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SEGURANÇA PÚBLICA CONTEMPORÂNEA AULA 2 Prof. Alex Erno Breunig 2 INTRODUÇÃO Nesta aula, abordaremos a estrutura organizacional em que se localizam os órgãos de segurança pública, as instituições policiais que não possuem previsão na Constituição Federal e a necessária integração entre as autoridades direta e indiretamente envolvidos na garantia da segurança pública. Bons estudos! TEMA 1 – ÓRGÃOS CONSTITUCIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA Para estudar a segurança pública contemporânea é necessário compreender as disposições constitucionais a respeito dos órgãos públicos por ela responsáveis. O arcabouço jurídico principal está disposto no art. 144 da CRFB/88, que dispõe sobre os órgãos policiais incumbidos da segurança pública, conforme a seguir transcrito: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares; VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. É absolutamente relevante perceber que a Constituição Federal determina, com singular acerto, que a segurança pública é “dever do Estado”, direito e “responsabilidade de todos”. Conforme determina a Constituição Federal, a segurança pública será exercida para a “preservação da ordem pública”, sendo assim, entendemos importante trazer uma definição dessa expressão, o que pode ser feito por meio da análise do art. 2º do Decreto n. 88.777, de 30 de setembro de 1983 (Brasil, 1983), sendo o “Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, 3 fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum”. Os órgãos policiais constitucionais têm suas competências estabelecidas nos parágrafos do art. 144 da CRFB/88, sobre os quais trataremos a seguir. Polícia Federal, que possui competências determinadas pelo parágrafo 1° do art. 144 da CRFB/88. Essa polícia pertencente à estrutura do Poder Executivo Federal e se destina a apurar infrações penais específicas, prevenir e reprimir o tráfico ilício de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, bem como exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras e, ainda, exercer as funções de polícia judiciária da União. A Polícia Rodoviária Federal, que pertencente à estrutura do Poder Executivo Federal, tem competências estabelecidas no art. 2° do art. 144 da CRFB/88, que determina que lhe compete o patrulhamento ostensivo das rodovias federais. A Polícia Ferroviária Federal, que pertencente à estrutura do Poder Executivo Federal, tendo o menor contingente entre os órgãos de segurança pública, incumbindo-lhe o patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. As Polícias Civis, pertencentes à estrutura dos Poderes Executivos Estaduais, cumprem as importantíssimas atividades de investigação criminal, bem como de prestar apoio ao Poder Judiciário e ao Ministério Público. As Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, pertencentes à estrutura dos Poderes Executivos Estaduais, são organizações baseadas na hierarquia e disciplina, que tem por incumbência a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública e a execução de atividades de defesa civil. Chamamos a atenção para uma característica peculiar do sistema de segurança brasileiro, que é a ausência de “ciclo completo de polícia”, ou seja, nossas instituições policiais exercem suas competências de maneira limitada – ou realizam apenas a prevenção e repressão imediata ou realizam investigação criminal. Por fim, a Constituição Federal trata, ainda, das Guardar Municipais, instituições pertencentes à estrutura dos Poderes Executivos Municipais, que possuem competência constitucional para realizar a proteção dos bens, serviços e instalações do município. Releva que a criação de Guardas Municipais é uma faculdade dos municípios, de acordo com sua conveniência e oportunidade. 4 TEMA 2 – POLÍCIAS PENAL E CIENTÍFICA A despeito de não atuarem diretamente no enfrentamento à criminalidade, visto que não realizam atividades de policiamento preventivo nem de investigações criminais, as policiais penais e científicas exercem atividade da maior importância para a segurança pública. As Polícias Penais, que foram incluídas no art. 144 da CRFB no ano de 2019, podem ser vinculadas à estrutura do Poder Executo Federal ou à dos Poderes Executivos Estaduais, tendo por incumbência a segurança dos estabelecimentos penais. A inovação constitucional corrigiu um equívoco doutrinário e prático, visto que os órgãos policiais diretamente incumbidos do policiamento preventivo e de investigações criminais, que, em regra realizam as prisões, não devem acumular a missão de executar a custódias dos presos, assim, constituiu-se em medida acertada e benéfica para a segurança pública. Conforme ensina Oliveira (s.d., p. 5) “enquanto a grande maioria dos órgãos policiais previstos no referido dispositivo constitucional atua na fase pré-processual penal, como visto, a Polícia Penitenciária atua na fase pós-processual penal, quando aplicada uma pena ou medida de segurança”, sendo esta atividade de extrema importância para diminuir a reincidência e melhorar as condições de segurança em geral. Outra atividade de grande importância é desempenhada pelas Polícias Científicas. Contemporaneamente e, cada vez mais, o uso de tecnologias avançadas para a investigação criminal tem contribuído para a segurança pública. Essa missão é desempenhada pelas Polícias Científicas, que podem pertencer à estrutura organizacional do Poder Executivo Federal ou dos Estados. As Polícias Científicas atuam em diversas especialidades, entre as quais a medicina legal, identificação e criminalística, com o objetivo de investigar vestígios necessários para a identificação de autores de ilícitos e outros detalhes sobre esses. As provas fornecidas por essa polícia especializada, não raras vezes, são irrefutáveis, culminando em absolvições ou condenações com maior garantia de acerto, contribuindo sobremaneira com a segurança pública, por impor nos potenciais infratores a perspectiva da elucidação do delito e da correspondente responsabilização. 5 Todas as especialidades da polícia científica têm muito a contribuir para com a segurança pública, com especial atenção para os exames e bancos de DNA (perfis genéticos) – que se destinam a identificar uma pessoa pela comparação de fluídos corporais relacionados a ilícitos – cadastros de fotografias, padrões balísticos e de impressões digitais. Outra especialidade de grande relevo é a que se destina a identificar substâncias entorpecentes ilícitas, sendo a toxicologia forense, que contribui muito para a tentativa de diminuir uma das incidências criminais de maior impacto na sociedade; o uso e tráfico de drogas. TEMA 3 – POLÍCIAS NOS PODERES DA REPÚBLICA Além dos órgãos policiais constitucionais, que são aqueles previstos nos incisos do caput do art. 144 da CRFB, há na estrutura estatal nacional outras polícias, notadamente no Senado Federal, Câmara dos Deputados e em alguns órgãos do Poder Judiciário. Fazendo uso da independência conferida pela CRFB, o Poder Legislativo Federal criou um corpo de servidores destinados à segurança das atividades legislativas e também dos membros daquele Poder – Senadores e Deputados Federais. Essas polícias exercem o poder de polícia administrativa limitado às atividades do Poder Legislativo,podendo atuar de maneira preventiva, repressiva e em investigações que envolvam o Poder a que estão vinculadas, sendo lícito que realizem diligências, prisões e cumprimentos de mandados de busca e apreensão relacionadas à segurança do Senado ou Câmara dos Deputados. A despeito de o Supremo Tribunal Federal já haver decidido pela legalidade da criação dessas polícias, ainda há dúvidas quanto ao alcance e possibilidade de atuação, o que ainda é tema recorrente no judiciário. TEMA 4 – FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E FORÇAS ARMADAS No intuito de contribuir para com a segurança pública, no ano de 2004, foi criada a Força Nacional de Segurança Pública, que, conforme Karpinski (2019, p. 65), “inspirou-se nas Forças de Paz das Nações Unidas. Seu objetivo era atender necessidades emergenciais dos estados e do Distrito Federal, por meio do reforço de profissionais de Segurança Pública, com vistas a contribuir para a restauração da ordem pública e a preservação da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. 6 Desde sua criação ocorreram diversos questionamentos acerca da sua constitucionalidade, no entanto, apesar de o tema ainda ter sido totalmente pacificado, sua atuação é contínua e requisitadas por diversos Estados. Trata-se de um programa de cooperação federativa, por adesão voluntária, que utiliza como sustentação jurídica o art. 241 da CRFB, que possibilita a transferência de encargos, serviços, pessoal e bens, para a gestão associada no campo da segurança pública. Não se trata de mais um órgão de segurança pública, mas sim um convênio firmado entre a União e os Estados, para cooperação na área da segurança pública. Tem por missão atuar na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, atuando, dentre outras, para o auxílio de ações de polícia judiciária, ações de inteligência, investigação criminal, policiamento ostensivo urbano, rodoviário e ambiental, sendo responsabilidade do Ministério da Justiça providenciar seu treinamento e emprego. Sua atuação e emprego são eventuais e condicionada à solicitação do Governador do Estado que será beneficiado pelos serviços, por tempo determinado e com custos suportados pelo Governo Federal. A Força Nacional de Segurança Pública pode ser composta por agentes públicos oriundos de todas as unidades da Federação, sendo que a maior parte de seu contingente é formado por Policiais Militares, havendo, também, Bombeiros Militares, Policiais Federais, Rodoviários Federais, Civis, Peritos, dentre outros. As Forças Armadas, formadas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, a despeito de não serem órgãos de segurança pública, têm sido chamadas a contribuir nesse campo, seja na vigilância de fronteira, seja em operações de garantia da lei e da ordem. Em virtude dessa atuação, que foge da natureza precípua das Forças Armadas, essas instituições se viram obrigadas a adaptar seu treinamento e equipamentos, a fim de atuar na garantia da lei e da ordem, que em muito difere da missão constitucional de defesa da pátria. Ressaltamos que constitucionalmente as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares são considerados força auxiliar e reserva do Exército Brasileiro, para missões de natureza militar, condicionado à mobilização e convocação das forças militares dos Estados. Nesse particular, ressaltamos o entendimento de Assis e Toledo (2021, p. 27), que tece pertinentes observações a respeito desse auxílio e da condição de reserva: 7 Já em relação à ampla, nobre e difícil missão de preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas, o que fazem através do exercício da Polícia Ostensiva e das atividades de Defesa Civil, as Polícias e os Corpos de Bombeiros Militares são os titulares de suas atividades, exercendo-as de acordo com a Constituição, as leis vigentes e as particularidades de cada Unidade da Federação. Portanto, nesse aspecto relacionado à Segurança Pública, as Polícias e os Corpos de Bombeiros Militares não são forças auxiliares nem reserva de ninguém, e o disposto no § 6º, do art. 144, da Carta Magna não autoriza a ampliação da competência da Justiça Militar da União, para nela inserir a tutela dos bens jurídicos afetos às instituições militares estaduais e do Distrito Federal. A condição legal e doutrinária de reserva e de auxílio no cumprimento da missão de prover segurança pública é relevante academicamente e nas atividades práticas, no entanto, mais importante do que essa discussão de fundo, é a efetiva colaboração, o que, em regra, tem acontecido e em muito contribui para a bem- estar da população. TEMA 5 – INTEGRAÇÃO DAS POLÍCIAS Respeitando o comando constitucional pelo qual a segurança pública é responsabilidade de todos, há necessidade de que os órgãos públicos, em todos os níveis e em todos os entes federativos, unam esforços de forma integrada para melhorar os resultados para a população. A proficiente integração diminui retrabalhos, amplia a cobertura territorial da prestação do serviço e melhora a efetividade e os resultados, portanto, deve ser buscada e incentivada por todas as autoridades envolvidas nos serviços de segurança pública, no entanto, ainda existem barreiras tecnológicas, estruturais, culturais e políticas que dificultam essa integração. Para além da integração entre os órgãos policiais, deve ser incentivada a integração também com órgãos públicos envolvidos indiretamente na execução dos serviços de segurança pública, com entidades particulares e com a comunidade de em geral. Integrar os órgãos públicos incumbidos da segurança pública, bem como a sociedade é um dos objetivos do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), que é composto por órgãos estratégicos e operacionais, não sendo estabelecida nenhuma forma de hierarquia entre eles. Assim, o ciclo da persecução penal, também conhecido por ciclo criminal da segurança pública, também é diretamente afetado pela integração entre os envolvidos na sua execução, sendo que cada órgão policial deverá executar seu 8 quinhão de acordo com a legislação pertinente, sem, no entanto, esquecer que sua atuação possui influência nas demais etapas e no resultado final de todos. Conhecer quais são os órgãos constitucionais de segurança pública, a existência de órgãos policiais para a segurança dos Poderes da República, bem como refletir a respeito da necessária integração entre entes público e entre toda a sociedade, possibilita formar opinião sobre a situação atual e buscar alternativas que contribuam para a melhoria desse direito fundamental de nossa sociedade. Nesta aula, trabalhamos com a estrutura organizacional da segurança pública e sua integração, para buscar contribuir com a análise críticas dos alunos, possibilitando a formação de opinião sobre a Segurança Pública Contemporânea. 9 REFERÊNCIAS ASSIS, J. C.; TOLEDO, J. C. Júnior. A competência para apuração do crime cometido por militar federal de folga contra militar estadual em serviço. Curitiba: Jus Militaris, 2021. Disponível em: <https://jusmilitaris.com.br/sistema/arquivos/doutrinas/art._ASSIS-TOLEDO_- _versao_FINAL1.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2021. BRASIL. Decreto 88.777, de 30 de setembro de 1983. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, 1983. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D88777.htm>. Acesso em: 8 nov. 2021. KARPINSKI, M. T. Controle social e segurança. Curitiba: IESD Brasil, 2019. OLIVEIRA, A. J. F. de. Segurança pública contemporânea. [s.d.]. Disponível em: <http://ava.grupouninter.com.br/ccdd/producao/ccdd_grad/gstSegPublica/segPubli caContemp/a1/includes/pdf/impressao.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2021.