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O ENGENHEIRO BIOMÉDICO E A PROFISSÃO AULA 3 Prof. Guilherme Ditzel Patriota 2 CONVERSA INICIAL Você já conheceu as possibilidades de atuação de diversas áreas da engenharia, descobriu as principais atuações de um engenheiro, reguladas pelo sistema Confea/CREA. Nesta etapa, veremos uma visão geral dos sistemas biomédicos dividida em cinco temas: • Tema 1 – Evolução e histórico dos equipamentos médicos; • Tema 2 – Interface com a biologia; • Tema 3 – Interface com a medicina; • Tema 4 – Aplicações das tecnologias em saúde; • Tema 5 – Áreas da engenharia biomédica. Muito antes do surgimento da engenharia biomédica tal como esta é hoje, a medicina já dependia de máquina, ferramentas e geração de imagens que ajudavam na análise, diagnóstico e tratamento de pacientes com doenças e deficiências diversas. TEMA 1 – EVOLUÇÃO E HISTÓRICO DOS EQUIPAMENTOS MÉDICOS A evolução dos equipamentos médicos está fortemente ligada à evolução da medicina no mundo. Equipamentos básicos como balanças, estetoscópios, termômetros e até relógios para medirmos pulsação são criações que tiveram seu papel importante no desenvolvimento tecnológico médico que temos hoje. Na Figura 1 temos uma linha do tempo com as principais tecnologias que foram a base para as tecnologias médicas usadas hoje. Algumas foram criações empíricas e não mais utilizadas e outras são pautadas na ciência e usadas até hoje (Bigotti; Taylor, 2017; A história..., [S.d.]; Febrer, 2011) (Marasciulo, 2020) (The Nobel Prize, [S.d.]) (Câmara Filho, 2021) Já na , temos as tecnologias mais recentes e importantes, que permitiram o rápido desenvolvimento das demais tecnologias em saúde que temos hoje (The Nobel Prize, [S.d.]) (Bell, 2021) (U.S. Department of Energy, 2009). 3 Figura 1 – Linha do tempo das principais tecnologias usadas em saúde (1) Crédito: Sun Image/Shutterstock; Peyker/Shutterstock; Channarong Pherngjanda/Shutterstock; M.F.A.M. Museum/Shutterstock; Peerayot/Shutterstock; Ulisses Almeida/Shutterstock; Olesia O/Shutterstock; Anneka/Shutterstock; Lena Si/Shutterstock. Figura 2 – Linha do tempo das principais tecnologias usadas em saúde (2) Crédito: Bohdan Populov/Shutterstock; Allo4e4ka/Shutterstock; Marko Aliaksandr/Shutterstock; Springsky/Shutterstock; Panchenko Vladimir/Shutterstock; Creativity Lover/Shutterstock; belekekin/Shutterstock; Mad.Vertise/Shutte 4 1.1 Imagens médicas Vimos nas linhas do tempo anteriores alguns dos principais equipamentos e técnicas de desenvolvidas para geração e diagnose por imagens, como aparelhos de raios-x, ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética e PET/CT. Imagens médicas são o conjunto de imagens de um paciente que permitam o apoio ao diagnóstico do paciente pelo médico. A utilização de imagens que representem algum aspecto da saúde de um paciente se inicia com a descoberta dos raios-X, mostrado na Figura 3, que permitiram ao médico uma análise das estruturas ósseas e de mais tecidos internos do paciente sem a necessidade de excussão de cirurgia para tal (U.S. Department of Energy, 2009). Figura 3 – Aparelho de raio-x de médio porte, que pode ser usado em humanos e animais de pequeno e médio porte Crédito: Manu Reyes/Shutterstock. 5 Mesmo não sendo uma representação direta de uma estrutura do paciente, o eletrocardiograma (ECG), inventado logo após a descoberta dos raios-X, também é um tipo de imagem médica, como mostrado na Figura 4, pois apresenta em forma de apoio visual uma informação da biologia do paciente, mais precisamente, do estado de funcionamento elétrico do coração. Figura 4 – Exemplo de resultado de exame de imagem de um ECG com 12 vias Crédito: Christian Cantarelli/Shutterstock. 6 Poucas décadas depois do surgimento dos raios-x, a aplicação de ondas de ultrassom, anteriormente usadas apenas para ecolocalização de navios e submarinos, passou a ser testada e usada para visualização interna de pacientes, assim como os raios-X, porém sem o risco da exposição à radiação, como exemplificado pela Figura 5. Figura 5 – Aparelho de ultrassonografia simples em utilização Crédito: Romanets/Shutterstock. 7 Em busca de melhorias na qualidade e precisão das imagens de raios-x, testes com aparelhos de raios-x que rotacionavam em torno do paciente deram origem aos tomógrafos, ressonâncias magnéticas e PET/CT. Todos esses equipamentos possuem princípios semelhantes e utilizam computação e modelos matemáticos para recriar imagens de partes cada vez mais precisas e isoladas das demais, internas do corpo dos pacientes. Alguns são menos invasivos e com menos exposição à radiação, como a ultrassonografia e outros possuem maior carga de radiação, como raios-X e tomografias computadorizadas (CT), cuja máquina é mostrada pela Figura 6. Figura 6 – Máquina de tomografia computadorizada (CT) Crédito: Kckate16/Shutterstock. Ressonâncias magnéticas (MRI), exemplificadas pela Figura 7, se utilizam de campos magnéticos para criação das imagens do paciente e por este motivo, não emitem radiação prejudicial. A principal diferença visual entre um CT e uma MRI é a saída de exaustão para o teto da sala, vindo da máquina de MRI. Essa exaustão existe para liberação em caso de emergência, em forma de gás, do nitrogênio ou hélio líquidos que resfriam a máquina (Hochhegger, 2015). 8 Figura 7 – Aparelho de MRI (ressonância magnética) com detalhe para duto de exaustão no teto Crédito: Kali Antye/Shutterstock. PET/CT é a união da tomografia com técnicas de detecção de pósitrons, radiação emitida por elementos radioativos ou químicos de baixa potência ingeridos ou injetados no paciente, chamados de contraste ou marcadores, para aumentar o contraste da imagem em determinados tecidos. Tanto estrutura quanto os equipamentos são muito parecidos com o CT (U.S. Department Of Energy, 2009). Além dos equipamentos de imagens estáticas, ainda existem os aparelhos de ultrassonografia 4D, que recriam um vídeo em três dimensões da estrutura interna do paciente. A quarta dimensão é justamente o tempo do vídeo. 9 Figura 8 – Gama Câmera para realização de exames de PET/CT, cintilografia e tomografia Crédito: Bork/Shutterstock. Além dos ultrassons 4D existem os aparelhos de angiografia, também chamados de aparelhos de hemodinâmica. Estes são grandes aparelhos que ocupam uma sala cirúrgica inteira e normalmente são montados no teto ou em trolhos no chão. Na Figura 9 temos a foto de uma sala com esse equipamento. 10 Figura 9 – Aparelho de angiografia (arco em C à esquerda da imagem) em uma sala de hemodinâmica Crédito: Radiological Imaging/Shutterstock. Já na Figura 10 vemos um esquemático do angiógrafo, com o posicionamento do paciente e um exemplo de imagem gerada e mostrada nos monitores acima da mesa cirúrgica. 11 Figura 10 – Representação gráfica de uma máquina de angiografia com o posicionamento do paciente e imagens das artérias em estudo Crédito: Rumruay Shutterstock. 1.2 Manutenção de vida Para além dos equipamentos de visualização do paciente, temos aparelhos que monitoram e mantêm os sinais ditais dos pacientes. A esses equipamentos damos o nome de equipamentos de manutenção de vida. Alguns exemplos mais comuns são os aparelhos de anestesia, ventiladores pulmonares, aparelhos de ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), bombas de infusão, monitores de oximetria, desfibriladores, cardioversores e monitores multiparamétricos, também chamados de multiparâmetros ou de sinais vitais. Os monitores multiparamétricos, exemplificados pela Figura 11, apresentam em uma única tela diversos sinais vitais do paciente, como temperatura, pressão, ECG e oximetria.12 Figura 11 – Monitor multiparamétrico Crédito:Whyframe/Shutterstock. Esses monitores são amplamente usados em diversos setores de atendimento à saúde, desde salas de cirurgias, UTIs e leitos de internamento à ambulâncias e veículos de transporte de pacientes. A combinação das leituras de oxigenação do sangue, batimentos cardíacos, eletrocardiograma, temperatura e pressão do paciente em uma única tela faz desse aparelho um concentrador de dados sobre as condições do paciente e de alarmes coordenados em caso de alteração ou piora do quadro clínico. Em uma sala cirúrgica, além dos monitores de sinais vitais como o multiparâmetros, cardíaco ou de ECG, ainda temos as máquinas que mantêm a vida do paciente, como os aparelhos de anestesia e equipamentos de circulação extracorpórea (ECMO), mostrados na Figura 12. 13 Figura 12 – Aparelho de ECMO à esquerda e de anestesia à direita Crédito: Kiryl Lis/Shutterstock; Sport08/Shutterstock. Perceba que, no caso da imagem do aparelho de anestesia, duas telas estão acopladas ao mesmo, pois é prática padrão mantermos o monitor multiparamétricos junto ao aparelho de anestesia para controle dos sinais vitais pelo médico anestesista. Muitos outros equipamentos de manutenção à vida poderiam ser mostrados aqui, em todas as suas configurações possíveis, porém nosso conhecimento será aprofundado durante o curso. Para resumirmos, vamos finalizar com o aparelho que mais teve foco nos anos de 2020 e 2021, os respiradores ou ventiladores pulmonares. Os respiradores são aparelhos que mantêm o fluxo de oxigênio no pulmão do paciente mesmo que os músculos do paciente não estejam respondendo aos estímulos, garantindo a circulação de oxigênio necessária para manutenção da vida do paciente entubado. 14 A Figura 13 mostra um dos aparelhos que realizam esse tipo de função. Perceba que esse aparelho lembra muito um aparelho de anestesia, pois sua função é muito parecida, além de também ser utilizado em conjunto com o monitor multiparâmetros, não em cirurgias, mas em salas de UTI. Figura 13 – Aparelho de respiração pulmonar, também chamado de ventilador pulmonar ou respirador Crédito: AlexLMX/Shutterstock. 15 TEMA 2 – INTERFACE COM A BIOLOGIA A engenharia biomédica se conecta à biologia e a todos os profissionais envolvidos na melhora da qualidade de vida e saúde dos pacientes, sejam eles pessoas ou animais. É nossa atuação em conjunto com hospitais, farmácias, laboratórios, órgãos reguladores e laboratórios que criam a sinergia necessária entre biologia e tecnologia para o aumento da eficiência da saúde como um todo. Assim como o objetivo de todos os equipamentos médico-hospitalares é o de garantir a segurança e a melhoria da saúde dos pacientes, laboratórios de análises clínicas e farmácias hospitalares são parte da cadeia de suporte a essas atividades. Laboratórios de análises clínicas recebem os exames coletados pelas equipes de enfermagem e realizam os exames necessários para o melhor embasamento clínico no diagnóstico do paciente. Esses laboratórios podem ser internos aos hospitais ou serem empresas prestadoras de serviços externas, porém com grande agilidade na execução de exames, além de fornecerem exames laboratoriais para redes de saúde preventiva, como as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento públicas) e postos de saúde do Brasil. São esses serviços que garantem um diagnóstico precoce e acompanhamento preciso da saúde de toda a população, ao executarem exames de urina, sangue, análise e sequenciamento de DNA, análise celular, molecular e tantos outros. Para a execução de tais exames, muitos equipamentos de alta precisão e extremamente sensíveis são utilizados, como microscópios, os sequenciadores de DNA ou analisadores de sangue para hemograma, como os vistos na Figura 14. 16 Figura 14 – Equipamentos de laboratório de análises clínicas Crédito: Evgeniy Kalinovskiy/Shutterstock. Para que haja a garantia de exatidão na emissão desses exames, engenheiros biomédicos são responsáveis pela fabricação, calibração e manutenção deles. Após o diagnóstico do paciente, o tratamento muitas vezes é realizado internamente aos hospitais. Para que haja precisão na medicação dos pacientes, os hospitais possuem farmácias internas que manipulam medicamentos, unitarizam comprimidos, realizam os controles de dispensação de fármacos e muito mais. Nessas farmácias, temos os equipamentos de unitarização de medicamentos, que separam os medicamentos em cápsulas de suas cartelas e os armazenam separadamente, para envio ao paciente nas quantidades exatas. Também existem equipamentos chamados de capelas de fluxo laminar, nas quais ocorrem manipulação de produtos de alto risco à saúde, como quimioterápicos ou elementos tóxicos em grandes quantidades, mas que precisam ser manipulados e preparados nas quantidades certas para o tratamento dos pacientes. Vemos uma dessas capelas de fluxo laminar em uso. 17 Figura 15 – Profissional realizando procedimento em equipamento capela de fluxo laminar Crédito: Warut Pothikit/Shutterstock. Muitos outros equipamentos são utilizados no apoio ao diagnóstico e no tratamento dos pacientes e durante o curso você aprenderá muito sobre diversos deles. TEMA 3 – INTERFACE COM A MEDICINA Para muito além dos equipamentos de laboratório, de manutenção à vida ou qualquer outro, a comunicação do profissional de engenharia biomédica com as equipes médicas, de enfermagem, fisioterapeutas e administradores é o grande diferencial de um bom profissional. Sem uma comunicação eficiente e de mesmo nível técnico, o profissional de engenharia biomédica não conseguirá desempenhar seus diversos papéis da melhor forma possível. Conhecer as diversas instituições de saúde e seus objetivos é imprescindível para que o profissional de engenharia biomédica entregue um trabalho com excelência. Hospitais possuem gestão diferente de laboratórios e de fabricantes de 18 equipamentos e buscam sempre um bom equilíbrio entre seus altos custos e os procedimentos oferecidos pela instituição. Focar em aumento no tempo de vida dos equipamentos e redução de custos com insumos e eletricidade é sempre um bom caminho a se seguir. Nessas instituições, existe sempre uma dualidade entre gestão de custos pelos administradores e gestão de saúde pelo corpo de enfermagem. Enquanto os administradores buscam a redução de custos e o aumento da eficiência, os enfermeiros visam o aumento do conforto dos pacientes e minimização de erros para aumento da segurança e eficiência dos tratamentos. Em primeira vista, isso não parece ser dois lados diferentes, porém quando percebemos que aumentar a segurança exige investimento em equipamentos melhores ou melhoria de infraestruturas que estão em funcionamento normal ou que o aumento da qualidade de vida do paciente exige gastos em expansão e redução da eficiência financeira, por metro quadrado, da instituição, a dualidade se evidencia. Ao falarmos com administradores hospitalares, devemos conhecer os objetivos da instituição em questão e utilizar termos simples e de fácil compreensão. Focar em processos e ferramentas da qualidade é sempre o melhor caminho para que nossos esforços em melhorar a segurança do paciente seja bem recebida. Ainda, entender que o equilíbrio financeiro também faz parte da equação e que sem isso não existe atendimento ao paciente é de fundamental importância. Já ao falarmos com enfermeiros, fisioterapeutas ou médicos, nosso foco geralmente é em busca da melhor opção, dentro das demandas desses profissionais, mas que se encaixem com o perfil e padrão da instituição em que atuamos. Indicar o melhor e mais caro aparelho de raios-x é sempre a opção mais seguracom relação à qualidade de vida e segurança do paciente, porém pode não condizer com o perfil de atendimento ou capacidade financeira da instituição. Muitas vezes possuir um equipamento mais simples e mais barato o quanto antes, é melhor e mais adequado ao tratamento dos pacientes do que não conseguir comprar o mais caro e aguardar até a oportunidade surgir. Isso também é válido para dimensionamento de equipamentos de cirurgia, como bisturis eletrônicos, torres de videolaparoscopia ou arcos cirúrgicos. Muitos modelos estão disponíveis no mercado e com valores muito diferentes entre si. Podemos encontrar facilmente diferenças de mais de 3 vezes entre o valor 19 menor e o maior. Saber quando indicar um ou outro também faz parte de nossa interpretação e capacidade em solucionar problemas da forma mais eficiente possível. Já para o trato com profissionais de fisioterapia, precisamos entender as limitações tanto da instituição quanto dos profissionais, que são os responsáveis pela instalação e retirada dos equipamentos de ventilação pulmonar nos pacientes críticos. De nada adianta conseguirmos verbas suficientes para o melhor equipamento e não realizarmos treinamentos de toda a equipe que utilizará o maquinário. Saber realizar uma comunicação eficiente e corretamente localizada financeiramente e tecnicamente faz parte das atribuições de um engenheiro biomédico. Sem essa sensibilidade, não é possível o completo entendimento entre profissionais médicos e equipe técnica para a criação ou implantação de novas tecnologias que solucionarão os problemas em análise. TEMA 4 – APLICAÇÕES DAS TECNOLOGIAS EM SAÚDE Para muito além da gestão e manutenção dos equipamentos existentes, o profissional de engenharia biomédica deve se manter atualizado sobre novas tecnologias da área de saúde. Dos equipamentos de endoscopia, que permitiram a visualização, por câmera de vídeo, de partes internas de pacientes como traqueia, duodeno ou intestino para equipamentos de cirurgias minimamente invasivas, chamados de torres de vídeo laparoscopia, compostos por câmera de vídeo, insufladores, fontes de luz e eletrocautérios (bisturis eletrônicos), todos mostrados na Figura 16, passamos por uma intensa evolução tecnológica. 20 Figura 16 – Torre de videolaparoscopia em utilização durante procedimento cirúrgico. Nesta torre estão presentes, de cima para baixo, o monitor grau médico de alta resolução, o insuflador de CO2, o receptor da câmera de vídeo, uma fonte de luz com fibra ótica conectada e um bisturi eletrônico (eletrocautério) Crédito: Roman Zaiets/Shutterstock. Hoje, a união dos equipamentos de cirurgias minimamente invasivas ou torres de vídeo laparoscopia, com braços robóticos, permitiu o desenvolvimento de robôs de cirurgia não autônomos, como o sistema cirúrgico robótico da Vinci X, mostrado na Figura 17 (conhecido como robô Da Vinci) (Strattner, 2020). 21 Figura 17 – Representação do robô Da Vinci Crédito: Motionblur Studios/Shutterstock; Mad.Vertise/Shutterstock. Com essa inovação, surge a possibilidade de realização de cirurgias à distância, com o paciente em um país e o cirurgião em outro, bastando existir um equipamento de comando do robô Da Vinci no local do médico e um robô Da Vinci em uma sala cirúrgica com o profissional instrumentador e o paciente no outro local. O avanço das comunicações permitiu essa evolução cirúrgica e deu início ao que chamamos de telemedicina, por meio da qual um profissional médico pode consultar seus pares em qualquer local do globo em tempo real e discutir exames digitais de tomografia, raios-x, ultrassonografias e quaisquer outros exames necessários para auxílio ao diagnóstico. Com o avanço da telemedicina, possibilidades como consultas à distância e atendimentos a comunidades antes isoladas, passa a ser uma opção viável. 22 Em conjunto com essas evoluções descritas acima, a digitalização das informações dos pacientes, antes feitas apenas em papel pelos médicos, chamadas de prontuário médico, agora passam a ser reconhecidas como prontuário do paciente e possuem formato digital e subordinados às leis de gestão de dados de pessoas por empresas, a LGPD (Brasil, 2018). Alterações conceituais como essa parecem ter pouco ou nenhum efeito prático, à primeira vista, porém abrem a possibilidade da implantação de prontuário único por pessoa, garantindo sigilo e guarda dos dados pelo próprio indivíduo e ainda permite um acompanhamento universal da saúde da pessoa sem perda de dados e completa desde o nascimento. Evoluções como essa já existem em países como o Canadá, no qual a saúde é pública e os dados dos pacientes são pessoais e com local de registro único, chamado de prontuário único ou prontuário eletrônico único, ilustrado pela Figura 18 (Brandão, 2020). Figura 18 – Representação de acesso digital aos dados do paciente, chamado de prontuário eletrônico Crédito: Tero Vesalainen/Shutterstock. 23 Para além da digitalização dos dados, o uso deste em conjunto com inteligências artificiais poderiam propiciar um grande aumento na velocidade de identificação de problemas na saúde, como exemplificado pelo desenho da Figura 19. Um exemplo que temo hoje é o robô Laura, inteligência artificial que analisa dados em tempo real dos pacientes internados e retorna alarmes quando se identifica uma alteração no quadro clínico do paciente (Laura, [S.d.]). Figura 19 – Desenho com representações de algumas áreas da saúde que as inteligências artificiais poderão auxiliar no desenvolvimento de novas tecnologias Crédito: Aurielaki/Shutterstock. TEMA 5 – ÁREAS DA ENGENHARIA BIOMÉDICA Vimos em conteúdos anteriores o que define um profissional de engenharia e quais as áreas específicas de atuação da engenharia biomédica. Ao saber que, durante sua formação, você poderá optar por caminhos diferentes, fica claro que sua atuação profissional poderá ser bem diversificada. Algumas das principais áreas de atuação dos engenheiros biomédicos no Brasil são mostradas na Figura 20. 24 Figura 20 – Principais áreas da engenharia biomédica A união de conhecimentos em inteligência artificial, big data, robótica, entre outros está se mostrando o caminho maios trilhado pelos profissionais da área. 5.1 Mais algumas áreas de atuação e especialidades Além de Engenharia Clínica, Desenvolvimento de Equipamentos Médico- Hospitalares e Engenharia Hospitalar, já vistas em conteúdos anteriores, podemos citar mais algumas: Biomecânica Processamento de Sinais Reabilitação Robótica Engenharia Biomédica Engenharia Clínica Biomateriais Engenharia Hospitalar Imagens Médicas Bioinformática 25 5.1.1 Engenheiro de aplicação e engenheiro de vendas Depois das três atuações mais frequentes, apresentadas em conteúdos anteriores, temos a área de engenheiro de vendas técnicas e engenheiro de aplicação/treinamento pós-venda. Os dois atuam de forma muito parecida e muitas vezes são o mesmo profissional dentro de uma empresa. São esses profissionais de engenharia biomédica quem farão a análise técnica das necessidades dos clientes e criarão o conjunto perfeito de produtos ou serviços para cada situação. Vender equipamentos médicos exige um grande conhecimento de funcionamento tanto do equipamento quanto da biologia humana, pois o cliente muitas vezes é um médico ou um enfermeiro que possui um vocabulário extremamente técnico em sua área e precisa se comunicar no mesmo nível técnico com o vendedor. Sendo assim, essa atuação profissional é de grande importância e muito bem remunerada em nosso país, ocupando o lugar mais alto em níveis salariais tanto de entrada e de média, quanto de topo. A demanda por esses profissionais é menor do que manutenção e engenharia clínica, porém é mais alta do que para desenvolvedores, tendoem vista a cultura de terceirização do desenvolvimento no país (SBEB, 2017) 5.1.2 Engenheiro da qualidade e outros Para além das atuações descritas anteriormente, ainda existem demandas por engenheiros biomédicos para funções de garantia da qualidade de processos em hospitais e fabricantes de equipamentos, consultorias de especialista em equipamentos médicos para criação ou renovação de registro de equipamentos médicos perante a Anvisa, atuação como analista técnico e outros cargos públicos na Anvisa e Inmetro, gestor técnico e de estratégias em provedores de planos de saúde e muitos outros, tendo em vista que o profissional de engenharia biomédica é considerado pelo CREA como uma ramificação do profissional de engenharia elétrica (Confea, 2018). 5.2 Mercado de trabalho Como vimos no tópico anterior, sobre áreas de atuação, o mercado de trabalho para as áreas de engenharia clínica, manutenção predial e engenheiro de aplicação é o que mais apresenta demanda. 26 Nos dois primeiros isso ocorre porque existem mais hospitais, clínicas, hospitais veterinários, serviços de imagenologia e consultórios odontológicos do que o número de profissionais habilitados para execução das atividades. Como vimos, se o número de hospitais no país é maior que 6.500 unidades, ao somarmos os demais citados acima, como consultórios odontológicos e serviços de veterinária, a demanda se multiplica, enquanto a oferta de mão de obra cresce a uma taxa inferior ao necessário (SBEB, 2017). Estima-se que exista uma demanda de mais de 50 oportunidades de emprego para cada profissional atuando na área, mesmo após os ocorridos de 2020, que aumentou o número de profissionais na área por conta das divulgações da necessidade na mídia televisiva (CREA-PA, 2020). Já para a área de engenheiros de aplicação, como estes são, muitas vezes, responsáveis pela venda e treinamento das equipes de atendimento à saúde na utilização dos equipamentos, o mercado de trabalho é tão grande quanto para os citados anteriormente. Como esses profissionais são requisitados toda vez que alguma empresa ou profissional precisa adquirir um equipamento médico-hospitalar ou insumo para estes, a crescente demanda dos equipamentos causou um aumento expressivo nas vagas disponíveis. Nesse cenário, a Associação Brasileira de Engenharia Clínica emitiu, no início de 2020, diversas circulares, entre as quais uma que tratava justamente de um apelo à comunidade de profissionais da área de vendas e aplicações. A solicitação focava no aumento da sinergia no fornecimento de insumos e equipamentos para unidades básicas de saúde (Abeclin, 2020). Para além das atividades mencionadas anteriormente, ainda temos as certificadoras e acreditadoras na área de saúde, como a Organização Nacional de Acreditação (ONA, [S.d.]). A atuação dos profissionais de engenharia biomédica em serviços como este vão desde fiscalização, avaliação, auditoria e inspeção a até consultorias para melhoramento dos serviços e gestão do parque tecnológico da instituição para obtenção da acreditação. Como para um hospital a acreditação é de grande importância social, essa demanda também é proporcional à quantidade de instituições de saúde. 27 FINALIZANDO Vimos a grande evolução que tivemos até o momento na área de equipamentos médicos e percebemos a grande influência da robótica e inteligência artificial nas possíveis próximas grandes descobertas. Conhecemos um pouco sobre a interface da engenharia biomédica com a biologia e a medicina e quais os principais avanços tecnológicos dessas áreas. Aprendemos, ao final, um pouco mais sobre a área de atuação da engenharia biomédica e quais os próximos desafios nessa área, como aplicação de IA e robótica no aumento da qualidade dos serviços em saúde. Os sistemas biomédicos vão muito além da criação de um equipamento que faça leitura de sinais biológicos. Eles, hoje, são a base dos avanços percebidos na qualidade de vida de toda a sociedade. 28 REFERÊNCIAS A HISTÓRIA do estetoscópio. Littmann Stethoscopes, S.d. Disponível em: <https://www.littmann.com.br/3M/pt_BR/estetoscopios-littmann-br/instituto- educacional/hist%C3%B3ria/>. Acesso em: 13 abr. 2022. ABECLIN – Associação Brasileira de Engenharia Clínica. Circular 2020/03 – Atitudes para cooperar com as unidades de saúde. ABEClin. Rio de Janeiro, p. 2. 2020. BELL, D. J. History of ultrasound in medicine. Radiopedia, 6 jan. 2021. Disponivel em: <https://radiopaedia.org/articles/history-of-ultrasound-in-medicine>. Acesso em: 13 abr. 2022. BIGOTTI, F.; TAYLOR, D. The pulsilogium of Santorio: new light on technology and measurembent in Early Modern Medicine. Societate Politica, v. 11, n. 2, p. 53-113, 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6407692/>. 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Acesso em: 13 abr. 2022. ONA – Organização Nacional de Acreditação. Disponível em: <https://www.ona.org.br/>. Acesso em: 13 abr. 2022. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENGENHARIA BIOMÉDICA - SBEB. Onde e como estão nossos Engenheiros Biomédicos. Rio de Janeiro: SBEB, 2017. Disponível em: <https://www.sbeb.org.br/site/onde-e-como-estao-nossos- engenheiros-biomedicos/>. Acesso em: 13 abr. 2022. STRATTNER. Da Vinci X. Strattner, 2020. Disponível em: <https://www.strattner.com.br/cirurgia-robotica/da-vinci-x/>. Acesso em: 13 abr. 2022. THE NOBEL PRIZE. All Nobel Prizes in Physiology or Medicine. TheNobel Prize, 2021. Disponivel em: <https://www.nobelprize.org/prizes/lists/all-nobel- laureates-in-physiology-or-medicine/>. Acesso em: 13 abr. 2022. U.S. DEPARTMENT OF ENERGY. U.S. Molecular Nuclear Medicine Legacy. U.S. Department of Energy, 2009. Disponivel em: <https://www.doemedicalsciences.org/timeline.shtml>. Acesso em: 13 abr. 2022.
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