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O ENGENHEIRO BIOMÉDICO E A PROFISSÃO AULA 1 Prof. Guilherme Ditzel Patriota 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos conhecer quem é o profissional de engenharia, quais as suas áreas de atuação e quais os conhecimentos que você adquirirá no curso para superar os desafios do trabalho. Nossa aula está dividida em 5 temas que farão você sair do completo desconhecimento sobre a profissão e chegar ao bom entendimento das atribuições de um profissional formado em engenharia. Nossa aula abordará os seguintes temas: • Tema 1 – Princípios e objetivos; • Tema 2 – Papel do engenheiro na sociedade; • Tema 3 – Perfil profissional; • Tema 4 – Habilidades e competências; e • Tema 5 – Campo de atuação. O conteúdo foi pensado para que você acompanhe do início ao fim de forma linear. TEMA 1 – PRINCÍPIOS E OBJETIVOS 1.1 O que é engenharia? Definir engenharia não é uma tarefa simples. Segundo Freitas (2020), organizador do livro Introdução à engenharia, a engenharia é o resultado de um longo processo evolutivo das faculdades humanas que se iniciou antes mesmo da existência da escrita moderna. É a união do conhecimento científico e humano para a resolução de problemas práticos e complexos. A união de conhecimentos em física, matemática, ciências, filosofia e artes culminam na criação da engenharia moderna que temos hoje. Física e matemática são os conhecimentos mais básicos e necessários para um engenheiro desempenhar bem o seu papel, mas é nas ciências aplicadas em conjunto com as artes que um engenheiro modela um novo equipamento em 3D ou cria uma aplicação de materiais para solução de algum problema (Cocican, 2017). É na aplicação prática dos conhecimentos científicos que mora a real razão da existência dos engenheiros. Para Krick (1979), iniciou-se durante o Renascentismo, nos séculos XV e XVI, uma união entre os conhecimentos 3 científicos e os especialistas que resolviam problemas com a criação de ferramentas, procedimentos e construções que surgiram ao longo de séculos anteriores. Famosos inventores como Galileu Galilei, mostrado na Figura 2, responsável por descobertas com uso de telescópios recriados por ele, por estudos avançados de parábolas, pelo experimento da torre inclinada de Pisa, representado pela Figura 3, que demonstrou que objetos de massas diferentes caiam com a mesma aceleração e Leonardo Da Vinci, responsável por inúmeros estudos de máquinas, como o da Figura 1, e em biologia humana com uso de cálculos matemáticos, são vistos até hoje como precursores do que hoje chamamos de engenharia clássica (Mendes, 2021). Figura 1 – Desenho de engenharia de Leonardo Da Vinci, de 1503 Crédito: Janaka Dharmasena/Shutterstock. 4 Figura 2 – Imagem de Galileu Galilei retirada de seu livro Il Saggiatore ou O Ensaiador, de 1623 Crédito: Everett Collection/Shutterstock. Figura 3 – Representação do experimento da torre inclinada de Pisa, conduzido por Galileu Crédito: Nasky/Shutterstock. Mesmo durante a primeira revolução industrial, no século XVIII, marcada pela criação da máquina a vapor, o processo de união entre inventores e a 5 aplicação do conhecimento científico foi visivelmente marcada por pequenas experiências e diversas invenções de inventores que não possuíam o conhecimento científico necessário para que suas máquinas funcionassem de forma segura e precisa. Apenas com a inclusão dos conhecimentos científicos a humanidade pôde evoluir da baixa eficiência do motor a vapor para os motores e tantas outras tecnologias que temos hoje (Krick, 1979). Hoje existem diversas formações, também chamadas de modalidades, em engenharia, como engenharia mecânica, engenharia civil, engenharia elétrica, engenharia biomédica, engenharia de produção, engenharia química, engenharia de alimentos e muito mais. 1.2 Quais as características necessárias de um engenheiro? Conhecendo a história da criação da engenharia no que temos hoje, fica claro que, no mínimo, todo engenheiro deve possuir algumas habilidades em comum. Um excelente conhecimento das Ciências Exatas e grande inventividade em aplicar estes conhecimentos para criação de soluções de problemas reais do dia a dia são imprescindíveis, porém não as únicas características necessárias. O engenheiro assume um importante papel social de responsabilidade sob suas criações. Sendo assim, o profissional de engenharia deve possuir a capacidade de assumir grande quantidade de responsabilidades sem esmorecer nem se abalar diante de desafios que, muitas vezes, envolvam a segurança e vidas humanas (Freitas, 2020). Essa grande responsabilidade culmina em enormes pressões na rotina do profissional, que deve saber trabalhar sob pressão e com prazos apertados. Saber solucionar os problemas em pauta, da melhor forma possível, com o menor custo e no menor tempo fazem parte do mantra do engenheiro: “fazer mais, melhor e com menos” (Ohno, 1988). Detalhista e minucioso, o profissional de engenharia, sempre com seu mantra em mente, soluciona os problemas mais complexos com eficácia, sem perder de vista seus prazos, mantendo assim sua eficiência. Entretanto, sem a devida coleta das necessidades e posterior explicação de utilização da sua criação, apenas resolver o problema não é suficiente (Cocican, 2017). Sendo assim, a pessoa que se dedica à carreira de engenharia deve possuir bons atributos de relacionamento interpessoal e de comunicação, além 6 de habilmente interpretar a situação atual tanto econômica quanto social, para que suas soluções sejam as mais abrangentes e duradouras possíveis. Ainda, sem conhecimento interdisciplinar nem capacidade de liderar grupos interdisciplinares, o engenheiro não seria capaz de solucionar problemas em áreas como saúde, como faz o engenheiro biomédico, ou meio ambiente, como no caso do engenheiro florestal (Freitas, 2020). Por fim, saber aplicar seus conhecimentos nas diversas ciências como matemática, física, química e biologia entre outras, em conjunto com o pensamento lógico, resume bem as capacidades básicas de um profissional de engenharia (Mendes, 2021). 1.3 Qual é a formação necessária? Segundo o Parecer CNE/CES 1.362/2001 (Brasil, 2002), aprovado na Resolução CNE/CES 02/2019 (Brasil, 2019), todo bacharel de engenharia, independente da especialidade, deverá receber formação em três núcleos de conteúdos distintos ao longo de no mínimo 4 anos de estudos: • Núcleo de conteúdos básicos; • Núcleo de conteúdos profissionalizantes; e • Núcleo de conteúdos específicos. Nos conteúdos básicos estão conhecimentos científicos primários como física, matemática, economia, administração, química, humanidades, comunicação, ciências sociais, ciências do ambiente, cidadania, entre outras. Com esses conhecimentos, o estudante recebe a base para que seu pensamento crítico e inventivo seja norteado de forma científica e socialmente útil, mantendo a atenção ao respeito ambiental e sustentabilidade. Com os conteúdos profissionalizantes, o futuro engenheiro se aprofundará nos conhecimentos científicos de sua modalidade e iniciará sua construção de modelo mental para uso dos conhecimentos adquiridos na solução de problemas reais. É neste núcleo de conteúdos que o engenheiro biomédico ou engenheiro químico ou demais modalidades receberá os conhecimentos científicos da área da química, ou da saúde, ou de alimentos, ou outras áreas, necessários para seu desenvolvimento como criador de soluções para sua modalidade, aprendendo sobre química, ciência dos materiais, 7 eletrônica, anatomia, biologia molecular, bioquímica, fisiologia, entre outros assuntos. Por fim, no núcleo de conteúdos específicos você aprenderá e exercitará seu pensamento de engenharia para aplicação dos conhecimentos científicos nasolução de problemas na sua área de atuação. Matérias como Projetos de circuitos digitais, Cálculo Estrutural, Imagenologia, Desenvolvimento Web e Móvel para Telemedicina, Equipamentos Médicos Hospitalares, Big Data em Saúde, Robótica, Processamento de Imagens, entre outras, o guiarão no pensamento de engenharia da sua modalidade. Saiba que durante todo o curso você receberá diversos conhecimentos que juntos criarão suas ferramentas para sua vida profissional. Com as matérias eletivas, que você poderá escolher qual cursar, você criará seu próprio caminho e seu diferencial pessoal perante o mercado. Por fim, a curiosidade e a vontade de aprender cada vez mais, sem parar, farão de você um excelente profissional. Busque sempre novas leituras sobre os assuntos que você mais se identifica e aprenda o máximo que você puder durante o curso. Dessa forma, você sentirá maior confiança em assumir grandes responsabilidades em sua atuação como engenheiro. 1.4 Principais atividades Para a profissão de engenharia, dois documentos regulatórios são usados para definir suas principais atividades. O primeiro é a Lei n. 5.194/66 (Brasil, 1966b), art. 7º, que habilita engenheiros a exercerem as atividades mostradas na Figura 4 a seguir. 8 Figura 4 – Principais atividades de um engenheiro segundo o art. 7º da Lei n. 5.194 de 1966 Fonte: Brasil, 1966b. O segundo é a Resolução n. 1.073/16 do Confea, art. 5º, parágrafo primeiro (Confea, 2016), que adiciona mais algumas atividades, sendo elas apresentadas na Figura 5. Gestor com responsabilidade técnica nas áreas de eletricidade, eletrônica, equipamentos médicos e estruturas prediais em saúde. Planejar e projetar equipamentos, processos e estruturas físicas médico- hospitalares. Gerenciamento do parque tecnológico de instituições de atendimento à saúde humana e animal Realizar e emitir laudos, projetos, perícias, estudos, análises, vistorias, pareceres, avaliações e divulgação técnica de processos, equipamentos e estruturas voltadas à saúde humana e animal. Ensinar, realizar experimentações, ensaios, estudos de metrologia e pesquisas em sua área de formação. Laudar e fiscalizar: obras, desenvolvimento de novas tecnologias, procedimentos de fabricação e serviços técnicos Gerenciar e dirigir obras, serviços técnicos e pesquisas / desenvolvimentos de novas tecnologias. Executar serviços técnicos e obras na área de formação. Realizar produção técnica especializada ou industrial. 9 Figura 5 – Adições nas atribuições de um engenheiro dadas pela Resolução n. 1.073/16 do Confea, art. 5º, parágrafo primeiro Fonte: Confea, 2016. Você deve conhecer estas resoluções e leis, para que seu desempenho como profissional seja realizado dentro das leis e sem prejuízo à sociedade. Desempenho e execução de cargo ou função técnica. Supervisão, coordenação e orientação técnica. Coleta de dados, anteprojeto, detalhamento, dimensionamento e especificação. Estudo de viabilidade ambiental e técnico- econômica. Consultoria, assessoria e assistência. Realização de auditorias, inspeções, monitoramentos e arbitragens técnicas. Treinamento, desenvolvimento, análise, divulgação técnica e extensão. Elaboração de orçamento. Padronização, mensuração, controle de qualidade. Condução de serviço técnico. Condução de equipes e/ou execução de fabricação, produção, montagem, instalação, operação, restauração, reparo, reforma ou manutenção. Operação, instalação e manutenção de equipamentos médico- hospitalares ou não. 10 1.5 Áreas de atuação e especialidades Um profissional pode escolher diversos caminhos dentro da engenharia. Veremos mais à frente como é feito o registro de um engenheiro para que ele possa exercer sua profissão e quais são as atribuições como engenheiro, mas neste momento vamos apresentar aqui as principais áreas de atuação dos engenheiros no Brasil. No Brasil, para a atuação de um engenheiro, são definidas 8 áreas distintas: 1.5.1 Construção civil e atividades conexas Nesta área de atuação, o engenheiro poderá se especializar como responsável técnico de obras, cálculos estruturais, estimativas de aumento no uso de estradas e muito mais. 1.5.2 Aplicação, uso, geração e demais atividades relacionadas à eletricidade Nesta área de atuação, o profissional de engenharia poderá se especializar em projetos equipamentos, criar plantas de geração de energia elétrica, projetos sistemas de distribuição elétrica, trabalhar com a interação da eletricidade e biologia, entre outras. 1.5.3 Química Dentro da área de química, o profissional de engenharia poderá obter especializações para atuação em processos produtivos com plásticos, petróleo, alimentos, indústria têxtil e até manipulação de produtos radioativos. 1.5.4 Mecânica e metalurgia Já na área de mecânica e metalurgia, o profissional poderá se especializar em atividades voltadas para a indústria automotiva, aeronáutica, militar, siderurgia, metalurgia, refrigeração e tantas outras indústrias e atividades correlatas. 11 1.5.5 Geologia e minas Já em geologia e minas, os engenheiros especializados nessas áreas poderão atuar em análise de solo, exploração de minérios e petróleo, estudo de novos compostos, desenvolvimento e aplicação de novos materiais e tantas outras atividades. 1.5.6 Agrimensura Agrimensura é a sexta área de possível especialização de um engenheiro. Nela, o profissional poderá atuar em cartografia, medições topográficas e áreas correlatas. 1.5.7 Agronomia Como especialista na área agrônoma, o engenheiro aplicará todos os conhecimentos científicos aprendidos para resolução de problemas nas áreas de produção agrícola, melhoria de processos de criação de animais, atuar na indústria de alimentos e muito mais. 1.5.8 Engenharia de segurança do trabalho Por fim, muitos engenheiros se especializam para atuar como engenheiro de segurança do trabalho. Como essa é uma especialização extremamente abrangente, englobando indústrias de todas as especializações, o profissional pode buscar esta especialização em paralelo com qualquer outra mencionada anteriormente. Sua atuação é de suma importância para garantir a segurança dos demais profissionais no desempenho de suas funções. 1.6 Mercado de trabalho Como vimos no tópico anterior, sobre áreas de atuação, o mercado de trabalho para as áreas de engenharia clínica, manutenção predial e engenheiro de aplicação são as que mais apresentam demanda. Nos dois primeiros isto ocorre pois existem mais hospitais, clínicas, hospitais veterinários, serviços de imagenologia e consultórios odontológicos do que o número de profissionais habilitados para execução das atividades. 12 Como vimos, se o número de hospitais no país é maior que 6.500 unidades, ao somarmos os demais já citados, como consultórios odontológicos e serviços de veterinária, a demanda se multiplica, enquanto a oferta de mão de obra cresce à uma taxa inferior ao necessário (SBEB, 2017). Estima-se que exista uma demanda de mais de 50 oportunidades de emprego para cada profissional atuando na área, mesmo após os ocorridos de 2020 e 2021, que aumentou o número de profissionais na área por conta das divulgações da necessidade na mídia televisiva (CREA-PA, 2020). Já para a área de engenheiros de aplicação, como estes são, muitas vezes, responsáveis pela venda e treinamento das equipes de atendimento à saúde na utilização dos equipamentos, o mercado de trabalho é tão grande quanto para os citados anteriormente. Como esses profissionais são requisitados toda vez que alguma empresa ou profissional precisa adquirir um equipamento médico-hospitalar ou insumo, a crescente demanda dos equipamentos causou um aumento expressivo nas vagas disponíveis. Nesse cenário, no início de 2020, a AssociaçãoBrasileira de Engenharia Clínica emitiu diversas circulares, entre as quais uma que tratava justamente de um apelo à comunidade de profissionais da área de vendas e aplicações. A solicitação focava no aumento da sinergia no fornecimento de insumos e equipamentos para unidades básicas de saúde (Abeclin, 2020). Para além das atividades mencionadas anteriormente, ainda temos as certificadoras e acreditadoras na área de saúde, como a ONA [S.d.]. A atuação dos profissionais de engenharia biomédica em serviços como este vão desde fiscalização, avaliação, auditoria e inspeção a até consultorias para melhoramento dos serviços e gestão do parque tecnológico da instituição para obtenção da acreditação. Como para um hospital a acreditação é de grande importância social, essa demanda também é proporcional à quantidade de instituições de saúde. TEMA 2 – PAPEL DO ENGENHEIRO NA SOCIEDADE Até este momento, vimos o que é ser um engenheiro de forma geral e quais os papéis que você poderá desempenhar profissionalmente. 13 Entretanto, ainda não expusemos qual será o seu papel social e por quais motivos um engenheiro possui tanta credibilidade perante a sociedade, a ponto de receber a confiança de vidas humanas em suas mãos. Para entendermos isso, primeiramente, é necessário conhecermos as entidades que garantem nossa qualidade profissional. 2.1 Garantia de qualidade profissional A qualidade de um profissional pode ser medida de muitas formas, porém a garantia dessa qualidade só pode ser feita por meio de padrões e regras bem definidos e leis que forcem o cumprimento destes. Analisando nossas instituições de ensino, percebemos que todas estão sujeitas às leis e padrões do ministério da educação de nosso país. Dessa forma, é garantida uma padronização nos conhecimentos mínimos necessários para cada tipo de profissional, e na engenharia biomédica não é diferente, como vimos nas diversas leis citadas até o momento. Porém, para que a atuação profissional seja realizada também dentro de padrões e regras, é necessária alguma instituição pública de controle e fiscalização. Para que a sociedade tenha essa garantia com relação aos engenheiros, existem o Confea e o CREA. 2.1.1 CREA/Confea No Brasil, em 1966, a Lei n. 5.194/66 regulamentou as profissões de engenheiro, arquiteto e agrônomo, criou os Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREAs) e determinou que as entidades de classe nacionais implantassem um código de ética, que foi criado e implantado pelo Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), em 1971 (Confea, 2020). Essa ação aumentou tanto a importância dos profissionais de engenharia quanto suas responsabilidades, garantindo que projetos executados sob a responsabilidade de um engenheiro fossem reconhecidamente seguros, sob pena de sanções administrativas e financeiras ao profissional, caso o projeto se provasse inseguro social ou ambientalmente. Hoje nos referimos a esses dois conselhos, nacional e regionais, por Sistema Confea/CREA (Confea, 2020). 14 É importante observarmos que os profissionais de arquitetura deixaram de integrar o Sistema Confea/CREA em 2011, com a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) (Brasil, 2010). Hierarquicamente falando, o Confea é responsável pela fiscalização nacional e padronização das regulamentações referentes à atuação dos profissionais registrados em cada conselho regional. Por sua vez, os conselhos regionais (CREA) são responsáveis pela fiscalização da atuação dos profissionais de engenharia e agronomia dentro de cada estado (Confea, 2020). O Código de ética profissional (2020), em sua décima terceira edição, é o principal documento regido pelo Confea e fiscalizado pelos CREAs de cada estado. Nele consta as associações e entidades de classe signatárias do código de ética, os endereços eletrônicos de todos os CREAs e os 14 artigos do código de ética de nossa profissão, incluindo princípios éticos, deveres, condutas vedadas, direitos, infração ética e regras e punições para processo ético disciplinar. Saiba mais A leitura do Código de ética do Confea é obrigatória para todo engenheiro. Acesse o link a seguir para conhecê-lo: CONFEA – Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Código de ética profissional da engenharia, da agronomia, da geologia, da geografia e da meteorologia. 13. ed. Brasília: Confea, 2020. Disponível em: <https://www.confea.org.br/midias/uploads- imce/Cod_Etica_13ed_com_capas_para_site.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2022. Dois pontos são muito importantes a serem observados com relação à atuação do sistema Confea/CREA. 1. A fiscalização exercida pelos conselhos regionais são para garantir que o profissional esteja exercendo sua profissão em acordo com as normas e código de ética vigentes e não para garantir direitos trabalhistas aos profissionais. Para o segundo caso existem as entidades e associações de classe, bem como sindicatos de cada categoria. 2. Não é o sistema Confea/CREA o responsável pela determinação nem fiscalização do piso salarial profissional. Esta determinação é dada pela Lei n. 4.950-A, de 1966, e é o mesmo até hoje. 15 2.1.2 CREA e direitos trabalhistas dos engenheiros A saber, o referido piso salarial para engenheiros em regime CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) é calculado com base no salário mínimo nacional, sendo um salário mínimo por hora diurna trabalhada por dia, até a 6ª hora no dia. Para horas diurnas excedentes a isso, somam-se ao salário mínimo mais 25% por hora. Caso o profissional trabalhe em período noturno, acrescentam-se 25% em todos os valores dados anteriormente (Brasil, 1966). Como exemplo, a Tabela 1 apresenta o cálculo de piso salarial para um engenheiro contratado como engenheiro responsável em um determinado projeto em regime CLT tiver contrato de trabalho de 6 horas diárias em período diurno: Tabela 1 – Tabela de cálculo de piso salarial para um engenheiro com carga horária de 6 horas de trabalho em horário diurno, considerado entre 6h e 22h Descrição Cálculo Valor Total Salário mínimo em 2021 R$1.100,00 Horas diárias 6 horas Valor mensal bruto 6 x 1.100 = R$6.600,00 Na Tabela 2, temos um exemplo de cálculo de piso salarial para um profissional trabalhando 8 horas diárias com as mesmas condições do exemplo anteriores: Tabela 2 – Cálculo de piso salarial para profissional de engenharia com carga horária de 8 horas diárias em período diurno Descrição Cálculo Valor Total Salário mínimo em 2021 R$1.100,00 Horas diárias 6 + 2 8 horas Mínimo mais 25%: 1,25 x 1.100 R$ 1.375,00 Valor mensal bruto 6 x 1.100 + 2 x 1.375 R$9.350,00 Por fim, na Tabela 3 temos um exemplo de cálculo para um profissional trabalhando 8 horas diárias em horário noturno, em contrato CLT: 16 Tabela 3 – Cálculo de piso salarial para um engenheiro com carga horária de 8 horas em período noturno Descrição Cálculo Valor Total Salário mínimo em 2021 R$1.100,00 Horas diárias noturnas 6 + 2 8 horas Mínimo mais noturno 1,25 x 1.100 R$ 1.375,00 Noturno mais 25%: 1,25 x 1.375 R$ 1.718,75 Valor mensal bruto 6 x 1.375 + 2 x 1.718,75 R$11.687,50 2.1.3 Importância do registro no CREA E ART Todas essas regras, leis, entidades de classe e conselhos de fiscalização e normatização norteiam as atividades desempenhadas pelos profissionais de engenharia, o que garante à sociedade a qualidade profissional. Para que o profissional de engenharia e a sociedade sejam respaldados por esse arcabouço regulatório, é necessário que o profissional esteja registrado no CREA da região na qual o serviço, obra ou equipamento esteja sendo executado, sem limite de registros estaduais diferentes que um profissional possa ter. A atuação profissional de um engenheiro em estado federativo, diferente de seu registro, é considerada exercício ilegal da profissão,passível de multa e punições mais graves. A execução de atividade de engenharia sem anotação de responsabilidade técnica (ART) oficializada no CREA do estado também é considerada um exercício ilegal da profissão e tanto o profissional de engenharia quanto o contratante podem sofrer sansões legais. Dessa forma, o sistema Confea/CREA garante para a sociedade o controle e a qualidade dos serviços de engenharia e dos profissionais no país. TEMA 3 – PERFIL PROFISSIONAL Vimos anteriormente as atribuições de um engenheiro, definidas por lei, porém nenhuma das descrições deixa claro qual o perfil profissional específico de um engenheiro, pois são apenas descrições de papéis que podem ser desempenhados de forma genérica. 17 Para entendermos o perfil de um profissional de engenharia, faz-se necessário analisarmos o mercado e as novas tecnologias emergentes. O engenheiro é um profissional capaz de projetar, implementar, calibrar e executar ensaios e em equipamentos e dispositivos voltados para diversas áreas, como civil, eletrônica, robótica, saúde humana ou saúde animal, além de coordenar e supervisionar equipes de trabalho em pesquisas científicas e tecnológicas ou de estudos de viabilidade técnico-econômica para equipamentos e serviços em sua área de atuação. O foco na modalidade específica é justamente o que faz do engenheiro o profissional ideal para criação de equipamentos, estruturas e processos tecnológicos dos quais vidas humanas estejam dependentes, como pontes, prédios, robôs de montagem, robôs de cirurgia, processos químicos, processos alimentares e muitos outros. Em sua atuação, o engenheiro poderá desenvolver novos processos e novas metodologias para prestação de serviços que tragam maior eficiência aos diversos processos existentes tanto para um único indivíduo quanto para toda uma comunidade, sempre primando pelos princípios éticos e de segurança. Sendo assim, é necessária uma boa capacidade de criação e inventividade. Independentemente de sua área de atuação profissional, o perfil de um engenheiro deve ser o de primar pela segurança dos seres humanos que utilizarão o resultado de sua atividade, buscando sempre realizar o máximo possível, no menor tempo possível e com o menor custo sem prejudicar a segurança (Confea, 2020). 3.1 Perfil do egresso O Parecer CNE/CES 1.362/2001 descreve o perfil do egresso de todos os cursos de graduação em engenharia da seguinte maneira: O perfil dos egressos de um curso de engenharia compreenderá uma sólida formação técnico científica e profissional geral que o capacite a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade. (Brasil, 2002) Neste curto trecho do Parecer do Ministério da Educação, redigido em 2002, podemos perceber que o profissional de engenharia não apenas deve estar apto a criar tecnologias como também deve ser capaz de aprender a utilizar 18 novas tecnologias, o que demonstra a necessidade de atualização contínua de seus conhecimentos. Outro ponto importante dessa descrição de perfil de egresso dos cursos de engenharia é o foco principal que um engenheiro deve ter, por exemplo, de sempre utilizar seus conhecimentos e criatividade para resolução de problemas. Não apenas uma resolução simples e sem cuidados às interfaces, mas com um cuidado na resolução de problemas que deverá ir além da causa e deverá repercutir através de toda uma atenção aos impactos ambientais, sociais, políticos, econômicos e culturais que a solução pode causar. Fica clara aqui a necessidade de atenção em fazer mais, melhor e por menos, onde fazer mais é dado pela necessidade de atenção em diversos aspectos que interagem com o problema, fazer melhor é explicitado na atenção que o profissional deverá despender na análise dos impactos não apenas sociais, mas ambientais, políticos e culturais. Por fim, fazer com menos é o reflexo da responsabilidade social e necessidade da atenção ao impacto econômico que a solução terá, buscando sempre reduzir este impacto. 3.2 Cargos no mercado profissional A constante e rápida evolução tecnológica mundial faz do profissional de engenharia uma mão de obra mais do que necessária. Vimos, no início desta aula, que a primeira Revolução Industrial foi movida pelos chamados engenheiros clássicos e marcada pela criação da máquina a vapor. Já entre 1850 e 1870 um grande movimento se deu em direção ao aumento de eficiência da indústria, com a criação de técnicas de produção em massa e linhas de produção. O surgimento de máquinas mais eficientes para produção acabou por introduzir outras formas de fabricação, principalmente na mecanização de produções antes manuais. O uso de eletricidade em conjunto com o petróleo e as técnicas de fabricação em massa foram os elementos que marcaram esta revolução industrial. Com a evolução tecnológica, passamos da máquina a vapor para máquinas elétricas e, logo em seguida, apenas cerca de 70 anos após o início da segunda revolução industrial, o mundo testemunha a criação do silício e, com ele, do computador. Surge assim a Terceira Revolução Industrial. 19 Entre 1950 e a década de 1990 assistiu-se a muitos avanços na área de eletrônica e computação, o que elevou a indústria a novos patamares. De fábricas mecanizadas, passamos a ver fábricas altamente automatizadas e robotizadas. Esses processos eram antes realizados por grandes equipes, mas agora podiam ser gerenciados por um pequeno grupo e executado por braços robóticos e outras automações. O uso de computadores fez com que tarefas complexas passassem a ser rapidamente executadas e na criação de projetos de produtos e peças, vimos os softwares de CAD (desenho assistido por computador) e CAM (manufatura assistida por computador) se tornarem cada vez mais acessíveis e de conhecimento obrigatório para engenheiros. Com o alvorecer da internet, na década de 90, vimos um mundo de possibilidades crescer exponencialmente à nossa frente. Ainda na década de 2000 o mundo não tinha um grande conhecimento sobre o que significaria a internet para a indústria e para a engenharia, mas podíamos perceber o rápido crescimento das tecnologias digitais. A popularização do Wi-Fi, internet móvel, celulares com grande capacidade de processamento inteligências artificiais foram destaques nesta década de 2000 e ainda são a base que permitiu o surgimento da quarta revolução industrial, a indústria 4.0. Da década de 2010 até hoje, presenciamos o surgimento e popularização de novos meios de produção, como as impressoras 3D, meios de transporte de produção autônomos, como drones e robôs, criação de uma virtualização e abstração de recursos antes extremamente caros, como servidores agora transformados em serviços ofertados no que chamamos de nuvem, introdução de máquinas e equipamentos comuns como geladeiras, televisores, lâmpadas, entre outros com ligação à internet, o que chamamos de IoT (Internet of Things ou internet das coisas). São justamente estas tecnologias que estão marcando a indústria 4.0. Com o rápido avanço no uso de inteligências artificiais para controle de produção, tomadas de decisão e análise de dados, ainda teremos muitos avanços pela frente, e você, como engenheiro, será parte dessa evolução. Pensando nesse contexto, podemos listar alguns dos tipos mais comuns de empresas e instituições que trazem as maiores oportunidades de cargos, salários e crescimento profissional. 20 Sendo o mercado de trabalho brasileiro muito diversificado e multicultural, temos aqui empresas familiares, startups, multinacionais, grandes empresas nacionais, empresas sem fins lucrativos, ONGs, estatais e muitomais. Vamos ver algumas delas. 3.2.1 Startups Startups são entidades que ainda não se tornaram uma empresa formal, ou estão em processo de formalização, mas não possuem estruturas clássicas de empresa, como setores bem definidos, serviços internos de recursos humanos ou mapeamento e documentações internas de funcionamento. Normalmente são empresas com um único produto ou serviço, ainda em processo de desenvolvimento e é aí que um engenheiro pode encontrar seu desafio para desempenho de função. Nesses locais, você normalmente será chamado para compor uma equipe de pequena e sem contratos formais de trabalhos, mas com participação em sociedades ou recebimento por papéis da empresa, como ações ou participações em vendas. Cargos de desenvolvimento de produtos é o tipo mais comum, porém gestão também figuram entre as atividades desempenhadas por engenheiros. O engenheiro encontrará aqui um dos lugares mais informais para trabalho, porém com a maior demanda de atividades, normalmente. Desafios para criação de grandes inovações são normalmente feitas neste tipo de organização. 3.2.2 Micro e pequenas empresas ou familiares São caracterizadas por poucos funcionários (até 49 funcionários para agropecuária, comércio e serviços e até 99 pessoas para indústria e construção) e acúmulos de funções com salários mais modestos. Nesse tipo de empresas, o engenheiro poderá desempenhar cargos de responsável técnico de algum serviço ou fabricação de produto, ou de responsável técnico por estrutura de comunicações ou de rede de computadores. Poderá ainda exercer cargo de gestão ou de desenvolvimento de solução ou ainda todas essas atribuições juntas. 21 Pequenas empresas são um ótimo ponto de início ou de mudança de área. 3.2.3 Empresas de porte médio São aquelas que possuem de 50 a 99 funcionários em caso de empresa da área de agropecuária, comércio ou serviços e de 100 a 499 funcionários para os setores de indústria e construção (Sebrae, 2020). Nesse tipo de empresas, o profissional de engenharia encontrará salários bem variados, porém com cargos não necessariamente de engenharia. Cargos com nomes como analista, técnico, supervisor, gestor são usados para não caracterizar o cargo de engenheiro. Dessa forma, o profissional de engenharia raramente receberá um salário igual ou superior ao piso da categoria. Os mesmos cargos desempenhados em uma empresa de pequeno porte podem ser encontrados aqui, porém com maiores responsabilidades, na maioria dos casos. 3.2.4 Empresas de grande porte São as que possuem 100 ou mais funcionários para os setores de serviços, comércio e agropecuária, ou de 500 ou mais funcionários para os setores de indústria e construção. Não é raro encontrar uma equipe composta apenas por engenheiros nesse tipo de empresa. Neste cenário, o engenheiro poderá ser o detentor da responsabilidade técnica perante as atividades gerais ou compor quadro de uma equipe de engenheiros e ser responsável técnico por projetos individualmente. Nesse cenário enquadram-se também as multinacionais, que propiciarão ao profissional de engenharia grandes oportunidades de crescimento, de viagens e até imigração para outros países. Para que você alcance grandes colocações dentro da organização, saber uma língua além do português é imprescindível nesse tipo de empresa, em que, além disso, os salários são normalmente equiparados ao piso da categoria ou maiores, chegando a cifras bem expressivas, por conta de recebimentos em moedas estrangeiras. 22 3.2.5 Empresas estatais ou públicas São aquelas empresas geridas e mantidas por governos nacionais, podendo ser brasileiras ou até de outros países. Para as empresas estatais brasileiras, os famosos concursos públicos são processos de contratação obrigatórios para exercermos cargo de engenharia. Aqui encontramos bons salários, normalmente maiores do que o piso da categoria, mas inferiores aos das multinacionais. Nessas empresas, os desafios são bem diversos e não raramente é necessário se manter atualizado com cursos de pós-graduações, mestrados e doutorados para que você seja elegível às promoções anuais de cargos internos. Cargos como engenheiro de inspeção, perito, engenheiro e outros são comuns e raramente existirão cargos de desenvolvimento de produtos ou serviços, mas sim fiscalizações e manutenções. Como você pôde observar, o engenheiro possui uma infinidade de atividades que pode desempenhar e em inúmeros tipos de locais de trabalho. É importante destacar que muitos profissionais optam por abrir sua própria empresa e prestar serviços de engenharia para empresas estatais e empresas privadas sob contratos de terceirização ou de licitações. Esse modelo também é muito rentável, porém o profissional deve ficar atento com relação à não existência de décimo terceiro pagamento, ausência de férias remuneradas e a obrigações trabalhistas e de impostos, para não ter problemas financeiros desnecessários. TEMA 4 – HABILIDADES E COMPETÊNCIAS Algumas das principais competências e habilidades que todo engenheiro deverá adquirir até sua colação de grau são normalizadas também pela Resolução CNE/CES 2/2019 (Brasil, 2019), do Ministério da Educação. De forma resumida, o Parecer CNE/CES 1.362/2001 (Brasil, 2002) afirma que essas competências são: a. aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à engenharia; b. projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados; c. conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos; d. planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia; e. identificar, formular e resolver problemas de engenharia; f. desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas; 23 g. supervisionar a operação e a manutenção de sistemas; h. avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas; i. comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica; j. atuar em equipes multidisciplinares; k. compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais; l. avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental; m. avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia; n. assumir a postura de permanente busca de atualização profissional. (Brasil, 2002) Entretanto, essas não são as únicas competências necessárias para se exercer uma profissão em engenharia. Conhecer os principais frameworks de trabalho (regras padronizadas e boas práticas em se executar algo) também é necessário. O principal exemplo de framework que habilmente um engenheiro deve conhecer e saber aplicar é o PMBOK (framework para gestão de projetos). Outra demanda também crescente é conhecer metodologias ágeis (vários frameworks para gestão de projetos de forma mais rápida e menos burocrática que o PMBOK e focada em geração de sistemas computacionais, como o SCRUM). Para que o engenheiro possa garantir sua eficiência, saber usar metodologias de lean manufacturing, six sigma e método kaizen (técnicas de aumento de produtividade com base no modelo de gestão criado pela Toyota que visa a redução de erros a níveis extremamente baixos ou quase inexistentes) é um grande diferencial e muitas vezes cobrado na indústria por meio de certificações como green belt ou black belt do lean six sigma. A busca por especializações em gestão também é sempre bem-vista pelo mercado, sendo os MBAs os tipos mais comuns e que permitem ao engenheiro alçar voos mais altos em sua carreira quando voltada para a gestão de empresas de engenharia. Queremos também enfatizar aqui que existe uma habilidade que está em crescente alta de demanda no mercado, não apenas para profissionais de engenharia, mas para muitas outras áreas, que é conhecer e saber aplicar alguma linguagem de programação de alto nível em conjunto com técnicas avançadas em programação voltadas para análisede grandes quantidades de dados e inteligência artificial. Percebemos, até aqui, que o engenheiro receberá uma grande quantidade de conhecimentos ao longo de sua formação, mas que, por conta da rápida evolução tecnológica da humanidade, você como profissional deverá encarar esses conhecimentos recebidos como uma base para que seu 24 aprendizado nunca pare, a fim de se manter sempre relevante e atual em relação às novas técnicas e formas de solução de problemas. Sendo assim, muitas outras habilidades e competências ainda serão demandadas dada essa rápida evolução humana, porém você não deve perder de vista sua base de formação e suas habilidades básicas: capacidade de utilizar ciência para solução de problemas complexos, comunicação eficiente, ética profissional e permanente curiosidade em busca de atualização profissional. TEMA 5 – CAMPO DE ATUAÇÃO O campo da engenharia é amplo e multidisciplinar. Nele um engenheiro pode atuar como responsável em uma obra industrial e ser habilitado como engenheiro civil ou ainda, ser um engenheiro de produção e atuar em melhorias de processos em uma montadora de carros. Todos os títulos profissionais possíveis para a formação de engenharia registrados pelo sistema Confea/CREA são dados pela Tabela de Títulos Profissionais, instituída pela Resolução 473/02 (Confea, 2002) e atualizada para abranger as novas modalidades de profissionais que surgiram após sua criação. Essa tabela agrupa os títulos profissionais em grupos, modalidades e nível de formação (Confea, 2020). Na Erro! Fonte de referência não encontrada., vemos os grupos existentes na tabela do Confea: 25 Figura 6 – Grupos de classificação dos títulos profissionais estipulados pelo Confea Fonte: Confea, 2020. Observe que o grupo 2 não faz mais parte do sistema Confea/CREA e, portanto, deixou de constar na tabela. O grupo 4 contém as modalidades especiais, ou seja, aquelas que não puderam ser encaixadas nas demais modalidades por serem multidisciplinares e por poderem ser desempenhadas por mais de uma modalidade de engenharia. Neste grupo 4, especiais, temos as seguintes engenharias: • Engenheiro de Saúde e Segurança; e • Engenheiro de Segurança do Trabalho. Esses dois títulos podem ser adquiridos perante o sistema Confea/CREA quando da comprovação de formação em curso de especialização ou de matérias de graduação que componham as exigências para tal. CONFEA GRUPOS Grupo 1 Engenharia Grupo 2 Arquitetura Grupo 3 Agronomia Grupo 4 Especiais 26 Já para o grupo 1, temos as modalidades de engenharia que são organizados conforme mostra a Erro! Fonte de referência não encontrada.. Figura 7 – Modalidade profissionais do grupo 1: Engenharias da tabela de títulos profissionais do Confea Fonte: Confea, 2020. Cada modalidade de engenharia contém os títulos profissionais que podem ser solicitados após a graduação em um curso de engenharia. O profissional deverá comprovar seus conhecimentos mediante apresentação de histórico escolar. Baseado em seu histórico, o sistema Confea/CREA lhe classificará em um ou mais dos títulos existentes e que são organizados da seguinte forma (Confea, 2020): 5.1 Modalidade 1 – Civil Grupo 1 Engenharia Modalidade 1 Civil Modalidade 2 Eletricista Modalidade 3 Mecânica e Metalúrgica Modalidade 4 Química Modalidade 5 Geologia e Minas Modalidade 6 Agrimensura • Eng. Ambiental; • Eng. Civil; • Eng. de Fortificação e Construção; • Eng. de Operação – Construção Civil; • Eng. de Operação – Construção de Estradas; • Eng. de Operação – Edificações; • Eng. de Operação – Estradas; • Eng. Industrial – Civil; • Eng. Militar; • Eng. Sanitarista; • Eng. Sanitarista e Ambiental; • Eng. de Infra-Estrutura Aeronáutica; • Eng. de Produção – Civil; • Eng. Hídrico; • Urbanista; e • Eng. de Transportes. 5.2 Modalidade 2 – Eletricista • Eng. de Computação; • Eng. de Comunicações; • Eng. de Controle e Automação; • Eng. de Operação – Eletrônica; • Eng. de Operação – Eletrotécnica; • Eng. de Operação – Telecomunicações; • Eng. de Produção – Eletricista; • Eng. de Telecomunicações; • Eng. de Transmissão; • Eng. Eletricista; • Eng. Eletricista – Eletrônica; • Eng. Eletricista – Eletrotécnica; • Eng. em Eletrônica; • Eng. em Eletrotécnica; • Eng. Industrial – Elétrica; • Eng. Industrial – Eletrônica; 28 • Eng. Industrial – Eletrotécnica; • Eng. Industrial – Telecomunicações; • Eng. Biomédico; • Eng. de Energia; e • Eng. de Software. 5.3 Modalidade 3 – Mecânica e metalurgia • Eng. Aeronáutico; • Eng. Mecânico e de Armamento; • Eng. de Operação – Aeronáutica; • Eng. de Operação – Fabricação Mecânica; • Eng. de Operação – Indústria da Madeira; • Eng. de Operação – Máquinas e Motores; • Eng. de Operação – Mecânica; • Eng. de Operação – Mecânica Automobilística; • Eng. de Operação – Mecânica de Manutenção; • Eng. de Operação – Mecânica de Máquinas e Ferramentas; • Eng. de Operação – Metalurgista; • Eng. de Operação – Processo de Fabricação Mecânica; • Eng. de Operação – Produção; • Eng. de Operação – Refrigeração e Ar Condicionado; • Eng. de Operação – Siderurgia; • Eng. de Produção; • Eng. de Produção – Mecânica; • Eng. de Produção – Metalurgista; • Eng. de Produção – Agroindústria; • Eng. Industrial – Madeira; • Eng. Industrial – Mecânica; • Eng. Industrial – Metalurgia; • Eng. Mecânico; • Eng. Mecânico – Automação e Sistemas; • Eng. Metalurgista; • Eng. Naval; 29 • Eng. Mecânico Eletricista; • Eng. Acústico; • Eng. Automotivo; e • Eng. Aeroespacial. 5.4 Modalidade 4 – Química • Eng. de Alimentos; • Eng. de Materiais; • Eng. de Operação – Petroquímica; • Eng. de Operação – Química; • Eng. de Operação – Têxtil; • Eng. de Produção – Materiais; • Eng. de Produção – Química; • Eng. de Produção – Têxtil; • Eng. Industrial – Química; • Eng. Químico; • Eng. Têxtil; • Eng. de Petróleo; • Eng. de Plástico; • Eng. Bioquímico; • Eng. Nuclear; • Eng. de Bioprocessos e Biotecnologia. 5.5 Modalidade 5 – Geologia e minas • Eng. de Minas; • Eng. Geólogo; • Geólogo; e • Eng. de Exploração e Produção de Petróleo. 5.6 Modalidade 6 – Agrimensura • Agrimensor; • Eng. Agrimensor; • Eng. Cartógrafo; 30 • Eng. de Geodésia; • Eng. em Topografia Rural; • Eng. Geógrafo; • Eng. Topógrafo; • Geógrafo; e • Eng. Agrimensor e Cartógrafo. 5.7 Modalidade 1 – Agronomia No Grupo 3, temos agronomia, que também engloba os seguintes títulos profissionais de engenharia: • Eng. Agrícola; • Eng. Agrônomo; • Eng. de Pesca; • Eng. Florestal; • Meteorologista; e • Eng. de Aquicultura. Após conhecermos todas essas modalidades, percebemos que o campo de atuação da engenharia é extremamente abrangente e vai de agricultura, pesca e geologia até às clássicas mecânica, elétrica e civil, passando por bioquímica, química, biotecnologia e biomédica. Praticamente todas as áreas do conhecimento humano se beneficiam da forma de solucionar problemas da engenharia e certamente muitas outras modalidades serão acrescidas à tabela do Confea/CREA nas próximas décadas. FINALIZANDO O engenheiro é percebido pela sociedade como um profissional capaz de usar todas as ferramentas e conhecimentos de engenharia em conjunto com as ciências agrárias, mecânicas, elétricas, químicas, biológicas e outras, para solucionar problemas antes impossíveis de serem resolvidos sem uma equipe multidisciplinar grande e com pouca sinergia. Vimos nesta aula que o engenheiro possui status de profissional habilitado e de qualidade garantida por normas, leis e fiscalização de entidades públicas 31 que o elevam ao patamar de detentor de razão técnica e credibilidade perante a sociedade. Também pudemos conhecer o código de ética e conduta que deverá nortear todas assuas ações e tomadas de decisão enquanto profissional de engenharia. É nesse código de conduta que reside o motivo de os engenheiros de todo o país exercerem suas atribuições de forma padronizada e com alta qualidade e é também por ele que a sociedade pode se apoiar e se defender quando do exercício ilegal ou de conduta incompatível com o esperado de um engenheiro. Conhecemos aqui os conselhos de classe, CREAs, e seu papel em fiscalizar a atuação dos engenheiros, bem como manter nosso acervo técnico, as ARTs. Entendemos que não são os CREAs nem o Confea que garantem nosso piso salarial, mas sim as entidades de classe e sindicatos de categorias, baseados em lei redigida e aprovada em 1966 e, até o momento, sem alteração das proporções do piso salarial, mas com evolução em conjunto com o salário mínimo nacional. Descobrimos a importância do registro no CREA do estado em que faremos nossa atuação profissional e que a emissão de ART é de suma importância para o registro, oficialização e garantia social do serviço que iremos executar, sendo que uma ART é parte do nosso acervo pessoal e pode ser usada como comprovação de projetos realizados em currículo profissional ou portfólio. Apresentamos o perfil do egresso esperado de um profissional de engenharia e quais as nuances contidas no texto oficial do Ministério da Educação brasileiro referentes às capacidades que o profissional deve demonstrar perante a sociedade em sua atuação. Por fim, fizemos a exposição do mercado de trabalho, das possibilidades de atuação profissional e como profissionais de engenharias foram imprescindíveis durante uma emergência de saúde mundial. Agora é com você. Desejamos um excelente caminho de estudos e conhecimentos para que seu desenvolvimento como engenheiro seja uma experiência única, inesquecível e de grande valor profissional para seu futuro e para a sociedade. 32 REFERÊNCIAS ABECLIN – Associação Brasileira de Engenharia Clínica. Circular 2020/03 - Atitudes para cooperarcom as unidades de saúde. ABEClin, Rio de Janeiro, p. 2, 2020. BRASIL. Lei n. 4.950-A, de 22 de abril de 1966. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 29 abr. 1966a. _____. Lei n. 5.194, de 24 de dezembro de 1966. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 24 dez.1966b. _____. Lei n. 12.378, de 31 de dezembro de 2010. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 31 dez. 2010. BRASIL, Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES n. 1.362/2001, de 12 de dezembro de 2001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 25 fev. 2002. _____. Resolução CNE/CES n. 2, de 24 de abril de 2019. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 24 abr. 2019. COCICAN, L. F. E. Introdução à engenharia. Porto Alegre: Bookman, 2017. CONFEA – Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Resolução n. 473, de 26 de novembro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 12 dez. 2002. _____. Resolução n. 1.073/2016. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 22 abr. 2016. _____. Código de ética profissional da engenharia, da agronomia, da geologia, da geografia e da meteorologia. 13. ed. Brasília: Gerência de Comunicação do Confea – GCO, 2020. _____. Tabela de Títulos Profissionais Resolução 473, de 26 de novembro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 nov. 2002. ENGENHEIROS clínicos na linha de frente contra o Covid-19. CREA-PA, 28 mar. 2020. Disponível em: <http://www.creapa.com.br/site/index.php/blog/noticias/4219-engenheiros- clinicos-na-linha-de-frente-contra-o-covid-19>. Acesso em: 20 jan. 2022. FREITAS, C. A. (org.). Introdução à engenharia. São Paulo: Pearson, 2020. 33 KRICK, E. V. Introdução à engenharia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979. MENDES, D. Engenharia de produção: do paradigma inicial à sociedade 5.0. Curitiba: InterSaberes, 2021. OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1988. ONA – Organização Nacional de Acreditação. Disponível em: <https://www.ona.org.br/>. Acesso em: 20 jan. 2022. SBEB – Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica. Onde e como estão nossos engenheiros biomédicos. Rio de Janeiro: SBEB, 2017. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Anuário do trabalho nos pequenos negócios 2018. Brasília: Sebrae, 2020.
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