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Curso para Coordenador de 
Proteção de Dados Pessoais - DPO 
 
São Paulo 2021 
Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores 
Professor Alexandre Rodrigues Atheniense 
Curso 5 – DPO na prática 
 
Alexandre Rodrigues Atheniense é advogado formado pela 
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em Internet 
Law pelo Berkman Center – Harvard Law School – e sócio fundador do 
escritório de advocacia Alexandre Atheniense Advogados. Com 
experiência profissional de 32 anos, é um dos precursores do Direito 
Digital no Brasil. Possui vasta experiência acadêmica e institucional, 
tendo exercido por oito anos (2002-2010) a presidência da Comissão 
de Tecnologia da Informação da OAB Federal, representando a 
entidade na discussão de projetos de lei no Congresso Nacional sobre 
temas relacionados à tecnologia da informação. É coordenador da 
Comissão de Direito Digital do Centro de Estudos das Sociedade de 
Advogados (CESA); árbitro em questões relacionadas à propriedade 
intelectual e tecnologia da informação na Competição Brasileira de 
Arbitragem (CAMARB), Câmara Mineira de Arbitragem (CAMINAS) e 
Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI). É autor de 
diversas obras sobre Direito Digital no Brasil e no exterior. 
Colaboradores: Lorenzzo Antonini Itabaiana e Adriana Bessone Sadi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Apresentação 
 
1. DPO e órgãos fiscalizadores 
 
2. DPO e incidentes de segurança da informação 
 
3. DPO e Política de Privacidade 
 
4. DPO e cyber insurance 
 
Bibliografia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
 
 
O curso DPO na prática compõe o módulo 5 do curso Coordenador de 
proteção de dados pessoais (DPO), oferecido pela Fenabrave em cinco 
partes distintas e independentes. O objetivo geral é capacitar os 
envolvidos no processo de tratamento desses dados, por meio de 
conteúdo teórico e prático, preparando-os para o desafio da jornada 
de governança corporativa. 
Neste curso, capacita-se o DPO para atuar de forma eficaz na proteção 
de dados pessoais, considerando-se aspectos relevantes tais como 
incidentes de segurança da informação, cyber insurance, entre outros. 
Os participantes devem assistir às aulas gravadas em vídeo, ler o 
conteúdo explicitado na apostila e ouvir o podcast disponível. 
Sugerimos, ainda, que consultem fontes indicadas na bibliografia 
constante no final deste material. Na sequência, devem responder ao 
questionário de avaliação, que permite a revisão dos principais pontos 
abordados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DPO e órgãos fiscalizadores 
 
 
 
 
 
 
1. DPO e órgãos fiscalizadores 
 
Ao contrário do que se pressupõe, a Lei Geral de Proteção de Dados 
(LGPD) não é a única a tratar da privacidade e proteção de dados no 
Brasil. Antes da sua entrada em vigor, existiam mais de 40 normas 
esparsas que regulamentavam o tema, algumas delas demonstradas a 
seguir: 
 
 
Fonte: Privacy Hub 
 
Assim, apesar de as instituições considerarem o mês de agosto de 2021 
como limite para adequação à LGPD – quando as penalidades da Lei 
estarão vigentes para aplicação pela Autoridade Nacional de Proteção 
 
de Dados (ANPD) –, os riscos de condenação por violação de 
privacidade já existiam, sendo aplicados por outros órgãos como o 
Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON), a Secretaria 
Nacional do Consumidor (SENACON) e o Ministério Público. 
 
As competências da ANPD são muitas e estão previstas, 
especificamente, no Artigo 55-J da Lei 13.709/18, compreendendo, 
entre outras: 
 
● o zelo pela proteção de dados pessoais, nos termos da 
legislação; 
 
● a elaboração das diretrizes para a Política Nacional de Proteção 
de Dados Pessoais e da Privacidade; 
 
● a fiscalização e aplicação de sanções em caso de tratamento 
de dados realizado em descumprimento à legislação; 
 
● a promoção do conhecimento de normas e políticas públicas 
sobre proteção de dados pessoais e de medidas de segurança; 
 
● a promoção e elaboração de estudos sobre as práticas 
nacionais e internacionais de proteção de dados pessoais e 
privacidade. 
 
O Artigo 5 da LGPD é que define a Autoridade como responsável por 
zelar, implementar e fiscalizar o cumprimento da Lei em todo o 
território nacional. Trata-se de um órgão com autonomia técnica e 
decisória, integrante da Presidência da República, que se junta aos 
demais órgãos fiscalizadores, como o Instituto Nacional do Seguro 
Social (INSS), a Receita Federal, a Vigilância Sanitária, a Secretaria da 
Fazenda do Estado, a Secretaria da Fazenda do Município etc. 
 
Podem ocorrer situações em que essas entidades precisem atuar de 
forma conjunta, coordenando atividades nas respectivas esferas de 
atuação, para assegurar o cumprimento de suas atribuições com mais 
eficiência e promover o adequado funcionamento dos setores 
regulados. 
 
Para alcançar o objetivo de governança pretendido, o encarregado pelo 
tratamento de dados pessoais (DPO) deve exercer um papel 
fundamental na interlocução com a ANPD e com os demais órgãos 
fiscalizadores atuantes. Aliás, a definição desse profissional na LGPD 
evidencia sua importância como comunicador: ele é o “canal de 
comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade 
Nacional de Proteção de Dados (ANPD)”. 
 
A fiscalização e a regulação da Lei pela ANPD devem garantir a 
proteção do cidadão, sendo a Autoridade um elo entre sociedade e 
governo, o que torna o DPO um ponto focal. A LGPD, em seu Artigo 
41, parágrafo 2, inciso II, estabelece que esse profissional deve 
“receber comunicações da Autoridade Nacional e adotar providências. 
No parágrafo 3, observa: 
 
a Autoridade Nacional poderá estabelecer normas complementares 
sobre a definição e as atribuições do encarregado, inclusive hipóteses 
de dispensa da necessidade de sua indicação, conforme a natureza e o 
porte da entidade ou o volume de operações de tratamento de dados. 
 
Nas comunicações com a ANPD e os demais órgãos fiscalizadores, o 
DPO deve apresentar soft skills, que consistem em habilidades 
sociocomportamentais, associadas à capacidade de lidar com emoções. 
As hard skills – relativas a habilidades que podem ser aprendidas e 
quantificadas – não equivalem exatamente a um diferencial. 
 
 
Mas esse profissional não deve atuar de forma isolada, especialmente 
em caso de incidentes e situações de crise. Ele deve apoiar-se em uma 
equipe técnica multidisciplinar, em um plano de contingenciamento e 
também em um plano de resposta a incidentes, garantindo uma reação 
rápida e ordenada no cumprimento de suas obrigações. 
 
Ainda sobre a interlocução com a ANPD, o DPO pode comprovar que 
sua organização adotou medidas preventivas no tratamento de 
informações, por meio de registros atualizados dos fluxos de 
tratamento, elaboração do Relatório de Impacto à Proteção de Dados 
Pessoais (RIPD), verificações periódicas (auditoria) e elaboração de 
Testes de Legítimo Interesse (Legitimate Interest Assessment – LIA). 
O órgão máximo da Autoridade é o Conselho Diretor e é ele que 
estabelece as atribuições do DPO, como define o Decreto 10.474/2020. 
Contudo, não há ainda a regulamentação de suas funções. 
 
Em 27 de janeiro de 2021, foi divulgada, na Portaria nº 11/2021, a 
agenda regulatória da ANPD para o biênio 2021-2022, a qual se divide 
em três fases: 
 
● fase 1 – iniciativas da agenda cujo início do processo 
regulatório acontecerá em até um ano; 
 
● fase 2 – iniciativas da agenda cujo início do processo 
regulatório acontecerá em até um ano e seis meses; 
 
● fase 3 – iniciativas da agenda cujo início do processo 
regulatório acontecerá em até dois anos. 
 
De acordo com a referida Portaria, a agenda tem um conteúdo 
extremamente relevante, já que “é uminstrumento de planejamento 
que agrega as ações regulatórias consideradas prioritárias e que serão 
 
objeto de estudo ou tratamento pela Autoridade durante sua vigência”. 
Nessa perspectiva, é de suma importância para as atividades do DPO, 
que deve conhecer as fases e os respectivos temas em pauta para 
regulamentação: 
 
Item Tema Priorização Previsão de início do 
processo de 
regulamentação 
 1º/20
21 
2º/20
21 
1º/20
22 
2º/20
22 
1 Regimento Interno da 
ANPD 
Fase 1 X 
2 Planejamento 
Estratégico da ANPD 
Fase 1 X 
3 Proteção de dados e da 
privacidade para 
pequenas e médias 
empresas, startups e 
pessoas físicas que 
tratam dados pessoais 
com fins econômicos 
Fase 1 X 
4 Direitos dos titulares 
de dados pessoais 
Fase 3 X 
5 Estabelecimento de 
normativos para 
aplicação do Art. 52 e 
seguintes da LGPD 
Fase 1 X 
6 Comunicação de 
incidentes e 
especificação do prazo 
de notificação 
Fase 1 X 
7 Relatório de Impacto à 
Proteção de Dados 
Pessoais (RIPD) 
Fase 1 X 
8 Encarregado pelo 
tratamento de dados 
pessoais 
Fase 2 X 
9 Transferência 
internacional de dados 
pessoais 
Fase 2 X 
 
10 Hipóteses legais de 
tratamento de dados 
pessoais 
Fase 3 X 
 
Fonte: Portaria n° 11/2021 (adaptado) 
 
No item 8 (grifo nosso), observamos que a regulamentação referente 
às atividades do encarregado pelo tratamento de dados será 
normatizada, por meio de Resolução, durante a fase 2, prevista para o 
primeiro semestre de 2022. 
 
Na interlocução com a ANPD, o DPO deverá, ainda, inteirar-se dos 
procedimentos a serem adotados na aplicação de sanções 
administrativas. O Artigo 52, parágrafo 1, da LGPD preceitua que as 
sanções serão aplicadas após procedimento administrativo que 
possibilite a oportunidade da ampla defesa, de forma gradativa, isolada 
ou cumulativa, com base nas peculiaridades do caso concreto, 
considerando-se os critérios e os parâmetros enumerados no parágrafo 
mencionado. 
 
Ainda há muito a ser regulamentado, mas, em princípio, deve ser 
observada a Lei de Processo Administrativo (nº 9.784/99), que dispõe 
sobre normas básicas para o processo administrativo no âmbito da 
Administração Federal direta e indireta. Não é necessário que o 
encarregado domine todas as legislações, entretanto ele deve ter 
conhecimento mínimo generalista para tomar decisões estratégicas de 
forma mais segura e consciente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DPO e incidentes de 
segurança da informação 
 
 
 
 
 
 
2. DPO e incidentes de segurança da informação 
 
Antes de tratarmos de incidentes propriamente ditos, delimitaremos os 
conceitos de tecnologia da informação e segurança da informação. 
 
A tecnologia da informação (TI) é o conjunto de todas as atividades e 
soluções providas por recursos de computação que visam a produção, 
o armazenamento, a transmissão, o acesso, a segurança e o uso das 
informações, relacionando-se a aspectos operacionais internos. 
 
A segurança da informação, por sua vez, é a proteção de um conjunto 
de informações corporativas ou pessoais, preservando o valor que 
possuem para a instituição. Suas propriedades básicas são: 
confidencialidade, integridade, disponibilidade, autenticidade e 
legalidade. 
 
As duas atividades são aglutinadas em um profissional do setor de TI, 
o que prejudica o trato com incidentes de segurança, que exige um 
profissional especializado, com funções específicas. A LPGD não explica 
claramente em que consiste esse tipo de incidente, mas dispõe, em 
seu Artigo 46, que medidas técnicas e administrativas devem ser 
adotadas para proteger informações de acessos não autorizados e de 
situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, 
comunicação ou qualquer forma de tratamento inadequado ou ilícito. 
 
Os itens apontados pela Lei brasileira são justamente os mencionados 
na General Data Protection Regulation (GPDR), que apresenta o 
incidente como uma violação de segurança que conduz à destruição, 
perda, alteração, divulgação ou acesso não autorizado, de maneira 
acidental ou ilícita, de dados pessoais transmitidos. 
 
 
A noção de incidente evidenciada aqui se aplica ao conjunto de ativos 
digitais que a organização deseja preservar e que não se encaixam no 
conceito de dados pessoais, tais como planilhas de faturamento, 
estratégias comerciais, segredos industriais etc. 
 
Na doutrina, incidentes de segurança classificam-se de acordo com as 
três principais propriedades básicas da segurança da informação – 
confidencialidade, integridade e disponibilidade, conforme 
demonstrado abaixo: 
 
Incidentes de confidencialidade Há divulgação ou acesso, acidental 
ou não autorizado, de dados 
pessoais. 
Incidentes de integridade Há alteração, acidental ou não 
autorizada, de dados pessoais. 
Incidentes de disponibilidade Há perda de acesso ou destruição, 
acidental ou não autorizada, de 
dados pessoais. 
 
Fonte: Autor 
 
Os cenários não são rígidos e podem mesclar-se entre si, com base no 
nível de sofisticação do ataque ou do incidente. 
 
Na sociedade contemporânea, em que informações pessoais circulam 
massivamente (mas nem sempre contam com proteção adequada), a 
maior parte das empresas está sujeita a ataques cibernéticos. É 
essencial, então, que o encarregado pelo tratamento desses dados 
adote as medidas necessárias para evitar e aplacar riscos. A LGPD, em 
seu Artigo 48, exige que o DPO comunique a ANPD e o titular dos 
dados, em prazo razoável, sobre a ocorrência de incidentes de 
segurança que possam acarretar riscos potenciais ou danos relevantes. 
Ele deve mencionar, no mínimo: 
 
● a natureza dos dados pessoais (comuns ou sensíveis); 
 
● a identificação dos titulares afetados; 
 
● as medidas de segurança e de contingenciamento utilizadas 
para a proteção dos dados. 
 
Reiteramos que o enfrentamento de incidentes de segurança da 
informação não se resume a quesitos técnicos de TI e realiza-se, pelo 
menos, em três fases: 
 
● investigativa: envolve a atuação de profissionais de 
tecnologia da informação logo após ou durante o incidente para 
identificação do problema (ex.: técnicas/ferramentas de análise 
de segurança e comportamentos anômalos); contenção do 
incidente (ex.: retirada de um serviço afetado) e implementação 
do plano de recuperação do ambiente (ex.: restabelecimento de 
alguma informação comprometida por meio de backups, 
instalação/ativação de equipamentos reserva); 
 
● jurídica: contempla a atuação de profissionais da área jurídica, 
tais como advogados, trainees, estagiários, e compreende 
medidas judiciais ou extrajudiciais, comunicação formal com a 
ANPD sobre a existência do incidente e acompanhamento dos 
respectivos desdobramentos jurídicos; 
 
● comunicativa: abrange profissionais de jornalismo, 
publicidade, relações públicas, linguística, etc., responsáveis por 
comunicar ao público externo a existência do incidente. O intuito 
é minimizar os efeitos do ataque à reputação institucional. 
 
Na condução de ações diante de imprevistos que impactem 
negativamente a organização, o Plano de Resposta a Incidentes é um 
documento importante para manter a continuidade operacional. Na 
 
área de tecnologia, o documento é imprescindível, como veremos logo 
abaixo, e nas demais áreas é fundamental para que a produtividade do 
negócio se mantenha uniforme. 
 
O Plano de Resposta a Incidentes de segurança auxilia o DPO na 
identificação, mensuração e correção rápida de erros oriundos de 
eventos adversos, que possam comprometer as propriedades básicas 
da segurança da informação: confidencialidade, integridade, 
disponibilidade, autenticidade e legalidade. 
 
Para tanto, ele deve conhecer a infraestrutura de TI, bem como 
classificar e avaliar corretamente os riscos operacionais existentes. 
Vale dizer, porém, que a contençãode um incidente cibernético pode 
ser um desafio para muitas instituições e uma tarefa bastante 
complexa para o encarregado de proteção de dados: medidas 
imediatas são exigidas para atenuar as ameaças às propriedades 
básicas da segurança da informação e seus ativos, especialmente 
quando se trata de pessoas físicas identificadas ou identificáveis. 
 
As ameaças hoje são inúmeras e podem ser internas, externas ou 
naturais como, por exemplo, uma tempestade ou o rompimento de 
uma barragem. Até ações inocentes como o simples ato de abrir um 
documento infectado recebido por e-mail tem o potencial de causar 
perdas financeiras significativas, arruinar uma reputação e tornar 
negócios inviáveis. Por isso, incidentes de segurança cibernética devem 
ser constantemente gerenciados. Entre os objetivos desse 
gerenciamento, destacam-se: 
 
● prevenção de incidentes dessa natureza antes de sua 
concretização; 
 
 
● diminuição do impacto dos incidentes para a confidencialidade, 
disponibilidade e integridade dos serviços ativos de informação; 
 
● redução de vulnerabilidades; 
 
● diminuição de custos diretos ou indiretos; 
 
● identificação e correção eficaz do problema; 
 
● tratamento de falhas com padrão unificado de qualidade; 
 
● manutenção de um bom padrão de desempenho; 
 
● emprego de medidas que melhorem a confiabilidade da 
infraestrutura. 
 
A ilustração a seguir elucida as etapas presentes na cadeia de um 
incidente de segurança cibernética: 
 
 
Fonte: Autor 
 
O time de resposta a incidentes deve ser muito bem preparado e pode 
ser estruturado em forma de um comitê, cuja designação deve ser 
revista anualmente, mantendo-se a adequação de sua composição. O 
grupo deve contar com, pelo menos, um integrante da liderança de 
cada área e, no mínimo, dois diretores, os quais podem ser os 
 
mediadores, além de um gerente de segurança da informação. Um 
comitê de crises pode contar, também, com a presença de outros 
membros, de acordo com as particularidades do cenário de crise. 
 
Segundo a Information Commissioner’s Office (ICO) – órgão de 
proteção de dados do Reino Unido similar à ANPD –, a notificação de 
um incidente só deve ocorrer se resultar em alto risco para os direitos 
e a liberdade dos titulares. Em outras palavras, nem todos devem ser 
notificados, a menos que haja dúvida sobre seus impactos – situação 
em que, no Brasil, a ANPD deve ser comunicada. 
 
A Autoridade deve avaliar a natureza, a gravidade e as consequências 
do incidente; o número de titulares afetados; as jurisdições impactadas 
e os efeitos adversos. Poderá determinar, ainda, que o controlador 
adote medidas adicionais como, por exemplo, a ampla divulgação do 
episódio em canais de comunicação. 
 
Alguns procedimentos são avaliados positivamente pela ANPD no 
momento de aplicar eventual sansão: a adoção de medidas técnicas 
preventivas e de procedimentos internos capazes de minimizar o dano; 
o estabelecimento de política de boas práticas e de governança; a 
adoção de medidas corretivas, com especial atenção do DPO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DPO e Política de 
Privacidade 
 
3. DPO e Política de Privacidade 
 
A LGPD tem como uma de suas principais premissas a transparência 
na jornada da conformidade, no que diz respeito ao tratamento dos 
dados pessoais. Nesse viés, distinguimos, de modo geral, a Política de 
Segurança da Informação (PSI) – delineada no tópico anterior – da 
Política de Privacidade (PDP) no que se refere à sua aplicação e, 
obviamente, à apresentação de seus conteúdos. Enquanto a PSI se 
volta para o ambiente interno, direcionando-se para clientes e 
prestadores de serviços de forma sigilosa, a PDP dirige-se ao ambiente 
externo, devendo ser publicizada para que todos tenham ciência sobre 
como é realizado o tratamento de dados pessoais, em obediência ao 
princípio da transparência. 
 
Ao validar a Política de Privacidade, o DPO deve constatar a presença 
mínima obrigatória de determinados itens, tais como: 
 
● identificação do controlador e, se houver, identificação do 
operador dos dados; 
 
● descrição das informações pessoais tratadas; 
 
● descrição das finalidades do tratamento, sem omissão ou 
possibilidade de interpretação por analogia; 
 
● modo de armazenamento dos dados; 
 
● medidas de segurança adotadas; 
 
● direitos dos titulares; 
 
● canais de comunicação entre público externo e instituição; 
 
● data de atualização da versão mais recente. 
 
A PDP deve ser um documento completo e transparente, elaborado 
com linguagem simples, clara e objetiva, refletindo a cultura 
organizacional sobre a proteção de dados, para gerar uma relação de 
confiança com o usuário. Não se trata de um produto estático, pois 
exige customização e constante atualização. Conforme explica 
Maldonado (2019, p. 149), 
 
uma declaração (Disclaimer) deve ser disponibilizada e esclarecida na 
política a fim de que o usuário/cliente tenha ciência dos itens que eles 
estão coletando dos visitantes. [...] Nesse caso, a empresa opta por 
coletar dados pessoais quando você se cadastra nos sites, solicita 
informações, adquire produtos ou serviços, fornece produtos ou 
serviços, envia um currículo, comenta ou participa de alguma 
promoção, pesquisa ou outro recurso dos sites, ou ao se comunicar ou 
interagir com a empresa. 
 
Os sites também podem pedir para que você forneça outros dados 
pessoais a seu respeito, como dados demográficos (sexo, CEP, idade 
etc.) ou determinadas informações sobre as suas preferências, uso do 
produto e interesses. 
 
A Política de Privacidade pode apresentar itens com base nas 
categorias de titulares envolvidos, maximizando a compreensão dos 
termos específicos e das atividades rotineiras que tratam dados 
pessoais. Como exemplo, vejamos como se configura a Política do 
grupo Fiat Chrysler Automóveis Brasil Ltda.: 
 
 
 
 
 
Fonte: https://www.fiat.com.br/politica-de-privacidade.html/ 
Acesso em 01.02.21 
 
Embora não faça parte do conjunto, a Política de Cookies poderia ser 
contemplada na PDP. Cookies, como sabemos, são pequenos arquivos 
de computador ou pacotes de dados enviados por um site para o 
navegador do usuário em sua visita a uma página específica. Eles têm 
múltiplas funções, mas geralmente são usados para prestar 
determinados serviços ou enviar ofertas, podendo coletar informações 
anônimas sobre como o indivíduo acessou os sites, qual foi o seu tempo 
de permanência, que áreas foram acessadas etc. 
 
Os principais players do mercado – em especial os que têm negócios 
na União Europeia, e, portanto, estão há mais de dois anos sujeitos à 
GDPR – isolam a Política de Cookies da Política de Privacidade, para 
possibilitar a customização de quais cookies são autorizados pelo 
usuário ao navegar nos sites. Vejamos, a seguir, o exemplo da Volvo 
Car Group: 
 
 
 
Fonte: https://www.volvocars.com/br/footer/privacidade 
Acesso em 01.02.21 
 
Ao clicarmos em Definições dos cookies, o site permite-nos visualizar 
e ativar/inativar todos eles por categoria (estritamente necessários, de 
desempenho, funcionais, dirigidos para publicidade, entre outros) e 
exibe-os também em linguagem técnica: 
 
 
Fonte: https://www.volvocars.com/br/footer/privacidade 
 
Os exemplos acima representam disclaimers sobre cookies de 
empresas do setor automotivo e demonstram como têm enfrentado as 
obrigações da LGPD. No entanto, ainda que tais ilustrações sirvam 
como lição e direcionamento, não podem jamais ser reproduzidas 
aleatoriamente, para que não se configure uma violação à propriedade 
intelectual. Afinal, tais cookies foram produzidos para um contexto 
específico, tanto de tratamento de informações pessoais quanto de 
tecnologias utilizadas. 
 
Destacamos, por fim, que as entidades mencionadas, de renome 
mundial, têm a obrigação de observar várias legislações sobre proteçãode dados, em especial a GDPR. Isso quer dizer que a elaboração de 
uma Política de Privacidade por uma instituição brasileira deve 
considerar não somente a LGPD, mas todas as outras legislações dos 
países com os quais pretende realizar negócios. 
 
Apesar de existir há anos, a PDP tem sido negligenciada. Agora, porém, 
assume papel relevante com a vigência da Lei, ao que deve estar 
atento o DPO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DPO e cyber insurance 
 
4. DPO e cyber insurance 
 
A LGPD não proporcionou apenas o aquecimento do mercado de 
seguros cibernéticos (cyber insurances), mas também potencializou a 
procura pelo seguro D&O (Directors and Officers Liability Insurance). 
Trata-se de um seguro de responsabilidade civil que protege o 
patrimônio de altos executivos, preocupados com possíveis processos 
abertos por pessoas físicas, relacionados ao vazamento de dados 
pessoais nas empresas em que atuam como gestores. 
 
Por mais que a entidade adote todas as medidas de precaução, 
reduzindo lacunas operacionais e adotando uma Política de Segurança 
da Informação eficaz, incidentes têm sido cada vez mais recorrentes. 
Logo, é altamente recomendável que a instituição se resguarde, 
utilizando todos os meios disponíveis para minimizar riscos e perdas 
oriundos de eventuais incidentes de segurança da informação e 
proteção de dados. 
 
Ilustremos a importância de proteção com o episódio da National 
Security Agency (NSA), órgão norte-americano que contrata vários 
profissionais de segurança da informação e que foi vítima de incidente 
de segurança no caso Edward Snowden. Nessa situação, uma única 
apólice pode apresentar múltiplas coberturas, dirigidas para públicos 
distintos: um voltado para a própria empresa em relação a Erros e 
Omissões (E&O) e o outro voltado para a proteção do patrimônio 
pessoal de diretores, membros do conselho, entre outros (D&O), como 
mencionado anteriormente. 
 
Independentemente do seguro escolhido, salientamos que ele não 
basta como medida protetiva, pois outras providências referentes à 
governança devem ser adotadas para garantir a segurança de dados. 
 
Em relação às concessionárias de veículos, apresentamos a seguir 
algumas coberturas a serem contempladas: 
 
● responsabilidade por perda ou eliminação de dados pessoais ou 
corporativos; 
 
● responsabilidade perante organizações terceirizadas; 
 
● ressarcimento das medidas emergenciais a serem adotadas 
logo após os incidentes; 
 
● ressarcimento de custos de restituição da imagem empresarial; 
 
● ressarcimento de custos de investigação forense; 
 
● ressarcimento de custos imediatos de melhoria de softwares e 
hardwares em decorrência do incidente; 
 
● cobertura de custos relativos à indisponibilidade de sistemas, 
como os gerados por ataques de ransomwares; 
 
● cobertura de honorários advocatícios. 
 
Quanto à cobertura de aplicação de multas e penalidades pelos órgãos 
fiscalizadores – que deve ser avaliada com base no valor da apólice –, 
devemos considerar que, entre as sanções previstas na LGPD, está a 
suspensão parcial do funcionamento do banco de dados ou a suspensão 
do exercício da atividade de tratamento de informações pessoais pelo 
período máximo de seis meses, prorrogável por igual período, bem 
como a proibição parcial ou total do exercício de atividades 
relacionadas ao tratamento. Os lucros cessantes decorrentes dessa 
paralisação devem constar na apólice, já que, mais do que uma multa 
 
pecuniária, a suspensão das atividades pode ultrapassar o teto de R$ 
50.000.000,00 de multa por infração. 
 
Pinto (2020) observa que o DPO deve estar atento aos parceiros com 
acesso a dados pessoais sensíveis e salienta que seu compartilhamento 
deve ser precedido por uma Política de Compartilhamento: o 
documento pode exigir, entre outras garantias, que os parceiros 
contratem um seguro cuja apólice contemple o vazamento de dados. 
 
Como um incidente de segurança da informação pode estar relacionado 
a fraudes cibernéticas, valendo-se de técnicas de engenharia social ou 
de extorsão, o seguro também pode realizar essa cobertura. Contudo, 
por não ser uma modalidade muito difundida no Brasil, as seguradoras 
apresentam suas propostas apenas mediante processo anterior de 
auditoria interna e externa. 
 
Pinto (2020) também ressalta que a taxa média de custo dos seguros 
cibernéticos está entre 1% e 2% do Limite Máximo de Garantia (LMG), 
o que significa que uma apólice com LMG de R$ 5 milhões pode custar 
em torno de R$ 50 mil por ano. Esse valor varia de acordo com o porte 
da empresa, seu ramo de atuação, seus sistemas de segurança da 
informação, os tipos de coberturas contratadas etc. Se comparada às 
cifras que as multas administrativas podem atingir, a quantia não é 
significativa e deve ser considerada pelo encarregado de proteção de 
dados na jornada de adequação à LGPD. 
 
A adoção dessas medidas demonstra o compromisso institucional com 
a proteção dos dados pessoais, o que, como já dissemos, é 
extremamente bem visto pela ANPD, devendo ser objeto de análise 
cuidadosa do DPO. 
 
 
 
Conclusão 
 
Apesar de a função do DPO exigir características técnicas 
multidisciplinares e sólida formação teórica, a nova profissão apresenta 
um leque de possibilidades em um mercado extremamente competitivo 
e promissor, mas carente de bons profissionais. Se você pretende ser 
um bom encarregado de proteção de dados, deve manter-se 
atualizado, em razão da dinamicidade exigida na realização de 
atividades e da falta de regulamentação em diversos aspectos deste 
tema. 
 
 
Bibliografia 
 
LUCIANO, Maria. Vazamentos de dados na LGPD: em busca do 
significado de “incidentes de segurança”. Revista do Advogado, v. 39, 
n. 144, p. 163-167, 2019. 
 
MALDONALDO, Viviane Nóbrega. Lei Geral de Proteção de Dados 
Pessoais: manual de implementação. São Paulo: Thomson Reuters 
Brasil, 2020. 
 
PINTO, Claudio Macedo. Cyber insurance e seguro para DPO. In: Opice 
Blum, Renato; Vainzof, Rony; Moraes, Henrique Fabretti (coords.). 
Data Protection Officer (Encarregado). Teoria e prática de acordo com 
a LGPD e o GDPR. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, p. 331-361, 
2020. 
 
SOMBRA, Thiago Luís; CASTELLANO, Ana Carolina Heringer. Plano de 
respostas a incidentes de segurança: reagindo rápido e de forma 
efetiva. Revista do Advogado, v. 39, n. 144, p. 168-173, 2019. 
 
 
Conteúdo complementar 
 
CANAL DR. STARTUP. Política de privacidade e LGPD. 23.05.20. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=etcZyLBrcEg 
Acesso em: 01.02.21. 
CANAL FALA BRASIL. Nova política de privacidade do WhatsApp 
obriga usuários ao compartilhamento de dados. 19.01.21. Disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=v9IZTK8vUwc Acesso em: 
01.02.21. 
CANAL TI. O que é tecnologia da informação – TI? S/d. Disponível 
em: https://www.youtube.com/watch?v=PuwydNmz5QQ Acesso em: 
01.02.21. 
DONDA, Daniel. Por onde começar em segurança da informação? 
Canal Daniel Donda. S/d. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=3MVrwuf0XO8 Acesso em: 
01.02.21. 
 
Nota: os conteúdos complementares aqui indicados são 
demonstrações práticas de cursos, certificações e softwares 
mencionados e não configuram indicação de aquisição ou compra. O 
autor não possui quaisquer relações comerciais com as marcas que 
porventura sejam replicadas nos vídeos postados publicamente na 
plataforma Youtube.

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