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Diplomacia Economica das RI - Unidade III

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Unidade III
Unidade III
Agora que já vimos a importância do contexto internacional e a ascensão do poderio econômico 
como elemento de diplomacia e política externa, estudaremos como o Brasil atua diplomaticamente 
com diversos países e regiões, bem como sua relação com questões econômicas.
Entretanto, antes de adentrarmos nas questões específicas com diversos países e regiões do mundo 
à luz da diplomacia econômica contemporânea, é necessário que estudemos as bases da diplomacia 
econômica brasileira. E, para tal, é impossível que não nos debrucemos sobre a nossa formação 
enquanto nação.
Vale lembrar que, embora a diplomacia econômica ganhe espaço no cenário global somente 
no século XX, os países já negociavam entre si antes desse período. Basta recordar as teorias de 
comércio internacional cunhadas por Adam Smith no século XVIII e por David Ricardo no século XIX. 
A contemporaneidade da proeminência econômica não significa, necessariamente, que as relações 
econômicas entre as nações não existissem em um passado anterior ao século XX.
Segundo Almeida (2017), o Brasil reverbera, atualmente, os mesmos problemas econômicos e políticos 
dos tempos coloniais. Um deles é a extrema desconfiança de tratados e acordos de abertura comercial.
Ao mesmo tempo, o Brasil é tomado por uma espécie de protecionismo instintivo e um nacionalismo 
bizarro. Consequentemente, os mecanismos de proteção figuram como elemento de fiscalização muito 
mais do que elemento industrializante.
Não obstante, ainda segundo Almeida (2017), talvez tais questões possam ser mais bem explicadas 
ao se analisar o próprio processo de constituição nacional desde o período da colônia, no que tange aos 
aspectos políticos, sociais e econômicos.
Em termos políticos e econômicos, é como se o Brasil sempre chegasse depois dos demais países. Um 
exemplo disso é a escravidão: o Brasil foi um dos últimos países a abolir tal prática, ficando atrás somente 
de algumas poucas nações. Sem embargo, a política para atrair imigrantes para nosso território sempre 
teve como pano de fundo a motivação de chegarem não imigrantes, mas sim “braços para a lavoura”.
Sendo assim, o que recebemos foi um número muito inferior do que poderíamos ter tido e acolhido 
se as condições fossem outras. A escravidão minou o Brasil de receber, por exemplo, empreendedores, 
peritos em diversos ofícios, bem como a possibilidade de desenvolvimento de novas técnicas e 
conhecimentos. O fato é que as elites desejavam, na figura do imigrante, um substituto para o escravo.
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DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Observação
Muitos escravos trazidos para o Brasil, no campo profissional, já 
trabalhavam como ferreiros ou eram especialistas em atividades como 
mineração, criação de gado e indústria pastoril. Contudo, o que afirmamos 
aqui é que a condição de escravo impossibilitou que o Brasil se utilizasse 
desse conhecimento para seu crescimento econômico.
Diferentemente de outras nações, como os Estados Unidos, por exemplo, tal mentalidade brasileira 
enraizou uma política na qual diversos tipos de restrições e proibições de acesso à propriedade de terras 
foram criados. Dessa forma, optou-se por recrutar pessoas para que fossem utilizadas como servos de 
grandes barões do café.
Ademais, a partir da abolição da escravatura, o negro escravizado até então ficou à margem da 
sociedade, pois a superioridade de quem escravizava transbordou para diferentes áreas da sociedade. 
Logo, o negro não foi visto como cidadão. Embora seja impossível mensurar as questões sociais que tal 
condição provocou, em termos econômicos, um enorme número de indivíduos ficou fora da atividade 
produtiva quando oficialmente – e teoricamente – os recém-libertos passaram a ser parte da nação.
Com o advento da República, a política migratória do país continuou aquém do que deveria. Os 
imigrantes que as elites esperavam que chegassem ao país eram somente os “braços para a lavoura” e, 
posteriormente, para as fábricas. Assim, as elites políticas e econômicas não queriam que desembarcassem 
em território nacional artistas, professores, jornalistas ou até mesmo comerciantes.
Contudo, não podemos negar o fato de que a máquina escravocrata tupiniquim acumulou riquezas. 
Com o fim do tráfico de escravos, poderíamos ter designado muitos recursos para a infraestrutura 
nacional, bem como para investimentos em atividades produtivas. Porém novamente com a sensação 
de que poderia ter sido, mas não foi – grande parte desses recursos foram empregados na compra de 
prédios urbanos e propriedades rurais. Bem como os lucros do tráfico negreiro: quando não utilizados 
para ampliar o negócio, foram gastos com joias, ouro e, principalmente, com grandes extensões de 
terras, transformadas em latifúndios que, em sua maioria, tornaram-se, em pouco tempo, improdutivos, 
dado o esgotamento do solo por conta da monocultura.
Exemplo de aplicação
Você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com diplomacia econômica. E aí é que está 
o “x” da questão: você investiria em uma instituição arcaica que visivelmente não tem nenhuma 
perspectiva de retorno?
Imagine tal condição para investimentos estrangeiros, que começam a dar as caras no final do 
século XIX e início do século XX, como vimos no início deste livro-texto. Ficam os questionamentos: como 
seria possível atrair investimento estrangeiro quando as elites que comandavam o país contavam suas 
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posses por alqueires de terra, bem como por número de escravos? Que empresa iria aportar num país no 
qual o consumo era restrito pela escravidão? Que credibilidade teria um país que comprava no exterior 
seus habitantes e cuja maior entrada na alfândega era de escravos? Como atrair novas tecnologias em 
uma nação que não se preocupava com o trabalho por conta de estar associado à escravidão?
Isto posto, é impossível dissociar questões sociais das questões econômicas. Tudo caminha junto. 
Nossa economia é reflexo de nossa história.
Figura 27 – Bandeira do Brasil Imperial (1822-1889)
Disponível em: https://bit.ly/3cFz2cG. Acesso em: 22 nov. 2021.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a formação social do Brasil, ver:
FREYRE, G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o 
regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2004.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São 
Paulo: Global, 2015.
O Brasil paga até hoje o preço de ter tido uma classe elitizada que se considerava aristocrata, copiando 
modos e trejeitos de nobres ingleses. Porém, ao mesmo tempo, essa classe praticava o espancamento 
de escravos e se utilizava da cadeirinha como meio de transporte. Uma classe que admirava D. Pedro II 
falando no aparelho recém-inventado por Graham Bell, porém que ainda utilizava – e não dispensava – 
o moleque de recados.
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Todavia, mesmo com todas as adversidades, ainda assim tivemos nomes proeminentes na diplomacia 
brasileira, como Joaquim Nabuco e o Barão do Rio Branco. Tais diplomatas exerceram seus cargos em 
condições paradoxais, pois ao mesmo tempo que representavam no exterior uma classe senhorial que 
se enxergava como aristocrata, ainda conseguiram grandes ganhos diplomáticos e colocaram o país no 
mapa. Em termos econômicos, as exportações cresceram, embora ainda o produto fosse considerado 
de sobremesa – primeiro açúcar, depois café. Sendo assim, podemos perceber o quanto a diplomacia 
econômica atual ainda carrega consigo questões de séculos passados.
Ainda, por conta exatamente dessas condições em nossa formação, a diplomacia econômica do 
século XIX é uma herança luso-britânica. Ademais, a experiência acumulada por diplomatas do período 
também serviu como elemento constituinte do perfil diplomático-econômico brasileiro.
Então, alguns setores nos quais o Brasil tinha potencial de expansão internacional tornaram-se 
tradicionais para tal prática,como o comércio, o tráfico de escravos e a própria dívida externa, enquanto 
outros foram pouco explorados, como, por exemplo, patentes de invenção, fornecimento de crédito aos 
países vizinhos e participação em organismos multilaterais. Tudo atrelado a um protecionismo estrutural.
Quando atualizamos tais características para os dias de hoje, percebemos características do período 
de colonização que convivem com a modernidade. Um exemplo disso é que o Brasil tem que resolver 
questões de informática e dengue ao mesmo tempo. Fala-se em 5G e ainda existem regiões sem energia 
elétrica; assim como no Brasil Império, que importava telégrafo e locomotivas a vapor e convivia com 
a escravidão.
Diante de tal panorama – não muito animador, mas necessário – que comentamos, vamos agora 
discutir sobre as características contemporâneas e as relações econômicas do Brasil com diversas 
partes do mundo.
7 O BRASIL E OS MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: AMÉRICA E EUROPA
Não é segredo que o Brasil sempre esteve próximo de países da América, seja ela Latina ou do Norte. 
Dessa forma, nossa primeira parada é no nosso continente. Contudo, antes é necessário falarmos das 
características da diplomacia econômica contemporânea de nosso país.
Segundo o Ministério da Economia (2021), no período de janeiro a abril de 2021, o Brasil teve um 
aumento nos números relacionados ao comércio internacional. Em comparação ao mesmo período do 
ano anterior, houve um crescimento tanto das exportações quanto das importações.
Em relação às exportações, os produtos que mais apresentaram crescimento na modalidade foram 
café não torrado, soja, algodão, minério de ferro e minério de cobre, óleos brutos de petróleo, açúcares 
e melaços, farelos de soja e outros alimentos para animais, farinhas de carne e produtos semiacabados, 
lingotes e formas primárias de ferro ou aço.
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Em contrapartida, as importações do mesmo período que apresentaram um crescimento foram 
milho não moído (exceto milho-doce), soja, látex, borracha natural e alguns de seus derivados, minérios 
de cobre e seus concentrados, gás natural, adubos e fertilizantes químicos, válvulas e tubos termiônicos 
e, finalmente, partes e acessórios dos veículos automotivos.
Por essa breve descrição que contempla somente os quatro primeiros meses do ano de 2021, podemos 
perceber algumas questões que ficam explícitas: o Brasil ainda é um país primário-exportador e, mesmo 
assim, ainda importa um número significativo de produtos primários.
Agora, pensando na diplomacia econômica, quem são os principais parceiros do período e quais os 
principais produtos? Bem, ao analisar a lista desse período, não há surpresas; tudo decorre da lógica da 
distribuição de poder econômico que estudamos inicialmente. Os países são: Argentina, China, Hong 
Kong, Macau, Estados Unidos e União Europeia.
 Observação
Hong Kong e Macau são regiões que, historicamente, estiveram 
sob a jurisdição britânica e portuguesa, respectivamente, e passaram, 
recentemente, para a jurisdição chinesa. Contudo, questões que envolvem 
a soberania das ilhas ainda são latentes. Porém o comércio internacional 
é contabilizado em estatísticas diferentes das da China, embora ambos os 
territórios estejam sob jurisdição da potência asiática.
Assim, vamos analisar – agora a partir de um viés histórico – as relações do Brasil com diversas 
regiões do mundo. Essa ressalva é importante pelo fato de que a coleta de dados em cada região é 
heterogênea: não só há regiões com estudos mais atuais como há regiões com mais dados acumulados.
Ademais, vale ressaltar que nosso foco recai sobre os acordos de cunho econômico e demais 
relações que contemplem essa esfera. Não vamos nos deter em abordagem histórica do surgimento 
e descrição de blocos e países que vierem a aparecer em nossa reflexão, somente quando for preciso 
contextualizar e/ou justificar algum posicionamento, decisão, acordo ou quaisquer outros aspectos que 
julgarmos necessário.
7.1 O Brasil e as relações econômicas com a América Latina
Mesmo com todos os problemas internos e características da formação do país desde os tempos 
de colônia, o Brasil, ainda assim, sempre foi potência regional. Entretanto, muitas vezes as relações 
com nossos vizinhos foram conflituosas. Assim, para compreender essas relações, se faz necessário, 
indubitavelmente, compreender o processo de integração da América Latina.
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Figura 28 – Mão, Oscar Niemeyer, 1988: sangue dos mártires latino-americanos
Disponível em: https://bit.ly/3FylV9E. Acesso em: 22 nov. 2021.
7.1.1 A América Latina e sua integração e inserção no mundo globalizado
Segundo Lessa et al. (2016), a inserção da América Latina no contexto internacional é marcada pela 
adversidade. Isso porque é uma região composta de Estados que possuem níveis de desenvolvimento 
econômico e social diferentes, bem como processos de colonização distintos.
A busca pela inserção internacional data desde meados do século XIX, quando diversos países tentavam 
se vincular aos espaços econômicos mais proeminentes. Não é segredo que, desde a independência 
dos Estados Unidos, no ano de 1776, aquele país se tornou, em pouco tempo, um dos mercados mais 
prósperos do mundo. Logo, esse processo evolutivo acabou sendo referência – muitas vezes através de 
influências e interferências – para outros países latino-americanos.
Ao mesmo tempo, a partir do século XX, alguns elementos de evolução política e econômica 
da América Latina tiveram características em comum. A década de 1930 foi o momento de maior 
aproximação entre os países, tendo em vista que havia uma grande competição entre os países que 
posteriormente compuseram o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) durante a Segunda Guerra Mundial e os 
países que eram tradicionais parceiros liberais dos países da América Latina.
O outro momento de realinhamento entre os latinos se deu no pós-guerra. Contudo, a condição de 
bipolaridade global moldada pela Guerra Fria impôs algumas limitações de crescimento a esses países. 
O processo de modernização teve relativo avanço da década de 1950, principalmente por conta do 
Plano de Metas do governo brasileiro.
Contudo, grande parte dos países latinos nutria um grande incômodo com o descaso dos Estados 
Unidos com a região por conta da preocupação da potência norte-americana com a reconstrução da 
Europa e seu Plano Marshall, que não só constituiu um aporte financeiro, mas também constituiu um 
grande elemento de diplomacia econômica, visto que a intenção estadunidense era conter o avanço 
soviético na Europa, principalmente na sua parte oriental.
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 Lembrete
O Plano Marshall constituiu, além de um aporte financeiro, um grande 
elemento de diplomacia econômica visto que a intenção estadunidense era 
conter o avanço soviético na Europa, principalmente na sua parte oriental.
Ademais, os nacionalismos que ficavam visíveis no campo econômico através das políticas 
desenvolvimentistas do período eram fruto dos regimes ditatoriais que ocorriam na vizinhança. “No 
contexto dos regimes nacionalistas falar em integração econômica e política era praticamente um 
pecado” (LESSA et al., 2016, p. 63).
Então a aproximação ficou por conta de esses regimes unirem forças para perseguir e reprimir os 
movimentos que tinham o objetivo de contestar os regimes militares. Isso sem esquecer, obviamente, 
que a fundamentação ideológica era o alinhamento com os Estados Unidos no combate ao que foi 
chamado de “comunismo internacional”.
Os anos 1980 foram emblemáticos para as economias latino-americanas. Primeiro, porque foram 
o período posterior aos dois choques do petróleo. As crises das grandes economias mundiais, junto 
da elevação de taxas de juros no exterior, afetaram diretamente as economias do Cone Sul. 
Como se não bastasse, Ronald Reagan assumiu o poder nos Estados Unidos e adotou medidas de 
cunho liberal mais contundentes no plano internacional. Dessa forma, a atuação estadunidenseno continente foi mais incisiva, sendo as ações de combate ao narcotráfico, principalmente na 
Colômbia, o exemplo mais claro dessa situação.
Outro ponto relevante foi o conflito em que a Argentina se envolveu com a Inglaterra por conta das 
Ilhas Malvinas. Devido a um regime militar desgastado, os argentinos fizeram essa incursão militar e não 
foram páreos para os ingleses, levando milhares de jovens à morte.
A Guerra das Malvinas, ocorrida em 1982, foi, portanto, decisiva em muitos 
aspectos para o futuro da Argentina e da região do Cone Sul. Além de ter 
promovido a redemocratização do país, foi fundamental para a aproximação 
entre Buenos Aires e Brasília. Mas não só́ isso, a guerra demonstrou de 
maneira inequívoca o que significava, para os Estados Unidos, a América 
Latina (LESSA et al., 2016, p. 65).
Talvez o aspecto mais relevante que se descobriu nesse período foi a verdade: os Estados Unidos 
não hesitaram em nenhum momento em apoiar a Inglaterra. Ou seja, os discursos e os tratados de 
cooperação intracontinental não passavam de palavras.
Simultaneamente, no Brasil aconteciam os últimos momentos da ditadura. Embora muito se foi 
falado em crescimento e milagre econômico nos anos anteriores, o Brasil amargava um complexo 
quadro de recessão econômica, bem como altas taxas de desemprego e incapacidade de gerir e honrar 
os compromissos internacionais.
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Diante de tais condições, a aproximação de Brasil e Argentina aconteceu e foi o primeiro passo para 
o processo de integração econômica no continente.
Uruguai e Bolívia também iniciaram a década de 1980 com mudanças políticas por conta do 
desgaste dos regimes militares instalados nos respectivos países. Não foi diferente para Chile e Paraguai. 
Especificamente na Colômbia, destaca-se a presença do narcotráfico e da guerrilha, principalmente por 
conta das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional 
(ELN). No Peru, a guerrilha se deu principalmente através do grupo Sendero Luminoso.
Porém, o cenário econômico latino-americano começou a mudar a partir dos anos de 1990. 
Basicamente, houve uma reforma generalizada de cunho liberal – com exceção de Cuba – que colocou 
em prática o Consenso de Washington. Logo, as políticas foram direcionadas para a abertura comercial 
através da liberalização da economia, remodelando o Estado. Embora todo o continente tenha passado 
por esse processo, a diferença foi a intensidade que ocorreu em cada país.
A Argentina foi o país que mais teve reformas, privatizando grande parte de suas empresas estatais. 
O Brasil atingiu um nível intermediário em relação ao processo argentino. Contudo, o visto foi justamente 
a superação de um modelo nacional-desenvolvimentista, tendo o principal impacto no papel que o 
Estado exerce na economia.
O principal gargalo apresentado pelo modelo desenvolvimentista era o fato de que não se direcionava 
a economia para o âmbito externo. Dessa forma, como vimos inicialmente, a América Latina estava à 
margem do que vinha sendo proposto desde Bretton Woods. Sendo assim, o ponto de partida para as 
modificações necessárias para que os países latinos pudessem entrar nessa dinâmica ocorre justamente 
com o fim da Guerra Fria e as mudanças estruturais nas economias dos países.
Figura 29 – A queda do Muro de Berlin marca o final da Guerra Fria
Disponível em: https://bit.ly/3CFsKEI. Acesso em: 22 nov. 2021.
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Porém, nem de longe o cenário foi o ideal. Mesmo que muitos países tenham conseguido se adequar 
ao que era exigido pelo modelo, os resultados em questões sociais passaram longe de serem positivos. 
Entre as principais consequências dessas mudanças, destacam-se o desemprego, o crescimento 
da economia informal e, em grande parte, a diminuição da indústria nacional, pois não havia como 
concorrer de igual para igual com as empresas estrangeiras.
Diante desse panorama, fica explícita a dificuldade do continente em se afirmar economicamente 
ao mundo.
7.1.2 A diplomacia econômica através da integração regional
Perante as dificuldades que os países latinos enfrentaram – e ainda enfrentam – no que tange 
aos aspectos econômicos, o caminho encontrado para o crescimento econômico nesse contexto de 
abertura comercial foi através dos processos de integração. Dessa forma, podemos claramente associar 
a diplomacia econômica brasileira no contexto pós-Segunda Guerra Mundial à abertura comercial dos 
anos 1990 e, sem dúvidas, na América Latina aos processos de integração regional.
Contudo, ressaltamos que isso não significa que não houve acordos bilaterais ou multilaterais com os 
países latinos; em nossa história sempre tivemos acordos com nossos vizinhos, haja vista a informação 
antes mencionada: nosso principal parceiro comercial nos primeiros quatro meses do ano de 2021 foi 
a Argentina.
A questão toda reside no fato de que, assim como apontamos no início deste livro-texto, o modelo 
adotado a partir do novo sistema financeiro mundial pós-Bretton Woods só foi realmente atrelado aos 
processos político-econômicos dos países latinos com a superação do modelo desenvolvimentista e dos 
regimes militares e com a abertura comercial dos anos 1990, simultaneamente ao fim da Guerra Fria.
Vale ressaltar também que os avanços bem-sucedidos da União Europeia acabaram por influenciar 
outras regiões e países do mundo a verem a integração regional como uma realidade e um dos caminhos 
para o desenvolvimento econômico. Mais do que isso, tais processos influenciaram diretamente a 
diplomacia econômica, por darem espaço para o exercício profissional da prática diplomática no que 
tange aos aspectos comerciais e, consequentemente, econômicos – espaço para a discussão e resolução 
de políticas que se entrelaçam com a realidade financeira global.
Assim, ante um cenário internacional econômico e político marcado por 
indefinições e muitas incertezas, diversos Estados nacionais buscaram criar 
blocos regionais para responder às novas diretrizes que emanavam do centro 
mais dinâmico do sistema capitalista (LESSA et al., 2016, p. 68).
Em termos diplomáticos, o Brasil encabeçou o principal e mais bem-sucedido processo de integração 
latino-americano: o Mercosul. Ainda segundo Lessa et al. (2016), o bloco nasceu com objetivos 
econômicos, mas também carregava consigo objetivos políticos, evidenciando, mais uma vez, o papel da 
diplomacia econômica.
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Iniciado em 1991 e consolidado em 1994, o Mercosul equivale a uma área de 11 milhões de 
quilômetros quadrados, sendo que em termos percentuais o Brasil detém cerca de 75% do PIB do bloco, 
seguido pela Argentina com 23%. Uruguai e Paraguai possuem bem menos, sendo 1,5% e 0,7% para 
cada, respectivamente.
Para o Brasil, o bloco significou um aumento contundente nas exportações, principalmente para a 
Argentina. Até a assinatura do acordo, o Brasil figurava entre o segundo e o quarto maior comprador 
dos produtos argentinos, enquanto o país vizinho figurava entre o sexto e oitavo lugar da lista brasileira. 
Depois do Mercosul, a Argentina passou a ser o segundo maior comprador – atrás apenas dos Estados 
Unidos e, atualmente, é o principal parceiro comercial de produtos brasileiros.
Concomitantemente, para a Argentina, o Brasil passou a ser o mercado mais importante, pois, além 
das trocas comerciais, houve investimento de peso na economia argentina, chegando ao ponto de se 
desnacionalizarem alguns setores que nossos vizinhos consideravam importantes. Isso se deve ao modelo 
adotado de paridade peso-dólar, facilitando a importação de produtos industrializados para o país.
Contudo, em termos de diplomacia econômica, um dos fatores mais relevantes se dá na adoção de 
uma política comercial comum do bloco diante de outros países. Desse modo, a negociação com o bloco 
traria uma só linguagem às relações comerciais com países de blocos econômicos que tivessem interesse 
em negóciosde origem latino-americana.
Essa integração superaria a dissonância argumentativa que o continente cometia anteriormente. 
Por conta de serem economias pequenas – em relação às grandes potências de outras partes do 
mundo –, o fato de falarem em “bloco” faz com que haja mais força comercial, visível no aumento 
de poder de barganha, no intuito de garantir ganhos adicionais para os países que compõem o 
bloco. Afinal, é um mercado de 11 milhões de quilômetros quadrados.
Em vista disso, fica nítida a diplomacia econômica: a união dos países otimiza o poder de barganha 
diante de um cenário econômico historicamente atrasado, sendo que o caminho para tal superação 
passa por decisões políticas que influenciam diretamente a economia dos países.
O fator principal que aumenta o poder de barganha se dá no modelo de integração adotado – em 
teoria, um mercado comum, como o próprio nome diz –, que traz consigo os aspectos de uma zona de 
livre-comércio, sendo o elemento central a tarifa externa comum. Isso significa que impostos e taxações 
devem ser os mesmos para produtos provenientes de qualquer lugar.
Contudo, o que de fato caracteriza a diplomacia econômica nesse pacto é a coordenação de políticas 
macroeconômicas, sendo o maior exemplo disso a adequação da tarifa externa comum, que alterou as 
políticas domésticas para que essa determinação fosse implantada.
Uma característica peculiar do Mercosul, ao longo de sua história, é o fato de que os problemas são 
resolvidos de forma negociada. Mesmo com desavenças, nenhum processo foi interrompido.
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Economicamente falando, o Mercosul tem sido importante para o Brasil. Isso é visto nos números 
do comércio, bem como no objetivo maior da integração: o político. A intenção sempre foi buscar novas 
adesões na América do Sul, principalmente com os países da Comunidade Andina, para que a região 
ganhasse mais peso e poder de barganha na comunidade internacional. E assim o Mercosul mantém 
negociações com Japão, México, Comunidade Andina e União Europeia.
Figura 30 – Bandeira do Mercosul
Disponível em: https://bit.ly/3nE9Ycv. Acesso em: 22 nov. 2021.
Já o Pacto Andino – que posteriormente foi chamado de Comunidade Andina – teve seu 
desenvolvimento a partir da experiência malsucedida da Associação Latino-Americana de 
Livre-Comércio (ALALC). Os elementos históricos semelhantes dos países que compõem o bloco foram 
cruciais para o surgimento dessa integração.
Essa integração defendia a liberalização do comércio, bem como a coordenação no que tange à 
política sobre o desenvolvimento industrial desses países, tendo como carro-chefe o tratamento especial 
com as empresas multinacionais. Havia também o intento de um programa unificado para importações, 
bem como a criação de uma corporação para o fomento de pesquisas científicas e educação. Assim 
como no Mercosul, houve a criação de uma tarifa externa comum, percebendo-se que os objetivos 
transcendiam bastante a ideia de uma zona de livre-comércio.
Vale ressaltar que, embora a diplomacia econômica tenha dado uma guinada na América do Sul a 
partir dos modelos de integração, outras tentativas já a haviam favorecido. Um exemplo é o caso do 
Paraguai, que, desde o ano de 1974, importava produtos de qualquer parte do mundo com uma taxa 
muito baixa. Essa medida foi intencionalmente criada para a aproximação com o Brasil. Inicialmente, 
a ideia era beneficiar países vizinhos. Contudo, a partir da constatação de que a economia paraguaia 
poderia ser sufocada pela brasileira, o benefício foi estendido para qualquer país. Consequentemente, o 
maior exemplo de como a diplomacia econômica funcionou com os países da América Latina foi através 
dos processos de integração.
Embora o Brasil já tivesse negócios bilaterais e multilaterais com seus vizinhos, a proeminência do 
modelo liberalizante a partir dos anos 1990 foi determinante para essa nova forma de interação. Até 
então, por conta, principalmente, das políticas desenvolvimentistas e de um grande período de regimes 
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DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
autoritários, a visão individualista de inserção internacional prevalecia. Com a integração, a ideia muda. 
Inclusive, por conta das próprias mudanças nas políticas internas que ocorriam na região e, como não 
poderia deixar de ser, no Brasil.
Segundo Hirst e Pinheiro (1995), diante da expectativa criada com a política brasileira após 1989 
– por causa da redemocratização e do cenário global pós-Guerra Fria –, uma das principais metas era, 
justamente, atualizar a agenda internacional do país. Isso pode ser visto na postura mais ativa em 
questões ambientais, na construção de uma agenda positiva com os Estados Unidos e nos processos 
de integração regional. “Pretendia-se que o novo padrão de política externa fosse um apoio para os 
desafios internacionais a serem enfrentados pelo país a partir de seu processo de reformas econômicas 
internas” (HIRST; PINHEIRO, 1995, p. 7).
Assim, a busca pela melhoria da competitividade econômica do país perante a nova realidade global 
passou, necessariamente, por essa nova postura diplomática, que tem a economia como elemento 
central. No campo comercial, o país adota uma clara postura de defesa do multilateralismo.
A diferença – em termos políticos – com os governos anteriores reside no fato de que a integração 
vai além de um instrumento para acelerar o processo de liberalização da economia brasileira. 
Consequentemente, a diplomacia econômica é, de fato, colocada em prática e os processos de integração 
são a principal característica dessa nova realidade em relação à participação do Brasil na diplomacia 
econômica latino-americana.
7.1.3 As relações do Brasil com a Argentina
Figura 31 – Bandeira da Argentina
Fonte: IBGE (2021).
Mesmo com todo o processo de multilateralismo adotado pelo país em relação à América Latina, as 
relações com nosso principal vizinho são demasiadamente importantes. Isso fica característico, inclusive, 
na forma como ocorreu o processo de integração sul-americano: na superação da rivalidade entre os 
dois países.
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Segundo Considera (2016b), compreender as relações entre os dois países é tema essencial da política 
externa brasileira, desde, pelo menos, os últimos 50 anos. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as 
diretrizes externas de ambos são diretamente influenciadas entre si.
A diferença de postura dos dois em relação ao conflito global já mostrava o que viria a seguir. O Brasil 
nitidamente se aproximava dos Estados Unidos em busca de benefícios econômicos, rompendo, em 
1942, relações com o Eixo. Porém, no início dos anos de 1940, a Argentina não tinha condições de fazer 
o mesmo, pois dependia de exportações de matéria-prima e alimentos para a Europa.
Todavia, por pressões internas, no ano de 1944, a Argentina rompe suas relações diplomáticas com 
os países do Eixo, fazendo uma aproximação com os Estados Unidos. Contudo, a influência do país do 
norte do continente nos vizinhos sul-americanos foi de intenso fomento da rivalidade entre ambos.
Com a ascensão de Perón ao poder em 1946, novos desafios surgiam no horizonte de ambos os 
países. Nesse período, o Brasil se posicionava ao lado dos Estados Unidos sobre o reordenamento do novo 
sistema internacional, que tinha como pano de fundo a Guerra Fria. A postura do Brasil foi, claramente, 
na intenção de receber tratamento diferenciado dos Estados Unidos (principalmente nos aspectos 
financeiros para o desenvolvimento nacional), bem como na ideia de que haveria maior facilidade na 
inclusão do país nos mecanismos internacionais pós-1945.
Já na Argentina, a ideia era se manter afastada da bipolaridade da Guerra Fria. Isso convergia com o 
fato de que a política interna de nosso vizinho estava voltada, no Governo Perón, para ideais nacionalistas 
e de justiça social, através da valorização das massas trabalhadoras.
Contudo, não havia motivos de rusgas entre os vizinhos, pois a Argentina era um dos destinos 
da recente produçãoindustrial brasileira. Ademais, não era interessante para os Estados Unidos uma 
ruptura e isolamento da Argentina pelo receio de reflexos mais graves na região, principalmente por 
conta do clima oriundo da Guerra Fria.
Mesmo com o passar dos anos, os ideais políticos ficavam cada vez mais distantes. O Brasil mantinha 
sua postura de alinhamento com o lado capitalista da Guerra Fria, enquanto a Argentina, com seu ideal 
de equidistância do conflito, tinha cada vez mais dificuldade em obter o acesso a fontes de financiamento 
internacional, sendo que, por dificuldades econômicas internas, as instituições ficavam cada vez mais 
fragilizadas. Somente no final dos anos 1950 a Argentina passou a integrar grande parte das instituições 
internacionais nascidas em Bretton Woods.
O período coincidiu com o a ascensão de políticos – em ambos os países – que tinham a intenção 
de atrair investimentos internacionais para seus respectivos territórios. Juscelino Kubitscheck, no 
Brasil, defendia, perante os Estados Unidos, a necessidade de investimentos em áreas economicamente 
atrasadas do continente, enquanto Arturo Frondizi adotava postura semelhante no intento de melhorar 
seu complexo siderúrgico.
113
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Portanto, verifica-se que tanto Frondizi quanto JK compartilhavam 
estratégias de desenvolvimento nacional e buscavam, por meio de suas 
políticas externas, atrair investimentos essenciais à modernização produtiva 
da Argentina e do Brasil (CONSIDERA, 2016b, p. 113).
O pedido de JK aos Estados Unidos resultou no início da Operação Pan-Americana (OPA), que 
caracterizava essa entrada de capital internacional no continente. A aproximação entre os governos 
brasileiro e argentino foi fundamental para o projeto. Contudo, era consenso para diversas nações 
latinas que as intenções do Brasil em liderar essa iniciativa não eram claras. O modelo foi interpretado 
por diversos países como um ato de hegemonia brasileira no continente.
Entretanto, o entendimento entre os maiores países do continente levou, no ano de 1959, à 
assinatura de uma série de acordos de cunho comercial, bem como a acordos sobre temas como 
cooperação jurídica e aduaneira, combate ao contrabando e uma inédita cooperação logística nos 
modais de transporte aéreo e fluvial.
Nos anos seguintes, a aproximação foi mantida. No entanto, para a Argentina era necessário buscar 
abertura comercial no mercado brasileiro para seus produtos, de modo que o país não se tornasse, 
exclusivamente, um fornecedor de matéria-prima.
Porém, a pressão estadunidense no início dos anos de 1960 por conta da revolução que acontecia em 
Cuba refletia nos grupos de oposição aos governos da América do Sul. Não foi diferente nos governos 
de Brasil e Argentina, suscitando a preocupação de alguns setores – principalmente os militares – 
quanto à defesa por parte dos governos latinos de uma não intervenção dos Estados Unidos em Cuba. 
Essa preocupação dos opositores residia, principalmente, no receio de se perder o apoio financeiro dos 
Estados Unidos.
As relações entre Brasil e Argentina nos anos de 1960 até 1980 foram caracterizadas por momentos 
de aproximação, desconfianças, desencontros e reencontros. Tudo isso era oriundo do próprio contexto 
internacional do período, unido a diretrizes divergentes – e às vezes convergentes – no que tangia à 
inserção dos países no cenário internacional.
Destaca-se o fato de que, em grande parte desse período, ambos estiveram sob regimes não 
democráticos, influenciados pela ideia de que era necessário combater as influências comunistas na 
região. Porém, embora convergissem nesse aspecto, as posturas foram distintas, principalmente em 
aspectos econômicos.
No Brasil, foram adotadas políticas desenvolvimentistas, como vimos anteriormente neste livro-texto. 
Assim, a diplomacia passava a ser considerada “essencial na promoção das condições favoráveis à 
expansão do comércio e do investimento, por meio da busca de novos parceiros internacionais, sobretudo 
a partir do governo do General Costa e Silva” (CONSIDERA, 2016b, p. 118).
Na Argentina, havia um quadro interno mais instável do que o brasileiro. Essa instabilidade 
devia-se ao peronismo, ainda influente em parte dos setores argentinos. Diante desse contexto, o 
114
Unidade III
governo militar argentino buscava sua legitimidade interna e sua afirmação no cenário internacional 
por meio da aproximação com os Estados Unidos, no intuito de ser o parceiro preferencial do país 
norte-americano. Assim, naturalmente a rivalidade entre Brasil e Argentina foi acirrada, gerando 
desconfianças mútuas, minando qualquer tipo de aproximação e integração entre os vizinhos.
Nos anos de 1970, o Brasil consegue certo destaque no campo econômico e, novamente, se alinha 
com os Estados Unidos, trazendo como consequência o status de potência emergente ao país, levando, 
novamente, a Argentina ao isolamento, agravando a rivalidade bilateral.
Com o breve retorno de Perón ao poder, a Argentina passa a adotar posturas internacionais para 
evitar o isolamento. Assim foram feitas tentativas de aproximação com países afro-asiáticos, bem como 
a retomada da cordialidade com o Brasil. Porém, com o falecimento de Perón e a ascensão de Videla 
ao poder, a Argentina retoma um ciclo de governos militares. Todavia, dessa vez, um ciclo muito mais 
autoritário e violento do que os anteriores.
Esse regime é acusado de assassinato e sequestro de bebês de presos políticos. Inclusive grande 
parte dos militares envolvidos foram julgados e condenados, pois foi provado que, de fato, aconteceram 
tais práticas.
 Saiba mais
Sobre o tema, assista ao filme:
500: os bebês roubados pela ditadura argentina. Direção: Alexandre 
Valenti. Argentina: Intuition Films & Docs, 2013. 105 min.
Dessa forma, a reinserção internacional do país passaria pela reaproximação com os Estados 
Unidos. O intuito era a busca de crédito para que a Argentina superasse sua crise financeira. Porém, o 
país bateu na porta que estava fechada: o governo estadunidense posicionava-se contra o modelo de 
repressão violenta que os regimes militares latino-americanos praticavam. Ironicamente, a Argentina 
passou a reforçar sua cooperação juntamente com a União Soviética, um dos seus principais 
compradores de trigo.
Contudo, vale relembrar que Brasil e Argentina mantinham relacionamento bilateral no campo 
comercial. Então, como ficaria essa relação diante desse novo momento vivido por ambos?
Primeiramente, os pontos de convergência sobre o “combate ao comunismo” sempre serviram de 
apoio para o diálogo entre ambos. Esse entendimento fica evidente no apoio dos dois maiores países da 
América do Sul a outros regimes militares que se instalavam na região.
115
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Isso não significaria o final das desavenças, mas conveniência em questões ideológicas. Há, inclusive, 
momentos em que o Brasil se afasta dos entendimentos com os Estados Unidos, e a Argentina ocupa 
esse lugar. Os projetos de utilização da Bacia do Prata e construção de Itaipu também foram objetos de 
desavenças entre os vizinhos.
Diante dessa nova realidade, ficou nítido para o governo militar argentino que a origem dos 
problemas era econômica e que o país tinha enorme dificuldade no seu comércio exterior, baseado, 
majoritariamente, em commodities.
A saída mais viável, então, era a cooperação com os países da região, inclusive com seu grande rival, 
o Brasil. A construção de Itaipu, encabeçada pelo Brasil, foi uma “derrota” para o governo argentino, mas 
tal sentimento deveria ser superado para a retomada do crescimento econômico. Ademais, a Argentina 
entrou em uma disputa com o Chile pela soberania do Canal de Beagle, em 1975, elevando o risco de 
isolamento do país.
A questão da soberania e a disputa entre Argentina e Chile sobre o canal já eram antigas. Segundo 
Souza (2008), os limites entre a Argentina e o Chile foram estabelecidos no século XIX, processo em que 
foi levadaem conta a linha natural que é formada pela Cordilheira dos Andes, a qual se estende por 
aproximadamente 5 mil quilômetros.
Entre 1822 e 1833, os chilenos estabeleceram como seu limite sul o Cabo Horn, o ponto mais antártico 
das Américas. Desde 1840 o país começou a utilizar a zona do Estreito de Magalhães, um canal que liga 
os Oceanos Atlântico e Pacífico, local que foi fundamental para a navegação internacional.
Em 1856 foram instalados assentamentos militares chilenos em Punta Arenas, cidade próxima ao 
Estreito de Magalhães, ocasionando um mal-estar nas relações com a Argentina, que afirmava serem 
suas estas possessões. Nesse mesmo ano, ambos os países firmaram um Tratado de Paz, Amizade, 
Comércio e Navegação, onde se aplicava o princípio de que a cada Estado corresponderiam os territórios 
efetivamente ocupados por eles em 1810. Em caso de conflito, eles seriam resolvidos pela via diplomática 
ou arbitral.
Em março de 1960, os países concordaram que a Ilha Lennox seria de soberania do Chile e que se 
submeteria a decisão inapelável da Corte de Haia a questão sobre a soberania das Ilhas Picton e Nueva. 
Porém, esse acordo não foi ratificado por nenhum dos dois países.
No ano 1970, a fim de resolver a questão pacificamente, nomeou-se como árbitra a Rainha Elizabeth II 
da Grã-Bretanha, que em 1977 considerou como chilena a posse das três ilhas em litígio, pois elas 
eram vistas como uma unidade. Restou à Argentina a posse da Ilha Becasses e a livre navegação para o 
acesso ao Ushuaia.
116
Unidade III
Figura 32 – Sobrevoando o canal de Beagle
Disponível em: https://bit.ly/3qYCfwi. Acesso em: 22 nov. 2021.
Porém, para os argentinos, através da projeção territorial, a posse por parte chilena destas ilhas 
atrapalharia suas futuras reivindicações e seus direitos na divisão da Antártida. Assim, a decisão 
favorecendo a República do Chile não foi bem recebida pelos argentinos, que declararam no início do 
ano seguinte inválido o laudo arbitral e se mostraram dispostos a tomar posse das ilhas pelo uso da 
força. Desse modo, exatamente no período militar de Videla, a Argentina ressuscitou um confronto 
secular em uma quase incursão militar com seu vizinho no intuito de obter projeção internacional.
Esse apetite militar argentino se concretizou em 1982 no confronto entre Argentina e Inglaterra pela 
soberania das Ilhas Malvinas, no conflito chamado Guerra das Malvinas. Uma guerra rápida e sangrenta, 
que levou muitos jovens argentinos à morte.
Segundo Considera (2016a), a guerra representou outro ponto de convergência entre o Brasil e a 
Argentina. O Brasil defendeu a resolução pacífica do conflito. Isso, na prática, era favorável à Argentina, 
devido ao poderio militar inglês. O Brasil chegou ao ponto de proibir o uso do seu território, tanto para 
pouso de aeronaves inglesas como para deslocamento de tropas. A Argentina, em meio a um regime 
militar desgastado que queria o conflito, via sinais de que a aproximação com o Brasil estava por vir.
117
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Saiba mais
Para saber mais sobre a Guerra das Malvinas, ler:
COGGIOLA, O. A outra guerra do fim do mundo. A batalha pelas Malvinas 
e a América do Sul. Cotia: Ateliê Editorial, 2014.
PHILLIPS, R. Foi por pouco: breve história da Guerra das Malvinas. Nova 
Jersey: Babelcube Inc., 2014.
VALÉRIO, M. A. G. Ilhas Malvinas: guerra no fim do mundo. A disputa 
entre Argentina e Reino Unido à luz do direito, da história e da política 
internacional. Curitiba: Juruá Editora, 2017.
Contudo, talvez um dos maiores golpes sofridos pela Argentina se deu no campo político: o apoio 
dos Estados Unidos à Inglaterra nesse confronto desfez a ilusão da cooperação norte-sul. E isso não 
somente para a Argentina, mas para grande parte dos países do Cone Sul.
Figura 33 – Presidenta Cristina Kirchner discursando no Ato pelos 
30 anos da Guerra das Malvinas (2012)
Disponível em: https://bit.ly/3HNBc8o. Acesso em: 22 nov. 2021.
Não obstante, o desgaste social e econômico de todos os países latinos que viveram anos de repressão 
e violência em suas ditaduras econômicas deslegitimava cada vez mais seus respectivos governos. Desta 
forma, a sobrevivência econômica de Brasil e Argentina passava, necessariamente, pela consolidação 
de mercados para seus produtos. Repare, caro aluno, depois de tanta briga e rivalidade, é no campo da 
diplomacia econômica que ocorre a aproximação entre ambos.
118
Unidade III
Assim, uma série de acordos entre os países são assinados, como o acordo sobre Itaipu, o tratado 
que dá origem à Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), substituindo a antiga ALALC, bem 
como a declaração de cooperação pacífica no âmbito da energia nuclear. Dessa forma, como mencionado 
anteriormente, “a trajetória das relações Brasil-Argentina entre as décadas de 1980 e 1990 se confunde 
com o histórico da integração regional” (CONSIDERA, 2016b, p. 124).
Considera (2016a) afirma que a primeira razão para a concretização das iniciativas integracionistas 
foram as condições econômicas dos países, principalmente após as sucessivas crises do petróleo nos 
anos 1970. Com o aumento da taxa de juros por parte dos Estados Unidos, os países latinos foram 
obrigados a repensarem suas dinâmicas de inserção no mercado internacional.
Brasil e Argentina reconheciam, naquele momento, convergências políticas 
e necessidades econômicas comuns que contribuíam para reforçar a 
hipótese de que, diante da crescente interdependência entre as decisões 
estatais de política externa, a cooperação tornara-se importante estratégia 
de desenvolvimento nacional (CONSIDERA, 2016a, p. 96).
Logo, é possível afirmar que o regionalismo transformou a cooperação entre vizinhos na América 
do Sul em estratégia de desenvolvimento econômico – como vimos anteriormente neste livro-texto –, 
tendo a aproximação entre Brasil e Argentina como carro-chefe.
Segundo Considera (2016b), em 1986, a convergência político-estratégica de ambos os países 
caminha, de fato, para o campo econômico. É estabelecido o Programa de Integração e Cooperação 
Econômica (Pice). Tal programa tinha como objetivo ampliar a cooperação entre os países através do 
intercâmbio comercial de maquinário industrial, relativo a bens de capital, além de outras medidas de 
expansão comercial.
O Pice tem desdobramentos positivos no comércio e, a partir dele, foi estabelecido o Tratado de 
Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o Brasil e a Argentina, este sendo o embrião do Mercosul.
Vamos agora dar um salto para o final da década de 1990, com o bloco já consolidado. Essa década 
foi marcada por incertezas e crises econômicas em razão da incógnita deixada pelo final do sistema 
bipolar de equilíbrio de poder. Diante desse contexto, no final da década de 1990, a Argentina sofreu 
uma grave crise financeira, que levou ao descontrole monetário e à incapacidade do país em honrar seus 
compromissos internacionais. A desvalorização do real feita pelo governo brasileiro no mesmo período 
para superar a crise teve impactos na economia do país vizinho. Ademais, as crises da Ásia, do México e 
da Rússia na mesma década reduziram a disposição de investidores em aplicar recursos em economias 
em desenvolvimento.
A saída para a Argentina foi a aproximação com os Estados Unidos, o que gerou algumas críticas 
internas devido à lembrança do período de isolacionismo pelo qual o país passou durante os regimes 
militares. Contudo, isso não era incompatível com o que já era realidade de integração entre as nações 
da América do Sul.
119
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A crise argentina foi tão séria que, no ano 2000, iniciou-se o governo de Fernando de la Rúa. Por 
conta da falta da governabilidade necessária para as reformas econômicas, o país chegou à beira da 
anarquia, o que teve como consequência a renúncia do então presidente.
O Brasil, no período, manteve investimentos no país vizinho e, até mesmo, uma das maiores 
empresas brasileiras chegoua comprar a mais famosa cervejaria argentina. Contudo, saíam da Argentina 
empresários europeus e norte-americanos do setor agrícola, e o FMI impunha uma série de ajustes 
monetários e fiscais como condição sine qua non para a concessão de ajuda financeira ao país.
A importância da diplomacia econômica ficou evidente no fato de que o apoio brasileiro à Argentina 
no período refletiu na eleição presidencial de 2003, levando ao poder Néstor Kirchner, o qual tinha um 
discurso de que a redução das assimetrias na América do Sul passava pela complementação produtiva 
resultante da aproximação com o Brasil e os demais países vizinhos. Vale ressaltar também que, antes do 
segundo turno das eleições, Kirchner buscou o apoio de seus vizinhos através de visitas do recém-eleito 
presidente do Brasil, Lula da Silva, e Ricardo Lagos, do Chile, ambos defensores da aproximação dos 
países do Cone Sul.
Com a eleição de Kirchner em 2003, a Argentina buscou recompor suas finanças, bem como 
reestabelecer a confiança dos credores internacionais em relação ao país.
De fato houve resultados significativos, sendo que o crescimento argentino girou na casa de 8,7% por 
ano. Ademais, foram adotadas políticas de controle da inflação e distribuição de renda. Consequentemente, 
houve queda nos índices de inflação, bem como aumento real na renda das famílias. Entretanto, foi 
fundamental o apoio de investidores internacionais para o êxito dessa política de Kirchner.
Em relação ao Brasil, a política da Argentina do período foi direcionada para o aprimoramento dos 
já existentes mecanismos de integração, visto que ainda havia a antiga preocupação de a Argentina ser 
o país exportador de commodities e o Brasil o fornecedor de produtos industrializados.
No fundo, a preocupação de Kirchner coincidia com os princípios de equidade que já existiam na 
normativa do Mercosul. Não obstante, o bom relacionamento entre os presidentes dos dois países 
foi determinante para a promoção do desenvolvimento produtivo com justiça social. Ambos tinham 
como diretriz a ideia de que o Mercosul era uma opção de fortalecimento da inserção dos países do 
bloco no mundo.
É possível afirmar, portanto, que o governo de Néstor Kirchner buscou estabelecer com o Brasil 
relacionamento de caráter estratégico, no qual a antiga rivalidade cedeu lugar à parceria política baseada 
em valores e objetivos comuns, tais como a busca pela redução da assimetria no comércio bilateral e 
a realização de projetos comuns de desenvolvimento da integração física do continente (CONSIDERA, 
2016b, p. 129).
Com a sucessão de Néstor Kirchner por Cristina Kirchner no poder, nada mudou em linhas gerais 
sobre a política adotada com o Brasil. Inclusive houve avanços sobre a implantação de um sistema de 
pagamento de transações de comércio exterior com moeda local, reduzindo, assim, os custos da compra 
e venda de dólares.
120
Unidade III
Quando Dilma Rousseff assumiu a presidência em 2011, tendo como par na Argentina Cristina 
Kirchner, novos aspectos foram aprofundados. Os acordos sobre o recém-concebido pagamento em 
moeda local fizeram com que houvesse avanços na cooperação entre o BNDES e o Banco de la 
Nacíon Argentina.
Assim, fica evidente que a superação de antigas rivalidades foi determinante para que a aproximação 
acontecesse e, mais do que uma simples aproximação, o aprofundamento do relacionamento bilateral é 
essencial para os respectivos projetos nacionais de desenvolvimento de ambos os países.
 Saiba mais
Para saber mais sobre como exportar, o Ministério das Relações 
Exteriores (MRE), juntamente à Agência Brasileira de Promoção de 
Exportações e Investimentos (ApexBrasil), através do Guia de Comércio 
Exterior e Investimento (Invest & Export Brasil) fornece uma cartilha com 
informações sobre países específicos ou mercados integrados de interesse 
do exportador brasileiro. São dados sobre perfil sociopolítico, comércio 
exterior, economia e finanças, canais de distribuição, legislação, acesso 
a mercado, bem como recomendações a empresas brasileiras. Para a 
Argentina, ver:
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Inteligência 
Comercial. Como exportar: Argentina. Ministério das Relações Exteriores. 
Brasília: MRE, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3lqdk1f. Acesso em: 
1º dez. 2021.
7.2 O Brasil e as relações econômicas com os Estados Unidos
Figura 34 – Bandeira dos Estados Unidos da América
Fonte: IBGE (2021).
121
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Os Estados Unidos, historicamente, sempre foram como o “irmão mais velho” do Brasil. E isso quer 
dizer: momentos de conflitos e momentos de aproximação. Ademais, a história do desenvolvimento 
daquela nação se confunde com a história do desenvolvimento ocidental, dado seu crescimento e 
influência política e econômica no lado poente do globo.
Segundo Considera (2016b), a história do continente americano, principalmente após o final do 
século XIX e início do século XX, é completamente influenciada pelos rumos da política adotada por 
Washington. Contudo, seria exagero afirmar que os fatos políticos que aconteceram em outros países 
americanos são subproduto do que foi decidido pela potência do norte.
Tal visão foi muito comum em diversos autores. Eles explicavam os problemas estruturais da parte 
sul do continente, principalmente, a partir da ótica de que o “imperialismo do norte” foi a causa das 
rupturas democráticas, dos problemas sociais e do subdesenvolvimento econômico da região.
Tal ótica fica conhecida como “complexo de periferia”. Ela serve tanto para teorias que justificam 
o alinhamento com as diretrizes de Washington como para teorias que justificam a necessidade de 
mecanismos de integração regional no intuito de fortalecer a parte sul do continente para que seja 
possível fazer frente às decisões estadunidenses.
Nem tão a um lado, nem tão ao outro. Houve influência dos norte-americanos, mas as decisões 
da elite política dos países do sul são responsáveis pelas consequências que foram vividas. Inclusive, 
verificamos no atual governo uma aproximação mais intensa com Washington, porém muito mais um 
alinhamento unilateral de nosso governo do que interação recíproca.
Entretanto, tal aproximação pode comprometer ganhos em outros setores, como, por exemplo, 
comércio e cooperação técnico-científica e educacional, uma vez que a aproximação com os Estados 
Unidos é, ao mesmo tempo, um distanciamento de outros potenciais parceiros por conta do histórico 
do país da América do Norte. Contudo, é consenso entre os especialistas que a relação do Brasil 
com os Estados Unidos foi – e ainda é – escrita com momentos de aproximação e separação, 
convergência e divergência.
Do início da República até meados de 1940 houve um período de aproximação conhecido como 
aliança não escrita. O nosso patrono da diplomacia, Barão do Rio Branco, foi responsável por essa 
aproximação no intuito de termos o respaldo estadunidense nas disputas com a Argentina na Bacia do 
Prata, bem como nas possíveis ações neocoloniais de potências europeias. Tal postura foi mantida por 
um longo tempo e utilizada nos dois governos de Getúlio Vargas, bem como por Juscelino Kubitschek.
Tal aproximação tinha por completo interesse questões econômicas. Ao mesmo tempo que 
havia o alinhamento com Washington, o foco nos resultados financeiros era benéfico para o país 
no desenvolvimento autônomo. Ou seja, o alinhamento político trazia resultados econômicos: 
diplomacia econômica.
Contudo, o Governo Vargas (1930-1945) buscou diversificar os parceiros comerciais e econômicos 
do país, mas sem deixar a aproximação com os Estados Unidos de lado. Um grande exemplo disso foram 
122
Unidade III
as relações comerciais mantidas com a Alemanha no período pré-guerra, que somente foram cortadas 
com o advento do confronto bélico global.
 Observação
Em uma negociação com o governo alemão, Vargas se utilizou da 
música como elemento de política externa, ao autorizar, no ano de 1936, a 
criação de umprograma de rádio destinado ao público alemão no intuito 
de difundir a música brasileira. Esse é um exemplo da polivalência da 
política externa do governo do período.
Aliás, a neutralidade na guerra foi adotada entre os países da América do Sul por conta, justamente, 
da dependência nas exportações para países do Eixo, como era o caso de Argentina e Chile, por exemplo.
Como vimos anteriormente, a Operação Pan-Americana (OPA) do Governo JK corroborou para o 
alinhamento com os Estados Unidos. Novamente a diplomacia econômica se fez presente: o combate 
ao subdesenvolvimento do continente era a melhor arma de combate ao comunismo. Ou seja, uma 
justificativa político-ideológica foi o elemento de busca de recursos financeiros junto ao país do norte.
Um momento no qual há distanciamento da política externa estadunidense é o período que 
antecede os regimes militares e o chamado Milagre Econômico, período conhecido como Política Externa 
Independente (PEI). Nesse momento, “as relações Brasil-EUA foram impactadas pela elevação do perfil 
internacional do Brasil e pela necessidade de o país diversificar parceiros, não apenas comerciais, mas 
também em áreas de cooperação estratégica” (CONSIDERA, 2016b, p. 140).
Depois do Governo Geisel (1974-1979), até o Governo Sarney (1985-1990), o Brasil assumiu de vez 
uma posição universalista em sua política externa. Contudo, devido a essa posição e ao aperto por parte 
do Governo Reagan em questões internacionais, principalmente após os dois choques do petróleo na 
década de 1970, tal posicionamento brasileiro sofreu grandes impactos. Como vimos anteriormente, 
o aumento dos juros dos Estados Unidos impactou diretamente as economias latinas, contribuindo 
definitivamente para a crise das dívidas externas dos países.
Em termos de diplomacia econômica, o Brasil entrou em atrito com os Estados Unidos sobre 
questões relacionadas ao protecionismo no setor de informática e ao desrespeito a patentes de 
empresas. Segundo Arslanian (1994), foi adotada pelos Estados Unidos a seção 301 da legislação 
comercial norte-americana. Isso significa que foram adotadas medidas comerciais coercitivas 
(retaliações) como um instrumento de pressão – unilateral – para forçar a abertura de mercados aos 
investimentos e exportações do país.
Essa seção foi instituída em 1974, conferindo poder ao Executivo estadunidense para adotar 
medidas contra políticas que fossem consideradas prejudiciais aos interesses do país. Essas medidas 
iam contra aquilo que foi decidido no âmbito do GATT, porém, como vimos anteriormente, a 
123
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
preponderância do país da América do Norte frente à nova realidade comercial fez com que brechas 
como essa fossem adotadas.
Contudo, segundo Considera (2016b), a partir da década de 1990, com o final da Guerra Fria e 
adoção da cartilha de Washington por parte dos governos latinos, as relações bilaterais se tornaram 
mais flexíveis. Em se falando de Brasil, isso ocorre especialmente durante o Governo Fernando Henrique 
Cardoso (FHC).
Entretanto, nem todos os resultados esperados do alinhamento com Washington aconteceram. Por 
exemplo, o Brasil aderiu às negociações sobre patentes e serviços, porém não viu avanço significativo 
em negociações sobre agricultura. Já no final do mandato, o Governo FHC focou na globalização 
assimétrica, se aproximando de outros parceiros econômicos, como China e Rússia. Tudo isso estava no 
contexto da crise do neoliberalismo fomentado pelo Consenso de Washington.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas, o foco total da política externa 
estadunidense se dirigiu à “caça ao terror”. Isso gerou uma espécie de espera sobre questões comerciais 
entre o Brasil e os Estados Unidos.
Durante o Governo Lula (2003-2010) houve certo pragmatismo em relação à política externa 
brasileira com os Estados Unidos, principalmente por conta da posição brasileira frente às intervenções 
estadunidenses no Iraque. Dessa forma, a diplomacia econômica foi fundamental para as pretensões 
do país. Primeiro, o Brasil adotou uma postura de negociação nos fóruns multilaterais através 
de coalizões sul-sul no intuito de aumentar o poder de barganha dos países em desenvolvimento. 
Posteriormente, o Estado brasileiro fomentou a internacionalização de empresas no intuito de diminuir 
a vulnerabilidade do país.
Novamente o Brasil adotou uma posição de incentivo à integração regional como forma de 
aumentar a possibilidade de inserção não só do Brasil, mas dos demais vizinhos do continente no cenário 
internacional. Curiosamente, a “busca brasileira por novos parceiros não prejudicou as relações do Brasil 
com os EUA” (CONSIDERA, 2016b, p. 142).
Isso não quer dizer que não houve divergências com o país do norte, mas sim que foram pontuais 
e resolvidas – ou não – a ponto de não prejudicar o relacionamento entre ambos. Talvez se possa até 
afirmar que tal condição refletia uma certa maturidade atingida na relação entre os países, pois o que 
ocorreu foi o fato de que visões que eram compartilhadas em determinados temas não significaram, 
necessariamente, alinhamento automático em outros temas da agenda internacional.
Ainda durante o Governo Lula, as relações entre o Brasil e os Estados Unidos foram conduzidas 
por entre convergências e divergências, principalmente com temas comerciais e econômicos. Desta 
forma, esse foi um dos períodos em que mais se fez evidente a realidade da diplomacia econômica 
no contexto global.
124
Unidade III
Um exemplo dessa condição se deu nas negociações da Rodada de Doha, sendo o Brasil protagonista 
nas negociações sobre protecionismo e subsídios agrícolas praticados pelos Estados Unidos. Já no âmbito 
financeiro, o Brasil e os Estados Unidos tiveram a mesma posição na substituição do G-7 por um grupo 
mais amplo, o G-20.
Figura 35 – Emoção do presidente Obama ao receber do presidente Lula a camiseta da 
seleção brasileira com o número do grande jogador Vampeta, 2009
Disponível em: https://bit.ly/3FF5NmY. Acesso em: 22 nov. 2021.
No Governo Dilma foi mantida uma postura que condizia com a realidade socioeconômica do país. 
Logo, diante dos Estados Unidos, o Brasil demandava reformas nas instituições que contribuem para a 
governança global e ainda negociava redução de tarifas agrícolas e acesso às tecnologias.
Não obstante, a contrapartida brasileira foi a oportunidade de investimentos diretos com os grandes 
eventos globais da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, bem como no pré-sal e nas obras 
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A visita do então presidente Barack Obama em 2011 ao Brasil rendeu frutos na cooperação econômica 
e energética, chegando ao ponto de o etanol ser discutido como uma possível commodity.
Diversos foram os acordos entre os dois países no campo comercial, desde parcerias de bolsas de 
estudos para brasileiros no programa Ciência sem Fronteiras até o reconhecimento mútuo da cachaça 
e do uísque Tennessee e Bourbon como produtos originários de cada país. Ademais, os Estados Unidos 
autorizaram a importação de carne suína brasileira de alguns exportadores brasileiros.
As relações vão ficar balançadas em 2013 com as acusações de espionagem por parte dos Estados 
Unidos através da Agência de Segurança Nacional (NSA), no famoso caso de Edward Snowden. Tal 
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DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
assunto é extremamente sensível e tem desdobramentos seríssimos, pois fere a Constituição Brasileira 
(Carta Magna) de 1988, bem como a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1964).
Depois do processo de impeachment da presidenta Dilma em 2016 e da ascensão de Michel Temer 
ao poder, bem como da eleição do presidente Jair Bolsonaro, houve uma aproximação do país com 
os Estados Unidos, onde Donald Trump estava no poder. Com a eleição de Joe Biden, ficou nítido que 
muito do que foi construído entre Bolsonaro e Trump era uma aproximação dos chefes de Estado, e não 
necessariamentedos governos como um todo.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores (BRASIL, 2016), a crise econômica de 2008 deixou 
marcas profundas no consumo estadunidense. O consumidor, no geral, se tornou mais comedido e 
exigente quanto àquilo que consome. As mídias sociais ganharam espaço como campo de busca sobre 
aquilo que as empresas oferecem. Inevitavelmente, mudanças no hábito de consumo tendem a impactar 
nas relações comerciais do país. Atualmente, a ligação do produto com causas sociais tende a ser fator 
determinante no consumo. Esse é o caso para 90% dos millennials no país da América do Norte.
Os Estados Unidos estão entre os maiores produtores agropecuários e de grãos do mundo. Isso 
se deve à boa qualidade do solo. Tal condição reflete diretamente na participação estadunidense no 
comércio internacional. Já a indústria madeireira tem aproximadamente 8.500 empresas, com uma 
receita anual em torno de 8 bilhões de dólares. O país possui, também, uma grande produção mineral. 
Contudo, ainda é insuficiente para atender a demanda do país. A importação é necessária, e os principais 
países que fornecem os minerais são México, Canadá, Brasil, China, Rússia e Ucrânia.
A produção do país é diversificada e ampla, tendo como destaque o segmento de computadores, 
softwares, eletrônicos, transportes, maquinário industrial e produtos diversos derivados de petróleo. 
Contudo, em termos de produção, depois da crise de 2008, muitas empresas deslocaram suas unidades 
de produção de países mais distantes, como a China e a Índia, para o território nacional ou até mesmo 
para países vizinhos. Isso se deveu ao aumento no preço da mão de obra nos países onde as empresas 
tinham a produção.
No campo energético, os Estados Unidos figuram como o maior importador, consumidor e produtor 
líquido de energia. Já o setor de serviços corresponde a aproximadamente 78% do PIB do país. Os 
principais setores de serviços são bancos, seguros e imóveis.
No ano de 2015, os Estados Unidos figuravam como o segundo maior parceiro comercial brasileiro, 
posição ocupada hoje por China, Macau e Hong Kong, como vimos anteriormente.
 Observação
A coleta de dados em cada região é heterogênea: não só há regiões com 
estudos mais atuais como há regiões com mais dados acumulados.
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Unidade III
Contudo, os Estados Unidos ainda são um dos principais destinos de manufaturados e 
semimanufaturados. Em 2015, o Brasil foi o 12° principal parceiro comercial do país norte-americano.
Vale ressaltar que, do ano de 2004 até 2014, as exportações dos Estados Unidos cresceram cerca de 
15,1% para o Brasil. Esse número é equivalente à taxa de crescimento das exportações do país para a 
China no mesmo período.
Os Estados Unidos, devido à relação histórica que estudamos antes, são o país com maior estoque de 
investimentos no Brasil: 1/5 dos investimentos do país norte-americano estão no país sul-americano. 
Já os Estados Unidos são o terceiro país em fluxo de investimentos brasileiros, ficando atrás das Ilhas 
Cayman (paraíso fiscal) e Portugal.
Em 2015, havia 27 empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Já no lado 
oposto, no mesmo ano, estima-se que havia cerca de 2.900 empresas de capital estadunidense 
instaladas no Brasil.
Diante desse panorama é possível perceber a importância das relações que envolvem a diplomacia 
econômica de ambos os países.
7.3 O Brasil e as relações econômicas com a União Europeia
Figura 36 – Bandeira da União Europeia
Disponível em: https://bit.ly/3FFgOVa. Acesso em: 22 nov. 2021.
Também fruto da nova ordem econômica que nasce junto ao fim da Guerra Fria, a União Europeia – 
embora o embrião dessa integração date desde meados da década de 1940 – é um potencial parceiro e, 
simultaneamente, concorrente brasileiro.
Segundo Considera (2016b), desde a criação do Mercado Comum Europeu em 1957 o Brasil já 
se preocupava com o rumo que o comércio internacional tomaria por conta dos compromissos de 
preferências comerciais que foram firmados entre os países europeus e suas respectivas colônias. Nesta 
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DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
lógica, o Brasil poderia perder grande parte do mercado de café e cacau no comércio internacional. Esse 
receio é o que dita as relações entre o Brasil e a União Europeia até os dias de hoje, embora isso não 
impossibilite acordos.
Tal realidade gerou grande dúvida no Brasil, principalmente por conta de já haver ligações comerciais 
bilaterais com países do Velho Continente. Contudo, no Governo Geisel (1974-1979), a Europa foi uma 
válvula de escape de tensões com os Estados Unidos, resultando em diversas relações bilaterais com 
países europeus, como Alemanha Ocidental, França e Grã-Bretanha.
Em meados de 1980 o Brasil fez um acordo de cooperação com a ainda Comunidade Econômica 
Europeia (CEE), o que possibilitou mecanismos de apoio técnico e financeiro ao país. A dinâmica dessas 
negociações foi regular, principalmente depois do processo de redemocratização no país.
Contudo, até o início da década de 1990, antes da criação do Mercosul, não houve significativos 
avanços. Vale relembrar que, até os dias de hoje, o setor agrícola, por conta dos subsídios e da proteção do 
mercado local por parte das autoridades europeias, ainda é o ponto fraco da incipiente relação comercial.
Porém, após o Mercosul, o bloco regional da América figurou como um potencial parceiro comercial 
e um excelente destino para investimentos europeus. Em 1992 foi celebrado o Tratado de Maastricht, 
dando origem à configuração moderna do que conhecemos hoje como União Europeia. Em 1995 foram 
estabelecidos acordos entre Mercosul e União Europeia.
Não obstante, houve também a celebração do Acordo-Quadro de Cooperação entre a Comunidade 
Europeia e o Brasil, em 1992. O intuito desse acordo era fomentar o comércio, o investimento, as 
finanças e a tecnologia entre o país e o bloco. O acordo ainda serviu como instrumento de consolidação 
da democracia brasileira (recém-saída de um período autoritário), uma vez que a parceria com o bloco 
do Velho Continente estava condicionada por uma cláusula democrática.
Depois da crise de desvalorização do real em 1999, somada à expansão da União Europeia para o leste 
do Velho Continente, bem como aos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, houve 
uma clara mudança na configuração internacional, refletindo nos negócios Brasil-UE. Isso acabou por 
esfriar um pouco as relações entre União Europeia e Mercosul, somente retomada no Governo Dilma.
No mesmo período, o Brasil figurava como uma das 10 maiores economias do mundo, abrindo 
muito mais possibilidades de parcerias. Tais parcerias são oriundas da visão brasileira, fomentada 
desde o início do século XX, de que é possível buscar insumos para o desenvolvimento nacional com 
parcerias estrangeiras.
Ainda no Governo Dilma, em 2013, houve a VI Cúpula Brasil-UE, que alicerçou as bases para a 
expansão de investimentos brasileiros no bloco europeu. Porém, nem tudo vai às mil maravilhas Os 
acordos são feitos em diversas áreas, desde educação até tecnologia. Mas é no âmbito comercial que 
residem as maiores dissonâncias entre o país e o bloco.
128
Unidade III
Ainda existe grande resistência por parte de países europeus, encabeçados pela França, aos acordos 
com os sul-americanos. O acordo Mercosul-UE está sendo negociado há 20 anos e ainda não se 
concretizou. A União Europeia espera que haja afrouxamento em temas como compras governamentais, 
propriedade intelectual, serviços, investimentos e disposições sobre o desenvolvimento sustentável. Por 
parte dos países da América do Sul, encabeçados pelo Brasil, espera-se que haja maior compreensão em 
relação ao mercado agrícola.
Entretanto, “a parceria estratégica Brasil-UE é o reconhecimento do novo perfil brasileiro no sistema 
internacional e regional. A UE sabe que não pode desprezar global players emergentes, entre eles o 
Brasil” (CONSIDERA, 2016b, p. 137).
Segundo o Ministério das Relações Exteriores(BRASIL, 2012), a União Europeia é um bloco que hoje 
integra 27 países, sendo que seus pilares do processo de integração datam desde a década de 1950. 
A necessidade dos países em relação a matérias-primas, por conta do alto grau de industrialização 
deles, é um dos pontos de partida dessa integração. O Brasil figura como um dos maiores fornecedores de 
bens agrícolas para o bloco europeu.
Vale ressaltar que a qualidade de vida dos países que compõem o bloco é, em sua maioria, bem 
elevada. Contudo, não é homogênea dada a diversidade de países. A taxa mais elevada figura em 
Luxemburgo, enquanto a mais baixa na Bulgária. O crescimento do PIB dos países do bloco acontece de 
forma mais acentuada nos países que aderiram ao bloco em 2004.
Por conta da sua história única, as características da organização são bastantes específicas. Isso não 
altera o fato de que seus membros são Estados soberanos, mas a decisão de renunciarem a alguma parte 
dessa soberania que lhes é característica em prol de um caminho comum com seus vizinhos é que se 
destaca na organização.
Portanto, o bloco tem Poder Legislativo, Executivo e Judiciário independentes. Essa distribuição de 
poder foi revista com o Tratado de Lisboa, em 2009, modernizando a organização de acordo com as 
demandas que os tempos atuais trazem consigo. Assim, o bloco tem como destaque o Parlamento 
Europeu, o Conselho Europeu e o Conselho da União Europeia.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a União Europeia, veja o site oficial:
Disponível em: https://cutt.ly/UYrIH92. Acesso em: 1º dez. 2021.
A União Europeia é membro de diversas organizações de projeção global. No campo do comércio, 
vale destacar que o bloco faz parte da OMC e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação 
e a Agricultura (FAO). Porém, merece atenção o fato de que o bloco em si não é um membro muito 
ativo, em comparação com os seus Estados-membros que também figuram como membros das 
outras organizações.
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DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
No FMI, a União Europeia ocupa a posição de membro observador. Já no âmbito do livre-comércio, o 
bloco regional tem diversos acordos bilaterais com países como México e Chile, além do Brasil.
Após a crise de 2008 nos Estados Unidos, houve reflexos na União Europeia, sendo o efeito mais 
significativo a crise da zona do euro. A recessão no ano de 2009 contou com uma retração de 4,2%. 
Porém, com a adoção de medidas por parte de autoridades econômicas do bloco, junto com medidas 
dos governos nacionais, a partir de 2013 o bloco foi se recuperando da crise.
O bloco do Velho Continente é um grande importador de frutas, carnes e café brasileiro. Possui 
diversas políticas sobre questões ambientais e energéticas. Contudo, é um dos maiores importadores 
de energia elétrica, pois tem capacidade inferior de produção energética em relação ao que consome. 
O setor industrial é um dos mais importantes. O país que mais contribui para o índice de industrialização 
do bloco é a Alemanha, seguido por França e Itália. O Reino Unido, quando era parte do bloco, também 
figurava nessa lista. Esse setor representa cerca de 80% das exportações comunitárias. O destaque 
fica para a indústria automobilística, que coloca a União Europeia como o maior produtor de veículos 
a motor do mundo. Ademais, esse setor emprega uma ampla gama de profissionais qualificados e é 
impulsionado por tecnologia e inovação.
Outro setor que merece destaque no bloco é o agroalimentar. São mais de 300 mil empresas – entre 
alimentos e bebidas – que representam o dinamismo do bloco. O bloco possui um setor químico que 
também merece destaque.
Talvez pela grande contribuição na história do mundo, a Europa tem um aquecido setor de turismo, 
que só arrefeceu recentemente por conta da pandemia global que vivemos. É tão interessante esse 
setor para o bloco que é explorado tanto no âmbito público como no âmbito privado. É esse setor que 
emprega a maior quantidade de jovens no continente. Mesmo depois da crise do euro, essa moeda ainda 
é muito forte. Em circulação desde 2002, ainda é referência quando se trata de finanças globais.
Quando falamos em comércio global, o bloco é responsável por grande fluxo comercial, tanto 
intrabloco quanto extrabloco. Não obstante, é grande importador de produtos básicos e bens 
intermediários, como combustíveis e lubrificantes, máquinas e aparelhos mecânicos, bem como 
autopeças, por exemplo.
No que tange às exportações do bloco, percebe-se que a União Europeia é grande exportadora de 
itens manufaturados de alto grau tecnológico, como produtos farmacêuticos, por exemplo.
O intercâmbio comercial com o Brasil é significativo. Como vimos no início desta unidade, a União 
Europeia está entre os cinco maiores fluxos comerciais dos primeiros quatro meses do ano de 2021 da 
balança comercial brasileira.
Desde o início do século, o Brasil exportou para o bloco grande quantidade de minérios, café, farelo 
de soja, combustíveis e máquinas mecânicas. Já os principais produtos que importamos do bloco foram, 
majoritariamente, produtos manufaturados.
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Unidade III
O Brexit – nome dado ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia – foi um duro golpe 
na estrutura do bloco. Contudo, isso abriu caminho para que o Reino Unido buscasse espaço com outros 
países para suprir as relações comerciais que foram impactadas com a saída do bloco.
 Saiba mais
A literatura sobre o Brexit é nova, mas é extensa. Para melhor 
compreender tal processo, ver:
SCRUTON, R. Brexit: origens e desafios. Rio de Janeiro: Record, 2021.
Figura 37 – Brexit, destinos diferentes
Disponível em: https://bit.ly/3xcoYBu. Acesso em: 22 nov. 2021.
O Brasil sabe do potencial comercial que o Brexit pode oferecer ao mundo e, inclusive, o Guia de 
Comércio Exterior e Investimento (Invest & Export Brasil) apresenta uma plataforma com informações 
sobre todas as mudanças decorrentes desse processo europeu. Essa plataforma tem seu foco no setor 
privado brasileiro, em especial os exportadores, com estudos e dados sobre os impactos dessa mudança, 
bem como informações sobre licenças, declarações e ferramentas para o processo comercial.
 Saiba mais
Para consultar o guia, acesse:
Disponível em: https://cutt.ly/sYrOjEx . Acesso em: 1º dez. 2021.
131
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Atualmente, algumas questões ambientais foram pauta de discussão sobre investimentos da 
União Europeia em relação ao Brasil, demonstrando o intercâmbio de questões econômicas, políticas 
e ambientais, algo que é oriundo dessa nova dinâmica diplomática na qual a diplomacia econômica 
está inserida.
8 O BRASIL E OS MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA: ÁSIA E ÁFRICA
Embora haja grande destaque para os países europeus e norte-americanos, seria leviano não dar 
devida importância à Ásia e à África. Grandes economias contemporâneas como Rússia e China são de 
extrema relevância para as relações internacionais. Com menos destaque, porém não menos importantes, 
países africanos também ganham cada vez mais espaço na sociedade internacional.
Portanto, estudaremos nesta unidade as relações econômicas do Brasil com a Rússia e o Leste 
Europeu, países asiáticos, africanos e o Oriente Médio.
8.1 O BRICS e sua importância para a diplomacia econômica
Não é possível falar de diplomacia econômica nessa região do globo sem falar no BRICS. Antes de 
falarmos de Ásia e África, é importante fazer algumas considerações sobre esse bloco.
Segundo Considera (2016a), o BRICS nada mais é do que o resultado da necessidade de prover os 
investidores globais de informações. Dessa forma, análises, perspectivas futuras projetadas através de 
indicadores da economia global, bem como grandes corporações e agências de risco, buscam alternativas 
para diversificar e otimizar os investimentos.
 Observação
Uma agência de risco é uma empresa especializada em avaliar o 
risco de organizações públicas e privadas no que tange às garantias para 
a obtenção de crédito. Algumas também medem o risco

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