, inseparável e 
espc.cifica do capitalismo. 
Um cato capiwlismo 
O Est11dio Economlco deAmêril;a !.atina (CEPAL, 1951) de 
19t9 marca o nascimento da economia pobtica cepalina, bem 
representada no Brasil por Celso Furtado, delineando com 
clareza a problemática ela especificidade do capitalismo pe1i · 
férlco. O Est11dio, coordenado por Raul Prebisch, pancdacons-
Uittu;.ao de que o cre.c;cimemo da América Latina dependia di-
retamente do setor e.xportudor. que fornecia as divisas nece-s-
sitrias para :t impor•ação de rnanufawrados. Esta estrutura 
cemro-periferta tenderia a se perpetuar, à medida que sua di-
rtâmica era controlada por de.clsõcs tomadas no centro e se 
ace.ntuaria com a deterioração dos termos de troca. Nesse con-
ll:xLo, somem e a indusu·ializaçõ.o nacional conseguiria romper 
o drculo vicioso do subdesenvolvimento. 
A incapacidade da indusulali•açao por substituição de 
imponações dt s~ ~nsLilu-lr como redenção nacional levou à 
fónnulaçáo de teorias quebuscnvaru compre•oMr as raizes do 
atraso nas relações de dependéncía enue centro e pcdfcria. Uma 
ctestas visões e o conceito de Fraok (196 7) de "desenvolvimen-
to do subdesenvolvimento~ que, tratando a questão num nive.l 
geral. não soluciona a problem~Lica lnlino-americana e, nem, 
multo menos, a braslleira. como ele próprio reconheceu alguns 
30 
•H•os mais tarde. Por outro Indo, a formulaçao de F.H. Cardoso 
r E. Falleuo (1970) contribuiu para o aprofundamento cntíco 
1ln conceito de dependência. Ela coloca a quest~o no campo da 
lorn1ação c do desenvolvimento do modo de produção capito· 
lista na América latina e imroduz a ideia de que •:o dlni!Jnica 
~'ciallatin~americana é detenninada., em primeira lnsutncia, 
1m r fatOres imeotos e, em Oltitnn instância, por ftnores exter-
nos, a parlir do momento em que se estabeleceu o Estado 
N~1cional". 
Ernbora aceitando as coíocaÇócs de Cardoso e Falletto, um 
Ml upo de econo1nistas brasileiros critica a sua pcdodização que 
1 onsidera presa às hipóteses cepallnas. Para superar estallmi· 
lillv~io hâ que pensar a li.istória latlno-aroerlcana como :1 forma· 
\f\O e o desenvolvimento de um cena capitalismo, um cnpltn-
h·.mo que nasceu tardiamente (Mello,l982). Sua origem <:SI á 
no nntlgo slstelna colonial, cresceu como economia mercanul 
11ucional e a generalização posterior de relações de trabalho 
llt,~alariadas no setor agn'irio·exportador foi desacompanhada 
• k forças produtivas especificas do capitalismo, sõ consolida· 
1 hlS mais tarde. corn a industrialização. Esta, por sua vez, teve 
d1 1.15 restrições básicas. Primeiro. dependia diretamente doscLor 
•xportador para sua acumulação e, segundo, t1 América l.atllla 
ln~ressa no mercado mundial no momentO em que esse j:l em 
dominado por grandes empresas. 
A história do capitalismo tardio ru1 América Latina, cuja 
t•~prcssão mais elaborada e o Brasil, rulo t um caso ônico, nem 
l••mpouco a realítaçao mecanlca de etapas pré-fixadas. ~a 
hhtôria do capitalismo na América Latina que, reversamentc, 
f t:unbém a história da própria economia-mundo, como uma 
«l1· suas parcelas e fonnns de sustcntaç_~o. 
31 
Um urto autoricnrlsmo 
A tentativa de comprttnder o populismo, como forma de 
ex e releio do poderesUltal, parece constituir um morco na análise 
do carát.er autOriU\rio docaptutUsmo tardio na Amtrica latina. 
A lnduwializat;<lo e a emerg~ncia do proletariado urbano co-
locaram em ><tque as estruturas pollticas herdadas do passado 
agr.lri<K.xportsdor, alribulndo ao Estado novo papel na rego-
laçao das relações entre capat.al e trabalho. O Estado cng;apu 
amplos oroegmentos soct .. is em sua proposta de dcsenvolvimmto 
MC!ona~ ab'avts de uma rdaÇ<Io d!rela entre Uderes carismáticos 
e o •povo•, sem a imermtdaaçAo de estruturas pollticas de repre-
sem ação (O'Donnell, 1973; Germnni, 1977; WeiTort, 1978). 
Acrise da alternativa populista desnudou ro e~ncla coercl-
tlv!l do sistema poluico e a natureza do Estado-nnçtlo latino-
amer1cano.lnúmerosestudos revelaram que seus atributos não 
se restringem à delimilllç~ de um mercado lntemo para a 
burguesia nascente, mas avnoçam na dire~ de Impor ll50d-
edade a sua Imagem de nnçao. Nesse proce550 Oca Oagrante 
uma componente basalar da hlstóna politica da Amtriea Lati-
no: a construção do E>tado à frente da cons~ao da nação. 
Mas o nutoritarismo n.o continem.e tem ra1zes onLtgas. En~ 
<tmanto na maioria dos patses europeus a oa·g.anl>~açno do Esta· 
do foi posterior à exlstencla de uma sociedade mais ou menos 
organizada, na Amtrlca Latina sucedeu o contrArio. A presença 
do aparato mdit.ar·relf&toso-burocrático, por um lodo.gllraolia 
o monopóUo do comtrcio; por outrO, corurolava a con«SSàO 
de terras e ltgitimavao trabalho=·oeselVIL bases do poder 
locnl dos grnndcs senhores nas coiOnias A consUtulçao de 
Estudos independentes,ntravtsda conquist.a deste aparato por 
interesses oligárquicos e merc::rn~is autóCLones, noo buscava a 
deOnlçM de mercados nacionais e sim viabiliur a anltulação 
com a C r~· Bretanha, sem romper com a estrutuno social hierár· 
quica e autoritária que lhe dava suswttaç~o. 
32 
No Brasil, .sta sltuaçOo assumiu contornos peculÍJIRS. E& 
•lll>nto o restante da Amtrlca Latina foi [~tado pela cfis. 
put> entre "caudilhos·. no Brasil foi mantida a unidade polilica 
.. u.wes do pacto escrnvocrata. que superou asdlvergenclasenue 
"' diversas oligarquias locais e definiu um papel original ao 
)11aptrio: gara11t1r a reproduçfto do escnovlsmo, o despeito das 
111 "'soes britilnlcas para cllmin:l·lo. 
A manutençlo do prec~rlo equilibno entre "' forÇAs do 
mercado mundial e os Interesses dos grupos dornanantes na-
'aunalS conferiu alribulç6e• crescentes ao Estado, quea:.sumiu 
11m papel decisivo no momento da mdustrialu:aç3o. Ao longo 
al.-te processo, cresceu e consolidou·se uma podereS<~ buro-
' , .ttla estatal, exercendo o dominat;<lo poliúeasobrt! osotieda-
•k civil pouco organizada e desprovida de canais de aepa esen· 
hlçl'to. Nesta burocracia, ns forças Armadas tl!m pape) marcon· 
u·. embora com nlveis diferentes de profaS!.IonBhz:açao A mo-
• I~: mização conservadora t a via lnlincramericom.l po•ta a mo-
ti• midade, onde o Estado negocia com grupo> pravados a ma· 
nntcnÇ<Io de pnvlltgios e a sua lndusao ou e~duS)o na •pro-
I"'·'Ç<Io da roisa púbhc:a, em troca do apoio ao projeto tle mo-
ai r rniz.aÇào de clma pau baixo. 
O Brasil é tmpar pano e>cemplificar eslll via, tendo Inclusive 
j>Osto em prática um proJeto para a modemldadeg~rldo ~los 
uuhtarcs. Sua bandc~ra traz o lema posUivisltl - Ordfm e 
l'rogrcsso -que trnduz o defe.<a de uma organilaçAo haerár· 
quica da sociedade. acenando com a construçtlo futura da na-
~;lO. Aconsuu't;<!o da naÇ<Io, como ideolog~a polltica do Esllldo-
n.1Ç<IO moderno, histot1eamente construid:o e que envolve Ulll3 
tmagem idt31 de mmo a sociedade deve se organlz.ar, moslnt 
" predomlnio idcolôgico do "individuo coletivo• sobre o da 
·coleção de indlviduos·, e favore~e a autoridade ncl111n da SOo 
lldaliedade (Reis, 1983), 
O reverso da moeda se manifesta na distancia entre as ins-
tlluações oficiais e a soclednde que busca seus próprios camí· 
nhos, muitas vezes 11 sombra da legalidade. O ecleusmo sobre· 
33 
pOe-se a uma Ideologia consistente, o pragmatismo orlenUI a 
oomadá de decisões pohticas, e os antecedentes históricos llbe-
rnlss~o pondcr~veis, resultando em poderosos constrangimen· 
tos, tanto para o pleno autoritarismo, como para a democracia 
(Lrunounlcr, 1988). Em suma, ~.ambtm no pl•no poUUco e 
Ideológico se configura a ombivali!ncia da semtpen!eria 
Uma cer!a territorialidade 
O discurso daomegraçao nocional, que assume fonna elabo-
rado no onlclo dos anos 70, ajudo a desvendar o papcl da ter-
ntorialidade nn construç!o do autoritarismo br~~sile>ro. A In· 
corporaçao de "espaços v~zios" ao domlnlo da naç~o foi pane 
essencial do projeto gtopolltico de modemlzaçAo e de ascen· 
~o a pot~ncia regional, e revela um novo significado do terrl· 
tório na med~'ç!o entre Estado e sociedade. Ele é um recurso 
slmbóbco de formaç!o do ondoviduo coletivo, eon detrimenlo 
de un1a comunidade nacional de cidadaos 
A integraçao, como ideologia territorial, substituiu o di<cur· 
soda unidade nacional qut historicamente serviu para forUI· 
lecer a consrruçoo do Estado. O rowlo de separatismo, como 
forma de sufocar movlmtntoS de corues1açJo pollóCll, foi ut> 
Uzado largamente no Brasil. até os pnmOrdlos da indusuioll· 
zaÇj!o. Na verdade. a pollllca do território pt·eccdeu o território 
dn polillca nu origem do Es1udo brasileiro, que herdou o~ en· 
cargos de manttr os ext<n<Os limites eswbeltcidos pelo colo-
nizador por1uguts. 
No indef)(ndfncia, ao con1n1.no da Amtrlca espanhola que 
se fragmentou em uma multiplicidade de n:pflblicas, a mona r· 
quiahrasllelra nl!O só manteve a unidade polltlcn como gnran-
du a integrldadeterritonol da nntlga colOnia. O lrnpfrio do Brasil 
herdou e reproduziu os trnçosconstituintesdoeslado patnmo-
nial portugues, onde o rei, <ltt>ado aoma de todos os sudilos, 
era senhor do maior patrimOnlo de terras do reino, governando 
34 
, ""'um corpo de funcionãrios recrutados segundo sua exdu· 
1ivn escolha e encarregados de manter e ampliar os seus dom!· 
'""'• Domínios em que mal se distinguia o bem publico do bem 
I' lfllcular, privauvo do rei (Faoro, 1959). 
O controle de posições eslr.lltglcas como ln.strumento de 
•i•«>priaç!o do terrtt6rlo esú na rai% da fonnaçAo do geopoll· 
ti<,, brasileira. Geopolitica de lógtca sempre milHar, que esteve 
!'"''ente na estmttgla de conqulsla e defesa do território da 
, ••lt1nia pela Coroa portuguesa por tn!s stcuiO!ó, teve contlnui-
1 "'''nas disputas f)(IO controle das gnndes b.tcia~ do Pnlta e 
I<> Amazonas dura me o Império. aptlmorou-.c com a defini-
'ti'll) dos limites territoriais na virada do século t:, finalmente. se 
, o\ll<Oiidou na cons1 ruç!o de Bmsllla como base logisoicn par~~ 
" n~upação definlllvn do interior 
1\o contrãno d.' concepçlo de Tumcr, que via n grande froll-
t<'lr:l como um elemen1o cluve nn constro~ dJ democrocia 
omrri<:llna, no Brasil, da foi assoctada ao au1on1ao ,;mo (V <lho, 
I '179). A disponibilidade de terra> favoreceu os pano<enlre"' 
"ll~tnrqulas, permitindo que novos lntifímdios fo\srm criados 
1·m ameaçar o Lerritório dos antigos. incorpornndo novns á r cus 
'" domiolo agro mercantil (&ckcr, 1982). A conquista do ser· 
uu se constltutu como s!mbolo paro esaender •ordem e Pro-
l, ,.,o;o• às "terras sem lei e unprodutms",justifiC3ndo os for 
"'"'violentas e predatórias de ~un ocupaçao. 
Em c0 ntrnpartlda, o sertao t palco histórico de lulas tlc rc· 
•hl~ncia de aldeamentos indígenas, quilombos de escravos 
luy,ldos e territórios da pobreza. Forom dizimados. Noen1an1o, 
• ce>nsciencia de que a terrltoriahdadet peça fundamental para 
• < onquista da odadania e a construç!o da nação perpassa os 
tuovimentos soclnls e polilicos do Brasil alua!. 
Fm suma, a construção do estado e do território li frente da 
'''"struç!o da naçao t marca da via autoriu\ria brasileira paro 
,, tnodemidade. O Brasil não me dentro de si apen•soconlron-
1<1 mtte o None e o Sul; ttazalgo mois: umalnc6gnila rep~ 
l.•<la pcla AmazOnia, urna das OlLimas fronteiras do planeta. 
35 
EsTE LIVRO 
Este livro tem uma tarefacumaambição. A tarefa ~descrever 
e aoaJisar o processo de inserção do Brasil na economia-mun-
do cap!talis<a, desde suas origens como colônia portuguesa alé 
sua condi.çM atual de pottncia regionaL Trata·se de um proce.s-
soque manifesta um duplo movimento: de um lado os eft.ltos 
da dinâmica do siSIC.ma capitalista mundíal sobre. sua forma· 
çllo só<:io-espacial e de out.ro as componentes locais <[Ue infiu· 
em nes1.a fonnação e no deserilio das suas regiOes. A ambiçao 
é contribuir teoricamente para elucidar o papel do setor semi· 
periférico. onde os fatores politicos são dec.isivos, nõ'lestabili-
dade e trnjctóriada e.o;u:·uturação triâdica da economia-mundo. 
A evoluç~o histórica elo BrnsH e a construção do território e 
do estado à frente da nação são tral.ados Inicialmente (Cap. 2). 
A seguir detalha .. se his10ricamcnte o pi'OCCSSO de constituição 
das regHles brasileiras como resultado da expansilO seletiva da 
economia-mund<> (Cap. 3). A ascensão do Brasil à potência 
rcgiorud é analisada como produto das transformaç~ recen· 
LeS do sistema capibtlisUt combinad.ls com um projeto geopo-
lítico nacional (Cap. 4). O legado da modernizaÇão conserva· 
dora e examinado • segoir(Cap. 5) e as dimensões de sua crise 
c os dilemas atuais do Brasil na economiá·mundosãoobjeto de 
renexao no c~pitulo final (Cap. 6). Em un1a curta conclusão 
indaga-se como os desafios ' 'lvidos pelo Brasil, enquanto semi· 
periferia e pot!ncia regional, podem afetar a crise/reestrur:ura-
ç.ãa do sistema capitalista m<tndial. 
36 
2 
A INCORPORAÇÃO DO BRASIL NA EcoNOMJA·MUNDo: 
DA COLONIA A INDUSTRIAUZAÇÃO NACIONAL 
Ao longa das diferentes fases da incorporação do Brasil na 
rt:onomia·mundo, a sua economia po11tica apresentou uts 
t>adtões: o de coJOnia, o de impéclo mercantil e ode capitalismo 
industrial periférico. Estes tres padrões se estendem desde os 
primeiros assentamentos portugueses ate a fonnaçao do Esta· 
do moderno e a industrialização. 56 no final dos anos 60, o 
Brasil emergiu como semiperiferla na economia· mundo, trall.Y 
formando-s<> numo potência regional na América do SuL O 
<1uadro de referência utilizado para examinar a evoluç.llo lús· 
tõrtca brasileira c<>m relaç~o à economi•·mundo é o dos ondas 
longas da economia·mundo proposto por l<.ondrollell, com 
modificações face às condições internas. {Tabdn 1.1) 
O perlodo colonial foi camcteri:ado pela implnntaçao de 
rmnas merranüs européias bnscad"-' no uubolho escr.wo c na 
grande extensão terrhor1al. Foi seguido por l'"' longo j>erlodo 
de mercantilismo escravocrata nacional (1822·1800) sob n 
forma politica de um ltnp~rio. Esta forma polttica conseguiu 
manter unidas sob uma autoridade ünlca as diversas c frdgeis 
economias regionais. Império, Cllfé c escravidão foram traços 
37 
TABElA 2.1 
Matrtt tSpaÇ(>-!tmporal da tconomia·mundo 
(Md(.ai 1<.41ftdJ r.Urfl 
I A·l71l0190· 1810117 
• · 1810117 dii'Mt'l 
CORE 
Gr:..Omulu como • 'Vhtin.&domunJu· tum• 
m de: L=vrc O)lotn:ic 
~-~....-... -- l.'wdo6 t- dl Akllurll» Coon1lb •nnr -Dtm!tada!Jenunha,~dolml*"'olkid-
nlc:o. CocJ"Jllmlc;io dll 1•~ «<nnOIIK• 
llO\C f3t;~dos Uoldos. 
Es•~os Unidos como a tmlor pottnc't11. mv.ndial, 
tanto m1liU!r, q1.1••n.to ro:K~Om.k11. Nov111 era de 
livre cumt:rdo. 
Decllmo dos brados Lltlld~ ctn rl.lbi,'IIQ i Euro-
pa e ao japdO. Comcb atnaaUld\lbla n~.~~:lrc:ar 
38 
TABELA 2.1(conL) 
Ma!Tix espaço-umparal dil economla·mundil 
lnldo d11 I.:ICC!ttJ;So ~letlv11 n11 
"•t~trlca do Nonc. c na Europa 
Cmtr.l 
Rtafpntu<*) <b Klldpcr1Cmoa.. 
1urm~ <MJ dos &&aOOs Uni-
doia. undic.ç~o cb Altm.lnh..A e ·--·-Drdno da t11s:sa ~:tb &topa -
A.cen~ d.l e..,~ do lole.., 
"t,utn.a (r.~".lngll$.W da OP'f.P 
l8:lptrlo lbtnco QO "Ncwo Mundo ... Ci!loob(M 
~ 8tMiU, pbnta(OtStsaamttidt 
RtcNcou de pile~ tSe c:.na na Amérlc:;ll.atj. 
na e erudmtiMO 1t0 Caribc. fOfulccirncn~a do 
connolc ponu.ptl. conidl do ouro no Bl'tiiL 
Ocn->lonluc;to e comrole lnformlll na Alntrlel 
l.annll Abn1ut1 dos ponos no Bttill. 
Elcf*!•MO dlllnOiltncta btltinica 11~ Ammc.a Lati• 
1111. lnd'-'llltlldtndD do lmpetio Bmildro.as.c:al-
110 d,. cconoml• mcrantlkscnvocr.n~ btier 
da nooft 
·~· ftC111......Vrbu n.a Annb Utltu (riK b KOftolllll& ~ C' rmmordD do 
OadtkOIO ntuwn.al "o ftni,;( 
\~.ib\IIIU ... att ckt 1•*'1"''"'1./ln na Amttla l.IIUn• 
"o llt11~1l, l)()lt,rt <x.-l•l•udot inkwcb pLanll,. 
4:11'-ikl C'M+IIIi) 
CKI( lmt 1110 "' illlbll~w d.a ,f\llltllc.a l..111\t1.t No 
61-.1'\1 ,(11'~1!1\1'11\il dllllllhl\11 illlltU\'fll) ltô1'll!lld.i 
11!1) 11111t 11 CI li< (k~ dNICrl\<cll\'"htW-nllt l'.aduaal 
39 
marcant~ da ronnação do Estado brastleiro. A era da indusul-
al~o nacional começou no Rnal do stculo XIX com a <eo-
nomla exportadora-capitalista. eresultandonodcsmvoMmento 
nacional do Segundo Pós-Guem. Es!e opltulo descreve~ 
processo. A posição do Brasil como pottncla regional str4 
analisada em ourro capllulo. 
O JICrlod o colonial 
A ocupaÇio e o povoamento do ~em til rio que constitwria o 
Brosll n2o t seru\o wn eplsodto do amplo processo devcpanSllo 
maritlmo resuhan1<: do desenvolvimento das empresas comer-
coaiseuroptias. Comodecorrtndada busca de novas rotas paro 
o Oriente pelos países ibéricos - o Espanha atravts do Oci· 
dente e Portugal contornando a Ar rica -o territllrio que cons-
lltul hoje o Brasil precedeu a cria1·ao da prOprla coiOnia. O Tra· 
tudo de Tordcsllhas, firmado emre os dois palses em 1494, 
dividia todo o mundo a ser descoberto entre as coroas de Por· 
tugal e Espanha, e eSiabeleeia que todas as terras a leste do 
Meridiano de 50 graus oeste pemncerbm a Portugal. 
Ddlniio·se. assim, o pnari, a coiOnlll por um lerrilóno corres-
pondente a apenas '10% da stU ttta attUI e, amda assim, imen· 
so. A deresa do ltrritOrio e sua expanSllo nao decorreu de con-
quista milhar. Foi um processo de posse lento e complexo em 
qut pesou a estra~gia portuguesa, rovorecida pela lulll pelo 
poder hegemOnico entre holande.<es, frnnetsese Ingleses, e pela 
uni~o com a Espanha entre 1580 e IMO. 
40 
I mprundimento mercantil e defesa da costa atlDntlca 
Inicialmente os porwguests comcrciamm madeiras coran-
lt' -o pau-brasU. por ex~mplo, que posreriormcntc daria o 
1111me à nova colonia e peles com os lndlos em mode<tn< fcloo-
l lu., ao longo do litoral. 
A colonização do Ornsll se nprc.senlou ;~os ITH)nnrra.:; porcu-
fltlcses a post<rlol'l, devido 11 prusao dal iolandn, Gr~ lll'ctonhn 
o• I rança sobre o território, logo depois da perda pnru o> hol11n· 
dC'~5 da maioria dos posloS comercJats que Portug.ll unhll na 
A"a e no Afnca; ao contrário do que acontecia nos temtor1M 
r •panhoos, a populaçto nauva era rtlatovaomnt< t.<e~<<.1 O, 
l"'nugueses ru1o podoam, ponanto. se bosou no trJb.olho no 
uvo, e no inicio também nâo admm.m metais. Fot tnt~o ncu::\oo 
!llltto organizar a produçlo. t a.s plantalions dt cama--de ,tçucdr 
turnaram-sea basedaeconomlaeddes.colonials. Es~cnoprc 
rudimento, ate entOO intdito, dtveu•St â experi~ndJ prtvlol do 
l'ortugal nas ilhas de Sdo Tom~ e Mudei ta, que fomenmu um.o 
lndUstria de equipamentos paro engenhos açuCilrtlmo., bl•m 
'lllno à orgamzaçMconoerclal dos Oamengos quecontrolnvonn 
uon mercado expressivo na Europa Conúnental. 
O Brasil colonial foi. assim, organiz.ado como uma emp1 t\J 
mmercial result:~nlt da aliança entre a burgutso~ mercanul 
(onclusivebolandesa) e a nobreza No Inicio da colonio.çd<> ,, 
lrg151açao rdativa à propritdade da terra esmva b>.<ta<l.l na 
politica rural de Portugal A tem era vista como parte do p.1 
tromonio pessoal do rei, como domlnío da Coroa, e"" aqui· 
•Içao decorria de umn doaçto pessoal. segundo os mérllo' dos 
pretendentes e os servi~os por eles prestados â Coroa 
Uma esrraotgia de distrlbuoçno controlada da term envolveu 
cmprrendedores privlldos na colonização do terrMrlo >cno ônus 
Jl.ll'a a Coroa, as.<egurnndo a ocupaçao e o comrok dl fach:odn 
costeira oriental Através da dlvos:.\o gcomtnica da costa atL\n~ca 
tm Capitanias Hereduirias ( 1530). a colonizaç;Jo foi micoada sJ. 
41 
multaneamente em vã rios pontos do território. A terra foi doada 
a do nau! rios com o objetivo de promover a agricultura, sobre-
tudo a da cana-de-açucar. Eles tinham direitossobcr•nos e po-
diam repartiras terras a moradores capazes de explorá-ias (ses-
marias). A divisão respeitou a Unhado Tratado de Tordesilhas, 
embora os limites entre as capitanias fossem desconhecidos. 
Colocou-se, entflo, o problema da mão-de-obra e do tndio, 
foco de uma poiltica amblgua (ace ao conflito eorre a p<>swra 
dn Coroa. de cristiani:zaçâo dos Lndios para integrá-los no 
p<>voameruo. e os interesses dos colonosem escravlú-los. A 
Carta Rtgia de 1570 estabclecéu então que os lndios só podiam 
seraprisionados por"guerra justa". e face á dificuldade de mao-
de-obra recorreu-se ao trafico de escravos africanos, financia-
do em grande J><lne pelos holandeses. 
Pclo fato de a terra não ser toda utilizada para fins comere~ 
ais, os próprietâriospodiam manter um certo nílmerodeacren· 
datA rios e meeiros que moravam nas áreas menos fê.rLeis de 
suas propriedodes dedicando-se à economia desubsislénda e 
eventualmente trabalhando na pllllltation. Assim, apesar de ser 
o lucro o motivo princjpal da econotnia. o conLro1e sobre os 
escravos e homens livres e sobre a terra era. mais importante 
parn dennir o starus social do proier:lrio do que a acumulaçtlo 
de riqueza (Viottl da Costa, 1977). 
O desenvolvimento de outros setores da economia. não hn· 
plicou a modi~ca~o da polltica agrária c do trabalho, rlpica 
das áreas C<tnavicirns. Os pressupostos que guiaram essa poll-
ticn no stculo XVI sobreviveram até o se.cu[o XIX. Se essa es-
tratégia nilo r.rouxe a ptOS!X'ridade econômica almejada, em 
contrapartida ela lançou as bases da estrutura econ()mica. social 
e polltiea da eolõnia, da ocupa~o efetiva do território contra 
ameaças externas, t da interiorizaçao do povoamento. 
As plantalions litorâneas eram as células fundameruais da 
estrutura econômica e social da colOnia. Dal parou a exp;lns!l.o 
gradativa das fazendas de gado !"'lO sertão para abastecer em 
couro e animais de trabalho as zonas canavieiras. No Litoral 
42 
none, o RioAmazoms foi estratégico. por sua extensão c ampla 
nnvegabilidade, atê 2.000 km no interior em meio :1 lloresta 
equatorial. Duran~e a união das Coroas de Porwgai e Espanhll 
( 15B0-1640), holandeses, franceses e ingleses trataram de ocu-
par mill1armente esta área (1580-1640). Para defender a Bacia 
Amazônica, as formas iniciJlis de ocupação foram pequenos for-
rcs,sendo o prbneitodelesna foz do Amazonas. en> Belém(l616). 
Para assegurar a ocupação a longo prazo, bem como • paci-
r.caç,;o e leal<.lade das tribos abongenes conna os hol•ndcses, 
Ingleses e franceses, os portugLLcses resolveram dlvidír a bacia 
entre ordens religiosas catOllcas. Seguiram assim os jesultas 
espanhóis, que jã b.aviam est;>belecido um verdadeiro cordão 
estratégico ininlcrrupto de tnissões jesuisticas no coraçJo do 
continente. do Prata ao AhoAmazonas. no stculo XVI e primei· 
ra metade do XVU (Pradojr., 1945a). (Fig. 2.1) 
E.xpansão territorial para além de Tordesilhas 
Após a separação das duas Coroas (16'lil), a colonização 
ponuguesa em pouco mais de um stcL~O inv~diu áreas que 
pertenciam :i Espanha e ocupou o lcrrilórloqueé hoje o llrus1l. 
O rompimento da linha deTordesilhas Lornou-se. para o me-
trópole, um objetivo, e n!lo apenas uma conseqüencia da dc.fesa 
do llmitório. 
A expulsAo dos holandeses do nordeste, onde permanece-
ram de 1630- l65q ,levou a quebra do monopOlio ponugues na 
produção de cana-de-aç(•car, n11 medlda cn1 que<>< hlli.tndi:bCS 
desenvolveram alavourn nas Antilhas. Arruinado c desfalcado 
nas suas colônias no Oriente t de !>U:l marit\1\~1, PortugaJ tor-
nou-se potencia secundária, lnrga•ncnte dependente d<J Ingla-
terra que se afinnava no contexto imemacional. O Urustl pas· 
sou a ser sua última possessão ulu·amarin:1 vaUosa, e a cxtens!o 
43 
I 
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• : 
• •• ,. 
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• •!•~n ..ona"".u 
• fottn.......,. .. , 
- iloii.S,. ··-·lllltU.I 
·- l.t.o iMo M •111'1 ' -+- 1'111'U.0 H '- IUII'OIIIto 
Fig•ra 2.1 Controle do território no perlodo colonial. 
(Fome: Adaptado de Albuquerque er alli, 1980) 
e o controle terrilorial da coiOnia tornaram-se decisivos para a 
recupernçao econOrnlca e a afinnaçao do Estado portugues 
centralizado. 
A ocupação da terra corno base do direito sobre sua posse, 
isto é, o direito de facto, foi a prãtlca estratégíca bãsica na apro-
priaç1o do tt.rrltorio para além dos linlitcs jurtdicos do Tratado 
44 
de TordesUhas, sendo posteriormente reconhecida como um 
l>rinciplo legal. Essa prâtlca se lezsobv~rtas formas, sobretudo 
no interior e nas bacias do Amazonas c do Prara, estratégkas 
pd a navegaçao e por sua posiçao nos extremos da colônia. 
O maior impulso para a expansão territorial decorreu sobre-
I udo da de-scoberta do 011ro ( 1690) no phwaho do 1J1nsil Cen-
1 ml. O ouro se tomou a base econômica da coiOnia nté meados 
do século XVUl, * medida que a economia nçucarcira decola 
r"ce à concorrencia das Antilhas. A descoberta <l<> ouro provo-
cou um afluxo de imigramcs da metrópole, grande mobilidade 
In tema e wn msl> gigan1escoem alguns decênios, cobrindo unta 
~\rea imensa no centroeoesledo :~ tua) lerrilôrio bmslldm(~Unas 
< óerais, Goi*s e Mato Grosso). Caminhos de gado c tropn> de 
mulas estabeleceram-se para 3.báSltt.."Cr os J>l'imdros cC:nti'OS 
mineradores, constituindo-se nos prinwlros eixo~ dti ltltcgra· 
11>0 interna da colônia. 
Em conseqüência da mineraç.ão, deslocou~se o eixo econó· 
mico parao centro-sul e com ele setranslerlu n cnpllal dn llnhla 
para o Rio d~Janeiro (1763). Entrewnto, o ddo do ouro e 
diamantes, embora Intenso, foi breve. Esgotou-se no Ollln>n 
quartel do século XVJJI, inclusive pela pressão do, impo~tos 
robrados pela Coroa, que resultou no primcil·o, mas fmcassn 
• lo, movimento pela independência: a lnconOdéncb de Mm1os 
GeraiS em 1792. 
No vale do Amazonas, a Coroa estimulou a ação das missões. 
que se torMraln as maiores exportadoras das "drog~s" (cone-
In, cravo, snlsa-parrilha, C<\C<1U nnlivo), além deproduiirern :lll-
mcntos para asubsistencia e deterem o monopólio sobre a m~o­
dc-obra indtgena. Fort.esemissionários penetraram pror>IIIJn-
Jnente no terrilôrio amazõnicoasse:gur-.rndoa futurasobC111 1\la 
de Portugal numa área imensa~ ainda que com fmca busc cco-
llômica e esparsamente povoada. 
No extremo sul.em fins do século XVII. um grande v~wode 
1>oder existia enlre os espanhóis sediados em Buenos Aires, na 
~mbocadura do Rio do Prata, e a ocupação portuguesa que se 
45 
<stcndia até o pantlelo de 26• S. A esuntêgla lusa Leve dupla 
face. A fuce agressiva, correspondente~ implantaçAo de uma 
guarnição militar na mttrgem norte do Rio da Prata, bem de-
fronte do porto de Duenos Aires, criando a Colônia do Sacra-
mento, em 1689, que foi causa de mais de um sl!culo de guerra. 
Tratava-se de interesses sobretudo ingleses com vistas ao con-
trole do comércio de prata. couro o g.tdo na Bacia do Pr.wL A 
fase pactlka corrospondeu à colonizaçao dirigida peb metr~ 
pole que transferiu excedentes populacionais pobres dos Açe>-
rcs, instalando cerc• de 1.000 casais em tomo de Porto Alegre 
e em Santa Caminn (1747). Após o paz {1777), a terra foi 
dJsuibUida em larga escala a militares e cavaleiros no atual Rh> 
Grande do Sul como forma de consolidar a posse portuguesa 
dando origem a gntndos latiftindtos pastoris: as ~nelas. F~r­
mou~se. assim, ~tmultaneament.e.. a soberania ponuguc:sa e a 
base cconOmico dn região que, já em 1780. exportava charque 
para o Rio de j aneiro e para Havana. 
O rápido movimento da mincraçM c a lema c.xpanSJ\o das 
fazendas e dos caminhos de gado, a pos>e de jacw ao longo das 
bacias consolidaram e expand1ram a ocupação do temtOrlo 
multo altm dos hmu.es dt JIIT<Iixados pelo Tmado de Torde-
•illtns. Ageopolitica da metrópole mo.rrou·se. assim, acenado .. 
Em 1750, o Tratado de Madti tslllbcleccndo pela primeira vez 
as linhas divisõl'ias entre os dominios de Portugal e Esponha, 
adotando como cri tê do o urls possidttls,lsto é, o reconhecimen-
to do direito de posse a partir do efetivo povoamento e c.xplo-
nrçao da terra. legh•mou-se, ass1m, a apropdaçao do território 
CUJOS limites perroanecemgrosseuumcnte os mesmos de hOJ<-
46 
r omtrcio colonial 
Acxponaçao de produtos tropicais e metais preciosos para 
" mercado internacional, bem como o tr~Oco de escravos, por 
\1'"' mar1tima, cons.thulram elementos essenciais do comércio 
, nlonial. Emboro Portugal e negociantes portugueses preten 
oi•· >Sem dominar o comtrdoextenor, na verdade. a metrópolt 
l<>t ~empre um entreposto dos produtos brasileiros para outras 
pmenclas europl!ias A produção em surto>. comandado$ ~la 
"'cllação do merendo mundial, era totalmente exportada • 
•lgmncou uma contrlbuiç;lo substancial do Bras1l para a ncu-
mulaç;lo no centro hegemOnico da economia-mundo. 
Aú mt.1dosdo século XVIl, o Norde<te, a r<gJAoem tomo da 
t ·•Pil4lnia de: Pernambuco -se wmou o ma1or prochuor mun--
tltal de açúcar O comtrc10 do açúcar, contudo. era dominado 
pelos lwlandeses ql.le controlavam o seu I ransponc, recolhiam 
,, produto em Usbon, o reHnavam e o comcrda.liz~1Vl1n\ nn Eu· 
"'1'3· N;\ segunda meto de do século XVII, race :i ascen!><lo da 
t•rodução de cana-de-açC!car nas Antilhas, as plantaftons cano-
vu:lraS no Brasiltnl.mnam numa longac:riseque.sees~endtu :lllt 
n stculo XIX. 
Our.Jme o sêculo XVU, o B111Sil foi também o maior produtor 
mundial de ouro. A exportaçGo alcançou seu pon10 mAximo em 
•orno de 1760, quando aUngiu 2,5 milhoes de libl-as, mas tlr 
dl110u nlpido, e em 1780 não alcançava um milhão de llbr.•s 
(I· urtado, 1959). O ciclo do ouro contnbuiu, em eSSénc1a, para 
u desenvolvimento manufature.iro e financeiro da lnglatcrnt, 
uma vez que Ponugal constituía ment anlculaçào, embora a 
lundnmental, da expansao da economia inglesa (Manchester, 
1973). Acordos comcrcinis(l642-51-6 1) estabeleceram privi-
léQtOS para a Grâ Brewnha que. em troca, dcfendia as pOS>O" 
...Xs lusas,garanundo a sobreviv!nciade Portugal como pottn-
c•• colonial O m~ado de Methuen (1703) deu continmdade á 
•= aliança, permitindo à Gil\-Bretanha o controle do comtr-
Um pequeno comercio Interno também se desenvolvia, en-
volvendo dois setores. Um setor, estreitamente dependente do 
comércio exterior, redistribufa as mercadorias locais e impor-
tadas. O outro garantia o abastecimento dos grandes centros 
urbanos Utontneos em gado, por via terrestre, e produtos agrl-
colas, por uma navega~o de cabolagcm, que conectava os n(l. 
cleosdispersos ao longo da COSia. O comercio exremoe Interno 
foram essenciais parao desenvolvimento da burguesia mercantil 
urbana -pequenos comerciantes luso-brasileiros, grandes 
comerciante.s e traficantes portugueses -e o surgimento de 
um interesse local, genne de um interesse nacional. 
Estrutura fundiària, social e espada! 
A propriedade mono produtora escravista de grande escala 
roi a célula de todaaestrutumcolonial determinando o conjun-
to das rt!laç6es sociais e a exploração exLC:nsivn e especuladora 
dos recursos naturais. neproduzlndo-se no tempo e no espaço, 
a grande propriedade teve seus traços mais acentuados naplan-
tat.lon tlçucareilll, mas estes eslavam presentes tambêm na fa-
zenda de gado, na mineraÇão e mesmo no se1or e><Lnttívo do 
Vale Amazônico, embora ai nâo tivesse por base a propriedade 
da rerra. 
Duas unidades báSicas de produÇão se mantiveram naco)!). 
nia: o 11enge:nho" e o "'cu.rral'., O .. engenho .. , a manufutura de 
preparo do açúcar, roi o elemento cenw~ da organizaÇão de 
plantatwn e eventualmente pass(lu a designara propriedade toda_ 
Era um estabelecimento complexo, quase auto-suficiente_ Con· 
tinha normalmente8().1 00 escravos, mas alg11mas chegavam a 
poss11ir mais de 1.000. O "curral" em • fazenda de gado, ünico 
produto que teve alguma Importância alem daqueles destina-
dos a exportllção. Ocupava grandes extensões não demarcadas 
50 
nas áreas de campo impróprias !I agrlcultum, cs1abelecendo 
uma separaç~o básica entre a lavoura e a pecuária. O gado. 
variando de 200 a 1.000 cabeças. era criltdo á sol1t1 pelo vaquei-
ro e dois a qualtO auxiliares. 
A prlncipalcaracterfstlca da sociedade colonial acima<ic tudo 
era a escravidao de indios e sobretude\ de negros. Uma escra .. 
vidao original, que revlveu uma forma de trabalho historica-
mente extima. proporcionando um recurso paro. explorar co--
mercialmente acolOnia Embora não se1enham dados comple-
tos e seguros, em 1798, a panicipaç:lo dos escravos no to1al da 
população correspondia ã me111de. (Tabela 2.3) 
TABELA 2.;3 
Estimativa da populaçé!o colonial bmsilcira - I 789 
Ot.mcos 
NcgTOJ livre$ 
lndios 
CondiçAo 
Total da popul:lçlo llvrc 
Negros escravos 
Mulatos ~~ravos 
T ot~l de escravos 
TOTAl 
footciContad, 1971. 
1789 
1.010.000 
40ó.OOO 
~50.000 
1.666000 
1.361.000 
221.000 
1.582.000 
3.248.000 
O lrnbalho escravo afetou o conceiLo de tmbalho, que se 
tomou atividade desabonadora, e deixou pequena margem de 
ocupaçOc.s para os homens lh•rts rulo-propríeládos de terra. 
Distinguiam-se asslnt, na sociedade colonial, dois setores se-
51 
gundo utilizaçlo de trabalho escravo ou livre. Ufn setor estru-
turn.do pela escravldlo e o clã p3ttiarcal coeso, fonnado pelo 
COnJunto de individuas que particip3vam da grande proprieda-
de rural, cujos proprietários conslitulam n classe priVIlegiada, 
nr~stocrâtka. Somente os comerciantes fnzinm frente aos pro-
pnetános de terra con\O financiadores da grande lavoura. Art ... 
validade entre esses dois grupos era acenwadu pelo fato de os 
comerciantes serem pon_ugueses, nascidos no Reino, enquan· 
to que os proprietários rurais já eram, geralmente, nascidos na 
colonla. 
O outro setor nao estruturado corre.<p<>ndlo a uma massa de 
populaÇ>lo livre comprimida entre os dois vctremos da escala 
sodal, os propriet:lnos e os escravos (Franco. 1974). Eram 
"brancos pobres .. , 10lndtgcno.s". "dviltzados" c negr<t:. lwres com 
ocupaÇões incertas c alcntOrias, ou se1n ocupaçno alguma. A 
cada fase d~ndente de um surto eoonornico de58gregava.se 
o parte da soc1edade atingida pela crise, delxando grande nil· 
mero de indivíduos sem ocup•ção fixa que constitulam um 
rtstduo social desennuz.1do, móvel, fiutuando em torno da 
SOCiedade organl:u•da. 
A eslnltura econOmlca e social da agrovcportaçao se asso-
dou uma cstruturn espacial especifico. Em fins do per1odo 
colonial, no inicio do seculo XIX, uma populaçao do 3,5 mi-
lhOesde habitllntcs dls!rlbula·se muito lrrcgulanneme pelovusto 
tcrrltOrio, num padrao que perdurou a grosso modo até m.,.. 
dos do sêculo XX O primeiro traço marcante da estrutura 
espaoalera a profunda diversidade entre a "marinha" (litoral) 
e o •..,nao· (o interior). Cerco de 60'lbda populnç~..,concen­
U"Dvam na Faix.1 costeira, de uns 20 km de lnrgun, enquanto 
que o noslrulte se da~rsava pelo mterior. No "marinha", esta-
volm a '"cwUizaç:to ... as plantatJons açucareiros, ns cidades, os 
porros. No "serldo", uma sociedade rude c um povoamento ra-
refeito e disperso, que di Ocultava qt•alquer controle, uma ne-
bulõsa de estabclcclmcnto.. isolados que sedls.emlnavam por 
uma área de mais de dois n1ilhoes de lan'. 
52 
Um segundo traço marcante da estrutura esp3cbl em a CO TI' 
«ntraçao da produçao e da organiuçao social na própria fal-
•• costeira. O isolamento desses núcleos, cada q uni com ..,u 
•lstema de transporte Ouvia! c seu pono autonomos voltados 
p.orn o exterior e sem anlculoçao entre si, conOgurou uma es-
trutura espacial em ·arqulpelngo'. A artlculaçdo do conjunto 
,.,.mantida por friiCas conexoes comerclal.s voltadns para o 
mercado in~erno que, no entanto. foram capa.z.es de gerar as 
J>rime.mosadades expruslvasdacolõnia, particularmente o Rio 
ele janeiro. 
O Império mercantil 
No século XIX, o Brasil vtm a ..,r pam do cap1~1l ~mo lndus-
1 •ai, como um Esu.do pollucanxnlt indrpendrntc, na fonna 
olr um Império, que pennaneceu desde 1822 att 1889 A inde· 
t~·ndencia braslleir11 foi, na verdade, pan• da e~trottgoa bnt:l-
tiiCa como nova pottnci.o mu.ndtal. para control11r 1od3 a Amt· 
''"'do Sul atravê.s do llvrt comércio. O capitalismo Industrial 
1\<'rou conuadições com o pacto colonial baseado no monopo-
licJ metropoUtllno sobre o comtrcio, cuja destrulcno foi condi· 
\il<> necessária para que a periferia pudesse reallutr urnn pro-
iluç.lo mercantil e constllulsse mercado para os produtos in· 
clllloltials. Os ricos lmptrios coloniais ibéricos, até entao pro-
trgldos pela rivalidade entre G~BIWIIlha e flllnÇa. fragmcn-
t.lmm·secom as dasguei'TnsnapoleOnic:ls. Os obst:lculosl nova 
urdem internacional ror:un então rcmovídos. emerglodo as 
n~1c;Oes iber<ramerlcanns livres. Na segunda mcladc do sOCulo 
XIX. estas nações fomm lncorporodas na ec0110mia·mundo 
•·umo pane do imperialismo infonnal da Gr1·1ltttllnha. 
Com o nascimento do Estado nacional, a hl>tOrla latino-
lmtticans deixou de "'r meramente reOexlw. DtcisOes na· 
53 
tionals comec:amm_a influir na forma de fncorporaç~'lo doBra-
>il ""economia-mundo. Esta foi seguida por uma longa era de 
economia mcrcantU~scravotrata baseada no caré. 
Fonnaçdo da economia mercantil-escravocrata nacional 
baseada no café (1790-1850) 
No momento da Independência, o BrasU era o mais extenso 
pais do Ocidente e únha apenas 4 milhões de habitantes. Por 
que o antigo tecritõrio brasileiro não se fragmentou politJca-
mrote no momento da Independência, a semelhança da baita· 
nlzaçào que ocorreu com a formação das repúblicas na Amé· 
rica Espanhola? li por que não foi abolido o tl'llballlo escravo? 
Devido a forças internasespecil\cas, basicameme a allançacntre 
os grandes senhores locais, especialmente cafeicultores, para 
manter seus privilégios -a escravidão e o monopólio da pro-
priedade da terra - e destes com os comerciantes, que respon· 
deu pela lndependénciadopais sob a forma monârquicae pela 
unidade terrotorlal. Mameve-se o crabalbo escravo porque, no 
momento, t lc e.m nada afetava a emradu de produ los lng1eses 
c porque sua lransformação em trabalho livre era agora uma 
decisão nacionaL 
lndepend~ncia e unidade pol!tico-territor!al 
A era colonial terminou para o pais em 1808, antes dalnde· 
pendência. A "abertura" dos portos brasileiros ao mercado 
irllemacional depois da transferência da corte portuguesa para 
n Urnsil, em fuga diance dos exercltos dcNapoleã.o, foi o marcó 
54 
do novo pertodo econOmico desenvolvido sob a hegemonia 
brilllnica. A estratégia inglesa foi clara: perdendo Portugal pnrn 
a Fl'ança, tratou de se compen~ar com a grande r:olonia porlu-
guesa, o Brasil. O soberano porrugues preservava sua coroa e 
tltulos imigrando para o Rio de janeiro sob a guarda de uma 
divisao naval inglesa perm.anente, mas perdia suamdepend~n­
cja de nção. A partir da abermra dos portos. não somente se 
romp<m o monopólio comercial de Portugal: a dominação 
portuguesa ficou virtualmente extinta devido nos favores espe-
ciais concedidos a Inglaterra no tratado comercial com elll fir. 
mado em 1810. 
Interesses da burguesia comercial e industrial inglesa tive-
ram imporwnte papel n~ Independência do Brasil. A eles se 
sotnaram inLeresses locais decisivos. A crise das exportações 
na passagem do século e os impostos extorsivos estabelecidos 
pela metrópole parasitária provocaram uma Insatisfação entre 
os plantadores e comerciantes, bem como agltaçoes sociais. A 
Fixação da corte na colônia, a abenura ao mercado i.ntt.rnacio .. 
nal e a elevação do Brasil a Vice-Reino (1815) estimularam as 
atividades econOmicas, o crescimento urbano e a centralização 
da sociedade em 10mo do foco de poder sediado no Rio de 
janeiro. A burocracia imigrada do reino passou a ter interesses 
locais e se tomou senslvel i\ Ubertaçilo da co!Onia. 
Criaram-se, assim, condiçOes pata a lndepe1Jdênda, decla-
rada pelo próprio prlnclpe herdeiro de PortugaL Entretanto, 
essas condições por si mesmas não explicam amanutenção da 
unidade polltico-terrltor!a~ tema até hoje controvertido entt·e 
os historiadores. 
A manutenção desta unidade interessava a Grll-llretanha 
porque o novo pal:>representava um amplo mercado potenclnl 
e uma base de operações para o domínio da Amêrittt du Sul, 
particularmente em sua disputa com a França pelo controle da 
navegação e do comércio de prata e couro na Bacia do Rio da 
Prata. Ainda em 1810, o Brasil se aliouáGrã-Bretanhanagutr· 
ra patil [tilgmentar o Vice-Reinado da Bacia do Prata contra o 
55 
interesse da franÇl! e de seus aliados espanhóis, numa disputa 
que perdurou até 1852. Mas apressao Inglesa contra o tráfico 
negreiro, queconstiluia um obstâculoao seu dom1nio do Atlan-
tico Sul, iniciou um conflito entre aquele pais e os grupos 
dominantes na colônia. 
foi a manutenc,'âo do principio monárquico no processo de 
independência que determinou a preservação da unidade po-
lltica do território. O principio monárquico cemralist<! foi a 
soluçao que os grandes proprietários e traficantes de escravos 
encontnram paradefenderseus prlvlltglos e manter seu poder 
local: no plano externo, garantir o tráfico d e escravos contra a 
pressão inglesa; no plano imerno, garantir o comercio inter· 
provincial de escravos e o monopólio da propriedade da terra 
(Saes, 1985). Os grupos domlnantes dasdiferemes áreas supe-
r'J.romseu isolamentoeace'it:arom a forma monárquica do Estado 
para todo o território nacional. E, certamente, a presença do 
príncipe herdeiro e a prática sc.:ular de defesa da posse do 
tcrrltOrio infíutram também na implantação da monarquia e na 
manutençao da unidade territorial. 
Essa reraçâo enlre centralismo do Estado e int.eresses escra-
vistas revela o caráter do bloco do poder. Era ele composto por 
todas as classes de proprietàrios mas sob.a hegemonia politita 
de um sub-bloco -a elite de plantadores escravista de CJ~ft, 
grupos de proprietários urba-nos, e comtrcianlts - estes 
ú ltimos agindo como vangu.arda e conquistando posto$-cha-
ves no aparelho de Estado. Revela, tambem, o Inicio de interes· 
ses regionais direre.nciados. 
As lutasseparausw.s que se sucederam foram dídgídas prin· 
cipalmente por grupos de p roprietários não-escravistas alija-
dos do bloco do poder. Entre 1831 e 1848, 20 movimentos 
provinciais atingiram quase todo o te.rritórlo nacional, e a of• 
cialidade Inglesa comandou tropas brasileiras que liquidaram 
esses movimentOs separatistas. A Constituiçao de 1824, que 
permaneceu até 18!)1, COI\Sagrou a preponderãncia do ExecUo 
tivo-Administrartvo sobre os demais ramos do aparelho de 
56 
t:stado e da esfera central ~bre as esferas regío""ís c locais, 
embora, na pratica, o poder local dos grandesproptietários de 
1crra fosse mantido. 
A gestaçiiQ da cco11omia cafeeira 
A quebra do monopólio português e a fonnnç'o dn Estado-
IMÇão marcam o final da crise d11 cconomi~ col<-m 11tl Mi1S O!{ 
rumos dn crise não estavam pré·fixados. A econon\ia poderia 
1e1 regrcdido, mas, pelo contrário. seu caráter meN:antil c C..'io· 
~ ravista foi revitalizado, -agora oos quadros de: umn economl~t 
11ilélOnalmente controlada. O cilrt, novo prod~l<), vrrln con~lJ· 
lu ir a economia merrnntiJ escravista nacional e mudar os ru· 
mos da crise. 
A economia cafeeira foi obra do capit.aJ mercamiltulCIOna1 
que vinha se desenvolvendo aos poucos c ganhou nOLdVcl 
l1npulso com a abenura dos ponos, a transferência dn corLc 
l i~ ta o Bmsil c, mais tarde. com a lndependencia. O caplral 
IUt.rcanttl captou ílS novas oportunidades de organlzação da 
uuncrcialização do café oo mercado ifltcmac-ional e invndlu n 
'" hita da produção. financiando a n1ontagem e o custeio dn 
l't'onomia cMecir..t através de um novo-alor, o "comissário•. O 
l mnissário substituiu o monopólio comercial com o mesmo 
u·sultado, prendendo OS razendeiros num .. cil'ClliO de ferro" 
~ '-t1cin, 1961). Outros três eJementos favoreceram a economi:1 
t .. reeira como em-J>resa: a orc.rlá de terras no Vale do Pnrniba, 
lllttximo aos pórLosde embarque, o cultivo predarório da rerm 
• u taxa exuaordllltlria de exploraçi\'0 de escr~nros. 
Foi assim posslvel ao Brasil produzir cafe em grande cscal• 
l' :1 baixos custos. A orerta brasileira baixou os preços ime.rna· 
'lonois, expandindo a de•nanda exlerna (Mello. 1982) Entre 
11!21 e .1.830, o a.fé j:\ representava quase 20% do valor das 
57 
exponaçoes brasileiras e deste pertodo a 1850 sua e.xportação 
cresceu cinco vezes (Furtado. 1959). J~ cll\ 1830 o Brasiltor· 
non .. se o primeiro produtor mundial de café:. e o caft tomou-
se o primeiro produto de exportação brasileiro e sul-americano 
(Simonsen, 1937). 
Simultunetm•cntc c.rescc.rarl'•as importaçOe$ representadas 
sobreLudo pelo tr:\Oco de escravos, cerca de 50.000 por ano, 
avaliado no mcrc••doem aproxlmadameme8 milhOes de libras 
(Prado Jr., 1945b). O descquillbrio na balança comercial foi 
solucionado mcdlanle empt~tlrnos ingleses exlremamente 
onerosos, gerando um déficit orç-amentário permAnente. A.tô 
1852, quatro gr•ndes empréstimos somaram 2,5 milhões de 
libras. 
A suspensão do tráfico de escravos e a l.ei de TI;,-,.~ 
Os grupos dominantes escravistas retardaram quanto pude· 
ram a abolição do comércio de escravos, só decretada sob 
pressão da dtplomacoa inglesa em 1850. No mesmo ano, uma 
nova pollticu de terras e de 1rabalho se estabelecia para regu· 
laritar a propriedade da terra e o foroedmento de trabalho, 
bem como o crédito: a Lei de Terras. 
Aterra tornou-se, então. dedom1nio público, patrimônio da 
Nação. só podendo ser adquirida mediante compra direta do 
governo. Eliminaram-se as fonn..strndlclonalsdeadquirlr terras 
através da ocupaÇão ("posse") e das doaç<>esda Coroa. Terras 
que não (ossem adcqua.da.ment.e utili%adas ou ocupad.'lS deve· 
riam voltar ao Estado como terras pUbllcas - '"terrasde.voltUas" 
-cuja venda fornw:ria fundos para sua demarcação e para 
subsidiar a imigraçêo de colonos europeus '1livres". 
Bloque.ou .. se., assim, a expansão do regime tradicional de 
propriedade territorial, bem como o desenvolvintento da pe-
58 
quena produ~o independente, inclusive os imigrantes que não 
unham recursos financeiros para comprar t.e.rras. A Lei das 
Terras, assim, assegurou a manutenÇão dos int!grames como 
força de trabalho nas plantaÇões de café. Mesmo após a lei, a 
posse continuou sendo a via principal de acesso~ propriedade 
da terra. mas apenas por grandes fazendeiros dol~tdos de recur-
sos. c\ terra passou a representar urna me.rcndorln e um poder 
c.conOmico. Perpetuava-se asociedade cscrrwtsta tXI>Ortadora--
lmportadora no mesmo momentohislórlcocm 4ue se promulga-
va o HomesteadActnos Estados Unidos que (lumenuwn o PCeSSO 
à terra para os pequenos produtores (Vlotu J:~ Costa, 1977). 
O Estado cumpria, assim, o seu pnpcl pnr" com o bloco 
escravista. E este, dando ao goveo·no Pl rlbuiçOo de mc<liador 
entre o domlnio pCiblicoe os prov:'we:1S proprit;tt\rios utritv~de 
uma relaÇão Impessoal, atribuiu-lhe um Instrumento de poder 
sunbólico. O desano lniCI:JI pnrn conSQhdar um p<>der central 
num vasto terr1torio -sem 1mcgraç~o regional c csto.1ssa-
meme povoado - fez o .. esl3lismo'', bn>eudllllll nllnn~o1 CQin os 
proprlctllrlosda terra. multo m•is relevonte do l[UC n "nndnna-
hdade'•. O poder burocrático que se desenvolveu, ll pnHir de 
1850 , foi fundamentalmente urna afirmaçao simbólica da or-
dem ptlblica, na medida em que,"" pr.ltica, a populuçao-
r.scravos e brancos livres - conLinuou devendo lt:tldudc aos 
"senhores locai.<" (Reis, 1 983). 
Apogeu da economia mercantil e dedfnio do tral.>allttl 
servil (lBJD-1888!89) 
Em meados do século XlX, o capitalismo mundial sob ltde-
rança da Grã'Bretomha estimulou aexportaçaodecoplluls e bens 
de produção, configurando a clássica era do "imperialismo 
Informal". Nem todos os Sstados lalfno-americanos fomm alvo 
59 
dessas exportações de capíud, dependendo dos nlveis de orga-
nizaçao economlca interna. Brasil e ArgenEinaabsorvenun 60% 
dos investimentos britânicos na América latina (Silva, 1976). 
O Estado brasileiro, do~ado de capacidade de sustentar uma 
economia exportadora, inclusive oferecendo garantia de juros 
a empréstimos estrangeiros, penniciu novos anuxos de capi-
tais ingleses. no momento em que terminava o conOito pela 
abolição do tráfico de escravos. 
Mais uma vez, o Brasil se vinculou à potrncia tecnologica-
mente avançada na fpoca, a Grã-Brewnha. Este fa to favoreceu 
sua inserçao na economia internacional e a utllfzação do pro-
gresso técnico do século XIX, represenumdo a possibilidade de 
um suno econômico exportador, impossível de se dar no qua-
dro colonial. A fase inicial de crise decorrente da suspensão do 
tràOcodeescravos foi superada. A economiacafccira avançou, do-
minando a produção do pais atto primeiro quartel do século XX. 
Geopolítica im!Jcrial 
As dificuldades do governo do Brasil imperial não significa· 
ram que ele perdesse de vista a importância do controle terri-
torial. No momento c:l~ Independência, os limlces do BrasiJ não 
estavam, nem de.flnidos, nem demarcados, e a sua definição 
ocorreu, em grande parte, como conseqü~ncia dadispma entre 
Grã-Bretanha e França pelo controle do comércio e da navega-
ção das duas grandes bacias que delimitnm o território brasi-
leiro, a do Rio da Prata e a do Amazonas. O próprio Estado 
mostrou um Interesse crescente nestas áreas na sua geopoUtica 
para estas bacias. 
Na Bacia do Prnta, desde o inicio do séculDXVIl se chocavam 
interesses ingleses e franceses aliados, respectivamente, a por-
tugueses e espanhóis pelo controle da navegação e do com~rdo 
60 
de pmta e do couro. No século X VIl ampliaram-se os interesses 
brasileiros pela navegação do Rio da Praoa, enquamo passagem 
para sua longinqua provincia oddemal, Mato Grosso, apossa· 
dn durante. o ciclo do OUTO. Os conOitos rronl ç.iriços com a 
Argentina resultaram na formação do Uruguai ( 1828) como 
república independente entre as duas rorç-as riv:tls. 
A colonização dirigida, forma de controle do tCITitOrio nas 
111 easde fronteira sul e norte utiliwdadesdco pcrlodo colonial, 
r,,; o artl[ido empregado pelo governo Imperial pam d<fesa das 
duas provlnclJ!s meridionais que, Isoladas por gm11dt> Oores-
ws, est.avam SL~eitM a ataques dos argentinos pelo sul e dos 
l11dios pelo interior. O novo tipo de colono dc•crla s~r umto um 
"'!dado, como um agricultor, pam poder defender e cultivar 
<ua terra. Soldados desengajados dos exércitos de Napoleão e 
ramponeses pobres oprimidos da Europa Centml, princ1pal· 
mente alemães, r oram os novos colono$. isto ê, pequenos pro· 
príetári.os familiares (Waihel, 1958). Iniciada ainda na década 
de l820, 1ogo após a Independência, a colonizaçl\0 esLrangelra 
permaneceu fraca até a extinção do tráfico de escravos em l850, 
expandindo-se rapidamente a partir de então. 
A politica de auto-suficiência econômica e establlidnde po-
htlca adotada pelo Paraguai, pais continenLnl dependente do 
porto de Buenos Aires, não interessou ao Brasn e ã Argentina. 
Quando Sol ano lópez pr.sslonou o Uruguai para abrir o aces· 
"'ao mar, desencadeou-se a maior guerra no con•lnentc su~ 
nmerlcano ( 1864/1868) ~ntre Brasil, Argentina e Uruguai, cn-
rorajados e financiados pela lngLucrra, contra o Pamguai. O 
Orasil c seus aliados foram vitoriosos, mas à custa de 140.000 
I cridos e 33.000 monos e de esvaziamento nnanceiro. O Para· 
guai foi mutilado, perdendo quase toda a sua popul.açao mas-
culina na guerra e a partir de ent.ão jamais conseguiu se reer-
~uer. A viLOria sangrcma foi o úlllmo lance do Brasil para de-
linir seus limites meridlon<tis. 
ParadoX11lmcmc:, a polltica imperial para a vasta e distante 
llacia Amazônica foi oposta :lqLiela empregada no Rio da Pmta. 
61 
O Brasil tentou barrar a livre navegação e as incursões externas, 
sendo capaz de reter ~ área grnças às dispu1as entre a< potên-
cias estrnngelras. No século XVID. com a finalidade de excluir 
a França,a Grã-Bretanha apoiou as reivindicações portuguesas 
no Amazonas. Na segunda metade do seculo XIX, o desenvol-
vimento da economh'l da bonacha lrouxe â ârea os interesses 
norte-americanos. Atravl!s da export<lção da borracha, a região 
velo a se integrar ao mercado internacional antes mesmo de se 
Integrar ao resto do Brasil. Nilo obsumtea rcsisU!nciasimbóUca 
do governo central, em 1867 o Rio Amazonas foi aberto à livre 
navegaçao. 
O fim da escravidão e do império 
Em meados do sé.culo, o mêdio e o aho curso do Vale do 
Paralba concenb-avam a produção cafcelra e a riqueza do pais-
Os preços no merctdo internacional, apesar de oscilantes, man· 
tiveram a expans~o da produção, que era, contudo, limitada pelos 
crescentes custos do mmspone e dos escravos.

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