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Capa Projeto Trilha das Artes Sistematização do Projeto Trilha das Artes Realização: Avante Educação e Mobilização Social Patrocínio: IMPAES – Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social Revisão técnica da sistematização: CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária Coordenação institucional: Maria Thereza Marcílio de Araújo Coordenação do projeto - Avante: Mônica Samia Concepção e coordenação da execução do projeto: Monique Berjeaut Coordenação administrativa financeira: Maria Célia Falcão Supervisão de Artes Visuais: Ana Luiza Britto Supervisão pedagógica: Noélia Mota Grupo de Formação - Equipe: Ana Luiza Britto, Anabel Guillém, Eduardo Vallarelli, José Carlos Rego, Luciana M. Dias e Maria Izabel Montenegro Instituições parceiras: • ACREDITE - Associação de creches e pré-escolas • Centros de Educação Infantil (C.E.I.) participantes do projeto: - CEI Allan Kardec (2003-2006) - CEI Zeza Calmon de Sá (2003-2006) - CEI Juracy Magalhães (2004-2006) - CEI Béu Machado (2004-2005) Ficha técnica: Coordenação do processo de sistematização e organização do documento: Luciana M. Dias Co-autores do documento: Equipe Trilha das Artes: Ana Luiza Britto Maria Izabel Montenegro Mônica Samia Monique Berjeaut Noélia Motta Colaboradores: Acredite - Associação de creches e pré-escolas Equipes dos Centros de Educação Infantil: CEI Allan Kardec CEI Juracy Magalhães CEI Zeza Calmon de Sá Apoio técnico: Salmone Falcão INTRODUÇÃO ............................................................................................ 07 1. CoNTExTo ........................................................................................... 11 1.1 Educação Infantil, Bahia, Brasil .............................................................. 11 1.2 Dados sobre educação Infantil /Bahia ..................................................... 12 2. MAPEAMENTo Do PRoJETo TRIlhA DAS ARTES ................................ 15 2.1 Sobrevôo histórico: de Integrarte à Trilha das Artes ................................ 16 Quadro das principais ações desenvolvidas [2003-2006] ......................... 21 2.2 Os Parceiros de Trilha AVANTE Educação e Mobilização Social ................................................. 22 ACREDITE - Associação de creches e pré-escolas .................................... 22 IMPAES - Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social .................. 23 Os Centros de Educação Infantil – C.E.I. CEI Allan Kardec ..................................................................................... 24 CEI Zeza Calmon de Sá ........................................................................... 24 CEI Juracy Magalhães ............................................................................... 25 3. CoNCEPçõES NoRTEADoRAS E MoDoS DE FAZER ......................... 27 3.1 Educação Infantil, Arte e Formação de educadores .................................. 27 3.1.1 Artes Visuais no cotidiano dos Centros de Educação Infantil ......... 30 3.2 A formação continuada ........................................................................... 33 3.2.1 Etapas da formação continuada ...................................................... 34 3.3 Metodologias de trabalho na área de Artes Visuais ................................... 37 3.3.1 Os projetos didáticos ...................................................................... 37 3.3.2 Fazer artístico, leitura de imagens e reflexão: um tripé para o ensino de Artes Visuais ......................................................................... 39 4. oS CuRSoS DE FoRMAção ............................................................... 43 4.1 Considerações sobre o curso I .................................................................. 44 4.2 Considerações sobre o curso II ............................................................... 46 4.3 Programas dos Cursos de Formação I e II ................................................ 48 4.4 Detalhamento dos módulos - cursos I...................................................... 49 4.5 Detalhamento dos módulos – Curso II .................................................... 53 SÚMARIo 5. MARCo lóGICo Do PRoJETo TRIlhA DAS ARTES ............................ 57 6. A REVISão DAS PRoPoSTAS PEDAGóGICAS EM ARTES VISuAIS CoMo ESTRATéGIA DE SuSTENTABIlIDADE E SISTEMATIZAção Do PRoJETo .......................................................... 61 6.1 Produto da revisão da proposta pedagógica de Artes Visuais do CEI Juracy Magalhães ......................................................................... 66 6.2 Alguns exemplos de projetos desenvolvidos no Trilha das Artes / Quadros de objetivos e conteúdos por faixa etária 6.2.1 Projeto Vivenciando a arte ............................................................. 70 6.2.2 Projeto Animais na arte ................................................................. 75 6.2.3 Projeto Imagens da Bahia ............................................................... 82 REFERÊNCIAS................................................................................................ 93 Processo de Sistematização - 7 - Este documento é um produto do processo de sistematização do projeto Trilha das Artes, cuja implantação teve início em 2003, e passou a ser desenvolvido pela AVANTE1 a partir do segundo semestre de 2005. A sistematização foi delineada como uma das diretrizes do projeto desde seu início, sendo viabilizada em 2006, ano de conclusão das atividades junto às entidades parceiras envolvidas nesta primeira execução do mesmo. O primeiro momento do processo de sistematiza- ção teve como objetivo promover a construção do sentido deste processo para a equipe, o que compreendeu refletir sobre as expectativas e a importância do envolvimento de cada integrante neste trabalho. Este levantamento revelou que o desejo de sistematizar as experiências do Trilha das Artes estava associado, principalmente, a dois eixos de expectativas, que apontaram para a definição de nossos objetivos: 1. Realizar uma nova etapa de construção de conhecimentos, com enfoque no aprofundamento da articulação teórico- prática; 2. Elaborar um documento final, voltado a apoiar as ações de multiplicação da metodologia do Projeto Trilha das Artes, internamente e em articulação com outras instituições e educadores que demandem formação em Arte, no âmbito da Educação Infantil, promovendo a disseminação das experiências do projeto a outras instituições, projetos e programas educativos; O primeiro eixo, portanto, está associado à ampliação das possibilidades de análise da prática do Trilha das Artes. Havia a expectativa de “retroalimentação” da própria equipe, sobre os modos de organização do projeto e os conteúdos/ concepções que o norteiam. O segundo, enfoca o produto da sistematização, que passou a ser entendido como uma comunicação, tendo dois objetivos articulados: registrar as construções da equipe sobre os conhecimentos em jogo na execução do projeto, ampliando o apoio às ações de multiplicação; ao mesmo tempo, também envolveu um olhar para o contexto externo, voltado a compartilhar esta experiência e contribuir para a mobilização de outras iniciativas na área. O aspecto da disseminação e mobilização de outras iniciativas está ligado aos possíveis produtos desse processo de sistematização. Desde a etapa inicial, vislumbramos que o documento final seria um “material-base” para a edição de uma publicação, além de poder se desdobrar em versões adaptadas para diferentes contextos – por exemplo, uma versão voltada à veiculação em meio digital ou um tratamento com maior ênfase na linguagem áudio-visual. Compreendemos que nosso público-alvo é prioritariamente formado por outros atores envolvidos na ação educativa, como os educadores e coordenadores pedagógicos de instituições/programas/projetoscomprometidos com a qualidade da Educação Infantil. Além dessas definições, a primeira etapa envolveu um levantamento dos materiais de registro existentes: relatórios de atividades, versões da proposta do projeto, relatos do acompanhamento, relatos das educadoras e coordenadoras das instituições parceiras, imagens e filmagens realizadas, ou seja, todos os materiais que pudessem compor a memória do projeto.2 1 A apresentação da AVANTE encontra-se no tópico Parceiros de trilha (p.22-28), bem como as outras instituições envolvidas – IMPAES, Acredite e Centros de Educação Infantil participantes do projeto. INTRODUÇÃO 2 A partir da conclusão deste processo de sistematização, pretende-se aprofundar a discussão sobre estas possibilidades e buscar meios para viabilizar a publicação e os possíveis desdobramentos deste material. Um aspecto importante, desde já, refere-se a necessidade de incluir ao material um bom número de imagens, já que o Trilha tem um acervo significativo de fotos. Por se tratar de um projeto da área de Artes Visuais, um trabalho cuidadoso da parte gráfica (diagramação; arte) nos parece fundamental, pois além de valorizar os diversos tipos de registros, contribui significativamente para motivar e provocar os leitores, ou seja, para associar a leitura à experiência da fruição, aspecto coerente com os parâmetros do próprio projeto. Projeto trilha das artes - 8 - Considerando estes primeiros passos, passamos então às definições metodológicas. Optamos por utilizar como referência a Proposta em cinco tempos, de Oscar Jara3. O posicionamento deste autor revela aspectos que compreendemos ser coerentes com os parâmetros que norteiam o próprio projeto: uma concepção na qual todos os envolvidos são co-autores, ou seja, são sujeitos ativos do processo, que é pautado na noção de sistematização como construção coletiva, como processo de aprendizagem e de construção de conhecimentos. A definição desta proposta envolveu um estudo em equipe sobre o conceito de sistematização e seus possíveis objetivos. Destacamos abaixo, sinteticamente, alguns desses norteadores: A sistematização é compreendida como: • Um processo de reflexão crítica de uma experiência concreta, com o propósito de provocar processos de aprendizagem; • Um processo a ser realizado, fundamentalmente, pelos atores diretos da experiência que está sendo sistematizada; • Um processo de reflexão que pretende ordenar e organizar o que tem sido a trajetória, os processos (práticas, conhecimentos, idéias), os resultados de um projeto, buscando nessa dinâmica as dimensões que podem explicar o curso que assumiu o trabalho realizado; • Um processo que levará a uma interpretação crítica da experiência do Trilha das Artes, a partir deste ordenamento, organização e reconstrução de sua própria história. A proposta em cinco tempos conta, sinteticamente, com os seguintes passos (tempos) de trabalho em equipe: 1. o ponto de partida: as primeiras definições - O que é sistematizar? Para que serve sistematizar? Por que e para que queremos sistematizar tal experiência? 2. As perguntas iniciais: delimitações sobre os objetivos, o objeto e o eixo da sistematização; 3. Recuperação do processo vivido: [reconstruir a história; ordenar e classificar a informação; 4. A reflexão de fundo: por que aconteceu o que aconteceu? (analisar, sintetizar e interpretar criticamente o processo); 5. os pontos de chegada: (formular conclusões; comunicar a aprendizagem). A sistematização põe em ordem conhecimentos desordenados e percepções dispersas que surgiram no transcorrer da experiência. Assim explicita intuições, intenções e vivências acumuladas ao longo do processo. Ao sistematizar, as pessoas recuperam de maneira ordenada o que já sabem sobre sua experiência, descobrem o que ainda não sabem sobre ela, mas também revela-se o que ainda não sabiam que já sabiam (JARA, 1996, p.30). Optamos por trabalhar a partir destes desafios. Um processo que tem como condição o envolvimento e a participação de cada integrante da equipe, e também revela seus modos próprios de funcionamento; por isso mesmo, envolve o contínuo aprendizado de lidar com as diferenças na produção de conhecimentos. ElABoRAçõES DA EquIPE SoBRE AS PERGuNTAS INICIAIS Definição dos OBJETIVOS específicos [Para que queremos sistematizar?] • Refletir criticamente sobre o próprio fazer e aprofundar os conhecimentos teóricos que fundamentaram as práticas desenvolvidas; • Legitimar o conhecimento construído coletivamente no projeto - o que está atrelado à elaboração de um produto da sistematização ( se desdobra nos aspectos já apresentados); Delimitação do oBJETo [Que experiências desejamos sistematizar?] Surgiram dúvidas quanto a essa escolha. Muitas questões emergiram, ligadas aos modos de perceber as diversas ações desenvolvidas e a amplitude das mesmas. Refletimos se havia 3 JARA, Oscar. Para Sistematizar experiências. João Pessoa: Editora Universitária/ UFPB, 1996. Processo de Sistematização - 9 - como considerar “um objeto” específico, frente à rede de ações que caracteriza o projeto. Após as discussões, retomadas, mudanças e esclarecimentos das dúvidas, chegamos à seguinte delimitação: • O objeto da sistematização do projeto Trilha das Artes são as ações formativas implicadas com a compreensão e a implementação da área de Artes Visuais como área de conhecimento na Educação Infantil, por parte dos Centros de Educação Infantil envolvidos. Estas ações formativas estão definidas desde o projeto original como “formação de multiplicadores” na área de Artes Visuais na Educação Infantil. CoNSIDERAçõES SoBRE o CoNTExTo DE ATuAção Do PRoJETo TRIlhA DAS ARTES • O compromisso mais amplo do projeto Trilha das Artes é a qualificação do atendimento à primeira infância, no âmbito da Educação Infantil. Dentro deste contexto, investe na formação de educadores; • O projeto tem em vista tanto o atendimento de caráter público prestado por muitas instituições do terceiro setor - sejam ONGs, instituições comunitárias, filantrópicas ou confessionais – como sua possibilidade de orientar e influenciar outros projetos no âmbito das políticas públicas na área da infância. • O Trilha das Artes é decorrente de adaptações de outro projeto, chamado Integrarte_Creches. As delimitações que o diferenciaram deste projeto original foram construídas durante as etapas de sua execução, descritas neste documento. Assim, o “aprender fazendo” é uma de suas principais características - algo que marcou seu modo de organização, o discurso e as ações de sua equipe. • A Trilha das Artes investe na legitimação das Artes Visuais como área de conhecimento na Educação Infantil, através da formação de educadores-multiplicadores. Este recorte está atrelado a concepções de Educação e de Arte que reconhecem a inter-relação entre as Artes e o desenvolvimento humano, em sintonia com as concepções apresentadas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI/MEC). Entendemos, portanto, que o contexto mais amplo do Projeto Trilha das Artes é o campo da educação infantil, no qual se destaca a problemática da formação de educadores. Como contexto específico, consideramos a situação da educação infantil, de caráter público, em Salvador - contexto no qual os Centros de Educação Infantil parceiros do projeto desempenham um papel significativo, tanto em termos de capacidade de atendimento, como em relação à luta pela qualidade no atendimento público à infância. Processo de Sistematização - 11 - Parte 1 Contexto Desde a Constituição de 1988 já se reconhece o direito à educação de qualidade para as crianças brasileiras. O Estatuto da Criança e do Adolescente1 reafirma que a educação é um direito de todas as crianças, sendo um dever da família e do Estado. A partir de 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB2, a Educação Infantil passou a fazerparte da educação básica. Como conseqüência dessa conquista, foram instaurados debates sobre a função dos docentes e de como formá-los, e este é, sem dúvida, um dos aspectos centrais para a melhoria do atendimento à infância. Segundo dados da Secretaria de Educação Básica do MEC (2006), dos mais de 300 mil professores que trabalham com educação infantil no Brasil, 37 mil não têm a formação mínima exigida por lei3. Além da LDB, a meta 5 do Plano Nacional da Educação (PNE) determina a competência da União para o estabelecimento de um Programa de Formação de profissionais de Educação Infantil4. Essas diversas leis revelam conquistas significativas na história do atendimento à infância em nosso país. No entanto, ainda vivemos enormes desafios ligados às transformações necessárias para que estes direitos sejam garantidos. O fato é que, especialmente para as crianças de 0 a 6 anos nem sequer o direito ao acesso à educação foi garantido . Os baixos índices de atendimento e a precariedade na qualificação dos educadores que atendem essa faixa etária são indicadores deste cenário tão precário. No contexto do projeto Trilha das Artes, pudemos conhecer melhor a realidade que ainda predomina em relação às políticas públicas voltadas à educação infantil no Brasil e em Salvador. A experiência da sistematização do projeto oportunizou à equipe contextualizar suas ações com maior profundidade, fornecendo também referências mais amplas para avaliar os resultados alcançados pelo projeto, dimensionando seu impacto no contexto local e suas possibilidades de diálogo com o contexto mais amplo da Educação Infantil. 1 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi criado em 13 de julho de 1990; instituiu-se como Lei Federal n.º 069 (obedecendo ao artigo 227 da Constituição Federal), adotando a chamada Doutrina da Proteção Integral, cujo pressuposto básico afirma que crianças e adolescentes devem ser vistos como pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de proteção integral. 2 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) foi promulgada em dezembro de 1996 (Lei no 9.394/96); define e regulariza o sistema de educação com base nos princípios presentes na Constituição, que garante o direito de toda criança à educaçào básica. 3 Vale ressaltar que esta formação mínima, dos professores, refere-se ao Ensino Médio. 4 Meta 5 – estabelecer um Programa Nacional de Formação de Profissionais de Educação Infantil, com colaboração da União, Estado e Municípios, inclusive de universidades e institutos de educação superior e organizações não-governamentais; esta meta inclui a previsão de que, em 5 anos, todos os professores tenham habilitação específica de nível Médio e, em 10 anos, 70% tenha formação especializada de nível superior. Projeto trilha das artes - 12 - lEVANTAMENTo DE DADoS: CoNTExTo loCAl Ao buscar fontes para caracterizar o contexto local nos surpreendemos com as dificuldades encontradas para acessar dados específicos sobre o atendimento à infância, sobretudo em relação à faixa etária de 0 a 6 anos. Nos dados encontrados, as tabelas1 referentes às instituições de educação infantil (no estado e no município) apresentam um tipo de classificação na qual não constam as instituições comunitárias e filantrópicas. Ou seja, ainda não foi realizado um mapeamento destas instituições em Salvador, embora o serviço prestado pelas mesmas atinja uma parcela significativa da população. Segundo Rose Bonfim, gerente da ACREDITE, existem mais de 200 instituições comunitárias (e/ ou filantrópicas) prestando serviços educacionais em diversas comunidades de baixa renda em Salvador, embora este mapeamento nunca tenha sido realizado formalmente. [Esta é uma das metas do Fórum de Educação Infantil, movimento que vem se rearticulando em Salvador, do qual a Acredite e a Avante participam] Esta estimativa ultrapassa ou se iguala aos dados encontrados sobre o número de estabelecimentos municipais de educação infantil.2 A população de Salvador é estimada em 2.443.107 (IBGE, 2002). O Censo 2000/Salvador apontou a existência de 294.414 crianças na faixa etária de 0 a 6 anos no município. Já os dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) apontam que em 2004, um total de 59.697 crianças freqüentava creches e pré-escolas. Neste universo, 63,4 % freqüentavam a rede particular, 26 % a rede municipal, e 10,6 % a rede pública estadual. Uma comparação destes números com os dados do atendimento prestado pelos CEI associados a ACREDITE já é um indicador da relevância do atendimento prestado por estas instituições. Em 2005, por exemplo, o atendimento dos quatro CEI vinculados ao projeto totalizava 740 crianças. Os dados de 2003 apontam o total de 22 CEI associados a Acredite; o atendimento desta rede foi estimado em torno de 3.000 crianças [o que representaria um percentual significativo do total de crianças na escola, lembrando que a rede municipal, neste levantamento, só atende 10,6% desta população]. FoRMAção DoS EDuCADoRES Se, por um lado, há pouco investimento em relação à formação e às condições de trabalho dos profissionais que atuam neste campo, por outro, existem mobilizações por parte de diversos grupos e instituições, que viabilizam parcerias e buscam, dentro deste contexto desfavorável, promover oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento de suas equipes educativas. Assim, em nosso contexto local constatamos as diversas dificuldades e contradições que também ocorrem em outras regiões do país: a demanda de formação dos educadores é evidente, enquanto as oportunidades são escassas. É neste cenário que organizações do terceiro setor, como a AVANTE, a ACREDITE e o IMPAES, vem desempenhando um importante papel em relação à ampliação de oportunidades de formação, bem como à construção de estratégias formativas de qualidade, num contexto bastante desfavorável. 1 Refere-se às tabelas 01, 02 e 03, apresentadas no tópico 1.2 2 Nos dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação (Censo escolar 2006), constam 220 escolas de educação infantil e 16.610 matrículas iniciais. Já nos dados fornecidos em site do governo da Bahia (SEI - Superintendência de estudos econômicos e sociais da Bahia) constam 179 estabelecimentos de educação infantil na região metropolitana de Salvador. Processo de Sistematização - 13 - Tabela 01- Número de Estabelecimentos Número de Estabelecimentos Regiões Econômicas Urbana e Municípios Total Federal Estadual Municipal Particular Estado da Bahia 14.074 - 101 2.0161.961 Metropolitana de Salvador 958 - 54 179 665 Camaçari 29 - - 13 15 Candeias 39 - - 18 4 Dias D’Ávila 20 - - 12 2 Itaparica 15 - - 12 3 Lauro de Freitas 11 - 2 4 5 Madre de Deus 5 - - 3 2 Salvador 720 - 50 69 600 São Francisco do Conde 25 - - 11 - Simões Filho 49 - 1 18 13 Vera Cruz 45 - 1 19 21 Salvador Total de estabelecimentos: 720 Particulares: 83,3 % Municipais: 9,7% Estaduais: 7 % Tabela 02 Número de Matrícula Inicial Matrícula inicial Regiões Econômicas Urbana e Municípios Total Federal Estadual Municipal Particular Estado da Bahia 408.580 - 11.096 160.829 108.351 Metropolitana de Salvador 62.783 - 6.948 14.361 38.783 Camaçari 2.442 - - 1.265 1.164 Candeias 2.929 - - 1.774 188 Dias D’Ávila 1.659 - - 1.482 50 Itaparica 807 - - 609 198 Lauro de Freitas 802 - 161 261 380 Madre de Deus 730 - - 548 182 Salvador 46.088 - 6.707 4.058 35.303 São Francisco do Conde 1.834 - - 1.295 - Simões Filho 3.765 - 51 2.113 717 Vera Cruz 1.727 - 29 956 601 Projeto trilha das artes - 14 - Tabela 03 - Número de Docentes Número de docentes Regiões Econômicas Urbana e Municípios Total Federal Estadual Municipal Particular Estado da Bahia 26.826 - 429 6.887 7.051 Metropolitana de Salvador 3.460 - 275 587 2.452 Camaçari 79 - - 33 45 Candeias 149- - 91 11 Dias D’Ávila 68 - - 59 3 Itaparica 44 - - 26 18 Lauro de Freitas 46 - 15 10 21 Madre de Deus 27 - - 20 7 Salvador 2.638 - 257 122 2.258 São Francisco do Conde 88 - - 53 - Simões Filho 205 - 2 113 42 Vera Cruz 116 - 1 60 47 Processo de Sistematização - 15 - Parte 2 Mapeamento do Projeto Trilha das Artes Quando o projeto chegou à escola que eu ensino, tive uma resistência porque eu achava que já dava aulas de Arte e o Trilha das Artes só iria atrapalhar os meus projetos de aula. Era menos um dia para eu dar aula. Por isso eu não gostava.(...) Quando eu passei a entender que na Arte trabalharíamos conteúdos como: cor, forma, volume, textura, espaço, e que poderíamos fazer uma ligação com as outras áreas do conhecimento, o trabalho desenvolvido pelo projeto começou a fazer sentido. O projeto trilha das Artes veio para nos ensinar a ver a Arte como uma área tão importante quanto as outras. Eu trabalhava Artes, mas não era dentro de um projeto didático, ligado a um artista, a uma obra deste, destacando os conteúdos, como hoje eu trabalho. Hoje, olho para uma obra de qualquer pintor e já sei o que vou trabalhar, ou seja, os conteúdos que vou trabalhar com as crianças. Eu tive novos conhecimentos, novas práticas, enfim, aprendi muito. (...) Vejo Artes como um processo que não deve parar e sim continuar, como um trabalho tão importante quanto os outros. Vanda Ramos, professora-multiplicadora. CEI Zeza Calmon de Sá [agosto de 2006] Projeto trilha das artes - 16 - Sobrevôo histórico: de Integrarte à Trilha das Artes A história do PROJETO TRILHA DAS ARTES teve início em 2002, com a elaboração do Projeto Integrarte_Creches, uma adaptação do PROJETO INTEGRARTE, que acontecia em comunidades de São Paulo, desde 1998.1 O INTEGRARTE foi um projeto artístico- educacional que teve por finalidade contribuir para o desenvolvimento pessoal e social de crianças e adolescentes de baixa renda em comunidades e instituições, por meio de aulas de artes visuais, incentivando sua expressão artística e cultural. Uma de suas principais metas foi capacitar pessoas como multiplicadores da própria comunidade/instituição para continuar desenvolvendo o projeto em cada local. Em São Paulo, foi desenvolvido durante seis anos na antiga favela do Madeirite, hoje conhecida como Cingapura do Madeirite. Ao longo deste período [1998-2003], o projeto também foi desenvolvido nas comunidades do Jaguaré, no Parque Continental e na comunidade do CEASA, todos na região oeste da cidade de São Paulo. Em 2002, com objetivo de ampliar sua área de atuação, foi analisada a possibilidade de implementar o projeto em Salvador. Considerando a constatação da precária situação em que se encontrava a educação infantil neste município, e do papel desempenhado por instituições comunitárias e filantrópicas no atendimento a crianças de 0 a 6 anos, a coordenação do projeto em Salvador sugeriu sua implantação neste contexto. A partir da aprovação desta idéia, e da construção de uma parceria com a ACREDITE - Associação de creches e Pré-escolas, localizada em Salvador, o projeto Integrarte_Creches foi viabilizado. Seu objetivo geral foi delineado como a qualificação do atendimento dado à primeira infância, através da formação de educadores como multiplicadores da área de Artes Visuais, em creche-escolas comunitárias e/ ou filantrópicas. A equipe responsável por estes primeiros passos já enfocava princípios que se mantiveram ao longo das transformações vividas pelo projeto: a visão de que trabalhar com arte na educação significa contribuir para o desenvolvimento pessoal e social de crianças e adultos; que isso requer um olhar atento para os aspectos que compõem o cenário sócio-histórico e cultural no qual os Centros de Educação Infantil2 - os C.E.I.- estão inseridos; e que uma reflexão sobre o papel da arte e da educação neste cenário atravessa todas as ações do projeto. Assim, com a convicção da importância da Arte tanto no desenvolvimento infantil como nos processos de formação profissional e pessoal das educadoras, nasceu o Projeto INTEGRARTE CRECHES. A adaptação vivida no contexto de Salvador implicou o projeto com o compromisso de ampliar o conhecimento e promover um espaço de reflexão sobre as possibilidades de implementação das Artes Visuais como área de conhecimento na Educação Infantil, articulando diretamente as dimensões da arte, do desenvolvimento humano e da educação. Para atuarmos nestes espaços educativos, foi necessário fazer uma série de ajustes, levando em conta a realidade cotidiana dessas instituições. Essa nova situação implicou em analisar a rotina dos CEI e o lugar da área de Artes Visuais nas propostas curriculares, discutir as possibilidades de inserção das atividades propostas pelo projeto de modo sistemático, o que envolveu diversas reflexões e negociações com as instâncias que compõem um espaço escolar - os responsáveis pela direção/coordenação pedagógica e administrativa de cada instituição, e as equipes de educadores. Assim, enquanto em São Paulo o projeto era desenvolvido num formato de atividade extra, no turno oposto da escola, no 1 O projeto passou a se chamar Trilha das artes em outubro de 2005, quando a Avante passou a assumir a gestão do mesmo. 2 Terminologia utilizada por diversas instituições educativas que atuam na área da Educação Infantil (0 a 6 anos). No contexto de Salvador, muitas instituições antes denominadas “creche-escolas” passaram a adotar esta terminologia. Este tipo de mudança está atrelado a transformações no modo de compreender a função da creche, dando ênfase a seu caráter educativo. No contexto local é comum a utilização da abreviação C.E.I., também utilizada ao longo deste documento. Processo de Sistematização - 17 - CEI o projeto entraria como uma forma de fazer acontecer, de forma sistemática e formal, o ensino das artes visuais no contexto da educação infantil. O processo de implantação, realizado em 2003, se deu a partir da indicação de sete instituições credenciadas pela ACREDITE; duas foram selecionadas para sediar a experiência piloto do projeto: os Centros de Educação Infantil (C.E.I.)3 Allan Kardec e Zeza Calmon de Sá. Nesta etapa, o público atendido pelo projeto (beneficiários) foi definido da seguinte forma: Público atendido diretamente: • Professoras de creche-escolas comunitárias associadas a Acredite, selecionadas para formação como multiplicadoras da área de Artes Visuais [através de formação continuada e posteriormente cursos de formação]; • Crianças de 4 a 6 anos, integrantes dos grupos das professoras-multiplicadoras [ampliação progressiva até atingir, em 2006, todas as crianças dos CEIs parceiros]. Público atendido indiretamente: • Demais educadoras de cada CEI [através dos processos de multiplicação interna]; • Crianças de 1 a 6 anos, integrantes dos grupos destas educadoras; O atendimento direto, portanto, diz respeito às ações centrais ligadas aos objetivos mais amplos do projeto: formação de multiplicadores em serviço e qualificação do atendimento à criança através da qualidade da ação educativa na área de Artes Visuais. Assim, como pretendemos esclarecer neste documento, durante a etapa de implantação do projeto o atendimento direto se restringe às professoras-multiplicadoras e às crianças que compõem seus grupos. Ao longo do projeto, com a ampliação das ações formativas através dos Cursos de Formação e do processo de multiplicação interna, o atendimento direto 3 Como já sinalizado, a caracterização de cada CEI envolvido é apresentada no tópico “Parceiros de trilha”, ainda na parte 2 deste documento. Os aspectos metodológicos dos processos formativos são abordados na parte 3, em articulação com as concepções que os fundamentam. também se amplia, já que um número maior de educadoras passa a participar de ações formativas junto ao Trilha. Além disso, à medida que a multiplicaçãointerna ocorre, as professoras de cada CEI fortalecem sua apropriação da metodologia proposta pelo projeto Trilha das Artes. Assim, no último ano do projeto (2006), se os resultados esperados, em relação à formação e atuação das multiplicadoras, foram atingidos, todas as crianças serão contabilizadas no “atendimento direto”, pois todas as professoras devem ter condições de desenvolver seus projetos didáticos na área de Artes Visuais com competência, contando com o apoio e acompanhamento das professoras-multiplicadoras e da coordenação pedagógica de cada instituição. Em relação à formação/qualificação nos quadros dos CEIS Dentro do universo das instituições que compõem a Acredite, os CEIS selecionados pelo projeto, em parceria com esta instituição, eram considerados os que dispunham de melhores condições gerais - consideração que também envolve o nível de qualificação da equipe educativa. Como se pode constatar nos dados referentes ao perfil dos participantes do curso de formação II4 , nos CEIs parceiros do Trilha das Artes é predominante a formação de nível médio, o que, no entanto, não chega a 50% do grupo. As equipes educativas dos CEIS em geral são bastante heterogêneas neste aspecto: contam com educadores leigos, com formação de nível médio, superior e até pós-graduação. Também se percebe que é crescente o número de educadores que desejam e buscam alternativas para realizar sua graduação, em consonância com as expectativas do PNE. No entanto, no contexto local a situação atual do ensino superior é um fator prejudicial, visto que, além do número de vagas ser pequeno, não existem cursos noturnos nas universidades públicas de Salvador. 4 Dados levantados junto aos participantes do curso de formação II, e processados pelo CENPEC, no acompanhamento do Programa Desafios IMPAES 2006. Projeto trilha das artes - 18 - Nos cursos de Pedagogia a disciplina de artes é, na maioria, optativa.. Esta área não é contemplada no currículo de modo geral, mesmo dentro das opções pela área de educação infantil. Os educadores participantes dos cursos de formação promovidos pelo Trilha apontam que este tipo de oportunidade de formação, além de contribuir significativamente para a ampliação de seus conhecimentos, e para a qualificação de sua prática educativa, também acabam por estimular o desejo de “estudar mais”, potencializando a construção de planos ligados à inserção ou conclusão de seus estudos, nos diversos níveis. Voltando ao percurso histórico, as seguintes diretrizes passaram a nortear as ações do projeto: • Formação de educadores5 - através da formação continuada (ou “em serviço”) - através de cursos de formação; • Acompanhamento do processo de implementação das Artes Visuais como área de conhecimento na organização das práticas educativas, envolvendo as diversas instâncias interinstitucionais (arte-educadores e coordenações do Trilha; professores e responsáveis pela coordenação pedagógica e pela gestão nos CEI); • Multiplicação interna, tendo em vista a ampliação da formação aos demais educadores dos CEIs, se dá através de ações de apoio à elaboração dos planejamentos e projetos didáticos na área de Artes Visuais e acompanhamento da respectiva prática educativa, por parte das professoras- multiplicadoras e coordenação pedagógica de cada CEI. • Sistematização das ações desenvolvidas pelo Trilha das Artes. Nesta etapa de implantação, a equipe do Projeto era composta por uma coordenadora e duas arte-educadoras, que desenvolviam as ações formativas continuadas junto às professoras- multiplicadoras das instituições. Dando continuidade ao percurso histórico, em 2004 foram selecionados mais dois CEIs parceiros: CEI Juracy Magalhães e CEI Béu Machado. De acordo com o que já existia como proposta, dentro das diretrizes do projeto, neste foi viabilizada a primeira realização do Curso de Formação I, voltado prioritariamente às professoras-multiplicadoras e coordenadoras pedagógicas dos quatro CEI envolvidos.6 Outro acontecimento importante foi a criação do IMPAES – Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social, que assumiu o papel de financiador do projeto. A equipe do INTEGRARTE passou a contar com mais duas arte-educadoras. Ao final deste ano, os CEI realizaram suas mostras de arte, num acontecimento que mobilizou as comunidades educativas e revelou um crescimento significativo das equipes em relação ao trabalho com as Artes Visuais. As mostras de arte são exposições abertas ao público (em destaque as famílias e a comunidade do entorno de cada CEI) compostas por produções das crianças, decorrentes dos projetos didáticos desenvolvidos ao longo do ano. Configuram-se como um momento de dar visibilidade e potencializar o reconhecimento da qualidade do trabalho realizado, mobilizando significativamente tanto a equipe de educadores como as crianças e seus familiares. Seu processo de produção envolve toda a comunidade educante, transformando a organização do espaço físico da instituição que, nestas ocasiões, pode ser visto como uma alegre “galeria”, composta por diferentes suportes, materiais e técnicas, informações sobre cada projeto didático desenvolvido, os artistas e obras investigados, e relatos das crianças. O ambiente gerado por estes diversas aspectos promove um caráter lúdico e educativo à visitação. Momentos especiais marcam a memória de todos que compõem esta história. A gente se mostra, a gente se vê e se encanta...Quantas 5 Na parte 3 deste documento (“Concepções norteadoras e modos de fazer”) são apresentadas as ações desenvolvidas nestas duas modalidades de formação. 6 O programa deste curso de formação é apresentado na parte 3.3 deste documento. Processo de Sistematização - 19 - coisas legais nós fizemos! Quanta idéia, dúvida, espaço... tantas cores, brincadeiras, aquele orgulho, emoção... Nossos traços conversam com aquelas paredes. E com todo mundo que passa. Dentro e fora se transformam. A gente sonha, vive e se reinventa! O ano de 2005 foi um ano de grande desafio e amadurecimento, contando com transformações no âmbito da gestão do projeto. A multiplicação interna começou a ser desdobrada: um processo fundamental para o projeto, reforçado pela segunda realização do Curso de Formação I. Neste ano, o curso I contou com outras professoras das equipes dos CEI envolvidos e com diversas auxiliares de classe, que ainda não haviam tido contato direto com o projeto. No projeto inicial, ao longo do terceiro ano aconteceria o segundo módulo formativo, focado especificamente na área de artes visuais. Considerando a avaliação positiva, através dos relatos da importância do primeiro Curso de Formação para os participantes, resolvemos repeti-lo para que mais educadores pudessem ter acesso a essa formação. Entendemos que esta ampliação foi significativa para a multiplicação interna, ao promover maior disseminação das idéias do projeto em cada instituição. Também significou um elemento motivador, facilitando os processos que permeiam a multiplicação interna. Como todo processo formativo, esta depende diretamente do envolvimento das professoras, tanto nas ações formativas (desenvolvidas pelo Trilha ou pelas professoras-multiplicadoras/coordenações pedagógicas) como em suas próprias práticas educativas na área de Artes Visuais. Neste terceiro ano de existência, enfrentados os desafios que marcaram a etapa de implantação nos quatro CEI, o projeto também mudou sua identidade. As ações e os papéis desempenhados pela equipe do projeto se modificaram, na inter- relação com o avanço das equipes dos CEI, em direção à autonomia de suas práticas educativas em Artes (como era esperado), e o projeto foi “rebatizado” como Projeto TRILHA DAS ARTES. A opção por um novo nome estava atrelada às mudanças vividas em relação à estrutura e à gestão do projeto, que passou a contar com a AVANTE como entidade gestora. A transferência da gestãodo projeto do IMPAES para a AVANTE significou mais uma etapa de amadurecimento da equipe. O projeto passou a ter uma sede, o que facilitou a organização do trabalho em equipe e a coordenação das ações. Projeto trilha das artes - 20 - Além disso, a parceria com uma instituição experiente e atuante na área de educação, tem em si um potencial de interlocução significativo, representando possibilidades de fortalecimento e de ampliação dos raios de ação do projeto. Uma das arte-educadoras e co-criadoras do projeto mudou de função e a estrutura do projeto passou a contar com a supervisão de arte-educação, que desempenhou uma função importante para garantir a construção da identidade das educadoras em relação ao seu papel como arte-educadoras. Ou seja, assumir a elaboração e o desenvolvimento das atividades de Artes Visuais com autonomia. Assim, o papel da supervisão artístico-pedagógica direta nos CEIs, teve como objetivo construir com os grupos o processo de multiplicação interna e subsidiar uma importante meta do projeto: a sistematização das propostas pedagógicas referentes à área de Artes Visuais no âmbito do projeto pedagógico de cada CEI. O projeto também passou a contar com uma coordenação institucional, e com uma coordenação administrativa, no âmbito da gestão da Avante. Outra conquista importante em 2005 foi a realização do processo de reflexão da equipe voltado à construção de indicadores de avaliação e resultado do projeto. O ano de 2006 representou uma etapa de amadurecimento geral: nos CEIS as educadoras passaram a assumir com autonomia a elaboração de projetos, o planejamento e a execução das ações da área de Artes Visuais; paralelamente à supervisão desenvolvida em relação à apropriação das ações e à sistematização das propostas pedagógicas de Artes Visuais em cada CEI, o grupo de formação do Trilha realizou o Curso de Formação II, focado especificamente nos princípios de organização da área de Artes Visuais. Além disso, foi possível viabilizar o enfrentamento de um desafio/desejo antigo: desenvolver um processo de sistematização das experiências do projeto, e ter a chance de aprender um pouco mais a partir da reflexão sobre suas ações, de modo a aprofundar a fundamentação das mesmas (articulação teoria- prática). Para este processo, contamos com mais uma integrante na equipe, responsável pela coordenação do processo de sistematização. Em 2006 também vivemos uma experiência importante na direção da disseminação das ações do TRILHA, e ao mesmo tempo, em relação a alguns indicadores de resultado e impacto do projeto. A realização do evento TROCANDO EM MIÚDOS, promovido pela AVANTE, deu voz a professores, arte-educadores, coordenadores e parceiros, de todas as instituições envolvidas, através de seus relatos de experiência, comunicados no primeiro seminário de disseminação do projeto. No final do ano, pudemos verificar o avanço da autonomia das professoras através da qualidade das exposições organizadas por cada CEI, que ocorreram, pela primeira vez, sem o apoio da supervisão do Trilha. Além disso, o processo de elaboração das propostas pedagógicas em cada CEI conseguiu atingir a etapas de finalização, e a equipe pôde acompanhar a conclusão de curso das educadoras, que foi associada a um processo de criação em Artes Visuais. Processo de Sistematização - 21 - quadro-resumo das principais atividades desenvolvidas pelo projeto [2003 a 2006] Parceiro Principais ações desenvolvidas 2002 Acredite, Minidi Pedroso 2003 Acredite, Minidi, CEI Allan Kardec, CEI Zeza Calmon de Sá 2004 Acredite, Impaes, Cei: Allan Kardec, Zeza Calmon De Sá. Juracy Magalhães, Béu Machado 2005 Acredite, Impaes, Avante, Cei: Allan Kardec, Zeza Calmon De Sá, Juracy Magalhães, Béu Machado 2006 Acredite, Impaes, Cei Allan Kardec, Zeza Calmon De Sá., Juracy Magalhães • Articulação com Acredite • Concepção da proposta Integrarte Creches • Montagem da equipe • Processo formativo da equipe • Planejamento e adaptação da proposta nos CEIs pilotos • Inicio da implantação do projeto piloto nos CEIs Allan Kardec e Zeza Calmon de Sá • Seleção de 2 novos CEIs - Juracy Magalhães e Béu Machado • Exposição nos CEIs Allan Kardec e Zeza Calmon de Sá • Adaptação e planejamento no CEI Juracy Magalhães • Planejamento e formação geral da equipe interna • Inicio da implantação do projeto no CEI Juracy Magalhães • Re-direcionamento do projeto no CEI Zeza Calmon de Sá • Inicio do Curso I de Formação - 1ª turma (multiplicadoras) • Adaptação e planejamento no CEI Béu Machado (2º semestre) • Inicio do projeto no CEI Béu Machado (2º semestre) • Exposição nos CEIs Allan Kardec, Zeza Calmon de Sá e Juracy Magalhães • Planejamento interno e nos CEIs • Inicio do trabalho de supervisão • Inicio do Curso I de Formação - 2ª turma (auxiliares) • Inicio da multiplicação interna no CEI Allan Kardec (1º semestre) • Inicio da negociação com Avante • Inicio da multiplicação interna no CEI Juracy Magalhães (2º semestre) • Mudança do Projeto para Avante (2º semestre) • Exposição nos CEIs Allan Kardec, Zeza Calmon de Sá,Juracy Magalhães e Béu Machado • Elaboração da continuidade do projeto - Desafios Impaes 2006 (Acompanha/o CENPEC) •Mudança na composição da equipe do Trilha das Artes • Desligamento do CEI Béu Machado do projeto • Planejamento das equipes dos CEIs com as supervisoras do Trilha das Artes • Inicio do trabalho de construção das propostas pedagógicas de Artes Visuais nos CEIs • Inicio do Curso II de Formação • Elaboração do documento de sistematização do projeto • Trocando em Miúdos com Mostra do Panorama geral dos anos de Projeto nos 4 CEIs • Exposição nos CEIs Allan Kardec, Zeza Calmon de Sá,Juracy Magalhães Projeto trilha das artes - 22 - Parceiros de Trilha AVANTE - Educação e Mobilização Social: entidade gestora do projeto Trilha das Artes A AVANTE nasceu em 1991, e em maio de 1996 estruturou-se como uma organização social sem fins lucrativos. Sua missão é conceber e implementar projetos de educação e mobilização social, por meio de parcerias estratégicas, da formação e participação em redes de ações de assessoramento e apoio técnico e do desenvolvimento de tecnologias e processos de intervenção social. A Avante é uma Instituição reconhecida pela qualidade do seu trabalho em educação e mobilização social, pela adoção do princípio e da prática do saber construído coletivamente e por sua capacidade de reunir competências, articular parcerias e atuar em rede. A AVANTE e o Trilha das Artes Em setembro de 2005, consolidou-se uma parceria que foi fruto dos vínculos estabelecidos entre a Avante e a Acredite nos caminhos de luta pelo atendimento de qualidade na Educação Infantil, no município de Salvador. O projeto INTEGRARTE, apoiado pelo IMPAES, identificou na AVANTE um novo parceiro de caminhada, visto que ambas estão imbuídas pelo/no compromisso por esta luta pela educação de qualidade e têm crenças em comum, que aproximam e tornam parceiros aqueles que trabalham por um mesmo fim. Os pontos convergentes mais relevantes em relação à identidade do projeto Trilha das Artes e os princípios que orientam as ações da Avante são: • Acreditamos que o saber é instrumento fundamental para o desenvolvimento do indivíduo como ser autônomo e competente e para o desenvolvimento do grupo como espaço de transformação e crescimento; • Acreditamos que a construção do saber se dá em um processo contínuo e diferenciado, coletivamente na confrontação e integração dos opostos e das contradições da realidade, tendo como resultados aprendizagens, mudanças e o exercício da cidadania ativa; • Acreditamos que o sentido maior do que fazemos é fortalecer as instituições e as pessoas e torná-las mais autônomas e seguras; • Acreditamos que a forma mais potente de realizar um processo de formação desta natureza é o modelo de reflexão – ação – reflexão, com ênfase na prática, tendo a teoria como instrumentode consolidação de uma ação pedagógica de qualidade; • Acreditamos que as Artes Visuais, assim como outras formas de arte, são estruturantes para o desenvolvimento integral das crianças e devem ser incorporadas ao currículo da Educação Infantil como áreas de conhecimento. ACREDITE - Associação de Creches e Pré-Escolas1 Associação fundada em 1999, em decorrência do fortalecimento das relações interinstitucionais entre diversas creche-escolas comunitárias, no âmbito de processos formativos, dentre os quais a Avante era uma das entidades gestoras. A Avante elaborou uma proposta com o objetivo de fortalecer as lideranças das instituições interessadas para a formação de uma REDE que integrasse todas as Instituições de Educação Infantil da Região Metropolitana de Salvador, desenvolvendo projetos de apoio às creches associadas, iniciativa que contou com o apoio do Instituto C&A. No inicio de 1999 o grupo contava com 26 creches. Em 2000, com 23, todas atendendo crianças na faixa etária de 0 a 6 anos, em tempo integral, gratuitamente. Durante 1999 o grupo participou mensalmente de seminários promovidos pela Avante, discutindo a realidade de cada instituição, aproximando as lideranças, promovendo a descoberta do seu potencial enquanto grupo 1 Este texto informativo será atualizado, de acordo com a atual apresentação da instituição em seu site (informações lançadas na semana em que este documento foi concluído, já solicitadas à Acredite). Processo de Sistematização - 23 - para que pudesse concretizar um objetivo maior: criar uma Associação de Creches e Pré-Escolas. Ainda em 1999, foi fundada a ACREDITE, com o seguinte perfil: entidade sem fins lucrativos, composta de 23 instituições filantrópicas e comunitárias2 da região metropolitana de Salvador. Tem como missão “integrar e fortalecer as instituições de educação infantil associadas, a fim de que possam contribuir para o desenvolvimento integral da criança”. Assim, a ACREDITE - Associação de creches e pré-escolas - exerce um papel importante para a garantia dos direitos da criança. Considerações da ACREDITE sobre o contexto local3 Existe em Salvador um grande número de creches filantrópicas e comunitárias que atendem crianças na faixa etária de 0 a 6 anos. Nas considerações apresentadas pela ACREDITE, em sua maioria: • estas instituições funcionam sem infra-estrutura adequada; • seus educadores não estão capacitados para exercer a função; • não existe uma proposta pedagógica para conduzir o processo educativo; A maioria dessas creches está localizada em “comunidades de alto risco, onde a violência faz parte do dia-a-dia das famílias”; nestas comunidades: • a assistência médica é precária; • as crianças, quando não estão na creche, ficam expostas a todo tipo de dificuldades ligadas à miséria social; Os recursos das instituições se originam de doações; os convênios muitas vezes não atendem às necessidades das instituições para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade. Preocupados em melhorar a qualidade do atendimento à infância e promover a formação integral da criança, com base na LDB, algumas lideranças das creches decidiram unir suas forças, visando trabalhar de modo integrado e comprometido com os resultados dos serviços prestados. IMPAES - Instituto Minidi Pedroso de Arte e Educação Social Concebido pela artista que lhe dá o nome e os investimentos necessários para a implementação dos projetos, o Instituto, fundado em abril de 2004, nasceu com a missão de apoiar projetos de arte-educação social voltados a crianças e jovens de baixa renda, sem a pretensão de formar artistas. Estimular o crescimento pessoal do ser humano, utilizando a Arte como ferramenta de apoio, e capacitar multiplicadores nas comunidades ou instituições atendidas são suas principais propostas. Assim, propõe beneficiar iniciativas que tenham como meta a capacitação de educadores na área da arte, visando efeito multiplicador em todas as suas ações, sempre voltadas à formação de crianças, jovens e adultos, em comunidades de baixa renda. O Instituto mantém parceria com uma série de instituições, possibilitando o desenvolvimento de projetos de arte-educação em comunidades de baixa renda de São Paulo e Bahia. O Impaes apóia e desenvolve programas com parceiros que sejam referência no ensino da arte, racionalizando investimentos e contribuindo para a melhoria técnica destas iniciativas. No ano de 2006 contou com oito parceiros em diferentes projetos de arte educação, dentre os quais está a Avante, em Salvador, gestora do Projeto Trilha das Artes. 2 Em 2006 contava com 17 CEI associados. 3 Documento disponibilizado pela instituição, elaborado em 2000, com objetivo de relatar o processo de criação da associação, o universo de creche-escolas associadas, as ações desenvolvidas e as expectativas existentes na época. Projeto trilha das artes - 24 - Com a Associação Amigos da Pinacoteca capacita pessoas responsáveis pela orientação artística em comunidades de baixa renda, com a Associação Arte Despertar prepara jovens para monitorar crianças e ainda trabalha com professores de uma unidade da ASA-Associação Santo Agostinho; com a Associação Cidade Escola Aprendiz realiza programa de formação para jovens de Heliópolis, Jardim Conceição e Paraisópolis, em São Paulo, partindo da arte como intervenção urbana; com o Associação Projeto Carmim apóia o curso de formação de arte empreendedores sociais; com o CAIC (Centro de Atenção Integral à Criança) proporciona o aprendizado da técnica da pintura óleo sobre tela a jovens e crianças de Guaxupé, Minas Gerais; com o Instituto Tomie Ohtake focaliza a arte contemporânea para professores da rede pública; e com o Projeto Arrastão promove a formação de multiplicadores de arte-educação na comunidade de Campo Limpo, em São Paulo. Desde 2005, o Impaes firmou parceria com o Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária para acompanhar o desenvolvimento dos projetos, e selecionar novas propostas por meio do Programa Desafios Impaes. [fonte: site do Impaes: www.impaes.org] Os Centros de Educação Infantil (C.E.I.) CEI AllAN KARDEC O CEI Allan Kardec se localiza no bairro Nordeste de Amaralina, em Salvador. Iniciou suas atividades em março de 1989. Foi criado a partir da mobilização um grupo de trabalhadoras da Petrobrás, que fazem parte do Centro Espírita União, Amor e Luz. Frente à necessidade de contribuir para a diminuição das desigualdades sociais, para minimizar tantas questões de ordem social, esse grupo propôs dar assistência no plano educacional à crianças, oferecendo uma assistência pedagógica de qualidade e assegurando-lhes igualdade de direitos e possibilidades de crescimento pessoal e social. Atendimento do CEI Allan Kardec em 2006 Grupo [por faixa etária] Matrículas em 2006 01 ............................................................ - 02 ...........................................................20 03 ...........................................................45 04 ...........................................................25 05 ...........................................................24 06 ...........................................................25 TOTAL ..................................................139 Allan Kardec em 2006 quadro Funcional Função ...............................................Número Gerente Executivo ..................................01 Coordenador de projetos ........................01 Coordenador Pedagógico ........................01 Assessor de Gestão .................................01 Professores .............................................06 Auxiliar de classe ...................................11 Auxiliar de secretaria ..............................01 Auxiliar de serviço gerais ........................01 Supervisor de serviço gerais ....................01 TOTAL ...................................................24Participação nos cursos de formação por categorias Professores-multiplicadores .....................04 Professores .............................................04 Auxiliares de classe ................................03 Coordenador pedagógico ........................01 TOTAL ...................................................12 CEI ZEZA CAlMoN DE SÁ Localizado em Coutos, bairro do subúrbio ferroviário de Salvador, a creche Zeza Calmon de Sá foi fundada juntamente com o Mosteiro do Salvador, em 1977. Esta surgiu para atender as necessidades da comunidade, como um espaço para acomodar as crianças enquanto as mães iam trabalhar. A idéia inicial era oferecer cuidados relacionados às necessidades básicas das crianças, e a escolarização não aparecia como prioridade. Apenas duas das seis salas da instituição eram ocupadas para desenvolver o trabalho de educação formal. Processo de Sistematização - 25 - Com o tempo houve uma mudança da clientela atendida, que exigiu uma revisão das finalidades da instituição. Percebeu-se a necessidade da creche ter um caráter pedagógico de maior abrangência. Reuniu-se uma equipe técnica qualificada para desenvolver atividades pedagógicas e definiu-se uma linha de atendimento dentro da Educação Infantil. Esta transformação culminou na desativação do berçário. Tendo em vista as melhorias necessárias, a escola buscou parcerias, promovendo um melhor atendimento às crianças. Atualmente esta instituição é um espaço para cuidar e educar crianças, respaldado no Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (MEC), e trabalha para incluí-las no processo social. Para isso vem desenvolvendo, em paralelo, trabalhos de integração entre Escola – Família – Comunidade, através da realização de reuniões de pais e educadores, e da promoção de palestras, seminários e cursos para a sociedade. Assim, todas suas ações são vistas como meios de atender a criança de forma integral. Atendimento do CEI Zeza Calmon de Sá em 2006 GRUPO matrículas em 2006 01 ...........................................................- 02 ......................................................... 25 03 ......................................................... 50 04 ......................................................... 50 05 ......................................................... 50 06 ......................................................... 25 TOTAL .................................................. 200 CEI Zeza Calmon de Sá em quadro Funcional Função Número Gerente Executivo ..................................01 Coordenador Pedagógico ........................01 Assistente Social .....................................01 Professores .............................................05 Auxiliar de classe ....................................07 Secretaria ................................................01 Auxiliar de serviço gerais ........................08 TOTAL ...................................................24 Participação nos cursos de formação por categorias Professores-multiplicadores .....................02 Professores .............................................01 Auxiliares de classe ................................06 Coordenador pedagógico ......................... - TOTAL ...................................................09 CEI JuRACY MAGAlhãES O CEI Juracy Magalhães localiza-se no centro da cidade de Salvador e faz parte de um Complexo denominado Pupileira, onde funcionam alguns serviços da Santa Casa de Misericórdia. O Complexo foi fundado no ano de 1932, com auxilio do governador da Bahia, a partir da necessidade de ampliar o atendimento - até então exclusivamente de internato - a crianças e adolescentes excluídas socialmente. Estendeu assim seu atendimento para a modalidade de semi- internato, a fim de ajudar mães que trabalhavam e não dispunham de recursos e meios para cuidar de seus filhos. Até 2001 a Creche Juracy Magalhães atendia crianças de 02 a 06 anos, 75 em regime de semi- internato e 45 em regime de internato. A partir da analise feita através de um estudo avaliativo em 2001, a Santa Casa definiu que o atendimento à primeira infância seria prioridade. Desativou então o internato e ampliou sua capacidade de atendimento, criando 4 novos centros de educação infantil em regime escolar integral, atendendo 100 crianças de 01 a 06 anos em cada um deles. A Creche Juracy Magalhães também aumentou sua capacidade de atendimento, passando a atender 270 crianças. Atendimento do CEI Juracy Magalhães em 2006 Grupos matrículas em 2006 01 .........................................................40 02 .........................................................45 03 .........................................................48 04 .........................................................45 05 .........................................................43 06 .........................................................36 TOTAL ..................................................257 Projeto trilha das artes - 26 - CEI Juracy Magalhães* quadro Funcional Função ................................................. Número Coordenador Administrativo ...................01 Coordenador Pedagógico ........................01 Assistente Social .....................................01 Professores .............................................12 Auxiliar de classe ....................................17 TOTAL ...................................................32 *Pessoal de cozinha, portaria, serviços gerais, fazem parte da administração geral da Santa Casa. Participação nos cursos de formação por categorias Professores-multiplicadores .....................04 Professores .............................................06 Auxiliares de classe ................................. - Coordenador pedagógico ........................01 TOTAL ...................................................11 Processo de Sistematização - 27 - Parte 3 Concepções norteadoras e modos de fazer Educação Infantil, Arte e Formação de educadores O Ministério da Educação (MEC) elaborou em 1998 o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), documento que vem apoiar a prática do educador da Educação Infantil, norteando o seu trabalho nas diversas áreas do conhecimento. O ponto de partida para a elaboração deste documento foi a realização de um diagnóstico das propostas pedagógicas e dos currículos de educação infantil de vários estados e municípios brasileiros, que revela alguns dados importantes para a reflexão sobre a organização curricular e seus componentes. Essa análise apontou para o fato de que a maioria das propostas: • Concebe a criança como um ser social, psicológico e histórico; • Tem no construtivismo sua maior referência teórica; • Aponta o universo cultural da criança como ponto de partida para o trabalho; • Defende uma educação democrática e transformadora da realidade, que objetiva a formação de cidadãos críticos. Ao mesmo tempo, este diagnóstico constatou um grande desencontro entre os fundamentos teóricos adotados e as orientações metodológicas existentes, destacando que não são explicitadas as formas que possibilitam a articulação entre o universo cultural das crianças, o desenvolvimento infantil e as áreas do conhecimento. Considerando este contexto, o projeto Trilha das Artes insere-se, de modo mais amplo, no âmbito do conjunto de ações voltadas à promoção desta articulação, a partir de uma das áreas de conhecimento presentes neste documento: as Artes Visuais. O RCNEI foi um documento norteador do projeto Trilha das Artes desde sua elaboração, por apresentar convergências com seus principais parâmetros. Isto é, por apresentar, de forma clara, algumas concepções balizadoras da criação do projeto e do desenvolvimento de suas ações. Como todas as ações do Trilha das Artes são entendidas como ações formativas, a utilização desse documento se deu tanto em relação àsações que integraram a formação continuada das professoras dos CEI, como na estruturação dos módulos que compõem os cursos de formação I e II. Nesses cursos, alguns conteúdos são partes que compõem o RCNEI, em destaque nos módulos 1 Neste tópico utilizamos a sigla RCNEI ou somente “Referencial” como forma abreviada de Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Projeto trilha das artes - 28 - voltados especificamente às linguagens artísticas - Música, Movimento e as Artes Visuais - que são consideradas como alguns dos eixos de trabalho da educação infantil. Para oTrilha, portanto, conhecer e compreender a organização do Referencial é fundamental, já que este documento contextualiza nossa reflexão principal, cujo foco é o lugar das Artes Visuais na Educação Infantil e suas diversas decorrências nos processos de desenvolvimento e aprendizagem. Compreendemos que estes processos incluem a construção da identidade das crianças, aspecto que, por sua vez, está entrelaçado às elaborações de suas leituras de mundo. Entendemos que este tipo de leitura é um conhecimento em movimento durante toda a vida. Começa desde muito cedo, na primeira infância, e envolve a dimensão ética e estética do conhecimento humano. organização do RCNEI O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é organizado a partir de duas grandes categorias: os âmbitos de experiência e os eixos de trabalho. Os âmbitos são compreendidos como domínios ou campos de ação que dão visibilidade aos eixos de trabalho educativo para que o professor possa organizar sua prática e refletir sobre a abrangência das experiências que propicia às crianças. Este modo de organização visa abranger múltiplos espaços de elaboração de conhecimentos e diferentes linguagens2. A construção da identidade, os processos de socialização e o desenvolvimento da autonomia das crianças, como processos mais amplos que permeiam a educação infantil, são os que propiciam as aprendizagens consideradas essenciais. São definidos dois âmbitos de experiências - Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo – e a partir destes, seis eixos de trabalho, como podemos ver de modo esquemático no quadro abaixo, que também contextualiza o lugar das Artes Visuais neste documento. O quadro a seguir apresenta a organização dos âmbitos e eixos de trabalho de modo esquemático: ÂMBIToS De ExPERIÊNCIAS essenciais que devem servir de referência para a prática educativa FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL: Eixo de trabalho: Identidade e Autonomia • Refere-se às experiências que favorecem prioritariamente a construção do sujeito; • Constitui um volume do documento e está organizado de modo a explicitar as complexas questões que envolvem o desenvolvimento de capacidades de natureza global e afetiva das crianças, seus esquemas simbólicos de interação com os outros e com o meio, assim como a relação consigo mesmas. CONHECIMENTO DE MUNDO: Eixo de trabalho: Movimento, Artes Visuais, Música, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade • Refere-se à construção das diferentes linguagens pelas crianças e relações que estabelecem com os objetos de conhecimento. Este âmbito traz uma ênfase na relação das crianças com alguns aspectos da cultura; • Constitui outro volume do documento, que apresenta cada eixo de trabalho a partir de concepções norteadoras, práticas correntes, objetivos e conteúdos por faixa etária, e orientações didáticas. Aspectos fundamentais, convergentes com a visão do projeto Trilha das Artes: concepção de arte como linguagem e concepção das Artes visuais como objeto de conhecimento humano, 2 Linguagem, nesta concepção, não se restringe ao modelo de linguagem verbal, ou seja, não se limita à linguagem oral e escrita. Refere-se a diversas formas de produção e princípios de organização de conhecimentos, que se constituem como linguagens, pois estão atreladas à criação de significações, sendo atividades essencialmente humanas e intencionais. É nesse sentido que podemos falar de “linguagens artísticas”, como esclarece Penna (2006). É neste entendimento que o termo linguagem pode ser utilizado para se referir, por exemplo, à linguagem musical, corporal, à linguagem das artes visuais e também à linguagem matemática. Processo de Sistematização - 29 - que estrutura uma área de conhecimento específica na educação infantil. O Referencial aponta que os eixos de trabalho do âmbito Conhecimento de Mundo - Movimento, Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e Sociedade, Matemática - foram escolhidos por se constituírem em uma parcela significativa da produção cultural humana, que amplia e enriquece as condições de inserção das crianças na sociedade. A articulação entre Arte, Cultura e Educação também está presente na LDB, ao propor que “o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.3 No RCNEI a cultura é entendida como o conjunto de códigos e produções simbólicas, científicas e sociais da humanidade, construído ao longo das histórias dos diversos grupos, considerando múltiplos aspectos e em constante processo de reelaboração e ressignificação. Esta idéia de cultura transcende, mas engloba, os interesses momentâneos, as tradições específicas e as convenções de grupos sociais particulares. Neste contexto, uma proposição importante para o projeto Trilha das Artes, dentro do Referencial, é a importância de promover o domínio progressivo das diferentes linguagens na educação infantil. Compreende-se que este domínio progressivo favorece a expressão e comunicação de sentimentos, emoções e idéias das crianças, propicia a interação com os outros e facilita a mediação com a cultura e os conhecimentos constituídos. Isto incide sobre aspectos essenciais do desenvolvimento e da aprendizagem e engloba instrumentos fundamentais para as crianças continuarem a aprender ao longo da vida. A nosso ver, estas considerações gerais, desde já, justificam a importância da valorização das Artes Visuais como área de conhecimento da educação infantil. As concepções apresentadas contribuem significativamente para fundamentar a elaboração de propostas pedagógicas e de projetos didáticos desta área, de modo a reconhecê-la como uma área tão importante quanto às outras que compõem o currículo de educação infantil. AS considerações abaixo vem reforçar este posicionamento. O RCNEI define as instituições de educação infantil como espaços de inserção das crianças nas relações éticas e morais que permeiam a sociedade. Ressalta-se que o trabalho educativo deve: • tornar acessível a todas as crianças, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social; • criar condições para as crianças conhecerem, descobrirem e ressignificarem experiências, sentimentos, valores, idéias, costumes e papéis sociais. Nesta perspectiva, o trabalho educativo cumpre um papel socializador e propicia o processo de construção da identidade das crianças por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação. Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo, configura um tripé apontado o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. Como as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem, com as outras pessoas e com o meio em que vivem, a qualidade destas interações é muito importante. Nos processos formativos desenvolvidos pelo Trilha das Artes, este é um aspecto transversal, ou seja, compõe os conteúdos abordados nos cursos de formação, bem como no processo de formação continuada - nas reflexões promovidas junto às professoras multiplicadoras, a partir das situações vividas em sala de aula e de suas intervenções. Dentro das concepções que vimos destacando, o processode construção do conhecimento envolve um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação, no qual “as crianças utilizam as mais diferentes linguagens” e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que 3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), seção que trata sobre a educação básica, art. 26, § 2º. Projeto trilha das artes - 30 - buscam desvendar. Compreender as implicações destas proposições para a prática educativa é um elemento fundamental na formação dos educadores, que incide diretamente nas orientações didáticas de todas as áreas de conhecimento. Todos estes parâmetros fortalecem o entendimento de que as Artes são indispensáveis e insubstituíveis na Educação Infantil. As linguagens artísticas garantem um significativo espaço de expressão e significação para as crianças; integram a atividade intelectual e as relações afetivas, contribuindo na organização de suas experiências. Consideramos que quando as Artes Visuais são trabalhadas em sintonia com estes referenciais, além de garantir este espaço de expressão, têm o valor de uma avaliação do momento que a criança vive, pois envolvem suas leituras de mundo, sua capacidade de representação (ou competência simbólica), e diversos aspectos de seu desenvolvimento psicomotor, de modo integrado à seu processo de construção de identidade e estruturação subjetiva. Ao se expressar plasticamente a criança tem oportunidade de pensar, sentir e fazer. Ou seja, as crianças constroem sentidos às próprias experiências, e podem ressignificá-los continuamente, num processo onde a criação e a cognição estão fortemente implicadas. Estes princípios nortearam a criação e a elaboração do projeto Trilha das Artes ao longo de seu desenvolvimento, num processo onde o acompanhamento da prática cotidiana das professoras, o diálogo e a reflexão sobre a prática foram fundamentais. Segundo o RCNEI, a presença das Artes Visuais na educação infantil, ao longo da história, tem demonstrado um descompasso entre os caminhos apontados pela produção teórica e a prática pedagógica existente. O diagnóstico realizado pelo MEC, destaca os seguintes aspectos em relação às práticas correntes nesta área: • As práticas de Artes Visuais são muitas vezes entendidas apenas como meros passatempos, destituídas de significados; • Uma das principais práticas correntes considera que o trabalho deve ter uma conotação decorativa. Nessa situação os adultos fazem grande parte do trabalho, uma vez que não consideram que a criança tem competência para elaborar um produto adequado; • As Artes Visuais têm sido bastante utilizadas como reforço para a aprendizagem de variados conteúdos. ARTES VISuAIS No CoTIDIANo DoS C.E.I. Até então Artes era só desenhar - dar forma a alguma coisa - e pintar. (...) Ela [a área de artes] passou a ter significado no dia que surgiu o Integrarte no meu espaço de trabalho. No começo tudo era muito difícil e complexo, pois quando não entendemos uma coisa, essa coisa praticamente não tem significado algum. Levei muito tempo para entender como trabalhar com Artes, até hoje em alguns momentos eu fico insegura. Brígida Raquel, professora-multiplicadora do Projeto trilha das Artes (2006) (...) Já no que se refere a meu papel como educadora, é que vim a compreender essa importância e venho, a cada dia, utilizando essas ferramentas da arte visando a melhoria do aprendizado dos educandos não só nessa área, mas em todas as outras disciplinas. Outra oportunidade que me enriqueceu, nesse aspecto, foi o curso Trilha das Artes que, pouco a pouco, vem me levando a refletir sobre a importância da arte, não só na minha vida profissional, mas também na minha vida, como um todo. Marita Pontes, professora do CEI Juracy Magalhães (2006) A experiência vivida no projeto Trilha das Artes nos oportunizou constatar a “quase inexistência” de formação em relação à área de Artes Visuais, pois predominava significativamente o despreparo da maioria das educadoras, o que aponta diretamente para o modo como as Artes, em geral, ainda são compreendidas e implementadas nas propostas educativas dos Centros de Educação Infantil. Assim, em nosso contexto a situação encontrada apontava exatamente para as considerações gerais do diagnóstico do RCNEI: a Processo de Sistematização - 31 - falta de conhecimentos para subsidiar o trabalho nesta área, diretamente ligada ao fato da mesma não ser tratada como “área de conhecimento” e sim como um tipo de atividade “passatempo”, atrelada à concepção de recreação - como algo que se faz num tempo livre, de modo descontextualizado em relação ao mundo dos conhecimentos ligados ao ensinar e aprender. Aquilo que se refere ao “aprender” ainda é predominantemente associado à linguagem verbal/escrita e à linguagem matemática. Esta constatação indica o quadro de insuficiência da formação dos educadores, ou seja, uma falta de conhecimento sobre os objetivos e conteúdos da área de Artes Visuais (suas especificidades), o que está atrelado à falta de reconhecimento da mesma como área de conhecimento na educação infantil. [reflexão /coordenação] A escolha do turno das aulas de arte nos CEI Inicialmente deixamos a escolha do turno em que os ateliês aconteciam nos CEI por conta da coordenação dos mesmos. Quando chegamos nos CEI para desenvolver o Trilha, toda e qualquer atividade de Arte era realizada no turno da tarde. Isto porque as manhãs eram “reservadas” para as outras áreas, especialmente linguagem e matemática. É importante ressaltar que geralmente, o turno da tarde, nestas instituições, é focado muito mais nas questões relativas ao cuidar das crianças e não ao educar. Portanto, o tempo para a realização de qualquer atividade é mais curto e permeado de questões da rotina do cuidar, como: soninho, banho, merenda etc. Além disso, a estrutura de pessoal é reduzida e menos qualificada. Logo nos primeiros meses fomos percebendo que os ateliês estavam sendo comprometidos demais por essas questões. Propusemos então a troca de turno. Após alguns encontros reflexivos com as coordenações dos CEI – que, a princípio, relutaram em aceitar a nossa sugestão - ficou claro que a questão era relativa à aceitação da área de Arte como uma das áreas de conhecimento a serem trabalhadas, com conteúdos e objetivos específicos. Essa mudança implicaria em ter as aulas de arte no “horário nobre” e, portanto, num ajuste dos planejamentos semanais dos CEI. Assim, essa mudança de turno contribuiu muito para que a área de Artes Visuais fosse de fato inserida no currículo como uma área de conhecimento tão relevante quanto às outras. Observamos que as áreas mais exploradas - Matemática e Linguagem Oral e Escrita - são as áreas em que as educadoras se sentem mais seguras, pois são as mais vivenciadas por elas em suas formações como alunas. Além disto, são estas as áreas que recebem mais investimentos formativos, destacando-se na ocupação do espaço-tempo voltado a reflexões e articulações teórico-práticas - como momentos de análise da prática; planejamentos; elaboração de projetos – e em relação a quantidade de referências e materiais de apoio. “A minha vivência escolar em Artes Visuais como educadora, foi sempre através de atividades como: pintura, desenho, colagem, dobradura ou sempre atrelada com outra disciplina – Português, Matemática e outras, mas não especificamente Artes Visuais. Eram atividades que podiam ‘desenvolver a criatividade da criança’, sem a preocupação em dar ênfase a um conhecimento das artes propriamente ditas.” “(...) Trabalhei durante oito anos numa escola particular que se dizia sócio-construtivista (...) a pró [professora] não dava o desenho pronto para as crianças pintarem, mas as festinhas, os murais, as exposições eram todas feitas pela pró. Tudo bem perfeito, recortado e pintado.” (relatos escritos de professoras/ CEI Juracy Magalhães) Constatamos que
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