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Diplomacia Economica das RI - Unidade II

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65
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Unidade II
Depois de compreender um pouco dessa nova realidade econômica no século XX, vamos entender 
como um acordo internacional que funcionou como organização e uma organização internacional 
colocaram o comércio em primeiro plano quando se fala em diplomacia.
Para tal, é de suma importância que compreendamos suas origens, diretrizes, bem como seu contexto 
e seu impacto na economia mundial.
5 O DESENVOLVIMENTISMO E A CRIAÇÃO DA UNCTAD
Embora seja muito interessante esse viés econômico que molda as relações internacionais, vimos, 
até agora, como esse modelo é acomodado a partir da vontade de grandes potências. Entretanto, o 
mundo não é composto somente por elas; em sua maioria, os países estão bem longe de atingirem 
o desenvolvimento econômico pleno.
Exatamente por isso vamos estudar como as novas relações que surgem a partir da ascensão da 
economia como elemento diplomático afetam os países menos desenvolvidos. Para tal, vamos falar 
da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, a UNCTAD. Ela foi criada em 
1964 e tem como objetivo exatamente fomentar um melhor desenvolvimento dos países através de 
uma eficiente integração econômica global.
 Observação
UNCTAD é a sigla em inglês para United Nations Conference on Trade 
and Development. Comumente, mesmo na língua portuguesa, é utilizada a 
sigla em inglês para se referir à organização. Outra ressalva é que, embora 
tenha a palavra conferência em seu nome, a UNCTAD funciona como uma 
organização internacional.
5.1 O desenvolvimento do desenvolvimentismo
Habitualmente, ao nos referirmos a grandes potências, nós utilizamos a expressão países 
desenvolvidos, e, aos que não estão no mesmo patamar, utilizamos não desenvolvidos. Dessa forma, 
é necessário entender o que significa esse desenvolvimento. E é justamente isso que veremos: como o 
desenvolvimento se tornou elemento central das relações entre Estados e atores não estatais, a ponto 
de uma organização do porte da UNCTAD ser criada para tal finalidade.
66
Unidade II
5.1.1 O conceito de desenvolvimento
Antes de mais nada, vale uma atenção à palavra desenvolvimento. Ela refere-se a crescimento, 
progresso. Em termos econômicos, está diretamente relacionada aos progressos que determinado país 
atinge nessa área. Contudo, os elementos que compõem tal crescimento estão ligados à produção 
industrial e, devido à interdependência entre os países, ao comércio internacional.
A palavra em si é tão significativa que mudanças etimológicas aconteceram. Durante a Guerra Fria, 
especificamente em meados dos anos 1950, foi amplamente utilizada a classificação em mundos, sendo 
que os países desenvolvidos faziam parte do Primeiro Mundo, enquanto os não desenvolvidos eram 
classificados como Terceiro Mundo.
Não obstante, vemos aqui: desenvolvidos e não desenvolvidos. Destarte, também foi utilizada a 
denominação subdesenvolvidos. Contudo, a classificação não é clara, de modo que comumente vemos 
países não desenvolvidos sendo referenciados como subdesenvolvidos.
Porém, dadas as mudanças na sociedade, embora o caráter econômico seja extremamente relevante, 
o desenvolvimento de um país passa a ser medido por um conjunto de fatores que transcendem as 
questões econômicas e financeiras. Um exemplo disso é que, dessa forma, a classificação de países 
corresponde a critérios econômicos e sociais, sendo que situações como um padrão de vida baixo 
atrelado a uma precária base industrial levam determinado país a ser classificado como subdesenvolvido 
ou em desenvolvimento.
De qualquer forma, o intuito aqui é elucidar como a palavra desenvolvimento é demasiadamente 
importante para os estudos da diplomacia econômica.
Em relação às classificações, elas mudam de acordo com a agência ou organização internacional que 
faz esse arranjo. Não é incomum um país figurar em uma lista, quando classificado pela ONU, e em outra 
diferente, quando classificado pelo FMI. A disputa aqui, em nosso exemplo hipotético, reside no caráter 
da organização: uma com claro viés econômico, outra com um peso maior no âmbito social.
Contudo, a partir dos anos 1990, uma nova forma de classificação dos países passou a ser utilizada 
em larga escala: o índice de desenvolvimento humano (IDH). Segundo o PNUD Brasil (2021), o IDH nasceu 
a partir da preocupação com questões sociais. Esse índice amplia a concepção de que crescimento e 
desenvolvimento são medidos somente com critérios econômicos, trazendo uma abordagem voltada 
para as pessoas. Desse modo, a renda de uma pessoa é compreendida como um meio e não como um fim.
 Observação
O índice de desenvolvimento humano (IDH) é um indicador que mede 
o desenvolvimento de um país não somente em termos financeiros, mas 
também com aspectos humanos, como expectativa de vida e educação.
67
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Historicamente, o IDH foi criado pelo economista indiano Amartya Sen e pelo economista 
paquistanês Mahbub ul Haq, e desde 1993 esse índice tem sido usado em larga escala.
A formação dessa medida é composta de três aspectos: renda, educação e saúde. Logo, o IDH funciona 
como uma espécie de contraponto ao produto interno bruto (PIB), pois esse indicador considera somente 
o aspecto econômico para mensurar o desenvolvimento de uma nação. Contudo, vale ressaltar que um 
indicador não supera o outro, pois ambos são oriundos de perspectivas diferentes.
Em relação ao IDH, na perspectiva educacional, a preocupação se dá com a média de anos em 
relação à educação de adultos, bem como com a expectativa de anos de estudo das crianças. Já no 
campo da saúde, o alicerce se dá na longevidade da população, uma vez que tal conta considera as 
taxas de natalidade, mortalidade, violência etc. Finalmente, no campo econômico, a renda per capita é 
o objeto mensurável. A conta é simples: divide-se a renda nacional pelo número de habitantes – como 
não poderia deixar de ser, ela é medida em dólar.
> 0.900
0.850-0.899
0.800-0.849
0.750-0.799
0.700-0.749
0.650-0.699
0.600-0.649
0.550-0.599
0.500-0.549
0.450-0.499
0.400-0.449
< 0.399
Dado indisponível
Figura 17 – IDH (2020)
Disponível em: https://bit.ly/3HJOhzJ. Acesso em: 22 nov. 2021.
Assim como em todos os campos das ciências, esse índice também sofre críticas. A primeira delas 
reside no fato de que ele não mensura desigualdades, pois a concentração de renda pode distorcer 
resultados. Ademais, em uma ditadura, números econômicos, por exemplo, podem ser prósperos em um 
ambiente sem liberdade, impactando diretamente na qualidade de vida populacional, mas elevando o 
IDH. Também não há nenhum tipo de indicador sobre meio ambiente.
Agora que percebemos a importância da palavra desenvolvimento nas relações entre os atores 
globais, é possível compreender a dimensão do que vem a ser o desenvolvimentismo.
68
Unidade II
5.1.2 O desenvolvimentismo
O desenvolvimentismo é um conceito. Isso acarreta algumas coisas. A primeira delas é que, de fato, a 
economia se torna um pilar do progresso de uma nação. Consequentemente, a base industrial bem como 
o crescimento econômico e a solidez financeira se tornam o objetivo a ser atingido por praticamente 
todas as nações. Tal perspectiva corrobora com a nossa análise: cada vez mais a economia tem se 
tornado relevante no cenário global, sem deixar de lado outras áreas da sociedade.
Segundo Fonseca (2015), o termo desenvolvimentismo refere-se a um pensamento – no sentido de 
corrente de pensamento – e também a um leque de políticas econômicas. Sendo assim, é interessante 
compreender o desenvolvimentismo a partir de sua conceitualização – o campo das ideias – em uma 
aplicação em eventos históricos para se analisar a sua eficiência. Isso porque, para as ciências humanas, 
a teoria é um instrumento para formular e testar hipóteses.
A justificativa dessa dualidade conceitual – diálogo entre um conceito do campo das ideias com a 
realidade – reside no fato de que tal política econômica (seé que se pode classificar somente como tal) 
teve sua ampla divulgação e aplicação principalmente em governos da América Latina em meados do 
século XX. Contudo, vale ressaltar que, embora o fenômeno tenha ganhado ampla projeção a partir das 
experiências do Cone Sul, suas origens são europeias.
Entretanto, não dá para afirmar que é simplesmente uma cópia de modelos europeus. Isso porque, 
em sentido oposto ao que foi o liberalismo, o desenvolvimentismo foi uma resposta justamente ao 
atraso econômico latino-americano em relação à Europa e a países do hemisfério norte em geral. Nessa 
dinâmica, as políticas desenvolvimentistas foram estratégias nacionais que visavam à superação dessas 
dificuldades e de desigualdades econômicas. Por esse motivo não se pode considerá-las meramente 
como uma cópia do modelo europeu. Dessa forma, o conceito só faz sentido junto a sua prática.
Isto posto, tem-se elementos suficientes para a seguinte formulação: 
entende-se por desenvolvimentismo a política econômica formulada e/ou 
executada, de forma deliberada, por governos (nacionais ou subnacionais) 
para, através do crescimento da produção e da produtividade, sob 
a liderança do setor industrial, transformar a sociedade com vistas a 
alcançar fins desejáveis, destacadamente a superação de seus problemas 
econômicos e sociais, dentro dos marcos institucionais do sistema capitalista 
(FONSECA, 2015, p. 40).
Assim sendo, podemos perceber a abrangência de sua definição. Quando se fala em política 
econômica, a conceitualização debruça-se sobre experiências históricas; afinal, política só é política 
quando acontece. Nessa ótica, percebe-se que existe um intervencionismo estatal, pois o Estado é 
elemento central ao definir e executar tal política. No que tange a sua formulação, podemos perceber 
a materialidade do conceito. Isso porque às vezes ela foi formulada, porém não foi executada ou, até 
mesmo, executada sem atingir os objetivos desejados.
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DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 18 – Indústria, o símbolo do desenvolvimentismo
Disponível em: https://bit.ly/3l1Eew9. Acesso em: 22 nov. 2021.
Outro aspecto bastante interessante reside no fato de ser uma ação deliberada. Nessa perspectiva, 
fica explícita a consciência e a intenção dessa política. Assim sendo, nesse momento, percebemos a 
subordinação da economia à política, pois sua formulação não acontece no mercado, mas sim nas 
esferas governamentais.
O agente formulador de uma política desenvolvimentista é um governo – formulador e executor. 
Então outro conceito entra em cena: a nação, pois é nela o foco da política. Consequentemente, os 
objetivos de crescimento de produção e produtividade vão ser impactados justamente nessa nação.
Segundo Bresser-Pereira (2017), nação é uma sociedade que tem algo em comum em relação 
a sua história e destino. Normalmente conta com um território e um Estado, formando, assim, um 
Estado-nação.
 Saiba mais
Para saber mais sobre Estado, nação e Estado-nação, ver:
BRESSER-PEREIRA, L. C. Estado, Estado-nação e formas de intermediação 
política. Lua Nova, São Paulo, n. 100, p. 155-185, jan. 2017. Disponível em: 
https://bityli.com/R5A7Ch. Acesso em: 26 nov. 2021.
Contudo, embora vejamos tais características na definição de desenvolvimentismo, não se pode 
esquecer do foco – e até mesmo como meio para se atingir determinado fim – dessa política: o setor 
industrial. Isso se dá pela convicção do modelo de que, para superar as dificuldades e os gargalos 
70
Unidade II
econômicos, a modernização através do progresso técnico do setor industrial é o que vai gerar frutos 
para melhorar outros aspectos e setores da sociedade.
Todavia, quando se fala em fins desejáveis, o conceito remete ao campo das ideias. Isso porque são 
incorporados valores nessa busca por um futuro melhor, como melhores padrões de vida. Entretanto, 
isso também varia de país para país. Dessa forma, é comum conceitos como democracia, cidadania, meio 
ambiente ou até mesmo desenvolvimento sustentável aparecerem e justificarem tais políticas.
Já problemas econômicos e sociais referem-se a questões de baixa produtividade, desigualdade 
regional, problemas na saúde e na educação e concentração de renda. É uma perspectiva material do 
conceito atrelada ao sistema capitalista, sendo que tal aspecto da definição reforça a existência da 
propriedade e da iniciativa privada, elementos de formação de preços no mercado, mesmo que o Estado 
esteja presente.
Desse modo, percebemos que o desenvolvimentismo tem características do modelo liberal, mas com 
a intervenção estatal como elemento que vai guiar as relações de mercado. O mercado continua sendo o 
mercado, mas diferentemente do liberalismo, com a famosa mão invisível de Adam Smith, o Estado tem 
papel central em conduzir essa economia da melhor maneira possível, sem minar as relações e processos 
naturais desse mercado.
Da mesma forma que muitas teorias são reformuladas e repensadas para novas realidades que 
se desdobram nas relações humanas, o desenvolvimentismo também passa por reformulações, dando 
origem ao novo desenvolvimentismo. Diante de tal mudança, ainda podemos pensar na divisão de Fonseca 
(2015): mesmo que haja duas esferas no conceito, atualizar a teoria para novo desenvolvimentismo 
também impacta nessa dualidade. Isso porque, ao passo que a teoria é reformulada, ela também está 
diretamente ligada às políticas que de fato ocorrem.
5.1.3 O novo desenvolvimentismo
Segundo Mollo e Fonseca (2013), o novo desenvolvimentismo está relacionado ao crescimento 
de um país, não somente compreendendo o crescimento da produção, mas sendo atrelado às 
mudanças estruturais que permitam que esse modelo de crescimento seja sustentável no longo prazo, 
proporcionando melhorias do ponto de vista da distribuição.
O chamado “novo desenvolvimentismo” é justificado, por seus defensores, 
a partir de políticas macroeconômicas diferenciadas, mas a concepção 
desenvolvimentista que une antigos e novos defensores tem raízes teóricas 
comuns (MOLLO; FONSECA, 2013, p. 223).
Os autores defendem que o desenvolvimentismo vem carregado de alguns elementos, como a 
industrialização. Contudo, traz consigo o intervencionismo em prol do crescimento nacional, bem como 
um nacionalismo embutido. Esse nacionalismo figuraria como uma espécie de justificativa para delimitar 
o capital estrangeiro, com este sempre estando subordinado ao capital nacional.
71
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Contudo, surge uma nova forma de analisar essa política econômica. Inicialmente, a inquietação 
reside no fato de o desenvolvimentismo estar sempre associado à irresponsabilidade fiscal ou até mesmo 
à preocupação inflacionária. O desenvolvimentismo chega até a ser equiparado ao populismo. Diante 
dessas questões, autores passam a repensar o conceito e analisar de forma mais profunda tais relações; 
o modelo é visto, assim, como atrasado ou ultrapassado.
Como vimos anteriormente, o desenvolvimentismo figura como uma corrente de pensamento, 
bem como políticas econômicas que podem ser estudadas em perspectiva histórica. Então, quando 
falamos em novo desenvolvimentismo, é necessário que, para compreender o fenômeno em toda a sua 
amplitude, ele seja contextualizado. Assim sendo, a nova realidade do século XXI é o pano de fundo 
desse novo desenvolvimentismo.
Portanto algumas das características do novo desenvolvimentismo estão atreladas à nova conjuntura 
internacional. Por conseguinte, deve ser levado em conta nesse novo modelo o fortalecimento do 
Estado, no que tange à parte administrativa e política, ofertando condições de competitividade para as 
empresas nacionais concorrerem internacionalmente.
Para tal, é necessário expandir o investimento e direcionar a economia para as exportações. Ademais, 
é necessário diminuir as taxas de juros, bem como alinhar o câmbio para que este sirva de apoio à 
competitividade das empresas no mercado global.
É aí que reside uma grande diferença entre asóticas desenvolvimentistas: a taxa de câmbio. 
Diferentemente do antigo desenvolvimentismo, que visava em demasiado ao mercado interno, o novo 
conceito defende a ideia de que essa política também deve ser orientada para as exportações. Assim, 
pode-se afirmar ser essa nova perspectiva um modelo exportador que deve aproveitar as vantagens locais.
Figura 19 – O novo desenvolvimentismo deve estar voltado para a exportação
Disponível em: https://bit.ly/3oXrwzU. Acesso em: 22 nov. 2021.
72
Unidade II
Bresser-Pereira, Oreiro e Marconi (2016) também têm uma nova proposta para o desenvolvimentismo. 
Segundo os autores, o novo desenvolvimentismo está ligado a repensar uma nova macroeconomia. 
Em vista disso, o papel dos mercados é decisivo nessa nova perspectiva, mas, ao mesmo tempo, há 
ressalvas ao liberalismo clássico.
Nessa perspectiva, o crescimento é oriundo da demanda, mas com um porém: é necessária uma 
mudança estrutural aliada a uma estratégia nacional para o desenvolvimento, combinando e equilibrando 
a coordenação tanto pelo mercado quanto pelo Estado. Assim, elementos como taxa de câmbio, déficit 
e superávit estão presentes na concepção dessa política.
Ao mesmo tempo, os autores são críticos das teorias clássicas porque elas não foram pensadas 
no – e para o – contexto dos países em desenvolvimento, justamente aqueles que são o palco do 
desenvolvimentismo. As teorias anteriores estavam direcionadas para outros modelos e estágios 
de desenvolvimento econômico, não dando conta das complexidades da contemporaneidade.
O novo desenvolvimentismo entende o desenvolvimento econômico como 
sofisticação produtiva, desenvolvimento humano ou progresso no processo 
histórico, através do qual as sociedades modernas buscam se aproximar dos 
cinco objetivos políticos das sociedades modernas: segurança, liberdade 
individual, bem-estar econômico, justiça social e proteção do ambiente 
(BRESSER-PEREIRA; OREIRO; MARCONI, 2016, p. V).
Vale um destaque: o papel da justiça social como objetivo do novo desenvolvimentismo. Esse aspecto 
reflete muito bem o intuito das novas formas de se pensar a economia política. Mesmo que falemos de 
economia, ela não é um campo isolado; ela molda e é moldada por outras áreas, a ponto de questões não 
diretamente relacionadas com economia serem relevantes justamente para a economia. Ainda, segundo 
os autores, esse novo desenvolvimentismo pode ser chamado de macroeconomia desenvolvimentista.
 Observação
Macroeconomia é um termo que se refere a uma das vertentes das 
ciências econômicas que se dedica ao estudo das economias em escala 
global, através da relação de diferentes setores, como renda, preços, PIB, 
taxa de juros etc. É um estudo geral, enxerga a economia como um todo 
individual, ou seja, estuda a economia dos países.
Assim sendo, há algumas considerações interessantes sobre o tema. A primeira delas reside no fato 
de que, nessa ótica, a taxa de câmbio dos países em desenvolvimento deve ser considerada a longo 
prazo. Ademais, para funcionar, devem ser considerados como variáveis macroeconômicas a taxa de 
câmbio, os déficits em conta corrente e a taxa de lucro, estes ocupando o lugar da taxa de juros e dos 
déficits públicos como elementos de medidas macroeconômicas. Isto posto, os autores defendem que 
existem cinco elementos, chamados “preços macroeconômicos”, que o mercado não tem como regular 
ao certo, dadas as suas próprias características. São eles: taxas de inflação, salários, câmbio, juros e lucro.
73
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Além dessas características, outro ponto interessante nessa nova perspectiva é a diferenciação 
entre valor e preço da taxa de câmbio. Isso porque, nos países em desenvolvimento, alterações no 
preço do câmbio impactam na realidade econômica muito além da sua precificação, alterando o valor 
de determinada situação, uma vez que o benefício proporcionado pode estar em desacordo com o 
preço praticado.
O foco em demasiado na taxa de câmbio como elemento central para o novo desenvolvimentismo na 
visão dos autores se dá para superar o paradoxo conhecido como doença holandesa. Pode ficar calmo, 
caro aluno, que não tem a ver com nenhuma patologia biológica, mas, sim, com uma questão econômica.
Doença holandesa é um termo utilizado na economia que se refere à exportação de produtos primários 
e recursos naturais que ocasiona um declínio na produção de manufaturas em um determinado país. 
Logo, a abundância de recursos naturais tende a atrapalhar o desenvolvimento de um país. Partindo do 
pressuposto de que os autores utilizam como referência o caso brasileiro, é mais do que conhecida nossa 
condição de primário-exportador, com um parque industrial aquém de todas as potencialidades.
Essa teoria critica os endividamentos externos, pois busca o equilíbrio em mudanças estruturais. Ao 
mesmo tempo, é crítica também aos investimentos diretos estrangeiros que não trazem, de fato, saldo 
em conta ao país e somente fomentam o consumo, proporcionando a saída de divisas do país.
E, finalmente, essa perspectiva não admite que a diferença de capitais entre países desenvolvidos e 
não desenvolvidos seja a causa de problemas de crescimento, mas, sim, os endividamentos externos e as 
estratégias governamentais que ocasionam problemas cíclicos.
5.1.4 O desenvolvimentismo no Brasil
Se o desenvolvimentismo é uma corrente que ganha força na América Latina, o Brasil também 
teve seus momentos desenvolvimentistas. Segundo Gennari e Oliveira (2009), o desenvolvimentismo 
brasileiro está relacionado com um ímpeto inicial de um surto industrial que ocorria no país desde os 
anos finais do século XIX até as três primeiras décadas do século XX.
Esse processo era mais intenso no Sudeste, especificamente no eixo Rio-São Paulo. Isso se deve 
ao fato de essa região ser o polo exportador do principal produto brasileiro: o café. Ademais, esse 
período coincide com um rápido processo de urbanização, fomentando um setor industrial direcionado 
à produção de bens de consumo populares, pois os produtos importados eram muito caros para a época. 
Então é nos setores têxtil e de alimentos que temos nossas primeiras experiências sobre a indústria.
Vale ressaltar que esse período coincide com a recém-proclamada República (1889) e a abolição da 
escravidão (1888), alterando definitivamente as estruturas sociopolíticas e econômicas.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, por conta de maiores dificuldades nos processos de 
importação ocasionadas pelo conflito europeu, o Brasil acaba por expandir o seu setor industrial. Porém, 
paradoxalmente, teve dificuldades em atualizar o parque tecnológico por conta da dependência de 
74
Unidade II
tecnologias estrangeiras. Mesmo assim, esse ímpeto industrial sempre esteve acompanhado e atrelado 
às necessidades do setor agroexportador, pois o Brasil é um país primário-exportador.
Após a Crise de 1929, as tendências comerciais foram repensadas, como vimos anteriormente. 
Diante de uma grande instabilidade externa, cresceu um ímpeto de esforço nacional em diversos países. 
Assim sendo, acontece o retorno de ideias nacionalistas – em alguns casos, de maneira extrema, como o 
nazifascismo na Alemanha –, voltadas, principalmente, para o desenvolvimento econômico.
No Brasil, foi após a ascensão de Getúlio Vargas em 1930 que a ideologia nacionalista se uniu à 
defesa da industrialização através do desenvolvimentismo, uma das marcas do Estado Novo. Segundo 
Bresser-Pereira, Oreiro e Marconi (2016), o pensamento que orientou a maioria dos desenvolvimentismos 
que aconteceram na América latina foi o desenvolvimentismo clássico. Contudo, houve o intervalo de 
alguns momentos liberais, no período de 1930 até 1990.
Alguns autores afirmam que o desenvolvimentismo se deu no Governo Juscelino Kubitschek (JK), 
1956-1961, com o famoso Plano de Metas, voltado ao desenvolvimento. Contudo, sem as bases da 
industrialização lançadas no primeiro Governo Vargas (1930-1945) e até mesmo na sua continuação(1951-1954) não seria possível falar em desenvolvimentismo. Exatamente por isso alguns autores 
defendem que esse modelo político acontece no Governo Vargas, tendo o processo de substituição de 
importações como um marco, enquanto outros afirmam que efetivamente o projeto desenvolvimentista 
entra em prática no Governo JK. Vale ressaltar, também, que esse viés desenvolvimentista, carregado de 
um forte nacionalismo, ainda foi largamente utilizado durante determinados momentos no período dos 
regimes militares.
Segundo Pires (2010), a chegada de Vargas ao poder, no início da década de 1930, foi um divisor de 
águas para a política e a economia brasileira. Isso pelo fato de que a oligarquia cafeeira foi questionada, 
abrindo uma lacuna, pois nenhum setor dominante tinha plena capacidade de afirmar sua proeminência.
Figura 20 – Getúlio Vargas visita a empresa Indústrias Reunidas Ferro e Aço (IRFA)
Disponível em: https://bit.ly/3qXAuPZ. Acesso em: 22 nov. 2021.
75
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Porém, a partir de 1937 alinham-se diferentes fatores, como a nova Constituição, a moratória 
decretada pelo governo e uma política externa mais independente, trazendo maior controle do Estado 
na economia, inclusive controlando de forma mais rígida o câmbio.
Algumas medidas foram voltadas ao desenvolvimento interno. Um marco foi a prioridade da 
construção de uma siderúrgica nacional, bem como a reestruturação de alguns órgãos de regulação, 
como o Conselho Nacional do Petróleo em 1938. “A ideia central do governo consiste em promover a 
criação das chamadas indústrias básicas, a execução de obras públicas produtivas e o aparelhamento da 
defesa nacional” (PIRES, 2010, p. 74).
Dessa forma, caracteriza-se o período como um marco pela priorização da indústria de base, 
o desenvolvimento de transportes e até mesmo a introdução do famoso salário mínimo. Obviamente, o 
problema eram as altas cifras necessárias para tais projetos, e a solução foi buscada no investimento 
estrangeiro.
Outro grande desafio foi o fato de que, para que houvesse uma indústria de bens de consumo 
nacional, era necessário investir no parque tecnológico. Sendo assim, não havia outra opção a não ser 
importar o maquinário de produção, outro desafio à proposta desenvolvimentista. A solução somente 
acontece nos alinhamentos por conta da guerra, pois até então o Brasil mantinha um relacionamento 
com a Alemanha, mas, com o início da Segunda Guerra Mundial e a entrada dos Estados Unidos no 
confronto, o Brasil acaba por ser alinhar com os norte-americanos.
Em termos de diplomacia econômica e desenvolvimento no Brasil, um dos marcos é o Processo de 
Substituição de Importações (PSI). Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2017), essa política 
adotada no Governo Vargas teve profundos impactos na industrialização brasileira.
O primeiro ponto dessa política reside no fato de que é um processo de industrialização fechada, ou 
seja, atende o mercado interno, não produzindo para exportar. Outra característica é que essa indústria 
só se expande por conta das medidas adotas pelo governo para proteger a indústria nacional frente à 
concorrência externa.
Seu processo se dá através do chamado “estrangulamento externo”, ou seja, a redução do valor das 
exportações. Isso gera uma escassez de divisas que pode ser superada através de medidas protecionistas, 
aumentando a competitividade e a rentabilidade na produção interna. Assim, ocorre uma onda de 
investimentos nos setores que substituem as importações, fazendo com que a produção interna exerça 
o papel antes atribuído às importações, gerando renda e demanda agregada.
Contudo, vale ressaltar que esse estrangulamento externo deveria ser regular e relativo, pois sem 
controle acabaria por gerar desequilíbrios por conta de que o desenvolvimento da indústria segue seu 
ritmo próprio nos diferentes setores. Por isso foram adotadas etapas nesse processo.
76
Unidade II
Inicialmente, foram contemplados os setores de bens de consumo não duráveis, como têxteis, 
calçados, alimentos etc. Depois, foi a vez dos bens de consumo duráveis, como os eletrodomésticos e 
automóveis. Em terceiro lugar, os bens intermediários, como ferro, aço, cimento, petróleo etc. Finalmente, 
os bens de capital, como as máquinas e equipamentos.
Os mecanismos de proteção à indústria nacional nesse período foram: desvalorização real do câmbio, 
aumentando, assim, os preços dos produtos importados frente aos nacionais; controle de câmbio, 
estabelecendo um sistema de licenças para importações, provocando uma redução nas importações; 
taxas múltiplas de câmbio, no intuito de diversificar a atuação do governo nos diferentes setores 
industriais; elevação de tarifas aduaneiras, buscando, assim, reduzir o número de importações.
Percebe-se por essa breve descrição que, de fato, temos uma maior atuação do Estado na 
economia, buscando proteger a indústria nacional frente às concorrentes estrangeiras, estimulando, 
assim, o crescimento interno. Portanto tais características se encaixam nas definições do conceito 
de desenvolvimentismo.
Outro período que é consenso entre os autores sobre o desenvolvimentismo no Brasil são os 
anos do Governo JK. Segundo Silva e Riediger (2016), esse governo tem algumas características 
relevantes. Primeiramente, foi um processo eleitoral de eleição tranquila, mas de posse conturbada, 
por conta da doença do antecessor; teve um viés de um pragmatismo populista junto de um 
paradigma desenvolvimentista.
Contudo, o contexto dos anos 1950 é de extrema relevância. Falamos da chegada da televisão, do 
novo papel da mulher na sociedade, com o “trabalho fora do lar”, bem como da rápida modernização dos 
meios de comunicação em massa, com a ampliação do alcance do rádio e o crescimento da publicidade. 
Ademais, ocorre grande modificação na paisagem urbana, com a construção de novos edifícios e largas 
avenidas – sinal de crescimento.
Assim, a questão do crescimento econômico acaba ficando por conta do famoso Plano de Metas de JK. 
Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2017), foi uma planificação da economia brasileira, 
sendo que uma estratégia parecida já tinha sido utilizada tanto na União Soviética como no plano 
New Deal nos Estados Unidos. As premissas do Plano de Metas eram keynesianas. Segundo os autores, 
pode ser considerado como o auge do desenvolvimento do país, bem como de sua modernização e 
industrialização. Por esse motivo, muitos outros autores colocam o período desenvolvimentista a partir 
do Governo JK.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) – ainda sem o S – identificava que havia 
uma grande demanda por bens de consumo que estava reprimida. Isso ficava cada vez mais evidente 
pela concentração de renda nas classes mais altas, bem como pela surgente classe média. Porém não 
havia como investir no setor de bens de consumo, pois era necessário um setor intermediário para tal. 
Então surge o Plano de Metas – que já era estudado desde a década de 1940 –, no intuito de melhorar 
o desenvolvimento do país.
77
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Figura 21 – Presidente Juscelino Kubitschek em uma indústria de Manaus
Disponível em: https://bit.ly/3nGPIXO. Acesso em: 22 nov. 2021.
O plano se constituiu de 31 metas, objetivando o desenvolvimento nacional a partir da industrialização 
e aprofundamento do PSI. Dessa forma, colocar em ação esse plano passava por investimentos em 
empresas estatais, bem como pela concessão de crédito a juros baixos e longa carência por meio do 
Banco do Brasil.
Ademais, era necessário manter o câmbio múltiplo do Governo Vargas, bem como a política de 
reserva de mercado (através da lei do similar nacional), obtidos por ferramentas tarifárias e cambiais. 
Porém sem empréstimos externos era difícil. Assim houve a concessão de avais para tal.
O Plano de Metas enfatizou a expansão e a modernização dos setores de infraestrutura e bens de 
consumo. Foram contemplados os setores de transporte e energia,e a indústria de base e bens de consumo 
(duráveis e não duráveis). Vale o destaque para as indústrias automobilística e de eletrodomésticos, as 
que mais cresceram no período. Não obstante, cabe assinalar que houve estímulo para a entrada de 
indústrias estrangeiras no setor automobilístico.
Para o então presidente da república, a redução da desigualdade passava necessariamente pela 
geração de riquezas através da industrialização. Em vista disso, evidencia-se o desenvolvimentismo: 
maior intervenção do Estado na economia, bem como manutenção do PSI.
78
Unidade II
Ainda segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior (2017), o setor de energia recebeu em 
torno de 43,4% do montante de investimento, o que ficou evidente em grandes obras como Furnas 
ou na expansão da Petrobras, por exemplo. Já o setor de transportes recebeu cerca de 29,6%, com 
foco no reequipamento das estradas de ferro e, principalmente, na pavimentação e construção de 
rodovias. Como o governo havia atraído o investimento de grandes montadoras, foi necessário que 
houvesse, de fato, um direcionamento à modernização da malha rodoviária.
Entre tantos outros aspectos, pensando no desenvolvimentismo, podemos citar como pontos 
positivos dessa política a mudança de paradigma da economia exportadora de café para a indústria 
nacional, com um crescimento do PIB no período na média de 7%, três vezes maior do que o PIB da 
América Latina.
Porém esse desenvolvimentismo não carregava consigo o mesmo nacionalismo que permeava o 
Governo Vargas, e que irá reaparecer no processo desenvolvimentista dos vindouros governos militares. 
Por isso, o plano de JK, muitas vezes, era tido como um projeto de desnacionalização do país, evidenciado 
no aprofundamento da dependência externa.
Ademais, ainda acusaram o plano de favorecer a acumulação de renda, de desequilibrar o 
desenvolvimento e de aumentar a inflação por conta da emissão de moeda.
Talvez o mais evidente nesse período seja a total predileção pelo modelo rodoviário por conta das 
indústrias automobilísticas. Então o modelo de escoamento de produção, inevitavelmente, se tornou o 
rodoviário. Nas crises do petróleo nos anos 1970 ou até mesmo na recente greve dos caminhoneiros 
ficaram evidentes as consequências dessa escolha.
Finalmente, o terceiro período, tido como desenvolvimentista no país, fica no período dos governos 
militares. Entre 1964 e 1967, no Governo Castelo Branco, a economia segue as diretrizes de um 
alinhamento com os interesses estadunidenses. Já no Governo Costa e Silva, entre os anos de 1967 e 
1969, o alinhamento com os Estados Unidos está desgastado, principalmente por conta dos excessos de 
violência por parte do governo brasileiro.
No Governo Médici, nos anos de 1969 até 1974, economicamente o Brasil se posicionava entre o 
Primeiro e o Terceiro Mundo, sendo esse período de maior interesse desenvolvimentista. Contudo, foi 
um período de uma espécie de nacional-autoritarismo, com ênfase em empresas estatais, algumas 
multinacionais, e consolidação de uma burguesia nacional. Embora fosse um Estado socialmente 
conservador e autoritário, havia a necessidade explícita de bom desempenho financeiro e comercial, 
principalmente no âmbito externo, justamente como contrapartida ao conservadorismo social no plano 
interno. O Brasil era visto como uma país que estava prestes a sair da condição de país subdesenvolvido.
O desenvolvimentismo fica explícito no período de Médici. Há grande destaque ao desenvolvimentismo 
nesse período por conta do crescimento econômico, conhecido como Milagre Econômico. Essa alcunha 
se dá pelo fato de que o PIB apresentava taxas elevadas. Contudo, na economia real, os números são 
questionáveis, dada a concentração de renda, o arrocho salarial e as dívidas adquiridas no período.
79
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Já nos anos de 1974 até 1979, com Geisel no poder, o Brasil sofre com as crises do petróleo e, 
finalmente, com o período de Figueiredo, entre os anos de 1979 e 1985, o Brasil vive uma crise econômica, 
principalmente por conta do endividamento externo, e os ânimos se voltam para a redemocratização.
Sendo assim, percebe-se o quanto o conceito de desenvolvimentismo está ligado à história 
econômica do país.
5.2 A criação da UNCTAD
Vamos, agora, estudar a criação da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, 
a UNCTAD.
Segundo a UNCTAD (2021), a globalização foi um processo que fomentou a expansão global do 
comércio, ajudando, assim, que muitas pessoas saíssem da pobreza. Contudo, ainda é insuficiente e 
muitas permanecem em níveis inferiores na escala da economia global.
A visão da UNCTAD é que, através do desenvolvimento de uma economia globalizada, justa e 
eficaz, potencializando uma maior integração econômica, essas diferenças sejam superadas. Para tal, a 
organização trabalha em nível nacional, global e regional.
Assim sendo, sua função é auxiliar e trazer consciência aos países para que saibam quais os desafios 
macroeconômicos a serem enfrentados para que possam desfrutar de uma melhor posição na economia 
global. Propõe que as economias em desenvolvimento fiquem cada vez menos dependentes das 
commodities, algo característico nesses países, que são, majoritariamente, primário-exportadores.
Da mesma forma, a UNCTAD procurar reduzir os riscos dessas economias à volatidade financeira e 
às dívidas internacionais, pois, bem sabemos, toda oscilação no nível macro afeta as economias em nível 
regional e nacional. Para tal, a UNCTAD é uma ponta para a promoção de investimentos, aumentando 
a possibilidade de os países terem acesso à tecnologia digital de ponta, promovendo a inovação e, 
principalmente, o empreendedorismo. Nessa perspectiva, a lógica é que as empresas locais possam 
potencializar sua cadeia de valor.
Outro aspecto relevante trabalhado no âmbito da UNCTAD é o fomento à aceleração do fluxo 
de mercadorias entre as fronteiras nacionais, ao mesmo tempo que é necessária a proteção aos 
consumidores contra potenciais abusos, e proteção para que nenhuma medida ou prática asfixie 
a concorrência.
Finalmente, a questão do desenvolvimento sustentável é latente e, como não poderia deixar 
de ser, a UNCTAD também busca que países, empresas e população civil se adaptem às mudanças 
climáticas e ao uso mais eficaz de recursos naturais. A UNCTAD trabalha em estrita parceria com 
BIRD, FMI, OMC e PNUD.
80
Unidade II
Figura 22 – UNCTAD 2012, Doha, Qatar
Disponível em: https://bit.ly/30Kaltv. Acesso em: 22 nov. 2021.
Segundo Sousa (2009), a UNCTAD nasceu em 1964 com o intuito de promover o desenvolvimento 
de forma amigável. Ela é um fórum privilegiado da ONU que visa ao desenvolvimento integrado do 
comércio com áreas como tecnologia, investimentos, desenvolvimento sustentável e finanças.
Para se chegar aos objetivos, existem basicamente três funções principais. A primeira delas é o seu 
próprio funcionamento: um fórum para deliberações intergovernamentais, sendo que as discussões 
são compostas por especialistas para que, através da troca de experiências, se chegue a um consenso. 
A outra função básica está no âmbito das pesquisas, coleta de dados e análises políticas. Dessa forma, com 
tais elementos em mãos, é possível fomentar debates entre especialistas e representantes dos governos.
Finalmente, a UNCTAD oferece assistência técnica especializada para as solicitações dos países 
em desenvolvimento em relação a sua economia. Para tal, a cooperação com outras agências se 
faz necessária.
Segundo a UNCTAD (2021), a década de 1960 foi um período de grandes preocupações sobre o 
crescimento do comércio global. Exatamente por isso, por uma demanda dos países preocupados com 
o seu desenvolvimento, foi feito um pedido de convocação de uma conferência para tratar justamente 
desses assuntos.
A primeira conferência aconteceu no ano de 1964, em Genebra, na Suíça. Contudo, por conta da 
amplitude dos problemas enfrentados pelos países – principalmente pelos até entãochamados de 
Terceiro Mundo – em relação ao desenvolvimento, a conferência foi institucionalizada para que fosse 
reunida a cada quatro anos. Ao mesmo tempo, foi estabelecido o G77, grupo de países que, através da 
sua união, poderiam expressar suas preocupações.
81
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Saiba mais
O G77 é um grupo de países em desenvolvimento que funciona 
como uma coalizão. Ao se unirem, a ideia é que busquem maior poder de 
negociação junto à ONU através da promoção, de forma conjunta, de seus 
interesses econômicos. Leia mais sobre o assunto em:
Disponível em: http://www.g77.org/. Acesso em: 29 nov. 2021.
Segundo Considera (2016a), o G77 também mostrou um protagonismo brasileiro, junto de Índia e 
México, na coordenação dessa coalizão terceiro-mundista. Tudo que se buscava era um processo justo 
no comércio, pois as regras neoliberais tratavam todos os players por igual, não considerando suas 
diferenças sistêmicas.
Ainda segundo o autor, o G77 foi a maior organização intergovernamental a abarcar países em 
desenvolvimento que faziam parte do sistema ONU. Então os interesses do sul podiam ser articulados, 
bem como a capacidade de negociação ser ampliada a favor desses países. A “promoção da cooperação 
sul-sul para o desenvolvimento é outro tema central do grupo, que detém, inclusive, fundo próprio para 
o financiamento de ações de cooperação técnica, mantido a partir de doações dos países-membros” 
(CONSIDERA, 2016a, p. 131).
Segundo a UNCTAD (2021), após sua fundação em 1964, quem se torna o primeiro secretário-geral 
da conferência até o ano de 1969 é Raúl Prebisch, renomado economista argentino. Ele foi chefe da 
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), proeminente organização internacional 
que se contrapunha ao modelo da teoria clássica do comércio internacional.
 Observação
Raúl Prebisch foi um crítico dos modelos clássicos de análise de 
economia internacional e foi propositor de uma teoria do desenvolvimento 
dos países periféricos de matriz marxista. Influenciou toda uma geração de 
economistas latino-americanos, principalmente pela sua participação na 
Cepal. A deterioração dos termos de troca, categoria elaborada por ele, 
constituiu a base da formulação crítica da comissão à teoria clássica do 
comércio internacional. De acordo com sua reflexão, os ganhos dos períodos 
de prosperidade são apropriados pelas economias centrais, enquanto as 
pressões de custos nos períodos de retração são passadas para economias 
periféricas, tornando desiguais os efeitos de crescimento econômico.
82
Unidade II
Segundo a UNCTAD (2021), na primeira década de desenvolvimento da conferência, as atenções 
foram direcionadas a um modelo que funcionava como uma espécie de fórum norte-sul, grande gargalo 
de desigualdade no desenvolvimento econômico.
Já na década de 1980, por conta das mudanças no cenário global, inclusive no que tange à Guerra 
Fria, inevitavelmente houve uma mudança no pensamento e ação da conferência.
Dessa forma, as estratégias desenvolvimentistas, que, como vimos anteriormente, eram voltadas 
a um nacionalismo e a um protecionismo em sua grande maioria, estão agora voltadas ao mercado, 
inclusive com liberalização econômica e processos de privatizações. Vale relembrar que, por conta dos 
modelos adotados até então, grande parte dos países estavam, na década de 1980, mergulhados em 
dívidas e em crises econômicas e sofriam com a hiperinflação em suas economias.
Diante de tal cenário, a UNCTAD também alinha suas diretrizes para o ambiente macro, fortalecendo 
o debate intergovernamental e fomentando a entrada desses países no comércio internacional. 
Não obstante, a UNCTAD, nesse período, também fomentou a cooperação sul-sul, sendo que o 
marco desse período foi o Acordo sobre o Sistema Global de Preferências Comerciais entre os Países 
em Desenvolvimento (GSTP), em 1989, bem como a I Conferência das Nações Unidas sobre Países Menos 
Desenvolvidos, em 1981.
Atualmente, a UNCTAD é organizada em cinco divisões, sendo comandada pela secretaria-geral. 
Existe a divisão para a África, países menos desenvolvidos e programas especiais, a divisão que lida com 
estratégias de globalização e desenvolvimento, uma divisão específica para investimentos e empresas, 
outra que atua no âmbito do comércio internacional e commodities e, finalmente, uma divisão para 
tecnologia e logística.
Simultaneamente, existe uma série de serviços que são efetuados pela UNCTAD no intuito de 
fomentar o trabalho dessas divisões, como a seção de comunicação, informação e divulgação, o serviço 
que presta apoio intergovernamental para garantir o funcionamento das reuniões, a cooperação 
técnica para o gerenciamento das bases do projeto e a gerência de recursos financeiros, tecnológicos 
e humanos para o funcionamento da instituição.
O comando fica a cargo da secretária-geral Isabelle Durant. Ela foi vice-primeira-ministra bem como 
senadora na Bélgica e tem ampla experiência em temas que envolvem questões públicas e processos 
intergovernamentais. Foi nomeada como secretária-geral interina em 2021, depois de prestar seus 
serviços como secretária-adjunta.
Segundo Considera (2016a), a UNCTAD é fruto da ativa participação de Raúl Prebisch na Cepal. Isso 
porque a comissão visava fazer que as práticas comerciais fossem mais justas e efetivas, bem como que 
as regras de comércio fossem revistas, pois era necessário que elas fossem diferenciadas para países 
desenvolvidos – o centro – e subdesenvolvidos – a periferia. Assim sendo, o debate sobre as condições 
estruturais fica evidente no que tange ao desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo.
83
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
É possível afirmar, portanto, que a UNCTAD foi um dos mais imediatos 
resultados práticos da estrutura de cooperação sul-sul. Na segunda metade 
dos anos 1960, o conflito ideológico leste-oeste passou a coexistir, em meio 
à détente, com o crescimento do debate norte-sul, que, ao vincular comércio 
internacional ao desenvolvimento socioeconômico do Terceiro Mundo, 
possibilitou a aprovação, durante a Segunda Conferência da UNCTAD, em 
1968, da estrutura que viria a originar o Sistema Geral de Preferências (SGP) 
(CONSIDERA, 2016a, p. 130).
 
Diante dessas reflexões, é possível perceber que a nova ordem financeira mundial se tornou um 
caminho sem volta para o modelo anterior.
6 O GATT, A OMC E A LIBERALIZAÇÃO COMERCIAL
Além da UNCTAD, temos outros mecanismos sobre o desenvolvimento. Conduto, vamos agora nos 
ater ao comércio internacional. Para tal, os objetivos de nossos estudos são o GATT e a OMC.
6.1 O GATT e as rodadas de negociação para a liberalização comercial
Segundo Silva e Gonçalves (2010), o GATT nasceu no ano de 1947 alinhado com as ideias que foram 
propagadas nos Acordos de Bretton Woods. O pilar central desse acordo era reduzir as tarifas alfandegárias 
que foram colocadas em prática, principalmente, nas décadas de 1930 e 1940. Tais tarifas protecionistas 
foram utilizadas como uma forma de os países amenizarem os impactos da Crise de 1929.
Durante sua vigência, o GATT teve oito rodadas de negociação: “Genebra (1947), Annecy (1949), 
Torquay (1951), Genebra (1956), Dillon (1960-1961), Kennedy (1964-1967), Tóquio (1973-1979) e 
Uruguai (1986-1994)” (SILVA; GONÇALVES, 2010, p. 196). De todas as rodadas, a mais complexa foi a 
do Uruguai, por conta das discussões sobre serviços e propriedade intelectual.
Contudo, esses acordos tinham algumas falhas críticas. A primeira delas se deve ao fato de, por ser 
um acordo de caráter provisório, entre duas rodadas de negociação não haver supervisão do comércio. 
Outro aspecto reside no fato de não haver muita disciplina por conta, exatamente, de um grande número 
de cláusulas provisórias. Ademais, havia muitos pedidos de anulação, e as partes selecionavam os acordos 
mais vantajosos para suas economias. Tudo isso transformava o processo em algo lento e complexo, 
dificultando, inclusive, o desenvolvimentode ferramentas e mecanismos de solução de controvérsias.
 Observação
Grande parte desses problemas serão resolvidos somente com a criação 
da OMC, órgão que vamos estudar mais adiante.
Ainda segundo os autores, o elemento fundamental que deve ser considerado para compreender o 
GATT é o protecionismo. Isso porque, após a Segunda Guerra Mundial, formou-se um consenso entre as 
economias capitalistas, encabeçadas pelos Estados Unidos, de que era necessário haver a eliminação das 
84
Unidade II
barreiras comerciais impostas pelos Estados, estas vistas como herança das rivalidades de guerra e como 
consequência de outras crises econômicas.
Nessa perspectiva, o GATT foi uma necessidade para o modelo neoliberal. Isso porque, diante de tal 
condição do cenário internacional, o crescimento da economia mundial dependia do livre-comércio. 
Sendo assim, a decisão de definir os aspectos que guiariam os comércios ficaram a cargo desse acordo.
Segundo Silva (2008), para se compreender o sistema econômico internacional é necessário 
compreender os fatores condicionantes das tomadas de decisão dos players. Isto posto, o sistema é 
instável, pois são inúmeros players e vontades distintas. Sendo assim, no comércio não é diferente.
Ademais, as mudanças sempre acontecem ao longo da história. A transição do modelo feudal para 
a economia capitalista, encabeçada pelo avanço dos meios de produção pela classe burguesa, com o 
surgimento do dinheiro e a expansão das cidades, modificou as relações socioeconômicas. Assim sendo, 
as mudanças que aconteceram na Europa modificaram o comércio internacional como um todo.
Na história recente, o desafio foi outro. Vale lembrar que, assim como vimos anteriormente, a 
regulação desse comércio no século XX tem sido um desafio para todas a nações. Diante desse cenário 
globalizado, principalmente depois do grande crash de 1929, das guerras mundiais e do alto grau de 
sofisticação tecnológica que vinha se desenvolvendo, a regulação do mercado tornou-se o desafio 
principal e, para tal, uma série de organismos internacionais foram criados.
A criação desses organismos não eliminou a instabilidade nas relações 
econômicas internacionais. A força política tem sido utilizada em prol dos 
interesses econômicos e da manutenção da hegemonia política das nações 
na arena internacional. Apesar dos conflitos, algumas instituições ainda 
lutam para a manutenção da paz e da ordem econômica mundial. O senso de 
oportunidade comum a todos ainda prevalece no seio de algumas instituições, 
sobretudo no âmbito do comércio internacional (SILVA, 2008, p. 159).
Assim, o GATT foi um desses organismos. Contudo, vale uma ressalva: embora ele funcionasse como 
uma organização intergovernamental, nunca foi uma. Simplesmente a sua atuação era tão importante 
para o comércio que seu poder se equiparava a uma OI.
 Observação
Segundo Herz, Hoffmann e Tabak (2015), uma organização 
intergovernamental é uma maneira institucionalizada de cooperação 
internacional. É constituída por normas, regras, leis, procedimentos para a 
resolução de disputas etc., que são instituídos no seu tratado constitutivo, 
documento que define a criação da OI. Algumas têm personalidade jurídica, 
outras não; tudo depende do seu caráter de acordo com as posições dos 
Estados-membros.
85
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Ainda segundo Silva (2008), a Grande Depressão foi um fato histórico importante, pois mostrou 
o lado mais vulnerável da economia global. A partir de então, os protecionismos ganharam espaço, 
ficando cada vez mais evidentes no período das guerras.
Após a Conferência de Bretton Woods, como vimos anteriormente, a economia é elevada a um novo 
patamar de importância para as relações internacionais. Assim sendo, paralelamente ao FMI e ao Banco 
Mundial, houve a proposta de criação da Organização Internacional do Comércio (OIC). Seu objetivo era 
reduzir as barreiras comerciais, bem como criar um código de normas que guiassem o comércio internacional.
A partir de tal perspectiva, fica nítida a ideia de que a liberalização comercial seria o caminho para 
o crescimento do bem-estar das nações. Isso, obviamente, atrelado ao fato de que os Estados Unidos 
ocupavam uma posição hegemônica no cenário político e econômico ocidental, somente tendo como 
grande rival a União Soviética. Exatamente por isso o país da América do Norte defendia a liberalização 
do comércio internacional, obviamente, em dólar.
Porém, essa organização não aconteceu. Contudo, anos mais tarde, após a elaboração da Carta da 
OIC, as nações-membros assinaram um acordo que atuaria no campo do comércio internacional: o GATT.
Ainda segundo o autor, o papel dos Estados Unidos é moldado pela Guerra Fria. Dessa forma, “o 
estabelecimento de acordos comerciais com países aliados e a consolidação da economia de mercado 
propiciaram o fortalecimento da posição norte-americana no cenário internacional” (SILVA, 2008, p. 160).
Se partirmos dessa perspectiva de que o GATT não nasceu por mero acaso e considerarmos, então, a união 
de interesses políticos e econômicos, veremos, sem sombra de dúvidas, a diplomacia econômica praticada 
na mais pura definição do termo. É uma convergência de fatores, sendo que o campo econômico é um 
campo de embate diplomático, no qual as nações buscam seus interesses, assim como no campo político.
É tão evidente tal viés que, através da série de negociações que envolviam o acordo, a remoção de 
barreiras comerciais foi determinada antes mesmo do estabelecimento das regras do comércio. Ou seja, 
seria algo do tipo: “Sim, vamos vender e comprar de forma mais fácil, mas não sabemos ainda como”.
O acordo deu certo e podemos perceber tal aspecto no fato de que, 
em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de regulamentar o 
comércio internacional, o GATT possuía 23 países signatários. Entre os países 
listados, temos: Brasil, Birmânia, Ceilão (atual Sri Lanka), Chile, China, Cuba, 
Índia, Líbano, Paquistão, Rodésia (atual Zimbábue) e Síria. Até́ 1979, apenas 
oito países da América Latina e o Caribe eram partes contratantes do GATT 
– Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Peru, Nicarágua, República Dominicana e 
Uruguai. E em 1981, o GATT já reunia 83 países (SILVA, 2008, p. 160).
Nos primeiros anos do acordo, foi atingido o percentual de redução das tarifas para a média na faixa 
de 5%. Logo após a Rodada de Genebra (1947), as rodadas Annecy (1949), Torquay (1951), Genebra 
(1956) e Dillon (1960-1961) visavam pura e simplesmente às discussões por redução de tarifas. Contudo, 
a partir da Rodada Kennedy (1963-1967), a discussão enveredou sobre as barreiras não tarifárias e 
questões relacionadas a produtos agrícolas.
86
Unidade II
 Observação
Barreiras comerciais podem ser tanto tarifárias como não tarifárias. As 
tarifárias incidem diretamente sobre o preço do produto (taxas, sobretaxas 
etc.). Já as não tarifárias adotam outros termos, como, por exemplo, uma 
exigência sanitária.
Porém, as últimas rodadas, de Tóquio (1973-1979) e Uruguai (1986-1994), tentaram resolver tais 
problemas sobre produtos agrícolas sem sucesso. Vale ressaltar que o ambiente internacional já era 
outro a partir desse período por conta das então recentes crises do petróleo, levando a maioria dos 
países a enfrentarem duras crises econômicas, que ocasionaram problemas de inflação e desemprego. 
Consequentemente, grande parte dos países adotou medidas protetivas – restritivas ao comércio 
internacional –, que levaram a Rodada de Tóquio ao fracasso.
Diante dessa nova realidade, a Rodada do Uruguai foi uma das mais longas, levando o dobro de 
tempo previsto. Seu foco foi o estabelecimento de novos tratados, provocando uma mudança profunda 
no comércio internacional. Vale ressaltar que esse período é simultâneo ao fim da Guerra Fria e à 
dissolução da União Soviética.
Os principais pontos discutidos nesse acordo referem-se aos reforços de regras sobre dumping, 
salvaguardas, subsídios, barreiras técnicas, inspeção de embarque,regras de origem dos produtos e 
fitossanitárias, entre outras.
Não obstante, nessa rodada também foram discutidos termos relativos a um novo processo 
para a solução de controvérsias. Ademais, foram abordadas negociações sobre a introdução de 
novos setores para o quadro de comércio que compunha o GATT, como agricultura, têxteis e serviços. 
Outros setores que aparecem nas discussões sobre regulação do comércio internacional nesse momento 
são os investimentos e a propriedade intelectual.
Foram também estabelecidos prazos para o cumprimento e a implementação de todos os temas 
negociados, sendo que os períodos variavam entre 6 e 10 anos. Porém, o mais importante de tudo foi 
que, a partir de então, foi estabelecida uma nova organização internacional para tratar das relações 
comerciais: a Organização Mundial do Comércio (OMC), tema que veremos mais adiante.
Diante dessa realidade na qual o comércio se faz presente como uma ferramenta utilizada na 
diplomacia comercial, encabeçada pelas diretrizes do modelo estadunidense de liberalismo em plena 
Guerra Fria, os princípios básicos da instituição refletiam exatamente essa ideia.
Inicialmente, o termo intitulado Tratamento Geral à Nação Mais Favorecida (NMF) é um dos mais 
relevantes. Nele encontra-se a proibição da discriminação entre países enquanto partes contratantes 
do GATT. Desse modo, os benefícios que são concedidos por um país devem ser aplicados a todos os 
87
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
países-membros, pois, nessa lógica, não deve haver preferência somente para um; se houver algum 
mecanismo assim, deverá ser estendido a todos.
Outro termo do GATT, muito interessante, refere-se ao tratamento nacional para todos os produtos, 
ou seja, não pode haver discriminação entre produtos nacionais ou importados. Claramente é um artigo 
constituído para fomentar o livre-comércio, pois nele encontra-se, também, que taxas e impostos internos 
– ou qualquer outro tipo de legislação – que afetem a venda, o preço, o transporte e a distribuição não 
podem ser aplicados a produtos importados.
Contudo, há também termos que permitem salvaguardas sobre importações quando forem necessárias 
ações emergenciais. Dessa forma, se houver ameaça à sobrevivência do produto doméstico por conta do 
crescimento das importações, a parte contratante do acordo ficará livre para suspender a obrigação ou 
modificar concessões a fim de preservar o produto doméstico diante da situação de desequilíbrio.
Quando houver crises no balanço de pagamento, qualquer parte contratante poderá se utilizar 
de salvaguardas sobre as importações para conter tais crises, sendo que essas restrições deverão ser 
mantidas somente até a crise ser superada para, então, voltar à condição de liberalização anterior.
Outro princípio fundamental do GATT refere-se à listagem de produtos e suas tarifas aduaneiras, 
sendo que esses valores são válidos para todos os membros. Isso não impede que haja exceções gerais, 
pois podem ser adotadas medidas para proteger diferentes questões.
Nesse sentido, nada deve impedir a adoção de medidas que vislumbrem 
proteger a moral pública, a saúde humana, animal ou vegetal, o comércio 
de ouro e prata, a proteção de patentes, marcas, tesouros artísticos e 
históricos, os recursos naturais exauríveis e a garantia de bens essenciais 
(SILVA, 2008, p. 160).
Outro aspecto bem interessante entre os princípios do GATT refere-se ao fato de que não havia 
nenhum impedimento à formação de zonas de livre-comércio ou de uniões aduaneiras. Porém existia a 
ressalva de que as regras preferencias do acordo regional não fossem mais elevadas e restritivas do que 
a regulamentação existente antes dele.
Sendo assim, o GATT estava em um contexto no qual começaram grandes processos de integração 
regional, “um processo dinâmico de intensificação em profundidade e abrangência das relações entre 
atores, levando à criação de novas formas de governança político-institucionais de escopo regional” 
(HERZ; HOFFMANN; TABAK, 2015, p. 135).
Em vista disso, era natural que temas que envolvessem a integração e o regionalismo estivessem 
presentes na discussão do GATT. Por isso o regionalismo é visto de duas formas. Quando é considerado 
regionalismo aberto, é compreendido como uma etapa transitória para que se chegue à liberalização 
econômica mundial, não sendo essa integração um fim em si. Assim sendo, é como se fosse complementar 
ao GATT. Contudo, quando compreendido como um regionalismo fechado, fazendo com que haja um 
protecionismo regional, esse tipo de integração confronta o regime do GATT.
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Unidade II
 Lembrete
O regionalismo é visto de duas formas: quando é considerado 
aberto, é compreendido como uma etapa transitória para que se chegue 
à liberalização econômica mundial; quando compreendido como um 
regionalismo fechado, fazendo com que haja um protecionismo regional, 
esse tipo de integração confronta o regime do GATT.
Segundo Seitenfus (2013), o GATT é uma prova de que a globalização comercial se faz presente nas 
relações internacionais, além da circulação financeira em nível global. Para o autor, o sucesso do modelo 
reside no fato de que, nos últimos 30 anos, o comércio global atingiu níveis superiores a quatro vezes 
os níveis da produção mundial, e isso se deve ao fato de que mais de 95% do comércio mundial está 
justamente respaldado pelas regras da OMC, que se originam no GATT.
Não obstante, para além das exportações e dos investimentos, duas novas características nasceram 
dessa realidade: as alianças estratégicas e as fusões, bem como a inovação tecnológica. Assim a indústria 
que mais se destaca e pode ser considerada verdadeiramente globalizada é a eletrônica.
Segundo Saraiva (2008), o GATT foi um claro meio de os Estados Unidos garantirem força econômica, 
comercial e tecnológica perante o mundo. Sua hegemonia abarcou a economia mundial, e o país 
também teve preeminência político-estratégica nos negócios internacionais; era hegemônico frente a 
parceiros capitalistas ocidentais, como a Europa Ocidental e o Japão, e também exercia relativo controle 
nas instituições de Bretton Woods – FMI, Banco Mundial e GATT –, agindo sobre o comportamento das 
nações que se aventuravam na interdependência liberal-capitalista.
Nessa realidade, dois terços dos fluxos de bens internacionais aconteciam entre os próprios países 
capitalistas desenvolvidos, funcionando, assim, como uma espécie de ferramenta contra o comunismo 
soviético. A economia foi uma “arma” estadunidense utilizada na Guerra Fria.
 Lembrete
É na própria concepção dos Estados Unidos sobre a Guerra Fria que a 
diplomacia econômica vai crescendo em peso e importância.
Diante de tais perspectivas, vemos como a política e a economia se entrelaçam nessa nova realidade 
pós-Bretton Woods, na qual a diplomacia econômica se faz presente. A institucionalização do GATT foi 
um fator que favoreceu a resolução de conflitos no âmbito comercial que aconteciam desde a década 
de 1930. Ademais, em termos políticos, o GATT foi fundamental para impedir o avanço do comunismo 
na Europa, ou seja, uma medida no campo econômico com efeitos políticos – e não é exagero 
dizer geopolíticos.
89
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O GATT vai entrar em crise somente quando ocorrer a ascensão da Europa e do Japão no cenário 
internacional, com o fim da hegemonia estadunidense e o fim da Guerra Fria, pois uma nova realidade 
se faz presente nesse horizonte. Não é coincidência acontecer nesse período a constituição de blocos 
econômicos nos modelos contemporâneos, os quais vemos até os dias de hoje.
Figura 23 – Do GATT para a OMC
Disponível em: https://bit.ly/3nDVlGa. Acesso em: 22 nov. 2021.
6.2 A Rodada Uruguai e a criação da OMC
Com o final da Guerra Fria e a consequente abertura comercial, o modelo anterior (GATT) acaba se 
tornando obsoleto. Segundo Silva (2008), houve a ascensão de uma ideia de negócios internacionais 
que prezava o comércio multipolar, ideia contrária àdo modelo anterior, que tinha os Estados Unidos 
como personagem central e que modificou a realidade do comércio.
Exatamente por isso, após a Rodada do Uruguai (1986), o caminho traçado foi o da criação de 
um órgão mundial multipartidário, porém mantendo os princípios básicos do GATT. Isto posto, esse 
conjunto de concessões tarifárias e de normas tinha por objetivo impulsionar a liberalização do 
comércio internacional multilateral. Estavam envolvidos nessas negociações os mais variados temas, 
contemplando desde o comércio até a segurança internacional, visando combater os protecionismos.
Contudo, a criação da OMC deve ser compreendida através do histórico das rodadas de negociação 
que envolveram o GATT. Segundo Saraiva (2008), ao analisar a Rodada de Tóquio (1979), percebemos que 
o nível das tarifas praticadas nos produtos industrializados foi reduzido. Porém ainda havia restrições 
sobre produtos têxteis e agrícolas, estes produzidos pelos países menos desenvolvidos.
Entretanto, é possível afirmar que o resultado mais consistente dessa rodada de negociação 
foi o reconhecimento formal de que os países menos desenvolvidos precisariam de um tratamento 
diferenciado e mais favorável no que trata à liberalização comercial, exatamente por conta de suas 
fragilidades produtivas.
90
Unidade II
Porém, esse “sucesso” foi curto. Emerge por parte dos Estados Unidos, com Ronald Reagan, e por 
parte do Reino Unido, com Margaret Thatcher, uma nova ortodoxia liberal, mexendo novamente nas 
regras do comércio internacional. Tais regras envolviam acordos sobre matéria-prima, preferências de 
acesso ao mercado, política intervencionista, falta de legislação adequada sobre propriedade intelectual, 
e problemas com normas sociais e ambientais. Porém o fracasso reside justamente no fato de que tais 
interpretações eram completamente unilaterais.
Todos esses elementos supostos ou efetivos das deficiências das regras 
do intercâmbio tal como regido pelas normas do GATT foram esgrimidos 
pelos países desenvolvidos para exigir não mais o free trade, mas o fair 
trade, o comércio julgado justo e leal segundo seus próprios argumentos 
(SARAIVA, 2008, p. 277).
Assim, tais arestas vão ser aparadas – não completamente – na Rodada do Uruguai (1986). Foram 
constituídos 14 grupos negociadores, entre os quais estavam os grupos para propriedade intelectual, 
investimento e agricultura.
Inicialmente, a previsão de término da Rodada do Uruguai era o ano de 1990. Contudo, a rodada 
somente foi finalizada no ano de 1994, justamente pela dificuldade de entendimento entre os Estados 
Unidos e a União Europeia. As divergências se davam no campo agrícola, pois era muito difícil para os 
europeus – e ainda é até hoje – concorrer em produtos primários com alguns grandes produtores.
Como vimos anteriormente, o GATT estabeleceu uma série de regras e práticas do comércio. Contudo, 
era apenas um acordo. Porém, depois do final da Guerra Fria e da dissolução da União Soviética, novos 
países nasceram, principalmente entre aqueles que eram parte do bloco e, agora independentes, estavam 
em um momento de transição do modelo socialista/comunista para o modelo capitalista.
Dessa forma, em janeiro de 1995, o GATT passou a ser denominado Organização Mundial do 
Comércio (OMC), mantendo suas bases anteriores, mas agora com o caráter de uma organização 
internacional, que tinha como objetivo a melhoria e a adequação dos acordos que já vinham 
sendo negociados no modelo anterior, almejando ampliar as áreas comerciais que não faziam parte 
do acordo anterior, incluindo novos temas que se faziam cada vez mais presentes na realidade das 
relações internacionais.
A OMC tem o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável no 
âmbito do comércio internacional bem como apoiar os países em vias de 
desenvolvimento e simultaneamente constituir um quadro institucional 
comum, necessário para a condução das relações comerciais entre os seus 
membros (SILVA, 2008, p. 163).
Um dos pontos sobre os quais a OMC se debruça é o fato de que, mesmo que o GATT tenha sido uma 
contribuição enorme na remoção das barreiras comerciais, não foi suficiente para abolir totalmente as 
medidas restritivas. Isso porque seu sistema de resolução de controvérsias era frágil e, por ser um acordo, 
seu mecanismo institucional também o era.
91
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Para resolver tais fragilidades, a OMC nasce como uma OI. Possui personalidade jurídica, tendo 
mais poder justamente nos aspectos em que o GATT era impotente. Lembramos que estamos na esfera 
comercial e, por isso, todas as decisões e punições são, também, nessa área. A força da OMC como uma 
OI lhe garante mais poder na condução do comércio do que tinha o GATT como um acordo comercial.
Assim sendo, a OMC tem por função básica facilitar a aplicação de normas do comércio internacional 
anteriormente acordadas. Ademais, também funciona como espaço para negociações, sejam elas 
de novas regras ou não. Não obstante, por ser uma OI com personalidade jurídica, é mais efetiva na 
aplicação de punições, sendo assim um sistema de solução de controvérsias e, ao mesmo tempo, um 
espaço para se discutir exatamente esse sistema de solução de controvérsias.
Diante desse novo papel, sua estrutura, consequentemente, é mais robusta do que a do GATT. Em 
seu Tratado Constitutivo, a OMC é composta de uma conferência ministerial – seu órgão máximo –, que 
tem por função a condução política da organização, sendo o espaço para as tomadas de decisão sobre 
os acordos comerciais. Suas reuniões são bienais.
Já o Conselho Geral da OMC, que é composto pelos representantes dos Estados-membros, trata 
de assuntos corriqueiros, sendo que somente ocasionalmente trata de assuntos que equivalem à 
Conferência Ministerial. Seus subordinados são o Órgão de Revisão de Política Comercial – que se refere 
a pedidos de revisão de tarifas e barreiras não tarifárias – e o Conselho de Comércio de Bens – este 
responsável pela supervisão dos acordos estabelecidos.
Um órgão de extrema importância na OMC é o Órgão de Solução de Controvérsias. É ele o responsável 
pela interpretação e aplicação das regras da OI. Já o Conselho para o Comércio de Serviços se preocupa 
com a supervisão do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços.
A partir da Rodada do Uruguai de negociação que se iniciou em 1986, um dos temas que foram 
colocados em destaque refere-se à propriedade intelectual. Dessa forma, na OMC foi criado o Conselho 
para os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual, obviamente com temas relacionados com 
o comércio, também chamado de Conselho TRIPS. Sua função nada mais é do que supervisionar os 
acordos sobre esse tema.
Finalmente, por conta de ser uma OI, a OMC – diferentemente do GATT – necessita de uma estrutura 
que a mantenha em funcionamento. Logo, existem os órgãos de apoio e o secretariado, que são 
responsáveis por toda a parte administrativa da instituição. São chefiados por um diretor-geral que é 
indicado pela Conferência Ministerial. Vale ressaltar que a pessoa que ocupa o cargo de diretor-geral 
deve prezar pela independência e imparcialidade na condução de sua função.
Diante de tal complexidade, fica nítido que a OMC possui muito mais estrutura do que o GATT. 
A principal diferença entre os dois é que as normas acordadas entre os signatários do GATT eram 
restritas simplesmente ao intercâmbio de mercadorias, enquanto as normas que foram estabelecidas 
– muitas delas migradas do GATT – na OMC são mais amplas, englobando a propriedade intelectual e 
serviços, indo além do intercâmbio de mercadorias.
92
Unidade II
A OMC, embora de estrutura e escopo mais complexo, tem, em sentido geral, apenas dois 
princípios: a não discriminação e a reciprocidade. A não discriminação refere-se ao princípio básico 
do livre-comércio, que no GATT ficava a cargo dos termos tratamento nacional e cláusula da nação 
mais favorecida. Ora, se há um tratamento favorável a determinado produto, este deve serestendido 
também ao mesmo produto que é produzido por outras nações. Ademais, deve ocorrer a mesma coisa 
quando houver similares.
Já a reciprocidade refere-se ao fato de que cada país negociador deve obter contrapartidas para 
o que estiver disposto a oferecer. É um complemento à cláusula da nação mais favorecida, pois 
impede que os países adotem medidas protecionistas particulares a um grupo restrito de países.
Figura 24 – Nona Conferência Ministerial da OMC, Bali, Indonésia, 2013
Disponível em: https://bit.ly/3cEwnA8. Acesso em: 22 maio 2021.
Segundo Silva (2008), a Rodada de Doha, que se iniciou em novembro do ano de 2001, tinha por 
objetivo negociar uma abertura maior para mercados agrícolas e industriais. Para tal, na agenda de 
negociação, constava que os países desenvolvidos se comprometeriam a pensar em novos modelos 
de comercialização de produtos agrícolas e serviços e na própria redução de barreiras para uma 
lista de produtos selecionados.
Tal discussão é de extrema importância porque grande parte dos países não desenvolvidos tem na 
produção de produtos primários a base de suas economias. Contudo, a Rodada de Doha, que se iniciou 
em 2001, ainda não terminou. As nações desenvolvidas não conseguiram encontrar um caminho. Elas 
resistem a essa abertura pelo simples fato de que preferem manter as políticas protecionistas em relação 
a seus produtos agrícolas.
93
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Desde o ano de 2003, os subsídios praticados pelos países desenvolvidos sobre os produtos 
agrícolas têm sido o elemento central da discussão, travando as negociações, pois as propostas feitas 
não agradam a nenhum dos grupos de países.
 Observação
Até a confecção deste livro-texto (2021), a Rodada de Doha não havia 
sido concluída.
Para Seitenfus (2013), criou-se muita expectativa quanto ao sucesso da Rodada de Doha por ela ser 
a primeira grande conferência após os atentados de 11 de setembro de 2001. Junta-se a isso o fato de 
que o leque de temas a serem discutidos era imenso, porém com resultados imprevisíveis.
Primeiramente, temas que tinham por base os investimentos, além do comércio, deveriam estar 
sendo discutidos também na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 
segundo lugar, as concessões por parte de nações europeias e norte-americanas sobre o protecionismo 
exigem cautela. Isso porque, ao retornarem aos seus países, os negociadores devem se preocupar 
triplamente: com a opinião pública acerca dessas concessões; com a formulação de mecanismos e 
meios de cobrar o cumprimento das concessões dos Estados parceiros; e, finalmente, com a elaboração 
de respostas para eventuais não cumprimentos dos respectivos acordos.
Desta forma, os textos que vêm sendo discutidos na Rodada de Doha são de suma importância. 
Isso porque, devido à complexidade dessas negociações, os textos têm, por essência, ambiguidade e 
contradição. Isto posto, segundo o autor, a dificuldade está aí: os textos serão interpretados por cada 
Estado da forma que mais lhe convém.
Falando sobre o Brasil, que reconhece a importância dessa rodada, as preocupações são pautadas em 
dois temas. O primeiro deles diz respeito à área da saúde: o país defende a quebra de patentes quando 
ocorrer alguma urgência e houver problemas de acesso a medicamentos.
O segundo tema tratado pelo Brasil refere-se ao princípio da precaução. Esse princípio permite que 
se interrompa o comércio de produtos que apresentem determinados riscos ainda não confirmados pela 
ciência. Não que o Brasil seja contra o princípio, mas espera que haja confirmação científica. Então a 
compreensão de temas, como, por exemplo, incertezas das biotecnologias, transcende a esfera comercial 
e se localiza em preocupações acerca do bem-estar e da saúde global.
94
Unidade II
Figura 25 – Quarta Conferência Ministerial da OMC, Doha, Qatar, 2001
Disponível em: https://bit.ly/3xaS6ZY. Acesso em: 22 nov. 2021.
O grande trunfo da Rodada de Doha está no fato da retomada do comércio após um período 
dominado por questões de segurança e combate ao terrorismo, porém a vitória da rodada está, neste 
momento, somente na ausência de sua derrota. “Para que a OMC não seja obrigada a refugiar-se 
no deserto, é imprescindível que o comércio internacional se transforme em uma alavanca do 
desenvolvimento e da redução das desigualdades sociais” (SEITENFUS, 2013, p. 150).
Segundo Saraiva (2008), os resultados dessa nova estrutura no sistema mundial multilateral de 
comércio foram a sua adaptação à globalização, visível nos círculos produtivos e nos sistemas 
financeiros. Dessa forma, as negociações transcenderam as necessidades iniciais de se discutir redução 
tarifária e não tarifária para acesso aos mercados globais, e adicionaram-se novos temas ao desarme 
aduaneiro, como propriedade intelectual, investimentos e questões institucionais.
O GATT permaneceu com um acordo provisório até criar-se a Organização 
Mundial do Comércio (OMC) ao final da Rodada do Uruguai. Não obrigava 
contra todas as leis nacionais. Sua atuação foi marcada por crescentes 
tensões, em razão de mudanças ocorridas no comércio internacional no 
pós-guerra, como o aumento do volume, variações na estrutura, criação 
do Mercado Comum Europeu nos anos 1950, pressões do Terceiro Mundo 
desde os anos 1960, emergência da Ásia e da América Latina nos anos 1990 
(SARAIVA, 2008, p. 329).
95
DIPLOMACIA ECONÔMICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
 Resumo
Na primeira parte desta unidade, vimos o conceito de desenvolvimento 
e desenvolvimentismo, bem como a criação da Conferência das Nações 
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, a UNCTAD.
Desenvolvimento é um conceito que está diretamente atrelado a 
questões econômicas e é ligado ao crescimento e ao progresso de um país. 
Posteriormente, outros aspectos – além do econômico – passam a fazer 
parte dos instrumentos de medidas para o crescimento de um país.
O desenvolvimentismo é um conceito e uma prática política largamente 
adotada nos países do hemisfério sul, principalmente na América Latina, 
durante o século XX. A proposta é que o desenvolvimento e crescimento 
de um país passa, necessariamente, pelo crescimento de sua indústria. 
Assim, o desenvolvimentismo pressupõe uma maior participação do Estado 
na economia – contrastando com o modelo liberal – para que a indústria 
nacional tenha apoio e proteção frente à concorrência estrangeira para que 
haja crescimento.
Comumente, o desenvolvimentismo está atrelado a um nacionalismo 
econômico fomentado pelos governos. No Brasil, destacam-se três 
momentos nos quais fica explícito esse caráter nacional-desenvolvimentista: 
no Governo Vargas, de 1930 até 1954, com um intervalo no poder do 
mandatário entre 1945 e 1951, sendo que sua faceta mais explícita é o 
Processo de Substituição de Importações; no Governo JK, de 1956 até 1961, 
com o famoso Plano de Metas; e nos governos militares, em meados dos 
anos 1970, de forma autoritária, com grande crescimento econômico no 
período que fica conhecido como Milagre Econômico.
Posteriormente, vimos a criação da UNCTAD no ano de 1964. Foi uma 
conferência no sistema ONU que acabou se tornando permanente por conta 
da necessidade e das desigualdades das economias em desenvolvimento 
em relação às economias desenvolvidas, desigualdades que haviam 
aumentado por conta de o modelo adotado a partir de Bretton Woods 
não diferenciar as carências sistêmicas dos países que possuem economia 
em desenvolvimento.
No campo comercial, vimos a criação do GATT e da OMC. O primeiro se 
constitui em uma série de acordos feitos a partir de 1947, cujo objetivo era 
regular o comércio internacional. Houve, nesse período, oito rodadas de 
96
Unidade II
negociação , as quais culminaram em um acordo que, embora tivesse falhas 
e fragilidades, direcionou o comércio global do período.
A partir de 1986, com a Rodada do Uruguai, novos temas se fizeram 
presentes, culminando na criação da OMC. Vale ressaltar que o contexto 
internacional

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