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Mercantilismo Cia. das Índias Roteiro • Caracterização do mercantilismo • Abordagem histórica • Abordagem doutrinária • Mercantilismo na • Inglaterra • França: colbertismo • Alemanha: cameralismo O Mercantilismo • Termo criado por Mirabeau (1763): mercantilismo é conjunto de políticas dominantes entre séculos 16 e 18. • Termo empregado por A. Smith: crítica ao “sistema mercantil” • Termo impreciso: – Significado de “sistema econômico”: realidade ou conceito teórico parcialmente adequado. – Sentido estrito (Smith): protecionismo comercial – Sentido estrito modificado (Senior): riqueza como acúmulo de metais preciosos – Sentido amplo (Schmoller): políticas que dão suporte aos emergentes estados- nação – Estudo abrangente: Hecksher, Mercantilismo • Utilizaremos duas abordagens: Doutrinária e Histórica – Abordagem doutrinária: não existe teoria formal, nem homogeneidade entre autores – Abordagem histórica: teses sobre políticas econômicas interpretadas em seu contexto histórico Princípios do Mercantilismo (por Phillip Wilhelm von Hornick - 1684) I. Que cada pedaço de terra de um país deva ser utilizado para agricultura, mineração ou indústria; II. Que toda matéria prima encontrada em um país seja usada na manufatura doméstica, porque bens acabados têm valor maior do que matérias primas; III. Que uma grande população trabalhadora seja encorajada; IV. Que toda exportação de ouro e prata seja proibida e todo dinheiro doméstico seja mantido em circulação; V. Que toda importação de bens estrangeiros seja desencorajada tanto quanto possível; VI. Onde houver certas importações indispensáveis, que sejam obtidas em primeira mão, em troca de outros bens domésticos em vez de em troca de ouro e prata; VII. Que tanto quanto possível as importações sejam restringidas a matérias primas que possam ser finalizadas domesticamente; VIII. Que as oportunidades de vender o excedente de manufaturas de um país sejam constantemente procuradas; IX. Que nenhuma importação seja permitida se tais bens forem produzidos internamente de forma suficiente e adequada. • Objetivos: – ganho material dos estados-nação • Financiar exércitos e burocracia • Estados fortes política e economicamente • Meios: – Acúmulo de metais preciosos • Riqueza: preocupação não com o bem estar dos indivíduos, mas com o acúmulo ouro e prata. (controvérsia sobre identidade entre riqueza e metais – a “falácia de Midas”) • Comércio internacional: – Jogo de soma zero: comércio não é mutuamente vantajoso – Políticas de proibição de saída de ouro e posteriormente de promoção de superávits comerciais. – Resultado: conceito e registro da balança de comércio Caracterização do Mercantilismo • Meios (continuação) • Política interna: intervencionista • Regulações: proporções de insumo, qualidade padrão • Monopólios: Cia das Índias, outros monopólios legais • Subsídios, em especial a industrias. • Trabalho: • Manutenção da capacidade produtiva: deveria haver muitos trabalhadores, ganhando pouco... • Oferta de trabalho negativamente inclinada: indolência gerada pela prosperidade Caracterização do Mercantilismo Abordagem Histórica • Idade média – Feudalismo – Descentralização de poder – Voto com os pés – Lei natural • Idade moderna – Mercantilismo – Centralização do poder – Estados nação – Aliança entre empresários e governo central Parênteses Teórico: a Teoria da Regulação – Escola da Escolha Pública Autores: J. Buchanan, G. Tullock, M. Olson Pressuposto: auto interesse dos funcionários do estado – políticos maximizam estada no poder, burocratas maximizam renda. Bem: privilégio legal – monopólio, regulação, impostos para concorrentes, etc. Preço: propina, suborno Oferta e demanda de privilégios: Equilíbrio: grau de rent-seeking Regulação: resultado do processo político competitivo pelo qual grupos de interesse buscam proteção de competição econômica. Resultado: prosperidade inversamente proporcional ao grau de rent-seeking. Mesma conclusão de A. Smith. • Interpretar mercantilismo a luz da teoria da regulação • Estado central: difícil escapar de regulação • Regulação local x global • Corporações de ofício – privilégios legais • Common law – competição judiciária: aliança parlamento-cortes • Rainha Elisabeth tenta sem sucesso imitar monarca francês e impor monopólio para pólvora e sal • Competição: conflito parlamento x monarquia reduz o retorno do rent- seeking • Interpretar cenário econômico atual à luz da teoria • Pergunta: vivemos no mercantilismo? Mercantilismo e rent-seeking MERCANTILISMO INGLÊS Gerald Malynes (c.1586 – 1641) • Biografia: • comerciante nascido em Antuérpia na Bélgica, passa 3 anos preso por dívidas • conselheiro governamental para assuntos de comércio, comissário da casa da moeda • bulionismo (Thomas Milles 1550-1627) • regulação do comércio externo para controlar depreciação do câmbio, atribuída a maquinações dos banqueiros • transações com moedas usurpam poder real de fixar valor da moeda • Crítica à Cia. das Índias Orientais: balança comercial desfavorável, ingleses compram produtos dos estrangeiros, que adquirem ouro mas não bens • Idéias econômicas de Malynes • Influência do pensamento moralista antigo e medieval • usura: condenação de juros e transações com moeda • preço justo: moeda deixa de ser medida para ser fonte de ganho • moeda deve ter valor fixo segundo teor metálico Malynes St George for England, allegorically described (1601) • São Jorge (o rei) defende a donzela (o tesouro) contra o dragão com suas asas (usura) e cauda (flutuações no câmbio) • Gradualismo: São Jorge não pode matar o dragão rapidamente, pois toda usura cessaria imediatamente e economia precisa se adaptar A Treatise of the Canker of England’s Commonwealth (1601) • 3 partes: a doença (comunidade comprar mais que vende), sua causa eficiente (deterioração dos termos de troca: ouro das Américas elevou preço no resto da Europa) e a cura (controle do câmbio para proibir especulação com moeda) • rejeita desvalorização da moeda local, pois preços internos e externos subiriam • câmbio não reage fundamentalmente a fluxo de ouro, mas a manipulação dos banqueiros • desvalorização da libra faria com que moeda importada fosse gasta em bens estrangeiros de luxo, fazendo com que metal saia do pais • valorização da libra gera saída de metal saia do pais • ou seja, o cambio valorizando ou desvalorizando, o ouro sairia da Inglaterra (qual seria essa fonte inesgotável de ouro?) • recomenda fixação do câmbio segundo paridade entre moeda e metal Malynes Lex Mercatoria (1622) • 3 partes do livro • Bens = corpo do comércio • Moedas = alma do comércio • Letras de câmbio = espírito ou faculdade da alma do comércio • Algumas idéias • Antigos desprezavam o comércio, mas reinos florescem pela atividade comercial “através do comércio ... Os reinos e nações florescem, sendo os mercadores o meio e o instrumento para realizar o mesmo, para a glória, ilustração e benefício de suas monarquias e Estados.” • Regulação estatal necessária para manutenção da qualidade dos bens exportados “A roupa, sendo corretamente feita, será mais vendável no exterior, onde muitas reclamações de falsificação são feitas, diariamente, ... E a partir daí o comércio aumentará, para o bem geral do reino” • Dinheiro estimula comércio “Se o dinheiro fosse abundante, o comércio aumentaria, embora as mercadorias fossem escassas, e o preço seria, portanto, mais alto.” Edward Misselden (c.1608 – 1654) • • biografia • mercador com cargo de vice-governador da Companhia Merchant Adventurers, exportadora de tecido • comissário na Holanda pela East India Company • debateu com Malynes Free Trade, or the Means to make Trade flourish (1622) • causa do fluxo de ouro não é causada por maquinação dos bancos mas por balança comercial “desfavorável”: importações > exportações • políticas: subsídio às exportações e restrições das importações • defesa da Merchant Adventures: exporta tecido• crítica da Cia. das Índias: importa mais do que exporta • defesa de comércio regulado, mas com liberdade para exportar (rejeição de companhias com monopólios legais) The Circle of Commerce (1623) • Muda de opinião: Companhia das Índias importa, mas re-exporta , contribuindo para a entrada de ouro Thomas Mun (1571-1641) Biografia: familia de comerciantes, oficial da East India Company A Discourse of Trade from England unto the East- Indies (1621) • acusação: Cia. da Índia retira moeda da cristandade • defesa: • importações são úteis pois trazem produtos mais baratos do que por outros canais • empresa não usa o máximo de prata que pode utilizar em compras • abre mercados para os ingleses e reexporta material importado • recomenda restrição do consumo de luxo England’s Treasure by Foreign Trade (1630) • Importância de excedente de exportações para o país (não só para a Cia. das Índias) “o meio comum para aumentar nossa riqueza e nosso tesouro é o comércio exterior, pelo qual devemos sempre observar essa regra: vender mais a estrangeiros anualmente do que consumimos deles em valor”. • aumentar riqueza: • uso de terras desocupadas, exportações naturais (agricultura) e artificiais (indústria), principalmente esta última • consumo frugal para exportar mais e importar menos • comércio multilateral, não bilateral: • embora a Cia. das Índias invista mais ouro na Índia do que traz de lá para a Inglaterra, os bens trazidos de lá são vendidos no exterior, compensando o déficit Charles Davenant (1656 – 1714) • Biografia: funcionário público e parlamentar An Essay on the East Indian Trade (1696) • Defesa de protecionismo: contra lei que determina enterros com lã. Isso prejudica o reino. As pessoas deveriam ser enterradas com linho e a lã exportada: “É do interesse das nações comerciais que seu consumo interno seja pequeno... E que seus próprios produtos manufaturados sejam vendidos nos mercados principais e gastos no exterior, já que, com o que é consumido em casa, um perde apenas o que o outro ganha e a nação em geral não fica mais rica; mas todo consumo externo é um lucro claro e certo.” Discourses on the Publick Revenues (1698) – Regulação interna: assimetria sobre conhecimento e motivação do público x estado “Se percebe agora que eles, que possuem o dinheiro vivo, quando descobrirem as necessidades das outras pessoas, farão com toda a probabilidade, estimulados pela sua avareza, uso do dinheiro de uma maneira muito destrutiva para seus companheiros e para os negócios do Reino, se não forem impedidos pelo cuidado e sabedoria do Estado.” • Políticas de influxo de metais preciosos desencadeiam mecanismo que frustra a intenção inicial – O specie - flow mechanism: • Saldo “favorável” aumenta > entra ouro > via teoria quantitativa, aumentam preços > exportações caem, importações sobem > ouro sai do país > preços caem. – Hume: “dinheiro não é a engrenagem do comércio, mas sim o óleo.” – Exemplo: ouro vindo das Américas via Espanha. Crítica de David Hume ao Mercantilismo MERCANTILISMO FRANCÊS Jean Baptiste Colbert (1619 – 1683) • Biografia • Colbert foi ministro da fazenda de Luiz XIV entre 1661 e 1683 • Mercantilismo na França é conhecido como colbertismo • Seu pensamento era representativo do pensamento mercantilista: – Regulação: desprezo pelos homens de negócio, egoístas e gananciosos – Defesa de uma população grande, – colônias eram desejáveis como fonte de matéria prima e como mercado consumidor da França – O comércio exterior é um jogo de soma zero: a quantidade de bens é relativamente fixa – era favorável as restrições da saída de ouro, barreiras comerciais e era favorável ao aumento da quantidade de moeda Colbert • Citações conhecidas: • "A arte da tributação consiste em arrancar o ganso de modo a obter o maior [número] de penas com o menor número possível de gritos.” • “É simplesmente, e unicamente, a abundância de dinheiro dentro de um estado [que] faz a diferença em sua grandeza e poder” • Colbert adotou políticas condizentes com as idéias mercantilistas: – combatia os clérigos, visando reduzir o número de pessoas improdutivas – regulamentava fortemente o comércio interno: os consumidores precisam ser protegidos – ordenou em uma província que todos os filhos a partir de 6 anos deveriam trabalhar em uma industria – concedeu monopólios legais a diversos produtores – empregou compulsoriamente camponeses na construção de estradas MERCANTILISMO ALEMÃO: CAMERALISMO Cameralismo • Kammer: órgãos de assessoria governamental na Alemanha, Áustria e Suécia • escritórios proviam consultoria em assuntos de economia, administração pública, direito e política • abordagem multidisciplinar para finanças públicas • defesa de crescimento populacional • receita estatal: ênfase em ganhos de empresas e fazendas públicas • conhecimento de natureza mais prática do que teórica • 1727: primeiras cadeiras universitárias (Halle e Frankfurt) de “ciência cameral” • Wagner (2011) argumenta que • cameralismo não seria mercantilista nem fisiocrata, pois estados germânicos eram pequenos no mercado internacional e não tinham colônias • preocupação principal seria sobrevivência militar, que requer desenvolvimento econômico local Bibliografia • BRUE, S. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Thomson, 2005. • EKELUND, R.B. A History of Economic Theory and Method. New York: MgGraw-Hill, 1997. • HECKSCHER., E. F. Mercantilism. Londres: Routledge, 1994. • ROTHBARD, M. N. Economic Thought Before Adam Smith. Auburn: Ludwig von Mises Institute, 1995. • SCHMOLLER, G. The Mercantile System and its Historical Significance, 1896. • SCHUMPETER, J. A. (1954). History of Economic Analysis. Oxford: Oxford University Press. • SPIEGEL. H. W. The Growth of Economic Thought. Duke: Duke University Press, 1991. • WAGNER, R. The Cameralists: Fertile Sources for a New Science of Public Finance. In Backhaus (ed.) Handbook of the History of Economic Thought: Insights on the Founders of Modern Economics, Springer, 2011.
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