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1 Disciplina: Administração Escolar: teoria e prática Autores: D.r Marcus Quintanilha da Silva Revisão de Conteúdos: Esp. Marlon Richard Alves Pillonetto Revisão Ortográfica: Esp. Marlon Richard Alves Pillonetto Ano: 2017 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Marcus Quintanilha da Silva Administração escolar: teoria e prática 1ª Edição 2017 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA SILVA, Marcus Quintanilha da. Administração Escolar: teoria e prática / Marcus Quintanilha da Silva. – Curitiba, 2017. 44 p. Revisão de Conteúdos: Marlon Richard Alves Pillonetto. Revisão Ortográfica: Marlon Richard Alves Pillonetto. Material didático da disciplina de Administração Escolarl: teoria e prática – Faculdade São Braz (FSB), 2017. ISBN: 978-85-5475-143-2 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Esta disciplina tem por objetivo aprofundar conceitos da Administração Escolar. Desse modo, inicialmente, entende-se como um conceito bastante amplo e interpretado de diversas formas de acordo com o contexto histórico no qual está inserido. Por isso, o mesmo será trabalhado em abordagens distintas: histórica, conceitos contemporâneos, organização da escola e gestão democrática. Para isso, as quatro aulas buscarão trabalhar essas abordagens de forma sequencial e dialógica, sem perder de vista os autores de referência e a discussão da experiência profissional de cada um. 6 Aula 1 - Histórico das teorias de Organização e Administração Escolar Apresentação da aula 1 A administração escolar é reconhecida como um elemento importante da qualidade da educação e organização da escola. Não obstante, esse conceito tem um aspecto histórico importante, haja vista que no decorrer do percurso da pesquisa educacional no Brasil, ele passou por algumas interpretações. Desse modo, nesta aula, objetiva-se explorar alguns autores clássicos, buscando apreender essas interpretações e críticas aos mesmos. 1.1 Considerações iniciais O marco histórico legal do direito a educação no Brasil remonta o contexto da Constituição Federal de 1934, onde, pela primeira vez na história desse país, o Poder Público incorporou em sua Carta Magna a educação como uma política pública e de sua responsabilidade. Desde então, apesar de avanços e retrocessos em termos legais e políticos, a educação teve um aumento de demanda e complexidade em seu contexto. A Administração Educacional faz parte desse processo, sendo progressivamente reconhecida como elemento de importância na qualidade da educação e organização da escola. É nesse sentido que iniciamos nossos estudos em Administração Escolar. 1.2 Contexto inicial: estudo sobre administração escolar no Brasil de 1930 a 1970 No Brasil, existem algumas demarcações históricas acerca dos estudos sobre administração escolar. O diálogo desta aula se dá a partir do estado da arte de Souza (2007), que elaborou em parte da sua tese de doutorado uma revisão e análise de estudos sobre administração escolar em nosso país durante o século passado. 7 Ainda que a grande expansão do atendimento da demanda educacional brasileira tenha começado algumas décadas aquém, a partir da terceira década do século XX começaram a surgir alguns estudos sobre administração escolar. E este pano de fundo se remete à ampliação do acesso, a pressão social da população de atendimento por parte do Estado, a Constituição Federal de 1934, inovadora em termos legais do direito a educação e a crescente complexidade do contexto educacional, que começa a preocupar-se com questões que vão além da aprendizagem no contexto de sala de aula. De acordo com Souza (2007), um dos primeiros autores a trazer a administração escolar para o contexto da pesquisa educacional é Antônio Carneiro de Leão. Em 1939 ele inicia estudos através de análise comparada com outros países e sistemas de ensino, enfatizando a figura do diretor escolar, um sujeito que era, sobretudo, um defensor da política educacional e dos interesses do Estado. O mesmo defendia o diretor como um professor e tratava este como sinônimo da administração educacional, já que a escola era a “cara” do diretor. Complementando a descrição dos estudos desse autor, o mesmo enfatizava que o diretor era um elemento de execução de funções administrativas e, para ele, na visão de Souza (2007), o pedagógico do diretor estava justamente no fato de exercer bem a parte administrativa, possibilitando uma educação de qualidade para a escola. A característica deste, e de outros estudos que comentaremos nessa aula, é que eram provenientes de modelos de pesquisa dos Estados Unidos, que, além da perspectiva de análise comparada de Leão, tinham um caráter prescritivo, ou seja, descrevendo como a escola deveria ser, e não como ela era. Outro autor citado na obra de Souza (2007) é José Quirino Ribeiro. Este, pela interpretação do nosso autor de base [Souza], pouco dialogava com a prática escolar, pois entendia que processos da administração científica, basicamente de F. W Taylor e H. Fayol, eram, ao menos teoricamente, aplicáveis ao contexto escolar brasileiro. Em textos publicados na década de 1950, Ribeiro lidava mais com sugestões para a organização da administração escolar do que efetivamente com a função do diretor. O cenário de construção teórica desse autor tinha como justificativa o crescente aumento da demanda e, consequentemente, da complexidade da escola, que implicava na necessidade de maior discussão 8 acerca da temática na qual vinha trabalhando. Sobre Ribeiro, Souza (2007, p. 19) discorre que: O autor reconhece que a administração escolar tem a tarefa de organizar e coordenar os trabalhos escolares, a partir de informações coletadas na própria fonte dos problemas educacionais, uma vez que admite que nenhuma regulação estatal acerca dos currículos pode cercear a liberdade de condução da ação pedagógica do professor. Em resumo, o autor comentado reconhecia a necessidade de avanço na temática e via no cientificismo da administração uma possibilidade de teorizar com maior consistência a discussão. O antes (previsão, planejamento e organização), durante (assistência e comando na execução) e depois (espécie de mediação) eram tidos como fundamentais e complementares no processoadministrativo da escola. Os três eixos: materiais, humanos e legais, também eram considerados nas ações do administrador escolar. Por fim, foi o primeiro de uma série de autores a problematizar a face política da escola, sua administração e direção. Importante Para Souza (2007), os meios materiais são a utilização dos recursos financeiros, os legais são os que embasam e respaldam juridicamente os processos que ocorrem na gestão e os meios humanos, considerados o mais importante, são referentes às relações cotidianas na escola Fonte: ©Freepik. Link da imagem: <https://www.freepik.com/free-vector/infographic-school- template_710565.htm#term=educacão&page=1&position=44>. 9 Ainda em diálogo com a revisão de Souza (2007), em 1963, Manoel Bergström Lourenço Filho, ao lançar sua obra sobre administração escolar, torna-se referência ao buscar respostas que não estivessem no modelo burocrático da escola. Segundo o autor, a burocracia se sobressaindo a outros aspectos da administração perdiam a razão de sua essência. Há uma ênfase em Lourenço Filho, diferentemente de outros autores aqui citados, nas relações interpessoais e o diretor escolar como coordenador desse processo. O destaque da obra de Lourenço Filho, e inovação para a época, é a busca da superação de uma análise burocrática para a proposição de uma reflexão da escola através de um sistema social, pois para o mesmo, uma escola tem uma boa administração através de “planejamento, estrutura burocrática e controle da dinâmica organizacional” (RIBEIRO; MACHADO, 2007, p. 22). Os estudos sobre Administração Escolar eram, até a década de 60, voltados a resolver os problemas da escola pensando nas ações administrativas e burocráticas. Lourenço Filho (1963) representa uma ruptura a essa ideia, ao enfatizar na sua obra que enfatiza a busca e a superação de uma análise burocrática para a proposição de uma reflexão da escola através de um sistema social, com planejamento, estrutura burocrática e controle da dinâmica organizacional. Sobre as responsabilidades do diretor escolar, Souza elenca, na visão de Lourenço Filho, que: Lourenço Filho enumera uma série de procedimentos necessários ao dirigente escolar na busca de eficiência e de influência sobre as atividades de ensino que vão desde o processo de sistematização dos objetivos, readequação da relação meios e fins, até os cuidados com os edifícios escolares, zelo na frequência dos alunos, regularidade com a documentação escolar, inspeção do trabalho dos professores, avaliação dos resultados de todo o trabalho. (SOUZA, 2007, p. 47) Portanto, a visão de Lourenço Filho ia além das questões administrativas. No decorrer de suas obras, o autor sempre destacou a razão pedagógica da administração escolar e do diretor como sendo uma parte integrante do trabalho deste. É uma mudança no olhar da administração escolar, 10 que, no Brasil, começa a ser sedimentado por ele e outros pesquisadores contemporâneos à sua época. 1.2.1 Anísio Teixeira e a contemporaneidade de seus estudos Um dos grandes educadores e gestores educacionais da história do Brasil é Anísio Teixeira. Jurista, educador, intelectual e escritor, viveu de 1900 a 1971 e ainda é reconhecido como um homem à frente de seu tempo. Seus trabalhos são tidos como referências ainda atuais pela visão de presente e futuro que embasam suas obras. Dentre as suas críticas, segue como uma das principais o modelo centralizador da ditadura do Estado Novo de 1937 a 1945, pela perda de autonomia das escolas e sistemas de ensino. Segundo o autor, a autonomia das escolas é fundamental, sendo fiscalizada e normatizada por órgãos centrais. Para Anísio Teixeira, a administração escolar precisava caminhar com a crescente complexidade da escola, objetivando a organização da escola. Este considerava a administração como uma forma de poder e, no caso dessa na escola, uma ação política e pedagógica, com uma essência baseada na função de educar e no trabalho dos professores. Os estudos de Anísio Teixeira sobre a administração escolar são, em sua grande maioria, prescritivos, elencando como as coisas deveriam ser. O autor focaliza em sua obra três principais temáticas: a) a diferença entre a administração empresarial e a administração escolar; b) a administração escolar como tarefa a ser executada por um educador ou professor; c) a democratização da escola. Na primeira temática, o embate entre administração empresarial e escolar se dá justamente pelo fim educacional, tendo em vista que na empresa o ato de administrar se volta para o planejamento máximo e a execução mínima, ou seja, a busca do lucro, enquanto na educação o fim é o professor e as condições de trabalho do mesmo. Na segunda proposição, a execução da administração escolar a ser dada por um professor é necessária pelo fim da gestão educacional, que é o ensino. Nesse aspecto, o autor faz uma crítica ao despreparo do professor 11 brasileiro para assumir essa função, reconhecendo que é necessária maior formação especializada para tal. Por fim, o terceiro tema traz a democratização da escola, criticando o perfil autoritário e elencando a gestão democrática e participação dos profissionais da escola nos processos decisórios como algo importante na escola pública. Complementa esta crítica ao excesso de burocratização dos sistemas e da administração escolar, que eventualmente desvia o foco da direção escolar para as atividades meio, e não o fim, que é o ensino. Vocabula rio Atividade meio: é aquela atividade que não é inerente ao objetivo principal da instituição, isto é, refere-se ao serviço necessário, porém que não tem relação direta com a atividade principal da instituição. Atividade fim: é a atividade que identifica a área de uma instituição, na qual são desenvolvidos processos de trabalho que caracterizam de forma evidente às ações que por definição constituem o objetivo para o qual a instituição foi criada. Saiba Mais Célia Maria Ferreira Cordeiro faz um resgate interessante da visão futurista de Anísio Teixeira. Trata-se de um texto acadêmico que auxilia no entendimento da obra deste grande educador: Anísio Teixeira, uma "visão" do futuro. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01 03-40142001000200012>. 1.3 Discussão sobre administração e gestão escolar da década de 1970 a 1990: a diferenciação entre administração e diretor escolar A partir de meados da década de 1970, a discussão sobre a temática dessa aula ganha contornos de densidade. Na revisão de estudos em 12 administração escolar de Souza (2007), Myrtes Alonso se destaca, em 1976, não pelo avanço na temática, mas pela contemporaneidade do seu tempo. Em meados da ditadura, a autora reforça aspectos como a hierarquia do diretor, o insucesso da administração da escola pelo diretor ser um professor e, por esse motivo, não ter conhecimento científico de administração, pouca produção acadêmica e, por isso, a legislação ser a reguladora das ações administrativas e, consequentemente, insuficiente para dar conta da atividade meio. Diferentemente de Myrtes Alonso, Benno Sander não considera a administração escolar como ramo da administração geral. O autor discute a temática como um ato político e pedagógico. Apesar do autor enfatizar a participação, pouco aprofunda a questão no que diz respeito à face política. Sobre a função do dirigente escolar, Souza (2007) elenca critérios relevantes desse sujeito: sua relevância, relacionando com a dimensão humana; a efetividade, relacionada à dimensão sociopolítica; a eficácia, voltada à dimensão pedagógica; e a eficiência, aspecto característico da dimensão econômica. É ao final dos anos 1970 e início da década de 1980 que os autores passam a escrever críticas a trabalhos anteriores, em particular diferenciandoconceitos como administração escolar e diretor de escola e dos escritos demasiadamente técnicos sobre administração. É nesse contexto que Miguel Arroyo passou a aprofundar em seus estudos as relações de políticas que envolvem a gestão escolar. Para esse autor, a administração escolar não era, conforme autores anteriores apontavam, a solução dos problemas educacionais, pois havia um pano de fundo mais amplo, que envolvia a organização da economia e do Estado, de influência direta no contexto educacional. Sobre a discussão de Arroyo, a administração é uma forma de poder. Souza (2007, p. 68) enfatiza que, para esse autor, “as relações de poder estão no epicentro do objeto da administração”. A complementação do constructo de Arroyo se dá na sua preocupação com o fazer pedagógico e os objetivos da escola, uma vez que para ele quem administra a escola precisa conhecê-la. Ao longo da década de 1980, autoras como Maria Dativa Gonçalves, Maria de Fátima C. Félix, Acácia Z. Kuenzer Zung, entre outras, dão continuidade 13 às discussões contemporâneas sobre administração escolar, questionando a mesma como um remédio para a educação. Tais autoras elencam questões como a lógica capitalista na administração escolar, a formação continuada do diretor seguindo preceitos empresariais e o não reconhecimento da face política da administração da escola por parte de autores anteriores. 1.3.1 Vitor Henrique Paro e a crítica aos estudos sobre administração escolar É na virada dos anos 1980 e 1990 que Vitor Henrique Paro surge como um autor de referência para as pesquisas da época. A crítica do autor sobre estudos clássicos de administração escolar no Brasil se baseiam em dois aspectos: a) o uso da administração empresarial na escola; b) a crença que vinha sendo construída sobre a não necessidade de administração na escola, apesar do reconhecimento dos mesmos sobre a especificidade da mesma no contexto escolar. Em citação de Ângelo Souza sobre a obra de Paro: “Administração é a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados. Assim pensada, ela se configura como uma atividade exclusivamente humana”. (PARO, 1988, p. 18 apud SOUZA, 2007, p. 86). Sendo assim, a racionalidade no uso dos recursos, visando os fins da escola, é de responsabilidade do diretor, ou seja, um aspecto da administração no contexto escolar. Sobre a face política e as disputas de poder, o autor considera o diretor como um sujeito no centro desse processo e, consequentemente, visto pela escola e a comunidade como figura máxima. Tal autor ainda problematiza a questão ao discorrer sobre a questão do diretor como representante do Estado. Como grande parte dos problemas educacionais são solucionados ou normatizados pelos sistemas de ensino, acredita-se que uma transformação da administração, contemplando a face técnica e política da função, seria importante, pois Esta interface exige a percepção política e a intervenção técnica da administração escolar sobre os currículos, métodos de ensino, pessoal, etc., com vistas ao incremento da luta para a transformação da sociedade, envolvendo mais a participação da comunidade nas 14 suas decisões e apoiando a ampliação da participação da população nas diferentes instâncias da sociedade. (SOUZA, 2007, p. 92) Apesar dessa abordagem, Paro não tem como destaque a face política da administração. Destaca a importância da face técnica, da necessidade do conhecimento técnico da função, mas acredita que a técnica só será importante se estiver ligada aos objetivos da escola, se estiver a serviço dos fins educacionais. Dessa forma, mostra a importância do diretor escolar na coordenação dos processos administrativos que visam uma transformação social, e não essencialmente na busca e conquista do poder, uma espécie de transformação do poder. Por fim, importa nesse momento elencar a importância do autor de base Ângelo Ricardo de Souza. Trata-se de um renomado professor e pesquisador, o qual sua obra é voltada, entre outras temáticas, para a gestão da escola e dos sistemas de ensino. Nesse sentido, frisa-se o papel desse importante autor na construção, seja dessa aula, ou da gestão escolar como campo de pesquisa da política educacional. Resumo da aula 1 Nesta aula discutiu-se duas demarcações em termos de estudos sobre administração escolar: de 1930 a 1970 e desta última demarcação até meados dos anos 1990. Em cada percurso foi discutido, com base na tese de doutorado de Ângelo Ricardo de Souza (2007), alguns autores que tiveram estudos de referência sobre administração escolar no Brasil. Destacou-se no primeiro intervalo temporal Anísio Teixeira, referência pela sua contemporaneidade, e, no segundo intervalo, Vitor Henrique Paro, pela forma de lidar com um ponto de equilíbrio entre a administração e a especificidade do contexto escolar. Ademais, resume-se em diferentes formas de lidar com a temática, em um momento privilegiando questões técnicas da administração geral na escola e em outros trabalhando a face política e pedagógica em conjunto ou criticando a burocratização da escola. 15 Atividade de Aprendizagem Considerando os conceitos trabalhados até aqui, faça um exercício de síntese, elencando aspectos que, na sua experiência profissional ou pessoal, você considera como ideal em uma administração escolar. Aula 2 – Gestão e Administração Escolar: conceitos contemporâneos Apresentação da aula 2 Alguns autores consideram gestão e administração educacional como conceitos distintos. Desse modo, nesta aula, objetivamos explorar algumas dessas nuances e, em um foco maior, trazer conceitos contemporâneos que caracterizam a gestão da escola pública, como a democratização e a autonomia, considerando que, no caso de instituições educativas privadas, o primeiro conceito é menos aplicável, ao menos nos termos legais. 2.1 Considerações iniciais A discussão dessa aula, administração escolar, tem suas diferenças em sua concepção ao longo do século passado, assim como vimos na aula anterior. Nesse momento, interessa-nos um aprofundamento acerca da contemporaneidade da administração escolar, buscando diferenças e semelhanças com o conceito de gestão e a discussão de outros aspectos como a democratização e a autonomia de gestão. 2.2 Gestão e administração escolar: aproximações conceituais Para iniciar a discussão, trazemos Anísio Teixeira (1961) e sua diferenciação em dois tipos de administração escolar: a) a administração mecânica, essencialmente fabril, onde o planejamento é mais importante que a execução, tendo na administração a parte mais importante do processo de 16 produção, já que são responsáveis por planejar e ter como resultado uma produção em larga escala com o menor esforço possível; b) um tipo de administração oposta à primeira, na qual a execução é entendida como mais importante do que o planejamento, ainda que não se ignore essa etapa. No caso da administração, ou gestão escolar, a questão é bem mais complexa. A efetividade do trabalho escolar não depende só de um bom planejamento. A relação professor e aluno e o aprendizado deste último são o fim específico de uma instituição de ensino, e, nesse sentido, o trabalho do professor se torna protagonista nesse processo, confrontando com a primeira visão de administração de Anísio Teixeira. Na visão de Vitor Paro (1986), a administração implica no uso racional de recursos, visando determinados fins, considerando que a gestão é um modo que objetiva que os fins aconteçam e, no caso da escola, o diretor é, normalmente, o coordenador desse processo. Seu trabalho é em busca de maiores condições para que os fins aconteçam. Apesar de estar em uma função na qual a atividade fim não é executada por ele, o mesmo a conhece de forma que suas decisões e, emum contexto democrático, as decisões coletivas por ele mediadas, vão ao encontro da atividade fim, em uma razão pedagógica como pano de fundo. Fonte: ©Freepik. 17 Link da imagem: <https://www.freepik.com/free-photo/multi-ethnic-group-of-young-men- and-women-studying-indoors_1174221.htm>. A face política do processo e, consequentemente, a face política da função do diretor escolar, precisam ser consideradas, pois, no limite, a gestão escolar é a execução da política e tem no diretor um condutor desse processo. Política é, sobretudo, disputa de poder, e o diretor, coordenador da administração escolar, está imerso a essa disputa, pois como tem o poder de tomada de decisão controla boa parte das relações. Dessa forma, destaca-se que a administração é poder e quem administra domina as relações de poder (SOUZA, 2012). Vimos na primeira aula como a concepção de administração empresarial foi apresentada como parâmetro para a gestão educacional e que sua propagação se deu no sentido de que, na interpretação dos autores teóricos, os problemas da escola se resumiam a aspectos administrativos. O planejamento é o foco e essa adequação aos meios é fundamental para atingir-se os fins, uma produção alta com pouco esforço. O que estamos discutindo nesses conceitos contemporâneos é a administração escolar sob outro ponto de vista, proveniente da natureza das funções, dos objetivos e dos valores das escolas, com base na formação sociocultural e humana dos sujeitos. O modo de condução de uma escola acaba por refletir concepções, singularidades, valores que são diferentes da lógica capitalista da administração científica. Portanto, trata-se, sobretudo, de objetivos diferentes da administração empresarial da escolar, pois caminham por direções distintas. Isto posto, em nossa aula não se diferencia administração escolar e gestão escolar, mas sim administração escolar de empresarial, justamente pelos motivos postos na discussão dessa aula. Todavia, a gestão escolar, entendida como mediação entre recursos financeiros, materiais, humanos e pedagógicos, implica na busca do objetivo que é a formação humana, mais profunda que o ensino. O que diferencia no contexto atual é a concepção de gestão democrática, que visa a participação dos sujeitos da comunidade escolar, seja na construção dos documentos como a proposta pedagógica e o regimento, na elaboração de projetos, tomadas de 18 decisão das mais diversas instâncias, escolhas coletivas como a eleição de diretores, entre outras. Na visão de Vitor Paro, a especificidade da gestão educacional se dá nos meios e nos fins, onde a emancipação cultural, a ação transformadora da escola, a formação para a cidadania, são fins que dependem dos executores e dos meios, ou seja, planejamento e execução caminhando juntos. Assim, a gestão escolar voltada para a transformação social se contrapõe à centralização do poder na instituição escolar e nas demais organizações, com a participação dos sujeitos da comunidade escolar, profissionais da educação como um todo, forçando um repensar das concepções de trabalho, as relações sociais do interior da escola, sua organização, a natureza e o caráter específico de uma instituição de ensino e as condições de trabalho docente. 2.3 Gestão escolar, democratização e autonomia: aspectos legais A qualidade da educação é um tema com alguma controvérsia, ainda que estudos como de: Dourado, Oliveira e Fernandes (2007), Gouveia, Souza e Schneider (2011), Silva (2017), dentre outros, discutam aspectos que tem convergência na comunidade escolar a respeito do tema, seja no plano teórico ou prático. Tais tópicos dizem respeito às condições de oferta, ou condições de qualidade na oferta, em que a lógica avaliativa em cima de resultados de larga, utilizada de forma ampla e controversa, é tomada como consequência de boas condições de dar-se uma aula de qualidade. Nesses estudos, entende-se que a gestão escolar é a articuladora- mediadora nesse processo, seja a nível ente federativo, através da gestão dos sistemas de ensino, ou na escola através da equipe gestora. Na gestão dos sistemas de ensino e das escolas não se pode ignorar o jogo político que, junto com a burocracia, são fatores que limitam ou potencializam as ações de gestão e administração educacional, seja no estabelecimento das prioridades pelo poder público, o investimento financeiro do ente federativo em regime de colaboração com os demais entes até a concepção da gestão política do município, estado ou a própria União. Pela sua complexidade, gerir qualquer sistema envolve habilidade gerencial, conhecimento em educação e influência política de modo a atingir os 19 objetivos propostos pelo Poder Público e a garantia da efetividade do direito à educação para a população. Quando a escola é contemplada com investimento, infraestrutura, bons profissionais, materiais pedagógicos de qualidade, atendimentos suplementares, cabe à gestão da escola articular uma forma que todos esses fatores atuem em conjunto. Essa articulação passa pela gestão democrática, que culmina na comunidade escolar e profissionais da educação com a sensação de sujeitos pertencentes àquela escola. Fonte: ©Freepik Link da imagem: <https://www.freepik.com/free-vector/colorful-hands- silhouettes_805442.htm#term=hand&page=2&position=0>. 2.3.1 Breve histórico da trajetória da gestão democrática O histórico da gestão democrática coincide com a trajetória da oferta e responsabilidade pela educação no país. Isso porque o caráter descentralizador do sistema educacional brasileiro desde os tempos dos jesuítas é característica marcante até os dias atuais. Desde a chegada dos jesuítas e outras companhias religiosas, o ensino é descentralizado, ou seja, não existia um poder central que efetivamente detinha o controle da formação educacional no país. Essa prática se estendeu 20 por todo o Brasil Império, culminando em ações pontuais de municípios e estados no sentido de democratizar a educação no país. A evolução desigual em termos econômicos em nosso país contribuiu para que tivéssemos um investimento diferenciado nas regiões brasileiras. E a responsabilidade do ensino público básico se manteve aos estados e municípios, cabendo ao Governo Federal a regulamentação e complementação, além de alguns institutos de educação de ensino médio e as Universidades. Com isso, a democratização do ensino evoluiu a passos muito lentos, enquanto tínhamos localidades com um grande número de alfabetizados, outras eram compostas basicamente por analfabetos. A luta pela democratização da educação no país começa a tomar corpo à medida que a sociedade civil e acadêmica começa a mobilizar-se, em particular a partir da década de 1930 com as Conferências de Educação. A partir dos anos 1980, com a redemocratização política as associações se reinventam e passam a construir ideias coletivas em torno das questões educacionais, algumas em pauta na agenda brasileira até hoje. 2..3.2 Princípios básicos da gestão democrática na lei A partir de 1988 o nosso país foi invadido por uma onda democrática, fruto de uma ditadura longínqua e um movimento social de proporções gigantescas denominado Diretas Já. A materialização dessa onda foi em forma de um documento conhecido popularmente como Constituição Cidadã, a nossa atual Constituição Federal (CF). A educação passou a respirar ares democráticos, em particular com a democracia nas escolas. Na CF a gestão democrática é um princípio elencado no art. 206. Na redação do artigo supramencionado, o princípio é descrito como: Art. 206 [...] VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei. Tratando-se de um princípio, a democracia passa a transformar os ambientes escolares. Na LDB é descrito com mais detalhes o que vem a ser essa novaprática nas instituições de ensino público. 21 Reforçada nos princípios do ensino no país, a gestão tem uma modificação interessante, passando a responsabilidade da legislação do tema aos sistemas de ensino, através do texto do inciso VII do art.3º. A descrição “gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino” do inciso em questão confirma nosso pensamento. O art. 14 da legislação é o mais importante em termos de gestão democrática. A redação do artigo descreve que: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996, art. 14) Esse texto é fundamental, pois estabelece autonomia aos sistemas de ensino na definição das formas de gestão, no entanto elenca princípios democráticos que nortearão o ensino público. Ainda que o foco da disciplina esteja voltado para a educação básica, o art. 56 complementa essa ideia com a inclusão das instituições de ensino superior nos princípios elencados, fundando e mantendo órgãos colegiados deliberativos. Portanto, cada sistema de ensino é responsável pela sua legislação que contemple a democracia nas escolas. Chama a atenção a ausência de eleições para direção da escola, o que permite aos sistemas indicações ou concursos específicos para o cargo, práticas vistas com ressalva pela literatura especializada. Souza et al. (2005) ressalta que há um mito, o qual precisamos desmistificar antes de prosseguir ao item seguinte: a equipe diretiva não é o coração da escola. A relação entre professores e alunos sempre será o ponto principal e as ações da escola (inclusive o modelo de gestão) são voltadas para o aprimoramento dessa relação e a melhoria da qualidade de ensino. Na seção posterior discutiremos formas de aplicação dos instrumentos de gestão democrática na gerência dos sistemas de ensino e das escolas. 22 Importante A municipalização do ensino, fenômeno que ganhou força a partir de 1988, foi acompanhada da abertura de boa parte das escolas para a eleição de sua equipe diretiva. Poucos municípios tinham essa prática anteriormente; Curitiba – PR, por exemplo, elegeu seus primeiros diretores com o voto da comunidade escolar em 1988, tendo uma eleição com votos de colegiados anterior a essa. 2.3.4 Democratização e autonomia A clareza da função social da escola implica a adoção ou não de processos de democratização. Mais que isso, essa função também implica em refletir sobre algumas perguntas: “A escola tem que serventia?” “Quais suas funções?” “Como lidamos com a pluralidade de funções atribuídas a ela?”. Na perspectiva dessa aula, a função da escola tem como objetivo a criação de projetos educacionais em uma perspectiva inovadora e transformadora, nos quais a coletividade se sobreponha à individualidade. Portanto, fundamenta-se que todos que lidam no interior da instituição precisam ser considerados em seus espaços e, além disso, que esse espaço social é muito suscetível às relações políticas, sejam no nível do sistema de ensino ou na própria escola. Nesse sentido, os processos dinâmicos que são vivenciados no interior do Estado e da sociedade civil também são indicadores de maiores ou menores possibilidades da gestão escolar. Sendo assim, a democratização da escola aparece como uma possibilidade de avançar em termos de efetividade do papel social da escola pública. As legislações brasileiras indicam, ao menos em alguns pontos importantes, como a construção da proposta pedagógica e a existência de conselhos escolares ou equivalentes, com efetividade nos processos decisórios da escola. As autonomias dos entes federativos, assim como na escola, são abordadas nas principais legislações que versam sobre a temática. Inicialmente, 23 é interessante observar o perfil de autonomia do ente federado no Brasil. No caso brasileiro, União, estados e municípios tem autonomia política, administrativa e de gestão dos recursos, contanto que não sejam baseados em ações inconstitucionais e exceções que a Constituição indica intervenção federal. No caso da educação, a CF/88, com reforço da LDB, vai elencar responsabilidades educacionais para os entes, educação infantil para os municípios, ensino médio para os estados e ensino fundamental em regime de colaboração entre ambos. Sobre a autonomia da escola, esta depende inicialmente da regulação dos sistemas de ensino. Além disso, há que ressaltar-se que uma escola cada vez mais autônoma irá depender cada vez mais de descentralização de recursos. Para esse entendimento, é importante o art. 15 da LDB, cujo discorre que: Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. (BRASIL, 1996, art. 15) No caso brasileiro, as redes e sistemas de ensino normalmente centralizam os recursos de grande monta, como pagamento de remunerações e grandes investimentos em infraestrutura e tecnologia. Ademais, os recursos que são descentralizados costumam servir de compra de materiais de expediente, pedagógicos, pequenos reparos, etc. Portanto, esses progressivos graus de autonomia são bastante relativos, na medida que, devido ao modelo de gestão de ensino, esse é bastante limitado. Resumo da aula 2 Nesta aula, em um primeiro momento, a discussão permeou algumas diferenciações do modo como a administração escolar foi abordada na literatura do século passado com as visões mais atuais, entendendo a especificidade da educação como um fim diferente da administração empresarial. Logo após, a reflexão, principalmente com base em Vitor Henrique Paro, culminou com uma breve reflexão sobre democratização e autonomia, fundamentais para entender o decorrer de nossas aulas e os novos conceitos de gestão da escola. 24 Atividade de Aprendizagem Considerando aspectos de planejamento educacional e execução por parte do professor, qual ponto você considera mais importante para que essa relação seja efetiva no processo de ensino-aprendizagem? Por quê? Aula 3 – Gestão democrática: conceitos teóricos e a organização do trabalho escolar e pedagógico Apresentação da aula 3 A discussão sobre gestão democrática é um avanço do perfil de abordagem da administração escolar que entendia como solução aos problemas da escola a aplicação de conceitos da administração empresarial. Lidar com esse conceito contemporâneo é entender que os processos decisórios da escola podem ter maior participação da comunidade escolar, integrando a mesma à instituição de ensino, tornando a gestão menos autoritária e construindo uma coletividade no contexto escolar. Nesse sentido, esta aula abordará uma discussão sobre a temática e questões da organização do trabalho pedagógico e escolar com esse pano de fundo. 3.1 Considerações iniciais Lidar com gestão democrática da escola é algo impensável em contextos políticos ditatoriais e antidemocráticos. É por isso que tal discussão inicia seus passos após a CF/88, a qual traz ares democráticos após 21 anos de ditadura militar. Não obstante, o próprio percurso histórico da educação brasileira tem correlação com contextos políticos democráticos, tidos como momentos de maior avanço na discussão e efetividade da educação no país. É nesse contexto 25 que passamos a discutir a gestão democrática e pensar ela na organização da administração escolar. 3.2 Gestão democrática: discussão teórica e conceitosO texto de Moacir Gadotti nos oferece um contexto inicial para pensar-se a gestão democrática. Sobre o tema, o autor introduz questões de contexto: O tema da gestão democrática da educação com participação popular ganha ainda mais relevância hoje, no momento em que se discute a criação do Sistema Nacional de Educação que define a articulação e a cooperação entre os entes federados. Essa lógica colaborativa só tem sentido se for cimentada pela gestão democrática e tiver por finalidade a construção de uma “sociedade livre, justa e solidária”, como determina o Inciso I do artigo terceiro da Constituição Federal de 1988 (GADOTTI, 2014, p. 2). Há uma série de documentos internacionais e nacionais que vão abordar a importância da gestão democrática, seja no âmbito dos sistemas de ensino ou nas escolas. A gestão democrática dos sistemas de ensino, por exemplo, é interpretada como “uma das dimensões fundamentais que possibilitam o acesso à educação de qualidade”, na formação de um cidadão e como “princípio da educação nacional” da elaboração de “planos de desenvolvimento educacional” e de “projetos político-pedagógicos participativos” (BRASIL, 2011, p. 59-60). Dourado (2000) vai entender a temática como um processo de luta política e aprendizado, que não se limita na prática educativa, mas tem uma visão nas especificidades da escola e de sua autonomia, possiblidades de participação e aprendizado da democracia e de como ser um cidadão que atua na sociedade de forma democrática, avançando no pensamento na reflexão sobre formas autoritárias de exercer-se o poder, arraigadas em grande parte do país, independente da gestão de um ente federativo ou de uma escola, por exemplo. Podemos resumir, inicialmente, a definição de gestão democrática em A gestão democrática é aqui compreendida, então, como um processo político no qual as pessoas que atuam na/sobre as escolas, identificam problemas, discutem, deliberam e planejam, encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola na busca da solução daqueles problemas. Esse processo, sustentado no diálogo, na alteridade e no reconhecimento às especificidades técnicas das diversas funções presentes na escola, tem como base a participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito às normas coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões 26 e a garantia de amplo acesso às informações aos sujeitos da escola (SOUZA, 2009, p. 125-126). A contribuição de Vitor Paro (2007) nessa temática se dá no contexto que é no campo da liberdade que a gestão escolar tem correlação com a questão democrática, não apenas porque é pela educação que se propicia acesso ao saber histórico, arte, ciência e cultura, mas também pelo fato de agregar à formação humana valores democráticos que contribuam até para uma cultura de paz entre a sociedade. Segundo Silva (2017, p.90), Paro “elenca aspectos que, ainda que pese o fato de tais reflexões serem objeto da empiria do ser humano na sociedade, são lógicos do ponto de vista de construção da cidadania e de uma cultura de paz”. A coletividade na tomada de decisões é exposta em Souza et al. (2005, p. 7), no qual os autores elencam que, “para planejar, decidir, coordenar, executar ações, acompanhar e controlar, avaliar as questões públicas, como a educação, é importante envolvermos o maior número possível de pessoas neste processo”, dando o sentido de diálogo e democratização no processo de gestão. Os princípios que norteiam o ensino no país têm como um de seus incisos a gestão democrática do ensino público. Essa constitucionalidade é abordada na CF/88, discorrendo que um princípio de ensino no país é a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei” (BRASIL, 1988), reforçado pelo inciso VII do art. 3º da Lei n. 9.394/96, dando autonomia aos sistemas de ensino para que legislem a respeito, ainda que o próprio Plano Nacional de Educação atual, regulado pela lei n. 13.005/14, já tenha dado prazo para que as leis de gestão democrática sejam efetivadas nos sistemas de ensino, e, em um cenário nacional, ela ainda é pouco efetivada. O art. 14 da LDB lida com maior descrição sobre a gestão democrática. Basicamente, ele aborda a importância dos profissionais da educação na participação da elaboração da proposta pedagógica da escola e a participação da comunidade escolar em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996). São questões interessantes, mas não suficientes, visto que na discussão da próxima aula poderemos acompanhar uma série de outros instrumentos que auxiliam na efetividade da gestão democrática nos sistemas de ensino e nas escolas. 27 Em Souza et al. (2005) são elencados alguns elementos que auxiliariam na efetividade da gestão democrática nas escolas, que serão brevemente comentados na aula 4. Cita-se cinco instrumentos de democratização dos sistemas e cinco da escola: Conferência da Educação, Conselho Municipal de Educação, Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF (agora FUNDEB), Orçamento Participativo (na educação) e eleições de dirigentes escolares, no caso do sistema, e Conferência Local da Comunidade Escolar, Conselho de Escola, Rotatividade no quadro de dirigentes da escola, Associação de Pais e Grêmio Estudantil, no caso das escolas. Ainda que não seja o único, as questões elencadas também se sustentam nas ações da escola. Silva (2017) discorre, baseado em Souza (2007), que questões relacionadas à remuneração do diretor, existência e frequência de reunião dos conselhos de escola, construção coletiva de proposta pedagógica e participação da comunidade, professores e funcionários, nas decisões são aspectos reconhecidos pela literatura como aspectos importantes para maior qualidade da educação. É claro que a leitura de tais aspectos no contexto escolar tem algumas vertentes, que precisam sempre de aprofundamento, mas tem reconhecimento e legitimidade pela literatura acadêmica e o contexto escolar. Dourado (2000) elenca algumas premissas sobre a gestão democrática e o pensamento de uma administração escolar contemporânea que se encaixam na temática de nossa disciplina: a) Efetivação da democratização do acesso, da permanência e da gestão; b) As políticas voltadas para o cotidiano escolar que não podem negligenciar essas esferas; c) Tais esferas se articulam, inexoravelmente, à defesa de um parâmetro mínimo de qualidade permeado pelo estabelecimento de novas interlocuções com a sociedade civil organizada; d) Isso implica lutar pela democratização da sociedade da qual essa faz parte e é parte constitutiva e constituinte. Além disso, o autor estabelece uma série de necessidades de reflexão/ação. Dentre elas, destacam-se: 28 a) Relativizar o papel da escola, por meio da problematização da relação entre sociedade e escola; b) Recuperar na escola, enquanto local de trabalho, o trabalho docente, por meio da distinção entre este e o “regente”, por duas categorias-chave: globalidade e dinamicidade; c) Problematizar as formas de provimento ao cargo de dirigente e a função do diretor na escola; d) Criar e consolidar novos mecanismos de democratização, seja na perspectiva da importância política e limitações do conselho escola/comunidade e/ou da construção de um projeto político- pedagógico da escola; e) Rediscutir a organização do trabalho no interior da escola para além das bandeiras corporativas e funcionais: mecanismos de contratação coletiva, hora-atividade, pesquisa, identidade profissional, etc.; f) Rediscutir a autonomia e o papel dos movimentos no interior da escola: sindical e estudantis-grêmios livres, além de funcionários e pais, na medida em que entendemos que a efetiva participação não se decreta; g) Criar mecanismos de avaliação do projeto político-pedagógico,envolvendo avaliação docente, discente e institucional por meio da definição do parâmetro de qualidade (para quem e para que) da escola cidadã; h) Criar e garantir canais de democratização das informações entre todos os segmentos envolvidos; i) Lutar pela autonomia financeira da escola; j) Estabelecer canais de articulação com outras esferas (poder público, ONGs, empresas, igrejas, etc.). No entanto, Souza (2007) alerta que só instrumentos de gestão ou tópicos que sejam de alguma forma abordados podem ser mais ou menos democráticos. O diálogo é a precondição para isso, pois, quanto maior este se efetiva, mais se avança na democracia. Nesse sentido, a regra da maioria, a democracia 29 representativa é insuficiente para pensar na efetividade da gestão democrática. Entende-se que o diálogo e a alteridade são questões que de fato avançam no que diz respeito à questão. Vocabula rio Alteridade: natureza ou distinção do que é outro, do que é distinto, reconhecimento do próximo. 3.3 Organização do trabalho escolar e pedagógico na administração da escola: burocratização e descentralização de recursos na gestão democrática A organização do trabalho escolar e pedagógico na administração da escola tem como instrumento principal de normatização a proposta pedagógica. Trata-se, sobretudo na gestão democrática, de um constructo político e coletivo, no qual a participação dos profissionais da educação em sua construção é, além de uma normativa da LDB, uma possibilidade de envolver várias pessoas em um documento de suma importância no contexto da escola. Fonte: ©Freepik. 30 Link da imagem: <https://www.freepik.com/free-vector/business-team- avatars_766435.htm>. Segundo Silva (2017, p. 100), “a proposta pedagógica é um elemento fundamental para direcionar as ações da escola e fundamentar as práticas educativas”. Os artigos da LDB que vão lidar com essa temática são o 12, o qual dá autonomia para as instituições de ensino na sua construção e o 13, que elenca a participação dos docentes na sua construção. Além disso, o art. 14, inciso I, aborda a construção coletiva da proposta pedagógica fundamental no em uma perspectiva de gestão democrática, tendo em vista que trata-se de um princípio constitucional de ensino, consequentemente, de valor agregado para a qualidade da educação. Dourado et al. (2006, p. 72) abordam que “a elaboração do projeto político-pedagógico implica um repensar constante no dia a dia da escola, seus processos culturais e a forma como ela se encontra estruturada”. Aldenice Bezerra (2009) enfatiza a dificuldade da abordagem do tema discutido quando elenca que a gestão democrática não é um processo trivial e com efetividade a curto prazo, mas, ao mesmo tempo, não é utópica. Ela alia esse fato à proposta pedagógica quando aborda que a construção dessa e a efetivação dos conselhos de escola são questões fundamentais na consideração da administração escolar com cunho democrático. Silva (2017) analisa as proposições de Silva (2012) sobre o projeto pedagógico em duas vertentes: A primeira ligada a um documento físico, oficial e legal, com objetivo de descrever objetivos e, eventualmente, métodos e procedimentos da instituição. A segunda vertente é associada à prática de funcionamento da instituição pela avaliação de suas condições peculiares e planejamento de ações, além do esforço de agentes da instituição quanto à organização intraescolar, seus valores e princípios. O alerta do autor é em relação à utilização desse documento, que por vezes é inutilizado, tendo seu conteúdo repetido ano após ano, sem nenhuma discussão ou criticidade acerca do documento e de sua função dentro da instituição de ensino. O fato é que se trata de um documento que deveria estar na mesa quando se discute trabalho pedagógico, ao invés de ser tratado como um volume de papéis para dar satisfação à gestão do sistema/rede de ensino (SILVA, 2017, p.101). Portanto, o que se percebe aqui é uma importância grande sobre a construção desse documento, servindo como base das ações da escola. Retomamos Souza et al. (2005) para relembrar que a equipe diretiva não é o 31 coração da escola. O que baseiam as ações são as relações entre professores e alunos, pois é através dessa que a aprendizagem se efetiva. Isso não elimina as políticas educacionais, tampouco as ações de gestão, pelo contrário, esse fato elenca que o norte de tais ações devem voltar-se para essa relação, ou seja, a gestão precisa ter uma razão pedagógica nas suas ações. Logicamente que, no caso de qualquer instituição pública, os gastos precisam de transparência pública. Ainda que a lei n. 12.527, de 2011, trabalhe com a transparência dos entes federativos, as escolas, que normalmente são regulamentadas por legislações dos sistemas de ensino para esse fim, também precisam ser transparentes com os gastos descentralizados. Uma das estratégias interessantes, e correlacionadas com a gestão democrática, são as reuniões com Associações de Pais, Mestres e Funcionários de escola, as decisões de gastos provenientes de reuniões de conselhos de escola e a disponibilidade de repasses e gastos de recursos em murais e sites, de modo que toda a comunidade escolar fique a par desse movimento financeiro. Um dos principais problemas da organização do trabalho pedagógico e escolar em uma administração escolar é a falta de efetividade da proposta pedagógica. Entende-se que esse documento é fundamental para regulamentar as ações da escola em termos pedagógicos e administrativos. Os estatutos de conselhos de escola podem ser boas possibilidades de auxiliar na normatização dessas ações, que poderiam resolver uma série de questões voltadas à transparência e participação nessas ações. Resumo da aula 3 Nesta aula refletiu-se sobre aspectos que abordam a gestão democrática como um princípio e como que isso se discute em termos legais e conceituais. Posteriormente, como complemento à discussão, enfatizou-se a proposta pedagógica como documento principal na organização do trabalho escolar e pedagógico e a importância de sua construção de forma coletiva, assim como aspectos de transparência e limite das ações da direção em termos de descentralização e uso dos recursos. 32 Atividade de Aprendizagem Você está convencido que a gestão democrática é possível? Qual sua ideia em relação à utopia dessa possiblidade? Qual é o maior entrave na efetividade da gestão democrática? Os profissionais da educação são politizados para conseguirem auxiliar nesse processo? Discorra sobre tais questionamento. Aula 4 – Instrumentos da gestão democrática e a particularidade dos conselhos escolares e eleições de diretores Apresentação da aula 4 A discussão sobre gestão democrática na legislação infraconstitucional (LDB) se limita a abordar a construção coletiva da proposta pedagógica e a participação da comunidade escolar em conselhos escolares ou equivalentes. Considera-se na literatura especializada um limite ao pensar as possiblidades de ampliação do diálogo e da alteridade em uma administração escolar. Nesse sentido, nossa quarta aula vem com o objetivo de agregar outros elementos na discussão, possibilitando a ampliação do pensamento a respeito da temática e sua efetividade no contexto da escola. 4.1 Considerações iniciais Não há efetividade da gestão democrática se a administração escolar não busca uma articulação que privilegie o diálogo e a alteridade. Estes conceitos fazem da gestão mais ou menos democrática, conforme vimos anteriormente. Todavia, a construção de instrumentos que possibilitem um espaço para estes é um aspecto importante da literatura e das ações dos sistemas de ensino e das escolas, que, para este momento da nossa aprendizagem, precisam ser explorados. Nesse sentido, esta aula busca explorartais instrumentos, particularizando, em uma discussão a parte, os conselhos de escola e as eleições de diretores. 33 4.2 Instrumentos de gestão democrática Por que o ensino público tem que ser democrático? Para responder tal questionamento, retomamos Souza et al. (2005), em que seu argumento sobre a escola pública é de que a maior quantidade de pessoas possíveis no processo de planejamento, decisão, coordenação, execução de ações, acompanhamento, controle e avaliação é o cenário ideal em termos de democratização da gestão. Segundo os autores, democracia pode ser entendida como governo do povo ou, de maneira sinônima, soberania popular. Incrementando o conceito, a participação coletiva de todos nas decisões que influenciam na apropriação de bens coletivos são características do termo em questão. A gestão democrática ocorre de duas formas: nos sistemas/redes de ensino e nas escolas. Para cada forma existem instrumentos específicos que trabalham a democracia na gerência, seja do conjunto de escolas ou da complexidade interna da instituição. Assim, nossa discussão será dividida em duas partes, discorrendo sobre a gestão democrática nos sistemas de ensino e posteriormente nas escolas, que é o foco da administração escolar. 4.2.1 Gestão democrática nos sistemas de ensino Ainda que a administração escolar aqui discutida tenha como foco a gestão da escola, discute-se aqui conceitos que não se reduzem só à gestão democrática na escola, mas também no sistema. Para isso, retoma-se brevemente Saviani (1999) que discute a definição de sistema de ensino como uma organização que administra escolas. Assim, ele pode ser denominado como federal, estadual ou municipal, de acordo com o ente que o administra. Dada a definição como uma retomada, o subcapítulo que segue/busca a fundamentação legal dos sistemas de ensino no Brasil. 4.2.1.1 Sistemas de ensino: breve revisão da legislação Legitima-se, em termos legais, os sistemas de ensino na CF/88 através do art. 211, reforçada pela redação do parágrafo 4º: 34 Art. 211 […] § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório (BRASIL, 1996, art. 211). Além da pluralidade de sistemas de ensino no país, normatizada pela CF/88 e a LDB, outras nuances fundamentam os referidos sistemas. Uma discussão, bastante em voga, pauta-se no art. 214 e no Plano Nacional de Educação sobre a possiblidade de um Sistema Nacional de Ensino, como articulador de todos os sistemas, buscando maior efetividade do regime de colaboração entre os entes federativos. Em relação à LDB, o art. 8º enfatiza a liberdade de ensino dos sistemas. Aos estados e municípios cabem manter seus sistemas de ensino, assim como baixar suas normas complementares. Aos entes federativos cabe manter seus sistemas, facultando aos municípios optarem por estarem integrados ao sistema estadual. Cabe aos sistemas de ensino normas complementares para educação técnica, assegurar o fornecimento da educação de jovens e adultos, assegurar atendimento especializado aos educandos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento, altas habilidades e superdotação, a valorização dos profissionais do magistério, estabelecimento de normas para educação à distância, podendo haver cooperação entre os entes para tal. LEI Nº 9394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. [...] 35 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. 4.2.2 Instrumentos da gestão democrática nos sistemas de ensino Com base no modelo proposto por Souza et al. (2005), cinco instrumentos são considerados fundamentais para a democratização dos sistemas: Conferência da Educação, Conselho Municipal de Educação, Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF (agora FUNDEB), Orçamento Participativo (na educação) e eleições de dirigentes escolares. Nessa seção desenvolveremos a ideia de cada uma dessas ferramentas. A Conferência de Educação é organizada por um gestor ou um grupo de pessoas de uma rede ou sistema de ensino. Em encontros anuais ou bienais são convocados toda a população para debater temas de suma importância para a política educacional. Apesar do foco do autor estar no município, atualmente a Conferência Nacional da Educação (CONAE) reúne a comunidade acadêmica, fóruns e demais setores da sociedade civil para discutir problemas da educação brasileira. Fonte: ©Freepik / Adaptada pelo DI (2017). 36 Link da imagem: <https://www.freepik.com/free-vector/ballot-box-with-lock- hole_683891.htm>. Já o Conselho Municipal de Educação se diferencia da Conferência em alguns aspectos: a primeira diferença se refere aos seus componentes, eleitos e representando diversos segmentos da sociedade; a segunda diferença é pela sua frequência de reunião, ao mínimo mensal; e a terceira característica é o seu afazer, que consiste em deliberar, orientar e fiscalizar os sistemas de ensino, sempre de acordo com a autonomia que a lei orgânica do município oferece. O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB visa fiscalizar os gastos com o fundo. Os autores de base sugerem que a ação de fiscalização fosse estendida para todos os gastos em manutenção e desenvolvimento do ensino. O orçamento participativo visa reunir a população uma vez ao ano para discutir as prioridades para o investimento público em educação que excede a vinculação de receitas prevista em lei. A eleição direta para escolha dos dirigentes é fundamental para a consolidação da democracia nas escolas. O objetivo é consolidar a eleição direta por voto dos integrantes da comunidade escolar para a escolha do profissional da educação que representará a escola ao poder constituído e consequentemente à sociedade. 4.2.3 Instrumentos de gestão democrática nas escolas No art. 15 da LDB é descrito em sua redação que “os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público”. Assim, é estendido de forma progressiva a ideia de escola autônoma e a possibilidade de democratizar a decisão quanto à forma de gasto do dinheiro público. De acordo com Souza et al. (2005), no âmbito da escola os cinco instrumentos são: Conferência Local da Comunidade Escolar, Conselho de Escola, Rotatividade no quadro de dirigentes da escola, Associação de Pais e Grêmio Estudantil. Perceba que a dimensão democrática na escola pode ser 37 bem maior do que a contemplada na LDB, já que a possibilidade da existência de diversas ferramentas de envolvimento social na educação. A Conferência Local da Comunidade Escolar é equivalente a Conferência de Educação, pois tem a intenção de reunir toda comunidade escolar, desde os profissionais que trabalham na escola até o entorno escolar, no sentido de debater os problemas da instituição e da localidade a qual a escola é situada. Amplamente debatido nas pesquisas, o Conselho de Escola é a instituiçãoque tem por objetivo a coordenação da gestão escolar, estudando, planejando, debatendo, deliberando e acompanhando o dia a dia da escola, seja na parte pedagógica, administrativa ou financeira. É composto por uma representatividade que reúne professores, funcionários, pais, alunos e equipe diretiva. A rotatividade do dirigente é descrita pelos autores como salutar para o ambiente escolar. Perpetuar-se no poder não renova ideias, estaqueia uma força política que por vezes não permite o amplo debate e a circulação de novas ações para melhoria da escola. A associação de pais e o grêmio estudantil são citadas como relevantes no processo de gestão democrática. Seja para auxílio de captação de recursos e representatividade dos pais na escola ou para a mobilização dos estudantes em torno de uma entidade representativa, as duas associações são vistas como fundamentais para a participação de todos nas decisões da escola. 4.3 Particularidade dos conselhos de escola e da forma de provimento dos diretores Retoma-se o art. 14 da LDB, quando discorre que “Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades [...] (BRASIL, 1996)”. No inciso II, elenca-se a “participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. Conforme vimos anteriormente, trata-se de um dos instrumentos de gestão democrática trabalhados por Souza et al. (2005) e com ampla discussão na literatura sobre sua importância. Dourado et al. ( 2006) definem que: 38 O Conselho Escolar configura-se, portanto, como órgão de representação da comunidade escolar e, desse modo, visa à construção de uma cultura de participação, constituindo-se em espaço de aprendizado do jogo político democrático e de formação político- pedagógica. Por essa razão, a consolidação dos Conselhos Escolares implica buscar a articulação efetiva entre os processos pedagógicos, a organização da escola e o financiamento da educação e da escola propriamente dita (DOURADO et al., 2006, p. 80) Nesse sentido, os conselhos de escola assumem importância, na medida que “a escola necessita desenvolver formas democráticas de organização, gestão e funcionamento, dando atenção à melhoria dos processos formativos, à utilização transparente dos recursos e à melhoria das relações de trabalho” (DOURADO et al., 2006, p. 78). De acordo com Alves (2011), ter efetivado nas escolas públicas os conselhos de escola possibilitam garantir a participação, seja direta ou não, da amplitude de segmentos sociais que circundam a escola, a comunidade escolar, permitindo sua integração com a instituição de ensino. Há uma ênfase no autor sobre a cidadania, participação comunitária, aprendizado social e político, democratização, reivindicação coletiva e o diálogo com a democracia nas escolas. O Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, datado de 2004, promovido pela Secretaria de Educação Básica e o Ministério da Educação, é um programa interessante na formação continuada dos conselheiros. Entre seus objetivos, podemos destacar: Ampliar a participação das comunidades escolar e local na gestão administrativa, financeira e pedagógica das escolas públicas; apoiar a implantação e o fortalecimento de conselhos escolares; instituir, em regime de colaboração com os sistemas de ensino, políticas de implantação e fortalecimento de conselhos escolares; promover em parceria com os sistemas de ensino a capacitação de conselheiros escolares. (GADOTTI, 2014, p. 5) Sobre o Programa, Alves (2011) é enfático ao abordar que, juntamente com a literatura acadêmica, este apresenta a gestão democrática como condição fundamental e indispensável no que diz respeito às condições de qualidade na oferta educacional, tendo nos conselhos de escola uma dimensão importante para a participação nos processos decisórios da escola. A forma de provimento, ou seja, como o diretor assume o cargo, é discutida pela literatura como dimensão importante nos princípios de gestão 39 democrática. Há uma crítica contundente na literatura acadêmica acerca da indicação como forma de provimento, o que implicou discussões e efetivação por parte de vários sistemas de ensino de outras modalidades, como a eleição de diretores e o concurso público. Bezerra (2009) aborda que a eleição dos diretores é um passo importante para reduzir o clientelismo e o autoritarismo, arraigado nas relações políticas de grande parte do território brasileiro. Além disso, em uma perspectiva de gestão democrática, a comunidade escolar ao eleger seu diretor acaba por ter maior diálogo com esse modelo de gestão da escola. E sobre isso, ela enfatiza que há outros benefícios, como o aperfeiçoamento das relações na instituição e do trabalho, visando a qualidade do ensino. Luiz Dourado (2000), autor já trabalhado nessa aula, defende a eleição direta para dirigentes escolares em contraponto ao perfil clientelista e autoritário em que se inseriam as ações e práticas na escola. Segundo o autor, reforçado por Bezerra (2009), a forma de provimento não é, certamente, definidora do perfil da gestão, mas reforça a possibilidade de seu curso. Souza (2007, p.189) ressalta que, “o diretor eleito não é, por natureza do processo seletivo, mais compromissado com a educação pública de qualidade para todos (as)”. Todavia, o próprio autor salienta que, “a eleição é o instrumento que, potencialmente, permite à comunidade escolar controlar as ações do dirigente escolar no sentido de levá-lo a comprometer-se com esse princípio”. Bezerra (2009) vai abordar também a ampliação da experiência da forma de provimento dos diretores por eleição após a promulgação da CF/88, regulamentadas por legislações que são de responsabilidade dos sistemas de ensino. Algumas limitações como falta de preparo, clientelismo, populismo, são elencadas como limites da eleição de um sujeito para o cargo. No entanto, é importante que pensemos na ampliação de horizontes democráticos como algo bastante positivo, ainda que se tenham esses entraves. Em outras palavras, entende-se que a eleição de dirigentes, ainda que se tenham problemas e a necessidade de construção de uma cultura democrática na escola e na comunidade escolar, ela dialoga com os princípios da gestão democrática. Em Silva (2017), verificou-se que a grande maioria das redes municipais de ensino indicam seus diretores de escola na totalidade da amostra. Em 40 contrapartida, pouco menos de 10% das escolas analisadas elegem seus dirigentes. Sobre os conselhos de escola, a pesquisa quantitativa evidenciou que quase 15% das escolas da amostra (quase 20.000 de um total de 91.000 escolas municipais que ofertam os anos iniciais do ensino fundamental em 2013) desconhecem o conselho de escola. Resumo da aula 4 Nesta aula refletimos sobre a gestão democrática abordando alguns aspectos que dialogam com a perspectiva de uma administração escolar voltada à gestão democrática. Para isso, lidamos com duas dimensões dos instrumentos de gestão: dos sistemas de ensino e das escolas. Desse modo, pudemos ver algumas possibilidades de trabalhar espaços de discussão, todavia, a reflexão se dá na medida que somente a existência de tais contextos é insuficiente. O ideal é aprofundar uma cultura democrática de modo que tais instrumentos não sejam somente um discurso bonito e sem efetividade. Atividade de Aprendizagem Leia o artigo Gestão democrática com participação popular: no planejamento e na organização da educação nacional, de Moacir Gadotti, e relacione com os conhecimentos adquiridos na disciplina. Artigo disponível em: <http://conae2014.mec.gov.br/images/pdf/artigogadotti_final.p df>. 41 Resumo da disciplina Nesta disciplina objetivou-se explorar aspectos da administraçãoescolar. Para isso, as quatro aulas tiveram uma divisão que possibilitasse o entendimento da aula posterior com base na anterior. Inicialmente, tivemos uma discussão sobre as abordagens da administração escolar na pesquisa educacional em um intervalo da década de 1930 a 1990. Vimos diferentes perspectivas e uma evolução em termos de pensar somente a gestão escolar como a aplicação de conceitos científicos da escola, até o reconhecimento da especificidade da escola e a diferenciação dos fins pedagógico e empresarial, que são problematizados na aula 2. Com a discussão da contemporaneidade da administração escolar na referida aula, pudemos avançar para a aula 3 em uma discussão conceitual sobre gestão democrática e as possibilidades da organização do trabalho pedagógico e escolar nessa perspectiva. Por fim, a administração escolar foi discutida em uma perspectiva de pensar a efetividade de instrumentos de gestão democrática, que possibilitem maior diálogo, alteridade e democracia nas escolas e sistemas de ensino. 42 Referências ALVES, A. V. V. Atuação de Conselhos Escolares em redes municipais destaques no Ideb. In: XXV Simpósio Brasileiro II Congresso Ibero- americano de Política e Administração da Educação. Jubileu de ouro da ANPAE (1961-2011), São Paulo, Cadernos ANPAE, 2011. BEZERRA, A. A. Modalidade de provimento do dirigente escolar: mais um desafio para as políticas da educação municipal. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 90, n. 224, p. 59-70, jan./abr. 2009. BRASIL, Constituição (1988). Constituição. República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. ______. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece a Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional. 1996. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 dez. 1996. ______. Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. 2009. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 nov. 2009. ______. Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providencias. 2014. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 jun. 2014. 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