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SISTEMA DE ENSINO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR CDC – Arts. 4º ao 6º Livro Eletrônico 2 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral Sumário Código de Defesa do Consumidor – Artigos 4º ao 6º .............................................................. 3 Introdução ........................................................................................................................................ 3 Artigo 4º ............................................................................................................................................ 3 Princípio da Vulnerabilidade ......................................................................................................... 5 Dever Governamental .................................................................................................................... 6 Harmonização e Compatibilização da Proteção ao Consumidor .......................................... 6 Educação e Informação dos Consumidores ............................................................................ 25 Controle de Qualidade e Mecanismos de Atendimento pelas Próprias Empresas ......... 26 Racionalização e Melhoria dos Serviços Públicos ................................................................. 26 Coibição e Repressão de Abusos no Mercado ........................................................................ 30 Estudo das Modificações do Mercado ...................................................................................... 30 Da Garantia do Crédito Responsável ........................................................................................ 33 Acesso à Justiça .............................................................................................................................34 Artigo 5º .......................................................................................................................................... 35 Artigo 6º .......................................................................................................................................... 36 A Proteção da Vida, Saúde e Segurança ................................................................................... 37 Educação, Informação e Liberdade de Escolha ......................................................................38 Informação Adequada e Clara sobre os Diferentes Produtos e Serviços .........................38 Proteção contra a Publicidade Enganosa e Abusiva ............................................................. 39 Modificação e Revisão das Cláusulas Contratuais ................................................................ 39 Prevenção e Reparação Integral de Danos .............................................................................. 41 Facilitação do Acesso à Justiça e à Administração ................................................................ 45 Facilitação da Defesa e Inversão do Ônus da Prova ............................................................. 45 Adequada e Eficaz Prestação dos Serviços Públicos em Geral...........................................49 Garantia do Crédito Responsável e do Mínimo Existencial ................................................. 50 Questões de Concurso ................................................................................................................. 58 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – ARTIGOS 4º AO 6º Introdução Na primeira aula sobre o Código de Defesa do Consumidor, do artigo 1º ao 3º, abordamos como foi a criação deste código, os dispositivos constitucionais que fundamentam seu direito, de que se tratava de um microssistema jurídico multidisciplinar, entre diversas outras coisas. Os já artigos tratados são bem introdutórios e conceituais, trazendo o significado de con- sumidor, fornecedor, produto e serviço, além de elementos essenciais para caracterizar a rela- ção de consumo. Os artigos tratados nesta aula trazem, em suma, os princípios norteadores da política na- cional de relações de consumo e os direitos básicos do consumidor. Estes artigos são essenciais para entender a intenção do legislador para a criação deste código e para toda a regulação da defesa do consumidor aplicada no Brasil. Dito isso, passemos a analisar a lei e os artigos desta aula. ArtIgo 4º O Capítulo II do CDC trata da Política Nacional de Relações de Consumo, apresentando os princípios que devem ser priorizados e respeitados nas ligações de cunho consumerista reali- zadas à luz do direito brasileiro. A aplicação do CDC deve ser analisada cuidado, pois ele não tem aplicabilidade a todas as relações econômicas. Ele se restringe às atividades econômicas nas quais estejam o con- sumidor e o fornecedor, e entre eles uma transação envolvendo produto e/ou serviço.1 Estes conceitos vimos na aula anterior. A redação legal dispõe: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessi- dades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus inte- resses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II – ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabi- lidade e desempenho. 1 Manual de direito do consumidor; Leonardo Roscoe Bessa e Walter José Faiad de Moura; coordenação de Juliana Pereira da Silva. – 4. ed. Brasília: Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV – educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V – incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segu- rança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI – coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, in- clusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII – racionalização e melhoria dos serviços públicos; VIII – estudo constante das modificações do mercado de consumo. IX – fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores; X – prevenção e tratamento do superendividamentocomo forma de evitar a exclusão social do consumidor. O texto do artigo foi visivelmente inspirado na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/1981) que, em seu artigo 2º, enumera as diretrizes e princípios almejados e que devam ser aplicados no sistema de proteção ambiental. Os diplomas normativos que disci- plinam as matérias de direitos difusos a partir da década de 80, como visto na primeira aula, criam microssistemas jurídicos, e possuem enunciados semelhantes, descrevendo uma políti- ca nacional, com princípios e objetivos próprios. Estes microssistemas buscam fins próprios a serem perseguidos, possuindo autonomia através de uma principiologia própria. Eles não devem ser interpretados com uma visão tradi- cional, mas com uma ótica particular, através de seu sistema próprio. A visão sistêmica é im- portante para se manter a coerência naquilo que foi intencionado pelo legislador. Interpretar o CDC utilizando os parâmetros do Código Civil é um erro, podendo causar equívocos, pois o CC pressupõe a relação entre iguais, enquanto o CDC deve ser aplicado na relação entre desiguais, em uma das partes se encontra em situação de vulnerabilidade (consumidor). Embora o Códi- go de Defesa contenha vários temas também disciplinados no CC, a interpretação na relação de consumo deverá ser feita sob um olhar inspirado pelos objetivos e princípios do artigo 4º, e não através da aplicação tradicional do sistema civilista.2 De acordo com Eros Roberto Grau, as normas do artigo 4º são consideradas “normas objeti- vos”: possuindo um papel fundamental, uma vez que subordinam a interpretação. Os objetivos do artigo devem ser perseguidos, seja através de políticas públicas, seja através da atuação do fornecedor e do próprio consumidor, e princípios a serem aplicados aspirando a busca destes objetivos (resultados), sendo que as demais normas devem ser interpretadas finalisticamen- 2 Código de Defesa do Consumidor Comentado: artigo por artigo. Leonardo de Medeiros Garcia – 13. ed. rev. ampl. e atuaL- Salvador: JusPODIVM, 2016. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral te. Assim, “o intérprete deve repudiar qualquer solução interpretativa que não seja adequada à realização daqueles fins inscritos na norma objetivo do art. 4º” concluindo que “a tarefa de interpretação encontra balizas claras traçadas pelo legislador de 1990. O Intérprete que delas se aproximar estará aplicando o CDC. Aquele que delas se afastar estará descumprindo a lei.”3 Analisaremos cada princípio dispostos nos incisos do artigo 4º, que devem ser perse- guidos através de políticas públicas e pelos fornecedores. Lembrando que o caput do artigo afirma que: “tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo”. PrIncíPIo dA VulnerAbIlIdAde “I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;” Como já mencionamos na aula anterior, o consumidor sempre é considerado vulnerável para haver a aplicação do CDC. Tanto que se assim não o for, não estaremos diante de uma relação de consumo. Todos os princípios do art. 4º e os demais presentes no código somente farão sentido quando, primeiramente, for reconhecida a vulnerabilidade do consumidor. Sem esta premissa reconhecida, é ilógica qualquer norma de proteção e princípio a ser aplicado. O CDC tem por finalidade estabelecer o equilíbrio contratual, com justiça e harmonia. Reproduzirei o que foi dito na aula anterior sobre as quatro formas de vulnerabilidade4: Segundo Cláudia Lima Marques, para a exata descrição de consumidor e delimitação de abrangência de aplicação do CDC nas relações contratuais, é preciso fazer uma interpretação teleológica da regra do artigo 2º com o sistema tutelar consumerista, buscando a ratio princi- pal da norma, ou seja, a intenção, razão essencial que o legislador quis atribuir a norma. Desta maneira, a autora expõe que destinatário final seria somente aquele que, segundo o artigo 4º, fosse discernido como “vulnerável” numa relação contratual, visto que somente estes merecem receber a tutela especial do CDC. Havendo três tipos de vulnerabilidades são identificáveis: a técnica, a jurídica (ou científica) e a fática (ou socioeconômica). Sumamente, a vulnerabilidade técnica é aquela na qual o comprador não possui conheci- mentos específicos sobre o produto ou o serviço, podendo facilmente ser enganado no mo- mento da contratação. A vulnerabilidade jurídica seria a própria falta de conhecimentos jurídicos, ou de outros pertinentes à relação, como conhecimentos técnicos de contabilidade, matemática e eco- nomia, etc. 3 Interpretando o Código de Defesa do Consumidor. Eros Roberto Grau. Revista de Direito do Consumidor, vol. 5, RT, pg. 166. 4 Código de Defesa do Consumidor Comentado: artigo por artigo. Leonardo de Medeiros Garcia – 13. ed. rev. ampl. e atuaL- Salvador: JusPODIVM, 2016. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral Por fim, a vulnerabilidade fática é a vulnerabilidade real ante ao parceiro contratual, seja proveniente de grande poder econômico, seja por este ter o monopólio, ou em virtude da es- sencialidade do serviço que presta, decretando uma posição de superioridade na relação. Cláudia Lima Marques ainda aponta outro tipo de vulnerabilidade: a informacional. Tam- bém citada na ementa como uma nova modalidade apresentada pela doutrina. Embora possa ser reconhecida como tipo de vulnerabilidade técnica, a autora dá destaque à imprescindibili- dade da informação na sociedade atual. Para ela, as informações estão crescentemente mais valorizadas e cruciais e, em compen- sação, a carência informacional dos consumidores está cada vez maior. Dessarte, de modo a compensar este desequilíbrio, deve o fornecedor viabilizar o máximo de informações ao con- sumidor sobre a relação contratual, seja acompanhando o produto nas embalagens, seja sen- do prestada de forma clara e precisa diretamente entre fornecedor e cliente. Lembre-se que vulnerabilidade é diferente de hipossuficiência. deVer goVernAmentAl “II – ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabi- lidade e desempenho.” Por reconhecer o consumidor como vulnerável, é preciso promover a proteção do elo mais fraco pelos meios legislativos e administrativos, objetivando assegurar o equilíbrio e a harmo- nia nas relações de consumo. A atuação do Estado (ação governamental) como verdadeiro poder/dever é realizada atra- vés da instituição de órgãos públicos de defesa do consumidor (ex.: Procons), como também por meio de incentivo à criação de associações destinadas a tais interesses. O Estado deve proteger efetivamente o consumidor, influindo no mercado para evitar detur- pações, vigiar a garantia dos produtos e serviços verificando se apresentam padrões satisfató- rios de qualidade,segurança, durabilidade e desempenho. HArmonIzAção e comPAtIbIlIzAção dA Proteção Ao consumIdor “III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;” O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral A harmonização entre os interesses dos consumidores e dos fornecedores, compatibilizan- do a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico com a defesa do consumidor deve ser o objetivo da política nacional das relações de consumo. Desta forma, produtos com tecnologias inovadoras serão aceitos no mercado de consumo somente se não oferecerem riscos à saúde e à segurança dos consumidores, além de serem eficientes. Já a compatibilização determina que o fornecedor deverá ser o responsável pela efetiva- ção da adequação dos produtos e serviços, correspondendo às necessidades dos consumi- dores em segurança e qualidade, e respeitando a saúde, segurança, dignidade e interesses econômicos. Equilíbrio nas Relações de Consumo Ao final do inciso III consta que deve ser realizado “sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores”. A busca pela relação equilibrada deve sem- pre conduzir o juiz em seu julgamento. Deste modo, obrigações iníquas (injustas, contrárias à equidade), abusivas (que desrespei- tam valores da sociedade) ou que ofendem o princípio da boa-fé objetiva (como a falta de coo- peração, de lealdade, quando frustra a legitima confiança criada no consumidor) e a equidade (justiça do caso concreto) são vedadas.5 JURISPRUDÊNCIA “Civil. Recurso especial. Contrato de compra e venda de imóvel regido pelo Código de Defesa do Consumidor. Referência à área do imóvel. Diferença entre a área referida e a área real do bem inferior a um vigésimo (5%) da exten- são total enunciada. Caracterização como venda por corpo certo. Isenção da responsa- bilidade do vendedor. Impossibilidade. Interpretação favorável ao consumidor. Venda por medida. Má-fé. Abuso do poder econômico. Equilíbrio contratual. Boa-fé objetiva. - A referência à área do imóvel nos contratos de compra e venda de imóvel adquiridos na planta regidos pelo CDC não pode ser considerada simplesmente enunciativa, ainda que a diferença encontrada entre a área mencionada no contrato e a área real não exceda um vigésimo (5%) da extensão total anunciada, devendo a venda, nessa hipótese, ser carac- terizada sempre como por medida, de modo a possibilitar ao consumidor o complemento da área, o abatimento proporcional do preço ou a rescisão do contrato. - A disparidade entre a descrição do imóvel objeto de contrato de compra e venda e o que fisicamente existe sob titularidade do vendedor provoca instabilidade na relação contratual. 5 Código de Defesa do Consumidor Comentado: artigo por artigo. Leonardo de Medeiros Garcia – 13. ed. rev. ampl. e atuaL- Salvador: JusPODIVM, 2016.. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral - O Estado deve, na coordenação da ordem econômica, exercer a repressão do abuso do poder econômico, com o objetivo de compatibilizar os objetivos das empresas com a necessidade coletiva. - Basta, assim, a ameaça do desequilíbrio para ensejar a correção das cláusulas do con- trato, devendo sempre vigorar a interpretação mais favorável ao consumidor, que não par- ticipou da elaboração do contrato, consideradas a imperatividade e a indisponibilidade das normas do CDC. - O juiz da equidade deve buscar a Justiça comutativa, analisando a qualidade do consentimento. - Quando evidenciada a desvantagem do consumidor, ocasionada pelo desequilíbrio con- tratual gerado pelo abuso do poder econômico, restando, assim, ferido o princípio da equidade contratual, deve ele receber uma proteção compensatória. - Uma disposição legal não pode ser utilizada para eximir de responsabilidade o contra- tante que age com notória má-fé em detrimento da coletividade, pois a ninguém é per- mitido valer-se da lei ou de exceção prevista em lei para obtenção de benefício próprio quando este vier em prejuízo de outrem. - Somente a preponderância da boa-fé objetiva é capaz de materializar o equilíbrio ou jus- tiça contratual. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 436.853/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/05/2006, DJ 27/11/2006, p. 273) (Grifos nossos.) Equidade A equidade também é um dos princípios do CDC, estando presente em seu art. 51, inciso VI: “Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em des- vantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.” A cláusula ou o contrato terá a sua invalidade reconhecida quando a equidade for descum- prida, pois estará presente a falta de justiça ao caso concreto. Boa-fé Objetiva Também presente no final do inciso III do artigo 4º, este princípio indica um dever de con- duta entre os parceiros contratuais, baseado na confiança e na lealdade. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral C O N F I A N Ç A L E A L D A D E BOA-FÉ OBJETIVA A boa-fé objetiva não está relacionada às intenções íntimas dos sujeitos, e sim à lisura, transparência, correção e proteção em todas as fases da formação do contrato, por isso para que ocorra o preenchimento de tal princípio, as partes devem cumprir com os deveres princi- pais e anexos, pois a violação provoca inadimplemento contratual. A violação dos deveres anexos é chamada pela doutrina de “violação positiva do contrato” ou também de “adimplemento ruim”. O Princípio da boa-fé objetiva será o critério empregado para verificar os limites do abuso do direito (função de controle). Quando não houver lealdade no exercício do direito subjetivo, de forma a frustrar a confiança criada em outrem, o ato será abusivo e conside- rado ilícito.6 A Súmula 302 do STJ foi editada sob esta perspectiva, seu enunciado diz: “é abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado”. O plano de saúde, ao impor tal cláusula, comete abuso do direito, desrespeitando o dever anexo de lealdade e, com isso, ofende a boa-fé objetiva que se aguarda nas relações negociais. 6 Código de Defesa do Consumidor Comentado: artigo por artigo. Leonardo de Medeiros Garcia – 13. ed. rev. ampl. e atuaL- Salvador: JusPODIVM, 2016.. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios ea qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral Figuras Correlatas • Venire contra factum proprium O venire contra factum proprium é uma vedação decorrente do princípio da confiança. Tra- ta-se de um tipo de ato abusivo de direito. Conforme o Enunciado n. 362 da IV Jornada de Direito Civil: “Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil.” Esta vedação assegura a continuidade da situação de confiança que foi legitimamente criada nas relações jurídicas contratuais, não se admitindo a aplicação de condutas contradi- tórias. É uma regra de coerência, que veda que se aja em determinado momento de uma certa maneira e, posteriormente, adote um comportamento que frustra, vai de encontro com aquela conduta tomada em primeiro lugar.7 Portanto, o venire contra factum proprium significa a proi- bição de ir contra fatos próprios já praticados. Segundo a doutrina8, para a aplicação do instituto é necessária a presença de quatro requisitos: • um comportamento; • a geração de uma expectativa; • o investimento na expectativa gerada ou causada; e • o comportamento contraditório ao inicial, que gere um dano, ou, no mínimo, um poten- cial de dano a partir da contradição. Salienta-se a orientação dada pelo Enunciado n. 170 da III Jornada do Conselho da Justi- ça Federal: ”Art. 422. A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.” Há julgados dos Tribunais baseados no venire contra factum proprium: JURISPRUDÊNCIA “Direito civil. Contrato de locação de veículos por prazo determinado. Notificação, pela locatária, de que não terá interesse na renovação do contrato, meses antes do término do prazo contratual. Devolução apenas parcial dos veículos após o final do prazo, sem opo- sição expressa da locadora. Continuidade da emissão de faturas, pela credora, no preço contratualmente estabelecido. 7 Questões Controvertidas no Novo Código Civil. Ronnie Preuss Duarte. São Paulo: Método, 2004, v. 2. 8 A proibição do comportamento contraditório. Anderson Schereiber. 3. ed. São Paulo: Saraiva. 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Precedentes. – A notificação a que se refere o art. 1.196 do CC/2002 (art. 575 do CC/2002) não tem a função de constituir o locatário em mora, tendo em vista o que dispõe o art. 1.194 do CC/1916 (art. 573 do CC/2002). Ela objetiva, em vez disso, a: (i) que não há a intenção do locador de permitir a prorrogação tácita do contrato por prazo indeterminado (art. 1.195 do CC/1916 – art. 574 do CC/2002; (ii) fixar a sanção patrimonial decorrente da retenção do bem locado. Na hipótese em que o próprio locatário notifica o locador de que não será renovado o contrato, a primeira função já se encontra preenchida: não é necessário ao locador repetir sua intenção de não prorrogar o contrato se o próprio locatário já o fez. A segunda função, por sua vez, pode se considerar também preenchida pelo fato de que é presumível a ciência, por parte do locatário, do valor das diárias dos automóveis pela tarifa de balcão. Haveria, portanto, em princípio, direito em favor da locadora à cobrança de tarifa adicional. – Se o acórdão recorrido estabelece, contudo, que não houve qualquer manifestação do credor no sentido da sua intenção de exercer tal direito e, mais que isso, o credor compor- ta-se de maneira contraditória, emitindo faturas no valor original, cria-se, para o devedor, a expectativa da manutenção do preço contratualmente estabelecido. – O princípio da boa-fé objetiva exerce três funções: (i) a de regra de interpretação; (ii) a de fonte de direitos e de deveres jurídicos; e (iii) a de limite ao exercício de direitos subjetivos. – Pertencem a este terceiro grupo a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios (tu quoque; vedação ao comportamento contraditório; sur- rectio; suppressio). – O instituto da supressio indica a possibilidade de se considerar suprimida uma obriga- ção contratual, na hipótese em que o não exercício do direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo. – Nas hipóteses de improcedência do pedido, os honorários advocatícios devem ser fixa- dos com fundamento no art. 20, § 4º, do CPC, sendo inaplicável o respectivo § 3º. Apli- cando-se essa norma à hipótese dos autos, constata-se a necessidade de redução dos honorários estabelecidos pelo Tribunal. Recurso especial parcialmente provido” (REsp 953.389/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 23-2-2010, DJe de 15-3-2010, ver Informativo n. 424). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral “Direito civil e processual civil. Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor. Não se deve desconstituir a penhora de imóvel sob o argumento de se tratar de bem de família na hipótese em que, mediante acordo homologado judicialmente, o executado tenha pactuado com o exequente a prorrogação do prazo para pagamento e a redução do valor de dívida que contraíra em benefício da família, oferecendo o imóvel em garantia e renunciando expressamente ao oferecimento de qualquer defesa, de modo que, des- cumprido o acordo, a execução prosseguiria com a avaliação e praça do imóvel. De fato, a jurisprudência do STJ inclinou-se no sentido de que o bem de família é impenhorável, mesmo quando indicado à constrição pelo devedor. No entanto, o caso em exame apre- senta certas peculiaridades que torna válida a renúncia. Com efeito, no caso em análise, o executado agiu em descompasso com o princípio nemo venire contra factum proprium, adotando comportamento contraditório, num momento ofertando o bem à penhora e, no instante seguinte, arguindo a impenhorabilidade do mesmo bem, o que evidencia a ausência de boa-fé. Essa conduta antiética deve ser coibida, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário, que validou o acordo celebrado. Se, por um lado, é verdade que a Lei n. 8.009/1990 veio para proteger o núcleo familiar, resguardando-lhe a moradia, não é menos correto afirmar que aquele diploma legal não pretendeu estimular o comporta- mento dissimulado. Como se trata de acordo judicial celebrado nos próprios autos da execução, a garantia somente podia ser constituída mediante formalização de penhora incidente sobre o bem. Nada impedia, no entanto, que houvesse a celebração dopacto por escritura pública, com a constituição de hipoteca sobre o imóvel e posterior juntada aos autos com vistas à homologação judicial. Se tivesse ocorrido dessa forma, seria plenamente válida a penhora sobre o bem em razão da exceção à impenhorabilidade prevista no inciso V do art. 3º da Lei n. 8.009/1990, não existindo, portanto, nenhuma diferença substancial entre um ato e outro no que interessa às partes. Acrescente-se, finalmente, que a decisão homologatória do acordo tornou preclusa a discussão da maté- ria, de forma que o mero inconformismo do devedor contra uma das cláusulas pactu- adas, manifestado tempos depois, quando já novamente inadimplentes, não tem força suficiente para tornar ineficaz a avença. Dessa forma, não se pode permitir, em razão da boa-fé que deve reger as relações jurídicas, a desconstituição da penhora, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário.” REsp 1.461.301-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5-3-2015, DJe 23-3-2015. (ver Informativo n. 558) “Recurso especial. Contrato de alienação fiduciária. Violação ao art. 535 do CPC. Não ocorrência. Tradição do veículo. Contrato de natureza real. Requisito de validade do negócio jurídico. Escada ponteana. Elementos essenciais do contrato. Negligência da parte autora. Má-fé da empresa alienante. Matérias que demandam reexame de provas. Súmula 7/STJ. Vedação ao comportamento contraditório. Validade do contrato. Regis- O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp1461301%22 %5Ct %22new 13 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral tro em cartório. Anotação no certificado de registro do veículo. Necessidade apenas para preservar direitos de terceiro. Súmula 83/STJ. Mora do devedor. Notificação pes- soal. Desnecessidade. Alegação de vulnerabilidade e cabimento de inversão do ônus da prova. Súmula 7/STJ. Recurso não provido. 1. Não há falar em violação ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido resolve todas as questões pertinentes ao litígio, torna- do-se dispensável que venha a examinar todos os argumentos trazidos pelas partes. 2. Em negócio de alienação fiduciária em garantia, por se tratar de contrato de natureza real, a tradição constitui requisito de validade do negócio jurídico. 3. A análise da pre- tensão recursal sobre a alegada ausência dos elementos essenciais do contrato, negli- gência da parte autora e má-fé da empresa alienante demandaria a alteração das pre- missas fático-probatórias estabelecidas pelo acórdão recorrido, com o revolvimento das provas carreadas aos autos, o que é vedado em sede de recurso especial, nos termos do enunciado da Súmula 7/STJ. 4. Impõe-se, no caso, a aplicação da máxima venire contra factum proprium, tendo em vista que parte recorrente primeiro anuiu ao prosseguimento do contrato e, em seguida, de modo oposto ao primeiro comportamento, questionou sua validade e existência. 5. A exigência de registro do contrato de alienação fiduciária em garantia no cartório de título e documentos e a respectiva anotação do gravame no órgão de trânsito não constitui requisitos de validade do negócio, tendo apenas o condão de torna-lo eficaz perante terceiros. 6. Nos casos envolvendo contrato de alie- nação fiduciária, a mora deve ser comprovada por meio de notificação extrajudicial rea- lizada por intermédio do cartório de títulos e documentos, a ser entregue no domicílio do devedor, sendo dispensada sua notificação pessoal. 7. A alegação de vulnerabilidade e da presença dos requisitos necessários ao deferimento da inversão do ônus da prova encontram óbice na Súmula 7/STJ. 8. Recurso especial não provido. (REsp 1190372/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 15-10-2015, DJe 27-10-2015) Intimação. Devedores. Purgação. Mora. Danos morais. Inexiste o dever do Banco Itaú S/A de indenizar casal pela ausência de intimação pessoal acerca de leilão extrajudicial do imóvel no qual residem. Para os ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), somente a perda de uma oportunidade real, plausível e séria justifica a compensação por danos morais. [...] Em seu voto, a relatora, ministra Nancy Andrighi, destacou que a sentença e os demais elementos dos autos permitem concluir que o casal jamais demonstrou a real intenção de purgar a mora. Por esta razão, concluiu a relatora, não são plausíveis as alegações de que os danos morais que sofreram foram provocados “pelo ato ilícito do banco em adjudicar-se indevidamente de imóvel em leilão por ele mesmo realizado sem a observân- cia das devidas precauções legais, promovendo atos ilícitos que geraram, e continuam criando, desconforto e sofrimento aos autores”. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral Segundo a ministra Nancy Andrighi, tudo indica que a ausência de comunicação pessoal não foi a causa preponderante para que o casal deixasse de purgar a mora, até porque eles próprios, em sua inicial, confessam a suspensão dos pagamentos das prestações devidas ao Banco Itaú em razão das dificuldades financeiras que vêm enfrentando. “Qual- quer conclusão em sentido contrário caracterizaria verdadeiro exercício de futurologia. De fato, é injustificável admitir que o recorrente (Itaú) possa ser responsabilizado por um dano hipotético que advenha do simples exercício de seu legítimo direito de realizar o leilão extrajudicial do bem que financiou, conforme a faculdade conferida pelo Decreto- -Lei n. 70/1966”, afirmou a relatora (REsp 1.115.687/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 8-11-2010, ver Informativo n. 456). (grifos nossos) DICA! O venire contra factum proprium possui diferença para o nemo auditur turpidutinem allegans, segundo o qual ninguém pode alegar a própria torpeza. Pois o primeiro objetiva tutelar a confiança e as devidas expectativas, o segundo visa reprimir a malícia. • Supressio A supressio consiste na diminuição da obrigação pela inércia da outra parte em exercer di- reitos, gerando legítima expectativa. A pessoa nunca exigiu o cumprimento de uma obrigação, o que fez a outra acreditar que não precisava mais efetuá-la. Para configuração da supressio, é necessário comprovar: o decurso de prazo sem exercí- cio do direito com indícios objetivos de que o direito não mais será exercido; e o desequilíbrio, pela ação do tempo, entre o benefício do credor e o prejuízo do devedor. Observa-se na jurisprudência do STJ a aplicação: JURISPRUDÊNCIA “REsp 214.680/SP. Condomínio. Área comum. Prescrição. Boa-fé. Área destinada a cor- redor, que perdeu sua finalidade com a alteração do projeto e veio a ser ocupada com exclusividade por alguns condôminos, com a concordância dos demais. Consolidada a situação há mais de vinte anos sobre a área não dispensável à existência do condomí- nio, é de ser mantido o status quo. Aplicação do princípio da boa-fé (supressio). Recurso conhecido e provido” (RSTJ 130:366). Vale enfatizar o julgado que aplica a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios como meio de revisar a abrangência e o alcance dos deveres contra- tuais, donde deriva o instituto da supressio: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDREDE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral JURISPRUDÊNCIA “DIREITO EMPRESARIAL. INCIDÊNCIA DA BOA-FÉ OBJETIVA NO CONTRATO DE REPRE- SENTAÇÃO COMERCIAL. Não é possível ao representante comercial exigir, após o término do contrato de repre- sentação comercial, a diferença entre o valor da comissão estipulado no contrato e o efetivamente recebido, caso não tenha havido, durante toda a vigência contratual, qual- quer resistência ao recebimento dos valores em patamar inferior ao previsto no contrato. Inicialmente, cumpre salientar que a Lei n. 4.886/1965 dispõe serem vedadas, na repre- sentação comercial, alterações que impliquem, direta ou indiretamente, a diminuição da média dos resultados auferidos pelo representante nos últimos seis meses de vigência do contrato. De fato, essa e outras previsões legais introduzidas pela Lei n. 8.420/1992 tiveram caráter social e protetivo em relação ao representante comercial autônomo que, em grande parte das vezes, ficava à mercê do representado, que alterava livre e unilate- ralmente o contrato de acordo com os seus interesses e, normalmente, em prejuízo do representante, pois economicamente dependente daquele. Essa restrição foi introduzida para compensar o desequilíbrio entre o representado e o representante, este reconheci- damente mais fraco do ponto de vista jurídico e econômico. Nesse sentido, nem mesmo as alterações consensuais e bilaterais são admitidas quando resultarem em prejuízos diretos ou indiretos para o representante. Todavia, no caso em que a comissão tenha sido paga ao representante em valor inferior ao que celebrado no contrato, durante toda a sua vigência, sem resistência ou impugnação por parte do representante, pode-se con- cluir que a este interessava a manutenção do contrato, mesmo que em termos remu- neratórios inferiores, tendo em vista sua anuência tácita para tanto. Verifica-se, nessa hipótese, que não houve uma redução da comissão do representante em relação à média dos resultados auferidos nos últimos seis meses de vigência do contrato, o que, de fato, seria proibido nos termos do art. 32, § 7º, da Lei n. 4.886/1965. Desde o início da rela- ção contratual, tendo sido a comissão paga em valor inferior ao que pactuado, conclui- -se que a cláusula que estipula pagamento de comissão em outro valor nunca chegou a viger. Ainda, observa-se que, nessa situação, não houve qualquer redução da remunera- ção do representante que lhe pudesse causar prejuízos, de forma a contrariar o caráter eminentemente protetivo e social da lei. Se o representante permanece silente durante todo o contrato em relação ao valor da comissão, pode-se considerar que tenha anuído tacitamente com essa condição de pagamento, não sendo razoável que, somente após o término do contrato, venha a reclamar a diferença. Com efeito, a boa-fé objetiva, prin- cípio geral de direito recepcionado pelos arts. 113 e 422 do CC/2002 como instrumento de interpretação do negócio jurídico e norma de conduta a ser observada pelas partes contratantes, exige de todos um comportamento condizente com um padrão ético de confiança e lealdade, induz deveres acessórios de conduta, impondo às partes compor- O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral tamentos obrigatórios implicitamente contidos em todos os contratos, a serem obser- vados para que se concretizem as justas expectativas oriundas da própria celebração e execução da avença, mantendo-se o equilíbrio da relação. Essas regras de conduta não se orientam exclusivamente ao cumprimento da obrigação, permeando toda a relação contratual, de modo a viabilizar a satisfação dos interesses globais envolvidos no negó- cio, sempre tendo em vista a plena realização da sua finalidade social. Além disso, o refe- rido princípio tem a função de limitar o exercício dos direitos subjetivos. A esta função, aplica-se a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos pró- prios como meio de rever a amplitude e o alcance dos deveres contratuais, daí derivando o instituto da supressio, que indica a possibilidade de considerar suprimida determinada obrigação contratual na hipótese em que o não exercício do direito correspondente, pelo credor, gerar ao devedor a legítima expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo. Em outras palavras, haverá redução do conteúdo obrigacional pela inércia qua- lificada de uma das partes em exercer direito ou faculdade ao longo da execução do con- trato, criando para a outra a sensação válida e plausível – a ser apurada casuisticamente – de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. Assim, o princípio da boa-fé objetiva torna inviável a pretensão do representante comercial de exigir retroativamente valores que foram por ele dispensados, de forma a preservar uma expectativa legítima, construída e mantida ao longo de toda a relação contratual pelo representado.” (REsp 1.162.985/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18-6-2013, ver Informativo n. 523). (Grifos nossos.) • Surrectio A surrectio pode ser verificada nos casos em que, com o transcorrer do tempo, permite concluir o surgimento de uma posição jurídica, pela regra da boa-fé. Normalmente, é figura cor- relata à supressio. Contudo, a surrectio apresenta uma ampliação do conteúdo obrigacional. A atitude de uma das partes provoca na outra a expectativa de direito ou faculdade não pactuada. Conforme julgado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que, ao apreciar a alteração táci- ta de cláusula de preço, decidiu: JURISPRUDÊNCIA “Direito civil. Locação residencial. Situação jurídica continuada ao arrepio do contrato. Cláusula de preço. Fenômeno da surrectio a garantir seja mantido o ajuste tacitamente convencionado. Situação criada ao arrepio de cláusula contratual livremente convencio- nada pela qual a locadora aceita, por certo lapso temporal, aluguel a preço inferior àquele expressamente ajustado, cria, à luz do Direito Civil moderno, novo direito subjetivo, a esta- bilizar a situação de fato já consolidada, em prestígio ao princípio da boa-fé contratual” (TJMG, ACI 1.0024.03.163299-5/001, Rel. Des. Mauro Soares de Freitas, 16ª Câmara Cível, julgado em 7-3-2007). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral O próprio Código Civil respalda tal entendimento, em seu art. 330: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir a renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”. Enquanto a supressio é uma limitação – que pode até gerar uma supressão total – do di- reito subjetivo; a surrectio é a outra face desse fenômeno, isto é, o surgimento ou a aquisição de um direito subjetivo em decorrência de uma situação de reiterada violação contratual ou legal, de modo a presumir uma nova conformação jurídica, dadas as circunstâncias objetivas. Na doutrina afirma-se que a supressio e a surrectio são verso e reverso da mesma moeda, ou seja,constituem figuras concomitantes.9 • Tu quoque Literalmente, significa “e tu também”, em referência à frase de Júlio César dita a Brutus. O tu quoque é verificado nas situações em que existe um determinado comportamento dentro do contrato que viola seu conteúdo, o qual, apesar disso,10 ocasiona que a parte exija um com- portamento em circunstâncias iguais as quais ele mesmo deixou de cumprir. Resumindo, a parte não pode exigir da outra um comportamento que ela própria não obser- vou. O art. 180 do Código Civil é exemplo típico deste instituto: “Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.” Deste modo, aquele que viola as suas obrigações contratuais não pode se aproveitar da sua própria falta para se favorecer. A exceção do contrato não cumprido, disposta no artigo 476 do CC: “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obri- gação, pode exigir o implemento da do outro.” representa bem o tu quoque. A pretensão ao cumprimento, nos contratos bilaterais, só é plenamente eficaz se houver o desempenho da prestação a ela vinculada. Não se pode exigir o cumprimento enquanto o débito não for quitado. O Enunciado n. 412 da V Jornada de Direito Civil prevê: “Art. 187. As diversas hipóteses de exercício inadmissível de uma situação jurídica subjetiva, tais como supressio, tu quoque, surrectio e venire contra factum proprium, são concreções da boa-fé objetiva.” O Enunciado n. 413 da V Jornada versou: “Art. 187. Os bons costumes previstos no art. 187 do CC possuem natureza subjetiva, destinada ao controle da moralidade social de determinada época, e objetiva, para permitir a sindicância da viola- ção dos negócios jurídicos em questões não abrangidas pela função social e pela boa-fé objetiva.” 9 Direito civil. Introdução e teoria geral. Fabio Azevedo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. 10 Figuras parcelares da boa-fé objetiva e venire contra factum proprium. Luciano Camargo Penteado. Disponível em: <https:// edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5663730/mod_resource/content/1/Luciano%20de%20Camargo%20Penteado%20-%20 figuras%20parcelares%20da%20boa-f%C3%A9%20ºbjetiva.pdf>. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral E ainda, o Enunciado n. 414: “Art. 187. A cláusula geral do art. 187, Código Civil tem fundamento constitucional nos princípios da solidariedade, devido processo legal e proteção da confiança e aplica-se a todos os ramos do direito.” Assim, observa-se a aplicação na jurisprudência: JURISPRUDÊNCIA “Direito civil. Recurso especial. Pactuação, por acordo de vontades, de distrato. Recalci- trância da devedora em assinar o instrumento contratual. Arguição de vício de forma pela parte que deu causa ao vício. Impossibilidade. Auferimento de vantagem ignorando a extinção do contrato. Descabimento. 1. É incontroverso que o imóvel não estava na posse da locatária e as partes pactuaram distrato, tendo sido redigido o instrumento, todavia a ré locadora se recusou a assiná-lo, não podendo suscitar depois a inobservância ao para- lelismo das formas para a extinção contratual. É que os institutos ligados à boa-fé obje- tiva, notadamente a proibição do venire contra factum proprium, a supressio, a surrectio e o tu quoque, repelem atos que atentem contra a boa-fé objetiva. 2. Destarte, não pode a locadora alegar nulidade da avença (distrato), buscando manter o contrato rompido, e ainda obstar a devolução dos valores desembolsados pela locatária, ao argumento de que a lei exige forma para conferir validade à avença. 3. Recurso especial não provido” (REsp 1040606/ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 24-4-2012, DJe 16-5-2012). “Recurso ordinário em mandado de segurança. Administrativo. Titular de serventia judi- cial suspenso preventivamente. Legalidade. Autotutela da moralidade e legalidade. Aplicação da teoria dos atos próprios (tu quoque). Ausência de direito líquido e certo. 1. No caso dos autos, alega o recorrente violação de seu direito líquido e certo, em face do afastamento de suas funções – oficial de registro de imóveis –, pelo Juiz de Direito, com a finalidade de apurar denúncias de diversos crimes que o recorrente suposta- mente teria cometido contra a Administração Pública, em razão da sua função. 2. Obser- vância do devido processo legal para o afastamento do indiciado. Indícios veementes de perpetração de vários crimes contra a Administração Pública e atos de improbidade pelo oficial de registro. 3. Alegar o recorrente que o afastamento de suas funções, bem como a devida apuração dos fatos em face de fortes indícios de cometimento de crimes contra a administração, inclusive já com a quebra do sigilo bancária decretada, fere direito líquido e certo, é contrariar a lógica jurídica e a razoabilidade. A bem da verdade, essa postura do recorrente equivale ao comportamento contraditório – expressão parti- cular da teoria dos atos próprios –, sintetizado no anexim tu quoque, reconhecido nesta Corte nas relações privadas, mas incidente, também, nos vínculos processuais, seja no âmbito do processo administrativo ou judicial. 4. Ausência do direito líquido e certo. 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Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 6-3-2007, DJ de 20-3-2007, p. 256). • Duty to mitigate the loss O Enunciado n. 169 da III Jornada de Direito Civil apresenta que: “O princípio da boa-fé ob- jetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo.” Este enunciado é embasado pelo art. 77 da Convenção de Viena de 1980, que trata sobre venda internacional de mercadorias: “A parte que invocar o inadimplemento do contrato deverá tomar as medidas que forem razoáveis, de acordo com as circunstâncias, para diminuir os prejuízos resultantes do descumprimento, in- cluídos os lucros cessantes. Caso não adote estas medidas, a outra parte poderá pedir redução na indenização das perdas e danos, no montante da perda que deveria ter sido mitigada.” A jurisprudência também expressa: JURISPRUDÊNCIA Direito civil. Contratos. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelas partes contratantes. Deveres anexos. Duty to mitigate the loss. Dever de mitigar o próprio preju- ízo. Inércia do credor. Agravamento do dano. Inadimplemento contratual. Recurso impro- vido. 1. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas pela probidade, cooperação e lealdade. 2. Relações obriga- cionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos dos contratantes na consecução dos fins. Impossibilidade de violação aos preceitos éticos insertos no ordenamento jurí- dico. 3. Preceito decorrenteda boa-fé objetiva. Duty to mitigate the loss: o dever de miti- gar o próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano. Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência aos deveres de cooperação e lealdade. 4. Lição da doutrinadora Vera Maria Jacob de Fradera. Descuido com o dever de mitigar o prejuízo sofrido. O fato de ter deixado o devedor na posse do imóvel por quase 7 (sete) anos, sem que este cumprisse com o seu dever contratual (pagamento das prestações relativas ao contrato de compra e venda), evidencia a ausência de zelo com o patrimônio do credor, com o consequente agra- vamento significativo das perdas, uma vez que a realização mais célere dos atos de defesa possessória diminuiriam a extensão do dano. 5. Violação ao princípio da boa-fé objetiva. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral Caracterização de inadimplemento contratual a justificar a penalidade imposta pela Corte originária (exclusão de um ano de ressarcimento). 6. Recurso improvido” (REsp 758.518/ PR, Rel. Min. Vasco Della Giustina [Desembargador convocado do TJRS], Terceira Turma, julgado em 17-6-2010, DJe de 28-6-2010, REPDJe, 1º-7-2010, ver Informativo n. 439). “Direito do consumidor. Instituição financeira. Devolução do bem. Boa-fé objetiva. Dever de informação. Duty to mitigate the loss. Verifica-se dos autos que o autor adquiriu um trator agrícola através de financiamento pela ré. Após o pagamento de algumas parce- las, em razão de dificuldades financeiras, solicitou a devolução amigável do bem. Ocorre que o réu não entrou em contato com o autor, não fornecendo qualquer tipo de informa- ção. O CC/2002, inspirado em valores éticos nas relações jurídicas, erigiu como princípio vetor de suas normas a boa-fé objetiva. A cláusula geral de boa-fé, tanto pelo CDC como pelo CC/2002, traz deveres anexos aos negócios jurídicos, impondo aos contratantes a observância de comportamentos leais, probos, exigindo a correta e abrangente informa- ção sobre todo o conteúdo do contrato. O autor agiu com lealdade e, logo que verificou a impossibilidade de manutenção do contrato, devolveu imediatamente o bem, sendo certo que deve merecer tratamento diferenciado daqueles devedores que simplesmente deixam de pagar a dívida, permanecendo com o bem indistintamente. O réu, por sua vez, além de não informar adequadamente ao autor sobre o processo de devolução amigável do bem, demorou o equivalente a dois anos e três meses para notificar o autor da venda do bem. Desta forma, tendo em vista que o art. 39, XII, do CPDC impede que o réu deixe de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação, impõe-se o provimento parcial do recurso. Inegavelmente, as instituições financeiras colaboram com o endividamento exacerbado dos consumidores, infringindo o dever anexo de cooperação, relacionado diretamente com o princípio da boa-fé objetiva. Nesse contexto, pertinente in specie a construção “duty to mitigate the loss”, ou mitigação do prejuízo pelo próprio credor que encontra amparo no Enunciado n. 169 na III Jornada de Direito Civil: “princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”. Nesse diapasão, a partir da efetiva devolução do bem (16-11-2006), o autor só arcará com o saldo devedor reajustável pelo índice INPC, havendo a devida amortização do valor da venda do bem naquela data, consi- derando que o réu é quem deve sofrer o ônus de sua desídia, uma vez que o autor entregou o bem imediatamente e não foi informado prévia e adequadamente sobre a soma total a pagar após a devolução do bem, sendo esta uma exigência legal, nos termos do art. 52 do CPDC. Provimento parcial do recurso” (TJRJ, Apelação Cível 0010623-64.2009.8.19.0209, Rel. Des. Roberto de Abreu e Silva, 9ª Câmara Cível, julgado em 2-8-2011). “Direito Civil. Termo inicial da taxa de ocupação de imóvel alienado fiduciariamente no âmbito do SFH. Na hipótese em que frustrados os públicos leilões promovidos pelo fiduci- ário para a alienação do imóvel objeto de alienação fiduciária no âmbito do Sistema Finan- ceiro da Habitação (SFH), a taxa de ocupação será exigível do fiduciante em mora a partir O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral da data na qual se considera extinta a dívida (art. 27, § 5º, da Lei n. 9.514/1997), e não desde a data da consolidação da propriedade em nome do fiduciário (art. 27, caput, da Lei n. 9.514/1997). Nos termos da literalidade do art. 37-A da Lei n. 9.514/1997, “o “fiduciante pagará ao fiduciário, ou a quem vier a sucedê-lo, a título de taxa de ocupação do imóvel, por mês ou fração, valor correspondente a um por cento do valor a que se refere o inciso VI do art. 24, computado e exigível desde a data da alienação em leilão até a data em que o fiduciário, ou seus sucessores, vier a ser imitido na posse do imóvel”. O fundamento para que essa taxa não incida no período anterior à alienação é que a propriedade fiduci- ária não se equipara à propriedade plena, por estar vinculada ao propósito de garantia da dívida, conforme expressamente dispõe o art. 1.367 do CC: “A propriedade fiduciária em garantia de bens móveis ou imóveis sujeita-se às disposições do Capítulo I do Título X do Livro III da Parte Especial deste Código e, no que for específico, à legislação especial per- tinente, não se equiparando, para quaisquer efeitos, à propriedade plena de que trata o art. 1.231”. Efetivamente, não se reconhece ao proprietário fiduciário os direitos de usar (jus utendi) e de fruir (jus fruendi) da coisa, restando-lhe apenas os direitos de dispor da coisa (jus abutendi) e de reavê-la de quem injustamente a possua (rei vindicatio). Essa limitação de poderes se mantém após a consolidação da propriedade em favor do credor fiduciário, pois essa consolidação se dá exclusivamente com o propósito de satisfazer a dívida. É o que dispõe o art. 1.364 do CC, litteris: “Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor”. No mesmo sentido, o art. 27, caput, da Lei n. 9.514/1997, litteris: “Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de trinta dias, contados da data do registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para a alienação do imóvel”. Com efeito, o direito do credor se limita ao crédito, sendo a garantia (ainda que por meio de alienação fiduciária) um mero acessório, não podendo o credor se apro- priar, simultaneamente, do crédito e da coisa dada em garantia, sob pena de bis in idem e enriquecimento sem causa. A taxa de ocupação do imóvel, pela sua própria definição, tem natureza de fruto do imóvel objeto da alienação fiduciária. Ora, se o credor fiduciário não dispõe do jus fruendi, não pode exigir do devedor o pagamento de taxa de ocupação. Efetivamente, os únicos frutos que podem ser exigidos pelo credor são os juros, frutos do capital mutuado. Entendimento diversogeraria bis in idem e enriquecimento sem causa do banco credor, pois, em razão do mútuo de certa quantia em dinheiro, o banco receberia dois frutos, os juros e a taxa de ocupação. Nessa esteira, observa-se que a redação do art. 37-A da Lei n. 9.514/1997 foi precisa ao dispor que a taxa de ocupação somente é devida após a “data da alienação em leilão”, pois, antes da alienação, a propriedade não é plena, mas afetada à satisfação da dívida, não produzindo frutos em favor do credor fiduciário. Do mesmo modo, a redação do art. 38 da Lei n. 10.150/2000 também foi precisa ao insti- O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral tuir o arrendamento especial com opção de compra apenas para os imóveis que a institui- ção financeira tenha “arrematado, adjudicado ou recebido em dação em pagamento”, não para os imóveis adquiridos por consolidação da propriedade fiduciária. Sob outro ângulo, cabe destacar que a Lei impõe um rito célere à alienação extrajudicial, de modo que o pri- meiro leilão deva ser realizado no prazo de trinta dias após o registro da consolidação da propriedade, conforme previsto no art. 27 da Lei n. 9.514/1997, independentemente da desocupação do imóvel. A fixação desse prazo exíguo tem o objetivo de evitar que a ins- tituição financeira permaneça inerte após a consolidação da propriedade, deixando que a dívida se eleve aceleradamente, por força dos encargos da mora. Há, portanto, no refe- rido art. 27, um fundamento de boa-fé objetiva, especificamente concretizada no preceito duty to mitigate the loss, explicado em precedente da Terceira Turma (REsp 758.518-PR, DJe 28-6-2010). Durante esse curto período de 30 dias, as perdas experimentadas pela instituição financeira já são adequadamente compensadas pela multa contratual. Aliás, a incidência de taxa de ocupação geraria o efeito deletério de estimular a inércia da insti- tuição financeira, tendo em vista a incidência de mais um fator de incremento da dívida. Noutro norte, é certo que a boa-fé também impõe deveres ao mutuário, como o de desocu- par o imóvel, caso não tenha purgado tempestivamente a mora. Porém, a violação desse dever impõe perdas potenciais ao próprio mutuário, não à instituição financeira, que já é remunerada pelos encargos contratuais, tendo em vista que o mutuário tem direito à resti- tuição do saldo que restar das parcelas pagas após a quitação da dívida e dos encargos. Destaque-se, ainda, que a Lei n. 9.514/1997 confere ao mutuário o prazo de 60 dias para desocupar o imóvel (art. 30), mas prevê o prazo de apenas 30 dias para a realização do leilão, evidenciando que a lei deu mais relevância à liquidação da dívida do que à questão possessória. Mas, o que fazer na hipótese de leilão frustrado, em que não há alienação? Nessa hipótese, o art. 27 da Lei n. 9.514/1997 prevê a realização de um segundo leilão no prazo de 15 dias, após o qual a dívida será extinta compulsoriamente, exonerando-se ambas as partes de suas obrigações. Ora, havendo extinção da dívida, o imóvel deixa de estar afetado ao propósito de garantia, passando a integrar o patrimônio do credor de forma plena, o que se assemelha a uma adjudicação. A partir de então, o credor passa a titularizar todos os poderes inerentes ao domínio, fazendo jus aos frutos do imóvel, inclu- sive na forma da taxa de ocupação (REsp 1.328.656-GO, Quarta Turma, DJe 18-9-2012). Esclareça-se que, no âmbito da Terceira Turma do STJ, há um julgado em que se admitiu a cobrança de taxa de ocupação desde a consolidação da propriedade, antes, portanto, da data do leilão (REsp 1.155.716-DF, Terceira Turma, DJe 22-3-2012). Esse julgado, contudo, diz respeito a uma situação específica, em que o leilão foi adiado por muito tempo, em razão de decisões judiciais precárias obtidas pelo mutuário; a taxa de ocupação, portanto, foi deferida como forma de compensar as perdas e danos acrescidas em razão dessa demora não imputável ao credor fiduciário.” (REsp 1.401.233-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17-11-2015, DJe 26-11-2015.) (Grifos nossos.) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral São exemplos no Código Civil: “Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. § 1º O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato. § 2º A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.” “Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as consequências. Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no contrato, as despesas de sal- vamento consequente ao sinistro.” • Adimplemento substancial É quando um adimplemento é tão próximo do resultado final que, tendo em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo somente o pedido de indenização. É in- justo invalidar o contrato em razão de um inadimplemento mínimo, pois seria uma violação da função social e da boa-fé objetiva. Em resumo: não pode haver a resolução do vínculo obriga- cional sempre que a desconformidade entre a conduta do devedor e a prestação estabelecida seja pouco relevante.11 Conforme as Jornadas de Direito Civil: “Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.” (Enunciado n. 361 da IV Jornada de Direito Civil). “Art. 475. Para a caracterização do adimplemento substancial (tal qual reconhecido pelo Enunciado 361 da IV Jornada de Direito Civil – CJF), levam-se em conta tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos.” (Enunciado n. 586 da VII Jornada de Direito Civil) Segundo o STJ: JURISPRUDÊNCIA “Recurso especial. Direito civil. Responsabilidade civil. Ação de indenização por danos morais e materiais. Transtornos resultantes da busca e apreensão de automóvel. Finan- ciamento. Alienação fiduciária em garantia. Inadimplemento parcial. Ausência de quitação de apenas uma das parcelas contratadas. Inaplicabilidade, no caso, da teoria do adimple- mento substancial do contrato. Busca e apreensão. Autorização expressa do Decreto-lei n. 911/1969. Exercício regular de direito. Dever de indenizar. Inexistência. Pedido de desis- tência recursal. Indeferimento. Termo final para apresentação. Início da sessão de julga- mento. 1. Ação indenizatória promovida por devedor fiduciante com o propósito de ser reparado por supostos prejuízos, de ordem moral e material, decorrentes do cumprimento 11 A boa-fé objetiva e o adimplemento substancial. Direito contratual. Temas atuais. Anderson Schereiber. São Paulo: Método, 2008 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral de medida liminar deferida pelo juízo competente nos autos de ação de busca e apreensão de automóvel objeto de contrato de financiamento com cláusula de alienação fiduciária em garantia. 2. Recurso especial que veicula pretensão da instituição financeira ré de (i) ver excluída sua responsabilidade pelos apontados danos morais, reconhecida no acórdão recorrido, por ter agido, ao propor a ação de busca e apreensão do veículo, em exercício regular de direito e (ii) ver reconhecida a inaplicabilidade, no caso, da “teoria do adimple- mento substancial do contrato”. 3. A prerrogativa conferida ao recorrente pelo art. 501 do Código de Processo Civil – de desistir de seu recurso a qualquer tempo e sem a anuência do recorrido ou eventuais litisconsortes – encontra termo final lógico no momento em que iniciado o julgamento da irresignação recursal. Não merece homologação, no caso, pedido de desistência recursal apresentado após já ter sido proferido o voto do relator e enquanto pendia de conclusão seu julgamento em virtude de pedido de vista. Precedentes. 4. A teor do que expressamente dispõem os arts. 2º e 3º do Decreto-Lei n. 911/1969, é assegurado ao credor fiduciário, em virtude da comprovação da mora ou do inadimplemento das obri- gações assumidas pelo devedor fiduciante, pretender, em juízo, a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente. O ajuizamento de ação de busca e apreensão, nesse cená- rio, constitui exercício regular de direito do credor, o que afasta sua responsabilidade pela reparação de danos morais resultantes do constrangimento alegadamente suportado pelo devedor quando do cumprimento da medida ali liminarmente deferida. 5. O fato de ter sido ajuizada a ação de busca e apreensão pelo inadimplemento de apenas 1 (uma) das 24 (vinte e quatro) parcelas avençadas pelos contratantes não é capaz de, por si só, tornar ilícita a conduta do credor fiduciário, pois não há na legislação de regência nenhuma restri- ção à utilização da referida medida judicial em hipóteses de inadimplemento meramente parcial da obrigação. 6. Segundo a teoria do adimplemento substancial, que atualmente tem sua aplicação admitida doutrinária e jurisprudencialmente, não se deve acolher a pre- tensão do credor de extinguir o negócio em razão de inadimplemento que se refira a parcela de menos importância do conjunto de obrigações assumidas e já adimplidas pelo devedor. 7. A aplicação do referido instituto, porém, não tem o condão de fazer desaparecer a dívida não paga, pelo que permanece possibilitado o credor fiduciário de perseguir seu crédito remanescente (ainda que considerado de menor importância quando comparado à tota- lidade da obrigação contratual pelo devedor assumida) pelos meios em direito admitidos, dentre os quais se encontra a própria ação de busca e apreensão de que trata o Decre- to-lei n. 911/1969, que não se confunde com a ação de rescisão contratual – esta, sim, potencialmente indevida em virtude do adimplemento substancial da obrigação. 8. Recurso especial provido para, restabelecendo a sentença de primeiro grau, julgar improcedente o pedido indenizatório autoral.” (REsp 1255179/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Ter- ceira Turma, julgado em 25-8-2015, DJe 18-11-2015). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral “Leasing. Adimplemento substancial. Trata-se de REsp oriundo de ação de reintegração de posse ajuizada pela ora recorrente em desfavor do ora recorrido por inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil (leasing). A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, entendeu, entre outras questões, que, diante do substancial adimplemento do contrato, ou seja, foram pagas 31 das 36 prestações, mostra--se desproporcional a pretendida reintegração de posse e contraria princípios basilares do Direito Civil, como a função social do contrato e a boa-fé objetiva. Consignou-se que a regra que permite tal reintegração em caso de mora do devedor e, consequentemente, a resolução do con- trato, no caso, deve sucumbir diante dos aludidos princípios. Observou-se que o meio de realização do crédito pelo qual optou a instituição financeira recorrente não se mostra consentâneo com a extensão do inadimplemento nem com o CC/2002. Ressaltou-se, ainda, que o recorrido pode, certamente, valer-se de meios menos gravosos e proporcio- nalmente mais adequados à persecução do crédito remanescente, por exemplo, a execu- ção do título” (Precedentes citados: REsp 272.739/MG, DJ de 2-4-2001; REsp 469.577/SC, DJ de 5-5-2003, e REsp 914.087/RJ, DJ de 29-10-2007. REsp 1.051.270/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4-8-2011) educAção e InformAção dos consumIdores “IV – educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;” Este princípio estabelece que é dever de todos, Estado, entidades privadas de defesa do consumidor, empresas etc., informar e educar o consumidor acerca de seus direitos e deveres, para que possa atuar de maneira mais consciente no mercado de consumo, acarretando, con- sequentemente, uma sociedade mais justa e equilibrada. Este inciso apresenta paralelamente a educação e informação de fornecedores e consumi- dores, manifestando a sua complementaridade. Assim, quanto mais informações, menor se- rão os conflitos nas relações de consumo, justificando a preocupação com a conscientização das partes. A Lei n. 12.291/2010, que obriga os locais comerciais e de prestação de serviços a ter em seus estabelecimentos um exemplar do CDC é um grande exemplo da aplicação deste princí- pio. Destaca-se ainda o art. 6º, inciso II do CDC: “Art. 6º São direitos básicos do consumidor: II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações.” O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para ALEXANDRE DE OLIVEIRA RODRIGUES - 38616505253, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 90www.grancursosonline.com.br CDC – Arts. 4º ao 6º CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Cristiano SObral A educação, nessa perspectiva, deve ser pensada sob dois enfoques: a) educação formal, que é a ministrada no primeiro grau das escolas públicas e privadas, tratando o tema em disci- plinas que apresentem os aspectos legais e institucionais, e ciências que cuidarão da qualida- de da água e dos alimentos, etc.; b) educação informal, de responsabilidade dos próprios for- necedores, procurando informar apropriadamente o consumidor em relação às características dos produtos e serviços colocados no mercado.12 Ademais, os órgãos públicos de proteção e defesa do consumidor têm um importante papel e têm desempenhado, e algumas entidades privadas também, a elaboração de cartilhas, realizado de- bates e pesquisas de mercado, procurado informar e conscientizar os consumidores de seus direitos. controle de QuAlIdAde e mecAnIsmos de AtendImento PelAs PróPrIAs emPresAs “V – incentivo à criação, pelos fornecedores, de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos
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