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APOSTILA SOBRE OS HOMENS, A ARTE E A LITERATURA


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LITERATURA
PRÉ-VESTIBULAR 5SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO
01 OS HOMENS, A ARTE E A LITERATURA
A ARTE E A LITERATURA
São inúmeras as maneiras de o homem expressar-se; no 
entanto, é através da arte que consegue fazê-lo da maneira mais 
sublime. A própria arte pode definir-se de várias maneiras, como a 
pintura, a escultura, a música, o teatro, a arquitetura ou a literatura; 
cada uma delas com objeto próprio: as texturas, cores e traços dão 
forma à pintura; as formas e suas variações, à escultura. Cabe à 
literatura ser a arte da palavra.
O artista é aquele que se preocupa com o objeto de sua arte, que 
produz emoção, que faz do comum algo diferente; mas também 
é aquele que transforma a realidade, lança um olhar diferente 
sobre sua época, realiza a releitura do já feito e a faz a invenção 
do porvir. Esse é o poder da arte, moldar a realidade de diferentes 
maneiras, sob diversos pontos de vista, independente de realidades 
ou fantasias, mentiras ou verdades. Segundo Pablo Picasso, pintor 
espanhol do século XX, “a arte é uma mentira que revela a verdade”.
Ora, mas nem toda produção humana pode ser considerada 
artística. Assim, o conceito de estética ganha importância. 
Segundo a definição mais comum, estética é um ramo da filosofia 
voltado à reflexão a respeito da beleza sensível. Assim, os sentidos; 
as formas; a harmonia entre as partes, cores, palavras, versos, 
melodias e ritmos; e as representações são objetos da estética.
A literatura, por assim dizer, é a arte da palavra, não de qualquer 
coisa escrita, mas aquela intencional, carregada de significado, 
harmônica, expressiva e que é capaz de recriar a realidade. 
A intenção do escrito literário é voltada à própria linguagem, 
não se preocupando unicamente com sentidos objetivos, mas 
carregando-os de subjetividade, de possibilidades de significação, 
de inovações estruturais e vocabulares, enfim, rompendo as 
barreiras da linguagem e expressão comuns, alcançando elevados 
níveis de expressividade.
A LINGUAGEM LITERÁRIA
Normalmente, pretende-se que um texto possua qualidades 
como clareza, precisão, objetividade entre outras para que possa 
ser plenamente compreendido em sua função natural: informar. 
Entretanto, nem todos os textos possuem a mesma função e, 
assim sendo, vão dispensar algumas dessas “qualidades” em prol 
de seus interesses distintos.
Há ocasiões em que o texto apresenta-se distante dos 
sentidos imediatos da palavra. Sua principal funcionalidade não é 
a informativa, nem se pretende ser objetivo ou até mesmo claro. 
A intenção revela-se no próprio uso da linguagem, na construção 
múltipla de sentidos, na criação de realidades e no estranhamento 
das estruturas. Essa linguagem, carregada de significação, 
correspondente aos desejos e anseios do artista é que será 
classificada como arte literária.
O texto literário diferencia-se, portanto, de outro não-literário, 
pelo valor de sua linguagem simbólica, pela intencionalidade 
de suas palavras, pela harmonia entre suas estruturas. Por tudo 
isso é que chamamos de arte este tipo de produção escrita, em 
contraposição a textos cotidianos como as notícias, os manuais, as 
atas de reunião, as bulas de medicamentos, os livros didáticos etc.
ARTE E SOCIEDADE
O poeta e crítico literário estadunidense Ezra Pound afirmava 
que “a literatura não existe no vácuo. Os escritores, como tais, 
têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua 
competência como escritores. Essa é sua principal utilidade”. Isso 
significa que a literatura é diretamente relacionada à sociedade que 
a produz, ligada a seus conceitos, suas opiniões; retratando suas 
vaidades, preconceitos, avanços ou comportamentos peculiares. 
A literatura é, em certa medida, o próprio retrato daquela 
sociedade, um apanhado da cultura que a sustenta, uma 
representação de sua ideologia.
Ainda segundo Pound, “a linguagem é o principal meio de 
comunicação humana. Se o sistema nervoso de um animal não 
transmite sensações e estímulos, o animal se atrofia. Se a literatura 
de uma nação entra em declínio, a nação se atrofia e cai”. A literatura, 
então, não só é tomada como uma representação da cultura de um 
povo, mas como construção da identidade social desta mesma 
cultura que por ela se expressa e se redefine a cada momento.
Contudo, as condições históricas e culturais de uma sociedade 
não são fixas, transformam-se ao longo do tempo e apresentam, 
em cada época, um conjunto de características que serão refletidas 
na arte, inclusive na literatura. A essas características damos o 
nome de estilo de época. Essas características vão das vestimentas 
à linguagem, da ideologia ao comportamento, refletindo-se nas 
obras literárias de maneira que se pode fazer um retrato social de 
uma determinada época.
É claro que nem todas as pessoas guardavam todas as 
características de uma época, apesar de viver nela. Não é 
porque todos os homens usavam bengalas no século XIX que 
um determinado autor também o faria. A esse comportamento 
individual, a essa compreensão pessoal de sua época, de seu 
papel social e da própria realidade que o cercava chamamos estilo 
individual. Portanto, toda análise literária passará obrigatoriamente 
por três elementos:
Momento histórico 
Representa a conjuntura política, social e econômica de 
uma determinada sociedade. As guerras, as crises, os avanços 
tecnológicos, as tensões internas, enfim, tudo o que pode modificar 
a estrutura social ou sua ideologia deve ser levado em consideração 
para o entendimento de uma obra literária.
Padrão estético
Cada época revela um conjunto ideológico próprio que é 
representado pela estética. O resultado das inovações e as novas 
perspectivas criam, isto é, modelos, padrões que “devem” ser 
seguidos, pois representam a ideologia dominante da classe de 
maior prestígio na sociedade.
Estilo individual
Como todos esses fatores influenciam a vida de um indivíduo? 
Como esse indivíduo enxerga o mundo em que vive? Como 
ele pretende mudá-lo? Essas perguntas formam um painel 
comportamental do artista frente à sua época. Além disso, sua 
história pessoal, suas preferências estéticas imediatas, sua 
capacidade técnica e criativa serão decisivas para definir um perfil 
que pode ser percebido em suas obras.
PRÉ-VESTIBULARSISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO6
LITERATURA 01 OS HOMENS, A ARTE E A LITERATURA
A ARTE, A LITERATURA 
E SEUS CONCEITOS
Literatura é arte. É arte polissêmica e polifônica. Como tal, 
dialoga constantemente com outras formas de arte, em especial 
com as artes plásticas. Disse um dia Murilo Rubião que o escritor 
mantém o “olho armado” e, tal como o escultor ou o pintor, fixa o 
eterno em sua obra.
Muito se tem discutido sobre a função e a estrutura do texto 
literário, ou ainda sobre a dificuldade de se entenderem os enigmas, 
as ambiguidades, as metáforas da literatura. Mas é exatamente 
aí que reside o seu encanto: no trabalho com a palavra, com seu 
aspecto conotativo, com seus enigmas.
Sem dúvida, a literatura apresenta-se como o instrumento 
artístico de análise de mundo e de compreensão do homem. 
Sófocles, Camões, Shakespeare, Rousseau, Dostoievski, Machado 
de Assis, Eça de Queiroz, Kafka, Clarice Lispector... todos 
preocupados com o grande mistério: entender a alma humana.
CARACTERÍSTICAS 
DO TEXTO LITERÁRIO 
• Plurissignificação: as palavras, no texto literário, assumem 
vários significados. Valoriza-se a linguagem conotativa.
• Ficcionalidade: os textos criam um universo próprio, ainda 
que baseados no real, mas transfigurando-o, recriando-o.
• Aspecto subjetivo: o texto apresenta, normalmente, o olhar 
pessoal do artista, suas experiências e emoções.
• Ênfase na função poética da linguagem: o texto literário 
manipula a palavra, revestindo-a de caráter artístico.
O artista apresenta na obra literária uma postura diante do 
mundo e das aspirações do homem.
VEROSSIMILHANÇA INTERNA E 
EXTERNA
(Ilustrações e texto de Will Eisner para o livro Narrativas gráficas)
Tanto na representação dos caracteres comono entrecho 
das ações, importa procurar sempre a verossimilhança 
e a necessidade; por isso, as palavras e os atos de uma 
personagem de certo caráter devem justificar-se por sua 
verossimilhança e necessidade.
(ARISTÓTELES; Arte Poética)
A importância da verossimilhança nas narrativas surgiu como 
preocupação e objeto de estudo desde Aristóteles. De forma geral, 
o conceito de verossimilhança está relacionado à verdade, ao que 
se apresenta – ou tem aparência − de verdadeiro. 
Esse estudo é fundamental para a literatura. Veja os conceitos 
e definições abaixo:
(...) o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é 
o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de fato aconteceu, 
mas sim, o verossímil, o que pode acontecer, considerado 
na sua universalidade.
(SILVA, Vítor M. de A. Teoria da literatura. Coimbra: Almedina, 1982.)
Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que parece verdadeiro. 
2. Que não repugna à verdade, provável.
(FERREIRA, A. B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de 
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)
A literatura, como toda obra de arte apresenta uma equivalência 
de realidade, de verdade, de lógica interna ao texto e de um conjunto 
de semelhanças que permitem ao leitor validar os acontecimentos 
como possíveis: a verossimilhança. É possível distinguir dois tipos 
de verossimilhança:
• INTERNA: percebida pela própria estrutura da obra, pela 
coerência dos elementos que a estruturam.
• EXTERNA: percebida no mundo real, confere ao mundo 
imaginário a percepção de realidade.
MÍMESE, CATARSE E EPIFANIA
Para os gregos, a arte possuía as funções hedonística e 
catártica. A primeira preconizava a necessidade de a obra artística 
proporcionar prazer, ser um retrato do belo. Essa beleza consistia 
na relação direta e na semelhança entre a arte e a natureza. Na 
segunda visão, a catarse era o um conjunto de sensações e 
contrassensações, um efeito “moral” que buscava aliviar os 
sentimentos produzidos pela própria obra de arte: o terror, a 
piedade, as tensões etc.
A catarse pode ser compreendida tanto de forma externa 
à obra de arte, quando ligada às sensações e identificações que 
provoca no leitor ou expectador diante dos acontecimentos; 
quanto de forma interna, como um processo de superação que os 
próprios personagens devem enfrentar em suas jornadas. Assim, a 
passagem do estado agonia de um personagem para sua redenção 
já evidencia uma catarse.
O filósofo grego Aristóteles debruçou-se sobre a literatura 
e ligava-a ao conceito de imitação, segundo ele, mímese. A 
arte mimética buscava imitar a vida e nessa relação buscava a 
fidelidade absoluta. Era isso que levava o texto ao encontro com 
a Verdade. Com o passar do tempo, essa ideia de arte imitativa foi 
perdendo força, apesar de ainda manter relação com as emoções 
que provoca e a própria recriação da realidade que caracterizam os 
conceitos de arte mais atuais.
Em muitas histórias, há “manifestações” de forças divinas ou 
ocultas que levam um personagem à uma revelação, entendimento 
súbito de sua condição ou compreensão da essência de algo ligado 
à problemática da história. Essa intervenção “mágica”, que altera os 
rumos dos acontecimentos e opera uma mudança na vida de um 
personagem é chamada epifania. Modernamente, autores utilizam-
se de situações cotidianas como mote para a introspecção das 
personagens, refundando o conceito grego em bases modernas.
PROPOSTOS
EXERCÍCIOS
01. (UNB) A arte indígena no Brasil é mais representativa 
das tradições da comunidade em que está inserida que da 
personalidade do indivíduo que a faz. É por isso que os estilos de 
seus trabalhos artísticos variam significativamente de uma tribo 
para outra. A tendência indígena de fazer objetos bonitos para usar 
na vida tribal pode ser apreciada principalmente
a) na cerâmica, no trançado e na tecelagem.
b) na cerâmica, na tecelagem e na ourivesaria.
c) no trançado, na ourivesaria e na cutelaria.
d) na cutelaria, na arte corporal e na ourivesaria.
e) na arte corporal, na tecelagem e na colagem.
PRÉ-VESTIBULAR SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO
01 OS HOMENS, A ARTE E A LITERATURA
7
LITERATURA
02. (ENEM)
A pintura rupestre mostrada na figura anterior, que é um patrimônio 
cultural brasileiro, expressa
a) o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante o 
processo de colonização do Brasil.
b) a organização social e política de um povo indígena e a 
hierarquia entre seus membros.
c) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a 
chamada pré-história do Brasil.
d) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossauros 
atualmente extintos.
e) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da 
América durante o período colonial.
03. (ENEM) Folclore designa o conjunto de costumes, lendas, 
provérbios, festas tradicionais/populares, manifestações artísticas 
em geral, preservado, por meio da tradição oral, por um povo ou 
grupo populacional. Para exemplificar, cita-se o frevo, um ritmo 
de origem pernambucana surgido no início do século) (Ele a 
caracterizado pelo andamento acelerado e pela dança peculiar, 
feita de malabarismos, rodopios e passos curtos, além do uso, 
como parte da indumentária, de uma sombrinha colorida, que 
permanece aberta durante a coreografia.
As manifestações culturais citadas a seguir que integram a mesma 
categoria folclórica descrita no texto são
a) bumba-meu-boi e festa junina.
b) cantiga de roda e parlenda.
c) saci-pererê e boitatá.
d) maracatu e cordel.
e) catira e samba.
04. (ENEM) As pinturas rupestres no paleolítico, tinham um 
significado mágico porque
a) expressavam o culto aos deuses.
b) expressavam os valores religiosos.
c) expressavam deuses antropozoomórficos.
d) possuíam um caráter expressionista.
e) ao representar cenas de caça e animais, os homens primitivos 
desejavam sucesso na caça.
05. (UERN) Leia o texto que ressalta o caráter simbólico da arte 
rupestre.
A arte rupestre
O homem Paleolítico deixou-nos belíssimas representações 
nas paredes das cavernas e objetos decorativos com fino senso 
artístico. O cuidado com os mortos, já comum entre os homens 
de Neanderthal, é enriquecido com símbolos, isto é, sinais com 
significados, que remetem a uma vida futura. [...] Ele recorre a 
sinais que não atendem apenas às necessidades básicas, como 
os animais. O homem inventa sinais, sons e gestos de um valor 
simbólico porque remetem a algum significado. Esses sinais 
podem ir além das necessidades de sobrevivência (arte, religião). 
O elevado nível cultural desse homem já moderno explica seu 
sucesso e sua difusão por todo o planeta, com uma ampla 
variedade de expressões, mas sempre um único ímpeto criativo.
(Facchini, Fiorenzo. O Homem. São Paulo. Moderna 1997 p.36)
Com base no texto, analise.
I. A arte foi sem sombra de dúvida a primeira forma de expressão 
do homem primitivo.
II. Os grupos humanos criaram símbolos para representar o 
mundo em que viviam e seu cotidiano.
III. A ausência de documentos escritos deixados pelos seres 
humanos da Pré-História nos impede de levantar hipóteses 
sobre a forma como viveram.
IV. Embora muitas questões fiquem sem respostas, os vestígios 
arqueológicos encontrados têm-nos permitido conhecer parte 
do cotidiano Pré-Histórico.
Estão corretas apenas as afirmativas
a) I, II, IV b) I, II, III c) II, IV d) III, IV
06. (ENEM)
PRÉ-VESTIBULARSISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO8
LITERATURA 01 OS HOMENS, A ARTE E A LITERATURA
A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande 
sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na representação gráfica, a 
inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por 
a) romper com a linearidade das ações da narrativa literária.
b) ilustrar de modo fidedigno passagens representativas da história.
c) articular a tensão do romance à desproporcionalidade das 
formas.
d) potencializar a dramaticidade do episódio com recursos das 
artes visuais.
e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo desequilíbrio 
da composição.
TEXTO PARA ASQUESTÕES 7 E 8
GAVETA DOS GUARDADOS
1A memória é a gaveta dos guardados. Nós somos o que 
somos, não o que virtualmente seríamos capazes de ser.
2Minha bagagem são os meus sonhos. Fui o poeta das ruas, 
das vielas silenciosas do Rio, antes que se tornasse uma cidade 
assolada pela violência. Sempre fui ligado à terra, ao meu pátio.
3No Rio Grande do Sul estou no colo da mãe. Creio que minha fase 
atual, neste momento, em 1993, reflete a eterna solidão do homem.
4A obra só se completa e vive quando expressa. Nos meus 
quadros, o ontem se faz presente no agora. Lanço-me na pintura e 
na vida por inteiro, como um mergulhador na água. A arte é também 
história. E expressa a nossa humanidade. A arte é intemporal, embora 
guarde a fisionomia de cada época. Conheci em Paris um escultor 
brasileiro, bolsista, que não frequentava museus para não perder a 
personalidade, esquecendo que só se perde o que se tem.(...)
5A memória é a gaveta dos guardados, repito para sublinhar. O 
clima dos meus quadros vem da solidão da campanha, do campo, 
onde fui guri e adolescente. Na velhice perde-se a nitidez da visão 
e se aguça a do espírito.
6A memória pertence ao passado. É um registro. Sempre que 
a evocamos, se faz presente, mas permanece intocável, como um 
sonho. A percepção do real tem a concreteza, a realidade física, 
tangível. Mas como os instantes se sucedem feito os tique-taques 
do relógio, eles vão se transformando em passado, em memória, 
e isso é tão inaferrável* como um instante nos confins do tempo.
7Escrever pode ser, ou é, a necessidade de tocar a realidade que 
é a única segurança de nosso estar no mundo - o existir. É difícil, 
se não impossível, precisar quando as coisas começam dentro de 
nós. (...)
8A vida dói... Para mim o tempo de fazer perguntas passou. 
Penso numa grande tela que se abre, que se me oferece intocada, 
virgem. A matéria também sonha. Procuro a alma das coisas. Nos 
meus quadros o ontem se faz presente no agora. A criação é um 
desdobramento contínuo, em uníssono com a vida. O auto-retrato 
do pintor é pergunta que ele faz a si mesmo, e a resposta também 
é interrogação. A verdade da obra de arte é a expressão que ela nos 
transmite. Nada mais do que isso!
FOLHA DE SÃO PAULO, 09/05/1998 
(CAMARGO, Iberê. In: NESTROVSKI, Arthur (Org.). "Figuras do Brasil: 80 autores em 80 
anos de Folha". São Paulo: Publifolha, 2001.)
A memória é a gaveta dos guardados.
07. (UERJ)
A frase acima expressa a importância das experiências 
individuais na criação artística. A passagem do texto em que mais 
facilmente se percebe o vínculo entre memória e obra de arte é:
a) “A obra só se completa e vive quando expressa.”
b) “Nos meus quadros, o ontem se faz presente no agora.”
c) “Lanço-me na pintura e na vida por inteiro.”
d) “A percepção do real tem a concreteza, a realidade física.”
08. (UERJ) Escrever pode ser, ou é, a necessidade de tocar a 
realidade que é a única segurança de nosso estar no mundo 
– o existir. É difícil, se não impossível, precisar quando as coisas 
começam dentro de nós.
Esse parágrafo relaciona-se com o parágrafo anterior pela 
associação de:
a) registro e dor.
b) texto e verdade.
c) escrita e passado.
d) literatura e solidão. 
09. (UERJ)
Porque a realidade é inverossímil
Escusando-me1 por repetir truísmo2 tão martelado, mas movido 
pelo conhecimento de que os truísmos são parte inseparável da boa 
retórica narrativa, até porque a maior parte das pessoas não sabe 
ler e é no fundo muito ignorante, rol no qual incluo arbitrariamente 
você, repito o que tantos já dizem e vivem repetindo, como quem 
usa chupetas: a realidade é, sim, muitíssimo mais inacreditável 
do que qualquer ficção, pois esta requer uma certa arrumação 
falaciosa3, a que a maioria dá o nome de verossimilhança. Mas ocorre 
precisamente o oposto. Lê-se ficção para fortalecer a noção estúpida 
de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares e outros adereços que 
integrariam a vida. Lê-se ficção, ou mesmo livros de historiadores ou 
jornalistas, por insegurança, porque o absurdo da vida é insuportável 
para a vastidão dos desvalidos que povoa a Terra.
(João Ubaldo Ribeiro. Diário do Farol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.)
Glossário:
1escusando-me: desculpando-me 
2truísmo: verdade trivial, lugar comum 
3falaciosa: enganosa, ilusória
"os truísmos são parte inseparável da boa retórica narrativa, até
porque a maior parte das pessoas não sabe ler" (l. 1-3)
O narrador justifica a necessidade de truísmos pela dificuldade de
leitura da maior parte das pessoas.
Encontra-se implícita no argumento a noção de que o leitor 
iniciante lê melhor se:
a) estuda autores clássicos;
b) conhece técnicas literárias;
c) identifica ideias conhecidas;
d) procura textos recomendados.
10. (UERJ)
(…) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias 
e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a 
atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido 
uma perda irreparável?
Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. 
Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, 
mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, 
quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã 
de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio 
branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênticas, 
gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso?
Essas coisas verdadeiras não ser verossímeis. E se 
esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo 
menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, 
cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei 
que sejam absolutamente exatas? Leviandade.
(…) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, 
exponho o que notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir 
PRÉ-VESTIBULAR SISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO
01 OS HOMENS, A ARTE E A LITERATURA
9
LITERATURA
lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não 
recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje 
impressão de realidade (…)
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record, 1984.)
O fragmento transcrito expressa uma reflexão do autor-narrador 
quanto à escrita de seu livro contando a experiência que viveu 
como preso político, durante o Estado Novo.
No que diz respeito às relações entre escrita literária e realidade, é 
possível depreender, da leitura do texto, a seguinte característica 
da literatura:
a) revela ao leitor vivências humanas concretas e reais.
b) representa uma conscientização do artista sobre a realidade.
c) dispensa elementos da realidade social exterior à arte literária.
d) constitui uma interpretação de dados da realidade conhecida.
GABARITO
 EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. A
02. C
03. E
04. E
05. A
06. D
07. B
08. C
09. C
10. D
ANOTAÇÕES
PRÉ-VESTIBULARSISTEMA PRODÍGIO DE ENSINO10
LITERATURA 01 OS HOMENS, A ARTE E A LITERATURA
ANOTAÇÕES

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