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W BA 10 43 _V 1. 0 TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL E OS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS II 2 Juliana Zantut Nutti São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E OS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS II 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Camila Turchetti Bacan Gabiatti Revisor Rogério Adriano Bosso Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Nutti, Juliana Zantut Terapia cognitivo-comportamental e os transtornos psiquiátricos II / Juliana Zantut Nutti. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 36 p. ISBN 978-65-5356-287-5 1. TCC e disfunções sexuais. 2. TCC e sindrome do pânico. 3. TCC e transtornos de personalidade. I. Título. 3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título. CDD 615.8 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O N985t © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 A Terapia Cognitivo-Comportamental e as Disfunções Sexuais ___________________________________________ 07 A Terapia Cognitivo-Comportamental e a Dependência Química ________________________________________ 17 A Terapia Cognitivo-Comportamental e o Transtorno de Pânico ________________________________________ 27 A Terapia Cognitivo-Comportamental e os Transtornos da Personalidade _______________________________ 38 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E OS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS II 5 Apresentação da disciplina A disciplina Terapia Cognitivo-Comportamental e os transtornos psiquiátricos II direciona-se para o estudo do modelo cognitivo- comportamental dos transtornos psiquiátricos diversos, como as disfunções sexuais, a dependência química, o transtorno do pânico e os transtornos de personalidade. No decorrer de nossos estudos, falaremos sobre as características diagnósticas, o tratamento e a análise das técnicas mais utilizadas na abordagem cognitivo-comportamental dos transtornos psiquiátricos citados anteriormente. Temos como objetivo o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades: • Conhecimento e capacidade de avaliação do modelo cognitivo- comportamental aplicado aos transtornos psiquiátricos, relacionados às disfunções sexuais, à dependência química, ao transtorno do pânico e aos transtornos de personalidade. • Capacidade de planejar tratamentos específicos que utilizem técnicas cognitivas e comportamentais, selecionadas de acordo com as especificidades de cada transtorno psiquiátrico. Dessa forma, nossa disciplina está dividida da seguinte forma: no Tema 1, serão analisadas a Terapia Cognitivo-Comportamental e as disfunções sexuais; no Tema 2, serão abordadas a Terapia Cognitivo- Comportamental e a dependência química; o Tema 3 será dedicado ao estudo da Terapia Cognitivo-Comportamental e do transtorno do pânico; e, para encerrar, o Tema 4 abordará a Terapia Cognitivo- 6 Comportamental e os transtornos de personalidade. Vamos aprender juntos sobre essas interessantes e importantes temáticas. Bons estudos! 7 A Terapia Cognitivo- Comportamental e as Disfunções Sexuais Autoria: Juliana Zantut Nutti Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Conhecer os principais fundamentos sobre a Terapia Cognitivo-Comportamental de Aaron Beck relacionados às disfunções sexuais. • Analisar o modelo cognitivo-comportamental relacionado às disfunções sexuais. • Discutir as proposições para o tratamento das disfunções masculinas, especialmente a disfunção erétil. • Analisar as propostas para o tratamento das disfunções sexuais de mulheres após a menopausa. 8 1. Terapia Cognitivo-Comportamental e o modelo cognitivo de A. Beck Neste Tema, estudaremos os fundamentos da Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC) e o modelo cognitivo desenvolvidos por Aaron T. Beck para o tratamento dos transtornos psiquiátricos, como a depressão e as disfunções sexuais. Ele desenvolveu, no início da década de 1960, uma forma de psicoterapia para o tratamento de transtornos mentais, iniciando com o tratamento para a depressão, que ficou conhecido como terapia cognitiva ou “terapia cognitiva de Beck”. Para Beck (2013), o modelo cognitivo relacionado às terapias cognitivas afirma que o pensamento distorcido influencia o estado afetivo e a compreensão do mundo do paciente, e é comum em todos os indivíduos que possuem transtornos psicológicos. Segundo Beck (2013), quando as pessoas avaliam os seus pensamentos de acordo com a realidade e de forma mais adaptativa, elas podem apresentar melhora significativa em seus afetos e comportamentos. A terapia cognitiva, desenvolvida por Aaron T. Beck, na Universidade da Pensilvânia, foi idealizada como uma forma de psicoterapia breve e orientada ao momento presente, para o tratamento da depressão, para resolução dos problemas existentes no momento da terapia e, principalmente, para a modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais (BECK, 2013). Aaron Beck era psicanalista com formação completa e atuante e, por ser um cientista, acreditava que a Psicanálise seria melhor aceita pela comunidade médica se as suas ideias tivessem validação científica. Então, no final da década de 1960 e início dos anos 1970, Beck realizou experimentos que pudessem comprovar e validação as ideias da Psicanálise, mas os resultados de seus experimentos não foram bem- sucedidos e o levaram à investigação de outras explicações sobre a depressão (BECK, 2013). 9 A. Beck passou a identificar as cognições negativas e distorcidas (especialmente nas ideias e crenças) como a característica básica da depressão e passou a desenvolver um tratamento de curta duração, cujo objetivo principal era o teste de realidade do pensamento depressivo do paciente (BECK, 2007). Acreditava-se que a depressão seria o resultado da ação de padrões excessivamente autocríticos de pensamento sobre o self. Por exemplo, pessoas depressivas possuem expectativas irrealistas, supervalorizam os fracassos, generalizam experiencias negativas sobre si mesmos, apesar de não existirem vidências para isso, e consideram somente os feedbacks negativos que são oferecidos pelo mundo externo, interpretando os eventos de sucessos como fracassos (BECK, 2007). Essa reação negativa de pensamentos que surgem de forma frequente é seguida de uma espiral para baixo, originada da vivência de pequenos contratempos da vida, chegando-se ao ponto em que a pessoa passa a entender definitivamente que não tem valor algum. A espiral de pensamentos negativos e distorcidos é o ponto fundamental para o surgimento da depressão (RANGÉ, 2011). A proposta da abordagem cognitivo-comportamental presume que a mudança de comportamentos se dá através do descarte dos pensamentos disfuncionais e sua substituição por pensamentos adequados à realidade e dos sentimentosassociados, o que leva à ruptura na maneira de se compreender o processo psicoterapêutico. O modelo cognitivo em Terapia Cognitivo-Comportamental supõe que as emoções e os comportamentos das pessoas são influenciados pela percepção que elas têm dos eventos. De acordo com esse modelo, não são as situações que determinam o que as pessoas sentem e fazem, mas, antes, o modo como interpretam ou o que pensam sobre as situações (BECK, 2007). O modelo cognitivo, de acordo com A. Beck (2007), é composto por três níveis, como apresentado na Figura 1. 10 Figura 1 – Níveis de um modelo cognitivo Fonte: adaptada de Beck (2013). Todos os processos apresentados representam mecanismos para se lidar com situações cotidianas e se referem à forma como as pessoas se percebem, perceberem os outros, o mundo e o futuro. Essa maneira de perceber a si mesmo, aos outros e ao mundo é denominada de tríade cognitiva (BECK, 2013). O terapeuta traça o modelo cognitivo e comportamental, ou seja, o entendimento do conjunto das crenças disfuncionais, fragilidades individuais e estratégias comportamentais utilizadas para que os pacientes possam lidar com as crenças nucleares ao analisar os denominadores cognitivos comuns às diversas situações de vida e na avaliação feita sobre o cliente (RANGÉ, 2011). Em síntese, podemos afirmar que a maneira como as pessoas se sentem e se comportam está relacionada à forma como interpretam as situações e, que os pensamentos podem modificar e manter as emoções disfuncionais e afetar os comportamentos (RANGÉ, 2011). 11 2. A Terapia Cognitivo-Comportamental e as disfunções sexuais A disfunção sexual é a dificuldade existente em qualquer fase da atividade sexual e inclui as perturbações do desejo, excitação e orgasmo. Essas disfunções prejudicam, em graus diversos, a vida sexual de indivíduos e casais, e podem afetar a qualidade de vida, relacionamentos sexuais e a saúde emocional (APA, 2022). As disfunções sexuais podem estar presentes de forma isolada, porém, em vários casos, podem aparecer mais de uma na mesma pessoa, de forma concomitante ou sequencial. A existência de disfunção sexual em uma pessoa pode levar à disfunção no parceiro. Há a prevalência de, pelo menos, uma disfunção sexual em mulheres adultas em torno de 40% a 45%. E entre os homens adultos, em torno de 20% a 30% (APA, 2022). Os levantamentos demonstraram uma tendência de a incidência das disfunções sexuais aumentar de acordo com a idade. Essa tendência manifestou-se mais estre os homens (APA, 2022). Existe uma variedade de disfunções sexuais e, portanto, iremos realizar um recorte metodológico, apresentando ideias sobre a TCC, as disfunções eréteis e as disfunções sexuais de mulheres na menopausa (APA, 2022). Em um estudo realizado com 49 homens e 47 mulheres com disfunção sexual, Nobre (2003) afirma que na construção do modelo cognitivo das disfunções sexuais existe a contribuição de aspectos cognitivos e emocionais. Sobre os esquemas cognitivos, o estudo mostrou que, homens e mulheres com disfunção sexual tendem a perceber as situações de fracasso como um sinal de incompetência pessoal. Os homens com disfunção sexual que participaram da pesquisa de Nobre 12 (2003) tenderam a apresentar a crença de que devem estar aptos a desempenharem as funções sexuais e que sempre devem dar satisfação sexual a parceira. Já as mulheres que participaram da pesquisa tendem a apresentar crenças sexuais conservadoras e mais relacionadas com a imagem corporal e de beleza física no funcionamento sexual. Os homens com disfunção sexual apresentaram mais pensamentos e emoções negativas no curso da atividade sexual, como pensamentos relacionados à ereção e à penetração sexual e menos pensamentos eróticos. As mulheres apresentaram mais pensamentos de fracasso e desistência, de abuso sexual e escassez de pensamentos eróticos (NOBRE, 2003). A TCC voltada para o tratamento da disfunção erétil visa à redução da ansiedade e utiliza a técnica de psicoeducação sobre a sexualidade e as expectativas que a pessoa apresenta em relação a si e ao parceiro, além do esclarecimento sobre o papel dos estímulos sexuais além da penetração, que podem ser utilizados na atividade sexual, como o sexo oral e outras práticas. A psicoeducação é uma das técnicas mais utilizadas pela TCC e tem como função orientar o cliente em relação às consequências de um determinado comportamento, à construção de crenças, aos valores e sentimentos e como todos esses elementos influenciam a sua vida e a dos outros (BECK, 2013). A Terapia Cognitivo-Comportamental de casal também é uma modalidade que poderá ajudar na resolução de crenças de dominância, intimidade e confiança, além de trabalhar nas questões relativas à perda da atração sexual entre os parceiros. No caso da TCC aplicada a casais, A. Beck (2007) apontou que muitos problemas vivenciados dentro do casamento também poderiam estar relacionados às cognições disfuncionais de ambos os parceiros. Alguns estudos realizados por A. Beck ratificaram essa hipótese sobre o papel negativo dos pensamentos, 13 crenças, expectativas, atribuições, entre outros, na qualidade dos relacionamentos maritais. Há, ainda, os pensamentos automáticos, que são o fluxo de ideias instantâneas, os quais podem passar na mente de um dos cônjuges e influenciar o estado emocional e as suas ações negativamente (BECK, 2007). A leitura mental é um tipo de distorção de pensamento em que uma pessoa acredita ser capaz de “ler” os pensamentos do outro e, por exemplo, quando o marido estiver falando com a esposa e essa bocejar por estar cansada, ele poderá pensar “ela está achando chato conversar comigo” (DATTILIO, 2011). Scribel (2020) explica que os processos circulares da TCC com casais envolvem fatores cognitivos, afetivos e comportamentais e que fatores como intercâmbios comportamentais negativos e comunicação distorcida geram danos ao relacionamento amoroso, pois se constituem como barreiras para a resolução de problemas. A Terapia Cognitivo-Comportamental para o tratamento da disfunção erétil tem sido semelhante desde a sua origem e toma como base conceitual e interventiva os trabalhos dos psicólogos Masters e Johnson, realizados nos anos 1960 e 1970. Em seus estudos, esclareceram as etapas que compõem o ciclo sexual, como o desejo, a excitação, o platô, o orgasmo e a resolução, e apresentaram os fatores que podem prejudicar a realização adequada de todo o ciclo. Suas técnicas ainda são as mais utilizadas na prática clínica e as que mais se aproximam de um protocolo de intervenção para a generalidade das disfunções sexuais. Sobre as disfunções sexuais de mulheres na menopausa, é fato que a sexualidade na idade madura envolve descobertas e várias transformações trazidas pelas alterações hormonais e psicológicas. Há um desconforto e muita incompreensão sobre como as alterações orgânicas e não orgânicas levam as mulheres à recusa ou a apresentarem dificuldades com o sexo. Em torno de um terço da vida feminina ocorre na pós-menopausa e o sexo faz parte das atividades 14 que aumentam a qualidade de vida, o que valoriza as estratégias de reabilitação sexual (ALMEIDA et al., 2018). A disfunção sexual feminina envolve os transtornos de interesse sexual, a excitação, o orgasmo, a dor genitopélvica e disfunções relacionadas ao uso de substâncias ou medicamentos, além das não classificadas. A disfunção sexual diminui o interesse por sexo e leva a dificuldades para a excitação subjetiva e/ou genital, as quais irão afetar o relaxamento vaginal necessários para a penetração. Na menopausa, a disfunção sexual gera sentimentos de inferioridade, angústia, depressão, insegurança, baixa autoconfiança e crenças disfuncionais sobre a capacidade de provocar desejo no parceiro. O tratamento da disfunção envolve os afetos femininos, pensamentos, comportamentos e informação sobre o corpo. Os tabus morais são trabalhados para o desenvolvimento da atração,estimulação adequada e função sexual, com maior compreensão e conhecimento sobre a relação íntima da mulher com o seu corpo e com o seu parceiro (ALMEIDA et al., 2018). Sabemos que crenças são entendimentos duradouros, fundamentais e profundos, não articuladas nem para o próprio indivíduo (RANGÉ, 2011). Na disfunção sexual feminina, a Terapia Cognitivo-Comportamental deve se centrar na positividade das crenças individuais e na redução ou resolução dos fatores subjetivos. As técnicas de TCC para transtornos sexuais, quando norteadas para atender todas as vias de ação de relaxamento baseadas nas orientações cognitivas, autonômicas e musculares e nos procedimentos terapêuticos adequados, contribuem para resultados mais efetivos (ALMEIDA et al., 2018). Há a oportunidade de se trabalhar com as distorções em geral, para que a estrutura física e mental esteja em harmonia para que se proponha um trabalho integral e, portanto, terapias sexuais bem-sucedidas. Pensamentos inconscientes de forma espontânea decodificam as circunstâncias, e as pessoas tendem a acolher esses pensamentos 15 automáticos sem que estejam hábeis a realizar uma monitorização adequada. Assim, a terapia sexual contribui para que o paciente seja capaz de conhecer e monitorar pensamentos que os levam à disfunção sexual. Nesse processo, o terapeuta deve ter pleno conhecimento das abordagens farmacológicas e psicoterápicas possíveis de serem utilizadas, devendo estar sempre orientado para a fisiologia da resposta sexual (ALMEIDA et al., 2018). A TCC se mostra eficaz para o tratamento das disfunções sexuais porque pode ajudar a modificar as condutas inadequadas, centrando- se em questões apresentadas pelo indivíduo quando procura a terapia, já que a sua finalidade é poder contribuir para que haja apreensão de novas maneiras de viver e de reagir, a partir da promoção de alterações comportamentais. As técnicas adotadas nas terapias sexuais se estabelecem por meio da uma colaboração entre o terapeuta e o paciente, cujas estratégias são orientadas para a superação de problemas, devendo ser projetadas conjuntamente (ALMEIDA et al., 2018). Portanto, a base do tratamento proposto com a TCC é o sofrimento manifestado pelo paciente, partindo-se das distorções que ocorrem nas autoavaliações e a avaliação da realidade em que o indivíduo está inserido. O que se almeja é atuar na possibilidade de a pessoa em tratamento atingir uma maneira de agir mais assertiva e saudável em relação às condições existentes. Referências ALMEIDA, M. J. S. A. et al. Terapia cognitivo-comportamental em grupo para a disfunção sexual na pós-menopausa. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, [s.l.], v. 68, n. 4, p. 231-238, 2018. APA. Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV-TR. Porto Alegre: Artmed, 2022. 16 BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013. BECK, J. S. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2007. DATTILIO, F. M. Manual de Terapia Cognitivo-Comportamental para casais e famílias. Porto Alegre: Artmed, 2011. MASTERS, W.; JOHNSON, V. O vínculo do prazer. Rio de Janeiro: Record, 1975. NOBRE. P. J. S. C. Disfunções sexuais : contributos para a construção de um modelo compreensivo baseado na teoria cognitiva. 2003. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de Coimbra, Portugal, 2003. OLIVEIRA, M. C. Percepções dos/as psicoterapeutas sobre a influência dos estereótipos de gênero e das relações íntimas, heterossexuais e não- heterossexuais, nas vivências da Disfunção Erétil. 2012. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade do Minho, Braga, 2012. RANGÉ, B. P. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 2011. SCRIBEL, M. C. Terapia Cognitivo-Comportamental com Casais: Integrando Abordagens. In: CARDOSO, B. L. A.; PAIM, K. Terapias Cognitivo-Comportamentais para Casais e Famílias: bases teóricas, pesquisas e intervenções. Curitiba: Sinopsys, 2020. 17 A Terapia Cognitivo- Comportamental e a Dependência Química Autoria: Juliana Zantut Nutti Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Conhecer o conceito de dependência de acordo com os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V-TR. • Analisar o modelo cognitivo do Transtorno por Uso de Substâncias. • Conhecer as principais técnicas cognitivas comportamentais utilizadas para o tratamento do Transtorno por Uso de Substâncias. 18 1. Conceito e critérios sobre Transtorno por Uso de Substâncias Neste Tema, estudaremos sobre a abordagem cognitivo- comportamental no tratamento da dependência química. A Terapia Cognitivo-Comportamental utiliza o conceito de dependência química como um transtorno relacionado ao tipo de relação estabelecida, de forma inadequada, por uma pessoa com o uso ou consumo de substâncias especificas, que podem ir da cafeína até as drogas ilícitas, conforme afirmam Rangé e Marlatt (2008). O diagnóstico do Transtorno por Uso de Substâncias se fundamenta na identificação de padrão de comportamentos de caráter patológico nos quais o paciente mantém o uso de uma substância mesmo que essas causem problemas significativos (CORDEIRO, 2018). O Manual Estatístico e Diagnóstico dos Transtornos Mentais – DSM-V-TR (APA, 2022) estabelece os critérios diagnósticos para o Transtorno por Uso de Substâncias. Para o diagnóstico, deve haver um padrão problemático de uso de substâncias, que comprometa ou leve a sofrimento significativo, por pelo menos dois dos critérios a seguir, em um período de no mínimo 12 meses: 19 Figura 1 – Critérios para estabelecimento de Transtorno por Uso de Substâncias Fonte: adaptada de APA (2022). Ainda, outros critérios relativos ao uso de substâncias são o desenvolvimento de: 20 Figura 2 – Outros critérios para diagnóstico de Transtorno por Uso de Substâncias Fonte: adaptada de APA (2022). 2. A Terapia Cognitivo-Comportamental e os Transtornos por Uso de Substâncias (TUS) De acordo com Rangé e Marllat (2008), os transtornos associados ao uso de substâncias podem levar ao surgimento de prejuízos relevantes e graves complicações que ocasionam a deterioração da saúde global da pessoa, além de produzirem efeitos negativos nos âmbitos de interação pessoal, social e profissional. Devido ao grande número de transtornos relacionados ao abuso de substâncias que levam à dependência, iremos tratar do Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) pela TCC. Por exemplo, o consumo de doses altas de álcool de forma regular pode afetar o trato gastrointestinal, os sistemas cardiovascular e nervoso, mediante déficits cognitivos, de alteração de memória e 21 degeneração do cerebelo. A dependência de álcool é um grande problema de saúde pública e mesmo os tratamentos mais atualizados apresentam prognósticos desfavoráveis para o alcoolismo e, com um prognóstico menos favorável para os casos com uso crônico (RANGÉ; MARLATT, 2008). Ainda de acordo com Rangé e Marlatt (2008), a Terapia Cognitivo-Comportamental para o tratamento do Transtorno por Uso de Substâncias é bastante tradicional e utiliza de modelos diversificados para a abordagem desses problemas. Assim, podemos dizer que a abordagem cognitivo-comportamental para o Transtorno por Uso de Substâncias não apresenta um padrão fixo, pois são recomendados planejamentos flexíveis para abordar esses transtornos (RANGÉ; MARLATT, 2008). Os principais efeitos comportamentais trazidos pelas alterações cerebrais no uso de substâncias podem ser manifestados em recaídas constantes e na fissura por drogas. A abordagem de longo prazo pode ser vantajosa para o tratamento desses efeitos da droga (RANGÉ; MARLATT, 2008). 2.1 Modelo cognitivo do uso de substâncias como álcool e outras drogas De maneira semelhante ao tratamento de outros transtornos psiquiátricos, como a depressão e a ansiedade, o modelo cognitivo do uso de substâncias baseia-sena ideia de que as experiências nas fases iniciais da vida são fundamentais para o desenvolvimento desses problemas (RANGÉ; MARLATT, 2008). Entende-se que essas experiências são grandes influenciadores para o favorecimento de construção das crenças centrais ou nucleares e crenças intermediárias sobre o uso de substâncias. Um exemplo é a exposição à experiência com uso de drogas, pois o desenvolvimento de crenças relacionadas ao uso dessas 22 substâncias é mais facilmente desenvolvido com essas experiências, que se tornam facilitadoras de uso. O uso de drogas inicia-se de forma associada à presença de estímulos internos/externos que favorecem o risco de uso, como a visita a bares, cansaço excessivo, tédio ou tristeza após meses de abstinência de uso (RANGÉ; MARLATT, 2008). Essas situações, segundo Rangé e Marlatt (2008), poderão ativar as crenças do indivíduo quanto aos efeitos de uso da substância como “eu sou mais sociável quando bebo” e de pensamentos automáticos como “vou beber só um pouquinho” e “todos estão se divertindo e eu também mereço me divertir”. A consequência diante dessas crenças e pensamentos é ativar a fissura acompanhada da necessidade de ir ao banheiro no ritual de obter “uma carreira” de cocaína, o que levará à ativação das crenças facilitadoras como “todos estão usando; vai ser só uma carreira” e, assim, poderá haver a busca ativa pela substância. 2.2 Técnicas utilizadas na TCC para Transtornos por Uso de Substâncias (TUS) As técnicas mais usadas na TCC para o abuso de álcool e outras drogas são as que necessitam do fortalecimento de uma aliança terapêutica por meio uma compreensão empática sobre o transtorno do paciente. A relação terapêutica e a conceituação cognitiva de caso têm um importante papel no tratamento, pois é através desses recursos, que o terapeuta poderá compreender os sentimentos de dor e medo “escondidos” pelas atitudes de hostilidade e resistência do paciente (SILVA; SERRA, 2004). É importante a exploração do significado das atitudes oposicionistas e de caráter autodestrutivo manifestadas pelo paciente, e isso é feito a partir da avaliação das crenças do paciente sobre a terapia e das crenças 23 do terapeuta em relação ao paciente. Deve-se compreender como usar os sentimentos desagradáveis na relação terapêutica de forma útil. As técnicas de resolução de problemas são muito utilizadas a fim de que o paciente saiba como atuar em situações de risco de uso de álcool/ drogas. Os registros diários dos pensamentos podem auxiliar no manejo das fissuras para o uso de álcool/drogas (SILVA; SERRA, 2004). Uma estratégia para o enfrentamento das fissuras é adiá-las por pequenos espaços de tempo (5 a 10 minutos, 1 hora), modificando o foco do impulso. Por exemplo, assistir TV, usar o computador, realizar relaxamentos, conversar com alguém, limpar a casa, trabalhar etc. É muito relevante manter o foco no alcance de metas de longo prazo em vez de se buscar recompensas mais imediatas (SILVA; SERRA, 2004). O treinamento de habilidades é baseado nas teorias comportamentais e focaliza o desenvolvimento das habilidades para lidar com situações especificas, já que a falta destas está associada ao maior consumo de drogas (SILVA; SERRA, 2004). De acordo com Silva e Serra (2004), as dificuldades mais significativas se apresentam através das seguintes situações: • Ter sentimentos negativos. • Passar por situações que necessitam do uso de assertividade. • Realizar e/ou receber críticas. • Recusar o uso da droga. • Lidar com as frustrações do cotidiano. • Reconhecer e enfrentar as situações de risco de uso de drogas, como a fissura. 24 É no decorrer do processo terapêutico que o paciente aprenderá a usar as técnicas ensinadas pelo terapeuta, a fim de: • Estabelecer conexões entre a cognição, o afeto e o comportamento. • Desenvolver reestruturação cognitiva analisando os pensamentos automáticos disfuncionais e atuando sobre eles através da busca de evidências a favor e contra esses pensamentos via teste de realidade, além de desafiá-los com questionamentos como “quais são os recursos reais para lidar com isso?”, avaliando a importância desses pensamentos. • Mapear as cognições mais tendenciosas e buscar alternativas de avaliação para a realidade. • Enfrentar e modificar pensamentos disfuncionais. De modo geral, as técnicas mais utilizadas para o uso de substâncias são aquelas capazes de levar à testagem da realidade e de corrigir as conceituações cognitivas distorcidas do paciente (SILVA; SERRA, 2004). Para finalizar, iremos apresentar a conceituação cognitiva do caso de um paciente fictício, que receberá o nome de Paulo, diagnosticado com Transtorno por Uso de Substâncias e episódio depressivo (SILVA; SERRA, 2004). Paulo relata que, desde a infância, o seu pai era muito crítico e desvalorizava tudo o que ele fazia, comparando-o ao irmão mais velho. Ele passou a formular, ainda de forma pouco consciente, hipóteses sobre a sua autoeficácia desenvolvendo crenças básicas como “não sei fazer nada certo”, “meu pai não gosta de mim” e, ainda, “não sou uma pessoa querida”. Com isso, passou então a realizar suposições como “não sou querido porque não faço nada certo, mas, se acertar e nunca errar, meu pai gostará de mim”. Essas crenças e suposições 25 influenciaram seu comportamento; em situações específicas, elas eram ativadas e levaram ao desenvolvimento de estratégias compensatórias. O papel das estratégias compensatórias é de aliviar as crenças básicas ativadas em diversas situações de vida; porém, em cada situação, o comportamento ativado pelas crenças poderá variar. Vamos analisar uma situação a que o Paulo foi exposto e que o levou a ativar um esquema de incapacidade, o qual foi construído durante a sua vida. Ao estudar um texto sobre gramática, Paulo acha o conteúdo do texto muito difícil e entende que precisará reler, o que gera o pensamento “vou perder a tarde por culpa desse professor que me exigiu estudar gramática” e, ainda, “não sou inteligente o suficiente para aprender isso”. A situação e os pensamentos evocam sentimentos de irritação e tristeza, fazendo com que Paulo fechasse o livro e fosse beber. O acontecimento descrito ativou os esquemas de vulnerabilidade e de incapacidade em Paulo e o seu comportamento de fechar o livro e ir beber acaba sendo uma estratégia compensatória que o ajuda a lidar com esses esquemas que foram ativados. Quadro 1 – Modelo de Conceituação Cognitiva de Caso do caso do paciente fictício Paulo História infantil relevante: pai rígido e crítico; comparação com irmão; desvalorização do faz. Esquema/Crença básica: inadequação e não estima: “Não sei fazer as coisas direito e não posso ser amado”. Suposição/Crenças: “Se eu me esforçar muito, farei algo bem-feito”. Estratégias compensatórias: alto padrão de exigência, fuga e uso de bebida. Situação: estudar gramática. Pensamento: “Eu nunca vou entender.” Emoções: raiva e tristeza. Comportamentos: Fechar o livro e beber. Fonte: adaptado de Silva e Serra (2004). 26 O caso fictício de Paulo nos leva a compreender que o modelo cognitivo do uso de substâncias indica que a dependência é decorrente de uma interação entre o contato com a droga e os pensamentos (cognições), que são desenvolvidos através das crenças básicas. As crenças relacionadas ao uso das drogas são as facilitadoras e as expectativas positivas. Paulo, ao avaliar a sua situação de estudos como árdua, passa a pensar que pode se descontrair e que o ato de ingerir droga alivia o estresse. Essas crenças eliciam pensamentos automáticos (“Vou beber”) e desencadeiam a fissura pelo álcool. As crenças facilitadoras são “Eu não consigo suportar a vontade” ou “Para melhorar essa vontade eu devo beber!”. O conjunto de cognições apresentado na conceituação de caso irá impulsionar Paulo ao uso do álcool e, então, finalizar um ciclo cognitivo para o uso da substância. Referências APA. Associação Americana DePsiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V-TR. Porto Alegre: Artmed, 2022. CORDEIRO, D. C. Transtornos por Uso de Substâncias – Conceituação e Modelos Teóricos. In: ZANELATTO, N. A.; LARANJEIRA, R. (org.). O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo-comportamentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2018. RANGÉ, B. P.; MARLATT, G. A. Terapia cognitivo-comportamental de transtornos de abuso de álcool e drogas. Revista Brasileira de Psiquiatria, [s.l.], v. 30 (Supl II), p. S88-95, 2008. SILVA, C. J.; SERRA, A. M. Terapias Cognitiva e Cognitivo-Comportamental em dependência química. Revista Brasileira de Psiquiatria, [s.l.], v. 26 (Supl I), p. 33- 39, 2004. 27 A Terapia Cognitivo- Comportamental e o Transtorno de Pânico Autoria: Juliana Zantut Nutti Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Conhecer as características e os critérios diagnósticos para os transtornos de ansiedade e o Transtorno de Pânico, de acordo com Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V. • Analisar o modelo cognitivo do Transtorno de Pânico a partir de seus elementos constitutivos. • Conhecer as técnicas mais utilizadas para o tratamento do Transtorno de Pânico, como a exposição interoceptiva e a in vivo. 28 1. Conceito e critérios sobre o Transtorno de Pânico Neste Tema aprenderemos sobre a abordagem cognitivo- comportamental e sobre os transtornos de ansiedade, especialmente o Transtorno de Pânico. Vamos iniciar essa discussão abordando a ansiedade, que é um sentimento que ocorre comumente em todos os seres humanos por ser um mecanismo de resposta cerebral ativado quando vemos a necessidade de enfrentar desafios ou quando estamos diante de situações de estresse (MANFRO et al., 2008). O sentimento de ansiedade passa a ser considerado um problema quando passa a ser mais acentuado do que deveria e interfere negativamente na vida das pessoas, passando a ser denominado como um transtorno de ansiedade. A ansiedade em excesso poderá levar o indivíduo a apresentar dificuldades de interagir socialmente, de realizar as suas atividades profissionais e de estabelecer ou manter relacionamentos afetivos, pois a sua ação no cérebro passa a ser um incapacitante para o desempenho adequado dessas funções (MANFRO et al., 2008). A grande diferença entre a ansiedade natural da vida cotidiana e o Transtorno de Pânico se dá devido à intensidade em que se apresenta, já que a ansiedade em excesso poderá levar ao surgimento de ataques de pânico, os quais provocam sintomas como a sensação de irrealidade e, até mesmo, medo da morte iminente. De acordo com o DMS–V (2014), os transtornos de ansiedade são classificados em dois grandes grupos: 29 Figura 1 – Classificação dos transtornos de ansiedade Fonte: adaptada de APA (2022). O Transtorno de Pânico está classificado no DSM-V na classificação 300.01 (APA, 2014). Os critérios diagnósticos para Transtorno de Pânico descritos pelo DMS – V (APA, 2022) são a ocorrência de ataques de pânico constantes e inesperados que são definidos como um surto abrupto ou repentino de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em poucos minutos (APA, 2022). Para ser caracterizado como um ataque de pânico deve ocorrer pelo menos quatro do total de sintomas descritos a seguir (APA, 2022): 30 Figura 2 – Sintomas de ataques de pânico Fonte: adaptada de APA (2022). O DSM-V adverte ainda que podem ser verificados sintomas específicos de uma cultura, como tinido, dor na nuca, cefaleia, gritos ou choro incontrolável, e que esses sintomas não precisam ser enumerados e, sim, serem considerados como um dos quatro sintomas típicos (APA, 2022). Outro critério é que um dos ataques deve ocorrer entre um ou mais meses e ser acompanhado de uma ou ambas das características a seguir: 31 Figura 3 – Características do ataque de pânico Fonte: adaptada de APA (2022). Outro critério é que a perturbação da ansiedade não deve ser considerada consequência de efeitos psicológicos de substâncias, como medicamento, ou de condições médicas, como o hipertireoidismo e as doenças cardiopulmonares. E, ainda, que a perturbação não deve ser mais bem explicada por outro transtorno mental, como no caso de Transtorno de Ansiedade Social, nem como reação a objetos ou situações fóbicas específicas, nem, tampouco, como resposta característica de outros tipos de transtorno de ansiedade (APA, 2022). A ocorrência dos sintomas iniciais de Transtorno de Pânico se dá, geralmente, em um período mais tardio, em torno dos 30 anos e, em média, afeta duas a três vezes mais mulheres do que os homens, podendo atingir até 3,5% da população durante a vida. O transtorno está 32 relacionado ao alto custo social devido ao fato dos pacientes com esse diagnostico apresentarem redução da produtividade e alta frequência de utilização de serviços públicos de saúde, como os prontos atendimentos, as consultas e os exames médicos (MANFRO et al., 2008). 2. Modelo cognitivo do Transtorno de Pânico O modelo cognitivo do Transtorno de Pânico se caracteriza pelos ataques de medo intenso que se encontram relacionados às “interpretações distorcidas e catastróficas dos sintomas corporais” (MANFRO et al., 2008, p. 82). A tontura e as palpitações cardíacas tendem a ser interpretadas como sintomas de um ataque cardíaco ou de um infarto iminente. Essas interpretações específicas aumentam ainda mais a excitação e levam ao aumento das sensações corporais, o que confirma o sentimento de alarme ou de perigo iminente e estimulam mais ainda o pensamento catastrófico e a ansiedade em espiral (MANFRO et al., 2008). Manfro et al. (2008) afirmam que o ataque de pânico inicial se apresenta como uma espécie de “alarme falso” em resposta, em geral, aos estresses naturais do cotidiano. Os estressores mais relatados pelos clientes com ataques de pânico são os eventos de vida considerados como negativos, como perdas ameaçadoras, doenças graves de si ou de pessoas queridas, separações afetivas e/ou dificuldades interpessoais. Existe a hipótese de que o alarme apareça com mais probabilidade nos indivíduos mais vulneráveis no âmbito biológico, em virtude de uma herança genética ou no âmbito psicológico, como no caso de maior sensibilidade aos sintomas de ansiedade. Posteriormente ao primeiro ataque de pânico, a pessoa poderá ficar ansiosa e apreensiva em relação às ocorrências de novos ataques, levando-a a desenvolver o medo das sensações físicas que se relacionam à excitação da ansiedade (MANFRO et al., 2008). 33 A hipótese de maior vulnerabilidade biológica é confirmada por experimentos que apontam a existência de relações neuroquímicas e o Transtorno de Pânico, levantadas a partir de pesquisas realizadas com a testagem de medicações e que relacionam o transtorno de pânico à ação de neurotransmissores, em especial, à serotonina e à noradrenalina (MANFRO et al., 2008). Figura 4 – Etiologia do Transtorno de Pânico segundo o modelo de Barlow (1988) Fonte: Manfro et al. (2008, p. 83). 34 As pesquisas realizadas sobre o Transtorno de Pânico levantam a hipótese de que a repetição de ataques pode levar os indivíduos a se tornarem cada vez mais sensíveis aos estímulos internos e às situações que desencadearam os ataques anteriores, elevando a hipervigilância (ampliação excessiva da atenção voluntária) em relação às sensações físicas, combinando-se à ansiedade antecipatória, que é o medo de sofrer novos ataques, combinados ao efeito do pensamento catastrófico sobre os sintomas (MANFRO et al., 2008). Os comportamentos acionados e condicionados devido ao medo levam o indivíduo a evitar a ocorrência dos sintomas somáticos, como evitar a realização de exercícios físicos e se distanciar de lugares associados a ataques de pânico prévios, como acontece no caso da existência de agorafobia (MANFRO et al., 2008). Na agorafobia, a ansiedade é causada pelo medo da pessoa de não conseguir escaparou de ser ajudada caso a fobia e angústia fiquem mais intensas, como no caso de lugares e eventos em que a pessoa pode se sentir presa, desamparada ou envergonhada, no transporte público, em espaços muito abertos, estar em filas ou no meio de uma multidão (MANFRO et al., 2008). Essas evitações ocasionam mais e maiores dificuldades para a pessoa realizar as suas atividades cotidianas. 3. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e o tratamento do Transtorno de Pânico A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para o Transtorno de Pânico apresenta boas respostas de curto e de longo prazos em relação aos sintomas de pânico, de ansiedade antecipatória, da evitação fóbica e da agorafobia. É utilizada para eliminar ou reduzir a hipervigilância 35 do cliente sobre os sintomas, na correção de interpretações e crenças distorcidas e na redução/eliminação da agorafobia (MANFRO et al., 2008; OLIVEIRA, 2011). A TCC é tipicamente um tratamento breve, entre 10 e 20 sessões estruturadas, com objetivos claros, como a correção das interpretações catastróficas, dos medos condicionados das sensações corporais e das evitações. Pode ser introduzida em qualquer etapa do tratamento, desde a prevenção primária até às intervenções em indivíduos que não tiveram sucesso em outros tratamentos (OLIVEIRA, 2011). As técnicas utilizadas no tratamento do Transtorno de Pânico são as cognitivas, como a psicoeducação, a reestruturação cognitiva, a resolução de problemas, assim como as comportamentais a exposição interoceptiva e in vivo. Há, ainda, o uso do relaxamento muscular e da respiração abdominal ou diafragmática para aliviar a ansiedade (MANFRO et al., 2008). A psicoeducação e a reestruturação cognitiva tem a função de ensinar ao cliente a identificação dos pensamentos e das interpretações que ocorrem quando surgem os sintomas de ansiedade. As técnicas de relaxamento muscular e de respiração diafragmática são utilizadas para equilibrar o sistema nervoso autônomo. A exposição interoceptiva tem como objetivo a correção da catastrofização dos sintomas físicos decorrentes da ansiedade antecipatória e/ou do ataque de pânico. Através dela, os clientes são treinados para se sentirem mais confortáveis diante dos sintomas de ansiedade, através de uma exposição gradual e intencional a esses sintomas, utilizando-se exercícios físicos ou recursos como o rodar em uma cadeira giratória ou da hiperventilação para a indução de tonturas. Essa exposição permite que os clientes sejam capacitados a identificar 36 os pensamentos catastróficos relacionados às sensações físicas e, posteriormente, tentem corrigi-los (MANFRO et al., 2008). Os exercícios realizados através da exposição interoceptiva agem como uma preparação prévia para a exposição in vivo. A exposição in vivo é a intervenção mais utilizada para a redução da evitação agorafóbica. A fim de realizar o planejamento da exposição in vivo, o cliente deverá elencar os locais e/ou eventos que evitou e registrar o nível de ansiedade e os tipos de pensamentos automáticos que ocorreram nessas situações. Os itens da listagem devem ser apresentados em forma de hierarquia e de acordo com a dificuldade de enfrentamento dos locais e dos eventos. Os exercícios de exposição in vivo devem ser usados, inicialmente, nas situações menos ansiogênicas, ampliando-se o uso para as mais ansiogênicas; devem ser repetidas até que o cliente se sinta confortável nas situações apresentadas, e o nível de ansiedade deve ser avaliado e monitorado tanto pelo cliente quanto pelo terapeuta (MANFRO et al., 2008). O Transtorno de Pânico pode ser tratado, em geral, em 5 a 20 sessões de terapia. O tratamento pode ser realizado de forma mais intensa, com mais de uma sessão semanal nos primeiros meses, mas, posteriormente, o psicoterapeuta poderá atender o cliente em sessões de reforço intermitentes por períodos mais longos. Uma sessão de TCC tem, em média, de 45 a 50 minutos de duração, mas podem ser realizadas sessões mais longas para o tratamento de clientes com Transtorno de Pânico mais intenso (MANFRO et al., 2008). As formas breves de Terapia Cognitivo-Comportamental, em combinação com sessões virtuais, já foram descritas para o tratamento de Transtorno de Pânico, e os psiquiatras capacitados podem combinar a psicoterapia com o uso de farmacoterapia (OLIVEIRA, 2011). 37 Referências APA. Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014. MANFRO, G. G. et al. W. Terapia cognitivo-comportamental no transtorno de pânico. Revista Brasileira de Psiquiatria, [s.l.], v. 30 (Supl II), p. S81-87, 2008. OLIVEIRA, M. I. S. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: Relato de Caso. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, [s.l.], v. 7, n. 1, p. 30-34, 2011. 38 A Terapia Cognitivo- Comportamental e os Transtornos da Personalidade Autoria: Juliana Zantut Nutti Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso Objetivos • Conhecer o conceito e os tipos de Transtorno da Personalidade, de acordo com o DSM-V-TR. • Analisar o modelo cognitivo do Transtorno da Personalidade. • Discutir os aspectos da Terapia Cognitivo- Comportamental no tratamento de transtorno de personalidade, especificamente no Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsivo. 39 1. Definição de Transtornos da Personalidade Neste Tema, falaremos sobre os principais aspectos dos Transtornos da Personalidade. O DSM-V-TR (APA, 2022) define o Transtorno da Personalidade como um padrão persistente e inflexível de experiências subjetivas e de comportamentos que se apresentam desviados acentuadamente das expectativas da cultura a que o indivíduo pertence. Esse padrão deve levar a alterações que provoquem sofrimento significativo e prejuízo no funcionamento social, profissional e/ou áreas relevantes da vivência individual, se apresentando de forma estável e com longa duração, com surgimento a partir da adolescência ou início da idade adulta. O padrão descrito deve se manifestar, pelo menos, em duas das áreas a seguir: Figura 1 – Área de manifestação dos Transtornos da Personalidade Fonte: adaptada de APA (2022). Outros critérios são: a existência de padrão persistente não explicado, como uma manifestação ou como consequência de outros transtornos mentais e que não pode ser atribuído a efeitos fisiológicos de 40 substâncias, como abuso de drogas, medicamentos e nem a outra condição médica, como traumatismo cranioencefálico (APA, 2022), O DSM-V-TR (APA, 2022) apresenta 10 transtornos da personalidade, que são classificados em três grupos de acordo com as suas semelhanças. Figura 2 – Grupos de Transtornos da Personalidade Fonte: adaptada de APA (2022). Sobre o desenvolvimento e o curso dos Transtornos da Personalidade, suas características são observadas no decorrer da adolescência ou no início da vida adulta, mas algumas características de transtornos da personalidade, especialmente, os transtornos da Personalidade Antissocial e Borderline podem ser menos evidentes ou desaparecer com o envelhecimento do indivíduo. As classificações dos Transtornos da Personalidade podem ser utilizadas na infância e adolescência em casos relativamente raros, nos quais os traços de má adaptação da personalidade dos indivíduos são mais difusos, persistentes e menos limitados a um estágio do desenvolvimento e/ou à existência de outro transtorno mental específico. Os Transtornos da Personalidade podem ser efetivamente diagnosticados aos 18 anos completos de idade do sujeito (APA, 2022). 41 2. A Terapia Cognitivo-Comportamental e os Transtornos da Personalidade A Terapia Cognitivo-Comportamental surgiu no início dos anos 1960 com os trabalhos de Aaron T. Beck e apresenta uma grande influência na formulação de modelos compreensivos sobre os transtornos mentais e o seu tratamento. Apesar de Aaron T. Beck ter utilizado um modelo psicanalítico para pesquisar os casosde depressão, ele passou a entender que o paciente depressivo apresentava uma concepção distorcida de si mesmo e do mundo ao redor (CORDIOLI; KNAPP, 2008). Os modelos explicativos para os transtornos variados, como os transtornos de ansiedade, os transtornos da personalidade e os transtornos alimentares propõem a existência de uma vulnerabilidade cognitiva associada a fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais no desenvolvimento e manutenção dos sintomas. A alta aceitação da Terapia Cognitivo-Comportamental se deve à proposição de modelos explicativos que levam a uma visão mais abrangente dos transtornos mentais, incorporando modelos etiológicos diversos, a função dos pensamentos distorcidos, além das proposição de intervenções psicoterápicas breves que proporcionam boa relação custo/benefício em relação aos tratamentos tradicionais e, ainda, a elaboração de protocolos padronizados de intervenções, que trazem melhor controle de variáveis e maior aferição de resultados (CORDIOLI; KNAPP, 2008). A estrutura geral da TCC se diferencia em tratamentos com base em modelos generalizados e/ou específicos que se utilizam de técnicas cognitivo-comportamentais para intervir em condições clínicas especificas (DAVID; FREEMAN, 2017). A abordagem cognitivo-comportamental afirma que os Transtornos da Personalidade são causados por mecanismos relacionados às crenças nucleares ou centrais do indivíduo, formadas através das experiências 42 ocorridas no decorrer do desenvolvimento do indivíduo, mas não se descartam as causas baseadas em predisposições biológicas (DAVID; FREEMAN, 2017). O modelo cognitivo enfatiza as crenças centrais e os mecanismos de enfrentamento em relação a essas crenças e às crenças intermediárias, as quais aparecem em forma de pressupostos e regras (DAVID; FREEMAN, 2017). Assim, um paciente extremamente centrado em si mesmo poderá apresentar a crença de que é especial. A crença de “ser especial” é completada com crenças intermediárias como “Eu sou especial e os outros devem me dar tudo o que eu pedir”, ou “Eu sou especial e quem não reconhecer e concordar deve ser punido” ou, ainda, “Eu sou especial e os outros me consideram esquisito, por isso jamais vou me encaixar ou ser compreendido” (DAVID; FREEMAN, 2017, p. 5). A alteração da crença de “ser especial” pode vir a ser difícil de ser realizada e o psicoterapeuta deverá desafiar e contestar o caráter de ser especial, ou seja, portanto, deverá buscar o significado dessa crença e o seu impacto nas funções adaptativas desse indivíduo (DAVID; FREEMAN, 2017). O modelo de intervenção da Terapia Cognitivo-Comportamental para os Transtornos da Personalidade deverá seguir o seguinte protocolo: avaliação clínica, conceituação cognitiva de caso; intervenções técnicas e estabelecimento de aliança terapêutica semelhante às desenvolvidas no tratamento para outros transtornos (DAVID; FREEMAN, 2017). A conceituação cognitiva de caso deve ser mais dinâmica no caso dos Transtornos da Personalidade, com a discussão dos atuais problemas, dos problemas passados e dos problemas expressos na relação e no ambiente terapêutico. O tratamento deve ser mais prolongado em comparação com outros transtornos, e as intervenções podem ser realizadas individualmente ou em grupo (DAVID; FREEMAN, 2017). 43 A técnica mais utilizada e estudada atualmente para os Transtornos da Personalidade é a Terapia Comportamental Dialética (TCD), também conhecida como DBT, desenvolvida na década de 1980 pela psicóloga Marsha Linehan, que faz parte da chamada 3ª Onda em Terapia Cognitivo- Comportamental. A TCD ou DBT se caracteriza pelo uso de técnicas mais integrativas, que priorizam o relacionamento terapeuta-paciente e utiliza estratégias baseadas em técnicas de aceitação incorporadas da terapia zen, de metodologias da ciência comportamental e do mindfulness (atenção plena). A dialética aparece na validação e aceitação total do cliente e da elaboração de um contexto que o auxilie a mudar, a buscar a regulação emocional e a desenvolver as habilidades trabalhadas em terapia (PINHEIRO, 2022). As principais habilidades trabalhadas na DBT são as habilidades de aceitação e de mudança, e cada uma dessas habilidades implica o uso de técnicas como a atenção plena a si mesmo (mindfulness) e a busca de efetividade interpessoal, regulação emocional. A Terapia Comportamental Dialética ou DBT depende da qualidade da relação entre cliente e terapeuta e considera a criação de um relacionamento humano real em que ambos são importantes, e em que as suas necessidades são consideradas. Assim, no decorrer do tratamento, o terapeuta deve interagir com o cliente a fim de aceitá-lo como ele é, mas incentivar a sua mudança e ser firme, porém, flexível, de acordo com as circunstâncias apresentadas (PINHEIRO, 2022). 3. Terapia Cognitivo-Comportamental do Transtorno da Personalidade Obsessivo- Compulsiva (TPOC) Agora você irá conhecer a Terapia Cognitivo-Comportamental aplicada ao tratamento do Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva (TPOC). 44 O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TPOC) é um transtorno mental considerado grave e está classificado no DSM-V-TR (APA, 2022) no grupo C da categoria de transtornos da personalidade. De acordo com o DSM-V-TR (APA, 2022), os indivíduos com Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva dão atenção excessiva e cuidadosa a regras, detalhes, listas etc., a ponto de isso se tornar o objetivo principal da sua atividade. Eles são excessivamente perfeccionistas e se impõem padrões de desempenho tão elevados que causam sofrimento significativo a si mesmo e aos outros. Demonstram excessiva dedicação ao trabalho, mesmo sem necessidade financeira, e excluem as atividades de lazer e sociais. Podem ser excessivamente conscienciosos e inflexíveis sobre assuntos que envolvem moralidade, ética ou valores. Podem ser incapazes de se desapegar de objetos usados, mesmo os sem valor sentimental, com alto potencial para se tornarem acumuladores. Relutam em delegar tarefas ou em trabalhar em equipe e insistem que tudo seja realizado da sua maneira. Podem ser mesquinhos a ponto de manterem um padrão de vida inferior ao que podem sustentar. São extremamente rígidos e teimosos. Segundo Morais (2018), o Transtorno de Personalidade Obsessivo- Compulsiva é caracterizado por um padrão global de perfeccionismo, escrupulosidade, inflexibilidade e controle, e o indivíduo com esse transtorno tende a acreditar que as pessoas estão agindo de maneira errada em comparação às suas regras. A fim de manter a sensação de controle, eles se concentram em regras, detalhes, minúcias, procedimentos, cronogramas e listagens. Em muitos casos, o resultado desse controle é a perda de prazos de realização de projetos ou atividades, pois eles dedicam uma excessiva atenção aos detalhes por não fazerem uso adequado do tempo. Eles não têm ciência das consequências de seu comportamento e em como isso afeta os outros, como os colegas de trabalho. Como o seu principal foco é o trabalho acabam por negligenciar o convívio com a família e amigos (ZIMMERMAN, 2021). 45 A estimativa é que cerca de 2,1% a 7,9% da população geral apresente Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva que parece ser mais comum entre homens. Há a presença de comorbidades como o transtorno depressivo maior ou persistente e/ou alcoolismo (ZIMMERMAN, 2021). Cabe aqui uma observação referente às diferenças entre o Transtorno de Personalidade Obsessiva-Compulsivo (TPOC) do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é um transtorno do humor e apresenta diferença expressiva nos sintomas em comparação ao Transtorno de Personalidade Obsessiva- Compulsivo (MORAIS, 2018). No TOPC, diferentemente do TOC, não existem pensamentos intrusivos (obsessões) nem comportamentos ritualísticos (compulsões) para aliviar a ansiedade. Mas alguns pacientes podem apresentar TOC e Transtorno dePersonalidade Obsessivo-Compulsiva simultaneamente. As causas do Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva e do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) não foram totalmente esclarecidas, mas se sabe que são multifatoriais e causadas devido a fatores biológicos e ambientais que interagem entre si (MORAIS, 2018). O tratamento de ambos os transtornos é bastante semelhante e envolve a psicoterapia associada à psicofarmacologia com uso de inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS). A psicoterapia que apresenta mais evidências de eficácia clínica para o tratamento de ambos os transtornos é a Terapia Cognitivo-Comportamental. Vocês irão verificar a seguir, alunos, uma proposta de tratamento cognitivo-comportamental que pode ser aplicada a ambos os transtornos, o TPOC e o TOC. Assim como nos demais transtornos da personalidade, os sintomas do TPOC aparecem na infância ou no final da adolescência. Em vários 46 casos, os sintomas podem ser incapacitantes, além de comprometer a qualidade de vida de seus portadores (FORMIGA et al., 2012). Como vocês viram, o tratamento para o TPOC envolve a utilização de medicamentos combinados com a Terapia Cognitiva-Comportamental (FORMIGA et al., 2012). A TCC prevê a utilização de técnicas psicoterápicas cognitivas e comportamentais como a técnica de Exposição e Prevenção de Respostas (EPR), cuja utilização tem sido eficaz em mais de 70% de casos. A técnica de Exposição e Prevenção de Respostas (EPR) consiste em expor o indivíduo às situações que estimulam respostas de ansiedade e estimular a redução da emissão de respostas sintomáticas. Através da EPR, os pacientes são estimulados a se exporem às situações que causam o surgimento dos sintomas, buscando não utilizar as respostas de evitação (FORMIGA et al., 2012). Inicialmente, essa técnica irá aumentar a ansiedade e os sintomas, e a prevenção de respostas tende a funcionar melhor se a técnica for utilizada de maneira colaborativa. Assim, paciente e terapeuta trabalham juntos em relação aos objetivos de prevenção de respostas, a fim de aumentar o engajamento do paciente (WRIGHT; THASE, 2008 apud FORMIGA et al., 2012). A técnica de EPR inicia-se com a elaboração de uma lista de estímulos desencadeadores de ansiedade, com a atribuição de notas para o grau de ansiedade que é manifestada (0–10). Após a elaboração dessa lista, o paciente precisa enfrentar cada uma das situações listadas, iniciando pelas que promovem um menor grau de ansiedade, com objetivo de diminuir a frequência dos sintomas. Pode-se fazê-la, inicialmente, através da imaginação, até que haja a redução do desconforto para, posteriormente, o paciente ser exposto às situações de forma presencial. A repetição dos exercícios ajuda a diminuir ou extinguir os sintomas através do fenômeno conhecido como habituação. Ainda, há a 47 importância de se estabelecer boa relação terapêutica para a eficácia da psicoterapia (FORMIGA et al., 2012). É importante identificar as dificuldades do paciente e determinar as razões pelos quais ele não consegue aplicar soluções para determinados problemas e o terapeuta deverá trabalhar estrategicamente para organizar a condução do processo terapêutico e estabelecer as metas a serem atingidas pela utilização da conceitualização cognitiva e da técnica de EPR. Referências APA. Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais–DSM-V-TR. Porto Alegre: Artmed, 2022. CORDIOLI, A. V.; KNAPP, P. A terapia cognitivo- comportamental no tratamento dos transtornos mentais. Revista Brasileira de Psiquiatria, [s.l.], v. 30 (Supl II), p. S51- 53, 2008. DAVID, D. O.; FREEMAN, A. Visão Geral da Terapia Cognitivo-Comportamental dos Transtornos da Personalidade. In: BECK, A. T. Terapia Cognitiva dos Transtornos da Personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2017. FORMIGA, M. B. et al. A conceitualização cognitiva no Transtorno Obsessivo Compulsivo: relato de caso. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, [s.l.], v. 8, n. 1, p. 61-6, 2012. MORAIS, E. M. TOC x Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva: qual é a diferença? Cuidados pela Vida, 2018. Disponível em: https://cuidadospelavida.com. br/saude-e-tratamento/toc/toc-transtorno-de-personalidade-obsessivo-compulsiva- diferenca. Acesso em: 30 maio 2022. PINHEIRO, M. V. Terapia Comportamental Dialética (TCD ou DBT). Interface Psicologia Clínica, 2022. Disponível em: https://nucleointerface.com.br/ psicoterapias/tcc-para-transtornos-de-personalidade. Acesso em: 30 maio 2022. ZIMMERMAN, M. Manual MSD. Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (TPOC). Manual MSD, 2021. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt- br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/ transtorno-de-personalidade-obsessivo-compulsiva-tpoc. Acesso em: 19 maio 2022. 48 BONS ESTUDOS! Sumário Apresentação da disciplina A Terapia Cognitivo-Comportamental e as Disfunções Sexuais Objetivos 1. Terapia Cognitivo-Comportamental e o modelo cognitivo de A. Beck 2. A Terapia Cognitivo-Comportamental e as disfunções sexuais Referências A Terapia Cognitivo-Comportamental e a Dependência Química Objetivos 1. Conceito e critérios sobre Transtorno por Uso de Substâncias 2. A Terapia Cognitivo-Comportamental e os Transtornos por Uso de Substâncias (TUS) Referências A Terapia Cognitivo-Comportamental e o Transtorno de Pânico Objetivos 1. Conceito e critérios sobre o Transtorno de Pânico 2. Modelo cognitivo do Transtorno de Pânico 3. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e o tratamento do Transtorno de Pânico Referências A Terapia Cognitivo-Comportamental e os Transtornos da Personalidade Objetivos 1. Definição de Transtornos da Personalidade 2. A Terapia Cognitivo-Comportamental e os Transtornos da Personalidade 3. Terapia Cognitivo-Comportamental do Transtorno da Personalidade Obsessivo- Compulsiva (T Referências