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CAPÍTULO 7 - 1 2a edição 2022 FIXA! RENDA FIXA Nord Research © Todos os direitos reservados Rua Joaquim Floriano, 100 - Itaim Bibi, São Paulo - SP, 04534-000 contato@nordresearch.com.br Renda Fixa Não é Fixa! Nord Research 2022 Marilia Fontes | Autoria Victor Weiler | Coordenação do projeto, organização e edição Glenda Donadio | Preparação e revisão Marina Fiorese | Diagramação Bernardo Coelho Studio | Fotografia de Capa Mariana Lima | Tratamento de imagens MARILIA FONTES RENDA FIXA NÃO É FIXA! 2a edição Ao meu marido, Marcio, e minhas paixões, Carol, Dani, Sofia, Luisa e Gabriel. A todos os meus leitores cujas perguntas e feedbacks apuraram os capítulos deste livro. A wealthy person is simply someone who has learned how to make money when they’re not working” Robert Kiyosaki “O rico é simplesmente aquela pessoa que aprendeu a fazer dinheiro quando não está trabalhando” Sumário Prefácio ..........................................................................................10 Introdução .....................................................................................14 1 | O Poder dos Juros Compostos ......................................... 18 2 | Os tipos de títulos ............................................................... 26 3 | Títulos públicos .................................................................... 36 3.1 Passo a passo para investir no Tesouro Direto .......47 3.2 Prefixados ......................................................................52 3.3 Pós-fixados .....................................................................64 3.4 Indexados à inflação .....................................................77 4 | Títulos bancários .................................................................. 88 4.1 O FGC ..............................................................................92 4.2 CDBs ................................................................................96 4.3 LCI e LCA .........................................................................99 4.4 Poupança ........................................................................102 4.5 Outros ..............................................................................109 5 | Títulos de empresas ............................................................ 112 5.1 Debêntures .....................................................................114 5.2 CRAs e CRIs ....................................................................119 6 | As agências de rating ........................................................... 122 7 | A análise de crédito .............................................................. 128 8 | Como operar renda fixa – a gestão ativa ........................ 136 8.1 A curva de mercado ....................................................... 142 8.2 Exemplo I – 2012 ........................................................... 148 8.3 Exemplo II – 2013 .......................................................... 154 8.4 Exemplo III – 2016 ......................................................... 157 8.5 Exemplo IV – Prefixados x Indexados ....................... 160 9 | A renda fixa não é fixa! ........................................................ 164 CAPÍTULO 1 - 9 Prefácio A Renda Fixa no Brasil tem passado por transformações importantes ao longo dos últimos anos. Essas mudanças ocorrem no bojo do desenvolvimento do mercado de títulos privados, alicerçado pelos avanços no mercado de títulos públicos federais que o precedeu. Soma-se a isso o aparecimento de novos produtos financeiros e plata- formas de negociação, o aumento da transparência, além do aprimoramento normativo e autorregulatório criado pelos participantes de mercado. Finalmente, deu-se o alargamento e a diversificação da base de investidores, elemento central no aumento da dispersão dos instru- mentos de renda fixa. O ajuste macroeconômico realizado na segunda metade da década de 90 estava calcado em três aspectos fundamentais: o ajuste nas contas externas, o controle das finanças públicas com a adoção de uma política fiscal austera e o controle da inflação. A esta- bilização dos preços foi condição necessária para o desenvolvimento da renda fixa no Brasil pelo simples fato de dar maior previsibilidade ao valor do dinheiro no tempo. 10 - Renda Fixa não é Fixa! A inflação tem esse extraordinário poder de encurtamento dos horizontes de tempo pela incerteza que impõe sobre o valor dos ativos. Quando se verifica o descontrole, o poder de compra do consumidor é corroído rapidamente, assim como a riqueza do investidor enquanto poupador nato, dependendo do instrumento financeiro que escolheu para rentabilizar seu dinheiro. Investimentos em renda fixa são aqueles em que o inves- tidor sabe de antemão exatamente como será remunerado. Isso não significa necessariamente saber o resultado final do investimento daqui a um ano, por exemplo. Por conta do contexto inflacionário que o Brasil viveu no passado, criou-se uma cultura de indexar todo investimento a alguma taxa de juros para evitar perdas. Quando a inflação chegou a menos de 10% ao ano, o cenário mudou. Foi assim que a renda fixa ganhou uma nova cara no Brasil, começando pela melhora do perfil da dívida pública federal, especialmente entre 2003 e 2008, quando foram lançados vários instrumentos diferentes daqueles aos quais os investidores estavam habituados. O Tesouro Nacional foi capaz de alongar os prazos de seus títulos, além de oferecer consistentemente títulos com taxas prefixadas, aqueles em que o investidor sabe exatamente quanto receberá entre a data do investi- mento e do resgate. Também ofertou títulos com prazo de 40 anos atrelados à inflação, excelente alternativa para quem deseja uma aposentadoria tranquila, com liquidez e segurança. É importante dizer que o Tesouro Nacional ofereceu essas alternativas tanto em seus leilões sema- nais, nos quais há a participação de diversas instituições financeiras, quanto no Tesouro Direto, programa essen- cialmente dedicado à pessoa física e que tem crescido rapidamente nos últimos anos. PREFÁCIO - 10 CAPÍTULO 1 - 11 Esses avanços no mercado de títulos do Tesouro Nacional foram vitais para o desenvolvimento do mercado de títulos privados, seja corporativo ou ban- cário, na medida em que criou referências de preços bem definidos em diversos pontos do tempo. Essas mudanças ajudam a responder qual é o preço justo de um investimento daqui a três, cinco ou dez anos. Em abril de 20171, o mercado de renda fixa compreendia um total de R$ 5,6 trilhões, dos quais 56,3% são repre- sentados por títulos públicos, 11,5% e 10,6% por CDBs e Letras Financeiras, 13,55% por debêntures e 8% por títulos de créditos e outros títulos privados. A evolução significativa desses mercados promovida por esses diversos instrumentos não estaria completa se não houvesse enormes esforços para simplificar o enten- dimento do investidor não profissional. Nesse sentido, este livro preenche uma lacuna importante, explicando de maneira simples e didática as características de cada mercado, a atenção e os cuidados que o investidor pre- cisa ter, ao mesmo tempo que demonstra que investir em renda fixa não é tão difícil quanto parece no imaginário das pessoas. Na renda fixa, os preços variam, mas o investidor pode proteger seus recursos de oscilações momentâneas se realizar um planejamento correto e souber claramente qual é seu objetivo, seu horizonte e seu prazo para resgate. É com muita satisfação que apresento este livro, que busca descrever como é possível obter excelentes rentabi- lidades na renda fixa, num momento especial da indústria. O investidor pode ter acesso a diferentes alternativas de investimento de maneira descentralizada, tomando suas próprias decisões sobre onde e como investir, seja em seu aplicativo móvel ou pelo computador de casa. Mesmo diante dessa liberdadede escolha, nem todos 12 - Renda Fixa não é Fixa! 1 Boletim de Renda Fixa da Anbima. *André Proite foi gerente de Relacionamento com Investidores da Dívida Pública e atuou como Coordenador-Geral de Controle e Pagamento da Dívida Pública na Secretaria do Tesouro Nacional. No entanto, este prefácio foi escrito de maneira dissociada de suas atribuições, no intuito de incentivar iniciativas voltadas à edu- cação financeira. Além disso, o Código de Ética da instituição foi observado, e a opinião aqui descrita se refere exclusivamente ao autor, não se confundindo com um posicionamento institucional. se sentem à vontade ou seguros para seguir adiante, e é nesta linha que o livro contribui fortemente para tornar as escolhas individuais mais fáceis e ajudar os investidores a realizar essa travessia. André Proite* PREFÁCIO - 12 CAPÍTULO 1 - 13 Nos primeiros 8 anos de minha carreira, trabalhei como gestora de fundos de investimento do tipo multimercado. A estratégia desses fundos é basicamente efetuar inves- timentos principalmente em ações, moedas e juros para obter uma rentabilidade acima do CDI. Eu trabalhava com renda fixa e câmbio. Dentre os investimentos que eu operava, estavam contratos de juros no mercado futuro, títulos públicos e opções. Com esses instrumentos, era possível obter ren- tabilidades bastante agressivas e concorríamos no mesmo patamar que a equipe de ações. Ora ganhando, em termos de rentabilidade, ora perdendo. Na maioria dos casos, a renda fixa era considerada o “carro chefe” desses fundos, de onde advinham as maiores rentabilidades. Até porque as ações eram muito voláteis, e os juros no Brasil sempre foram altos o suficiente para desencorajar qualquer investimento de risco. Introdução 14 - Renda Fixa não é Fixa! INTRODUÇÃO - 14 Os fundos eram destinados principalmente aos grandes inves- tidores. Muitas vezes, a única comunicação que tínhamos com os clientes era indireta e mediada por um distribuidor (que aloca os recursos dos clientes “private” dos grandes bancos). Em janeiro de 2016, me chamaram para integrar o time de uma casa de análise como analista de renda fixa. A casa era destinada a fazer recomendações de investimentos para pequenos investidores. Grande parte dos investimentos desse grupo ia para a poupança ou para outros investimentos de baixa rentabilidade ou alto custo, sugeridos por gerentes de banco. A ideia de se criar uma casa de análise era dar acesso ao mesmo tipo de conhecimento fornecido aos mais sofisticados investidores institucionais. Eu me recordo de ter pensado que a única mudança, em termos de carreira, seria que em vez de comprar os investimentos para meus clientes, iria sugerir a eles o que comprar. No entanto, sentada na minha cadeira de analista de renda fixa, percebi logo no começo que não seria somente isso. O pequeno investidor estava tão desamparado, tão repleto de informações falaciosas e tendenciosas, tão cercado de conflitos de interesses, que simplesmente, sabendo do que eu sei e tendo aprendido tudo o que eu aprendi, não poderia deixar de trans- mitir o conhecimento. Em 2018, fundei a Nord Research com mais 4 sócios, uma casa de análise que além de dar o peixe – as valiosas recomendações de investimento –, também ensinava a pescar, com muito con- teúdo educativo. O trabalho passou a ser não só de sugerir e recomendar, mas também de treinar e educar financeiramente o investidor. Sempre digo que é totalmente razoável o pequeno investidor correr altos CAPÍTULO 1 - 15 riscos, desde que ele esteja 100% ciente desses riscos que ele corre. O pequeno investidor é acostumado a encarar renda fixa como aquele investimento que rende pouco, mas sempre rende, e a renda fixa pode ser completamente diferente disso. Pode ser um investimento que gera perdas relevantes, assim como ganhos agressivos. Renda Fixa pode ser muito segura ou pode ser extrema- mente arriscada. Eu não entendia por que nossos leitores preferiam ações à renda fixa; por que nossos relatórios de ações eram mais procurados como fontes de retorno subs- tancial. Durante toda a minha carreira no mercado financeiro, vi a renda fixa ser, na maioria das vezes, priorizada como fonte de rentabilidade pelos investi- dores profissionais. Neste livro, vou explicar para você, leitor, como operar renda fixa de forma agressiva. Vou te explicar como obter retornos de 40% ou 50% no ano apenas com renda fixa. Vou falar também sobre como preservar seu capital com renda fixa, operando de forma cautelosa. Muitas vezes, os pequenos investidores utilizam CDBs de bancos altamente arriscados, achando que estão fazendo um investimento conservador. Na verdade, essa operação é extremamente arriscada. Da mesma forma, muitos deles investem em títulos públicos prefixados longos achando que estão fazendo um investimento conservador. Se tiverem que vender 16 - Renda Fixa não é Fixa! INTRODUÇÃO - 16 antecipadamente o papel, é possível incorrer até mesmo em prejuízos. É preciso entender exatamente como funciona cada título e como se beneficiar das diversas características de cada um. Estando ciente de seu funcionamento, resta a você, sabendo qual é o seu perfil de risco e sua necessidade de capital, escolher o mais adequado. Então vamos entender exatamente como funciona o mercado de renda fixa, qual é o real risco que corremos com cada título, as ciladas e as oportunidades. O PODER DOS JUROS COMPOSTOS1 18 - Renda Fixa não é Fixa! Chamamos de renda fixa tudo aquilo que representa uma dívida. Quando você compra um título do governo, na verdade está emprestando dinheiro para ele. Quando compra o CDB de um banco, está emprestando dinheiro para o banco. Quando compra uma debênture de uma empresa, está emprestando dinheiro para ela. Como todo empréstimo, combinamos uma data para o vencimento do empréstimo, quando se tem que pagar o valor emprestado e mais um juro acordado. Por exemplo, nos títulos públicos, o pagamento de juros, amor- tização e vencimento é padronizado. Todo pagamento de juros é feito semestralmente (para os títulos que pagam juros). Todo valor nominal é pago apenas no final, e os prazos de vencimento são escolhidos pelo Tesouro, de tal forma que cada tipo de título tem aproximadamente uns 15 prazos disponíveis. Os CDBs, LCIs e LCAs são menos padronizados e podem variar bastante em vencimento. O pagamento dos juros e principal geralmente só é feito ao final do vencimento do título, a não ser para CDBs com liquidez diária, nos quais é possível sacar o prin- cipal e juros a qualquer momento. CAPÍTULO 1 - 19 Nas debêntures, tudo pode mudar. Cada título tem seu esquema de pagamento de juros, principal e vencimento, e é necessário analisar caso a caso. Não se preocupe em gravar esses detalhes, falaremos mais sobre cada título nas próximas seções. Estou apenas exemplificando. Como todo empréstimo também, temos que analisar crite- riosamente a saúde financeira de quem estamos emprestando o dinheiro. A resposta principal é saber se essa instituição terá capacidade de nos devolver o principal e juros. Se o nosso devedor é mais arriscado, então devemos exigir um juro maior para realizar o empréstimo. Emprestar para um banco pela mesma taxa que emprestamos para o governo não faz sen- tido. Também vamos falar mais sobre isso adiante. Existe uma característica importantíssima dos juros que faz dos títulos de renda fixa seus maiores aliados quando se pensa em construção de patrimônio e aposentadoria: os juros são compostos! O que isso significa? Juros compostos são aqueles em que os juros de cada período são somados ao valor inicial para o cálculo dos juros do próximo período. Por exemplo, suponha um investimento inicial de R$ 100 a uma taxa de 10% ao ano. Depois de 1 ano, terei R$ 110,00 [ 100*(1+10%) ] Depois de 2 anos, não vou ter R$ 120,00, mas sim R$ 121,00 [ 100*(1+10%)ˆ2 ] 20 - Renda Fixa não é Fixa! Esse 1 real a maisfoi o efeito dos juros do segundo período em cima dos juros obtidos no primeiro período. Esse efeito de composição faz com que o seu patrimônio cresça de forma exponencial. Na tabela ao lado, temos o resultado desse investimento nos períodos seguintes: O investimento inicial, que era de apenas R$ 100, acabou virando R$ 670 depois de 20 anos, simplesmente pela com- posição de juros. Isso significa dizer que, durante esse tempo, você não teve que aportar mais dinheiro ou conseguir retornos melhores. Você apenas aplicou seu dinheiro a uma taxa de 10% e ele começou a se multiplicar. Simples assim! No curto prazo, não conseguimos perceber a diferença, mas ao longo do tempo, vemos o bolo crescer consistentemente. Essa é a melhor previdência que você pode ter. Anos Patrimônio 0 100,00 1 110,00 2 121,00 3 133,10 4 146,41 5 161,05 6 177,16 7 194,87 8 214,36 9 235,79 10 259,37 11 285,31 12 313,84 13 345,23 14 379,75 15 417,72 16 459,50 17 505,45 18 555,99 19 611,59 20 672,75 CAPÍTULO 1 - 21 Esqueça as discussões do governo sobre o envelhecimento da população, a idade mínima de aposentadoria, o valor do teto… Você pode se aposentar depois de 30 anos de trabalho, inde- pendentemente do que o governo quer que você faça, apenas sendo previdente e investindo em renda fixa. Veja o que acontece com os seus investimentos se, além de investir com um juro de 10%, você decide poupar 100 reais por mês: Depois de 10 anos: R$ 19.985,00 Depois de 20 anos: R$ 71.825,00 Depois de 30 anos: R$ 206.284,00 Parece bom, não é mesmo? Mas estamos só esquentando. Agora, vamos imaginar a mesma situação, mas com um inves- timento de 500 reais por mês: Depois de 10 anos: R$ 99.930,00 Depois de 20 anos: R$ 359.130,00 Depois de 30 anos: R$ 1.031.420,00 Uau! Você virou um milionário. Como você queria ter pensado nisso 30 anos atrás, não é mesmo? Não se martirize, a maioria das pessoas não poupa de forma consistente. 22 - Renda Fixa não é Fixa! A ideia da criação do sistema de previdência era exata- mente essa. O governo percebeu que o cidadão comum era um ser não previdente e que se dependesse somente dele para acumular o valor necessário para que pudesse ter uma aposentadoria tranquila, ele não o faria (gerando problemas sociais posteriores). Em vista disso, o governo tornou a cobrança mensal compul- sória, sendo ela um percentual do salário. Mas o fato é que, se você tiver a consciência de um ser previdente, independente- mente da situação fiscal do governo, você poderá contar com uma aposentadoria e criação de riquezas consistente. Quanto mais cedo você começar, mais rápido terá a sua liber- dade financeira graças ao efeito dos juros compostos. Uma excelente notícia para você, que pensa em começar agora, é que você mora no país com a maior taxa de juros do mundo. Isso significa que demora muito menos para você poder se aposentar do que todo o resto do globo! Enquanto nossas contas são feitas com 10%, o resto do mundo tem que usar 2 ou 3% ao ano. Então aproveite! Isso não deve durar para sempre. Eu me lembro de ter lido um livro na adolescência que me fez mudar a forma como eu encarava o dinheiro. É um livro bem básico e fácil de ler. Li em um dia porque não conseguia parar. Não tem nada de sofisticado, mas na simplicidade dele aprendi algo que levo até hoje. O livro se chama Pai rico, Pai pobre, de Robert Kiyosaki. Vocês devem ter ouvido falar. Ele fala sobre educação financeira e sobre como encarar o dinheiro. CAPÍTULO 1 - 23 A lição mais importante é: A maioria das pessoas trabalha pelo dinheiro. Ou seja, tem uma série de gastos (a maioria bem fundamentados) e, para honrar seus compromissos, trabalha exaustivamente a vida toda; o livro dá o nome de “corrida de ratos” a isso. Muitas dessas pessoas, quando recebem um aumento de salário, sentem-se confortáveis para aumentar ainda mais os seus gastos, o que as torna ainda mais dependentes do trabalho, e não menos. O objetivo do autor é fazer você perceber que você tem que sair da corrida de ratos e começar a fazer o DINHEIRO TRABALHAR POR VOCÊ, e não você trabalhar pelo dinheiro. O que isso quer dizer? Quer dizer, em outras palavras, FAZER OS JUROS TRABALHAREM POR VOCÊ. Quanto mais você conseguir economizar hoje, mais rápido poderá parar de trabalhar, pois os juros do seu patrimônio vão gerar renda o suficiente para você honrar seus gastos mensais. Eles ficam trabalhando e você fica curtindo. No livro O valor do amanhã, de Eduardo Gianetti (que eu tive o prazer de ter como professor durante minha graduação em economia), ele discute exatamente a dificuldade das pessoas em segurar a ansiedade e consumir menos hoje em troca de um maior consumo amanhã. Quanto menor a nossa maturidade financeira, menos conse- guimos ter a paciência de esperar a troca de mais no futuro em relação a menos hoje. A nossa sobrevaloração do hoje, depois de 30 anos de tra- balho, nos faz olhar para trás com arrependimento, pensando 24 - Renda Fixa não é Fixa! que já poderíamos ter nos aposentado. Poderíamos ter um trabalho mais tranquilo ou nos dedicarmos a um hobby. Mas a maioria das pessoas se mantém presa na “corrida de ratos”. Ganhando e gastando. Espero que eu tenha conseguido te estimular a pensar na importância da renda fixa e dos juros compostos. Além disso, há outro fator que pode acelerar sua aposenta- doria. Como eu mostrei anteriormente, com 500 reais, você teria 1 milhão depois de 30 anos. Isso considerando uma taxa de juros de 10%. Agora, quanto tempo demoraria para eu ter esse mesmo 1 milhão investindo a uma taxa de 20%? Resposta: 20 anos! Ou seja, se essa fosse a sua meta de patrimônio, você poderia se aposentar 10 anos mais cedo se conseguisse um retorno maior. Nos próximos capítulos, vou explicar como funciona cada título de renda fixa e como podemos usar cada um deles para ora preservar nosso patrimônio (em momentos de crise), ora obter retornos agressivos (em épocas de otimismo). Com esses dois vetores trabalhando por você, restará apenas que o tempo passe para que você alcance o patrimônio desejado. Lembrando que tudo isso se dará utilizando a classe de ativos tida como a mais conservadora de todas: a renda fixa. OS TIPOS DE TÍTULOS2 26 - Renda Fixa não é Fixa! Quando falamos em renda fixa, parece que estamos falando sobre um tipo de ativo, mas na verdade a renda fixa engloba diversos tipos diferentes de ativos. Todos representam uma dívida de alguém com alguém. Em todos os casos, você, investidor, estará emprestando dinheiro para alguma instituição (governo, banco ou empresa) e em troca receberá o dinheiro que emprestou mais juros. Esses empréstimos diferem nas seguintes características: indexador da dívida; emissor da dívida; vencimento/prazo do empréstimo; lastro ou garantia do empréstimo; tipo de marcação do preço ou negociação. O indexador da dívida é sobre qual índice que servirá de refe- rência para os juros do meu empréstimo. Por exemplo, o CDI é a referência de alguns títulos pós-fixados como CDBs, LCIs, LCAs, debêntures. A Selic efetiva é a referência do Tesouro Selic. O IPCA é a refe- rência do IPCA+, e assim vai… O indexador serve para estabelecermos desde o início como será pago o juro do nosso empréstimo. Não podemos mudar a regra do contrato e, se um indexador é escolhido, ele deverá ser utilizado até o vencimento do título. O emissor da dívida é para quem você vai emprestar o dinheiro. É o devedor do empréstimo. Ele vai emitir o título que o investidor vai comprar. CAPÍTULO 2 - 27 Os emissores podem ser: o governo; os bancos; as empresas. Quando o governo emite um título, chamamos de Título Público. Os mais conhecidos e disponíveis no Tesouro Direto são Tesouro Selic (ou LFT), Tesouro Prefixado sem cupom (ou LTN), Tesouro Prefixado com juros semestrais (ou NTN-F), Tesouro IPCA+ com juros semestrais (ou NTN-B) e Tesouro IPCA+ (ou NTN-B Principal).Os títulos emitidos por bancos são os CDBs, LCA, LCI, Poupança, LC, LF, RDB. Os títulos emitidos por empresas são as Debêntures, CRIs e CRAs. Ou seja, se eu te falo que tenho uma LCA para te recomendar, você já sabe que é um produto de banco. Se eu te falo sobre uma Debênture, você já vai saber que se trata de uma dívida de empresa. Se eu falo do Tesouro Selic, será do governo. Por que é importante sabermos quem é o emissor da dívida? Como eu disse na introdução, é importantíssimo sabermos para quem estamos emprestando o nosso dinheiro. É preciso analisar se o emissor é um bom pagador e se ele terá condição de nos pagar o empréstimo de volta. Se o emissor for uma instituição com sérios problemas de dívida e falta de dinheiro, não vamos querer emprestar. Ou, então, se aceitarmos correr esse risco, vamos exigir uma taxa de juros muito maior para que compense o risco de calote. 1 2 3 28 - Renda Fixa não é Fixa! Vejo que o erro mais comum do pequeno investidor é aceitar financiar bancos médios que geram prejuízo por taxas levemente acima da Selic. O investidor compara as taxas do Tesouro Selic (100% da Selic Efetiva) com as dos CDBs desses bancos (110% do CDI) e acha que está fazendo um ótimo negócio rentabili- zando 110%. Na verdade, o nível de risco que esse investidor está correndo pode ser 20 vezes maior. Ele está sendo remunerado a mais porque o investimento é muito mais arriscado, mas na maioria das vezes ele não está ciente do risco que corre e não está sendo remunerado condizentemente com o risco incorrido. Depois que o banco quebra, resta torcer para que o FGC tenha recursos disponíveis para resgatar os detentores do título. Torcer? Mas o FGC não é obrigado a me pagar? Não! E vou falar mais sobre isso adiante. Temos uma hierarquia dos emissores em relação ao seu nível de risco. O emissor menos arriscado, ou mais seguro, é o governo. Os títulos do governo são chamados em finanças como “livres de risco”. Não que eles sejam de fato livres de risco, mas são os mais seguros da economia. Isso porque o Governo Federal, através do Tesouro Nacional, consegue se financiar com mais tranquilidade mesmo em épocas de crise. Ele tem uma série de instrumentos que podem ser uti- lizados para que o pagamento da dívida aconteça. Um desses instrumentos, por exemplo, é simplesmente imprimir dinheiro, outro é aumentar a tributação. Bancos e empresas não conseguem emitir dinheiro ou tributar. Por esse motivo, em épocas de crise, eles são mais suscetíveis ao calote do que o governo. CAPÍTULO 2 - 29 É claro que essa hierarquia não é estática. O nosso governo já passou por épocas em que era melhor ter uma dívida de um grande banco do que um título público. Em 1987, o então presidente José Sarney decretou a moratória de dívida externa, causando pânico entre seus credores. Os efeitos colaterais foram tão brutais que desde então nenhum governo ousou repetir o feito. Os credores sumiram, o país teve saída de capital, não conse- guia financiar suas exportações, a economia afundou, os salários foram amassados, a inflação comeu solta. Desde 1987, não temos moratória da dívida pública. Em compensação, todo ano temos empresas e bancos decre- tando falência. Assim, quando se empresta para o governo, a taxa de juros cobrada é menor mesmo. Por outro lado, a probabilidade de ele te pagar é muito maior. O tamanho dos juros pagos é diretamente proporcional ao risco daquele emissor. Juros mais altos = Risco maior Então, quando um banco estiver pagando 115% do CDI em um CDB de curto prazo, saiba que muito provavelmente o balanço desse banco deve mostrar uma série de prejuízos ou necessidade de capitalização. Não se engane! O Vencimento ou Prazo do empréstimo também é uma carac- terística importante para diferenciar os papéis. 30 - Renda Fixa não é Fixa! Títulos públicos têm vencimentos padronizados e procuram seguir referências internacionais como 2, 5 ou 10 anos. Passado esse tempo, o Tesouro emite novos vencimentos, rolando as emissões para manter as referências. Ele para de disponibilizar o título de vencimento menor para passar a oferecer o de venci- mento maior. Apesar de o Tesouro Direto parar de oferecer alguns venci- mentos mais curtos, ele sempre recompra qualquer título que você tenha comprado dele a qualquer momento que você queira vender. Então não se preocupe se ele parou de oferecer o título que você comprou no passado. Se você quiser vender de volta, terá um preço justo para realizar essa devolução. Os juros dos títulos públicos que pagam juros semestrais são padronizados e todos os títulos pagam as mesmas taxas perió- dicas, predeterminadas na emissão. Enquanto os títulos IPCA+ pagam 6% ao ano de forma semes- tral, os Prefixados pagam 10% ao ano semestralmente. Temos títulos bancários que não pagam cupom, acumulando o pagamento para o vencimento do título ou para o momento do resgate (no caso de produtos de liquidez diária). Além disso, temos títulos bancários que pagam cupom. Títulos de empresas são completamente flexíveis, e cada título tem seu cronograma de pagamento e vencimento diferente. É preciso ler o prospecto para saber a agenda. Lastro ou garantia do empréstimo é importante, principal- mente nos dias de hoje, porque dependendo do lastro, alguns títulos são isentos de IR. O Governo Federal, visando estimular alguns setores da economia, estabeleceu que todos os empréstimos que fossem CAPÍTULO 2 - 31 lastreados em atividades do setor imobiliário, agropecuário ou infraestrutura seriam isentos de IR para o investidor. Assim, o banco que empresta para empresas ou pessoas adquirirem imóveis pode emitir LCIs (e financiar assim seus empréstimos). O investidor dessas LCIs não precisa pagar imposto de renda sobre os rendimentos desse investimento. O mesmo acontece para bancos que emprestam para empresas do agronegócio. Eles emitem LCAs e nós, investidores, não pagamos impostos. Empresas que querem financiar projetos de infraestrutura também podem emitir debêntures (lembre-se de que empresas emitem debêntures), e os investidores destas não pagam IR. Empresas também podem emitir CRIs e CRAs, para projetos imobiliários ou do agronegócio. Todos esses investimentos são isentos de IR para os investidores. É importante ressaltar que a qualquer momento o governo pode retirar essa isenção. Nesse caso, há uma polêmica sobre o que aconteceria com o estoque de investimentos já emitidos, se eles teriam a isenção ou não. Eu entendo que teriam. Afinal, se não fosse a isenção, os investidores não fariam o investimento. Seria uma mudança de regras do jogo no meio do jogo. Alguns advogados consultados concordam com a minha posição. Mas em se tratando de justiça, nunca sabemos o que pode acontecer. É bom deixar essa ressalva. Temos também o tipo de marcação do preço ou negociação. Alguns títulos são marcados na curva, outros são marcados a mercado. 32 - Renda Fixa não é Fixa! A marcação na curva é quando todo dia o título rende o equiva- lente à rentabilidade contratada. Ou seja, para um CDB que rende 10% a.a., todo dia ele vai render 0,0378% [1,10ˆ(1/252)]. Não há uma situação em que ele vai render menos ou mais do que isso. Conforme vão passando os dias, a rentabilidade vai se acumulando até chegar aos 10% no ano (no final do ano). Esse tipo de título é mais conservador, no sentido que você sabe exatamente quanto vai ganhar e quando. Os únicos títulos que sofrem marcação na curva obrigatoria- mente são os títulos de bancos (CDB, LCA, LCI, Poupança etc.). A marcação a mercado já funciona bem diferente. Ela muda o preço do título todo dia, de forma a refletir exatamente a taxa atual negociada, assim como as ações. Por exemplo, suponha que eu compre um Prefixado por R$ 100, que vai me pagar 10% ao ano por 2 anos (ou seja, depois de 2 anos, eu teria R$ 121). Ao final do primeiro ano, se o título fosse marcado na curva, deveria valer R$ 110.Porém, na marcação a mercado, eu tenho que ver a que taxa eu consigo comprar o mesmo título hoje em dia. Se a taxa de mercado mudar para 7%, então o valor do meu título tem que ser tal que, daqui para frente, eu renda apenas 7%. Ou seja, em vez de valer R$ 110, ele vai passar a valer R$ 113,08. [ 121/1,07 ]. Assim, o novo investidor que comprar esse título ao final do primeiro ano por R$ 113,08 terá uma rentabilidade final de 7%, chegando a R$ 121, que é o que você imaginou que teria depois de 2 anos. CAPÍTULO 2 - 33 Por conta da marcação a mercado, eu posso ter variações negativas de rentabilidade por um período. Se a taxa negociada no mercado subir, o preço do meu título vai cair. No final, se você segurar o título, a rentabilidade será sempre positiva e será exatamente a acordada. Afinal, você comprou por R$ 100 um título que valerá R$ 121 no final. Mas no meio do caminho é possível ter solavancos se vender antecipadamente, a depender da taxa negociada no mercado no momento da venda. Esses tipos de títulos são considerados mais arriscados, pois você nunca sabe ao certo quanto vai ganhar em um determi- nado período. Você só sabe a rentabilidade que vai ter se levá-lo a vencimento. Isso pode ser ruim ou pode ser muito bom. Ou melhor, pode ser excepcional! Se você sabe que quando a taxa de mercado cai o título se valoriza e quando a taxa de mercado sobe o título se desvaloriza, você pode atuar no mercado de títulos, comprando e vendendo, de forma a lucrar com esses movimentos. Se você usar a marcação a mercado a seu favor, pode se bene- ficiar de rentabilidades de até 50% em um ano. Ou seja, aqui, a RENDA FIXA NÃO É FIXA! Vou explicar melhor como executar essas operações adiante. O que quero mostrar neste capítulo é que os diversos tipos de títulos funcionam diferentemente e, para se beneficiar disso, é preciso conhecer bem as 4 características de cada um. TÍTULOS PÚBLICOS3 CAPÍTULO 3 - 35 Os títulos públicos, como eu disse no capítulo anterior, são con- siderados os títulos mais seguros para se investir. O governo tem uma série de instrumentos para evitar um calote, como imprimir dinheiro, aumentar impostos, pegar emprestado de entidades internacionais (como o FMI). As empresas e bancos não possuem esses recursos, portanto falências são muito mais corriqueiras para esses emissores. Não por outro motivo, as taxas de juros pagas pelo governo tendem a ser as menores entre os investimentos. Afinal, não se esqueçam: retorno = risco. Se há um risco menor, a taxa é menor também. Dessa forma, se algum dos investimentos privados da sua carteira paga uma taxa menor que a dos títulos públicos, saia desse investimento agora mesmo! Não tem nenhum motivo que justifique um título privado pagar menos que o título público da mesma natureza. Só ressaltando que para títulos isentos devemos ver o valor equivalente ao imposto economizado. Por exemplo, se o título indexado do governo (IPCA+) estiver pagando IPCA + 4,5%, não há motivo para investir em um título privado que pague IPCA + 4,2% (para títulos não isentos de IR). Como o título privado tem risco maior, ele deveria pagar um juro maior. Caso contrário, é um péssimo investimento. Há situações em que isso pode se inverter? Sim. Se o governo estiver aumentando brutalmente seus gastos, com aumento de dívida em relação ao PIB, teríamos uma situação em que poderí- amos considerar investir em empresas sólidas em vez do governo. 36 - Renda Fixa não é Fixa! Porém, mesmo nessa situação, é difícil escolher qual empresa ou banco seria selecionado, uma vez que o calote do governo contagiaria toda a economia. Via de regra, é melhor ficar com os títulos públicos mesmo. A acessibilidade dos títulos também é um ponto forte para essa modalidade de investimento. Antes de 2002, os títulos públicos só podiam ser adquiridos via corretoras e eram destinados principalmente a clientes ins- titucionais (como fundos e empresas) que possuíam volumes de investimento maiores. Os pequenos investidores tinham que entrar nos fundos dos bancos para ter acesso aos títulos. Eu não preciso nem dizer que os bancos cobravam taxas de administração caríssimas para esse acesso, preciso? Pensando em democratizar os investimentos em títulos públicos, o Tesouro Nacional criou o TESOURO DIRETO em 2002. Pelo Tesouro Direto, é possível o pequeno investidor comprar diretamente os títulos, sem o intermédio de um fundo e através da internet. O valor mínimo para adquirir um título gira em torno de R$ 40. Todos os títulos possuem liquidez diária, ou seja, podem ser vendidos a qualquer dia útil, e têm liquidação em D+0 se ven- didos antes das 13h, ou D+1 se vendidos após esse horário (o valor cai na conta no dia seguinte ao pedido de resgate). O custo do TD é de apenas 0,20% ao ano, cobrado pro rata (proporcional ao tempo que você ficou investido) e pago uma vez por semestre. Para investimentos de até 10 mil reais, a taxa para investimentos no Tesouro Selic é zero, independentemente de quantas corretoras você usa para chegar até esse valor. CAPÍTULO 3 - 37 O site do Tesouro Direto é o https://www. tesourodireto.com.br/ Nele, podemos conferir todo dia útil (das 9h às 17h) o preço e taxa que o Tesouro cobra e paga para a compra e a venda de todos os títulos disponíveis. A página específica para ver os preços e taxas é a https://www.tesourodireto.com.br/titulos/ precos-e-taxas.htm. Para ter acesso aos títulos do Tesouro Direto, basta você se cadastrar em uma corretora. As corretoras podem ser ligadas a um banco, por exemplo, o Banco Itaú tem a Itaú Corretora, ou as corretoras podem ser independentes, por exemplo, XP ou BTG Pactual. Mas a hora de escolher a melhor corretora é importante, pois ela pode querer te cobrar alguma outra taxa além dos 0,20% a.a. da custódia da B3. Tente fugir desse tipo de corretora! Há uma série de instituições que não cobram absolutamente nada a mais para investimentos no Tesouro Direto, além de não cobrar nada por abertura de conta ou transações. No site do TD, você pode encontrar uma lista das corretoras cadastradas, assim como as taxas cobradas por cada uma: https://www.tesouro- direto.com.br/conheca/bancos-e-corretoras.htm A seguir, eu copiei a primeira página do dia 15/07/22. Perceba que há uma grande quantidade de corretoras que não cobram absolutamente nada. 38 - Renda Fixa não é Fixa! Por outro lado, corretoras como a Daycoval, por exemplo, cobram incríveis 0,10%. Na maioria dessas corretoras que não cobram nada para investir no TD, abrir uma conta é totalmente grátis e online, assim como mantê-la. Ou seja, o custo de investir no TD será somente 0,20% a.a. de taxa de custódia mesmo. O TD também tem a grande vantagem da liquidez diária, o que o coloca à frente da poupança (que tem data de aniversário). Se você quiser resgatar seus investimentos em um dia diferente da data de aniversário mensal do investimento, você perderia CAPÍTULO 3 - 39 toda a rentabilidade daquele mês, enquanto no TD você ganha exatamente o equivalente ao tempo que ficou. Se você investir no Tesouro no dia X e quiser resgatar no dia X+35, você receberá o retorno equivalente aos 35 dias que car- regou o título, enquanto na Poupança só receberia o retorno de 30 dias. Além disso, o resgate antecipado do investimento pode ser feito a qualquer momento, mesmo que o título que você comprou tenha vencimento mais longo, ao contrário dos CDBs e outros pós-fi- xados de bancos (LCI, LCA) com data de vencimento específica. Outro grande diferencial do TD é a regra de que ele promete recomprar seus títulos a qualquer momento que você quiser ven- dê-los e a preço justo de mercado. Isso parece óbvio, mas não é. Os títulos públicos são emi- tidos de tal forma que o Tesouro Nacional forme vencimentos de referência, como 5, 10 ou 20 anos. Então, no ano 2022, ele provavelmente emitirá títulos para 2027, 2032 e 2042. Os títulos momentaneamenteemitidos no leilão são os de maior liquidez, pois serão os mais oferecidos e negociados pelo mercado. No entanto, conforme o tempo passa e o ano muda, o Tesouro passa a emitir novos títulos de vencimentos nos anos seguintes. Por exemplo, em 2023, passa a emitir títulos para 2028, 2033 e 2043. Essa mudança faz com que os títulos antigos percam liquidez e passem a ser muito pouco operados. Quem deseja comprar ou vender esses títulos terá dificuldade de achar bons preços. Quando você opera via mercado secundário, ou seja, a compra e a venda é feita de investidor com investidor por intermédio de 40 - Renda Fixa não é Fixa! uma corretora (e não diretamente com o Tesouro), você corre o risco de não conseguir bons preços se precisar vender o título. Já no Tesouro Direto, não há esse problema, porque mesmo para os títulos que não são mais emitidos ou disponíveis para a venda, é possível vendê-los a qualquer momento e pelo preço justo do mercado, que pode inclusive ser acompanhado diaria- mente no site. Muitas corretoras colocavam, nas suas plataformas online, uma aba de “Títulos Públicos” e os vendiam como se fossem TD. Os desavisados compravam por ali, achando que estavam negociando com o Tesouro. Mas esses títulos eram na verdade do mercado secundário, e suas taxas eram cerca de 0,50% abaixo das taxas do TD. Esse spread era exatamente a taxa obscura cobrada pela corretora (que dizia a seus clientes que não cobrava taxa nenhuma e eles não precisariam pagar os 0,20% a.a. do TD). Além disso, as corretoras não se obrigavam a recomprar os títulos sem liquidez pelo preço justo, mas sim pelo preço que elas conseguiriam no mercado. Para um pequeno investidor, os preços de mercado para lotes pequenos podem ser ruins e descontados. O regulador proibiu essa prática e obrigou as corretoras a separarem a aba do Tesouro Direto com a dos Títulos Públicos, dando maior transparência para o investidor. Outro ponto negativo de operar no mercado secundário das corretoras é que o spread das taxas é pago no primeiro dia, quando se compra o título. Ou seja, no momento da compra, você já sofre uma marcação a mercado negativa, pois comprou a uma taxa, digamos, 0,50% menor (e preço maior) para um título que valia uma taxa 0,50% maior (e um preço menor). Se dali a esses mesmos 45 dias você quiser vender o papel, teria um custo enorme, enquanto no TD você só teria os 0,20% a.a. equivalentes aos 45 dias que você se manteve com o papel. Ou seja, o cálculo no TD é pro rata. CAPÍTULO 3 - 41 Um ponto negativo do TD é que ele desestimula as operações de curtíssimo prazo. Para você vender um título de forma antecipada, eles estabe- lecem que a taxa de venda (venda do título para você) será cerca de 0,01% abaixo da taxa de compra (recompra do título por ele), no caso do Tesouro Selic, e 0,12% no caso de Prefixados e IPCA+. (Dá para você conferir esse spread entre compra e venda na página “Preços e Taxas” mostrada acima.) Ou seja, um IPCA+ de vencimento X, que pode ser comprado a uma taxa de 4,12%, só poderá ser vendido pela taxa de 4%. Se você comprar o título pensando em 6 meses ou 1 ano, a diferença terá pouquíssimo impacto na sua rentabilidade, porém se você comprar um dia para vender 15 dias depois, o pequeno spread fará diferença na sua rentabilidade. Com isso, o TD evita que investidores usem os subsídios dados pela instituição para ganhar dinheiro no curto prazo. Vale notar também que esse spread na taxa muda com o tempo. Então é interessante conferir a magnitude dessa diferença no momento da compra, olhando para ambas as taxas, de compra e venda, e medindo a distância. Sobre o imposto de renda, os investimentos nos títulos públicos sofrem a tributação de IOF e IR regressivo. A tributação é retida na fonte e não é necessário pagar via Darf. Apenas é necessário declarar os títulos em sua posse na declaração do início do ano seguinte. A tabela do IOF é regressiva, e a partir de 30 dias vira zero. A alíquota é incidente em cima dos rendimentos, e não do valor investido. 42 - Renda Fixa não é Fixa! Tabela Regressiva IOF Números de dias corridos da aplicação Limite tributáveis do rendimento (%) 1 96 2 93 3 90 4 86 5 83 6 80 7 76 8 73 9 70 10 66 11 63 12 60 13 56 14 53 15 50 16 46 17 43 18 40 19 36 20 33 21 30 22 23 24 20 25 16 26 13 27 10 28 6 29 3 30 0 CAPÍTULO 3 - 43 Muitas pessoas acreditam que, por haver IOF, o TD seria pior do que a Poupança. Esse argumento não faz sentido, uma vez que, na Poupança, antes de 30 dias (aniversário do mês do inves- timento) não rende nada, e o IOF de títulos públicos vira zero depois de 30 dias. As alternativas ao TD (como CDBs e fundos) também pagam IR e IOF no curtíssimo prazo. Não podemos esquecer que LCAs e LCIs têm um prazo mínimo de 3 meses, portanto não seriam alternativas de curtíssimo prazo. A tabela de imposto de renda é também regressiva e incidente em cima apenas no rendimento. Tabela Regressiva IR De Até (%) 1 dia 180 dias 22,5 181 dias 360 dias 20 361 dias 720 dias 17,5 721 dias - 15 Ela é cobrada em cima dos pagamentos de cupom periódicos, para os títulos que os pagam, ou na data de vencimento ou venda antecipada do título. Se você comprou o mesmo título em mais de uma data, no momento da venda, o TD sempre optará por vender o seu título mais antigo primeiro, mantendo o seu benefício do IR regressivo. Falando agora sobre os tipos de títulos disponíveis para a negociação, temos atualmente 3 tipos diferentes disponíveis para a venda. 44 - Renda Fixa não é Fixa! Vamos falar sobre cada um deles nos próximos 3 capítulos. Entender como cada um funciona é crucial para o investidor do TD. Cada um se comporta de uma maneira e é indicado para um certo período do ciclo econômico. A economia se dá em ciclos de crescimento e recessão. No meio desses ciclos, temos alta e queda das taxas de juros. Temos títulos que ganham com alta de juros e títulos que perdem com alta de juros. Assim como títulos que ganham com queda de juros e títulos que perdem com queda de juros. O Tesouro Selic é pós-fixado e não perde nunca. Isso significa que ele é geralmente indicado para momentos de alta de juros de mercado. Os prefixados aumentam de valor quando as taxas de juros caem e são geralmente indicados para ciclos de baixa nas taxas de juros ou períodos recessivos. O Tesouro IPCA+ é indexado à inflação e oferece proteção contra choques de preço. Se você investir no título que ganha com queda de juros em época de alta de juros, você pode amargar grandes prejuízos. Parece simples, mas não é. É possível também ganhar com prefixados em ciclo de alta da Selic, e isso ninguém te fala. Ainda, é possível ganhar com NTNB em períodos de inflação cadente. Adiante, vou explicar como. CAPÍTULO 3 - 45 PASSO A PASSO PARA INVESTIR NO TESOURO DIRETO Investir nos títulos do Tesouro Direto é muito fácil. Mas para quem ainda tem medo, vou dar aqui o passo a passo se você estiver perdido. Escolha uma corretora Eu prefiro as independentes. Além de não cobrarem taxas de abertura de conta, elas possuem uma maior variedade de pro- dutos. As corretoras de banco tendem a mostrar apenas produtos do banco, que nem sempre são os melhores. Escolha uma corretora que possui o selo da B3. Com ele, você não corre o risco de a corretora quebrar e você perder seu ativo. O ativo fica ligado ao seu CPF e, em caso de falência da corretora, você apenas deve transferir a custódia. Para saber quais corretoras possuem o B3, basta entrar neste site: https://www.b3.com.br/pt_br/b3/qualifica- cao-e-governanca/certificacoes/selos-pqo/ corretoras-certificadas.htm A corretora deverá, preferencialmente, ser daquelas que cobram zero para investimentos em Tesouro Direto. Olhar quais são em: https://www.tesourodireto.com.br/conheca/ bancos-e-corretoras.htm Prefira uma corretora grande e sólida. Procure um ranking com o tamanho das corretoras(prefira as 10 maiores) e os maiores lucros (prefira os 10 maiores). 3.1 1 46 - Renda Fixa não é Fixa! Casando todas essas características, fica fácil escolher a melhor corretora para se investir. Escolhida a corretora, entre no site dela e clique em “Abra sua conta” Todas as corretoras terão esse botão caso seja possível abrir uma conta de investimento online. Clicando no botão, você terá que preencher um formulário com seus dados e terá também que enviar documentos como RG, CPF, comprovante de residência, comprovante de salário, entre outros. Os comprovantes podem ser anexados de forma eletrônica. Depois de algumas horas ou dias, a sua conta será aprovada e você receberá o número da conta, assim como senhas e afins. Aí, basta transferir os recursos para investir via TED. É importante frisar que os recursos só poderão ser retirados da corretora e transferidos se forem depositados em uma conta de mesma titularidade (mesmo CPF). Isso aumenta a segurança dos seus investimentos. Na sua nova corretora, habilite sua conta para poder operar o Tesouro Direto Cada corretora tem um procedimento diferente para isso, mas geralmente podemos encontrar um botão que pede autorização deixando sua assinatura eletrônica. Pode ser na aba “Produtos” ou na própria aba “Tesouro Direto”. A corretora vai te cadastrar junto ao Tesouro Direto. 2 3 CAPÍTULO 3 - 47 4 Você terá automaticamente um cadastro no site do Tesouro Direto É possível realizar as compras e vendas direto no site do Tesouro Direto por este link: https://portalinvestidor.tesourodireto.com.br/ O site terá sua posição consolidada, somando inclusive várias corretoras se você tiver títulos em mais de uma. Além disso, o site terá todos os títulos disponíveis, com taxas e preços. Na parte superior da página, teremos os seguintes comandos: No botão “Investir”, você pode realizar suas compras, enquanto no botão “acompanhar”, você pode clicar na sua posição em um determinado título e realizar a venda deste. Em “Investir”, você vai selecionar uma das corretoras em que tem cadastro e a quantidade de títulos que deseja comprar (mínimo de 30 reais): 48 - Renda Fixa não é Fixa! Aperte o botão “Investir” ao final da página. CAPÍTULO 3 - 49 Se quiser vender algum título, basta ir em “Acompanhar”, clicar no título que você deseja vender e clicar em “Resgatar” Você escolherá novamente a instituição em que estão custo- diados os seus títulos e ele vai te mostrar quanto você tem de cada título lá. Basta escolher o valor desejado a ser vendido e apertar “Resgatar” no final da página. Lembrando que o Tesouro venderá sempre os títulos mais antigos primeiro, para você poder aproveitar o benefício do IR regressivo. Os recursos estarão na sua conta no dia seguinte. Na aba “acompanhar”, você poderá conferir a sua posição consolidada. Lá, estarão descritos todos os títulos que você tem. Ao clicar no título, você também pode conferir os detalhes dessa sua posição na parte inferior da página, como a rentabilidade, data da apli- cação, valor líquido e bruto de IR e outros detalhes. Lembrando que todos esses passos podem ser feitos na sua corre- tora escolhida. Você decide o que considera mais fácil e amigável. Eu gosto de fazer via Tesouro Direto porque, para algumas cor- retoras, se eu opero diretamente nele é permitido comprar e vender um título no mesmo dia. Como ambos liquidam no dia seguinte, acaba sendo possível vender um e com o valor recebido trocar pela compra de outro. Agora só resta saber quais títulos comprar, não é mesmo? Vamos então falar sobre cada um deles nas próximas seções. 5 6 50 - Renda Fixa não é Fixa! PREFIXADOS O que são e por que gostamos deles? Aposto que você vive ouvindo de especialistas financeiros que “prefixados são recomendados para ciclo de queda da Selic”! Você olha para eles com aquela cara de admiração, não é? Afinal, o “economês" é uma língua difícil de entender. Mas eles estão corretos nessa afirmação? 3.2 NÃO NECESSARIAMENTE! Prefixados podem “performar" bem tanto em ciclos de alta quanto em ciclos de queda da Selic, e vou explicar o porquê disso adiante. Depois de ler esta seção, você saberá melhor do que os ana- listas a respeito do momento exato de investir em prefixados! Não se impressione com o paletó e a gravata que o mercado usa. Você pode saber muito mais do que eles, sim! Você tomou a decisão correta quando decidiu aprender por conta própria como funciona esse tal de “mercado". Mas o que são Prefixados, afinal? CAPÍTULO 3 - 51 A característica principal desse instrumento é que, no momento da emissão, será estabelecido exatamente quanto o título valerá no vencimento. Como assim? Vamos a um exemplo: Eu, governo, decidi emitir um título de dois anos prefixado. Então, hoje, eu estabeleço que esse título valerá exatamente 1.000 reais daqui a dois anos. Quando eu estabeleço esse valor, ele não muda nunca mais! Não importa o que aconteça com a taxa de juros Selic, ele sempre valerá 1.000,00 reais no vencimento. Se eu sei que ele vale 1.000 reais no vencimento, restam duas coisas a saber: (1) o juro que ele paga e (2) o valor dele hoje (quanto eu tenho de pagar para comprá-lo). R$ 1.000,00 1 ano Juros? x% a.a 2 anos Preço hoje? 52 - Renda Fixa não é Fixa! O juro que o meu título vai pagar é uma informação exógena, ou seja, não sou eu (emissor) quem decido. É o mercado que me diz quanto ele vai cobrar para me emprestar dinheiro. Ao contrário do que normalmente se pensa, o Banco Central só decide os juros de curto prazo (Taxa Selic). Os juros para um vencimento no futuro são decididos pelo “mercado”, baseado na expectativa dos agentes sobre a trajetória da Selic e mais um prêmio de risco. Não se engane, o “mercado” não é uma pessoa, ou um cartel de pessoas que decide de acordo com o próprio interesse… Não! O “mercado” é a soma de todas as negociações do dia, de milhares e milhares de investidores, grandes e pequenos, de todos os tipos, nacionalidades e interesses. “O mercado” somos todos nós. Exemplo: imagine que a taxa de juros de dois anos negociada hoje no mercado futuro está em 12,31%. O investidor que achar que esse nível de 12,31% é baixo em relação à sua expectativa de trajetória da Selic, vai achar que observou uma oportunidade de ganho financeiro e vai entrar comprando taxa, até que ela suba e fique em um nível conside- rado adequado por ele. Por outro lado, o investidor que achar que esse juro é alto em relação à sua expectativa de trajetória da Selic vai entrar vendendo taxa e continuará vendendo até que ela caia a índices adequados. Ou seja, a taxa atual negociada é o equilíbrio de mercado entre compradores e vendedores. De modo que, a esse preço, as forças compradoras e vendedoras se anulam e o preço estabiliza. O Banco Central influencia os juros, pois estabelece qual será a taxa Selic de hoje, que vai remunerar os depósitos à vista. No entanto, para o futuro, há uma incerteza em relação à trajetória da Selic e, pela incerteza, o mercado “cobra” um prêmio de risco. CAPÍTULO 3 - 53 Quanto mais longo for o empréstimo que eu fizer a alguém, maior será minha incerteza (pelo risco de crédito e pelo risco de variação na taxa de juros) e, por isso, maior será o prêmio cobrado por fazer esse empréstimo. Voltando ao ponto inicial, a taxa de juros futura é exógena e decidida pelo mercado. Assim, quando o governo quiser emitir, ele utilizará a taxa de mercado negociada para o vencimento do título. Ok! Entendido! 1) Eu sei que o título vale 1.000 reais no futuro. 2) Eu olho para a taxa de mercado para dois anos negociada no dia da emissão. Digamos que seja 12,31%. Opa! Mas então eu já sei calcular quanto o título tem de valer hoje, correto? Exatamente, meu caro leitor! Se eu sei que ele vale 1.000 reais no futuro e os juros de mer- cado são 12,31%, é só eu trazer esses 1.000 reais a valor presente por esse juro e eu tenho quanto o títulodeveria valer hoje: Preço de hoje = 1.000,00 (1+0,1231)2 O resultado dessa conta é um PU atual de R$ 792,79. Ou seja, para eu comprar um título que vai valer 1.000 reais daqui a dois anos, em um ambiente de taxa de juros de 12,31%, eu preciso investir 792,79 reais hoje. 54 - Renda Fixa não é Fixa! Falando de outra forma, se eu investir 792,79 reais hoje, com um juro de 12,31%, eu terei 1.000 reais daqui a dois anos. Entendida essa parte, vamos passar ao: PULO DO GATO! Preste muita atenção agora… Eu sei que o título vale 1.000 reais no futuro e isso não vai mudar nunca! No entanto, eu sei também que a taxa de mercado varia todo dia, a cada notícia nova. Os agentes de mercado vão mudando suas expectativas em relação à trajetória da Selic, conforme notícias sobre inflação, atividade e setor externo vão sendo publicadas. Então os juros até o vencimento do meu título podem variar também, não podem? SIM! Se eu mudo a taxa de juros de mercado, o que muda nele, uma vez que não será o valor futuro? O que muda é o valor atual! Ou o chamado Valor Presente. CAPÍTULO 3 - 55 Afinal, quem comprar o mesmo título agora terá que pagar um valor que, investindo à nova taxa de mercado, dará os mesmos 1.000 reais no futuro. Vamos fixar com um exemplo: O mercado negociava juros para dois anos a 12,31% na data T. Então eu comprei um Prefixado a 792,79 reais. No dia seguinte (T+1), os juros caem para 12% no mercado, por conta de um dado de inflação mais baixa que o esperado. O novo investidor que decidir comprar esse título agora terá que pagar um valor X, para que de X até 1.000 reais, ele tenha essa nova rentabilidade de 12%. Fazendo a conta do valor presente: 1.000/(1+0,12)^(2*) = 797,19 *Aqui eu coloquei os dois anos, mas se você quiser simular que a taxa de juros caiu para 12% depois de 6 meses da compra, basta você elevar pelo período que ainda falta para o vencimento, nesse caso, 1,5 (em vez de 2). Ou seja, com a queda da taxa de juros de mercado, o meu título, que valia 792,79 reais, passou a valer 797,19 reais de um dia para o outro. Como você já tinha esse papel, acabou tendo um ganho ime- diato de 4,39 reais (797,19 – 792,79). Quanto significa isso em termos de rentabilidade? [797,19/792,79 -1] = 0,00555 ou 0,55%. Quanto seria sua rentabilidade se a taxa de juros tivesse se mantido constante? 56 - Renda Fixa não é Fixa! Resposta: 0,36 real (792,79*[(1+0,1231)^(1/252)]) Se a taxa não tivesse variado, você ganharia o retorno dos 12,31% equivalentes a 1 dia. Como a taxa caiu, o PU foi repre- cificado, e agora você passará a render daqui para frente uma taxa de juros menor (de apenas 12%), porém sobre um volume de investimento muito maior (4,03 reais maior do que o que você teria). Da mesma forma, se a taxa de juros do mercado subisse, você poderia perder os 0,55%. Lembrando que, nos dois casos, eu só concretizo a perda ou o ganho se eu vender o título antecipadamente. Caso carregue o título até o final, terei exatamente os 1.000 reais prometidos, pois isso não muda nunca, não é mesmo? E acabarei tendo a rentabilidade inicialmente contratada (pois terei comprado a 792,79 e vencerá nos 1000 reais). Como o título é marcado a mercado, eu só conseguirei ven- dê-lo na taxa de mercado. Não tem como vender um título na mesma taxa que eu comprei, dado que o mercado mudou. Entendida essa parte, temos agora um pulo do gato ainda maior! PULO DO GATO! Venha comigo: CAPÍTULO 3 - 57 Eu sei que o meu título varia de preço conforme a variação da taxa de mercado. Eu sei que, se a taxa cair, meu PU sobe, e eu ganho se já tiver o título. E se a taxa subir eu perco, pois meu PU cai. Sabendo isso, eu vou ganhar dinheiro se a taxa DE MERCADO cair! E não a Selic! Mas pode acontecer de a Selic subir e a taxa de mercado cair? É claro! Temos inúmeros exemplos na história de que isso já aconteceu e acontecerá de novo! Se o mercado precificar que o Banco Central vai subir a taxa de juros em 500 bps (5%), e o Banco Central sobe apenas 200 bps, o que acontece com a taxa de mercado? Ela cai! E o que acontece com o preço dos prefixados? Sobe! Ou seja, eu ganhei dinheiro com prefixados mesmo em um ciclo de alta da Selic! Você, que nos acompanhou até aqui, já deve ter percebido que a variável-chave para entender se os prefixados são bons ou não é quanto o mercado precifica de queda ou de alta da taxa Selic (em relação a quanto eu acredito que de fato será). Se eu acredito que o Banco Central fará um ciclo de queda da Selic de 250 bps, mas o mercado já está precificando esses 250 bps, 1 2 58 - Renda Fixa não é Fixa! No ciclo de alta da Selic: o BC acaba subindo menos a Selic do que o mercado precifica que ele vai subir; o BC acaba não subindo nada, e o mercado precifica que ele vai subir. No ciclo de queda da Selic: o BC acaba cortando mais a Selic do que o mercado precifica que ele vai cortar; o BC acaba cortando a Selic quando o mercado não precifica que ele vai cortar. então não tem como eu ter ganhos maiores do que a LFT estando aplicado em prefixados. (Obs.: 1 bps = 0,01%. 100 bps = 1%) Então, da próxima vez que o seu analista financeiro te indicar pre- fixados, agora que você é um investidor consciente, pergunte a ele: “Mas quanto o mercado precifica de queda/alta de juros?” Tenho certeza de que 99% deles não vão saber responder a essa pergunta. Se o seu estiver entre o 1% restante e responder algum número, continue perguntando: “E quanto você acha que de fato será a queda/alta? Por quê?” Lembre-se: no prefixado, eu ganho dinheiro quando: CAPÍTULO 3 - 59 Os títulos prefixados oferecidos pelo TD são: Tesouro Prefixado (ou LTNs); Tesouro Prefixado com juros semestrais (ou NTN-Fs). Os Prefixados não pagam cupom, e todo o juro é acumulado e pago no vencimento (ou os juros equivalentes são pagos na venda antecipada). Os Prefixados com juros semestrais pagam cupom de 10% a.a. semestralmente (aproximadamente 4,88%). O fato de o título pagar cupom o altera de duas formas: Você terá que pagar imposto de renda em cima de cada cupom pago, enquanto na LTN o imposto que você pagaria estará rendendo juros sobre juros para você. O resultado disso, no final de alguns anos, é que a rentabilidade total da LTN de mesma duration é maior que a da NTN-F. O cupom reduz a duration. Agora, você deve estar se perguntando: mas o que é duration? Duration é o prazo médio de recebimento dos fluxos. Se você tem um título que vale 100 reais no final de 3 anos, mas que cada ano paga 10 reais de cupom, a duration dele não será 3, mas sim 2,76: 1 2 10 1 2 3 anos 10 110 10*1 + 10*2 + 110*3 = 2,7692 (10 + 10 + 110) 60 - Renda Fixa não é Fixa! Quanto maior a duration do seu papel, maior é a variação do seu preço em relação à variação na taxa de juros. Uma queda de 0,50% em um papel de 1 ano vai gerar uma valorização pequena do título, de aproximadamente 0,50%, enquanto uma variação de 0,50% em um título de 45 anos cau- sará uma variação brutal no preço do título, aproximadamente 45*0,50% = 22,5%. Retomando a NTN-F, o fato de ela pagar cupom reduz sua duration e sua rentabilidade quando comparada com uma LTN de mesmo vencimento. Também é importante mencionar que quando você for esco- lher seu título prefixado, além de decidir se quer ou não cupons, terá que decidir o vencimento do título. Taxas de juros de curto prazo se comportam de modo dife- rente de taxas de juros de longo prazo. Saber que a Selic Meta vai cair não é toda a informação que você precisa saber para ganhar com prefixados. É preciso entender como o mercado vai interpretar a queda da Selic. Se ficar entendido que a queda é propícia e sustentável, a curva inteira de mercado deverá se deslocar para baixo. Quando eu digo “curva inteira”, quero dizer “os juros para todos os ven- cimentos disponíveis” (desde os mais curtos, 1 ou 2 anos, até os mais longos, 10 ou 30 anos). Agora, se o mercadoacreditar que é uma “forçada de barra”, vai reduzir os juros de curto prazo, porém vai aumentar os juros de longo prazo já imaginando que a política tem risco de gerar alta da inflação futura, fazendo-se necessário alta da Selic novamente. CAPÍTULO 3 - 61 Ou seja, a escolha do vencimento não é trivial e demanda uma boa leitura de interpretação da política e do mercado. Caso este capítulo tenha ficado um pouco confuso para você, não deixe de assistir ao meu vídeo explicativo sobre os prefi- xados, no qual eu desenho na lousa essas contas. Certamente será bem mais fácil de ser compreendido. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=BUnpkmVIwgo 62 - Renda Fixa não é Fixa! PÓS-FIXADOS O que são e por que gostamos deles? O que precisamos saber sobre o Tesouro Selic e ninguém te conta: 3.3 Não tem como perder dinheiro! Sim, é aquele título que, independentemente da variação da taxa Selic ou da variação da taxa de mercado, simplesmente não tem como perder dinheiro! (Vou ser mais honesta intelectualmente mais à frente e te explicar as situações que você pode de fato perder alguma merreca de dinheiro, mas acredite em mim por enquanto). Como assim? Não vou perder dinheiro nunca? NÃO! Te explico por quê. Lembra que o único fato consumado nos prefixados é que sabemos exatamente quanto aquele título vai valer no futuro? Pois bem, o pós-fixado é exatamente o inverso. Ou seja, não temos ideia do quanto ele vai valer no futuro. Por outro lado, sabemos exatamente quanto ele vale hoje! E isso não muda nunca! Em outras palavras: nos prefixados, travamos o valor futuro e o valor de hoje oscila. Nos pós-fixados, travamos o valor de hoje e o valor futuro oscila. CAPÍTULO 3 - 63 É hora do exemplo para fixar… Sou o governo e quero emitir um título pós-fixado, então decido quanto ele vale hoje (supondo que hoje é o 1º dia do mês): 1.000 reais. Pronto. Está decidido e isso não vai mudar. Se eu quiser investir nele hoje (dia 1º), vou pagar 1.000 reais. Posto isso, quanto ele vai valer amanhã (dia 2)? Preciso saber a taxa pela qual ele é remunerado, correto? A taxa é a Selic efetiva, que é mais ou menos 0,10% menor que a Selic Meta (depois falaremos mais sobre ela). Se a Selic meta for 14,25%, a efetiva será aproximadamente 14,15%. Assim, de hoje (dia 1º) para amanhã (dia 2), meu título vai valer: 1.000 * (1 + 0,1415) = 1.000,52(1/252) < Ou seja, é 1000 atualizado pela taxa diária equivalente de 14,15% ao ano. Perceba que, no dia 2, meu título vai valer necessariamente 1.000,52 reais, independentemente do que ocorrer no mercado futuro aquele dia, pois meu preço só varia com a Selic efetiva. Se no dia 2 tiver uma reunião do Copom e o BC optar por reduzir a taxa Selic meta para 14%, o que acontece? Hoje não acontece absolutamente nada. A Selic meta come- çará a valer a partir do dia seguinte. Dessa forma, no dia 3, o meu título vai valer: 64 - Renda Fixa não é Fixa! Oras, mas a Selic caiu e ele continuou valendo mais no dia 3 do que no dia 2? Sim! E se a Selic meta subisse para 15%? Vamos testar. 1.000,52 * (1 + 0,1390) = 1.001,03(1/252) < 1.000,52 * (1 + 0,1490) = 1.001,07(1/252) < Olha só, o dia 3 está maior do que o dia 2 também. Note que, quando a Selic Meta sobe, você rentabiliza mais, e quando ela cai, você rentabiliza menos, MAS AINDA TEM RENTABILIDADE POSITIVA! Aí vem o seu analista financeiro dizer que pós-fixados são ruins para momentos de queda na Selic! Ele está correto? Não! O pós-fixado ganha sempre! Caem os juros, sobem os juros, ele ganha. É sempre positivo, pois não tem como você render um investimento por uma taxa de juros positiva e ele dar um valor menor que o inicial, correto? Quando daria uma rentabilidade negativa? Se a taxa de juros (Selic Meta) fosse negativa – como alguns países fizeram ao redor do mundo –, mas definitivamente não é o nosso caso! No pós-fixado, nós travamos o valor de hoje e o ganho que eu tive de um dia para o outro nunca é perdido ou “volta” com CAPÍTULO 3 - 65 O Tesouro Selic é a poupança emitida pelo governo. O Tesouro Selic é o CDB emitido pelo governo. Além disso, ele tem uma série de benefícios em relação à pou- pança e ao CDB. Em relação à poupança: Você corre o risco do governo, e não do banco (sim, a pou- pança tem o risco do banco e por isso que quem garante ela é o FGC – se ele tiver dinheiro, senão você perde tudo). Ela rende quase o dobro, a depender da taxa Selic, mas paga IR por outro lado. No conjunto, o Tesouro Selic ganhará da poupança sempre. alteração na Selic ou na taxa de mercado. Ele sempre aumenta. Pode aumentar mais rápido se a Selic for maior e mais devagar se ela for menor. Pergunta: O que diferencia a rentabilidade do Tesouro Selic em relação à da poupança e à do CDB em % do CDI? Resposta: absolutamente nada! Repetindo: 1 2 Absolutamente NADA! 66 - Renda Fixa não é Fixa! Para fazer a prova da superioridade do Tesouro Selic em relação à poupança, faça o seguinte procedimento: Vá ao site do Banco Central na “Calculadora do Cidadão”. Digite "Calculadora do Cidadão Banco Central" no site de busca e abra o primeiro link. Clique em “Poupança" e digite a data inicial sendo 06/09/2015 e a data final sendo 06/09/2016 e, no valor a ser corrigido, digite os nossos 1.000 reais (clique em regra de correção “Nova”). Resultado: 1.083,52 Ou seja, um rendimento de 8,35%. Agora, vamos à Selic: clique em “Selic” e refaça a pesquisa com as mesmas datas. Resultado: 1.140,90 Ou seja, um rendimento de 14,09%. Tirando o IR de 1 ano (17,50%), ficamos com 11,62%. Tirando a taxa de 0,20% do Tesouro Direto, fica 11,42%. Fazendo 11,42/8,35 = 1,3676 Ou seja, é como se o Tesouro Selic rendesse 136% da pou- pança, mesmo depois do IR e da taxa de custódia. Ou seja, investindo 1.000 reais na poupança, você deixaria de ganhar 30 reais por ano! Por que existe Poupança então? Por que alguém ainda investe nela? Eu não sei! Mas ninguém deveria fazer isso! CAPÍTULO 3 - 67 Tá bom, chega de drama. Vamos aos fatos… Liquidez GOOD: na poupança, basta você falar para o gerente ou para o aplicativo que quer investir e tudo acontece automatica- mente. No momento do resgate, basta você retirar e cai no mesmo dia. No Tesouro Selic, você tem que abrir conta em corretora (de preferência uma que cobre 0 taxas no Tesouro Direto) e tem que pedir o resgate no site – o que, honesta- mente, é muito fácil. BAD: você tem que esperar a poupança “fazer aniversário mensal” para ter o rendimento, senão perde ele todo. No Tesouro Selic, você ganha pro rata, proporcional a quanto ficou (lembrando que nos primeiros 30 dias tem IOF regressivo). Ou seja, entre o Tesouro Selic e a Poupança, prefira mil vezes o Tesouro Selic! É garantido! Em relação ao CDB: O CDB é emitido por um Banco, e você corre o risco dele. Ou seja, tem mais risco do que o governo. Você: Ah, mas tem o FGC, que me garante até 250 mil. Tenho até palpitação quando alguém me fala isso… Adivinha quem adora falar isso? 68 - Renda Fixa não é Fixa! O FGC te garante até 250 mil SE E SOMENTE SE ele tiver dinheiro. Ele não é um seguro que, no caso de sinistro, é obrigado a te pagar. Não! Ele te paga SE ele tiver dinheiro. Quanto ele tem de dinheiro? Até o final de 2021, ele tinha 2,11% do total do sistema em disponibilidade. Ou seja, se mais de 2,11% do sistema bancário falir, ele não teria dinheiro para garantir os empréstimos. Fonte: Demonstrações Financeiras 2021 – Site do FGC Mas 2% é muito ou é pouco? Depende também! Se estivermos em um cenário tranquilo, esse valor seria mais que suficiente. Mas se entrarmos em uma crise financeira, certamente terí- amos problemas. Vamos lembrar que os EUA tiveram uma crise financeira em 2008 em que mais de 6% do sistema quebrou, e o FIDC (FGC Americano) quebrou! Para a sorte deles, o FDIC é uma instituição do governo e foi resgatado pelo Tesouro. No entanto, no Brasil, o FGC é privado.Patrimônio e disponibilidades R$ 93,3 bilhões em dezembro de 2021, dos quais R$71,5 bilhões correspondem a caixa ou ativos que podem ser convertidos em caixa. CAPÍTULO 3 - 69 Vou deixar você à vontade para decidir o quanto isso é seguro e o quanto você quer depender de uma ausência de crise para investir bem o seu dinheiro. Ou seja, o Tesouro Selic é mais seguro e te paga 100% da Selic efetiva. Posto isso, por que investir em um CDB que te paga menos do que 100% do CDI? (Obs.: o CDI é praticamente igual à Selic efetiva, coisa de 1 ou 2 pontos base de diferença). Não tem motivo! Não faça isso nunca! Se seu banco quer te pagar menos do que 100% do CDI, invista em Tesouro Selic! Para ser mais precisa, como o Tesouro Selic tem os 0,20% de taxa da B3 e o CDB às vezes não tem, a conta exata seria 98%. Ou seja, se seu banco quer te pagar menos de 98% do CDI, invista em Tesouro Selic! “E no caso de LCI e LCA (que não pagam IR)?” Ótima pergunta! Nesse caso, a LCI/LCA deveria te pagar no mínimo: Vencimento (%) em menos de 6 meses 77% de 6 meses até menos de 1 ano 79,5% de 1 ano até menos de 2 anos 82,5% acima de 2 anos 85,8% 70 - Renda Fixa não é Fixa! Ou seja, podemos ver que esses títulos já são um bom negócio, não é mesmo? Cuidado apenas com o risco de crédito do banco e com a extrema confiança no FGC. Agora, vamos para outra dúvida que deve estar rondando a sua mente: “Então por que eu não coloco tudo em Tesouro Selic sempre? Já que nunca perco.” Agora vem o: PULO DO GATO! Vem comigo: Eu sei que o pós-fixado tem um preço hoje que não varia e vem rendendo de acordo com a taxa de juros do dia. Eu sei que a taxa de juros que ele rende é a Selic efetiva, que é controlada pelo Banco Central. Eu sei que a taxa do mercado futuro é a expectativa que o mercado tem a respeito da trajetória toda da Selic Meta, de hoje até aquela data futura (caso tenha esquecido esse conceito, revise o capítulo passado). Por último, eu já sei que os títulos prefixados são precifi- cados de acordo com essa taxa de mercado. 1 2 3 4 CAPÍTULO 3 - 71 Ou seja, você concorda que se o mercado estiver correto e a trajetória da Selic que ele espera for de fato igual à trajetória que de fato ocorrer, os títulos prefixados e os pós-fixados vão ter a mesma rentabilidade? Opa, isso é importante! Isso quer dizer que se o mercado errar e a trajetória da Selic for mais alta, o pós-fixado terá rendido melhor do que o prefixado. Afinal, ele se aproveitou dessa média mais alta que aconteceu dia após dia, enquanto o prefixado já tinha se travado. Por outro lado, se o mercado errar e a Selic média acabar sendo menor do que o mercado esperava, o pós-fixado terá tido uma rentabilidade positiva, porém menor do que o prefixado. É por isso que não colocamos apenas Tesouro Selic na carteira, pois o prefixado pode acabar rendendo mais em épocas de queda nas taxas. Mas o Tesouro Selic, como sempre, ganha, e serve como um porto seguro para os momentos de aversão ao risco. Por fim, só quero fazer uma consideração, muito mais por força da meticulosidade do que por ser importante. O Tesouro Selic pode ter variação negativa de preço, sim! Se você já entrou no Tesouro, deve ter percebido que o Tesouro Selic tem uma taxa atrelada a ele. 72 - Renda Fixa não é Fixa! Essa taxa de 0,09% ou 0,16% é chamada de ágio ou deságio do título. Ela adiciona rentabilidade ao título quando é positiva e retira rentabilidade do título quando é negativa. Por exemplo, o Tesouro Selic 2025 está com uma taxa de 0,09% + Selic, portanto, se a Selic for 10%, o investidor renderá 10,09% no total. Acontece que essa taxa pode mudar ao longo do tempo. Não por alterações na taxa Selic ou nas taxas de mercado, mas por alterações na oferta ou na demanda do título. Se muitos investidores demandam o Tesouro Selic, essa taxa vai cair, podendo inclusive ser levemente negativa. Se a oferta do título passa a ser muito grande, essa taxa pode subir. As mudanças geralmente são pequenas, quase marginais. Mas é possível, sim, em algum evento de crise, que haja uma mudança um pouco maior, que provoque uma alteração mais significativa no preço do título, mesmo que de forma temporária. Fonte: Tesouro Direto 15/07/2022 CAPÍTULO 3 - 73 Podemos ver que, de 2006 a 2020, tivemos praticamente 14 anos de prêmio estável, com oscilações marginais. Mas em 2020, a taxa subiu de 0,02% para 0,40% em poucos meses. O resultado disso foi uma queda nos preços dos títulos Tesouro Selic. Fonte: Corretora Renascença 74 - Renda Fixa não é Fixa! Sobre o vencimento do título, diferentemente dos prefixados e indexados, não fará diferença você comprar um título de 2 ou 5 anos. Como todos rendem a Selic Efetiva, independentemente do vencimento, todos terão a mesma rentabilidade. Mas as alterações nessas taxas terão um impacto maior quanto maior for o vencimento do título, como podemos ver no gráfico. Por exemplo, em 2020, devido à alta da taxa do Tesouro Selic de 0,02% para 0,40%, os títulos de curto prazo perderam 0,007%, enquanto os títulos de longo prazo chegaram a perder 1,32%. Ou seja, quanto mais longo o título, maior o efeito de mar- cação a mercado e maior o risco. Por outro lado, quanto mais longo, maior benefício possível com o IR regressivo. Ou seja, se você está investindo em Tesouro Selic para reserva de emergência, pode usar o vencimento mais curto. Mas se você não tem pressa ou não precisará dos recursos, pode usar o ven- cimento mais longo. CAPÍTULO 3 - 75 3.4 INDEXADOS À INFLAÇÃO Já falamos nas últimas seções sobre os prefixados e pós-fixados. Você já entendeu a fundo como eles funcionam, no que se atentar e como agir para não ser enganado. Agora vamos falar sobre o título mais complicado de se entender, que mistura características dos dois títulos anteriores, mas que é um dos mais interessantes para se investir. Vamos falar, então, do famoso Tesouro IPCA+! O IPCA+ é um título que simula um “juro real”. Você já ouviu falar disso, correto? E tem uma certa noção do que é juro real. Mas, para fixar, vamos a um exemplo: Digamos que investi 1.000 reais em um prefixado de um ano e a taxa da compra foi de 12%. Ao final de um ano, recebi 1.120,00 reais. Digamos que a inflação do período tenha sido 6%. Quanto eu recebi líquido de inflação? Ou seja, quanto eu recebi de juros reais? Conta rápida: (1 + 0,12)/(1 + 0,06) -1 = 0,0566 ou 5,66%. Conta passo a passo: Os meus 1.000 reais viraram equivalentes a 1.060 reais depois de um ano por causa do efeito da inflação. Recebi 1.120 reais com meu investimento. 1.120,00/1.060,00 -1 = 0,0566 ou 5,66%. 76 - Renda Fixa não é Fixa! Mas temos um sério problema aí… Não sabemos, hoje, quanto será a inflação de um ano. Conseguimos estimar, mas não sabemos ao certo. No meu exemplo, se a inflação do ano subir para 10%, meu juro real no final será de apenas 1,81%. Se a inflação do período cair para 4,5%, terei um juro real de 7,17%. Ou seja, investindo em um prefixado, eu consigo travar minha rentabilidade nominal, mas não tenho ideia de quanto será a minha rentabilidade real. E se eu disser que, não importa qual seja a inflação, há um título que garante a você receber 5,66% de juros reais? Essa é a principal característica do IPCA+. Ele “trava" os juros reais e vai repondo a inflação, conforme ela se apresentar. Você reparou que eu disse que ela pagará a inflação con- forme ela se apresentar? Ou seja, na parte indexada ao IPCA, se a inflação for menor, você atualizará o valor dos seus inves- timentos por uma rentabilidade positiva, mas menor. Se a inflação for maior, você receberá uma rentabilidade positiva, e maior ainda. Isso te faz lembrar algum título que eu já expliquei? Os pós-fixados! Lembra que eles rendiam a Selic de um dia, nunca perdendo, sempre aumentando de valor mais ou menos de acordo com a Selic? A parte da inflação do IPCA+ é a mesma coisa. Ela atualizará
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