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O TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA PELA PERSPECTIVA DA TEORIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: uma revisão bibliográfica1 Ana Luiza Teixeira Marques Bianca Carvalho Nogueira Karoline Monique Ferreira RESUMO O trabalho tem como intuito discutir sobre o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), no qual está entre os transtornos ansiosos mais comuns da sociedade atual, sendo responsável por uma redução significativa da qualidade de vida da população acometida, visto que é uma patologia em que se desenvolvem preocupações excessivas que interferem no funcionamento psicossocial do sujeito. Nesse sentido, o presente artigo busca compreender o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), a partir da perspectiva Cognitivo Comportamental (TCC), apresentando como a abordagem cognitiva o concebe e quais são as técnicas de intervenção empregadas em seu tratamento. Estudos realizados por diversos autores, apontam a abordagem citada como a forma de tratamento com maior índice de efetividade, quando comparada com outras opções disponíveis, sendo capaz de possibilitar ao sujeito uma melhoria contínua e com efeitos duradouros, fazendo com que o paciente experiencie maior qualidade de vida. Para tal, tem como objetivo geral apresentar a eficácia da TCC e suas aplicações. O trabalho apresenta como base metodológica, pesquisas de levantamento bibliográfico no período de 2017 a 2022, a partir da identificação de trabalhos científicos sobre a temática proposta. Após a análise do conteúdo proposto, conclui-se que a abordagem mencionada e suas técnicas, apresentam eficácia no tratamento do TAG, contudo cada paciente possui suas particularidades e diante disso, é preciso avaliar como será determinado às técnicas no tratamento do paciente por meio da conceituação de caso, proporcionando maior efetividade e eficácia. Palavras-chave: Terapia Cognitivo Comportamental. Transtorno de Ansiedade Generalizada. Técnicas. Tratamento. 1. INTRODUÇÃO A ansiedade é uma emoção experimentada pela espécie humana desde os primórdios, tendo como finalidade transmitir um sinal de alerta ao homem diante de um possível perigo. Quando acionada, o seu propósito é promover a preservação e a sobrevivência do ser humano, evitando situações que causem dano à vida. Pode-se dizer que a ansiedade é aquele ímpeto que faz um indivíduo correr perante o ataque de um animal feroz, afastar-se de um incêndio iminente e reagir velozmente mediante a um assalto. É responsável por gerar no homem um senso de antecedência, preparação, prevenção e encorajamento. Ela é o estímulo necessário para fazer um sujeito estudar para um teste de conhecimento, se preparar para a defesa de um trabalho de conclusão de curso e dar uma resposta imediata de socorro a alguém atropelado na rua (HOFMANN, 2022). O medo é uma emoção básica e central de todos os transtornos de ansiedade. Oriundo de um estado neurofisiológico, é ativado mediante um perigo presente e servirá como um alarme que irá detectar a ameaça e preparar o indivíduo para uma ação defensiva e protetiva. 1 Trabalho de Curso apresentado ao Centro Universitário UNA unidade Catalão, como requisito parcial para a integralização do curso de Psicologia, sob orientação da professora Me. Camila Carneiro Silva Queija. 2 Por outro lado, a ansiedade foi caracterizada como uma emoção orientada ao futuro, abarcando um sistema de respostas cognitivas, afetivas, fisiológicas e comportamentais. É ativada quando situações antecipadas são consideradas aversivas, tidas como eventos inesperados e incontroláveis, passíveis de prejuízos ao sujeito. (BECK, 2012.) A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados e desproporcionais, interferindo na qualidade de vida e no desempenho diário do sujeito. A maneira prática de se diferenciar ansiedade normal de patológica, é basicamente avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada ao estímulo de momento ou não (CASTILLO et al; 2000). Em vista disso, conforme Leahy (2011) retrata, a ansiedade clínica é uma doença moderna que aumentou drasticamente nos últimos 50 anos e vai muito além de estar sujeito às preocupações comuns do cotidiano. Em conformidade com a literatura, o aumento mais significativo ocorreu entre os anos de 1952 e 1967 e desde então continuou expandindo. Com isso, surge diversos questionamentos: “De onde vem esse aumento? A atual sociedade não está melhor, mais desenvolvida e evoluída que no passado? Por que existe essa dicotomia entre muitos avanços sociais e muito adoecimento psicológico?” Nunca se presenciou uma sociedade tão ansiosa quanto essa que representa o século 21. Atualmente, percebe-se um modelo identitário marcado pela alta produtividade, no qual o valor humano está associado ao fazer e ter. Novos padrões de beleza foram estabelecidos, o consumo desenfreado tem sido a nova fonte de compensação e a busca pela vida perfeita e a felicidade inalcançável tem sido altamente reforçada pelas mídias sociais, o que gerou no homem moderno um senso de competividade, comparação e descontentamento, movendo a uma espécie de ciclo vicioso, gerando um desejo contínuo por mais, em que a gratificação e o contentamento se esvaem rapidamente, sendo necessário habituar-se a esse estilo de vida frenético. Devido as exigências da nova civilização, apresenta-se uma dificuldade por parte da sociedade em lidar com essas condições e tentar corresponder aos novos padrões, desencadeando sentimentos de medo, ansiedade, preocupação, angústia e constante apreensão, o que acarreta desequilíbrios físicos e psicológicos, resultando em um possível adoecimento. (LENHARDTK & CALVETTI, 2017). Posto isso, os transtornos de ansiedade estão entre os mais comuns que acometem a atual sociedade, sendo caracterizados por medo e ansiedade excessivos. Nesse sentido, de acordo com a American Psychological Association APA (2014), em seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), são indicados 11 tipos de transtornos ansiosos, 3 sendo o TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) a categoria a qual esse estudo terá como fundamento. A delimitação da categoria a ser utilizada como objeto de estudo deste trabalho, levou em consideração os danos causados às pessoas que lidam com o Transtorno de Ansiedade Generalizada e como a vida delas é afetada, gerando improdutividade e incapacidade, já que o paciente acometido por esse transtorno, gasta mais energia lidando com a sintomática do problema do que realmente sendo eficiente em suas atividades diárias, culminando em um déficit de performance que resulta em 110 milhões de dias de incapacidade por ano na população americana, conforme os dados apresentados no DSM-5. O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é uma patologia de ordem crônica, caracterizada por preocupações excessivas que interferem de forma significativa no funcionamento psicossocial do sujeito, ocorrendo de maneira intensa e angustiante na maioria dos dias, ocorrendo repentinamente e por um período mínimo de seis meses (APA, 2014). Portanto, faz-se necessário mencionar a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como forma de tratamento, por ser apontada como a principal abordagem cognitiva da atualidade. Constituindo-se a partir de técnicas cognitivo-comportamentais, a TCC tem como enfoque predominante, a forma como o indivíduo interpreta as situações ao seu redor, sendo essa interpretação o fator que irá determinar a maneira como sente e se comporta. Inicialmente, o tratamento na TCC consiste em desenvolver no paciente, uma visão crítica acerca de pensamentos automáticos, com o objetivo de identificá-los e a partir disso, questionar a sua origem e estimular a tomada de consciência por parte do indivíduo, para que posteriormente o foco seja reformular as crenças nucleares e subjacentes que originam esses pensamentos.(REYES e FERMANN, 2017). Dessa maneira, questiona-se: Como a abordagem cognitiva comportamental, por meio de suas técnicas interventivas, poderá auxiliar no tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada? A Terapia Cognitivo Comportamental se mostrou eficaz no tratamento do TAG, por ser capaz de modificar a estrutura de pensamentos provenientes de crenças limitantes que causam medo e angústia, fazendo com que o comportamento do paciente seja alterado e os sintomas amenizados. Diante disso, diversas pesquisas (Metanálises) realizadas, apontam a TCC como a forma de tratamento mais eficiente para o Transtorno de Ansiedade Generalizada se comparada com outras opções disponíveis, promovendo uma melhoria contínua, com efeitos que perduram por longos períodos, possibilitando ao indivíduo experimentar uma nova qualidade de vida. (BARLOW, 2016). 4 Sendo assim, o objetivo geral estabelecido, é analisar a eficácia da Terapia Cognitivo Comportamental no Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), bem como sua aplicação prática. Como objetivos específicos, destaca-se: a) Apresentar aspectos conceituais e característicos do transtorno de ansiedade generalizada; b) Analisar como o transtorno de ansiedade generalizada impacta na vida do sujeito; c) Discutir a eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada e por fim; d) Compreender de que modo a atual sociedade colabora com a patogênese da ansiedade. Possui como base metodológica, pesquisas de levantamento bibliográfico com o objetivo de identificar trabalhos científicos sobre a temática proposta. Para tais fins, a produção cientifica focada na temática Ansiedade Generalizada com ênfase na TCC, será aprofundada em uma busca em programas de cunho científico, que possuam laboração referentes ao assunto proposto. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1.Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Aspectos gerais O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um transtorno ansioso de caráter crônico, caracterizado por ansiedade e preocupações excessivas. Segundo Barlow (2016), as preocupações são de difícil controle abordando os piores cenários imagináveis, sempre com o foco em eventos futuros. Sugere-se que os pacientes que cumprem os critérios para TAG, possuem o hábito cognitivo de se preocupar, sendo envolvidos por ciclos de preocupação sobre uma variedade de temas. Conforme o DSM-5 (APA, 2014), para diagnosticar o TAG, é necessário avaliar o tempo que perdura a preocupação excessiva, ocorrendo por pelo menos seis meses, bem como ser acompanhada de pelo menos três dos seguintes sintomas: agitação, irritabilidade, fatigabilidade, distúrbio do sono, tensão muscular ou falta de concentração. Para APA (2014), o excesso de preocupação demanda muito tempo e energia, suscitando consequências negativas na realização de tarefas que exigem rapidez e efetividade. Juntamente com os sintomas físicos, os danos poderão alternar entre leves ou graves, caso o indivíduo não esteja em tratamento. 5 De acordo com Andreatini, Boerngen-Lacerda e Zorzetto Filho (2001), o Transtorno de Ansiedade Generalizada está entre os transtornos mentais mais encontrados na clínica, ainda que no primeiro momento é visto como um transtorno leve, atualmente estima-se que é uma doença crônica, associada à comorbidades relativamente prejudiciais, com elevados custos particulares e sociais. Conforme destaca Caballo (2003), a preocupação tem que ser complexa e produzir degradação ou inquietação expressiva em áreas importantes da vida do paciente, como por exemplo, na vida social, atividades laborais etc. Ademais, o autor atenta para o Transtorno de Ansiedade Generalizada como um diagnóstico clínico aditivo muito recorrente nos casos de ansiedade, visto em diferentes pesquisas na sua atuação clínica. Os pacientes com Transtorno de Ansiedade Generalizada têm a tendência de se preocupar exageradamente com o futuro, cometendo desacertos ao interpretar as situações. A partir da distorção de pensamentos, o indivíduo apresenta dificuldades em raciocinar baseando-se na realidade, e sua percepção em relação aos acontecimentos toma grandes proporções, o que reflete na sua capacidade de analisar as circunstâncias de forma assertiva, fazendo com que os aspectos negativos ganhem maior destaque em detrimento dos positivos. Com isso, são indivíduos que apresentam dificuldade em manter a mente relaxada, tomar decisões, resolver problemas, provocar mudanças e diversos outros aspectos. Neste contexto Clark e Beck (2012) destaca que, para estabelecer um quadro de ansiedade generalizada, o indivíduo deverá observar se a ansiedade tem ocorrido na maior parte dos dias, por pelo menos entre quatro e seis meses persistentemente, afetando a performance escolar ou profissional e estar associada a irritabilidade, palpitação, tensão muscular, aflição, diarreia ou intestino preso, boca seca, roncos abdominais, insônia ou hipersonia, hiper vigilância, dificuldade de concentração e outros sintomas afins. Dessa forma, o Quadro I apresenta como estão distribuídos os critérios de diagnóstico no Manual de Doenças Mentais (DSM-5). Quadro I - Critérios diagnósticos do DSM-5 para o Transtorno de Ansiedade Generalizada Transtorno de Ansiedade Generalizada Critérios Diagnósticos 300.02 (F41.1) A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses). Nota: Apenas um item é exigido para crianças. 6 1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. 2. Fatigabilidade. 3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente. 4. Irritabilidade. 5. Tensão muscular. 6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no transtorno de pânico, avaliação negativa no transtorno de ansiedade social [fobia social], contaminação ou outras obsessões no transtorno obsessivo- compulsivo, separação das figuras de apego no transtorno de ansiedade de separação, lembranças de eventos traumáticos no transtorno de estresse pós-traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas no transtorno de sintomas somáticos, percepção de problemas na aparência no transtorno dismórfico corporal, ter uma doença séria no transtorno de ansiedade de doença ou o conteúdo de crenças delirantes na esquizofrenia ou transtorno delirante). Fonte: DSM-5 (Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mentais) Segundo as fontes da Organização Mundial de Saúde (OMS), mostra-se que a ansiedade afetava 18,6 milhões de brasileiros em outubro de 2021. Esse número cresceu 25% em novas pesquisas realizadas em março/2022. A ansiedade generalizada traz impactos significativos em diversas áreas da vida dos sujeitos. 2.2.Impactos do Transtorno de Ansiedade Generalizada na vida do sujeito O Transtorno de Ansiedade Generalizada impacta diretamentena capacidade do indivíduo de ter uma vida produtiva e satisfatória. O sujeito portador desse transtorno, além dos sintomas fisiológicos, experimenta grande interferência por parte da ansiedade no seu funcionamento diário, visto que convive com uma apreensão constante e excessiva. Diversas situações são interpretadas pela ótica do perigo iminente e o sujeito está sempre cogitando que algo ruim está para acontecer, dessa forma, as reações que acompanham essa sensação, remetem a um estado de hipervigilância e antecipação de perigo. Sendo assim, o TAG está associado a uma considerável redução da qualidade de vida (BARLOW, 2016). As pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade, experimentam impacto em várias áreas de suas vidas, se descobrem com dificuldades no trabalho, na vida social, nos momentos de lazer e desenvolve estratégias bem elaboradas diante de situações que pareçam ameaçadoras para si. Elas podem evitar pessoas, lugares e situações, negar utilizar um elevador ou fazer uma viagem de avião, se incomodar com objetos desalinhados ou mínimas sujeiras no chão. Podem apresentar receio de ambientes tumultuados, participar de reuniões importantes ou falar em público. (LEAHY, 2011). 7 Geralmente apresentam dificuldade para dormir, desenvolvem problemas cardíacos, desconforto gastrointestinal, problemas de pele, fadiga e estão mais suscetíveis a desenvolver transtornos depressivos, resultando em uma possível comorbidade. Além do mais, o transtorno de ansiedade generalizada acarreta um custo financeiro alto, pois exigem tratamentos médicos, psiquiátricos, psicológicos, medicamentosos, tornando esse público mais propenso a utilizar os serviços de saúde e emergência frequentemente, mediante a crises ansiosas ou reações somáticas (CLARK & BECK, 2012). Em um de seus estudos sobre ansiedade, Clark e Beck (2014) destaca que o repertório cognitivo desses pacientes é marcado por diversos tipos de medos, como o perder o controle das situações, danos físicos, pensamentos assustadores e percepções de irrealidade, além de apresentar memória fraca, dificuldade de raciocínio e distratibilidade, ocasionando baixa produtividade e performance em diversos contextos. Apresentam dificuldade em realizar tarefas consideradas comuns, como a execução de um trabalho no ambiente ocupacional ou acadêmico, insegurança perante um novo desafio, incontrolabilidade ao lidar com incertezas, dificuldade de concentração para iniciar e concluir um objetivo, desencadeando alto índice de incapacitação e interferência em atividades laborais. (BARLOW, 2016). Os indivíduos com transtorno de ansiedade têm a tendência de interpretar negativamente a maioria das situações como ameaçadoras se comparado a indivíduos sem um transtorno de ansiedade, o que fará que situações aparentemente inofensivas e corriqueiras, ganhem uma proporção catastrófica na sua realidade, fazendo com que essas pessoas se tornem mais impacientes, irritadas e nervosas do que o normal. Por consequente, a vida social desse público é rigorosamente afetada, nos relacionamentos interpessoais acabam vivenciando situações desagradáveis e conflituosas, devido à alta descarga de estresse experienciada e o excesso de preocupação. A tendência a ações e reações que expressam irritabilidade, rispidez, desconfiança, insegurança e agressividade são esperadas, o que sugere que o TAG está associado a problemas interpessoais e desavenças conjugais (CLARK & BECK, 2012). 2.3.Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) A terapia cognitivo comportamental, é uma abordagem da Psicologia fundada pelo psicanalista e professor de psiquiatria chamado Aaron T. Beck. Como ditado, o autor era psicanalista por formação e buscava respaldar suas descobertas sob a ótica da psicanálise. Em meados de 1970, em um de seus estudos aprofundados acerca da depressão, seus experimentos que teriam a finalidade de validar a efetividade da abordagem psicanalítica 8 sobre depressão, acabou por fazer o contrário, levaram-no a explorar outras explicações para o transtorno depressivo, chegando à conclusão que os indivíduos que apresentavam o humor deprimido, manifestavam cognições negativas e distorcidas, a partir de pensamentos e crenças disfuncionais sob as quais interpretara as situações da sua vida (JUDITH S. BECK, 2013). O autor desenvolveu uma terapia estruturada de curta duração, designada para o presente, que teria como foco a resolução de problemas atuais do sujeito e trabalharia a modificação de pensamentos e comportamentos mal adaptativos, que influenciara na interpretação de tais problemas (KNAPP, 2008). De acordo com Clark e Beck (2012), indivíduos com TAG apresentam crenças mal adaptativas específicas sobre ameaças em geral, preocupação excessiva sobre metas pessoais, interesses vitais, vulnerabilidade pessoal e grande intolerância à incerteza. Sendo assim, o protocolo de tratamento com esse paciente, inicia-se com o terapeuta ensinando-o a identificar pensamentos automáticos e crenças que operam subjacentes a seu comportamento disfuncional. Após esse processo, o terapeuta buscará ferramentas para incentivar uma mudança cognitiva no sistema de crenças e na forma de pensar desse sujeito, para que assim aconteça uma mudança emocional e comportamental consequentemente. De forma geral, o modelo cognitivo no qual se apoia a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), sugere que o pensamento disfuncional faz parte de todos os transtornos psicológicos, e que quando as pessoas aprendem a considerar a sua forma de pensar e reconhecer os pensamentos que precedem a uma determinada situação, é possível descobrir a raiz de determinados comportamentos mal adaptativos e reformular esse sistema de crenças disfuncionais, para então incitar mudanças emocionais e comportamentais positivas (JUDITH S. BECK, 2013). Conforme Andretta e Oliveira (2011), a TCC foi considerada efetiva como intervenção terapêutica para o TAG, utilizando-se de métodos de relaxamento, resolução de problemas, mudanças cognitivas, controle da preocupação e catastrofização. Desse modo, conforme os autores, ao comparar as técnicas cognitivas e de relaxamento aplicadas de forma isolada, comprovou-se que ambas são efetivas para TAG. Sendo assim, A TCC surgiu como um segundo caminho para o tratamento do TAG, além da terapia farmacológica, auxiliando o indivíduo a lidar com a sintomática a partir de ferramentas de regulação emocional, psicoeducação, automonitoramento, relaxamento, treinamento de habilidades e reestruturação cognitiva. O tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) utilizando-se da Terapia Cognitiva Comportamental, é composto pela formulação cognitiva do caso, a 9 identificação e a correção de distorções cognitivas responsáveis pela manutenção do transtorno ansioso e posteriormente a reestruturação cognitiva, focando no aumento da qualidade de vida do paciente. (OLIVEIRA, 2011). A formulação cognitiva do caso, inicia-se a partir de uma série de perguntas diretivas de cunho investigativo, no formato de entrevistas estruturadas ou semiestruturadas, formulários de automonitoramento, observação da ansiedade no setting terapêutico e questionários, tendo como objetivo principal a avaliação completa do caso. Posterior a isso, um plano de tratamento é elaborado conforme a avaliação subjetiva e individualizada do paciente, determinando metas específicas que irão direcionar a intervenção clínica. (CLARK & BECK, 2012) Em geral, a TCC utiliza-se de técnicas cognitivas e comportamentais, que terão como finalidade corrigir pensamentos e crenças subjacentes que causam a preocupação crônica detectada no processo avaliativo, buscando alterar a compreensão de perigo para o paciente, a fim de estabelecer estratégias de enfrentamento adaptativas. É fundamental que o terapeuta auxilie o indivíduo a entender que a ansiedade não provém das situaçõesaparentemente ameaçadoras, mas da sua interpretação acerca desses conteúdos. O propósito das intervenções é fazer com que o paciente adquira uma visão equilibrada e realista em relação as situações ansiogênicas e o seu real nível de perigo, além de desenvolver no indivíduo, habilidades capazes de regular a intensidade de suas emoções (LENHARDTK & CALVETTI, 2017). De acordo com os autores Andretta e Oliveira (2011), o tratamento na TCC para o TAG, engloba recursos de enfrentamento, focando em técnicas de resolução de problemas e métodos adaptativos que promovam experiências positivas que desenvolvam autoeficácia. A psicoeducação tem sido uma técnica comumente utilizada no tratamento do TAG, no qual o paciente é ensinado a identificar os pensamentos e comportamentos mal adaptativos. Já a reestruturação cognitiva ajudará o paciente a se questionar diante de interpretações de perigo exageradas e retificar crenças inapropriadas sobre vulnerabilidade e incapacidade acerca de si mesmo, contribuindo para a reformulação dessas crenças por outras mais adaptativas e realistas. Outras estratégias como descatastrofização da preocupação, é uma opção a ser utilizada pelo terapeuta, em que se apropria de roteiros de catastrofização e descatastrofização para estimular a exposição aos cenários mais temidos pelo sujeito, considerando a gravidade real e a forma mais realista de lidar com a situação, caso se concretizasse. Já a exposição comportamental, trata-se de uma técnica comportamental em que o paciente será orientado a identificar os comportamentos de evitação ocasionados pela ansiedade, onde será 10 desenvolvido uma hierarquia de situações aversivas que irão evoluir até chegar no medo real, com o propósito de gerar alternativas úteis de enfrentamento (ANDRETTA & OLIVEIRA, 2011). A finalidade das intervenções cognitivas e comportamentais em geral, é a desapropriação de padrões de pensamentos e crenças disfuncionais, a fim de reestruturar a maneira como o indivíduo percebe e lida com as situações ansiosas, e auxiliá-lo na aquisição de novos comportamentos mais adaptativos e assertivos. 3. METODOLOGIA Foi realizada uma pesquisa para a construção deste estudo, com base em levantamentos bibliográficos já existentes; segundo Cervo (2002) este é um método de discussão com base em uma situação problema, utilizando contribuições atuais e analises já existentes. Destaca-se como fonte de busca as plataformas digitais: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Ministério da Educação (CAPES/MEC), Biblioteca Virtual em Saúde Brasil (BVS) e da Revista da Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Os artigos serão apresentados separadamente destacando as publicações combinadas com o tema escolhido e abordado neste estudo. As palavras-chave para busca foram: “Ansiedade Generalizada; Terapia Cognitivo Comportamental e Técnicas para Tratamento do TAG”, encontrando um total de 2.984 artigos. Posteriormente, foram utilizados filtros para artigos no idioma português e data de publicação entre 2017 e 2022, realizando a leitura individual de cada título e seus resumos, para selecionar as obras relacionadas à TCC e ansiedade, excluindo os artigos que repetissem nas plataformas e que não estavam de acordo com objetivo deste estudo. Mesmo com a utilização dos filtros permaneceram artigos em inglês, que foram eliminados durante a leitura, mantendo apenas os artigos que condiziam com as técnicas de atuação do psicólogo referente abordagem cognitivo comportamental para transtorno de ansiedade generalizada, apresentando o seguinte resultado, de acordo com a Tabela 01 e Tabela 02, que demonstra os títulos por plataforma de pesquisa: Tabela 01 – Relação de artigos utilizados neste estudo Plataforma Sem filtro Com filtro Selecionados Capes 827 157 4 BVS 2148 390 1 11 Revista 9 1 1 Fonte: Elaborado pelas autoras (2022) Tabela 02: Títulos por plataforma de pesquisa N° Título Capes BVS Revista 1 Características Básicas do Transtorno de Ansiedade Generalizada X 2 Mindfulness nas Terapias de Redução da Ansiedade X 3 Principais causas do Estresse e da Ansiedade na Sociedade Contemporânea e suas Consequências na Vida do Indivíduo X 4 Ansiedade e Terapia Cognitivo-Comportamental: uma análise a partir de dois periódicos nacionais X 5 Regulação Emocional em Terapia Cognitivo Comportamental X 6 Transtorno de Ansiedade X Fonte: Elaborado pelas autoras (2022) 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Após a leituras e análise dos presentes artigos, 06 estudos foram selecionados, conforme mostra a tabela a seguir. Tabela 03: Apresentação resumidas dos artigos analisados Autor/Ano Título do Artigo Resultados ZUARDI, ANTONIO W. 2017. Características básicas do transtorno de ansiedade, objetivo de caracterizar o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) com ênfase em seu diagnóstico e tratamento, estudo de caso Terapia farmacológica pode ser associada ao manejo psicoterápico. LOPES, KEYLA CRYSTINA DA SILVA PEREIRA & SANTOS, WALQUIRIA LENE DOS. 2018. Transtorno de ansiedade Explora as causas que levam as pessoas a sofrerem ansiedade e métodos de auxiliar a recuperar do transtorno, seja com medicamentos usuais farmacológicos ou com tratamento alternativo. LIMA, AMANDA GONÇALVES & SENE, ARTHUR SIQUEIRA. 2017. Mindfulness nas terapias de redução da ansiedade As estratégias do mindfulness permitem ensinar o paciente a lidar com os desafios da vida, focando intencionalmente a sua atenção na vivência imediata, ao passo que reduz a ansiedade e potencializa o afeto positivo. ABRAHÃO, TAÍS BATIZACO & LOPES, ALDA PENHA ANDRELLO. 2022. Principais causas do estresse e da ansiedade na sociedade contemporânea e suas consequências na vida do indivíduo Conclui que a ansiedade vinda com situações estressoras tende que o sujeito tenha respostas cognitivas e comportamentais incoerentes com a situação, desenvolvendo quadro patológico de ansiedade. SILVA, BRUNA KAROLINA DA. 2021. Ansiedade e terapia cognitivo- comportamental: uma análise a partir de dois periódicos nacionais Identificar diferentes conceitualizações de ansiedade, tratamentos, técnicas cognitivas e comportamentais e principais obstáculos para lidar com o problema. FERREIRA, WALISON JOSÉ. 2020. Regulação emocional em terapia cognitivo As técnicas de regulação emocional devem ser um dos 12 comportamental fatores nos protocolos de TCCs, pois, as técnicas demonstram ser eficientes no processo terapêutico. Fonte: Elaborado pelas autoras (2022) Foi realizado um levantamento bibliográfico por meio de artigos científicos e literaturas que discorrem sobre a temática, com a finalidade de identificar as possíveis causas do transtorno de ansiedade generalizada e quais as ferramentas psicoterapêuticas disponíveis atualmente, em que a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) se destaca como a abordagem terapêutica com maior índice de efetividade para o tratamento de TAG. Conforme os autores Abrahão e Lopes (2022), a sociedade atual experiencia um nível de ansiedade e estresse descomunal se comparada aos tempos remotos, o que evidencia uma série de consequências do estilo de vida contemporâneo, marcado pelas exigências impostas por um novo funcionamento social. Por meio dos avanços tecnológicos, criou-se uma rede que facilitou a comunicação entre as pessoas de todo o mundo, possibilitando novas formas de aprendizado, oportunidades de trabalho, meios de transporte mais eficientes e com o intuito de diminuir o tempo gasto nas atividades corriqueiras, proporcionando conforto e aumento na qualidade de vida, com o objetivo de produzir mais em menos tempo. Contudo, sabe-se que a partir desses progressos, originou-se tambémum novo padrão de comportamento da sociedade, que exige dos indivíduos uma reposta rápida a cada estímulo social apresentado, estímulos esses representados pela alta produtividade, competitividade, consumismo desequilibrado, preocupação demasiada com a aparência, individualismo, dualidade entre trabalho compulsivo e instabilidade ocupacional e pensamento futurista. (ABRAHÃO & LOPES, 2022). Entretanto, visto que as incertezas decorrentes das constantes mudanças desse “progresso”, proporcionam ao indivíduo um sentimento de insegurança em relação ao futuro, uma rotina de cobranças e angústias para se adequar a esses ideais. Assim sendo, o progresso antes visto como promissor, também foi um fator desencadeador de mudanças e crises inflexíveis, o que corroborou para o adoecimento psicológico da população, devido ao estilo de vida frenético altamente reforçado, enquanto os momentos de descanso se tornaram cada vez mais escassos. (ABRAHÃO & LOPES, 2022). Diante desse cenário, Silva e Bernardes (2020) elucidam que pelo menos 9% a 18% da população brasileira, sofre ou sofreu com algum tipo de transtorno de ansiedade, o que afeta drasticamente a qualidade de vida desses indivíduos, pois o sujeito que lida com as sintomáticas de algum transtorno ansioso, geralmente apresenta maior dificuldade em realizar 13 tarefas comuns do cotidiano, o que resultará em níveis elevados de estresse e ansiedade, por se ver ainda mais incapaz de atender às cobranças da sociedade atual. Os autores Silva e Bernardes (2020) e Zuardi (2016) concordam que tanto a ansiedade quanto o medo, são emoções essenciais e inerentes a raça humana, partindo do pressuposto de que atuam como mecanismos de defesa em prol da autopreservação da espécie em situações de danos a sua integridade, sendo eles desenvolvidos desde o princípio da existência humana. Diante de uma situação de perigo, o cérebro ativa um sistema de alerta defensivo, que terá como função liberar neurotransmissores a fim de preparar o indivíduo para uma ação de luta e fuga, o que se caracteriza como uma resposta natural do organismo originada do medo. Quando esse sistema de alerta é acionado, uma série de respostas fisiológicas serão ativadas, acarretando sintomas físicos como aumento dos batimentos cardíacos, respiração acelerada, sudorese, e redução na produção de saliva, provocando sensação de boca seca. Ao conceituar medo e ansiedade, Abrahão e Lopes (2022) descrevem o medo como uma emoção primitiva resultante da avalição de perigo, a qual origina uma reação defensiva em prol da sobrevivência, enquanto a ansiedade se mostra uma emoção mais duradoura que o medo, em que o sujeito experimenta excitação física e apreensão voltada a situações futuras, se sentindo incapaz de prever ou controlar situações possivelmente aversivas. O que distingue ambas as emoções, é que na ansiedade clínica, o sujeito vive na expectativa de um perigo iminente, no qual não existe uma situação definida, ou seja, não é possível identificar a ameaça presente no ambiente, diferente do medo. Após pesquisas realizadas com roedores, foi constatado que reações como esquiva e congelamento mediante uma ameaça presente, representam o medo, enquanto as sintomáticas da ansiedade seriam geradas por estímulos ameaçadores, como o cheiro do predador (ABRAHÃO & LOPES, 2022). Os autores supracitados abordam de forma comum, que a ansiedade se torna um transtorno quando as preocupações perduram por um longo período, apresentando um caráter exacerbado e desajustado se comparado com a realidade da situação, fazendo com que o indivíduo interprete situações aparentemente inofensivas a partir de uma ótica catastrófica. Sendo assim, os indivíduos portadores do transtorno de ansiedade generalizada experienciam o mesmo processo do medo, mas sem uma evidência real e aparente de perigo, sendo este de forma persistente, acentuada e desproporcional a real situação, ativando respostas fisiológicas frequentes e intensas, gerando um estado de esgotamento e desequilíbrio dos recursos do organismo, o que está intimamente ligado ao aparecimento de transtornos psicológicos (FERREIRA, 2020; SILVA & BERNARDES, 2020; ABRAHÃO &LOPES, 2022). 14 Os autores, Zuardi (2016) e Abrahão e Lopes (2022) no que diz respeito ao TAG, destacam a importância do diagnóstico preciso desse transtorno, salientando o impacto causado por ele no desempenho diário do indivíduo, corroborando em incapacidade nas mais diversas atividades sociais, o que reduz severamente a produtividade. De acordo com Silva e Bernardes (2020) e Ferreira (2020), as respostas emocionais e comportamentais dos indivíduos são influenciadas pela forma como processam os acontecimentos e qual o tipo de significado têm para ele, sendo essas interpretações, reflexos de pensamentos automáticos, aqueles pensamentos que se apresentam na mente de forma automática e frequente, com o intuito de avaliar as situações vivenciadas. Pacientes com TAG são inundados de pensamentos automáticos que preveem fins negativos e incapacidade de lidar com ameaças, sendo estes desadaptativos e distorcidos da realidade, do qual originam-se os comportamentos disfuncionais. Em geral, esses pacientes não estão conscientes da presença desses pensamentos, fazendo-se necessária a psicoeducação acerca da existência desses mecanismos, a fim de identificá-los e posteriormente modificá-los (FERREIRA, 2020). A origem do pensamento automático fortemente discutido na TCC, se dá a partir dos esquemas, que são princípios de pensamentos desenvolvidos desde a infância por meio do contexto social ocupado pelo indivíduo, efetuando o papel de selecionar, codificar, armazenar e atribuir significado às informações que chegam à cognição. Os esquemas funcionam como filtros que irão selecionar e processar as informações que chegam, sendo que a cada nova experiência, serão ativados para processar e internalizar essas informações de acordo com os conteúdos já existentes (FERREIRA, 2020). Esses mesmos esquemas são compostos por crenças centrais ou nucleares, as quais são definidas como conceitos enraizados acerca de si, do outro e do mundo, sendo que independentemente da situação, os pensamentos automáticos serão ativados conforme essas crenças. Portanto, conclui-se que os pensamentos automáticos se derivam das crenças centrais e o conteúdo dessas crenças, será responsável por ditar a avaliação das situações experimentadas pelo sujeito, sendo que se essas crenças forem disfuncionais, a interpretação das situações ficará comprometida, promovendo distorções cognitivas. Posto isto, quando essas crenças não são corrigidas, acabam tornando-se verdades absolutas pelo sujeito, fomentando uma série de comportamentos desadaptativos, e um dos papéis da TCC é justamente modificar essas crenças, para a aquisição de comportamentos saudáveis. Silva e Bernardes (2020), Zuardi (2016), Ferreira (2020) e Lima e Sene (2017) retratam a TCC como referência no tratamento para TAG, consentindo entre si que a 15 abordagem cognitivo comportamental, apresenta maior eficácia que outras modalidades, sendo a primeira escolha dentre as demais, destacando-se pela ênfase nos processos cognitivos, os quais são drasticamente afetados nesse transtorno. A TCC é considerada a primeira opção por esses autores, por apresentar foco no desenvolvimento de habilidades cognitivas, o que fará com o sujeito lide melhor com as sintomáticas da patologia. As técnicas terapêuticas desta abordagem pretendem identificar e avaliar cognições distorcidas, orientando-os na construção de esquemas cognitivos mais adaptativos. Algumas das técnicas empregadas e que apresentaram um resultado satisfatório segundo o autor Ferreira (2020) são técnicas de regulação emocional, que destacam a importância das emoções na terapia, sendo que as emoções negativas experimentadas pelos pacientes podem atingirníveis altamente prejudiciais, interferindo na forma de pensar, resolver problemas e agir de forma saudável. Logo, a regulação emocional utilizará de estratégias voltadas para lidar com a intensidade da emoção desagradável, a partir de habilidades adaptativas para a identificação e compreensão das suas emoções, estabelecendo o domínio de comportamentos impulsivos e o gerenciamento das emoções em cada contexto. As técnicas serão escolhidas com base no problema apresentado naquele momento, podendo variar entre técnicas de relaxamento, exercícios respiratórios, atenção plena, reestruturação cognitiva ou resolução de problemas. O indivíduo que lida com a intensidade de suas emoções, pode ir em busca de comportamentos problemáticos para a redução daquela emoção, utilizando-se de compulsão alimentar, abuso de substâncias e automutilação. Destarte, o intuito da regulação emocional é auxiliar o indivíduo a construir formas de enfrentamento mais assertivas e recompensadoras. Primeiramente é necessário perceber a emoção, identificar o fator desencadeador e quais as possibilidades disponíveis. Logo depois, estipular metas e estudar respostas para atingir essas metas. Em seguida, examinar as probabilidades dos resultados e por último, praticar a resposta escolhida. Portanto, quando o indivíduo opta por abraçar a emoção, aumentando o espaço para experiencia-la ao invés de suprimi-la, abrirá a oportunidade para identificar e classificar a emoção, nomeando e relacionando-a com as situações vivenciadas, normalizando os pensamentos intrusivos e associando-o com distorções cognitivas, o que fará com que ele busque uma alternativa assertiva para a resolução do problema, compreendendo a forma como as emoções podem ser manejadas. Outra técnica apresentada pelos autores Lima e Sene (2017) é a prática do Mindfulness, que traduzido para o português quer dizer “atenção plena”. O Mindfulness é a técnica de meditação mais conhecida e aplicada pela TCC, tem o propósito de modificar a 16 maneira como o indivíduo lida com os seus pensamentos, focando a sua atenção no momento exato da ansiedade, com o intuito de perceber quais as sensações presentes no corpo naquele momento. Essa técnica tem o objetivo de reduzir a ansiedade do paciente, a partir da aceitação de suas emoções, eliminando a culpa e o julgamento, reconhecendo que elas não precisam ser controladas ou silenciadas, mas experimentadas e vividas. Conclui-se então que a Terapia Cognitivo Comportamental compreende a ansiedade a partir de um modelo cognitivo, enfatizando que os pacientes portadores do Transtorno de Ansiedade Generalizada, apresentam padrões de pensamentos distorcidos da realidade, sendo esses os responsáveis pelos comportamentos disfuncionais mantenedores do TAG, estando fortemente associados ao processo de desregulação emocional, tornando-se necessário a utilização de técnicas cognitivas e comportamentais para o manejo dos sintomas de estresse e ansiedade. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste artigo conduziu-se na análise do Transtorno de Ansiedade Generalizada pelo viés da Terapia Cognitivo Comportamental, abordando a evolução da ansiedade enquanto transtorno e a eficácia da TCC nesta patologia, citando recursos terapêuticos utilizados no tratamento. Após a análise dos artigos propostos, conclui-se que a ansiedade é uma emoção essencial para a vida, quando é um fator de proteção para o organismo, no entanto a forma como tem se apresentado na sociedade contemporânea, estando fortemente associada ao aparecimento de transtornos ansiosos, uma vez que a população atual lida diariamente com muitos agentes estressores, em consequência de um ritmo de vida acelerado, com muitas exigências sociais, marcado por uma cultura capitalista que reforça o trabalho excessivo em detrimento dos momentos de descanso, resultando em uma rotina de cobranças e angustias. Com isso, o ser humano passa a experimentar a ansiedade de forma intensa e frequente, deixando de se apresentar como mecanismo de defesa, passando para um estado patológico, corroborando assim para o desenvolvimento do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). No que tange ao TAG e seus desdobramentos, é importante ressaltar que se trata de um transtorno de ansiedade cuja principal característica é a preocupação persistente e excessiva, acompanhada de sintomas físicos como hiperatividade do sistema nervoso e tensão muscular. Sob a perspectiva da TCC, a preocupações provenientes do Transtorno de 17 Ansiedade Generalizada, são compreendidas a partir de um modelo cognitivo, em que os comportamentos disfuncionais destes transtornos, são oriundos de esquemas mal adaptativos de ameaça e vulnerabilidade. Com base nos estudos realizados, constata-se que a TCC demonstrou ser uma das teorias mais eficazes no tratamento do Transtorno de Ansiedade Generalizada, visto que a partir de seus recursos terapêuticos, é possível reduzir os sintomas ansiosos, produzindo efeitos duradouros e manejo eficiente para lidar com a sintomática, promovendo assim uma melhora significativa na qualidade de vida do sujeito. Destaca-se a técnica Mindfulness, bastante utilizada para redução da ansiedade, que tem como objetivo conduzir o indivíduo a atenção plena do momento, redirecionando sua atenção com possíveis preocupações futuras, para maior apreciação do momento presente. Desse modo, é importante ressaltar que a partir deste estudo, se torna necessário uma mudança de postura por parte dos indivíduos mediante às exigências dos dias modernos, desenvolvendo um olhar crítico e atento aos prejuízos que o ritmo de vida frenético pode acarretar, considerando também a diferenciação entre os tipos de ansiedade experienciados, para assim realizar as mudanças necessárias para uma melhor qualidade de vida. Do mesmo modo, salienta a importância de buscar orientação profissional psicológica, evidenciando a importância do tratamento terapêutico para o agravo da ansiedade, juntamente com práticas preventivas de cuidado em saúde mental. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BECK, Judith S. 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