Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
IESC IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período O planejamento familiar é definido no art. 2º da Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996: O conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher e pelo homem. É um direito sexual e reprodutivo. A atenção em planejamento familiar deve levar em consideração o contexto de vida de cada pessoa e o direito de todos poderem tomar decisões sobre a reprodução sem discriminação, coerção ou violência. Planejamento reprodutivo é um termo mais adequado que planejamento familiar e não deve ser usado como sinônimo de controle de natalidade. Na Atenção Básica, a atuação dos profissionais de saúde, no que se refere ao planejamento reprodutivo, envolve, principalmente, três tipos de atividades: Aconselhamento; Atividades educativas; Atividades clínicas. Critérios de Elegibilidade: Categoria 1: o método pode ser usado sem restrições. Categoria 2: O método pode ser usado com cautela e mais precauções, especialmente com acompanhamento clínico mais rigoroso. Categoria 3: Contraindicação relativa. O uso do método pode estar associado a um risco, habitualmente considerado superior aos benefícios decorrentes de seu uso. Deve ser utilizado quando não houver outra opção disponível, com vigilância médica rigorosa. Categoria 4: Contraindicação absoluta. O uso do método determina um risco à saúde inaceitável. A eficácia de um método contraceptivo é a capacidade do método de proteger contra uma gravidez não desejada e não programada. É expressa pela taxa de falhas do método em determinado período de tempo. O escore mais utilizado para avaliação da eficácia é o índice de Pearl, calculado desta forma: Uso perfeito: quando o contraceptivo é usado sempre e de forma correta, conforme a prescrição. Uso típico: quando o contraceptivo não é usado sempre e/ou não é usado de forma correta O que o SUS oferece: Pílula combinada de baixa dosagem (etinilestradiol 0,03 mg + levonorgestrel 0,15 mg). Minipílula (noretisterona 0,35 mg). Pílula anticoncepcional de emergência (levonorgestrel 0,75 mg). Injetável mensal (enantato de norestisterona 50 mg + valerato de estradiol 5 mg). Injetável trimestral (acetato de medroxiprogesterona 150 mg). Preservativo masculino. Diafragma. DIU Tcu-380 A (DIU T de cobre). MÉTODOS REVERSÍVEIS (NÃO-DEFINITIVOS) MÉTODOS COMPORTAMENTAIS Os métodos anticoncepcionais comportamentais se baseiam na identificação do período fértil por meio da observação de sinais e sintomas, durante o qual as relações sexuais devem ser evitadas. Esses métodos possuem a vantagem se serem baratos, naturais, sem efeitos adversos e são bem aceitos quando as crenças religiosas do casal não permitem outros métodos. No entanto, possuem altas taxas de falhas, pois requerem longos períodos de abstinência sexual e estão susceptíveis à irregularidade menstrual. Além disso, esses métodos não protegem contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Os principais métodos são: TABELINHA: Para usar esse método, a mulher deve registrar o número de dias de cada ciclo menstrual por, pelo menos, seis meses. TEMPERATURA BASAL: Nesse método a mulher deve observar as variações da temperatura corporal basal, buscando identificar o provável dia de ovulação. O princípio se baseia no fato de que após a ovulação, o aumento da progesterona liberada pelo corpo lúteo atinge o centro termorregulador do hipotálamo, levando ao aumento da temperatura corporal em 0,2 a 0,5 graus. MÉTODO DA OVULAÇÃO OU DO MUCO CERVICAL (MÉTODO DE BILLINGS): Nesse método, busca-se observar as características do muco cervical sob ação estrogênica, durante período ovulatório. Nessa fase, o muco cervical torna-se filante, como clara de ovo, permitindo ao espermatozoide a sobrevivência e locomoção. Planejamento familiar IESC IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período COITO INTERROMPIDO: Esse método se baseia na retirada do pênis da vagina antes da ejaculação. Por isso, requer grande atenção do homem durante o ato sexual. Além disso, apesar de incomum, o fluido seminal que precede a ejaculação, pode conter espermatozoides, levando a uma possível gestação indesejada. Dessa forma, esse método possui altas taxas de falhas, 25% ao ano. MÉTODOS DE BARREIRA São métodos que formam uma barreira entre os espermatozoides e a cavidade uterina, impedindo a fecundação. O nível de eficiência desses métodos varia entre 2 a 6%, a depender se seu uso é correto. Todos os métodos de barreira, além do efeito contraceptivo, também reduzem a transmissão de ISTs. PRESERVATIVOS (CAMISINHA): Dentre os métodos de barreira os preservativos são os mais utilizados. Existem os preservativos masculinos e femininos. DIAFRAGMA: O diafragma é um disco de borracha ou látex, colocado na vagina, recobrindo colo do útero para impedir a entrada de espermatozoides. Possui vários tamanhos, por isso, antes do início do uso, é necessária uma consulta com o ginecologista para ser indicado o tamanho mais adequado para a paciente. Geralmente é usado em associação aos espermicidas, adquirindo em conjunto um bom índice de efetividade. O diafragma é colocado na vagina até no máximo 1 hora antes da relação sexual, deve ser retirado no mínimo 6 horas depois e nunca deve ultrapassar 24 horas. Sua colocação requer certa habilidade, sendo que seu mau posicionamento pode resultar em falha do método. ESPERMICIDA: Os espermicidas são substâncias em forma de tabletes de espuma, geleia ou creme que provocam a ruptura da membrana das células dos espermatozoides matando-os ou retardando sua passagem pelo canal cervical. É recomendado o seu uso apenas em associação com outros métodos contraceptivos, como o diafragma. No entanto, não deve ser usada com preservativos masculinos, pois pode aumentar o risco de contaminação pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS (DIUS) Consistem em um objeto de formato variável que é inserido na cavidade uterina. Eles são amplamente difundidos como métodos contraceptivos reversíveis, possuem pequenas taxas de falha e descontinuidade, poucas contraindicações e têm um ótimo custo-benefício. DIU de cobre: é o dispositivo mais utilizado no Brasil, sendo o único fornecido pelo SUS no Brasil. Tem formato de T, é feito de um fio de prata corado com cobre e pode ser eficaz de 10 a 12 anos. O DIU-Cu age por meio da indução de uma reação de corpo estranho, levando à inflamação, visto que o cobre induz a liberação de interleucinas e citocinas que têm ação espermicida. Além disso, leva a mudanças bioquímicas e morfológicas no endométrio, além de produzir modificações no muco cervical e alterar a espermomigração e transporte do óvulo. Apesar dos inúmeros benefícios, esse método também está relacionado a alguns efeitos adversos como aumento da dismenorreia e aumento do sangramento uterino. Contraindicações do DIU de cobre: gravidez, alteração da cavidade endometrial, presença de infecções, sangramento uterino inexplicado, câncer cervical ou endometrial, período de 48h a 4 semanas após o parto e alergia ao cobre. Para a inserção dos DIUs, deve ser realizada uma anamnese e exame físico minucioso, buscando identificar contraindicações ao método. O melhor momento para ser inserido é durante a menstruação, pois nesse período o colo do útero está mais pérvio, facilitando a inserção CONTRACEPÇÃO HORMONAL Os contraceptivos hormonais são métodos extremamente difundidos e eficazes. No entanto, seu índice de sucesso depende fundamentalmente da paciente. Com isso, na prática seu índice de falhas aumenta consideravelmente decorrente do uso incorreto. Contraceptivos hormonais combinados (CHCs): Os CHCs possuem a combinação de um estrogênio e um IESC IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período progestogênio no mesmo método. Desse grupo fazem parte as pílulas contraceptivas de uso oral, o injetável mensal, o adesivo transdérmico e o anel intravaginal. Apresentam bons níveis de efetividade e continuidade do uso do método. O mecanismo de ação dos CHCs ocorre pela inibição da ovulação = O componente de estrogênio dos CHCs inibe o FSH (responsável pelo recrutamento e desenvolvimento folicular), enquanto que o progestogênio age inibindo o LH (responsável pela ovulação). Além disso, a progesterona presente nesses contraceptivos torna o muco cervical espesso, dificultando a espermomigração, reduz a motilidade tubária e ainda tem efeito antiproliferativo no endométrio. Já o estrogênio contido na formulação estabiliza o endométrio, reduzindo os sangramentos e aumenta a produção hepática da globulina carreadora de hormônios sexuais (SHBG), reduzindo a fração livre de testosterona. Contraceptivo oral combinado (COCs): Também são conhecidos como pílulas anticoncepcionais. O principal estrogênio utilizado é o etinilestradiol. Mas novas formulações podem conter o estradiol e o valerato de estradiol que são estrogênios naturais. As pílulas devem ser iniciadas no primeiro dia do ciclo menstrual. As cartelas a depender do tipo esquema utilizado indicam pausas mensais que podem variar de quatro a sete dias. Alguns anticoncepcionais de 28 dias podem ser utilizados sem pausa. No caso de esquecimento, deve se fazer o uso da pílula esquecida mais a pílula do dia para evitar sangramento por colapso endometrial. Já o restante da cartela deve ser consumido com uma pílula por dia. Em caso de mais de um dia esquecido, deve-se utilizar um contraceptivo de barreira por pelo menos 7 dias para evitar gestação. Em caso de vômitos, diarreia ou uso de medicamentos que reduzam a eficácia contraceptiva (rifampicina, anticonvulsivantes: fenitoína, carbamazepina, barbitúricos, primidona, topiramato, oxcarbazepina) deve-se orientar uso adicional de método de barreira (preservativo) e/ ou substituição do método. Contraindicações (Categoria 4): Evento tromboembólico atual ou pregresso, independente do uso de anticoagulante; Trombofilia conhecida; Cirurgia maior com imobilização prolongada; Lúpus; Doença valvular complicada com hipertensão pulmonar, fibrilação atrial, endocardite bacteriana. Tabagismo (≥15 cigarros/dia) + idade maior que 35 anos; Doença cardíaca isquêmica atual ou pregressa; Hipertensão arterial sistêmica descompensada (sistólica≥160 mmHg ou diastólica≥100 mmHg) AVC; Enxaqueca com aura; Enxaqueca sem aura + idade ≥35 anos para continuação; Câncer de mama atual; Diabetes complicada CONTRACEPTIVOS APENAS DE PROGESTOGÊNIO (COPS) Esses contraceptivos possuem como hormônio apenas a progesterona. Seu funcionamento básico ocorre por espessamento do muco cervical, impedindo, portanto, a progressão do espermatozoide, redução da motilidade tubária, inibição da proliferação endometrial, determinando hipotrofia ou atrofia. Algumas preparações podem promover a inibição da ovulação, dependendo da dose e tipo do progestagênio. Como começar: a drágea deve ser administrada no primeiro dia do ciclo menstrual. Cartelas subsequentes – o blister contém 35 drágeas ativas. Deve-se administrar uma drágea por dia, sempre no mesmo horário, sem pausas. Contraindicações (Categoria 4): Câncer de mama atual HORMONAIS INJETÁVEIS MENSAL: Primeira aplicação no primeiro dia do ciclo menstrual. Administrações subsequentes: independentemente do padrão IESC IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período de ciclo menstrual, em intervalos de 30 ± 3 dias. As contraindicações são as mesmas do oral combinado. Se passar de 33 dias agendar consulta. INJETÁVEIS TRIMESTRAIS: O mecanismo de ação é diferente dos outros métodos contendo apenas progestagênio, pois além de alterar a espessura endometrial e espessar o muco cervical, bloqueia o pico de LH evitando a ovulação Primeira aplicação: Antes de iniciar o uso, é necessário descartar possibilidade de gravidez; Até o quinto dia do ciclo menstrual natural; Até o quinto dia pós-parto (se não estiver em aleitamento materno); A partir da sexta semana pós parto (se estiver em aleitamento materno). Administrações subsequentes Em intervalos de 12-13 semanas, sendo no máximo a cada 13 semanas (84 a 91 dias). Após a sua descontinuação, a ovulação retorna em 14 semanas, mas pode demorar até 18 meses. ANTICONCEPCIONAL DE EMERGÊNCIA – PÍLULA DO DIA SEGUINTE A contracepção de emergência é um método que visa prevenir uma gestação inoportuna após relação sexual até 120 horas. Pode ser indicada no ato sexual desprotegido, falha ou uso inadequado do método contraceptivo em uso ou violência sexual. O mecanismo de ação desses métodos varia de acordo com o período do ciclo menstrual no qual é utilizado. Se o uso ocorre na primeira fase do ciclo, antes do pico do LH (hormônio luteinizante), ele altera o desenvolvimento folicular, impedindo ou retardando a ovulação. Já quando é usado na segunda fase do ciclo menstrual, ou seja, após a ovulação, ele modifica as características do muco cervical, deixando-o mais viscoso e com isso alteração o transporte dos espermatozoides. Atualmente estão disponíveis vários métodos contraceptivos de emergência. Os mais utilizados são o método Yuzpe e o contraceptivo de levonorgestrel isolado. MÉTODOS IRREVERSÍVEIS (DEFINITIVOS) LIGAÇÃO DE TROMPAS (LAQUEADURA) Na ligadura tubária realiza-se a obstrução do lúmen tubário, principalmente o istmo, seja com fio cirúrgico e/ou secção da trompa, eletrocoagulação ou obstrução mecânica com clips ou anéis. Com isso, se impede o transporte do óvulo e o encontro dos gametas femininos e masculinos. Pode ser realizado tanto por via laparotômica, laparoscópica, vaginal ou histeroscópica. Recentemente, começaram a valer novas regras para laqueadura e vasectomia (no aparelho reprodutor masculino) com a atualização da lei do planejamento familiar: A idade mínima passou de 25 para 21 anos; Quem tem pelo menos 2 filhos vivos também está autorizado, independentemente da idade; Foi dispensada a autorização do cônjuge para realizar a cirurgia; Pessoas sem filhos podem fazer a esterilização, desde que tenham a idade mínima; Mães podem fazer laqueadura imediatamente após o parto; É necessário esperar 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico. VASECTOMIA Na vasectomia se faz a ligadura do ducto deferente, podendo ser realizado apenas com anestesia local. Esse procedimento não altera o aspecto do sêmen e não afeta o desempenho sexual.
Compartilhar