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Análise retórica do filme O Grande Desafio

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
ALUNAS: ANA CAROLINE CORREIA E RAÍSSA DIAS
DOCENTE: PROFESSOR Dr. LUCAS NASCIMENTO
TPO. ESP. LING. PORTUGUESA
Análise retórica do filme “O Grande Desafio”
A retórica nasce na Grécia após a necessidade de alguns povos reivindicarem o que lhes eram de direito, por ora essa técnica valida por meio da persuasão uma defesa em prol da causa assumida. Conceituada pelos sofistas como “arte oratória” (tekné rhetoriké) a retórica foi disseminada ao ser praticada em diversos espaços, como assembléias e tribunais, se utiliza preferencialmente de aspectos argumentativos e/ou afetivos e passou a ser bastante praticada pelos retores. Os argumentos usados pelos retóricos por sua vez eram empíricos e considerados por Platão e Sócrates inverossímeis, para estes era preciso praticar a dialética, pois esta se apropriava da verdade absoluta e continha fundamentos válidos. Já para Aristóteles a utilidade da retórica é indispensável, pois esta serve para colocar a dialética em prática para o grande público. Aristóteles concebe a retórica e a dialética como a arte da linguagem ambas contam com três tipos de argumentos: patos e etos (ordem afetiva) e logos (racional). Tomando como base a nova retórica de Aristóteles iremos analisar na obra fílmica “O grande desafio” a presença das quatro fases pelas quais passa quem compõe o discurso são elas: invenção, disposição, elocução e ação. (REBOUL, OLIVIER, 1925, p. 48 - 49)
No filme o professor Melvin Thompson atuante de movimentos sociais, consciente do seu lugar de fala e da força da educação, decidido por incluir a Universidade de Willey no campeonato entre universidades incluindo a de Harvard decide formar um grupo de debatedores jovens negros que irão difundir e reivindicar um novo lugar social aos negros. O professor de modo motivador forma com excelência o grupo composto pela aluna Samantha e por Henry e James. Embora o racismo seja a temática principal, o filme discorre sobre outros assuntos como: a importância do conhecimento/educação, do papel do professor e argumentação como forma de libertar o olhar e consciência da sociedade da ignorância do racismo e de outros temas. 
Na trama podemos encontrar diversas partes que dizem respeito à organização do discurso e montagem dos argumentos, nesse momento o grupo faz uso da invenção (heuréses) essa fase por sua vez diz respeito à busca dos meios que construam e fortaleçam os argumentos. (REBOUL, OLIVIER, 1925, p. 44) Podemos identificá-la durante as aulas em que o professor ensina o que é necessário para compor o discurso, traz referências diversas para fundamentar os argumentos, a invenção também pode ser observada na preparação para o debate em Harvard onde colocam em prática a função heurística e hermenêutica da retórica, além de escolher os exemplos, conceitos e citações que guiariam seus argumentos, como por exemplo, o conceito de Gandhi de Satyaghaha (verdade e justiça), Santo Agostinho e Henry Thoreau. Os gêneros que mais prevalecem são Deliberativo e Epidítico, embora haja a presença do judiciário com os avaliadores/juízes dos debates. 
Em seguida ganha destaque a disposição (táxis) que é o momento da organização desses argumentos e pode ser feita em quatro planos-tipos. O primeiro o exórdio que ocorre quando no quarto debate (Harvard), James inicia o discurso usando dois exemplos o de Dyer e Gandhi e faz uma analogia entre ambos e finaliza chamando a atenção do público com um questionamento que ele e sua parceira (Samantha) irão responder durante o debate. O aluno de Harvard rebate de forma objetiva usando o argumento de que defender seu país com violência pode ser moral e que a não violência esconde a máscara da anarquia. Nesse momento é introduzida a narração, pois o aluno apresenta o assunto e o embasa de acordo com a tese. A narração por sua vez diz respeito a exposição dos fatos e esta apresentação já institui o argumento. Ela também acontece quando James relata que “No Texas lincha-se negros” unindo a tese narração e alcança o momento alto do debate. Samantha por sua vez contra-argumenta o oponente com humor e silogismo fazendo prevalecer aí o estilo ameno da elocução. Ao falar que Gandhi acredita que aqueles que não cumprem a lei deve ser punidos ela utiliza a confirmação como forma de refutar o argumento adversário. O oponente diz que até Hitler concordaria com sua colocação, a aluna usa um argumento lógico e irrefutável ao dizer que a consciência é quem determina o que é certo ou errado. Para finalizar, o oponente diz que a lei é incorruptível e o que leva James a usar como exemplo a morte injusta de um negro e questionar a ineficácia da lei e relatar que no Texas ela não é aplicada para os negros. Nesse momento ele utiliza a peroração – fim do discurso – e comove a platéia ao finalizar seu discurso. (REBOUL, OLIVIER, 1925, p.55-56, 57-58-59)
Logo após temos a elocução, parte destinada “redação” do discurso do orador, onde o mesmo por meio de sua fala exprime sua identidade própria e o seu estilo. Podemos encontrá-la na cena (min.53:00 – 54:46) - A oradora inicia o discurso com tons de fala baixos e a platéia pede para que aumente o tom de voz. Em seguida a oradora adapta-se ao que a platéia pede e lança seus argumentos, algumas pessoas não dão ouvidos ao que ela fala retirando-se do local, mas logo ela utiliza da confirmação, parte referente à disposição dando força ao seu primeiro argumento para de certo modo persuadir a platéia fazendo com eles ganhassem interesse por sua fala. Para dar força ao seu argumento ela adaptou seu estilo de fala e seu argumento de acordo com o assunto e o seu público receptor, fazendo assim o uso da elocução. 
Logo depois, (min. 56:06-57:35 )observa-se como a oradora através do argumento de seu oponente que aparentemente havia convencido a platéia do seu ponto de vista, adaptou o seu discurso ao utilizar as palavras certas de forma a transpor a sua identidade e a clareza necessária para que o auditório compreendesse e se convencesse da veridicidade das exposições feitas em seu discurso. (REBOUL, OLIVIER, 1925, p.62)
Por último e não menos importante temos o plano-tipo ação que trata da proferição do discurso podendo ser identificada nas reuniões, no treinamento que acontece no lago onde é analisado a postura dos oradores, o tom da voz, a distância que é feita, a frase repetida diversas vezes a frase fica claro que os alunos não devem se preparar para seu adversário, além dos debates que configuram a prática bem como o ganho da experiência. Ainda sobre a cena relatada acima ação também pode ser identificada no quarto debate em que os oradores apresentam para o auditório a sua ideia que antes estava posta em plano. Nesta etapa é importante que o orador compreenda que se expressar escrevendo é diferente de se expressar falando, deste modo se faz importante que a sua fala seja um pouco mais lenta afim de que o público entenda, usando de frases mais curtas com expressões concretas para facilitar a compreensão. É o momento que o locutor tem para fazer uma espécie de atuação, para convencer o seu público e atribuir veracidade ao discurso o que leva a platéia a se convencer ou até se comover com o discurso.
Em outra cena (01h51min: 00 – 01h51min: 48) o debatedor de Harvard “representa” sobre a morte de um amigo policial de seu pai que morre durante o cumprimento do dever, ele utiliza desse artifício a fim de convencer a platéia enquanto a comove. Na cena seguinte 01h52min: 28, o orador também usa desse mesmo artifício quando cita um fato vivenciado pelo mesmo junto aos seus colegas (o linchamento de um negro no Texas), dessa forma não só para convencer a platéia, mas para dar força a sua tese. É importante ressaltar que mesmo o fato sendo verdadeiro foi necessário toda uma “atuação” para que o público fosse convencido. (REBOUL, OLIVIER, 1925, p.67)
Nesta obra fílmica o uso da retórica é uma excelente ferramenta para direcionar o orador e seus argumentos. Para Reboul, o verdadeiro orador é um artista no sentido de descobrir argumentosainda mais eficazes do que se esperava e o que se pode observar é que esses oradores se tornaram os verdadeiros artistas na arte de argumentar. (REBOUL, OLIVIER, 1925, p.XVI) 
Referências
O GRANDE DESAFIO. Direção: Denzel Washington. Produção: Todd Black, Kate Forte, Joe Roth e Oprah Winfrey. Local: Estados Unidos, 2007. Youtube.
REBOUL, Olivier. Introdução à retórica/ Olivier Reboul: Tradução Ivone Castilho Benedetti. –São Paulo: Martins Fontes, 2004. – (Justiça e direito)

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