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100 Unidade III Unidade III Agora que já vimos a importância do contexto internacional e a ascensão do poderio econômico como elemento de diplomacia e política externa, estudaremos como o Brasil atua diplomaticamente com diversos países e regiões, bem como sua relação com questões econômicas. Entretanto, antes de adentrarmos nas questões específicas com diversos países e regiões do mundo à luz da diplomacia econômica contemporânea, é necessário que estudemos as bases da diplomacia econômica brasileira. E, para tal, é impossível que não nos debrucemos sobre a nossa formação enquanto nação. Vale lembrar que, embora a diplomacia econômica ganhe espaço no cenário global somente no século XX, os países já negociavam entre si antes desse período. Basta recordar as teorias de comércio internacional cunhadas por Adam Smith no século XVIII e por David Ricardo no século XIX. A contemporaneidade da proeminência econômica não significa, necessariamente, que as relações econômicas entre as nações não existissem em um passado anterior ao século XX. Segundo Almeida (2017), o Brasil reverbera, atualmente, os mesmos problemas econômicos e políticos dos tempos coloniais. Um deles é a extrema desconfiança de tratados e acordos de abertura comercial. Ao mesmo tempo, o Brasil é tomado por uma espécie de protecionismo instintivo e um nacionalismo bizarro. Consequentemente, os mecanismos de proteção figuram como elemento de fiscalização muito mais do que elemento industrializante. Não obstante, ainda segundo Almeida (2017), talvez tais questões possam ser mais bem explicadas ao se analisar o próprio processo de constituição nacional desde o período da colônia, no que tange aos aspectos políticos, sociais e econômicos. Em termos políticos e econômicos, é como se o Brasil sempre chegasse depois dos demais países. Um exemplo disso é a escravidão: o Brasil foi um dos últimos países a abolir tal prática, ficando atrás somente de algumas poucas nações. Sem embargo, a política para atrair imigrantes para nosso território sempre teve como pano de fundo a motivação de chegarem não imigrantes, mas sim “braços para a lavoura”. Sendo assim, o que recebemos foi um número muito inferior do que poderíamos ter tido e acolhido se as condições fossem outras. A escravidão minou o Brasil de receber, por exemplo, empreendedores, peritos em diversos ofícios, bem como a possibilidade de desenvolvimento de novas técnicas e conhecimentos. O fato é que as elites desejavam, na figura do imigrante, um substituto para o escravo. 101 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Observação Muitos escravos trazidos para o Brasil, no campo profissional, já trabalhavam como ferreiros ou eram especialistas em atividades como mineração, criação de gado e indústria pastoril. Contudo, o que afirmamos aqui é que a condição de escravo impossibilitou que o Brasil se utilizasse desse conhecimento para seu crescimento econômico. Diferentemente de outras nações, como os Estados Unidos, por exemplo, tal mentalidade brasileira enraizou uma política na qual diversos tipos de restrições e proibições de acesso à propriedade de terras foram criados. Dessa forma, optou-se por recrutar pessoas para que fossem utilizadas como servos de grandes barões do café. Ademais, a partir da abolição da escravatura, o negro escravizado até então ficou à margem da sociedade, pois a superioridade de quem escravizava transbordou para diferentes áreas da sociedade. Logo, o negro não foi visto como cidadão. Embora seja impossível mensurar as questões sociais que tal condição provocou, em termos econômicos, um enorme número de indivíduos ficou fora da atividade produtiva quando oficialmente – e teoricamente – os recém-libertos passaram a ser parte da nação. Com o advento da República, a política migratória do país continuou aquém do que deveria. Os imigrantes que as elites esperavam que chegassem ao país eram somente os “braços para a lavoura” e, posteriormente, para as fábricas. Assim, as elites políticas e econômicas não queriam que desembarcassem em território nacional artistas, professores, jornalistas ou até mesmo comerciantes. Contudo, não podemos negar o fato de que a máquina escravocrata tupiniquim acumulou riquezas. Com o fim do tráfico de escravos, poderíamos ter designado muitos recursos para a infraestrutura nacional, bem como para investimentos em atividades produtivas. Porém novamente com a sensação de que poderia ter sido, mas não foi – grande parte desses recursos foram empregados na compra de prédios urbanos e propriedades rurais. Bem como os lucros do tráfico negreiro: quando não utilizados para ampliar o negócio, foram gastos com joias, ouro e, principalmente, com grandes extensões de terras, transformadas em latifúndios que, em sua maioria, tornaram-se, em pouco tempo, improdutivos, dado o esgotamento do solo por conta da monocultura. Exemplo de aplicação Você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com diplomacia econômica. E aí é que está o “x” da questão: você investiria em uma instituição arcaica que visivelmente não tem nenhuma perspectiva de retorno? Imagine tal condição para investimentos estrangeiros, que começam a dar as caras no final do século XIX e início do século XX, como vimos no início deste livro-texto. Ficam os questionamentos: como seria possível atrair investimento estrangeiro quando as elites que comandavam o país contavam suas 102 Unidade III posses por alqueires de terra, bem como por número de escravos? Que empresa iria aportar num país no qual o consumo era restrito pela escravidão? Que credibilidade teria um país que comprava no exterior seus habitantes e cuja maior entrada na alfândega era de escravos? Como atrair novas tecnologias em uma nação que não se preocupava com o trabalho por conta de estar associado à escravidão? Isto posto, é impossível dissociar questões sociais das questões econômicas. Tudo caminha junto. Nossa economia é reflexo de nossa história. Figura 27 – Bandeira do Brasil Imperial (1822-1889) Disponível em: https://bit.ly/3cFz2cG. Acesso em: 22 nov. 2021. Saiba mais Para saber mais sobre a formação social do Brasil, ver: FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2004. HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Global, 2015. O Brasil paga até hoje o preço de ter tido uma classe elitizada que se considerava aristocrata, copiando modos e trejeitos de nobres ingleses. Porém, ao mesmo tempo, essa classe praticava o espancamento de escravos e se utilizava da cadeirinha como meio de transporte. Uma classe que admirava D. Pedro II falando no aparelho recém-inventado por Graham Bell, porém que ainda utilizava – e não dispensava – o moleque de recados. 103 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Todavia, mesmo com todas as adversidades, ainda assim tivemos nomes proeminentes na diplomacia brasileira, como Joaquim Nabuco e o Barão do Rio Branco. Tais diplomatas exerceram seus cargos em condições paradoxais, pois ao mesmo tempo que representavam no exterior uma classe senhorial que se enxergava como aristocrata, ainda conseguiram grandes ganhos diplomáticos e colocaram o país no mapa. Em termos econômicos, as exportações cresceram, embora ainda o produto fosse considerado de sobremesa – primeiro açúcar, depois café. Sendo assim, podemos perceber o quanto a diplomacia econômica atual ainda carrega consigo questões de séculos passados. Ainda, por conta exatamente dessas condições em nossa formação, a diplomacia econômica do século XIX é uma herança luso-britânica. Ademais, a experiência acumulada por diplomatas do período também serviu como elemento constituinte do perfil diplomático-econômico brasileiro. Então, alguns setores nos quais o Brasil tinha potencial de expansão internacional tornaram-se tradicionais para tal prática,como o comércio, o tráfico de escravos e a própria dívida externa, enquanto outros foram pouco explorados, como, por exemplo, patentes de invenção, fornecimento de crédito aos países vizinhos e participação em organismos multilaterais. Tudo atrelado a um protecionismo estrutural. Quando atualizamos tais características para os dias de hoje, percebemos características do período de colonização que convivem com a modernidade. Um exemplo disso é que o Brasil tem que resolver questões de informática e dengue ao mesmo tempo. Fala-se em 5G e ainda existem regiões sem energia elétrica; assim como no Brasil Império, que importava telégrafo e locomotivas a vapor e convivia com a escravidão. Diante de tal panorama – não muito animador, mas necessário – que comentamos, vamos agora discutir sobre as características contemporâneas e as relações econômicas do Brasil com diversas partes do mundo. 7 O BRASIL E OS MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: AMÉRICA E EUROPA Não é segredo que o Brasil sempre esteve próximo de países da América, seja ela Latina ou do Norte. Dessa forma, nossa primeira parada é no nosso continente. Contudo, antes é necessário falarmos das características da diplomacia econômica contemporânea de nosso país. Segundo o Ministério da Economia (2021), no período de janeiro a abril de 2021, o Brasil teve um aumento nos números relacionados ao comércio internacional. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, houve um crescimento tanto das exportações quanto das importações. Em relação às exportações, os produtos que mais apresentaram crescimento na modalidade foram café não torrado, soja, algodão, minério de ferro e minério de cobre, óleos brutos de petróleo, açúcares e melaços, farelos de soja e outros alimentos para animais, farinhas de carne e produtos semiacabados, lingotes e formas primárias de ferro ou aço. 104 Unidade III Em contrapartida, as importações do mesmo período que apresentaram um crescimento foram milho não moído (exceto milho-doce), soja, látex, borracha natural e alguns de seus derivados, minérios de cobre e seus concentrados, gás natural, adubos e fertilizantes químicos, válvulas e tubos termiônicos e, finalmente, partes e acessórios dos veículos automotivos. Por essa breve descrição que contempla somente os quatro primeiros meses do ano de 2021, podemos perceber algumas questões que ficam explícitas: o Brasil ainda é um país primário-exportador e, mesmo assim, ainda importa um número significativo de produtos primários. Agora, pensando na diplomacia econômica, quem são os principais parceiros do período e quais os principais produtos? Bem, ao analisar a lista desse período, não há surpresas; tudo decorre da lógica da distribuição de poder econômico que estudamos inicialmente. Os países são: Argentina, China, Hong Kong, Macau, Estados Unidos e União Europeia. Observação Hong Kong e Macau são regiões que, historicamente, estiveram sob a jurisdição britânica e portuguesa, respectivamente, e passaram, recentemente, para a jurisdição chinesa. Contudo, questões que envolvem a soberania das ilhas ainda são latentes. Porém o comércio internacional é contabilizado em estatísticas diferentes das da China, embora ambos os territórios estejam sob jurisdição da potência asiática. Assim, vamos analisar – agora a partir de um viés histórico – as relações do Brasil com diversas regiões do mundo. Essa ressalva é importante pelo fato de que a coleta de dados em cada região é heterogênea: não só há regiões com estudos mais atuais como há regiões com mais dados acumulados. Ademais, vale ressaltar que nosso foco recai sobre os acordos de cunho econômico e demais relações que contemplem essa esfera. Não vamos nos deter em abordagem histórica do surgimento e descrição de blocos e países que vierem a aparecer em nossa reflexão, somente quando for preciso contextualizar e/ou justificar algum posicionamento, decisão, acordo ou quaisquer outros aspectos que julgarmos necessário. 7.1 O Brasil e as relações econômicas com a América Latina Mesmo com todos os problemas internos e características da formação do país desde os tempos de colônia, o Brasil, ainda assim, sempre foi potência regional. Entretanto, muitas vezes as relações com nossos vizinhos foram conflituosas. Assim, para compreender essas relações, se faz necessário, indubitavelmente, compreender o processo de integração da América Latina. 105 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Figura 28 – Mão, Oscar Niemeyer, 1988: sangue dos mártires latino-americanos Disponível em: https://bit.ly/3FylV9E. Acesso em: 22 nov. 2021. 7.1.1 A América Latina e sua integração e inserção no mundo globalizado Segundo Lessa et al. (2016), a inserção da América Latina no contexto internacional é marcada pela adversidade. Isso porque é uma região composta de Estados que possuem níveis de desenvolvimento econômico e social diferentes, bem como processos de colonização distintos. A busca pela inserção internacional data desde meados do século XIX, quando diversos países tentavam se vincular aos espaços econômicos mais proeminentes. Não é segredo que, desde a independência dos Estados Unidos, no ano de 1776, aquele país se tornou, em pouco tempo, um dos mercados mais prósperos do mundo. Logo, esse processo evolutivo acabou sendo referência – muitas vezes através de influências e interferências – para outros países latino-americanos. Ao mesmo tempo, a partir do século XX, alguns elementos de evolução política e econômica da América Latina tiveram características em comum. A década de 1930 foi o momento de maior aproximação entre os países, tendo em vista que havia uma grande competição entre os países que posteriormente compuseram o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) durante a Segunda Guerra Mundial e os países que eram tradicionais parceiros liberais dos países da América Latina. O outro momento de realinhamento entre os latinos se deu no pós-guerra. Contudo, a condição de bipolaridade global moldada pela Guerra Fria impôs algumas limitações de crescimento a esses países. O processo de modernização teve relativo avanço da década de 1950, principalmente por conta do Plano de Metas do governo brasileiro. Contudo, grande parte dos países latinos nutria um grande incômodo com o descaso dos Estados Unidos com a região por conta da preocupação da potência norte-americana com a reconstrução da Europa e seu Plano Marshall, que não só constituiu um aporte financeiro, mas também constituiu um grande elemento de diplomacia econômica, visto que a intenção estadunidense era conter o avanço soviético na Europa, principalmente na sua parte oriental. 106 Unidade III Lembrete O Plano Marshall constituiu, além de um aporte financeiro, um grande elemento de diplomacia econômica visto que a intenção estadunidense era conter o avanço soviético na Europa, principalmente na sua parte oriental. Ademais, os nacionalismos que ficavam visíveis no campo econômico através das políticas desenvolvimentistas do período eram fruto dos regimes ditatoriais que ocorriam na vizinhança. “No contexto dos regimes nacionalistas falar em integração econômica e política era praticamente um pecado” (LESSA et al., 2016, p. 63). Então a aproximação ficou por conta de esses regimes unirem forças para perseguir e reprimir os movimentos que tinham o objetivo de contestar os regimes militares. Isso sem esquecer, obviamente, que a fundamentação ideológica era o alinhamento com os Estados Unidos no combate ao que foi chamado de “comunismo internacional”. Os anos 1980 foram emblemáticos para as economias latino-americanas. Primeiro, porque foram o período posterior aos dois choques do petróleo. As crises das grandes economias mundiais, junto da elevação de taxas de juros no exterior, afetaram diretamente as economias do Cone Sul. Como se não bastasse, Ronald Reagan assumiu o poder nos Estados Unidos e adotou medidas de cunho liberal mais contundentes no plano internacional. Dessa forma, a atuação estadunidenseno continente foi mais incisiva, sendo as ações de combate ao narcotráfico, principalmente na Colômbia, o exemplo mais claro dessa situação. Outro ponto relevante foi o conflito em que a Argentina se envolveu com a Inglaterra por conta das Ilhas Malvinas. Devido a um regime militar desgastado, os argentinos fizeram essa incursão militar e não foram páreos para os ingleses, levando milhares de jovens à morte. A Guerra das Malvinas, ocorrida em 1982, foi, portanto, decisiva em muitos aspectos para o futuro da Argentina e da região do Cone Sul. Além de ter promovido a redemocratização do país, foi fundamental para a aproximação entre Buenos Aires e Brasília. Mas não só́ isso, a guerra demonstrou de maneira inequívoca o que significava, para os Estados Unidos, a América Latina (LESSA et al., 2016, p. 65). Talvez o aspecto mais relevante que se descobriu nesse período foi a verdade: os Estados Unidos não hesitaram em nenhum momento em apoiar a Inglaterra. Ou seja, os discursos e os tratados de cooperação intracontinental não passavam de palavras. Simultaneamente, no Brasil aconteciam os últimos momentos da ditadura. Embora muito se foi falado em crescimento e milagre econômico nos anos anteriores, o Brasil amargava um complexo quadro de recessão econômica, bem como altas taxas de desemprego e incapacidade de gerir e honrar os compromissos internacionais. 107 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Diante de tais condições, a aproximação de Brasil e Argentina aconteceu e foi o primeiro passo para o processo de integração econômica no continente. Uruguai e Bolívia também iniciaram a década de 1980 com mudanças políticas por conta do desgaste dos regimes militares instalados nos respectivos países. Não foi diferente para Chile e Paraguai. Especificamente na Colômbia, destaca-se a presença do narcotráfico e da guerrilha, principalmente por conta das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional (ELN). No Peru, a guerrilha se deu principalmente através do grupo Sendero Luminoso. Porém, o cenário econômico latino-americano começou a mudar a partir dos anos de 1990. Basicamente, houve uma reforma generalizada de cunho liberal – com exceção de Cuba – que colocou em prática o Consenso de Washington. Logo, as políticas foram direcionadas para a abertura comercial através da liberalização da economia, remodelando o Estado. Embora todo o continente tenha passado por esse processo, a diferença foi a intensidade que ocorreu em cada país. A Argentina foi o país que mais teve reformas, privatizando grande parte de suas empresas estatais. O Brasil atingiu um nível intermediário em relação ao processo argentino. Contudo, o visto foi justamente a superação de um modelo nacional-desenvolvimentista, tendo o principal impacto no papel que o Estado exerce na economia. O principal gargalo apresentado pelo modelo desenvolvimentista era o fato de que não se direcionava a economia para o âmbito externo. Dessa forma, como vimos inicialmente, a América Latina estava à margem do que vinha sendo proposto desde Bretton Woods. Sendo assim, o ponto de partida para as modificações necessárias para que os países latinos pudessem entrar nessa dinâmica ocorre justamente com o fim da Guerra Fria e as mudanças estruturais nas economias dos países. Figura 29 – A queda do Muro de Berlin marca o final da Guerra Fria Disponível em: https://bit.ly/3CFsKEI. Acesso em: 22 nov. 2021. 108 Unidade III Porém, nem de longe o cenário foi o ideal. Mesmo que muitos países tenham conseguido se adequar ao que era exigido pelo modelo, os resultados em questões sociais passaram longe de serem positivos. Entre as principais consequências dessas mudanças, destacam-se o desemprego, o crescimento da economia informal e, em grande parte, a diminuição da indústria nacional, pois não havia como concorrer de igual para igual com as empresas estrangeiras. Diante desse panorama, fica explícita a dificuldade do continente em se afirmar economicamente ao mundo. 7.1.2 A diplomacia econômica através da integração regional Perante as dificuldades que os países latinos enfrentaram – e ainda enfrentam – no que tange aos aspectos econômicos, o caminho encontrado para o crescimento econômico nesse contexto de abertura comercial foi através dos processos de integração. Dessa forma, podemos claramente associar a diplomacia econômica brasileira no contexto pós-Segunda Guerra Mundial à abertura comercial dos anos 1990 e, sem dúvidas, na América Latina aos processos de integração regional. Contudo, ressaltamos que isso não significa que não houve acordos bilaterais ou multilaterais com os países latinos; em nossa história sempre tivemos acordos com nossos vizinhos, haja vista a informação antes mencionada: nosso principal parceiro comercial nos primeiros quatro meses do ano de 2021 foi a Argentina. A questão toda reside no fato de que, assim como apontamos no início deste livro-texto, o modelo adotado a partir do novo sistema financeiro mundial pós-Bretton Woods só foi realmente atrelado aos processos político-econômicos dos países latinos com a superação do modelo desenvolvimentista e dos regimes militares e com a abertura comercial dos anos 1990, simultaneamente ao fim da Guerra Fria. Vale ressaltar também que os avanços bem-sucedidos da União Europeia acabaram por influenciar outras regiões e países do mundo a verem a integração regional como uma realidade e um dos caminhos para o desenvolvimento econômico. Mais do que isso, tais processos influenciaram diretamente a diplomacia econômica, por darem espaço para o exercício profissional da prática diplomática no que tange aos aspectos comerciais e, consequentemente, econômicos – espaço para a discussão e resolução de políticas que se entrelaçam com a realidade financeira global. Assim, ante um cenário internacional econômico e político marcado por indefinições e muitas incertezas, diversos Estados nacionais buscaram criar blocos regionais para responder às novas diretrizes que emanavam do centro mais dinâmico do sistema capitalista (LESSA et al., 2016, p. 68). Em termos diplomáticos, o Brasil encabeçou o principal e mais bem-sucedido processo de integração latino-americano: o Mercosul. Ainda segundo Lessa et al. (2016), o bloco nasceu com objetivos econômicos, mas também carregava consigo objetivos políticos, evidenciando, mais uma vez, o papel da diplomacia econômica. 109 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Iniciado em 1991 e consolidado em 1994, o Mercosul equivale a uma área de 11 milhões de quilômetros quadrados, sendo que em termos percentuais o Brasil detém cerca de 75% do PIB do bloco, seguido pela Argentina com 23%. Uruguai e Paraguai possuem bem menos, sendo 1,5% e 0,7% para cada, respectivamente. Para o Brasil, o bloco significou um aumento contundente nas exportações, principalmente para a Argentina. Até a assinatura do acordo, o Brasil figurava entre o segundo e o quarto maior comprador dos produtos argentinos, enquanto o país vizinho figurava entre o sexto e oitavo lugar da lista brasileira. Depois do Mercosul, a Argentina passou a ser o segundo maior comprador – atrás apenas dos Estados Unidos e, atualmente, é o principal parceiro comercial de produtos brasileiros. Concomitantemente, para a Argentina, o Brasil passou a ser o mercado mais importante, pois, além das trocas comerciais, houve investimento de peso na economia argentina, chegando ao ponto de se desnacionalizarem alguns setores que nossos vizinhos consideravam importantes. Isso se deve ao modelo adotado de paridade peso-dólar, facilitando a importação de produtos industrializados para o país. Contudo, em termos de diplomacia econômica, um dos fatores mais relevantes se dá na adoção de uma política comercial comum do bloco diante de outros países. Desse modo, a negociação com o bloco traria uma só linguagem às relações comerciais com países de blocos econômicos que tivessem interesse em negóciosde origem latino-americana. Essa integração superaria a dissonância argumentativa que o continente cometia anteriormente. Por conta de serem economias pequenas – em relação às grandes potências de outras partes do mundo –, o fato de falarem em “bloco” faz com que haja mais força comercial, visível no aumento de poder de barganha, no intuito de garantir ganhos adicionais para os países que compõem o bloco. Afinal, é um mercado de 11 milhões de quilômetros quadrados. Em vista disso, fica nítida a diplomacia econômica: a união dos países otimiza o poder de barganha diante de um cenário econômico historicamente atrasado, sendo que o caminho para tal superação passa por decisões políticas que influenciam diretamente a economia dos países. O fator principal que aumenta o poder de barganha se dá no modelo de integração adotado – em teoria, um mercado comum, como o próprio nome diz –, que traz consigo os aspectos de uma zona de livre-comércio, sendo o elemento central a tarifa externa comum. Isso significa que impostos e taxações devem ser os mesmos para produtos provenientes de qualquer lugar. Contudo, o que de fato caracteriza a diplomacia econômica nesse pacto é a coordenação de políticas macroeconômicas, sendo o maior exemplo disso a adequação da tarifa externa comum, que alterou as políticas domésticas para que essa determinação fosse implantada. Uma característica peculiar do Mercosul, ao longo de sua história, é o fato de que os problemas são resolvidos de forma negociada. Mesmo com desavenças, nenhum processo foi interrompido. 110 Unidade III Economicamente falando, o Mercosul tem sido importante para o Brasil. Isso é visto nos números do comércio, bem como no objetivo maior da integração: o político. A intenção sempre foi buscar novas adesões na América do Sul, principalmente com os países da Comunidade Andina, para que a região ganhasse mais peso e poder de barganha na comunidade internacional. E assim o Mercosul mantém negociações com Japão, México, Comunidade Andina e União Europeia. Figura 30 – Bandeira do Mercosul Disponível em: https://bit.ly/3nE9Ycv. Acesso em: 22 nov. 2021. Já o Pacto Andino – que posteriormente foi chamado de Comunidade Andina – teve seu desenvolvimento a partir da experiência malsucedida da Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (ALALC). Os elementos históricos semelhantes dos países que compõem o bloco foram cruciais para o surgimento dessa integração. Essa integração defendia a liberalização do comércio, bem como a coordenação no que tange à política sobre o desenvolvimento industrial desses países, tendo como carro-chefe o tratamento especial com as empresas multinacionais. Havia também o intento de um programa unificado para importações, bem como a criação de uma corporação para o fomento de pesquisas científicas e educação. Assim como no Mercosul, houve a criação de uma tarifa externa comum, percebendo-se que os objetivos transcendiam bastante a ideia de uma zona de livre-comércio. Vale ressaltar que, embora a diplomacia econômica tenha dado uma guinada na América do Sul a partir dos modelos de integração, outras tentativas já a haviam favorecido. Um exemplo é o caso do Paraguai, que, desde o ano de 1974, importava produtos de qualquer parte do mundo com uma taxa muito baixa. Essa medida foi intencionalmente criada para a aproximação com o Brasil. Inicialmente, a ideia era beneficiar países vizinhos. Contudo, a partir da constatação de que a economia paraguaia poderia ser sufocada pela brasileira, o benefício foi estendido para qualquer país. Consequentemente, o maior exemplo de como a diplomacia econômica funcionou com os países da América Latina foi através dos processos de integração. Embora o Brasil já tivesse negócios bilaterais e multilaterais com seus vizinhos, a proeminência do modelo liberalizante a partir dos anos 1990 foi determinante para essa nova forma de interação. Até então, por conta, principalmente, das políticas desenvolvimentistas e de um grande período de regimes 111 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS autoritários, a visão individualista de inserção internacional prevalecia. Com a integração, a ideia muda. Inclusive, por conta das próprias mudanças nas políticas internas que ocorriam na região e, como não poderia deixar de ser, no Brasil. Segundo Hirst e Pinheiro (1995), diante da expectativa criada com a política brasileira após 1989 – por causa da redemocratização e do cenário global pós-Guerra Fria –, uma das principais metas era, justamente, atualizar a agenda internacional do país. Isso pode ser visto na postura mais ativa em questões ambientais, na construção de uma agenda positiva com os Estados Unidos e nos processos de integração regional. “Pretendia-se que o novo padrão de política externa fosse um apoio para os desafios internacionais a serem enfrentados pelo país a partir de seu processo de reformas econômicas internas” (HIRST; PINHEIRO, 1995, p. 7). Assim, a busca pela melhoria da competitividade econômica do país perante a nova realidade global passou, necessariamente, por essa nova postura diplomática, que tem a economia como elemento central. No campo comercial, o país adota uma clara postura de defesa do multilateralismo. A diferença – em termos políticos – com os governos anteriores reside no fato de que a integração vai além de um instrumento para acelerar o processo de liberalização da economia brasileira. Consequentemente, a diplomacia econômica é, de fato, colocada em prática e os processos de integração são a principal característica dessa nova realidade em relação à participação do Brasil na diplomacia econômica latino-americana. 7.1.3 As relações do Brasil com a Argentina Figura 31 – Bandeira da Argentina Fonte: IBGE (2021). Mesmo com todo o processo de multilateralismo adotado pelo país em relação à América Latina, as relações com nosso principal vizinho são demasiadamente importantes. Isso fica característico, inclusive, na forma como ocorreu o processo de integração sul-americano: na superação da rivalidade entre os dois países. 112 Unidade III Segundo Considera (2016b), compreender as relações entre os dois países é tema essencial da política externa brasileira, desde, pelo menos, os últimos 50 anos. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as diretrizes externas de ambos são diretamente influenciadas entre si. A diferença de postura dos dois em relação ao conflito global já mostrava o que viria a seguir. O Brasil nitidamente se aproximava dos Estados Unidos em busca de benefícios econômicos, rompendo, em 1942, relações com o Eixo. Porém, no início dos anos de 1940, a Argentina não tinha condições de fazer o mesmo, pois dependia de exportações de matéria-prima e alimentos para a Europa. Todavia, por pressões internas, no ano de 1944, a Argentina rompe suas relações diplomáticas com os países do Eixo, fazendo uma aproximação com os Estados Unidos. Contudo, a influência do país do norte do continente nos vizinhos sul-americanos foi de intenso fomento da rivalidade entre ambos. Com a ascensão de Perón ao poder em 1946, novos desafios surgiam no horizonte de ambos os países. Nesse período, o Brasil se posicionava ao lado dos Estados Unidos sobre o reordenamento do novo sistema internacional, que tinha como pano de fundo a Guerra Fria. A postura do Brasil foi, claramente, na intenção de receber tratamento diferenciado dos Estados Unidos (principalmente nos aspectos financeiros para o desenvolvimento nacional), bem como na ideia de que haveria maior facilidade na inclusão do país nos mecanismos internacionais pós-1945. Já na Argentina, a ideia era se manter afastada da bipolaridade da Guerra Fria. Isso convergia com o fato de que a política interna de nosso vizinho estava voltada, no Governo Perón, para ideais nacionalistas e de justiça social, através da valorização das massas trabalhadoras. Contudo, não havia motivos de rusgas entre os vizinhos, pois a Argentina era um dos destinos da recente produçãoindustrial brasileira. Ademais, não era interessante para os Estados Unidos uma ruptura e isolamento da Argentina pelo receio de reflexos mais graves na região, principalmente por conta do clima oriundo da Guerra Fria. Mesmo com o passar dos anos, os ideais políticos ficavam cada vez mais distantes. O Brasil mantinha sua postura de alinhamento com o lado capitalista da Guerra Fria, enquanto a Argentina, com seu ideal de equidistância do conflito, tinha cada vez mais dificuldade em obter o acesso a fontes de financiamento internacional, sendo que, por dificuldades econômicas internas, as instituições ficavam cada vez mais fragilizadas. Somente no final dos anos 1950 a Argentina passou a integrar grande parte das instituições internacionais nascidas em Bretton Woods. O período coincidiu com o a ascensão de políticos – em ambos os países – que tinham a intenção de atrair investimentos internacionais para seus respectivos territórios. Juscelino Kubitscheck, no Brasil, defendia, perante os Estados Unidos, a necessidade de investimentos em áreas economicamente atrasadas do continente, enquanto Arturo Frondizi adotava postura semelhante no intento de melhorar seu complexo siderúrgico. 113 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Portanto, verifica-se que tanto Frondizi quanto JK compartilhavam estratégias de desenvolvimento nacional e buscavam, por meio de suas políticas externas, atrair investimentos essenciais à modernização produtiva da Argentina e do Brasil (CONSIDERA, 2016b, p. 113). O pedido de JK aos Estados Unidos resultou no início da Operação Pan-Americana (OPA), que caracterizava essa entrada de capital internacional no continente. A aproximação entre os governos brasileiro e argentino foi fundamental para o projeto. Contudo, era consenso para diversas nações latinas que as intenções do Brasil em liderar essa iniciativa não eram claras. O modelo foi interpretado por diversos países como um ato de hegemonia brasileira no continente. Entretanto, o entendimento entre os maiores países do continente levou, no ano de 1959, à assinatura de uma série de acordos de cunho comercial, bem como a acordos sobre temas como cooperação jurídica e aduaneira, combate ao contrabando e uma inédita cooperação logística nos modais de transporte aéreo e fluvial. Nos anos seguintes, a aproximação foi mantida. No entanto, para a Argentina era necessário buscar abertura comercial no mercado brasileiro para seus produtos, de modo que o país não se tornasse, exclusivamente, um fornecedor de matéria-prima. Porém, a pressão estadunidense no início dos anos de 1960 por conta da revolução que acontecia em Cuba refletia nos grupos de oposição aos governos da América do Sul. Não foi diferente nos governos de Brasil e Argentina, suscitando a preocupação de alguns setores – principalmente os militares – quanto à defesa por parte dos governos latinos de uma não intervenção dos Estados Unidos em Cuba. Essa preocupação dos opositores residia, principalmente, no receio de se perder o apoio financeiro dos Estados Unidos. As relações entre Brasil e Argentina nos anos de 1960 até 1980 foram caracterizadas por momentos de aproximação, desconfianças, desencontros e reencontros. Tudo isso era oriundo do próprio contexto internacional do período, unido a diretrizes divergentes – e às vezes convergentes – no que tangia à inserção dos países no cenário internacional. Destaca-se o fato de que, em grande parte desse período, ambos estiveram sob regimes não democráticos, influenciados pela ideia de que era necessário combater as influências comunistas na região. Porém, embora convergissem nesse aspecto, as posturas foram distintas, principalmente em aspectos econômicos. No Brasil, foram adotadas políticas desenvolvimentistas, como vimos anteriormente neste livro-texto. Assim, a diplomacia passava a ser considerada “essencial na promoção das condições favoráveis à expansão do comércio e do investimento, por meio da busca de novos parceiros internacionais, sobretudo a partir do governo do General Costa e Silva” (CONSIDERA, 2016b, p. 118). Na Argentina, havia um quadro interno mais instável do que o brasileiro. Essa instabilidade devia-se ao peronismo, ainda influente em parte dos setores argentinos. Diante desse contexto, o 114 Unidade III governo militar argentino buscava sua legitimidade interna e sua afirmação no cenário internacional por meio da aproximação com os Estados Unidos, no intuito de ser o parceiro preferencial do país norte-americano. Assim, naturalmente a rivalidade entre Brasil e Argentina foi acirrada, gerando desconfianças mútuas, minando qualquer tipo de aproximação e integração entre os vizinhos. Nos anos de 1970, o Brasil consegue certo destaque no campo econômico e, novamente, se alinha com os Estados Unidos, trazendo como consequência o status de potência emergente ao país, levando, novamente, a Argentina ao isolamento, agravando a rivalidade bilateral. Com o breve retorno de Perón ao poder, a Argentina passa a adotar posturas internacionais para evitar o isolamento. Assim foram feitas tentativas de aproximação com países afro-asiáticos, bem como a retomada da cordialidade com o Brasil. Porém, com o falecimento de Perón e a ascensão de Videla ao poder, a Argentina retoma um ciclo de governos militares. Todavia, dessa vez, um ciclo muito mais autoritário e violento do que os anteriores. Esse regime é acusado de assassinato e sequestro de bebês de presos políticos. Inclusive grande parte dos militares envolvidos foram julgados e condenados, pois foi provado que, de fato, aconteceram tais práticas. Saiba mais Sobre o tema, assista ao filme: 500: os bebês roubados pela ditadura argentina. Direção: Alexandre Valenti. Argentina: Intuition Films & Docs, 2013. 105 min. Dessa forma, a reinserção internacional do país passaria pela reaproximação com os Estados Unidos. O intuito era a busca de crédito para que a Argentina superasse sua crise financeira. Porém, o país bateu na porta que estava fechada: o governo estadunidense posicionava-se contra o modelo de repressão violenta que os regimes militares latino-americanos praticavam. Ironicamente, a Argentina passou a reforçar sua cooperação juntamente com a União Soviética, um dos seus principais compradores de trigo. Contudo, vale relembrar que Brasil e Argentina mantinham relacionamento bilateral no campo comercial. Então, como ficaria essa relação diante desse novo momento vivido por ambos? Primeiramente, os pontos de convergência sobre o “combate ao comunismo” sempre serviram de apoio para o diálogo entre ambos. Esse entendimento fica evidente no apoio dos dois maiores países da América do Sul a outros regimes militares que se instalavam na região. 115 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Isso não significaria o final das desavenças, mas conveniência em questões ideológicas. Há, inclusive, momentos em que o Brasil se afasta dos entendimentos com os Estados Unidos, e a Argentina ocupa esse lugar. Os projetos de utilização da Bacia do Prata e construção de Itaipu também foram objetos de desavenças entre os vizinhos. Diante dessa nova realidade, ficou nítido para o governo militar argentino que a origem dos problemas era econômica e que o país tinha enorme dificuldade no seu comércio exterior, baseado, majoritariamente, em commodities. A saída mais viável, então, era a cooperação com os países da região, inclusive com seu grande rival, o Brasil. A construção de Itaipu, encabeçada pelo Brasil, foi uma “derrota” para o governo argentino, mas tal sentimento deveria ser superado para a retomada do crescimento econômico. Ademais, a Argentina entrou em uma disputa com o Chile pela soberania do Canal de Beagle, em 1975, elevando o risco de isolamento do país. A questão da soberania e a disputa entre Argentina e Chile sobre o canal já eram antigas. Segundo Souza (2008), os limites entre a Argentina e o Chile foram estabelecidos no século XIX, processo em que foi levadaem conta a linha natural que é formada pela Cordilheira dos Andes, a qual se estende por aproximadamente 5 mil quilômetros. Entre 1822 e 1833, os chilenos estabeleceram como seu limite sul o Cabo Horn, o ponto mais antártico das Américas. Desde 1840 o país começou a utilizar a zona do Estreito de Magalhães, um canal que liga os Oceanos Atlântico e Pacífico, local que foi fundamental para a navegação internacional. Em 1856 foram instalados assentamentos militares chilenos em Punta Arenas, cidade próxima ao Estreito de Magalhães, ocasionando um mal-estar nas relações com a Argentina, que afirmava serem suas estas possessões. Nesse mesmo ano, ambos os países firmaram um Tratado de Paz, Amizade, Comércio e Navegação, onde se aplicava o princípio de que a cada Estado corresponderiam os territórios efetivamente ocupados por eles em 1810. Em caso de conflito, eles seriam resolvidos pela via diplomática ou arbitral. Em março de 1960, os países concordaram que a Ilha Lennox seria de soberania do Chile e que se submeteria a decisão inapelável da Corte de Haia a questão sobre a soberania das Ilhas Picton e Nueva. Porém, esse acordo não foi ratificado por nenhum dos dois países. No ano 1970, a fim de resolver a questão pacificamente, nomeou-se como árbitra a Rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha, que em 1977 considerou como chilena a posse das três ilhas em litígio, pois elas eram vistas como uma unidade. Restou à Argentina a posse da Ilha Becasses e a livre navegação para o acesso ao Ushuaia. 116 Unidade III Figura 32 – Sobrevoando o canal de Beagle Disponível em: https://bit.ly/3qYCfwi. Acesso em: 22 nov. 2021. Porém, para os argentinos, através da projeção territorial, a posse por parte chilena destas ilhas atrapalharia suas futuras reivindicações e seus direitos na divisão da Antártida. Assim, a decisão favorecendo a República do Chile não foi bem recebida pelos argentinos, que declararam no início do ano seguinte inválido o laudo arbitral e se mostraram dispostos a tomar posse das ilhas pelo uso da força. Desse modo, exatamente no período militar de Videla, a Argentina ressuscitou um confronto secular em uma quase incursão militar com seu vizinho no intuito de obter projeção internacional. Esse apetite militar argentino se concretizou em 1982 no confronto entre Argentina e Inglaterra pela soberania das Ilhas Malvinas, no conflito chamado Guerra das Malvinas. Uma guerra rápida e sangrenta, que levou muitos jovens argentinos à morte. Segundo Considera (2016a), a guerra representou outro ponto de convergência entre o Brasil e a Argentina. O Brasil defendeu a resolução pacífica do conflito. Isso, na prática, era favorável à Argentina, devido ao poderio militar inglês. O Brasil chegou ao ponto de proibir o uso do seu território, tanto para pouso de aeronaves inglesas como para deslocamento de tropas. A Argentina, em meio a um regime militar desgastado que queria o conflito, via sinais de que a aproximação com o Brasil estava por vir. 117 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Saiba mais Para saber mais sobre a Guerra das Malvinas, ler: COGGIOLA, O. A outra guerra do fim do mundo. A batalha pelas Malvinas e a América do Sul. Cotia: Ateliê Editorial, 2014. PHILLIPS, R. Foi por pouco: breve história da Guerra das Malvinas. Nova Jersey: Babelcube Inc., 2014. VALÉRIO, M. A. G. Ilhas Malvinas: guerra no fim do mundo. A disputa entre Argentina e Reino Unido à luz do direito, da história e da política internacional. Curitiba: Juruá Editora, 2017. Contudo, talvez um dos maiores golpes sofridos pela Argentina se deu no campo político: o apoio dos Estados Unidos à Inglaterra nesse confronto desfez a ilusão da cooperação norte-sul. E isso não somente para a Argentina, mas para grande parte dos países do Cone Sul. Figura 33 – Presidenta Cristina Kirchner discursando no Ato pelos 30 anos da Guerra das Malvinas (2012) Disponível em: https://bit.ly/3HNBc8o. Acesso em: 22 nov. 2021. Não obstante, o desgaste social e econômico de todos os países latinos que viveram anos de repressão e violência em suas ditaduras econômicas deslegitimava cada vez mais seus respectivos governos. Desta forma, a sobrevivência econômica de Brasil e Argentina passava, necessariamente, pela consolidação de mercados para seus produtos. Repare, caro aluno, depois de tanta briga e rivalidade, é no campo da diplomacia econômica que ocorre a aproximação entre ambos. 118 Unidade III Assim, uma série de acordos entre os países são assinados, como o acordo sobre Itaipu, o tratado que dá origem à Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), substituindo a antiga ALALC, bem como a declaração de cooperação pacífica no âmbito da energia nuclear. Dessa forma, como mencionado anteriormente, “a trajetória das relações Brasil-Argentina entre as décadas de 1980 e 1990 se confunde com o histórico da integração regional” (CONSIDERA, 2016b, p. 124). Considera (2016a) afirma que a primeira razão para a concretização das iniciativas integracionistas foram as condições econômicas dos países, principalmente após as sucessivas crises do petróleo nos anos 1970. Com o aumento da taxa de juros por parte dos Estados Unidos, os países latinos foram obrigados a repensarem suas dinâmicas de inserção no mercado internacional. Brasil e Argentina reconheciam, naquele momento, convergências políticas e necessidades econômicas comuns que contribuíam para reforçar a hipótese de que, diante da crescente interdependência entre as decisões estatais de política externa, a cooperação tornara-se importante estratégia de desenvolvimento nacional (CONSIDERA, 2016a, p. 96). Logo, é possível afirmar que o regionalismo transformou a cooperação entre vizinhos na América do Sul em estratégia de desenvolvimento econômico – como vimos anteriormente neste livro-texto –, tendo a aproximação entre Brasil e Argentina como carro-chefe. Segundo Considera (2016b), em 1986, a convergência político-estratégica de ambos os países caminha, de fato, para o campo econômico. É estabelecido o Programa de Integração e Cooperação Econômica (Pice). Tal programa tinha como objetivo ampliar a cooperação entre os países através do intercâmbio comercial de maquinário industrial, relativo a bens de capital, além de outras medidas de expansão comercial. O Pice tem desdobramentos positivos no comércio e, a partir dele, foi estabelecido o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o Brasil e a Argentina, este sendo o embrião do Mercosul. Vamos agora dar um salto para o final da década de 1990, com o bloco já consolidado. Essa década foi marcada por incertezas e crises econômicas em razão da incógnita deixada pelo final do sistema bipolar de equilíbrio de poder. Diante desse contexto, no final da década de 1990, a Argentina sofreu uma grave crise financeira, que levou ao descontrole monetário e à incapacidade do país em honrar seus compromissos internacionais. A desvalorização do real feita pelo governo brasileiro no mesmo período para superar a crise teve impactos na economia do país vizinho. Ademais, as crises da Ásia, do México e da Rússia na mesma década reduziram a disposição de investidores em aplicar recursos em economias em desenvolvimento. A saída para a Argentina foi a aproximação com os Estados Unidos, o que gerou algumas críticas internas devido à lembrança do período de isolacionismo pelo qual o país passou durante os regimes militares. Contudo, isso não era incompatível com o que já era realidade de integração entre as nações da América do Sul. 119 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS A crise argentina foi tão séria que, no ano 2000, iniciou-se o governo de Fernando de la Rúa. Por conta da falta da governabilidade necessária para as reformas econômicas, o país chegou à beira da anarquia, o que teve como consequência a renúncia do então presidente. O Brasil, no período, manteve investimentos no país vizinho e, até mesmo, uma das maiores empresas brasileiras chegoua comprar a mais famosa cervejaria argentina. Contudo, saíam da Argentina empresários europeus e norte-americanos do setor agrícola, e o FMI impunha uma série de ajustes monetários e fiscais como condição sine qua non para a concessão de ajuda financeira ao país. A importância da diplomacia econômica ficou evidente no fato de que o apoio brasileiro à Argentina no período refletiu na eleição presidencial de 2003, levando ao poder Néstor Kirchner, o qual tinha um discurso de que a redução das assimetrias na América do Sul passava pela complementação produtiva resultante da aproximação com o Brasil e os demais países vizinhos. Vale ressaltar também que, antes do segundo turno das eleições, Kirchner buscou o apoio de seus vizinhos através de visitas do recém-eleito presidente do Brasil, Lula da Silva, e Ricardo Lagos, do Chile, ambos defensores da aproximação dos países do Cone Sul. Com a eleição de Kirchner em 2003, a Argentina buscou recompor suas finanças, bem como reestabelecer a confiança dos credores internacionais em relação ao país. De fato houve resultados significativos, sendo que o crescimento argentino girou na casa de 8,7% por ano. Ademais, foram adotadas políticas de controle da inflação e distribuição de renda. Consequentemente, houve queda nos índices de inflação, bem como aumento real na renda das famílias. Entretanto, foi fundamental o apoio de investidores internacionais para o êxito dessa política de Kirchner. Em relação ao Brasil, a política da Argentina do período foi direcionada para o aprimoramento dos já existentes mecanismos de integração, visto que ainda havia a antiga preocupação de a Argentina ser o país exportador de commodities e o Brasil o fornecedor de produtos industrializados. No fundo, a preocupação de Kirchner coincidia com os princípios de equidade que já existiam na normativa do Mercosul. Não obstante, o bom relacionamento entre os presidentes dos dois países foi determinante para a promoção do desenvolvimento produtivo com justiça social. Ambos tinham como diretriz a ideia de que o Mercosul era uma opção de fortalecimento da inserção dos países do bloco no mundo. É possível afirmar, portanto, que o governo de Néstor Kirchner buscou estabelecer com o Brasil relacionamento de caráter estratégico, no qual a antiga rivalidade cedeu lugar à parceria política baseada em valores e objetivos comuns, tais como a busca pela redução da assimetria no comércio bilateral e a realização de projetos comuns de desenvolvimento da integração física do continente (CONSIDERA, 2016b, p. 129). Com a sucessão de Néstor Kirchner por Cristina Kirchner no poder, nada mudou em linhas gerais sobre a política adotada com o Brasil. Inclusive houve avanços sobre a implantação de um sistema de pagamento de transações de comércio exterior com moeda local, reduzindo, assim, os custos da compra e venda de dólares. 120 Unidade III Quando Dilma Rousseff assumiu a presidência em 2011, tendo como par na Argentina Cristina Kirchner, novos aspectos foram aprofundados. Os acordos sobre o recém-concebido pagamento em moeda local fizeram com que houvesse avanços na cooperação entre o BNDES e o Banco de la Nacíon Argentina. Assim, fica evidente que a superação de antigas rivalidades foi determinante para que a aproximação acontecesse e, mais do que uma simples aproximação, o aprofundamento do relacionamento bilateral é essencial para os respectivos projetos nacionais de desenvolvimento de ambos os países. Saiba mais Para saber mais sobre como exportar, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), juntamente à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), através do Guia de Comércio Exterior e Investimento (Invest & Export Brasil) fornece uma cartilha com informações sobre países específicos ou mercados integrados de interesse do exportador brasileiro. São dados sobre perfil sociopolítico, comércio exterior, economia e finanças, canais de distribuição, legislação, acesso a mercado, bem como recomendações a empresas brasileiras. Para a Argentina, ver: BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Inteligência Comercial. Como exportar: Argentina. Ministério das Relações Exteriores. Brasília: MRE, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3lqdk1f. Acesso em: 1º dez. 2021. 7.2 O Brasil e as relações econômicas com os Estados Unidos Figura 34 – Bandeira dos Estados Unidos da América Fonte: IBGE (2021). 121 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Os Estados Unidos, historicamente, sempre foram como o “irmão mais velho” do Brasil. E isso quer dizer: momentos de conflitos e momentos de aproximação. Ademais, a história do desenvolvimento daquela nação se confunde com a história do desenvolvimento ocidental, dado seu crescimento e influência política e econômica no lado poente do globo. Segundo Considera (2016b), a história do continente americano, principalmente após o final do século XIX e início do século XX, é completamente influenciada pelos rumos da política adotada por Washington. Contudo, seria exagero afirmar que os fatos políticos que aconteceram em outros países americanos são subproduto do que foi decidido pela potência do norte. Tal visão foi muito comum em diversos autores. Eles explicavam os problemas estruturais da parte sul do continente, principalmente, a partir da ótica de que o “imperialismo do norte” foi a causa das rupturas democráticas, dos problemas sociais e do subdesenvolvimento econômico da região. Tal ótica fica conhecida como “complexo de periferia”. Ela serve tanto para teorias que justificam o alinhamento com as diretrizes de Washington como para teorias que justificam a necessidade de mecanismos de integração regional no intuito de fortalecer a parte sul do continente para que seja possível fazer frente às decisões estadunidenses. Nem tão a um lado, nem tão ao outro. Houve influência dos norte-americanos, mas as decisões da elite política dos países do sul são responsáveis pelas consequências que foram vividas. Inclusive, verificamos no atual governo uma aproximação mais intensa com Washington, porém muito mais um alinhamento unilateral de nosso governo do que interação recíproca. Entretanto, tal aproximação pode comprometer ganhos em outros setores, como, por exemplo, comércio e cooperação técnico-científica e educacional, uma vez que a aproximação com os Estados Unidos é, ao mesmo tempo, um distanciamento de outros potenciais parceiros por conta do histórico do país da América do Norte. Contudo, é consenso entre os especialistas que a relação do Brasil com os Estados Unidos foi – e ainda é – escrita com momentos de aproximação e separação, convergência e divergência. Do início da República até meados de 1940 houve um período de aproximação conhecido como aliança não escrita. O nosso patrono da diplomacia, Barão do Rio Branco, foi responsável por essa aproximação no intuito de termos o respaldo estadunidense nas disputas com a Argentina na Bacia do Prata, bem como nas possíveis ações neocoloniais de potências europeias. Tal postura foi mantida por um longo tempo e utilizada nos dois governos de Getúlio Vargas, bem como por Juscelino Kubitschek. Tal aproximação tinha por completo interesse questões econômicas. Ao mesmo tempo que havia o alinhamento com Washington, o foco nos resultados financeiros era benéfico para o país no desenvolvimento autônomo. Ou seja, o alinhamento político trazia resultados econômicos: diplomacia econômica. Contudo, o Governo Vargas (1930-1945) buscou diversificar os parceiros comerciais e econômicos do país, mas sem deixar a aproximação com os Estados Unidos de lado. Um grande exemplo disso foram 122 Unidade III as relações comerciais mantidas com a Alemanha no período pré-guerra, que somente foram cortadas com o advento do confronto bélico global. Observação Em uma negociação com o governo alemão, Vargas se utilizou da música como elemento de política externa, ao autorizar, no ano de 1936, a criação de umprograma de rádio destinado ao público alemão no intuito de difundir a música brasileira. Esse é um exemplo da polivalência da política externa do governo do período. Aliás, a neutralidade na guerra foi adotada entre os países da América do Sul por conta, justamente, da dependência nas exportações para países do Eixo, como era o caso de Argentina e Chile, por exemplo. Como vimos anteriormente, a Operação Pan-Americana (OPA) do Governo JK corroborou para o alinhamento com os Estados Unidos. Novamente a diplomacia econômica se fez presente: o combate ao subdesenvolvimento do continente era a melhor arma de combate ao comunismo. Ou seja, uma justificativa político-ideológica foi o elemento de busca de recursos financeiros junto ao país do norte. Um momento no qual há distanciamento da política externa estadunidense é o período que antecede os regimes militares e o chamado Milagre Econômico, período conhecido como Política Externa Independente (PEI). Nesse momento, “as relações Brasil-EUA foram impactadas pela elevação do perfil internacional do Brasil e pela necessidade de o país diversificar parceiros, não apenas comerciais, mas também em áreas de cooperação estratégica” (CONSIDERA, 2016b, p. 140). Depois do Governo Geisel (1974-1979), até o Governo Sarney (1985-1990), o Brasil assumiu de vez uma posição universalista em sua política externa. Contudo, devido a essa posição e ao aperto por parte do Governo Reagan em questões internacionais, principalmente após os dois choques do petróleo na década de 1970, tal posicionamento brasileiro sofreu grandes impactos. Como vimos anteriormente, o aumento dos juros dos Estados Unidos impactou diretamente as economias latinas, contribuindo definitivamente para a crise das dívidas externas dos países. Em termos de diplomacia econômica, o Brasil entrou em atrito com os Estados Unidos sobre questões relacionadas ao protecionismo no setor de informática e ao desrespeito a patentes de empresas. Segundo Arslanian (1994), foi adotada pelos Estados Unidos a seção 301 da legislação comercial norte-americana. Isso significa que foram adotadas medidas comerciais coercitivas (retaliações) como um instrumento de pressão – unilateral – para forçar a abertura de mercados aos investimentos e exportações do país. Essa seção foi instituída em 1974, conferindo poder ao Executivo estadunidense para adotar medidas contra políticas que fossem consideradas prejudiciais aos interesses do país. Essas medidas iam contra aquilo que foi decidido no âmbito do GATT, porém, como vimos anteriormente, a 123 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS preponderância do país da América do Norte frente à nova realidade comercial fez com que brechas como essa fossem adotadas. Contudo, segundo Considera (2016b), a partir da década de 1990, com o final da Guerra Fria e adoção da cartilha de Washington por parte dos governos latinos, as relações bilaterais se tornaram mais flexíveis. Em se falando de Brasil, isso ocorre especialmente durante o Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). Entretanto, nem todos os resultados esperados do alinhamento com Washington aconteceram. Por exemplo, o Brasil aderiu às negociações sobre patentes e serviços, porém não viu avanço significativo em negociações sobre agricultura. Já no final do mandato, o Governo FHC focou na globalização assimétrica, se aproximando de outros parceiros econômicos, como China e Rússia. Tudo isso estava no contexto da crise do neoliberalismo fomentado pelo Consenso de Washington. Após os atentados de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas, o foco total da política externa estadunidense se dirigiu à “caça ao terror”. Isso gerou uma espécie de espera sobre questões comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos. Durante o Governo Lula (2003-2010) houve certo pragmatismo em relação à política externa brasileira com os Estados Unidos, principalmente por conta da posição brasileira frente às intervenções estadunidenses no Iraque. Dessa forma, a diplomacia econômica foi fundamental para as pretensões do país. Primeiro, o Brasil adotou uma postura de negociação nos fóruns multilaterais através de coalizões sul-sul no intuito de aumentar o poder de barganha dos países em desenvolvimento. Posteriormente, o Estado brasileiro fomentou a internacionalização de empresas no intuito de diminuir a vulnerabilidade do país. Novamente o Brasil adotou uma posição de incentivo à integração regional como forma de aumentar a possibilidade de inserção não só do Brasil, mas dos demais vizinhos do continente no cenário internacional. Curiosamente, a “busca brasileira por novos parceiros não prejudicou as relações do Brasil com os EUA” (CONSIDERA, 2016b, p. 142). Isso não quer dizer que não houve divergências com o país do norte, mas sim que foram pontuais e resolvidas – ou não – a ponto de não prejudicar o relacionamento entre ambos. Talvez se possa até afirmar que tal condição refletia uma certa maturidade atingida na relação entre os países, pois o que ocorreu foi o fato de que visões que eram compartilhadas em determinados temas não significaram, necessariamente, alinhamento automático em outros temas da agenda internacional. Ainda durante o Governo Lula, as relações entre o Brasil e os Estados Unidos foram conduzidas por entre convergências e divergências, principalmente com temas comerciais e econômicos. Desta forma, esse foi um dos períodos em que mais se fez evidente a realidade da diplomacia econômica no contexto global. 124 Unidade III Um exemplo dessa condição se deu nas negociações da Rodada de Doha, sendo o Brasil protagonista nas negociações sobre protecionismo e subsídios agrícolas praticados pelos Estados Unidos. Já no âmbito financeiro, o Brasil e os Estados Unidos tiveram a mesma posição na substituição do G-7 por um grupo mais amplo, o G-20. Figura 35 – Emoção do presidente Obama ao receber do presidente Lula a camiseta da seleção brasileira com o número do grande jogador Vampeta, 2009 Disponível em: https://bit.ly/3FF5NmY. Acesso em: 22 nov. 2021. No Governo Dilma foi mantida uma postura que condizia com a realidade socioeconômica do país. Logo, diante dos Estados Unidos, o Brasil demandava reformas nas instituições que contribuem para a governança global e ainda negociava redução de tarifas agrícolas e acesso às tecnologias. Não obstante, a contrapartida brasileira foi a oportunidade de investimentos diretos com os grandes eventos globais da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, bem como no pré-sal e nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A visita do então presidente Barack Obama em 2011 ao Brasil rendeu frutos na cooperação econômica e energética, chegando ao ponto de o etanol ser discutido como uma possível commodity. Diversos foram os acordos entre os dois países no campo comercial, desde parcerias de bolsas de estudos para brasileiros no programa Ciência sem Fronteiras até o reconhecimento mútuo da cachaça e do uísque Tennessee e Bourbon como produtos originários de cada país. Ademais, os Estados Unidos autorizaram a importação de carne suína brasileira de alguns exportadores brasileiros. As relações vão ficar balançadas em 2013 com as acusações de espionagem por parte dos Estados Unidos através da Agência de Segurança Nacional (NSA), no famoso caso de Edward Snowden. Tal 125 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS assunto é extremamente sensível e tem desdobramentos seríssimos, pois fere a Constituição Brasileira (Carta Magna) de 1988, bem como a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1964). Depois do processo de impeachment da presidenta Dilma em 2016 e da ascensão de Michel Temer ao poder, bem como da eleição do presidente Jair Bolsonaro, houve uma aproximação do país com os Estados Unidos, onde Donald Trump estava no poder. Com a eleição de Joe Biden, ficou nítido que muito do que foi construído entre Bolsonaro e Trump era uma aproximação dos chefes de Estado, e não necessariamentedos governos como um todo. Segundo o Ministério das Relações Exteriores (BRASIL, 2016), a crise econômica de 2008 deixou marcas profundas no consumo estadunidense. O consumidor, no geral, se tornou mais comedido e exigente quanto àquilo que consome. As mídias sociais ganharam espaço como campo de busca sobre aquilo que as empresas oferecem. Inevitavelmente, mudanças no hábito de consumo tendem a impactar nas relações comerciais do país. Atualmente, a ligação do produto com causas sociais tende a ser fator determinante no consumo. Esse é o caso para 90% dos millennials no país da América do Norte. Os Estados Unidos estão entre os maiores produtores agropecuários e de grãos do mundo. Isso se deve à boa qualidade do solo. Tal condição reflete diretamente na participação estadunidense no comércio internacional. Já a indústria madeireira tem aproximadamente 8.500 empresas, com uma receita anual em torno de 8 bilhões de dólares. O país possui, também, uma grande produção mineral. Contudo, ainda é insuficiente para atender a demanda do país. A importação é necessária, e os principais países que fornecem os minerais são México, Canadá, Brasil, China, Rússia e Ucrânia. A produção do país é diversificada e ampla, tendo como destaque o segmento de computadores, softwares, eletrônicos, transportes, maquinário industrial e produtos diversos derivados de petróleo. Contudo, em termos de produção, depois da crise de 2008, muitas empresas deslocaram suas unidades de produção de países mais distantes, como a China e a Índia, para o território nacional ou até mesmo para países vizinhos. Isso se deveu ao aumento no preço da mão de obra nos países onde as empresas tinham a produção. No campo energético, os Estados Unidos figuram como o maior importador, consumidor e produtor líquido de energia. Já o setor de serviços corresponde a aproximadamente 78% do PIB do país. Os principais setores de serviços são bancos, seguros e imóveis. No ano de 2015, os Estados Unidos figuravam como o segundo maior parceiro comercial brasileiro, posição ocupada hoje por China, Macau e Hong Kong, como vimos anteriormente. Observação A coleta de dados em cada região é heterogênea: não só há regiões com estudos mais atuais como há regiões com mais dados acumulados. 126 Unidade III Contudo, os Estados Unidos ainda são um dos principais destinos de manufaturados e semimanufaturados. Em 2015, o Brasil foi o 12° principal parceiro comercial do país norte-americano. Vale ressaltar que, do ano de 2004 até 2014, as exportações dos Estados Unidos cresceram cerca de 15,1% para o Brasil. Esse número é equivalente à taxa de crescimento das exportações do país para a China no mesmo período. Os Estados Unidos, devido à relação histórica que estudamos antes, são o país com maior estoque de investimentos no Brasil: 1/5 dos investimentos do país norte-americano estão no país sul-americano. Já os Estados Unidos são o terceiro país em fluxo de investimentos brasileiros, ficando atrás das Ilhas Cayman (paraíso fiscal) e Portugal. Em 2015, havia 27 empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Já no lado oposto, no mesmo ano, estima-se que havia cerca de 2.900 empresas de capital estadunidense instaladas no Brasil. Diante desse panorama é possível perceber a importância das relações que envolvem a diplomacia econômica de ambos os países. 7.3 O Brasil e as relações econômicas com a União Europeia Figura 36 – Bandeira da União Europeia Disponível em: https://bit.ly/3FFgOVa. Acesso em: 22 nov. 2021. Também fruto da nova ordem econômica que nasce junto ao fim da Guerra Fria, a União Europeia – embora o embrião dessa integração date desde meados da década de 1940 – é um potencial parceiro e, simultaneamente, concorrente brasileiro. Segundo Considera (2016b), desde a criação do Mercado Comum Europeu em 1957 o Brasil já se preocupava com o rumo que o comércio internacional tomaria por conta dos compromissos de preferências comerciais que foram firmados entre os países europeus e suas respectivas colônias. Nesta 127 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS lógica, o Brasil poderia perder grande parte do mercado de café e cacau no comércio internacional. Esse receio é o que dita as relações entre o Brasil e a União Europeia até os dias de hoje, embora isso não impossibilite acordos. Tal realidade gerou grande dúvida no Brasil, principalmente por conta de já haver ligações comerciais bilaterais com países do Velho Continente. Contudo, no Governo Geisel (1974-1979), a Europa foi uma válvula de escape de tensões com os Estados Unidos, resultando em diversas relações bilaterais com países europeus, como Alemanha Ocidental, França e Grã-Bretanha. Em meados de 1980 o Brasil fez um acordo de cooperação com a ainda Comunidade Econômica Europeia (CEE), o que possibilitou mecanismos de apoio técnico e financeiro ao país. A dinâmica dessas negociações foi regular, principalmente depois do processo de redemocratização no país. Contudo, até o início da década de 1990, antes da criação do Mercosul, não houve significativos avanços. Vale relembrar que, até os dias de hoje, o setor agrícola, por conta dos subsídios e da proteção do mercado local por parte das autoridades europeias, ainda é o ponto fraco da incipiente relação comercial. Porém, após o Mercosul, o bloco regional da América figurou como um potencial parceiro comercial e um excelente destino para investimentos europeus. Em 1992 foi celebrado o Tratado de Maastricht, dando origem à configuração moderna do que conhecemos hoje como União Europeia. Em 1995 foram estabelecidos acordos entre Mercosul e União Europeia. Não obstante, houve também a celebração do Acordo-Quadro de Cooperação entre a Comunidade Europeia e o Brasil, em 1992. O intuito desse acordo era fomentar o comércio, o investimento, as finanças e a tecnologia entre o país e o bloco. O acordo ainda serviu como instrumento de consolidação da democracia brasileira (recém-saída de um período autoritário), uma vez que a parceria com o bloco do Velho Continente estava condicionada por uma cláusula democrática. Depois da crise de desvalorização do real em 1999, somada à expansão da União Europeia para o leste do Velho Continente, bem como aos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, houve uma clara mudança na configuração internacional, refletindo nos negócios Brasil-UE. Isso acabou por esfriar um pouco as relações entre União Europeia e Mercosul, somente retomada no Governo Dilma. No mesmo período, o Brasil figurava como uma das 10 maiores economias do mundo, abrindo muito mais possibilidades de parcerias. Tais parcerias são oriundas da visão brasileira, fomentada desde o início do século XX, de que é possível buscar insumos para o desenvolvimento nacional com parcerias estrangeiras. Ainda no Governo Dilma, em 2013, houve a VI Cúpula Brasil-UE, que alicerçou as bases para a expansão de investimentos brasileiros no bloco europeu. Porém, nem tudo vai às mil maravilhas Os acordos são feitos em diversas áreas, desde educação até tecnologia. Mas é no âmbito comercial que residem as maiores dissonâncias entre o país e o bloco. 128 Unidade III Ainda existe grande resistência por parte de países europeus, encabeçados pela França, aos acordos com os sul-americanos. O acordo Mercosul-UE está sendo negociado há 20 anos e ainda não se concretizou. A União Europeia espera que haja afrouxamento em temas como compras governamentais, propriedade intelectual, serviços, investimentos e disposições sobre o desenvolvimento sustentável. Por parte dos países da América do Sul, encabeçados pelo Brasil, espera-se que haja maior compreensão em relação ao mercado agrícola. Entretanto, “a parceria estratégica Brasil-UE é o reconhecimento do novo perfil brasileiro no sistema internacional e regional. A UE sabe que não pode desprezar global players emergentes, entre eles o Brasil” (CONSIDERA, 2016b, p. 137). Segundo o Ministério das Relações Exteriores(BRASIL, 2012), a União Europeia é um bloco que hoje integra 27 países, sendo que seus pilares do processo de integração datam desde a década de 1950. A necessidade dos países em relação a matérias-primas, por conta do alto grau de industrialização deles, é um dos pontos de partida dessa integração. O Brasil figura como um dos maiores fornecedores de bens agrícolas para o bloco europeu. Vale ressaltar que a qualidade de vida dos países que compõem o bloco é, em sua maioria, bem elevada. Contudo, não é homogênea dada a diversidade de países. A taxa mais elevada figura em Luxemburgo, enquanto a mais baixa na Bulgária. O crescimento do PIB dos países do bloco acontece de forma mais acentuada nos países que aderiram ao bloco em 2004. Por conta da sua história única, as características da organização são bastantes específicas. Isso não altera o fato de que seus membros são Estados soberanos, mas a decisão de renunciarem a alguma parte dessa soberania que lhes é característica em prol de um caminho comum com seus vizinhos é que se destaca na organização. Portanto, o bloco tem Poder Legislativo, Executivo e Judiciário independentes. Essa distribuição de poder foi revista com o Tratado de Lisboa, em 2009, modernizando a organização de acordo com as demandas que os tempos atuais trazem consigo. Assim, o bloco tem como destaque o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu e o Conselho da União Europeia. Saiba mais Para saber mais sobre a União Europeia, veja o site oficial: Disponível em: https://cutt.ly/UYrIH92. Acesso em: 1º dez. 2021. A União Europeia é membro de diversas organizações de projeção global. No campo do comércio, vale destacar que o bloco faz parte da OMC e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Porém, merece atenção o fato de que o bloco em si não é um membro muito ativo, em comparação com os seus Estados-membros que também figuram como membros das outras organizações. 129 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS No FMI, a União Europeia ocupa a posição de membro observador. Já no âmbito do livre-comércio, o bloco regional tem diversos acordos bilaterais com países como México e Chile, além do Brasil. Após a crise de 2008 nos Estados Unidos, houve reflexos na União Europeia, sendo o efeito mais significativo a crise da zona do euro. A recessão no ano de 2009 contou com uma retração de 4,2%. Porém, com a adoção de medidas por parte de autoridades econômicas do bloco, junto com medidas dos governos nacionais, a partir de 2013 o bloco foi se recuperando da crise. O bloco do Velho Continente é um grande importador de frutas, carnes e café brasileiro. Possui diversas políticas sobre questões ambientais e energéticas. Contudo, é um dos maiores importadores de energia elétrica, pois tem capacidade inferior de produção energética em relação ao que consome. O setor industrial é um dos mais importantes. O país que mais contribui para o índice de industrialização do bloco é a Alemanha, seguido por França e Itália. O Reino Unido, quando era parte do bloco, também figurava nessa lista. Esse setor representa cerca de 80% das exportações comunitárias. O destaque fica para a indústria automobilística, que coloca a União Europeia como o maior produtor de veículos a motor do mundo. Ademais, esse setor emprega uma ampla gama de profissionais qualificados e é impulsionado por tecnologia e inovação. Outro setor que merece destaque no bloco é o agroalimentar. São mais de 300 mil empresas – entre alimentos e bebidas – que representam o dinamismo do bloco. O bloco possui um setor químico que também merece destaque. Talvez pela grande contribuição na história do mundo, a Europa tem um aquecido setor de turismo, que só arrefeceu recentemente por conta da pandemia global que vivemos. É tão interessante esse setor para o bloco que é explorado tanto no âmbito público como no âmbito privado. É esse setor que emprega a maior quantidade de jovens no continente. Mesmo depois da crise do euro, essa moeda ainda é muito forte. Em circulação desde 2002, ainda é referência quando se trata de finanças globais. Quando falamos em comércio global, o bloco é responsável por grande fluxo comercial, tanto intrabloco quanto extrabloco. Não obstante, é grande importador de produtos básicos e bens intermediários, como combustíveis e lubrificantes, máquinas e aparelhos mecânicos, bem como autopeças, por exemplo. No que tange às exportações do bloco, percebe-se que a União Europeia é grande exportadora de itens manufaturados de alto grau tecnológico, como produtos farmacêuticos, por exemplo. O intercâmbio comercial com o Brasil é significativo. Como vimos no início desta unidade, a União Europeia está entre os cinco maiores fluxos comerciais dos primeiros quatro meses do ano de 2021 da balança comercial brasileira. Desde o início do século, o Brasil exportou para o bloco grande quantidade de minérios, café, farelo de soja, combustíveis e máquinas mecânicas. Já os principais produtos que importamos do bloco foram, majoritariamente, produtos manufaturados. 130 Unidade III O Brexit – nome dado ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia – foi um duro golpe na estrutura do bloco. Contudo, isso abriu caminho para que o Reino Unido buscasse espaço com outros países para suprir as relações comerciais que foram impactadas com a saída do bloco. Saiba mais A literatura sobre o Brexit é nova, mas é extensa. Para melhor compreender tal processo, ver: SCRUTON, R. Brexit: origens e desafios. Rio de Janeiro: Record, 2021. Figura 37 – Brexit, destinos diferentes Disponível em: https://bit.ly/3xcoYBu. Acesso em: 22 nov. 2021. O Brasil sabe do potencial comercial que o Brexit pode oferecer ao mundo e, inclusive, o Guia de Comércio Exterior e Investimento (Invest & Export Brasil) apresenta uma plataforma com informações sobre todas as mudanças decorrentes desse processo europeu. Essa plataforma tem seu foco no setor privado brasileiro, em especial os exportadores, com estudos e dados sobre os impactos dessa mudança, bem como informações sobre licenças, declarações e ferramentas para o processo comercial. Saiba mais Para consultar o guia, acesse: Disponível em: https://cutt.ly/sYrOjEx . Acesso em: 1º dez. 2021. 131 DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Atualmente, algumas questões ambientais foram pauta de discussão sobre investimentos da União Europeia em relação ao Brasil, demonstrando o intercâmbio de questões econômicas, políticas e ambientais, algo que é oriundo dessa nova dinâmica diplomática na qual a diplomacia econômica está inserida. 8 O BRASIL E OS MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: ÁSIA E ÁFRICA Embora haja grande destaque para os países europeus e norte-americanos, seria leviano não dar devida importância à Ásia e à África. Grandes economias contemporâneas como Rússia e China são de extrema relevância para as relações internacionais. Com menos destaque, porém não menos importantes, países africanos também ganham cada vez mais espaço na sociedade internacional. Portanto, estudaremos nesta unidade as relações econômicas do Brasil com a Rússia e o Leste Europeu, países asiáticos, africanos e o Oriente Médio. 8.1 O BRICS e sua importância para a diplomacia econômica Não é possível falar de diplomacia econômica nessa região do globo sem falar no BRICS. Antes de falarmos de Ásia e África, é importante fazer algumas considerações sobre esse bloco. Segundo Considera (2016a), o BRICS nada mais é do que o resultado da necessidade de prover os investidores globais de informações. Dessa forma, análises, perspectivas futuras projetadas através de indicadores da economia global, bem como grandes corporações e agências de risco, buscam alternativas para diversificar e otimizar os investimentos. Observação Uma agência de risco é uma empresa especializada em avaliar o risco de organizações públicas e privadas no que tange às garantias para a obtenção de crédito. Algumas também medem o risco
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