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Influências culturais no comportamento do consumidor Renata Mateus Introdução Saiba que a cultura é algo presente no dia a dia dos seres humanos. Todos nós, de alguma forma, somos impactos por ela. Mas como a cultura pode influenciar nosso comportamento de compra? É o que veremos ao longo das próximas páginas. Nesta aula, entenderemos o que é cul- tura, subcultura e como ela influencia no comportamento do consumidor. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o que é cultura, subcultura e cultura do consumo, e como esses fatores influenciam no comportamento do consumidor. 1 Definição de cultura O termo “cultura” é tão abrangente que se torna um desafio defini-lo. Para podermos entender o que é cultura, precisamos inicialmente estudar de onde vem esse termo, ou seja, iremos recorrer à etimologia da palavra. SAIBA MAIS! Cultura é objeto central dos estudos da disciplina chamada Antropologia. No livro “Antropologia do consumo: casos brasileiros”, de Carmen Migueles, você poderá ler mais sobre o conceito e sua relação com o consumo. Segundo Eagleton (2011), a palavra cultura é de origem latina e sua origem é o verbo colere, que significa cultivar, criar, honrar, tomar conta ou cuidar. Eagleton (2011) relata que, inicialmente, a palavra era utilizada para designar aqueles que lidavam com a terra, que a cultivavam, isto é, agricultores. Por volta do século XVI, a palavra ganhou um novo significado e passou a ser utilizada para questões religiosas e espirituais. Com a chegada da Revolução Industrial, “cultura” ganhou mais um significado e passou a ser associada ao progresso, isto é, ao aprimoramento, à ação humana, à autonomia individual, ao domínio do homem sobre a natureza. Por fim, o verbete passou a significar o resultado da edu- cação dos seres humanos, suas obras, feitos, ações, tornando-se sinônimo de civilização. Como você pode perceber, a etimologia é antiga e compreende muitas utilizações. FIQUE ATENTO! A melhor forma de definir cultura hoje é a ação criativa do homem sobre a natureza. Graças à capacidade cognitiva do ser humano e à transmissão de conhecimentos, que pos- sibilita a perpetuação de técnicas e hábitos de geração em geração, muitas culturas perduram até hoje. Podemos dizer que cultura é tudo que o homem cria com sua ação, portanto, tudo que não for natureza é objeto de cultura. EXEMPLO Uma árvore é um objeto da natureza, porém a partir do momento em que o homem transforma essa árvore em um móvel, isso passa a ser um objeto de cultura. Essa ação criativa pode ser de natureza material, a qual implica na transformação da maté- ria-bruta em objetos, vestimentas, construções etc., e também imaterial. Entenda que imaterial quer dizer intangível, ou seja, que não se pode tocar, como um comportamento ou conhecimento que é ensinado. Pense na ética, nas crenças, nos costumes e no modo de ser e se vestir, por exemplo. Saiba ainda que esse modo de ser envolve valores, tanto desejáveis quanto indesejáveis. Para facilitar nosso convívio em sociedade, há normas, ou seja, conjuntos de regras formadas a partir desses valores. Figura 1 – Cultura de natureza imaterial Fonte: Tropical studio/Shutterstock.com Quando falamos em cultura, percebemos uma grande contradição. Ao afirmarmos que deter- minada pessoa tem cultura enquanto outra não, percebemos claramente o impasse. Podemos dizer que todas as pessoas têm cultura? Quando mencionamos a cultura brasileira, por exemplo, da qual todos os brasileiros fazem parte; como podemos falar que determinado indivíduo não tem cultura? A cultura é um conjunto de conhecimentos e práticas adquiridas que se manifestam tanto individualmente quanto no coletivo. Em relação à cultura do consumidor, podemos defini-la como a soma dos valores e costumes aprendidos, servindo para direcionar o consumo. FIQUE ATENTO! A cultura não é estática, estando em contínuo processo de evolução. Nela, velhas ideias são reformuladas e apresentadas como novas. A cultura desempenha a função normativa e avaliativa na vida dos indivíduos de uma socie- dade, servindo como um padrão de orientação e um horizonte de comparação com o comporta- mento alheio. Nesse cenário, qualquer comportamento divergente poderá ser punido. SAIBA MAIS! Solomon, no terceiro capítulo de seu livro “O Comportamento do Consumidor: Comprando, Possuindo e Sendo” (2016), fala sobre a diferença entre mitos e rituais que fazem parte da cultura. Engel, Blackwell e Miniard (2005) mostram que a cultura pode definir como os produtos são utilizados, como marcas e suas comunicações são percebidas, quais são as relações aceitáveis do mercado e quais são os valores éticos. 2 Cultura e consumo Com a sociedade cada vez mais globalizada e com a ascensão da internet na vida dos con- sumidores, é comum vermos pessoas “pegando conceitos e hábitos emprestados” de culturas que admiram, mas que não necessariamente são as suas. Não é mais necessário estar na Índia para praticar a cultura deles, pro exemplo. Para entender a nova lógica do consumo, é importante compreender o que provocou grandes mudanças sociais e culturais e, consequentemente, modificou o comportamento dos consumi- dores. O consumo atual é resultado de um longo processo de mudanças sociais, econômicas e culturais. Cultura e consumo assumiram uma relação nunca vistas antes. Figura 2 – Cultura do consumo Fonte: Laborant/Shutterstock.com Sabemos que os bens de consumo possuem um significado que vai além de seu benefí- cio ou valor comercial. O valor muitas vezes engloba um significado cultural, pois o ato de consumir determinado item demonstra uma posição social, o pertencimento a um grupo de determinado status. 3 Subculturas Há também as subculturas ou microculturas, que possuem símbolos compartilhados por um grupo mais seleto de indivíduos. Podemos dizer que fazem parte de uma subcultura pes- soas que partilham com os demais membros da sociedade alguns padrões da cultura geral, mas que entre si seguem diretrizes ou filosofias mais específicas. Suas crenças, valores, nor- mas e padrões de comportamento são diferentes de outros subgrupos ou de uma cultura mais abrangente ou predominante. EXEMPLO Os motociclistas amantes da marca Harley Davidson, que compratilham os mes- mos valores, símbolos e hábitos em relação à marca. Saiba que há subculturas com caracteristicas étnicas, regionais e organizacionais. Confira algumas das principais tipologias de subcultura: • etnia; • faixa etária; • gênero; • nacionalidade; • localização (urbana, rural, capital); • classes sociais; • hábitos alimentares; • modismos. Figura 3 – Subgrupos Fonte: Shutterstock.com Kotler (2006) retrata que cada cultura é formada por subculturas, isso é, grupos menores, que trarão uma identificação mais específica e socialização para os indivíduos desses subgrupos. Para as organizações é importante entendê-las, para que consigam explorar características sociocul- turais e demográficas como nacionalidade, religião, localização geográfica, raça, idade, gênero e status social, direcionando assim estratégias a cada grupo. 4 Fatores culturais O processo de compra e de decisão do consumidor sofre diversas influências, entre as quais temos os fatores culturais. A cultura é um dos principais fatores, mais abrangente e abstrato, a ser analisado no comportamento do consumidor. Diversos fracassos de marcas e produtos podem ser justificados pela falta de sensibilidade na consideração da realidade cultural dos consumidores. Figura 4 – Fatores de infl uência do comportamento do consumidor Fatores sociais • Grupos de referência • Família • Papeis de posições sociais Fatores pessoais • Idade e estágios do ciclo de vida • Ocupação • Condições econômicas • Estilo de vida Fatores psicológicos • Motivação • Percepção, personalidade, autoconceito • Aprendizagem • Crenças e atitudes Fatores culturais • Culturas • Subculturas • Classes sociais Fonte: desenvolvidapela autora, 2016. Entender como as sociedades e seus subgrupos são conduzidos, cada qual com sua perso- nalidade, resultante de uma herança social, isso é, um estilo próprio de comportamento, ajuda a compreender como tudo isso refl ete nas decisões de compra. Com o passar do tempo, adquirimos valores, percepções, preferências e comportamentos que vieram da própria estrutura familiar ou de outras entidades, como escola, trabalho etc. FIQUE ATENTO! A partir do momento em que marcas ganham novos horizontes, principalmente inter- nacionais, mais se faz necessário uma análise do impacto cultural nessas sociedades. As escolhas de consumo feitas pelos consumidores não podem ser compreendidas sem que seja analisado o contexto cultural. Tal fator é de suma importância e deve ser analisado no desen- volvimento de estratégias das empresas, já que elas devem ser condizentes com suas expec- tativas. Para Solomon (2016, p. 79), “a cultura do consumidor determina as prioridades que ele associa a diferentes atividades e produtos”. Entenda da seguinte maneira: os produtos que aten- dem de forma coerente os desejos dos consumidores de uma cultura, têm uma chance maior de aceitação do mercado. Fechamento Chegamos ao final do conteúdo, que abordou as influências da cultura no comportamento do consumidor. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender o que é cultura, subcultura e cultura do consumo, e como esses fatores influenciam no comportamento do consumidor Referências KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. MIGUELES, Carmen. Antropologia do consumo: casos brasileiros. 1. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. EAGLETON, Terry. A ideia de Cultura. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2011. ENGEL, James; BLACKWELL, Roger; MINIARD, Paul. Comportamento do consumidor. 9. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 11 ed. Porto Alegre: Bookman, 2016. HAWKINS, Del L.; MOTHERSBAUGH, David L.; BEST, Roger J. Comportamento do consumidor: Construindo a Estratégia de Marketing. Tradução de Cláudia Mello Belhassof. 10. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2007.
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