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FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL PROFA. MA. GISELE SIGNORINI ZAMPIERI Reitor: Dr. Roberto Cezar de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Edson Dias Vieira Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Camila Cristiane Moreschi Danielly de Oliveira Nascimento Fernando Sachetti Bomfim Luana Luciano de Oliveira Patrícia Garcia Costa Renata Rafaela de Oliveira Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Dr. Roberto Cezar de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................5 1. HISTÓRICO DA FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR .......................................................................................................6 2. FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR UM CAMPO EM DESENVOLVIMENTO ................................................................ 7 3. PAPÉIS DO FONOAUDIÓLOGO ESCOLAR ..............................................................................................................9 4. INTERDISCIPLINARIEDADE ................................................................................................................................... 11 5. DIFERENTES PANORAMAS DE ATUAÇÃO DO FONOAUDIÓLOGO ESCOLAR .................................................... 16 5.1 O CENÁRIO EDUCACIONAL: ONDE A FONOAUDIOLOGIA SE INSERE? ............................................................ 17 5.2 A FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL NO MUNDO ............................................................................................ 18 5.2.1 A ORTHOPHONIE NAS ESCOLAS FRANCESAS ................................................................................................ 18 5.2.2 A FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL NA ESPANHA....................................................................................... 19 FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR O QUE É? PROFA. MA. GISELE SIGNORINI ZAMPIERI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL 44WWW.UNINGA.BR EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5.2.3 OS ESTADOS UNIDOS E OS MÉTODOS EM FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL .........................................20 5.3 PANORAMA DA FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL EM OUTROS PAÍSES ..................................................... 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................23 5WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A Fonoaudiologia constitui-se como ciência interdisciplinar que tem como base concepções e métodos de áreas da saúde e da educação. Historicamente, essas áreas intercalaram momentos de proximidade e distanciamento, concretizando experiências que se refletiram em encontros e desencontros, sobretudo quanto às suas atribuições e aos seus papéis sociais. Práticas de medicalização da educação nas instituições escolares, ações de educação em saúde realizadas em serviços de saúde pautadas na normatização de comportamentos mantêm-se ainda hoje como modelos hegemônicos. Contrapondo-se a esses modelos, políticas públicas, alicerçadas no conceito ampliado de saúde, têm-se pautado na compreensão de que os determinantes do processo saúde-doença são intersetoriais. Desse modo, práticas de intersetorialidade mostram-se como dispositivos potentes para o enfrentamento dos problemas complexos que se apresentam tanto no campo da saúde, quanto da educação, levando a resultados mais efetivos do que cada setor poderia alcançar agindo de modo isolado. Neste capítulo, procurou-se trabalhar com uma abordagem histórica, resgatando conceitos de educação e saúde presentes em práticas de saúde na educação e de educação em saúde. Esse resgate possibilita a apresentação dos conceitos de promoção da saúde e intersetorialidade e, por meio deles, uma abordagem mais contemporânea da interface saúde e educação e sua relação com a Fonoaudiologia no contexto de políticas públicas. 6WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. HISTÓRICO DA FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR A Fonoaudiologia surgiu no Brasil vinculada ao setor educacional, objetivando a padronização da língua oficial do país na década de 1920 (MARANHÃO, PINTO e PEDRUZZI, 2009). O brasileiro teria de ter um modo de falar caracterizado como seu e, para isso, era fundamental diminuir a influência dos sotaques dos diversos povos migrantes no cotidiano social. Os gestores elegeram a escola como local de homogeneização da língua portuguesa no Brasil, a ser colocada em prática por professores especializados em fala. Com o exercício profissional, o caráter complexo da atividade, o contato com alterações de fala e linguagem, esses professores passaram a se aproximar dos conceitos e técnicas da área da saúde, tendo em vista que lidavam constantemente com a reabilitação de alterações na comunicação. Isso, no decorrer das décadas de 1950, 1960 e 1970 resultou em um distanciamento da fonoaudiologia do ambiente escolar e uma perda da identificação inicial com a escola. O profissional da fonoaudiologia, durante grande parte de sua existência no Brasil, esteve voltado muito mais para a prática clínica, que abriga seus principais paradigmas de formação, que para o trabalho educativo. Bacha e Osório (2004), ao realizarem uma revisão histórica da relação entre a Fonoaudiologia e a Educação, afirmaram que o exercício da Fonoaudiologia no Brasil foi iniciado pelos Ortofonistas, profissionais do magistério que recebiam um curso de curta duração de aproximadamente 3 meses que os habilitavam a trabalhar com os distúrbios da comunicação, sendo conhecidos também pelas nomenclaturas de Terapeutas da Palavra ou Logopedistas. O cotidiano do trabalho com os distúrbios, o processo de entendimento das alterações da comunicação, a elaboração das intervenções de reabilitação exigiram desses profissionais a aproximação com ciências como a medicina e psicologia. A partir dessa forte vinculação com a prática clínica, o profissional da Fonoaudiologia passou por uma mudança de paradigma na forma como se percebia e era percebido profissionalmente. Progressivamente, o professor que se habilitava no tratamento dos distúrbios da comunicação cedia lugar ao profissional da área da saúde, especialista na saúde da comunicação. Apesar da efetivação da comunicação continuar sendo o objetivo do profissional, a mudança do paradigma determinou formas de intervençõesdiferenciadas entre as duas posturas. Em 1981, com a regulamentação da profissão realizada pela lei nº 6965 de 09/12/2981, artigo 1º, parágrafo único ao definir a atuação fonoaudiológica na pesquisa, prevenção, avaliação e terapias na área da comunicação oral e escrita, voz, audição e aperfeiçoamento dos padrões de fala e voz, é possível observar que o ambiente escolar, enquanto campo de inserção do fonoaudiólogo, foi legalmente assegurado. Em 2002, o Conselho Federal de Fonoaudiologia, ao tratar do exercício profissional do fonoaudiólogo, previa, de forma explícita, a atuação no ambiente escolar, ressaltando que tal inserção deve abranger a rede regular de ensino, não se restringindo, portanto à Educação Especial. Em 2005, o Conselho Federal de Fonoaudiologia, por meio da resolução nº 309, novamente indica a importância do trabalho fonoaudiológico no ambiente escolar. Segundo esse documento, a intervenção desse profissional na escola deve ocorrer por meio de parcerias com os educadores, objetivando, dentre outros aspectos, a prevenção de alterações relacionadas à audição, à linguagem, à motricidade oral e voz e à otimização do processo de ensino e aprendizagem (CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA, Resolução 309, 2005). Mesmo com o distanciamento, em relação ao ambiente educacional, construído pela trajetória histórica da Fonoaudiologia no Brasil, é notado que esse espaço foi também historicamente resguardado, fator que denota o reconhecimento da importância das possíveis articulações entre a Fonoaudiologia e a Educação. 7WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2. FONOAUDIOLOGIA ESCOLAR UM CAMPO EM DESENVOLVIMENTO A escola é o espaço ideal para a atuação primária do profissional da Fonoaudiologia, pois é frequentado por crianças que se encontram no período de aquisição da linguagem (MARANHÃO, PINTO e PEDRUZZI, 2009). Em consonância com essa percepção, Zorzi (2008) considera que a escola contribui de forma significativa para a aquisição e desenvolvimento da linguagem, pois propicia experiências sociais a partir de situações diversificadas de comunicação que são convertidas em aprendizagem. Com isso, a atuação fonoaudiológica nesse ambiente pode contribuir para um ajustamento entre as características dos indivíduos e a proposta das escolas, promovendo uma melhora na qualidade da comunicação e consequentemente das experiências. Costa (1999) afirma que a intervenção fonoaudiológica no ambiente escolar é muito relevante, na medida em que pode preparar o aluno para a evolução do processo de alfabetização, contribuindo para a formação de indivíduos hábeis na leitura e escrita. Zorzi (2010) ressalta a necessidade do conhecimento produzido por fonoaudiólogos dialogar com outras áreas acadêmicas, incorporando nesse processo as dimensões pedagógica e educacional, passando a abordar a complexidade da comunicação que não pode ser reduzida somente a aspectos patológicos ou clínicos. Segundo ele, mesmo os indivíduos que não possuem patologias que afetem a comunicação e, portanto, são considerados “normais” podem possuir dificuldades relacionadas à leitura e escrita. O trabalho fonoaudiológico na educação pode contribuir para a superação das dificuldades de indivíduos com e sem patologias, como se pode observar no texto a seguir: “Muitas propostas de ensino não têm dado conta de preparar de forma adequada muitos daqueles alunos que têm condições favoráveis para aprender”. Não é difícil constatar o que aqui está sendo dito, basta procurarmos responder a algumas questões elementares: Por que tantas crianças afirmam não gostar de ler e escrever? Por que odeiam o português e tudo que se refere à linguagem? Como tais situações têm sido apresentadas para elas de modo a causar tal efeito? Que funções têm tido a linguagem, além daquela acadêmica? Se isso tudo acontece com quem pode aprender, imaginemos o efeito de tais programas sobre aqueles que têm reais dificuldades. (ZORZI, 2010). Apesar das grandes possibilidades de atuação da Fonoaudiologia no campo educacional observada pela reserva da educação como setor de intervenção fonoaudiológica, por diversas opiniões de especialistas educacionais e fonoaudiólogos, há de se reconhecer que a distância entre as duas áreas inseriu uma lacuna relacionada aos métodos de intervenção. A regulamentação da profissão do fonoaudiólogo e as diversas resoluções do Conselho Federal de Fonoaudiologia foram eficazes na definição dos campos em que o profissional atuará na escola. Entretanto, é necessário reconhecer que tais documentos não conseguem superar o problema da falta de identificação dos profissionais da fonoaudiologia com a área educacional. Como os fonoaudiólogos, tradicionalmente formados a partir de um paradigma alicerçado na patologia e na prática clínica, estando distantes há décadas do setor educacional, irão desenvolver suas atividades? Quais os métodos de intervenção? Quais os limites entre a função do fonoaudiólogo na escola e o professor? Quais subsídios teóricos metodológicos esses profissionais possuem para atuar no campo educacional? Tais questionamentos são muito importantes no processo de articulação entre a Fonoaudiologia e a Educação, sendo reflexões a serem efetuadas principalmente pelos próprios fonoaudiólogos, já que os procedimentos existentes no ambiente escolar continuam a serem desenvolvidos mesmo sem a presença do fonoaudiólogo. 8WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para Lagrotta e César (1997), o trabalho fonoaudiológico na escola pode ser dividido em quatro etapas operacionais: o diagnóstico institucional, a triagem, orientação a pais e professores e a participação no planejamento escolar. Apesar da importância de todos os estágios, o autor chama a atenção para o cuidado com a realização da triagem, pois é ela quem fornecerá os dados de estruturação do planejamento e das ações voltadas aos pais. Oliveira e Natal (2011), ao abordarem a Fonoaudiologia Educacional, afirmam que esta deve priorizar a troca de conhecimentos entre os profissionais envolvidos com o objetivo de promover o desenvolvimento da criança. Para elas, mesmo durante o planejamento escolar, o fonoaudiólogo deve adotar uma postura baseada na orientação, tendo em vista que essa tarefa é, em essência, voltada para os profissionais da pedagogia. As autoras percebem o fonoaudiólogo como um assessor que deve atuar em conjunto com os professores, refletindo sobre os discursos que revelem suas práticas pedagógicas. Tal assessoria deve priorizar o desenvolvimento da linguagem escrita, tendo em vista que, segundo dados obtidos a partir de pesquisa com 19 professores que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental público em cidades do interior do estado do Paraná, esses profissionais, mesmo estando legalmente habilitados ao exercício do trabalho, possuem carência de conhecimentos fundamentais para a realização do processo de alfabetização. O assessoramento, principalmente dos professores, também é ressaltado por Roncato e Lacerda (2005). Para elas, a função do fonoaudiólogo deve ser baseada na conscientização dos educadores de seu papel de interlocutor ativo, introdutor de palavras e sentidos no cotidiano dos alunos: Assim, cabe ao fonoaudiólogo que atua no ambiente escolar apontar/conscientizar o educador quanto ao seu papel de interlocutor mais ativo/poderoso/ideal; pois é ele quem, na maior parte do tempo, introduz palavras com sentidos novos, muitas vezes inesperados pelos alunos, convidando-os a reflexões e ideias até então “desconhecidas”. O professor provoca novas relações com as palavras e sentidos, e tais aspectos podem ser melhor explorados no espaço escolar (RONCATO e LACERDA, 2005). Costa (1999) enfatiza que o fonoaudiólogo educacional deve compreender de forma clara que seu papel está em contribuir com o processo protagonizado pelo professor a partirde novas estratégias. Nessa articulação, o professor deve ter uma postura crítica de sua prática pedagógica, bem como sobre as informações transmitidas pelo fonoaudiólogo, não se limitando a efetuar reproduções, em sala de aula, de fórmulas fonoaudiológicas acríticas. A definição dos papéis a serem ocupados no espaço escolar é de suma importância para a consolidação da Fonoaudiologia Educacional. No entanto, o reduzido número de instituições educacionais que possuem fonoaudiólogos vinculados oficialmente à equipe pedagógica e o conhecimento insuficiente de fonoaudiólogos e professores de como seria desenvolvida a Fonoaudiologia Educacional são barreiras a serem superadas. 9WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. PAPÉIS DO FONOAUDIÓLOGO ESCOLAR O fonoaudiólogo possui formação em Saúde e atua nos setores público e privado. É responsável pela promoção da saúde, prevenção, avaliação e diagnóstico, orientação, terapia e aperfeiçoamento dos aspectos que envolvem a comunicação e pode desenvolver atividades de ensino, pesquisa e administrativas. A Fonoaudiologia Educacional é uma área de especialização da Fonoaudiologia voltada ao estudo e atuação para a promoção da Educação, em todos os níveis ou modalidade de ensino. A meta dessa parceria se dará tanto nos aspectos que visam à otimização do processo de ensino e aprendizagem como no manejo de situações que sinalizam dificuldades nesse processo, e que, sendo precocemente detectadas, evitam a evolução de determinados quadros, propiciando melhores resultados. Ressaltam-se aqui os problemas relacionados à aquisição da escrita; alterações na oralidade, mais conhecidas como trocas e omissões de sons na fala; os comprometimentos vocais; problemas auditivos; distúrbios das estruturas e funções estomatognáticas, que afetam a articulação, a respiração, a deglutição e a mastigação. Nessa perspectiva o profissional poderá, em parceria com equipe educacional: • Disponibilizar e discutir informações/conhecimentos a respeito dos aspectos concernentes à Fonoaudiologia que beneficiem o educador e o aluno; • Prestar assessoria fonoaudiológica e dar suporte à equipe escolar discutindo e elegendo estratégias que favoreçam o trabalho com alunos que apresentam dificuldades de fala, linguagem oral e escrita, voz e audição; • Contribuir para a inclusão efetiva dos alunos com necessidades educacionais especiais, de modo especial promovendo a acessibilidade na comunicação; • Realizar ações promotoras de saúde que resultem no desenvolvimento dos alunos e na saúde da equipe escolar, no que se refere à linguagem oral, escrita, audição, motricidade orofacial e voz; • Orientar as famílias ou os cuidadores em relação ao desenvolvimento das crianças, principalmente as de maior vulnerabilidade social; • Conhecer a realidade local e elencar ações de promoção à saúde a serem desenvolvidas no âmbito escolar, por todos os atores sociais; • Participar de reuniões com a equipe multiprofissional para acompanhamento sistemático e contínuo das ações desenvolvidas com os educandos, equipes escolares, pais ou responsáveis; • Contribuir para o diagnóstico da situação de saúde auditiva dos ambientes escolares, apontando necessidades, pedindo avaliações de aferição de ruído e buscando soluções para contribuir com a saúde auditiva; • Participar de formação continuada e capacitação específica aos professores e equipes escolares, buscando disseminar o conhecimento em assuntos fonoaudiológicos; 10WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Favorecer, junto à equipe pedagógica, encaminhamentos dos alunos para exames específicos e/ou acompanhamentos terapêuticos que se fizerem necessários aos equipamentos de referência ou unidades de referência, articulando, dentro do possível, a troca de informações entre os profissionais da saúde e da educação; • Orientar pais ou responsáveis quanto às necessidades educacionais de seu(s) filho(s), de forma a buscar parceria no trabalho pedagógico e às intervenções necessárias em outros âmbitos (saúde, assistência social etc.); • Participar de reuniões pedagógicas, conforme necessidades levantadas pela equipe técnica e/ou escolar; • Participar do processo de elaboração da avaliação dos alunos, discutindo suas necessidades educacionais especiais, as adaptações realizadas e a serem feitas, objetivando o encaminhamento educacional mais adequado; • Desenvolver projetos ou programas de articulação intersecretarias de saúde e educação, e intersetoriais, contribuindo para a integralidade de atendimento ao munícipe; • Orientar hábitos de saúde e realizar campanhas educativas, de acordo com a necessidade da comunidade escolar; • Apoiar o professor ao participar do horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) e do horário de trabalho pedagógico individual (HTPI); • Realizar o levantamento das necessidades das instituições educacionais, com todos os atores sociais envolvidos (equipe pedagógica, equipe de apoio, professores), e elaborar, discutir e propor um planejamento com as ações elencadas. Os fatores determinantes do sucesso escolar dizem respeito às competências sociais, políticas, ambientais e comunicativas, tanto dos professores quanto dos alunos, sendo que a competência comunicativa está ligada à linguagem oral e escrita. Toda a aprendizagem depende de tal desenvolvimento. Sabemos que o fracasso escolar e as dificuldades de aprendizagem têm, em suas origens, insuficiências nessas competências comunicativas, sendo um verdadeiro desafio pedagógico promovê-las. O fonoaudiólogo possui conhecimentos aprofundados sobre as habilidades cognitivas e linguísticas envolvidas na aprendizagem, podendo desenvolver, junto aos educadores, estratégias de aprendizagem eficazes. O fonoaudiólogo torna-se, assim, um parceiro da equipe escolar e sua ação reflete-se sobre o desenvolvimento dos alunos e na relação com os familiares, trazendo maior eficácia às ações pedagógicas. É um profissional de fundamental importância que acrescenta qualidade ao processo educacional, tornando-se um diferencial na escola em que atua. 11WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. INTERDISCIPLINARIEDADE A Resolução 309/200516 do Conselho Federal de Fonoaudiologia dispõe sobre a atuação do fonoaudiólogo em todos os níveis da Educação. Preocupada fundamentalmente em estabelecer modalidades possíveis de trabalho nesse contexto, ratifica, mais uma vez, a legislação anterior que proibia a realização de atendimento clínico-terapêutico nas escolas de ensino regular (Artigo 2°). Além desse documento, a Resolução 387/201017 apresenta as atribuições e competências do especialista em Fonoaudiologia Educacional estendendo-as, ainda, “[...] a todos os fonoaudiólogos que atuam na Educação, independentemente de possuírem especialização nesta área”17 (CONSELHO FEDRAL DE FONOAUDIOLOGIA, 2013). O exame dessa deliberação sinaliza para a necessidade de um movimento importante a ser realizado pelo profissional que pretende elaborar propostas de trabalho voltadas a essa esfera. No Artigo 3° da Resolução 387/2010, item 1, relativo à área do conhecimento necessária para essa prática, enfatiza-se a obrigatoriedade do fonoaudiólogo que atua em ambiente escolar de “[...] conhecer as políticas de educação definidas em âmbito federal, estadual e municipal, bem como os programas, projetos e ações relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem” (CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA, 2013). Essa condição, com efeito, é necessária ao próprio desenvolvimento de uma das competências desse profissional estabelecidas na mesma legislação: aquela, explicitada no item II do Artigo 2°, que faculta ao fonoaudiólogo a participação no planejamento educacional da Instituição. Ou seja, o que se quer sublinhar é que tal competência não podeser levada a cabo se o fonoaudiólogo não se dispuser a (re)conhecer os objetos e os objetivos da Educação inscritos nas leis e diretrizes desse campo, o que implica, obrigatoriamente, no compromisso de explorar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Este é, sem dúvida, um primeiro passo para o exercício interdisciplinar nesse âmbito. O FONOAUDIÓLOGO FORNECE LAUDOS OU DIAGNÓSTICOS CLÍNICOS DE ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NOS ALUNOS? Conforme mencionado, é vedado ao fonoaudiólogo que atua no espaço escolar realizar atos de cunho clínico/diagnóstico. Os alunos que necessitam de avaliação deverão ser encaminhados para os serviços de saúde. Cabe ao fonoaudiólogo que atua em equipamentos de saúde, realizar diagnósticos e produzir os laudos nas áreas de sua competência. Vale salientar que a realização de laudos e diagnósticos das deficiências previstas no Atendimento Educacional Especializado (deficiências física, sensorial e intelectual, transtorno invasivo do desenvolvimento e superdotação) são de responsabilidade restrita do médico. Destaca-se ainda que, com a publicação da Nota Técnica nº 04/2014/MEC/SECADI/DPEE, foi retirada a obrigatoriedade de laudo médico para inclusão da criança com dificuldades na escola regular. Considera-se que a exigência restringia o direito universal de acesso à Educação. 12WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ocorre, contudo, que a realização dessa tarefa pelo fonoaudiólogo representa para ele um grande desafio: o de reconhecer que o delineamento dos objetos da Educação, bem como de suas proposições problemáticas, está fora do escopo do binômio “saúde-doença” que pauta, predominantemente, as atuações na Fonoaudiologia. Admitido o impasse, é mesmo dessa complexidade que se trata quando se decide enfrentar, no campo profissional, a questão da interdisciplinaridade, correlativa ao encontro entre diferentes e com “a diferença”. No caso da Fonoaudiologia Educacional, propostas de atuação que se pretendem interdisciplinares, voltadas à promoção de mudanças no ambiente escolar, não podem partir ou movimentar-se em torno dos objetos e objetivos que deram lugar à existência da Fonoaudiologia enquanto núcleo de saber ou profissão. Ou seja, não podem partir das alterações na audição, voz, motricidade oral e linguagem, vistas como geradoras dos ditos “distúrbios da comunicação”, durante muito tempo, alvo exclusivo da incidência clínica das ações fonoaudiológicas. O comprometimento com o conhecimento das políticas de educação requer do fonoaudiólogo a disposição para discutir as várias formas de atualização dessas diretrizes em contextos educacionais concretos, bem como a abertura para estabelecer interlocuções mais focadas nas demandas educacionais. Consequentemente, esse compromisso exige dele a disponibilidade interna para sustentar um intervalo de suspensão dos conhecimentos relativos à prática anteriormente mencionada, focada a priori nos objetos configuradores de seu núcleo profissional teórico e prático. Há ainda, por vezes, um “suposto saber” por parte do fonoaudiólogo, acerca da escola e de suas práticas, posto que todo adulto participou do ambiente educacional durante muitos anos de sua própria formação enquanto cidadão. Também esta experiência, constitutiva da biografia de cada profissional, que agora volta seu olhar para o contexto educacional, precisa ser reconhecida como um fator determinante, muitas vezes, da assunção de uma posição de “quem já sabe sobre o que ocorre nesse contexto”. Contudo, “o saber da escola” adquirido como marca de um processo vivido como “aprendiz” é distinto “do saber sobre a escola” daquele que se preparou, de alguma maneira, adquirindo um conhecimento que lhe viabiliza protagonizar, nesse espaço, o papel de educador. O que se quer enfatizar é que a experiência adquirida relativamente ao “saber da escola”, primeiramente mencionado, não pode ser simetrizada ao “saber do educador” e nem transposta para a escola sem mediação, pois o tempo, as condições, o contexto social e o “conhecimento acerca da escola”, por parte de ambos os profissionais em questão, são necessariamente diversos. Nesse ponto, cabem duas indagações: A despeito das motivações clínicas que instituíram a Fonoaudiologia como núcleo profissional, o fonoaudiólogo consegue, em sentido estrito, reconhecer os objetos e objetivos da Educação quando propõe práticas no contexto educacional? Se o reconhecimento desses objetos e objetivos é uma condição para o exercício da interdisciplinaridade no contexto educacional, em que medida as propostas, nesse âmbito, centradas nos objetos das subáreas da Fonoaudiologia, podem, de fato, ser qualificadas como “interdisciplinares”? Considerando o acima exposto ao lado da acepção desnaturalizada do termo “interdisciplinaridade”, seria precipitado e até ingênuo afirmar que a Fonoaudiologia Educacional se configura, de forma hegemônica, como interdisciplinar. 13WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Em primeiro lugar, há de se admitir a grande diversidade das práticas fonoaudiológicas implementadas no contexto educacional. Mais do que distingui-las a partir de modalidades possíveis de ação (palestras, cursos, oficinas, orientações, triagens etc.), os trabalhos se diferenciam de acordo com a ideologia e os subsídios teóricos que o sustentam e podem ser, grosso modo, compreendidos em duas grandes tendências: os pautados no binômio saúde-doença, centrados na prevenção e cura dos supostos “distúrbios da comunicação” que podem afetar a população escolar, e aqueles que buscam, de fato, romper com esse modelo, a partir do delineamento de ações voltadas aos objetos e objetivos da Educação. Com relação à primeira tendência agora apontada, em que pese o histórico da transferência massiva de abordagens da clínica fonoaudiológica para o ambiente escolar, muitas formas de ação em saúde têm sido verificadas nesse espaço. Nele, os conhecimentos oriundos das diversas subáreas da Fonoaudiologia, como audição, motricidade oral, voz e linguagem, são movimentados em estratégias cujo caráter é predominantemente protetivo/preventivo. Exemplos de iniciativas nesse sentido são as oficinas voltadas ao trabalho com a voz do professor tendo em vista a alta incidência de problemas vocais nessa população; as palestras visando à conscientização de ruídos prejudiciais à audição de escolares; as orientações quanto à consistência de alimentos ofertados na merenda escolar e à realização de exercícios de motricidade oral com os alunos no sentido de favorecer a articulação e o adequado desenvolvimento e execução das funções estomatognáticas; as frequentes palestras e orientações direcionadas aos educadores e pais enfocando os distúrbios da linguagem oral e escrita e as orientações acerca dos sinais para detectá-los, entre outros. Todas essas iniciativas podem ser identificadas como ações multidisciplinares na medida em que o fonoaudiólogo atua “cooperando” tecnicamente, a partir da transferência de seus próprios conhecimentos para a prevenção e encaminhamento para o tratamento, quando necessário, de alunos e professores com “patologias” vocais, auditivas, miofuncionais orais e, a partir dessa perspectiva, também, de linguagem. Importa reconhecer que, advindas do campo da saúde, tais práticas, em ambiente escolar, revelam-se mais como ações voltadas à saúde, na esfera preventiva, do que como ações voltadas propriamente aos objetos e às necessidades mais prementes da Educação. Vale reconhecer que alguns impasses se desdobram a partir dessas atuações: em que medida a detecção de problemas no desenvolvimento neurobiológico, cognitivo ou psíquico dos estudantes, conteúdo frequentemente ministrado em palestras e cursos oferecidos aos professores, pode auxiliá-los a enfrentar o desafio de fazer com que todos participem do processo de ensino-aprendizagem? Em geral a identificaçãode supostos déficits nos escolares faz com que o docente transfira a demanda por aprendizagem que o aluno lhe dirige, em demanda por trabalho clínico e para um profissional de saúde. Tal encaminhamento, ainda que reconhecido, às vezes, como necessário e adequadamente realizado, não resolve a problemática que o professor precisa enfrentar em seu cotidiano, pois, na sala de aula, as dificuldades no processo de ensino/ aprendizagem permanecem. Nesse sentido, o professor não é auxiliado a se “emancipar” como alguém capaz de enfrentar as demandas que o aluno continua a lhe dirigir por aprendizagem. Por outro lado, orientações oferecidas pelo fonoaudiólogo aos professores podem ter pouca viabilidade prática na sala de aula, pois, não raro, são individualizadas e quase sempre oriundas de estratégias implementadas em abordagens clínicas, as quais desconsideram o especificamente educacional, o que restringe enormemente as probabilidades de abertura para uma rica discussão pedagógica que a situação provavelmente mereceria. A transferência de ações nucleadas na clínica pode obscurecer, portanto, para ambas as partes – fonoaudiólogo e educador – o desafio educacional. 14WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Abordou-se, anteriormente, a transposição de práticas oriundas do campo da saúde para o espaço escolar. As pontuações realizadas não têm como objetivo desqualificar ou descartar possibilidades de realização, na Escola, de práticas de promoção da saúde e qualidade de vida, oriundas do campo da saúde coletiva. Em um país como o nosso, em que ações intersetoriais são reconhecidas como necessárias para dar conta do atendimento integral à grande parcela da população, sabe-se que a Escola tem sido considerada como palco privilegiado para a implementação de iniciativas de “educação em saúde” que visam à transmissão de conhecimentos relativos aos cuidados básicos nessa esfera. Tais iniciativas não estão à margem de um projeto de “Educação para a cidadania”, tarefa primordial da Escola. Assim, ainda que se considere, a princípio, cautela no que diz respeito à identificação das ações fonoaudiológicas anteriormente exemplificadas como “práticas de saúde coletiva” (verificar as diretrizes mais atuais que norteiam as ações nesse campo), importa refletir sobre a seguinte situação. Se Escola tem sido hoje concebida como um local indispensável para o desenvolvimento de ações no campo da saúde, o que faz com que suas portas estejam abertas para o livre acesso de profissionais daquele campo no seu interior, o espaço e o tempo por eles ocupado no ambiente escolar, dedicado a essas ações, em sua maioria, multidisciplinares, têm ultrapassado, muitas vezes, o limite do desejável. Isso ocorre quando o espaço e o tempo dos profissionais de saúde se sobrepõem ao espaço e ao tempo do professor, destinados ao compartilhamento do conhecimento socialmente organizado com os alunos, a partir dos processos de ensino e aprendizagem da linguagem oral e escrita, da Matemática, das Ciências Biológicas, da História, da Geografia, das Artes, da Educação Física etc. O conceito de interdisciplinaridade tem sido amplamente discutido no campo da saúde coletiva. Parte-se do princípio de que é preciso operar transformações no modo como se concebe e se trata os objetos oriundos do encontro entre distintas disciplinas e campos profissionais. Pensar a vida saudável para além dos processos que atrelam saúde-doença significa ultrapassar a ideia de prevenção e esse é o grande desafio desse campo. Nessa perspectiva, propostas de trabalho resultantes do encontro da Fonoaudiologia com a Educação são pertinentes desde que assumam o compromisso com a qualidade do ensino. É apenas nessa dimensão que se justifica falar em melhora da “qualidade de vida” na Escola. Dito de outro modo, se o fonoaudiólogo pretende contribuir, de fato, para melhorar a “qualidade de vida” na escola, é preciso que ele colabore para melhorar a qualidade de ensino. Para tanto, é necessário o reconhecimento de que, entre os objetos de atuação da Fonoaudiologia, a linguagem é aquele que mais propriamente convoca e justifica a pertinência das ações do fonoaudiólogo voltadas à Educação, dado que se constitui, também, como objeto para esse campo. Mais precisamente, as dificuldades no processo de ensino-aprendizagem da leitura e escrita estão na base do fracasso escolar. Para enfrentar ao lado da escola esse desafio, é preciso compartilhar com o professor as práticas de linguagem oral e escrita por ele encaminhadas na sala de aula. Ressalta-se que, nessa dimensão, as propostas em Fonoaudiologia Educacional devem pautar-se em metodologias ativas. Essas são, por natureza, interdisciplinares e requerem, além do conhecimento das políticas públicas e diretrizes que norteiam a Educação, do projeto político pedagógico da instituição de ensino em questão, bem como de sua realidade cotidiana, a participação do professor na elaboração da proposta. 15WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A partir dessas metodologias, algumas modalidades de atuação podem ser delineadas: procedimentos de observação, escuta, análise conjunta e coordenada de necessidades e a problematização e constante reavaliação das propostas com vistas ao enfrentamento coletivo dos desafios que emergem do encontro entre áreas distintas: afinal, não raro, as diferentes concepções de linguagem de ambos os profissionais e o objetivo de ensino da linguagem que permeia o universo escolar requerem discussão e ajustes nas ações implementadas. Assim, o que se quer enfatizar é que a ação educativa requer um olhar do fonoaudiólogo para o que é necessária à potencialização do diálogo no contexto escolar. Isso supõe experiência/ permanência na escola e a observação dos espaços educacionais. As questões de linguagem escrita podem ser abordadas em trabalhos que partam da perspectiva do letramento e da mediação de leitura, subsidiando projetos que envolvem professores, educadores especiais, bibliotecários e os próprios estudantes como multiplicadores de ações na comunidade escolar e extraescolar. Ler e escrever são ações sociais e absolutamente necessárias à formação integral para a cidadania. Diante do grau de analfabetismo ainda vigente no país, projetos desse porte podem ter grande impacto na transformação desejada. Claro está que, para construir de modo interdisciplinar e coletivo projetos que visem o enfrentamento da problemática afeita à potencialização de dispositivos para trabalhar a leitura e a escrita, é necessário o embasamento em concepções de linguagem compatíveis com a abordagem sócio- histórica deste bem cultural. Outras ações interdisciplinares, visando ainda potencializar o dialogismo no contexto educacional se referem às necessidades especiais de estudantes deficientes: o trabalho com o acesso às formas de comunicação alternativa, por exemplo, para os deficientes visuais, auditivos ou ainda aqueles com grandes dificuldades motoras, requer o diálogo e construção de projetos com educadores especiais, pedagogos, intérpretes, ledores, psicólogos e outros profissionais. Projetos que envolvam não apenas os alunos com deficiências, mas todos, principalmente aqueles que não as têm e que podem colaborar, seja aprendendo e multiplicando as linguagens alternativas, seja participando de atividades que envolvam outras linguagens, como música, pintura, desenho e linguagens corporais diversas, que possam ampliar a elaboração simbólica de conteúdos variados. Desse modo, o que aqui está em pauta é a definição de um núcleo interdisciplinar voltado para o campo das ações educacionais e culturais, que não se confunde com as ações de saúde levadas a efeito no contexto escolar. Ao discutir sobre a interdisciplinaridade no contexto de ensino, Fazenda (2011) enfatiza: Muito mais que acreditar que se aprende a Interdisciplinaridade praticando-aou vivendo-a, estudos mostram que uma sólida formação à interdisciplinaridade encontra-se extremamente acoplada às dimensões advindas de sua prática em situação real e contextualizada. As palavras da autora dão relevância à necessária remissão aos fundamentos teóricos que possibilitam interpelar os objetos de diferentes disciplinas, bem como os modos pelos quais elas podem se relacionar. Práticas interdisciplinares, nessa medida, só podem resultar desse movimento, ou seja, são teoricamente orientadas por tais fundamentos. Para fins de elaboração deste capítulo, a busca por artigos que discorressem sobre a questão da interdisciplinaridade durante a formação nos cursos de graduação em Fonoaudiologia identificou apenas duas publicações em períodos próximos, o que indica a pouca familiaridade do fonoaudiólogo com essa temática a despeito da alegada “vocação interdisciplinar” dessa área. Como dito na introdução deste capítulo, a discussão sobre os princípios da interdisciplinaridade, bem como a mobilização de estratégias e procedimentos interdisciplinares, ao longo da graduação, parecem ser essenciais à possibilidade futura de proposição e concretização de práticas profissionais assentadas nessa perspectiva. 16WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Torna-se relevante, deste modo, apontar para a importância da realização de estudos voltados à exploração e análise de ações e práticas interdisciplinares vivenciadas no contexto de formação inicial do fonoaudiólogo. 5. DIFERENTES PANORAMAS DE ATUAÇÃO DO FONOAUDIÓLOGO ESCOLAR A Fonoaudiologia é uma ciência que tem como uma de suas fontes de origem e pilar de fundação as escolas. Foi principalmente no ambiente educacional, com dificuldades, impasses e dúvidas relacionadas com o posicionamento de professores e da equipe escolar quanto aos problemas de fala, dificuldades de aprendizagem, alterações vocais e deficiências sensoriais e cognitivas que nasceram as primeiras ações e inspirações do que hoje realizamos nas práticas clínicas e educacionais fonoaudiológicas. Da Hungria, de onde foi criado o primeiro curso de Fonoaudiologia no mundo, com institutos de apoio educacional às crianças surdas e com outras dificuldades, à França, com madame Borel-Maisonny e o seu método de aprendizagem da fala, leitura e escrita, passando pelas origens da Fonoaudiologia nos EUA, no Canadá e em tantos outros países, vemos grande influência das ações educacionais e práticas com base em trabalhos que foram surgindo das demandas educacionais. Especialmente no Brasil, a história da Fonoaudiologia está ligada às ações em educação especial. Logicamente, as ações foram amadurecendo e sendo transformadas de acordo com as modernas concepções, os modelos teórico, e, sobretudo, os preceitos atuais de ética e respeito à legislação vigente. Desse período de nascimento da Fonoaudiologia nas escolas às práticas de Fonoaudiologia Educacional atuais, uma verdadeira metamorfose aconteceu. Das práticas centradas em processos patológicos nasceram técnicas, teorias e fundamentos importantíssimos para a atuação clínica atual. Das práticas educacionais nasceram filosofias e condutas que hoje em dia são implementadas em contextos clínicos e educacionais. Nesse caminho, o fonoaudiólogo percebeu que ele não precisa permanecer focado nos processos patológicos, embora passe por eles. Houve um distanciamento gradativo das práticas clínicas no ambiente educacional, baseadas no modelo clínico-médico a partir da adoção de novos modelos e concepções do fazer fonoaudiológico nas escolas. Nesse contexto, a prevenção em fonoaudiologia surge dos estudos da saúde pública. A transformação continua, no sentido de maior ampliação da concepção da relação entre saúde, educação e Fonoaudiologia, movendo-se para a noção de promoção de saúde e, finalmente, de potencialização da comunicação no ambiente educacional. Assim, há uma mudança de postura e paradigma, partindo do patológico ao preventivo, e da prevenção à promoção de saúde. Tal mudança conduziu gradativamente as ações fonoaudiológicas nas escolas a uma perspectiva de atuação focada no processo de desenvolvimento biológico, psicológico, cultural e social. 17WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5.1 O Cenário Educacional: Onde a Fonoaudiologia se Insere? Muitos países vêm buscando estratégias que possibilitam o alcance de uma boa performance educativa para todos os escolares. Principalmente nessa era de globalização, há uma “obrigação” por práticas responsivas que diminuam os problemas de linguagem e aprendizagem que interferem diretamente na aquisição da leitura e da escrita. Países como Inglaterra, Canadá e Estados Unidos entendem que o desenvolvimento da criança no contexto educacional é uma obrigação do Governo nos âmbitos federal e estadual e, consequentemente, quanto mais precocemente forem identificados os problemas de linguagem e aprendizagem que podem comprometer o sucesso da relação ensino-aprendizagem, mais rapidamente serão desenvolvidas estratégias de adaptação e compensação das dificuldades ou alterações em leitura e escrita, nas quais o papel do fonoaudiólogo educacional é fundamental. Assim, as pesquisas desenvolvidas pelo mundo não mais se limitam à preocupação com as taxas de analfabetismo ou índice de letramento, mas focalizam a eficácia e a eficiência da aprendizagem curricular, pela real aprendizagem dos conteúdos propostos pelas esferas educacionais governamentais e organizações mundiais. Um modelo dinâmico de aprendizagem é o alvo, e a forma de alcançá-lo é foco de discussões e muito estudo em todo o mundo. A maior parte dos países pontuados com alto índice em programas internacionais de avaliação do desempenho escolar, como a Finlândia, China e Coreia, apresenta como diferencial a grande valorização da profissão docente. Professores capacitados, valorizados e adequadamente instrumentalizados fazem toda a diferença. Há, também, de se levar em conta o índice de desenvolvimento do país e as condições em que as diferenças se apresentam. O professor que precisa lidar com heterogeneidades econômicas, riscos sociais, entre outras diversidades certamente encontrará mais obstáculos para cumprir com o programa educacional previsto. Os sistemas educacionais desses países bem avaliados consideram as diferenças dos estudantes, seus interesses e distintos contextos sociais em abordagens individualizadas para a aprendizagem. Mas onde a Fonoaudiologia Educacional se enquadra neste contexto? O fonoaudiólogo educacional é o profissional que deve estar engajado nas atividades educacionais, não somente no âmbito local, da escola onde trabalha ou presta assessoria, mas também nas políticas públicas municipais, estaduais e federais. Refletir, estudar com os educadores e propor alternativas para lidar com as diversidades, os obstáculos e as diferenças é papel desse profissional. Seu diferencial é um amplo conhecimento dos processos neurodesenvolvimentais da comunicação humana, profundo domínio teórico e prático de seus distúrbios, com capacidade de participar de um processo conjunto de proposição de estratégias para o seguimento, o monitoramento e o desenvolvimento das habilidades necessárias para a aprendizagem. Sua abordagem considera o ser humano de maneira única, com suas diferenças, suas dificuldades e, sobretudo, seu potencial. Por isso, que de modo sistemático, é verificada na atuação fonoaudiológica educacional pelo mundo o desenvolvimento de ações de investigação que possibilitem a esse profissional conhecer a realidade para realizar o levantamento dos problemas de leitura e escrita em âmbito escolar, bem como identificar quais as habilidades metalinguísticas e metacognitivas são preditoras ou facilitadoras para a aprendizagem da leitura e escrita. A partir dessa investigação, são desenvolvidas propostas de ações educativasque possibilitem atender às necessidades cognitivo- linguísticas previamente identificadas tanto pelos fonoaudiólogos, como pelos professores para o trabalho específico com a leitura ou a escrita. 18WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5.2 A Fonoaudiologia Educacional no Mundo A Fonoaudiologia Educacional, embora seja uma área de atuação nascida junto com a Fonoaudiologia enquanto profissão e ciência, conforme discutimos, foi oficialmente reconhecida como especialidade no Brasil apenas em 2010, a partir da Resolução 382 do Conselho Federal de Fonoaudiologia, de 20 de março de 2010. Assim, foi incluída como Departamento da Sociedade brasileira de Fonoaudiologia em 2012. A partir de então, cria-se uma área de estudo científico na Fonoaudiologia brasileira, cuja identidade vem se transformando por décadas. Atualmente, as ações nesta especialidade são pautadas pelas Resoluções do CFFa 309/200513 e 387/201014, que preconizam, em linhas básicas, uma atuação em parceria com os profissionais de educação, de forma a compor a equipe escolar e realizar atividades de avaliação e diagnóstico institucional; participação do planejamento educacional; desenvolvimento de projetos educacionais voltados para educandos e educadores que visem à otimização do processo ensino-aprendizagem; e promoção de ações voltadas à população escolar em todos os ciclos de vida. As ações são educacionais, havendo interdição de atuação clínica sob a forma de avaliação ou intervenção no ambiente educacional. Os importantes avanços nos estudos científicos, concepções e práticas fonoaudiológicas na educação são resultado de todo um processo contextualizado histórico e socialmente. Desse modo, vêm evoluindo com as conquistas nos campos da saúde, educação e, sobretudo, da Fonoaudiologia brasileira, que, cada vez mais, cresce e destaca-se no cenário mundial. Nos tópicos abaixo, é proposto um estudo breve do cenário dessa especialidade em outros países, de modo a entendermos melhor como se dá essa atuação em diferentes culturas e realidades, a fim de nos localizarmos nesse painel. 5.2.1 A Orthophonie nas escolas francesas Na França, não há uma denominação para a especialidade Fonoaudiologia Educacional. É importante primeiramente delinear o contexto francês da profissão. A Fonoaudiologia, ou orthophonie, é uma profissão de grande reconhecimento em todo o território francês. O governo francês delimita o número de vagas oferecidas a cada ano no vestibular de todas as Universidades do país, sendo em torno de 700 a 800, de acordo com a demanda profissional. A seleção é muito concorrido e somente cerca de 10% dos candidatos são aprovados. Como consequência, tem-se um mercado muitíssimo valorizado com profissionais reconhecidos entre a população, profissionais da saúde e educação. Os estudos fonoaudiológicos são fortemente voltados para a área clínica. Há grandes trabalhos de prevenção e algumas estratégias localizadas de promoção de saúde voltadas para a população em geral. Sob este mesmo enfoque funciona a atuação do fonoaudiólogo nas escolas francesas. O objetivo da atuação é o monitoramento e a intervenção sobre os processos de aprendizagem de fala, leitura e escrita. O resultado final é uma ação de promoção da saúde, com ações em grupo e acompanhamentos individuais. Os fonoaudiólogos podem trabalhar nas escolas como profissionais liberais, em assessorias prestadas semanalmente ou contratados por associações, principalmente nos casos das escolas especiais, onde fazem parte do quadro de profissionais fixos. Há projetos de estimulação no ambiente escolar, como ateliês de estimulação de linguagem, que podem acontecer em sala, dirigidos a toda a classe ou a pequenos grupos de estimulação. 19WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A possibilidade de intervenção clínica nos ambientes educacionais é permitida por lei. A justificativa é a de que, dentro do contexto educacional francês, com aulas em período integral, a presença da intervenção clínica nas escolas evita a saída do aluno em período escolar para os atendimentos, sobrecarregando a sua agenda de atendimentos extracurriculares, normalmente já pesada, facilita os acompanhamentos multidisciplinares, nos casos em que a escola conta com equipes maiores e possibilita um diálogo mais próximo com os interlocutores educacionais. No entanto, atualmente, essa posição tem sido plenamente discutida pelos fonoaudiólogos franceses, com opiniões divergentes sobre o assunto. A legislação francesa preconiza que as crianças com necessidades educacionais especiais devem ser prioritariamente integradas em escolas regulares, sendo a educação especializada a exceção. Existem escolas especializadas no atendimento a quadros patológicos específicos, como aquelas específicas para crianças com dislexia e outros transtornos da linguagem oral. As crianças passam por esse tipo de escola em sistema de internato ou semi-internato semanal por um período de 1 a 2 anos, tempo em que recebem, paralelamente à educação formal, todos os atendimentos especializados necessários de maneira intensiva, além de atividades culturais e sociais de modo pluridisciplinar. Após esse período, os escolares são reintegrados ao sistema regular de ensino. Além dessa opção, a inclusão no sistema regular de ensino conta com assistência fonoaudiológica clínica e educacional, a partir de avaliações, acompanhamentos e intervenções que podem acontecer fora do ambiente educacional e também de maneira integrada às ações educacionais propostas aos demais alunos. E uma terceira opção são as classes de inclusão escolar, compostas de pequenas turmas (no máximo, 12 alunos), que seguem os mesmos currículos e as atividades de maneira parcialmente integradas aos demais colegas da mesma idade e escolaridade, dentro das escolas regulares. Existe um órgão do governo (Maison départamentale des personnes handicapées) responsável por orientar as famílias de escolares com algum tipo de necessidade educacional especial e organizar um projeto personalizado de escolarização encaminhando as crianças para o sistema mais adequado para elas. Assim, há envolvimento da família em todo o processo. O governo francês realiza um monitoramento do desenvolvimento das habilidades de todas as classes e de cada aluno. O serviço de inspeção acadêmica coordena os profissionais da educação, a organização pedagógica e a vida escolar de todas as escolas públicas. Realizam testagens para a identificação das dificuldades e designam auxiliares escolares que darão suporte à escolarização dos estudantes com necessidades educacionais especiais. Tal cenário está em processo de transformação, pois, enquanto escrevemos este capítulo, é aprovada na França a lei de orientação e programação para a reconstrução da Escola. Seu lema é “uma escola justa para todos e exigente para cada um”. Ela prega as bases de uma escola justa, inclusiva e exigente que cria, teoricamente, as condições para elevar o nível de todos os alunos e redução das desigualdades. 5.2.2 A Fonoaudiologia educacional na Espanha Na Espanha, a fonoaudiologia é designada como logopedia e a atuação do logopeda na instituição escolar é ampla. O objetivo da atuação é o monitoramento e a intervenção sobre os processos de aprendizagem da linguagem, leitura e escrita e o resultado final é uma melhora tanto no âmbito da prevenção e promoção da saúde do escolar, quanto na avaliação, no diagnóstico e na intervenção em grupo ou individual. Os fonoaudiólogos podem trabalhar em assessorias prestadas semanalmente às escolas ou contratados como parte do quadro de profissionais. 20WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O logopeda espanhol, no início, teve sua atuação delimitada nos Centros Escolares de Educação Especial e pouco a pouco abriu caminho de atuação juntoàs escolas de ensino básico e elementar, em decorrência das políticas inclusivas. Nesse contexto, surgiu a atuação do logopeda espanhol na prevenção, no diagnóstico, na estimulação, intervenção e no acompanhamento do desenvolvimento da linguagem e da aprendizagem. Os logopedas determinam o contexto apropriado para a prestação dos serviços clínicos de prevenção, diagnóstico, estimulação, intervenção, podendo ser eletivos a casa, a escola, a clínica, os hospitais ou os serviços na comunidade. A tomada de decisão sobre a admissão da criança em programas e atendimentos escolares são de responsabilidade dos logopedas. 5.2.3 Os Estados Unidos e os métodos em fonoaudiologia educacional Nos Estados Unidos, a legislação que regulamenta o sistema de inclusão pode variar de acordo com o estado. De maneira geral, a avaliação de alunos com necessidades educacionais especiais é realizada no próprio ambiente escolar por uma equipe que inclui o professor de educação especializada, o psicólogo escolar ou neuropsicólogo, o fonoaudiólogo e outros profissionais quando necessário. As crianças beneficiam-se de um diagnóstico e de um programa de educação especializado e individualmente delineado, de acordo com as necessidades educacionais levantadas pela equipe. O modo mais tradicional de intervenção no ambiente escolar é por meio de tutoria ou ensino personalizado dentro das classes regulares. Os estudantes podem também, excepcionalmente, ingressar em escolas especiais. A atuação do fonoaudiólogo educacional é específica para as áreas da linguagem e aprendizagem dentro das escolas. O objetivo da atuação é identificar o mais precocemente possível as alterações de linguagem e aprendizagem que podem comprometer a aprendizagem acadêmica. Para a obtenção desse objetivo, o fonoaudiólogo atua dentro da perspectiva do Modelo de Resposta à Intervenção (RTI). O Modelo de Resposta à Intervenção é definida pelo National Research Center for Learning Disabilities (NRCLD) como: [...] uma avaliação e processo de intervenção para monitoramento sistemático do progresso do estudante e tomadas de decisões sobre a necessidade de modificações do ensino ou crescente intensificação de serviços, utilizando informação do monitoramento do progresso (NATIONAL RESEARCH CENTER FOR LEARNING DISABILITIES, 1997). O objetivo principal do RTI é evitar problemas acadêmicos e comportamentais e ajudar na identificação de escolares com dificuldades de aprendizagem específicas. Froma et al. (2011), por meio de uma publicação da American Speech Language Hearing Association (Asha) sobre o RTI, descreveram que com o uso desse modelo de intervenção é possível identificar precocemente estudantes com problemas de linguagem, aprendizagem e leitura e, assim, proporcionar instruções cognitivo-linguísticas de alta qualidade para que esses estudantes superem as suas dificuldades durante o período de alfabetização. Como o modelo de resposta a intervenção (RTI) é um modelo educacional, ele foi introduzido nos Estados Unidos para evitar dificuldades de leitura (especificamente a dislexia), identificar precocemente aqueles em risco de fracasso escolar e elaborar planos educacionais adequados para todos os escolares. O RTI é um modelo também utilizado no Reino Unido e Holanda dentre outros países europeus. 21WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O uso do RTI no Brasil tem sido utilizado apenas em pesquisas com o objetivo de identificar precocemente escolares de risco para a dislexia do desenvolvimento. Brevemente, pesquisas realizadas para a identificação precoce de escolares com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e com transtornos do desenvolvimento da coordenação serão divulgadas. 5.3 Panorama da Fonoaudiologia Educacional em Outros Países Em suas diversas denominações pelo mundo, a Fonoaudiologia, segmentada por especialidades de atuação em alguns países, guarda o mesmo objeto de estudo comum: a comunicação humana em toda a sua abrangência e desdobramentos. O Brasil é um dos poucos países no mundo em que a atuação fonoaudiológica nas escolas é oficialmente reconhecida como especialidade. Essa condição denota um campo de trabalho e conhecimento científico com status de área em franco crescimento e com grande abrangência. Ao se considerar os milhões de estudantes a serem atendidos no sistema de ensino brasileiro nos diversos níveis e ciclos de vida, e ainda as dificuldades socioeconômicas das famílias, a realidade dos professores e a grande heterogeneidade que o sistema de educação precisa lidar, entre outros diversos fatores, depara-se com a difícil realidade brasileira, e nela a enorme responsabilidade do fonoaudiólogo ao lidar com essa área imensamente rica, abrangente e promissora. A especificidade da atuação nas escolas é sensivelmente diferente em cada país descrito. Isso reflete a história de cada povo, as demandas sociais, o contexto cultural e, sobretudo, a concepção de qual é o foco de atuação em Fonoaudiologia naquele contexto históricoeconômico- político-cultural. Esses diferentes contextos impulsionam demandas especiais, entre elas o atendimento clínico em escolas, que são justificadas na maior parte dos países pelo fato de os estudantes estarem nesse ambiente em tempo integral. Isso dificulta o acesso ao sistema de saúde em dias úteis. Alguns países, como os Estados Unidos, permitem apenas as intervenções clínicas de transtornos que estejam relacionados de alguma maneira com as questões educacionais, facilitando a abordagem e o diálogo saúde-educação e integrando as ações às desenvolvidas rotineiramente na escola. Para saber mais sobre a contribuição da fonoaudiologia por meio de seus profissionais no que se refere à inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais em escola regular, aces- sar: https://redib.org/Record/oai_articulo3023323-a-colabora%- C3%A7%C3%A3o-da-fonoaudiologia-educacional-em-prol-de- -um-sistema-de-ensino-igualit%C3%A1rio. https://redib.org/Record/oai_articulo3023323-a-colabora%C3%A7%C3%A3o-da-fonoaudiologia-educacional-em-prol-de-um-sistema-de-ensino-igualit%C3%A1rio https://redib.org/Record/oai_articulo3023323-a-colabora%C3%A7%C3%A3o-da-fonoaudiologia-educacional-em-prol-de-um-sistema-de-ensino-igualit%C3%A1rio https://redib.org/Record/oai_articulo3023323-a-colabora%C3%A7%C3%A3o-da-fonoaudiologia-educacional-em-prol-de-um-sistema-de-ensino-igualit%C3%A1rio 22WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A atenção à criança e ao adolescente deve ser a prioridade de todos os segmentos de uma sociedade. Investir em educação para essa população é a garantia de um futuro mais humano, justo e digno, com melhor qualidade de vida para todos, sendo de vital importância a construção da cidadania. De acordo com o art. 227 da Constituição Federal Brasileira: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). A Fonoaudiologia tem muito a oferecer, como parte integrante da equipe pedagógica, agregando conhecimentos sobre a comunicação humana, que são de sua competência, assim como discutindo estratégias educacionais que possam favorecer o processo de ensino e aprendizagem. Sendo a educação escolar um direito de todos, a Fonoaudiologia auxilia na potencialização de práticas pedagógicas que contribuam para a melhoria do processo de aprendizagem e, consequentemente, da qualidade da educação brasileira. Assista a análise sobre a atuação da Fonoaudiologia Educacional no pós Covid. Fonoaudiologia Educacional em tempos de Covid-19: Estruturação derotinas, atividades e orientações à pais e professores. Disponível em: https://youtu.be/UOAhcvf6urI. https://youtu.be/UOAhcvf6urI 23WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade buscou realizar um percurso de discussão, reflexão e tomadas de decisão com especialistas que atuam na área de Educação, de representantes de entidades profissionais e de fonoaudiólogos que atuam na área. Por ser fruto de um momento histórico, reconhece a importância da continuidade da discussão, à medida que novas mudanças e possibilidades serão vistas e organizadas, bem como novas necessidades serão constituídas. Para finalizar, salienta-se que atuar na Educação exige coragem de se destituir do “saber médico-clínico”, para reinventá-lo no desenvolvimento de capacidades, habilidades e possibilidades que auxiliem os atores do contexto educacional a executarem seu papel, que tem como foco principal a criança e seu desenvolvimento e aprendizagem. Para isso, buscou-se explicitar que o fonoaudiólogo precisa ter clareza de seu papel nessa área, considerando as especificidades diferenciadas de atuação no contexto de saúde, como clínica individual, mas de parceria com este. Papel profissional que, em tempos de globalização, aponta para a necessidade de revisão constante e capacidade de redimensionamento de ações a partir das novas legislações, políticas e programas, que vão se constituindo na Educação e na profissão, conduzindo a novos paradigmas. 2424WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................26 1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ESCRITA – A HISTÓRIA DA ESCRITA ........................................................................27 1.1 ESCRITA PICTOGRÁFICA .......................................................................................................................................27 1.2 ESCRITA IDEOGRÁFICA ........................................................................................................................................27 1.3 ESCRITA ALFABÉTICA ...........................................................................................................................................28 2. TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA: ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA E SÓCIO- INTERACIONISTA. ...................................................................................................................................................... 30 2.1 ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA ..........................................................................................................................30 2.2 ABORDAGEM SÓCIO-INTERACIONISTA .............................................................................................................32 3. TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA: ABORDAGEM DE PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES..35 AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESCRITA PROFA. MA. GISELE SIGNORINI ZAMPIERI ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FONOAUDIOLOGIA EDUCACIONAL 2525WWW.UNINGA.BR EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO .............................................................................................................................37 5. LETRAMENTO ..........................................................................................................................................................39 5.1LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO ....................................... 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................46 26WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO O processo de aquisição da escrita pela criança é um assunto que vem sendo discutido há alguns anos. No entanto, ainda muitas inquietações surgem dos contextos contemporâneos em que a escrita ganha ainda mais significado na vida dos sujeitos. A maior parte dos contextos sociais e culturais, de alguma maneira, apresenta interação com a escrita, das mais simples como escrever um bilhete até as mais sofisticadas como operar as diversas tecnologias digitais e que exigem, de alguma maneira, o domínio da escrita. Assim, a aquisição de habilidades da escrita ultrapassa o ensino e a aprendizagem no contexto escolar, tornando-se uma necessidade dos sujeitos inseridos em uma sociedade letrada. Entretanto, frente à necessidade de apropriação do processo de escrita pela criança, salienta- se que não é uma habilidade inata, que já nasce com a criança. A escrita é resultado da interação do sujeito humano com os membros de sua espécie, os quais por necessidade de comunicação, ao longo de sua trajetória, criam signos atribuindo-lhes significados culturais. Portanto, a escrita é um dos elementos da cultura e aprendida, principalmente, na escola, enquanto instituição com função social de trabalhar o conhecimento historicamente produzido pela humanidade. Ao pensar o processo de aquisição da escrita por parte das crianças, surgem inquietações que motivam a teorizar sobre o tema a partir de alguns estudiosos, portanto, esta unidade irá abordar a aquisição e o desenvolvimento da linguagem escrita, desde a sua origem, fazendo um paralelo com grandes teóricos. 27WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ESCRITA – A HISTÓRIA DA ESCRITA A necessidade de registrar os acontecimentos surgiu com o homem primitivo no tempo das cavernas, quando começou a gravar imagens nas paredes. Durante milhares de anos os homens sentiram a necessidade de registrar as informações e construíram progressivamente sistemas de representação. Desenvolvida também para guardar os registros de contas e trocas comerciais, a escrita tornou-se um instrumento de valor inestimável para a difusão de ideias e informações. Foi na Antiga Mesopotâmia, há cerca de 6 mil anos atrás, que se desenvolveu a escrita ideográfica, um dos inventos na progressão até a escrita alfabética, agora usada mundialmente. 1.1 Escrita Pictográfica Em época bastante remota, homens e mulheres utilizam figuras para representar cada objeto, esta forma de expressão é chamada pictográfica. A fase pictórica apresenta uma escrita bem simplificada dos objetos da realidade, por meio de desenhos que podem ser vistos nas inscrições astecas presentes em cavernas, ou nas inscrições de cavernas do noroeste do Brasil. Figura 1 – Escrita Pictográfica. Fonte: Cultura h7 (2021). 1.2 Escrita Ideográfica Logo depois da escrita pictográfica, surgiu a escrita ideográfica, que não utilizava apenas rabiscos e figuras associados à imagem que se queria registrar, mas sim uma imagem ou figura que representasse uma ideia, tornando-se, posteriormente, uma convenção de escrita. Os leitores dependiam do contexto e do senso comum para decifrar o significado. As letras do nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução. Algumas escritas ideográficas mais conhecidas são os hieróglifos egípcios, as escritas sumérias, minoica e chinesa, da qual provém a escrita japonesa. 28WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O Hieróglifo é, provavelmente, a escrita organizada mais antiga do mundo, e era basicamente usada para marcações em túmulos e templos. Como todo o mundo, a escrita hieroglífica também evoluiu para formas mais simplificadas. O maior uso dessa forma de escrita aconteceu com o povo egípcio, que usou a escrita hieroglífica durante um período de 3500 anos para escrever sua língua. Durante todo esse tempo em que foi utilizado, os hieróglifos continham cerca 6900 sinais, e essa quantidade de sinais foio que fez esse tipo de escrita desaparecer, pois se torna quase impossível decifrar tantos códigos. Um dos textos escritos em hieróglifos foi a Pedra de Roseta. Um bloco de pedra com cerca de 1m de altura e 70cm de largura. Na frente há três inscrições: 14 linhas de hieróglifos egípcios antigos, 32 linhas da escrita denominada demótica e 54 linhas de escrita grega. Essa pedra foi batizada “Pedra de Roseta” por causa do nome Raschid (Rosette em francês). Até a descoberta da Pedra por Napoleão em 1798, ninguém havia conseguido saber o que diziam as muitas inscrições em hieróglifos deixadas pelos egípcios em pedras e monumentos, ou seja, pouco se sabia da civilização egípcia e de suas grandes conquistas e descobertas. Figura 2 – Escrita Ideográfica. Fonte: DocPlayer (2021). 1.3 Escrita Alfabética Por volta de 2000 a. C., estabeleceu-se na costa ocidental do mar Mediterrâneo um povo chamado “fenício”. Durante séculos, dominaram com supremacia os campos naval e comercial nessa região. Eles inventaram a escrita consonantal depois de passarem muitos anos utilizando uma escrita hieróglifa, parecida com a dos egípcios, e, mais tarde, a cuneiforme, desenvolveram um tipo de escrita que, em vez de possuir caracteres pictográficos e sílabas, tentava atribuir a cada som da língua falada um sinal escrito. No entanto, os fenícios só representaram as consoantes. Inventaram 22 sinais, cada um deles representando uma consoante. As vogais ignoradas por eles na escrita eram acrescentadas pelo leitor de acordo com o sentido (exemplo: “scrt” = escrita). Ao apropriar-se do alfabeto fenício, os gregos o adaptaram à realidade de sua própria língua. As vogais eram fundamentais para eles, pois a elas era atribuído o som extraordinariamente melódico dessa língua. Como no alfabeto fenício havia quatro sinais que não tinham o menor significado para os gregos, eles passaram a representar suas vogais a partir desses sinais. 29WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 3 – Alfabeto Feníncio e Alfabeto Latino. Fonte: Pinterest (2021). Mas, hoje, as vogais são cinco. O “o” não existia inicialmente e foi uma das poucas alterações feitas pelos gregos no alfabeto fenício. A invenção do alfabeto foi, na opinião de muitos estudiosos, o maior e último aperfeiçoamento da escrita. Figura 4 – Alfabeto Grego. Fonte: Jairomielnik’s Blog (2009). 30WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Além da forma, a direção da escrita também é vista como elemento diferenciador de sistemas de escrita. Os gregos escreviam linha embaixo de linha, sempre da esquerda para a direita, assim como nós fazemos. Os chineses e japoneses escrevem da direita para a esquerda e em colunas. Os árabes escrevem também da direita para a esquerda, mas em linhas de cima para baixo. Ao analisar a formação da linguagem na criança, os usos da língua que fazemos cotidianamente, a evolução dos sistemas de escrita, vemos que o homem sempre buscou, e ainda busca, formas eficientes de comunicar suas ideias e de registrar sua história. Nesse sentido, a invenção da linguagem torna significativa a existência humana. E a existência humana se dá pelo uso das linguagens. 2. TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA: ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA E SÓCIO-INTERACIONISTA 2.1 Abordagem Construtivista O construtivismo é uma teoria do conhecimento, não uma teoria do ser. Por isso, logo de início é preciso indicar o sentido dado ao termo conhecer. O construtivismo não nega a existência de um mundo exterior ao sujeito cognoscente, mas considera que este faz experiências que lhe permitem conviver com as limitações que o mundo das coisas impõe. (MORETTO, 2011). A epistemologia genética, criada por Piaget, também estuda a origem lógica dos conhecimentos científicos, mas sobre outra óptica: como essa lógica se origina e se desenvolve na criança. Daí o adjetivo genética. O construtivismo nasceu da epistemologia genética de Juan Piaget. (MATUI, 1995). Para que esses conhecimentos sejam construídos, é necessário que ocorra uma interação entre o sujeito e o objeto de aprendizagem. Nessa interação, o objeto entra com a “matéria” e o sujeito com a “forma”, como, normalmente, a matéria do objeto é mais complexa do que forma do sujeito, é preciso que o sujeito mude sua forma para se acomodar à matéria do objeto e assimilá- la. Na concepção Construtivista, mediante a realização de aprendizagens significativas, o educando constrói, modifica, diversifica e coordena os seus esquemas, estabelecendo, deste modo, redes de significados que enriquecem o seu conhecimento do mundo físico e social. (COLL, 1994) Coerentemente, falar sobre a história e epistemologia construtivista, de forma política remete a formação do cidadão, o papel de uma instituição escolar seja ela, pública ou particular, deve rever suas práticas no sentido de transformação em sociedade. A qualidade desse ensino se mede pela qualidade do cidadão que cada instituição forma. Para o construtivismo, a democratização do ensino é a razão principal, sem disfarces. A aplicação do construtivismo sócio histórico à educação é uma práxis social das camadas progressistas que leva à transformação da sociedade (MATUI, 1995). O compromisso político do construtivismo sócio histórico é com a formação do cidadão. Por cidadão, devemos ter a consciência de que independentemente de raça, credo, princípios filosóficos e políticos, origem social e econômica, a cidadania é um direito indispensável de uma pessoa humana, o que as massas populares buscam é a conquista da cidadania para conquistar a cidadania, precisam lutar contra todos os tipos de barreiras, como linguagem, mitos, superstições e crendices. 31WWW.UNINGA.BR FO NO AU DI OL OG IA E DU CA CI ON AL | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Essa relação entre política e construtivismo parece implícita, mas venho ressaltar que não há prática pedagógica que não tenha compromisso político nessa linha de pensamento, o construtivismo, na versão sócio histórica que apresentamos, obtém continuamente uma posição em favor das massas populares que no momento, lutam pela conquista da cidadania, o posicionamento do construtivismo está relacionado com o povo, porque ele é o novo conteúdo das escolas. Construtivismo é o tema mais discutido nos dias atuais, e, alguns educadores, pensam que construtivismo é algo “solto”, sem fundamento. No século XX, Jean Piaget, provou mediante as suas pesquisas que a criança obtém capacidades de aprender com o meio social (cognitivismo). Cognitivismo é uma corrente da psicologia que admite a função simbólica ou mente (memória, imagem mental, consciência, pensamento) como elemento indispensável para a explicação do comportamento humano (MATUI, 1995). O cognitivismo faz parte de uma “nova ciência da mente”, que Howard Gardner define como um esforço contemporâneo, com fundamentação empírica, para responder questões epistemológicas de longa data, principalmente aquelas relativas à natureza do conhecimento, seus componentes, suas origens, seu desenvolvido e seu emprego (MATUI, 1995). A concepção construtivista faz parte do cognitivismo e se insere nessa “nova ciência da mente”. Piaget, através do seu método clínico- crítico e das provas, simples e geniais, conseguiu identificar e estudar o pensamento e a inteligência, desde a origem na criança, até o equilíbrio no adulto. Com base no materialismo histórico, Vygotsky, outro gênio cognitivista, identificou e pesquisou o papel dos mediadores simbólicos, incluindo os signos, palavras para estudar a formação social da mente (MATUI, 1995). Construtivismo é mudança de visão, não considera o conhecimento só pelo prisma do sujeito nem só pelo prisma do objeto, mas pela óptica da interação sujeito-objeto. Assim, ensaia-se definir o construtivismo como uma teoria do conhecimento que engloba numa só estrutura dois
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