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PROFESSOR Me. Pedro de Souza Lima Brodbeck Estética e Comunicação ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! EXPEDIENTE Coordenador(a) de Conteúdo Fernanda Gabriela de Andrade Cou- tinho Projeto Gráfico e Capa André Morais, Arthur Cantareli e Matheus Silva Editoração Alexandre Donzelli Design Educacional Lucio Carlos Ferrarese Curadoria Cleber Rafael Lopes Lisboa Revisão Textual Carolina Guimarães Branco Ilustração Welington Vainer Fotos Shutterstock NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. BRODBECK, Pedro de Souza Lima. Estética e Comunicação. Pedro de Souza Lima Brodbeck. Maringá - PR: Unicesumar, 2022. 162 p. ISBN 978-85-459-2289-6 “Graduação - EaD”. 1. Estética 2. Comunicação 3. Arte. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed.302.2 FICHA CATALOGRÁFICA 02511320 Me. Pedro de Souza Lima Brodbeck Eu vivo contando histórias. Eu sempre fui assim, mesmo antes de me tornar jornalista e professor, que são duas profissões em que você basicamente conta histórias o tempo todo. Desde menino, era comum que meus amigos estivessem em uma rodinha ouvindo eu contar alguma coi- sa, algum caso engraçado, alguma história trágica ou algo do tipo. Eu acho que foi por isso que eu acabei cursando Jornalismo – que nada mais é do que ouvir uma história, ou várias histórias, e depois contar para outras pessoas. Foi contando histórias que eu trabalhei como repórter de Agronegócio, de Saúde e de Economia em um grande jornal do Paraná e depois, falando disso e também de Po- lítica, Cidades, Policial e muitas outras coisas que trabalhei no maior portal de notícias do Brasil por mais alguns anos. Além disso, trabalhei com comunicação corporativa e assessoria de imprensa de empresas e de órgãos públi- https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12457 cos, contando para sociedade e para colegas jornalistas o que esses lugares tinham de interessante e relevante. Com o tempo, vi que uma forma legal de me desen- volver era aliar novos estudos à prática da docência, que é uma forma de repassar todo o conhecimento prático e teórico acumulado em alguns anos de estrada e ainda absorver o que os alunos têm a ensinar. Particularmente, gosto muito da atividade da pes- quisa acadêmica: que é uma forma de aprender coisas novas o tempo inteiro e ainda usar isso para gerar novos conhecimentos. Nesse caminho, fiz especializações de Comunicação Política e de Marketing Digital. Mais a fun- do, fiz mestrado em Comunicação e, atualmente, estou fazendo Doutorado na área, produzindo pesquisas sobre comunicação e participação política, mobilização política, ativismo digital, comunicação digital e internet. http://lattes.cnpq.br/9368429936138856 Quando trabalhamos com comunicação, seja na criação publicitária, em uma redação jornalística ou no setor de marketing de uma grande empresa, sempre pensamos muito em conteúdo; afinal, seja lá qual destas atividades estivermos desempenhando, há sempre uma mensagem que precisa ser passada: é uma notícia, é o conceito de um produto ou um recado para os funcionários de uma empresa, entre outros. No entanto, é muito importante também pensarmos na forma como estas mensagens devem ser trabalhadas. Como elas devem ser apresentadas para que o resultado final seja o me- lhor possível? É disso que a estética vai tratar quando tensionada com a comunicação. Quando falamos de estética, estamos falando não exatamente sobre a beleza de algo, mas, em geral, como o formato das coisas nos impacta por meio da nossa sensi- bilidade. Para entender isso, um bom caminho é olhar atentamente para a história da arte. A arte é uma atividade que nos remete muito diretamente à sensibilidade. Olha- mos um quadro, ouvimos uma música e sentimos coisas – alegria, tristeza, animação, contemplação etc. E estes sentimentos variam de pessoa para pessoa. O seu quadro preferido, por exemplo, deve ser diferente da obra de arte preferida dos seus amigos e familiares. Você pode gostar de um estilo musical e seus colegas gostarem de outros. E isso acontece porque cada uma destas coisas age de uma maneira diferente nos nos- sos sentimentos e na forma como as percebemos. Se olharmos também para a forma como os estilos artísticos evoluíram com o tempo, também notamos que os padrões estéticos variaram ao longo da história, a depender do contexto que cada sociedade vivia, suas variadas necessidades e seus diferentes valores. Arte e comunicação têm muito em comum – e por isso é interessante olhar para a história de uma para entender a outra. Conforme as tecnologias foram evoluindo, a arte e a comunicação passaram por mudanças estruturais parecidas que impactaram na estética de ambas. Com a imprensa, a comunicação se tornou mais poderosa e che- gou a mais lugares. A arte, por sua vez, deixou de ser única e passou a ser reproduzida milhares de vezes. A fotografia mudou a forma como as pessoas viam os quadros e também como contavam histórias. Os computadores e a internet criaram novas formas de arte e, definitivamente, revolucionaram a comunicação interpessoal, o jornalismo e ESTÉTICA E COMUNICAÇÃO a publicidade. Em resumo, com o passar do tempo, novas formas de linguagem e novas maneiras de apresentação impactaram profundamente a forma como nos comunica- mos e como as comunicações se apresentam para nós cotidianamente. Até que, hoje, vivemos em um ambiente em que estamos conectados o tempo inteiro, recebendo centenas de informações o dia todo. E é a estética que vai fazer com que a nossa atenção se guie para determinadas coisas em detrimento de outra. Para exemplificar todo este trajeto, as relações entre todos estes conceitos e a im- portância da estética da comunicação, vamos comparar a mesma situação hipotética em tempos e contextos diferentes: como as pessoas se informavam séculos atrás, na Idade Média, por exemplo, e como elas se informam hoje? É possível, que séculos atrás, as notícias referentes aos principais acontecimentos de uma região fossem repassadas boca a boca ou por cartas. Possivelmente só o que era muito relevante para uma comunidade deveria chegar ao conhecimento de to- dos. E, em geral, as pessoas tinham acesso a poucas informações sobre novidades. O conhecimento, via de regra, era passado de geração para geração, de acordo com as atividades cotidianas que cada pessoa tinha. Hoje o cenário é completamente diferente. Em poucos segundos, podemos ter aces- so a quase qualquer informação do planeta. Estamos o dia inteiro sendo impactados por notícias, propagandas, anúncios, mensagens etc. Como escolhemos para quais informações vamos dar atenção? Como algumas informações chamam mais a nossa atenção do que outras? Em geral, aquelas coisas que estão mais alinhadas aos nossos gostos, que mexem mais conosco é que serão percebidas antes das demais. Apenas com algumas perguntas, já vemos como as situações são distintas. Ao mes- mo tempo, notamos como a estética ganha uma importância quanto mais dinâmica se tornam os nossos modelos e formatos de comunicação. Nesta disciplina, você verá o que é estética, como ela evoluiu ao longo do tempo, como a arte impactou nisso e como ela se relaciona com os processos comunicacionais. Na Unidade 1, você verá como evoluiu o conceito de estética ao longo da história da arte, desde as primeiras pinturas rupestres até a arte contemporânea. Na Unidade 2, como a arte está relacionada à comunicação e de que forma as inovações tecnológicas impactaram estas duas atividades. Na Unidade 3, vamos falar sobre as estéticas da comunicação e como elas impactam nas formas que os produtos comunicacionais se apresentam. Depois, na Unidade 4, vamos abordar as linguagens tradicionais e digitaisda comunicação que foram impactadas pelos avanços tecnológicos e suas dimensões estéticas. E, por fim, na Unidade 5, você verá como a hiperconexão impacta na estética da comunicação na atualidade. Como você vai conferir ao longo deste livro, estudar as relações entre estética e comunicação ajudam, no dia a dia do profissional de comunicação, a pensar em como a nossa atividade pode impactar as vidas das pessoas – afinal, a experiência estética mexe com os sentimentos, em como as coisas são percebidas pela audiência. Está pronto para expandir seus conhecimentos e entender como podemos impactar positivamente, por meio da comunicação, a vida das pessoas? Vamos lá! IMERSÃO RECURSOS DE Ao longo do livro, você será convida- do(a) a refletir, questionar e trans- formar. Aproveite este momento. PENSANDO JUNTOS NOVAS DESCOBERTAS Enquanto estuda, você pode aces- sar conteúdos online que amplia- ram a discussão sobre os assuntos de maneira interativa usando a tec- nologia a seu favor. Sempre que encontrar esse ícone, esteja conectado à internet e inicie o aplicativo Unicesumar Experien- ce. Aproxime seu dispositivo móvel da página indicada e veja os recur- sos em Realidade Aumentada. Ex- plore as ferramentas do App para saber das possibilidades de intera- ção de cada objeto. REALIDADE AUMENTADA Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode sobre o códi- go, você terá acesso aos vídeos que complementam o assunto discutido. PÍLULA DE APRENDIZAGEM OLHAR CONCEITUAL Neste elemento, você encontrará di- versas informações que serão apre- sentadas na forma de infográficos, esquemas e fluxogramas os quais te ajudarão no entendimento do con- teúdo de forma rápida e clara Professores especialistas e convi- dados, ampliando as discussões sobre os temas. RODA DE CONVERSA EXPLORANDO IDEIAS Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do assunto discu- tido, de forma mais objetiva. Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3881 APRENDIZAGEM CAMINHOS DE 1 2 3 4 5 NOÇÕES DE ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE 11 ARTE E COMUNICAÇÃO 49 77 ESTÉTICAS DA COMUNICAÇÃO 99 LINGUAGENS TRADICIONAIS E DIGITAIS 121 A COMUNICAÇÃO NA ATUALIDADE 1Noções de Estética e História da Arte Me. Pedro de Souza Lima Brodbeck A estética é o campo da filosofia que estuda o belo e as sensações que temos diante de algum objeto ou imagem. Ela é parte fundamental da forma como nos comunicamos e produzimos qualquer forma de expressão. Esses conceitos, no entanto, variaram muito ao longo do tempo. Com isso, a percepção sobre o que é arte também mudou. Nesta unidade, vamos estudar como o conceito de estética evoluiu ao longo do tempo, e relacionar com os movimentos artísticos que tivemos no decorrer da história, desde as obras de arte mais antigas até as atuais expressões artísticas. UNIDADE 1 12 Caro(a) estudante, mesmo que você nunca tenha visitado um museu ou uma galeria, certamente, já se deparou com algum tipo de obra de arte. Pode ter sido em um filme ou na televisão, no seu celular ou até mesmo em seu tablet. Pode ser ouvindo uma música, uma fotografia ou até mesmo ao observar um grafite estampado em uma avenida da sua cidade. A arte está presente em nosso cotidiano. Por mais que muitas vezes a gente não se dê conta disso, e não pare para contemplá-la, como fazemos quando nos deparamos com um quadro imponente, existem manifestações artísticas em praticamente todos os lugares. Contudo, o que faz com que um objeto, uma escultura, uma pintura e até mesmo uma colagem postada nas redes sociais sejam consideradas obras artísticas, mesmo sendo tão diferentes entre si? Você já parou para pensar no que define a arte? Homens e mulheres produzem arte desde os primeiros registros históricos de que se tem notícia. Hoje, quando vemos os resquícios da pintura de um bisão na parede de uma caverna (Figura 1), feita há mais de 10 mil anos, entendemos que ali há uma representação artística. 13 Figura 1 – Pintura de bisão na caverna de Altamira, na Espanha Descrição da Imagem: a fotografia apresenta uma parede amarelada de uma caverna, com um bisão avermelhado, com detalhes em preto, voltado para a direita, desenhado no centro da imagem. Além de terem valor estético e de despertarem algum tipo de sentimento naquela pessoa que as observa, as obras de arte carregam sempre um contexto ou algum significado. A maior parte delas, antes de serem consideradas Arte, eram expres- sões ou manifestações que serviam a outros propósitos. As pirâmides do Egito, por exemplo, mais do que um monumento artístico, funcionavam como um meio de ajudar os faraós a ascenderem aos deuses após a morte, – segundo os egípcios da Antiguidade –, enquanto os corpos deles eram preservados na Terra. Refletir sobre estes significados associados à arte é uma forma de compreender melhor a nossa história e o mundo em que vivemos. Para deixar mais claro como esses fatores determinam a natureza de uma obra de arte, vamos fazer um exercício de análise. Escolha uma expressão artística qualquer – pode ser um quadro que você goste, uma escultura de uma praça ou até mesmo um mural da sua cidade. Tente identificar o que chama a sua atenção naquela manifestação artística, e quais elementos fazem com que ela seja uma obra interessante para você. Depois de refletir sobre isso, busque informações sobre a época em que a obra foi produzida, o que ela representa ou retrata, e o contexto em que ela foi feita. UNICESUMAR UNIDADE 1 14 Pesquise também informações sobre o autor dela. Busque se ele fez outras obras e tente identificar semelhanças e diferenças da obra que você escolheu. Você consegue elencar quais fatores lhe fazem atribuir um valor artístico à obra que escolheu? Quais elementos estéticos que chamaram a sua atenção para fazer esta escolha? Você parou para pensar o que faz gostar desta manifestação artística e que tipo de sentimentos ela desperta em você? Levante as suas impressões, opiniões e informações sobre a obra de arte escolhida e as anote no seu Diário de Bordo. DIÁRIO DE BORDO É muito comum que o nosso conceito sobre o que é arte esteja relacionado ao valor estético de uma determinada peça. Uma das associações mais básicas que fazemos sobre o que pode ser considerado arte, a princípio, é apontar a beleza única de uma determinada obra. Historicamente, esta relação entre estética e arte é bastante comum, ainda que não explique sempre o valor artístico de uma obra. Entretanto, o que faz uma determinada coisa ser considerada mais bonita do que a outra? Na filosofia, a Estética é a área do conhecimento que estuda o belo. Ainda que ela tenha surgido na literatura com esse nome apenas no século XVIII, na obra de Alexander Baumgarten, reflexões sobre a estética das coisas existem desde a Grécia Antiga. Nos primeiros registros históricos das civilizações, segundo Um- 15 berto Eco, que escreveu A História da Beleza, o belo estava geralmente associado a outras qualidades virtuosas, e não existia propriamente uma consciência do que era a beleza. Era belo aquilo que era admirado pelas pessoas ou o que elas queriam ter. “Podia ser classificado como belo que era justo, o que era adequado ou conveniente, por exemplo” (ECO, 2004, p. 37). Somente por volta de 400 a.C. que se criou uma noção mais bem definida da beleza estética. Foi nessa época em que o homem passou a ser a figura central nas obras de arte, nas quais encontramos representações artísticas de esculturas com corpos considerados à época saudáveis e atléticos (Figura 2), pois “o entendimen- to geral passou a ser de que um corpo ideal estava ligado a uma mente brilhante” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 57). Figura 2 – Grupo de Laocoonte,século I a.C., Museu do Vaticano Descrição da Imagem: a fotografia mostra a escultura Grupo de Laocoonte, no Museu do Vaticano. A escultura em mármore branco mostra Laocoonte, um homem de barbas e cabelos com comprimento médio, ao centro. Ele está sentado e nu, com o corpo contorcido, tentando se libertar de duas serpentes que estão enroladas em seus braços e pernas. Os músculos do corpo dele são definidos e mostram o esforço de Laocoonte de tentar se livrar dos animais. De cada um dos lados de Laocoonte, há um jovem, também nu. Eles também estão enrolados e lutando com serpentes. As primeiras definições mais articuladas do que ficou conhecido por muitos anos como Teoria da Beleza surgiram com Sócrates e Platão. O primeiro dividia a prática artística em três partes: a beleza ideal, que representa o que há de belo na UNICESUMAR UNIDADE 1 16 natureza e na composição de suas partes; a beleza espiritual, expressada pelo olhar; e a beleza útil, em que um objeto é belo na medida em que ele tem uma utilidade. Já “Platão afirma que existe uma dualidade entre dois universos. Aquilo que é real, que é representado pela ‘verdadeira realidade’, e o mundo sensível, que é a forma como entendemos as coisas pelos nossos sentidos” (DIAS, 2020, p. 5). De acordo com ele, o primeiro sentido representa uma beleza autônoma, que independe do suporte físico que a exprime, e o segundo é a forma como isso se manifesta pelos sentidos das pessoas. Segundo Umberto Eco (2004, p. 50), “para Platão a arte atua neste segundo sentido, sempre como uma falsa cópia da beleza”. Em certa medida, isso se alinha ao fato de que os padrões estéticos não são os mesmos para todas as pessoas. Segundo Platão, existe uma beleza intrínseca e outra beleza atribuída às coisas. Por isso, alguém pode gostar de uma tela porque ela tem cores agradáveis, porque lembra alguma memória saudosa ou porque causa algum tipo de provocação interessante – cada qual com um valor estético atribuído pelos nossos sentidos. Outro aspecto a ser ponderado é que a beleza de um quadro, por exemplo, não está relacionada à beleza da situação que ele retrata. Uma obra que mostra alguma situação miserável ou que denuncia algum tipo de injustiça também pode ser considerada bela, mesmo que a situação exposta seja deplorável. Mais de dois mil anos mais tarde, no século XIX, esta dicotomia entre uma beleza harmônica e visível e uma outra beleza conturbadora, que se exprime além das aparências, foi abordada por Friedrich Nietzsche. Segundo o filósofo alemão, a tensão causada por esta dualidade é o que baseia as artes dramáticas, inclusive. Além disso, ainda existem consensos estéticos que se alteram com o passar do tempo. Em algumas épocas ou em determinadas culturas, uma arte era conside- rada mais bela quanto mais fiel ela fosse ao retrato da natureza. Em outras eras, uma obra pode ser considerada mais bonita principalmente pela forma como é produzida ou pelas mensagens implícitas que ela passa. Para tratar das mudanças do que foi considerado arte ao longo do tempo, é interessante retomar o conceito de Aristóteles, aluno de Platão, sobre o assunto. Diferente do que o seu professor acreditava, para Aristóteles a reprodução da arte por meio da imitação era uma virtude. Além da cópia, segundo ele, ser uma forma de retratar a vida e os dramas reais com maior verossimilhança, esta propriedade garantia uma maior utilidade à arte. Mais do que um valor estético, arte seriam aqueles objetos que eram utilitários. 17 Aqui conseguimos relacionar o conceito de utilidade de algumas das ma- nifestações artísticas mais antigas que temos notícia. Segundo o historiador da arte Ernst Gombrich (2019, p. 42-43), “o bisão pintado na parede das cavernas de Altamira, na Espanha, em 10.000 a.C., muito possivelmente não foi feito com o objetivo de ser um registro artístico, mas, sim, a partir da crença de que repro- duzir as imagens das presas daqueles povos poderia ajudá-los, de alguma forma, a dominar, caçar ou controlar estes animais”. É claro que nós não temos como saber ao certo o objetivo que aquelas civiliza- ções primitivas tinham com essas pinturas feitas à base de pigmentos de plantas, pedaços de carvão e sangue de animais, mas o que arqueólogos especulam é que aquelas pessoas acreditavam no poder das imagens dos animais de uma forma má- gica para fins de proteção ou subsistência. O que também se aplica a registros ainda mais antigos, como pedras sulcadas de 250 mil anos atrás, encontradas em Israel, ou bastões entalhados encontrados na África do Sul, que datam de aproximadamente 70.000 anos a.C., e outras pinturas em cavernas da Austrália, de aproximadamente 40 mil anos atrás (Figura 3). Estes registros são chamados de “arte rupestre”, que é o termo usado para descrever a época da arte em que as obras eram feitas em rochas. Descrição da Imagem: a fotografia mostra uma pa- rede rochosa alaranjada, com uma figura desenha- da em vermelho. A figura parece ser um humano caçador, com o corpo, braços e pernas extrema- mente finos, voltado para a esquerda. Ele possui cabeça pequena, cabelos finos, e está com os bra- ços e pernas flexionados. Esse caçador carrega o que parecem ser lanças nas suas mãos. Figura 3 – Arte rupestre, aprox. 40 mil anos a.C., Ubirr, Austrália UNICESUMAR UNIDADE 1 18 Além dos aspectos mágico e utilitário da arte rupestre, existem outras teorias que buscam explicar a produção da arte pré-histórica. “Uma delas está ligada a uma necessidade inata das pessoas pela beleza, em que o ser humano sempre busca por formas e objetos harmoniosos” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 36). Seja qual fosse o objetivo dessas artes, as formas das pinturas e objetos foram se modificando conforme o ser humano passou a produzir melhores ferramentas. Ob- jetos de 200 mil anos atrás não apresentavam o mesmo nível de detalhamento que, por exemplo, estatuetas de 25 mil anos atrás, como a Vênus de Willendorf (Figura 4). Descrição da Imagem: a fotografia mostra uma estatueta de calcário, de aproximadamente 12 cen- tímetros, que mostra a representação estilizada de uma mulher nua. Esta mulher tem uma cabeça re- donda, sem rosto, seios proeminentes, uma grande barriga e cintura larga. Ela está em pé, em pernas grossas, e está descansando pequenos braços por cima dos seios. Figura 4 – Vênus de Willendorf, aprox. 25 mil anos a.C. Com a evolução das ferramentas, do domínio dos materiais e da técnica, novas formas de arte surgiram. Por volta de 4.000 a.C., “povos da Mesopotâmia e do Egito desenvolvem a técnica da cera perdida, em que é possível criar moldes para produzir peças em bronze” (FARTHING, 2011, p. 20). Ainda nessa época, boa par- te da produção que mais tarde foi reconhecida como arte estava ligada a alguma utilidade daqueles objetos. Desde os cilindros em pedra feitos pelos sumérios, que eram usados como lacres no comércio da época, até as pirâmides egípcias, que eram antes de tudo túmulos gigantes dos faraós, que eles acreditavam que, por serem construídas naqueles formatos e tamanhos, ajudavam a preservar os corpos dos monarcas e a conduzi-los aos céus após a morte. Segundo o historia- 19 dor da arte Ernst Gombrich (2019, p. 55), por mais que os faraós fossem ricos e poderosos a ponto de forçar milhares de pessoas ao trabalho brutal de construir pirâmides no deserto, “nenhum monarca e nenhum povo teria suportado seme- lhante gasto e passado por tantas dificuldades se se tratasse da criação de um mero monumento”. Uma característica da arte egípcia é a representação das pessoas e da nature- za por meio do ponto de vista da observação. As pinturas e esculturas de pessoas, por exemplo, mostravam os rostos de perfil e o tronco de frente. De acordo com Gombrich (2019), as representações eram feitas desta forma porque é assim que estas partes do corpo são mais bem observadas, ainda que, anatomicamente, esta composição não seja a que faz mais sentido. A arte egípcia influenciou fortemente a arteda Grécia Antiga, seja na ar- quitetura dos templos – erguidos com precisão simétrica em homenagem aos deuses gregos –, seja na produção de estátuas com figuras humanas – que com o passar do tempo, passaram a buscar a representação de corpos perfeitos. Estes, inclusive, são os maiores legados da arte grega. A arquitetura imponente foi influenciada pela constituição política e social das cidades gregas da época. Dividida em vários principados independentes, chamados de polis, as cidades tinham uma divisão muito peculiar, divididas em três partes: as áreas particulares, com casas; as áreas sagradas, onde ficavam os templos; e as áreas públicas, onde ficavam os comércios e as áreas onde aconte- ciam as reuniões políticas. “Nessa configuração urbana, os protagonistas da polis são os templos” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 66). OLHAR CONCEITUAL A construção dos templos gregos, com as colunas espaçadas com a mesma distância entre elas, com o frontão triangular e com a estilóbata, por exemplo, seguia uma simetria nos seus elementos a partir de critérios matemáticos, o que permitia a reprodução da mesma estrutura e do mesmo modelo em diversas cidades do território grego. UNICESUMAR UNIDADE 1 20 Entablamento Cornija Peristilo Estilóbata Friso Arquitrave Frontão A construção dos templos gregos, com as colunas espaçadas com a mesma distância entre elas, com o frontão triangular e com a estilóbata, por exemplo, seguia uma simetria nos seus elementos a partir de critérios matemáticos, o que permitia a reprodução da mesma estrutura e do mesmo modelo em diversas cidades do território grego. Elementos usados nos templos gregos de 2,5 mil anos atrás influenciaram toda a história da arquitetura. “O tratamento estilizado desenvolvido pelos gregos para as bases, os capitéis e os elementos apoiados (o entablamento) constituiu-se em um sistema que deu nome às ordens arquitetônicas que conhecemos hoje” (SOU- ZA; BATISTA, 2019, p. 69-70). As esculturas também marcaram a arte grega. As representações eram de corpos ideais, com um padrão de beleza que fugia, inclusive, do que era real na- quela época. Com isso, os gregos colocaram homens e mulheres como o centro das artes – no Egito, por exemplo, este papel era ocupado pela religião. Algumas características começaram a mudar com a alteração da organização política da Grécia sob o poder de Alexandre, o Grande. Ele transformou a região em um grande império, alterando a cultura e a arte local ao longo do chamado período helenístico. A arquitetura começou a sofrer mudanças, adaptada a um modo de vida menos sociável e mais individualista, o que mudou, principalmente, a arquitetura 21 das construções (SANTOS; SOUZA, 2018, p. 45). Não eram mais erguidos grandes templos e as construções residenciais passaram a ser mais funcionais. Nesta época, a Grécia foi incorporada ao território do Império Romano. Por volta de 200 a.C., “a grande demanda por estátuas gregas em Roma provoca uma inundação de cópias em mármore e bronze feitas a partir de moldes de gesso” (FARTHING, 2011, p. 62). Desta forma, a cultura grega influenciou boa parte da arte romana, no início do período em que o Império avançou por boa parte dos territórios europeus do Ocidente, até cerca de 500 d.C. Quando o Império foi estabelecido, “a arte foi elevada ao status de símbolo do poder, como demonstração de grandeza imperial” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 78). Com isso, dezenas de templos foram erguidos nos territórios conquista- dos pelos romanos, e a produção artística de pinturas, estátuas e artesanatos se intensificou. No seu processo de expansão territorial, a Roma Antiga impôs seus princípios culturais e artísticos aos povos dominados, o que colaborou para que a arte romana se espalhasse e deixasse diversas marcas para a posteridade. A ar- quitetura romana, que absorveu características gregas e etruscas, mas com uma engenharia mais refinada, foi um dos principais legados do Império. Isso aconte- ceu pela preocupação principal de que a produção arquitetônica fosse funcional. Uma característica fácil de notar nesta mudança foi “a substituição das colunas, que caíram em desuso, por arcos e abóbodas, que aumentavam o espaço interno das construções” (BARROSO; NOGUEIRA, 2018, p. 51). Os anfiteatros, onde acon- teciam grandes apresentações e combates de guerreiros, se tornaram construções marcantes dos romanos. O mais famoso deles é o Coliseu. Quem visita hoje um dos principais pontos turísticos da Itália consegue notar estas características: por fora, ele contém os arcos que marcaram a arquitetura do período. Por dentro, é possível ver as galerias entre as ruínas, que representam o avanço da engenharia (Figura 5). UNICESUMAR UNIDADE 1 22 Figura 5 – Coliseu, Roma Descrição da Imagem: a imagem se trata de uma foto aérea da cidade de Roma, que mostra o Coliseu visto de cima. O Coliseu está à direita da imagem, entre ruas, avenidas e gramados. Ele tem uma coloração bege claro por fora e bege escuro por dentro. Ele tem um formato oval. De frente para a foto, do lado de fora, há dois andares, com dezenas de janelas nos dois pavimentos. Metade da construção ainda tem um paredão mais alto, acima do segundo andar. Dentro do Coliseu, apesar da imagem estar distante, é possível ver dezenas de galerias em ruínas ao centro dele. Ao fundo, a imagem mostra um parque arbo- rizado à direita e várias construções à esquerda. Na pintura, os afrescos foram o grande legado da arte romana. “O afresco é uma técnica de pintura feita sobre uma base de gesso ainda úmida, em que o artista aplica pigmentos diluídos em água, o que faz com que as cores penetrem no re- vestimento” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 82). A técnica passou a ser amplamente usada em paredes, muros e tetos pelos séculos seguintes. Esta técnica permitiu que os romanos passassem a imitar texturas, como mármore. NOVAS DESCOBERTAS Título: Gladiador Ano: 2000 Sinopse: o filme conta a história da disputa pela sucessão do impe- rador Marco Aurélio, no século II. O filho do monarca, Cômodo, fica revoltado com a predileção do pai de escolher Maximus, o líder do exército romano para o posto de imperador. Comentário: o imperador Marco Aurélio e seu filho, Cômodo, realmente exis- tiram. Maximus, o comandante do exército, é um personagem fictício, assim como a história da sucessão do trono do rei. Mesmo assim, o filme mostra como se davam os duelos no Coliseu e como eram as cidades no Império Romano. 23 Outra coisa que essa técnica permitiu foi imitar algumas saliências. Então o que muitas vezes eles faziam era pintar janelas nas paredes, para dar uma sensação de maior amplitude aos ambientes. Já a escultura romana, a partir da influência grega, ficou marcada pela repre- sentação humana. A principal diferença da arte grega é que os romanos tentavam retratar as pessoas da maneira mais fiel à realidade possível, enquanto os gregos faziam representações de corpos tão perfeitos que se distanciavam da realidade. Era muito comum que os escultores fizessem bustos de imperadores (Figura 6). Nestas esculturas era possível notar algumas imperfeições naturais nos rostos, com rugas e cabeças calvas, por exemplo. Figura 6 – Busto em mármore do imperador romano Tibério Descrição da Imagem: a fotografia mostra um busto em mármore branco, qual seja, a estátua de uma cabeça. Se trata da cabeça de um homem, de olhos abertos sem detalhes, de cabelos curtos e encaraco- lados, nariz longo e fino, orelhas pequenas, testa proeminente, bochechas levemente sulcadas, queixo pequeno e arredondado, e boca pequena fechada, sem esboço de sorriso ou contração. O rosto traz uma expressão séria, porém calma, e está virado para a direita. UNICESUMAR UNIDADE 1 24 Uma mudança considerável na dinâmica da produção artística que aconteceu du- rante o período do Império Romano foi o surgimento da figura do mecenas. Eram membros da elite, do governo ou da aristocracia, que contratavam os artistas para realizarem suas obras.Desta forma, a produção de arte passa a funcionar de uma nova maneira. Antes, a arte era trabalho de pessoas que prestavam um serviço aos reis ou que faziam algum tipo de trabalho funcional que tinha valor artístico. Na Roma Antiga, artistas passaram a ser remunerados para fazer produções reconhecidas como arte sob encomenda e, dessa forma, ganharam uma nova projeção na sociedade. Mesmo com a queda do Império Romano, algumas características da arte daquele povo persistiram por séculos, durante a Idade Média. De relevante, “a arte bizantina acrescentou um forte componente religioso às suas obras, que, inicialmente, seguiram as tradições das técnicas romanas” (FARTHING, 2011, p. 72, grifo nosso). Neste longo período, a arte passou a ser considerada um instru- mento divino, e as representações têm como foco a natureza, como uma forma de continuar a obra de Deus. Com o avanço do poder da Igreja Católica, a temática religiosa domina a produção de pinturas da época. Na arquitetura ocidental, a principal marca fica por conta das catedrais góticas nos principais centros urba- nos que se formavam. Um dos principais legados que a Idade Média deixou para a produção artística foi “a criação de universidades e ambientes de aprendizado, geralmente ligados à Igreja, que nos séculos seguintes estimularam a difusão do conhecimento e da produção das artes” (BARROSO; NOGUEIRA, 2018, p. 71). Isso foi muito importante para o período seguinte, do Renascimento, a partir do século XIV, que recolocou os seres humanos no centro da produção artística e científica, resgatando alguns valores e conceitos da Antiguidade. Isso aconteceu devido a uma série de fatores, como a queda de Constantinopla e a vinda de bizantinos a Roma. Ao retornar ao local onde o poder estava centralizado mil anos antes, alguns valores estéticos clássicos foram retomados. A ascensão de uma burguesia, que dividia poder com a Igreja, também colaborou para que a religião deixasse de ser central na arte renascentista. Essa postura de oposição do movimento artístico se comparado com o perío- do anterior passa a ser comum dali em diante. Esta dinâmica de alternância dos padrões estéticos passa a ditar a evolução da arte. “Cada geração está, em algum ponto, em revolta contra os padrões de seus pais” (GOMBRICH, 2019, p. 9). 25 Esta foi uma época em que o racionalismo ascendeu. Isso quer dizer que hou- ve uma grande atenção para o desenvolvimento da matemática e da geometria, o que teve um impacto profundo na arte. Os artistas passaram a prestar mais atenção às proporções nas obras. Estes conhecimentos foram usados também para adotar técnicas de perspectiva e profundidade nas pinturas. “Renascentis- tas incluíam a paisagem como plano de fundo para a representação das figuras humanas, este, porém, era um grande desafio a ser vencido: a nova arte da pers- pectiva deveria integrar a figura e o fundo” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 133). Estas características podem ser notadas perfeitamente na obra O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, pintada em 1485. A imagem mostra figuras huma- nas em primeiro plano, em contraste com um fundo mais escuro, em perspectiva, o que configura uma sensação de relevo dos personagens da pintura (Figura 7). Figura 7 – O Nascimento de Vênus (1485), Sandro Botticelli. Galeria Uffizzi, Florença Fonte: Souza e Batista (2019, p. 134) Descrição da Imagem: o quadro mostra Vênus, uma mulher jovem, branca, de longos cabelos ruivos esvoaçantes, nua, de pé, segurando seu peito com a mão direita aberta, e segurando seus cabelos com a mão esquerda frente à virilha, saindo de uma grande concha de dentro do mar esverdeado. Ela possui uma expressão serena em seu rosto. À esquerda e acima dela, contra o céu azul, está um homem branco com cabelos castanhos, com asas, vestido com lenços esvoaçantes azuis. Este está voando, inclinado à direita, abraçado a uma mulher branca, nua, com cabelos ruivos, cujo corpo está por trás do homem. Ambos estão cercados de flores rosas esvoaçantes, a mulher com uma expressão surpresa, enquanto o homem alado assopra em direção a Vênus com as bochechas inchadas. À direita e abaixo de Vênus, contra a terra verde e florestas ao fundo, temos uma outra mulher, branca, ruiva, de pé, inclinada para a esquerda, vestida de branco com detalhes florais azuis, movimentando um pano rosado com detalhes negros, em direção a Vênus, com o aparente intuito de vesti-la. Ela traz um semblante sereno. UNICESUMAR UNIDADE 1 26 Outro artista muito reconhecido deste período foi Leonardo Da Vinci, que além de pintor, era matemático e engenheiro, dentre outras profissões – uma multiplicidade de conhecimentos típica da Renascença. É dele a obra de arte mais famosa do mundo, a Monalisa. O quadro ficou muito famoso por vários mitos que surgiram relacionados à sua história – pouco se sabe sobre a identidade da mulher retratada, por exemplo. Porém, são principalmente dois elementos que fazem esta obra ser especial: o olhar e o sorriso de Monalisa. Segundo Farthing (2011, p. 177), “os relatos de historiadores da época contam que Leonardo da Vinci usou músicos e palhaços para divertir a modelo enquanto pintava o quadro, o que resultou em um sorriso tão contido quanto enigmático”. Muitas pessoas que visitam a obra no museu do Louvre, em Paris, dizem que têm a sensação de que o olhar de Monalisa parece persegui-las. NOVAS DESCOBERTAS Título: O Código da Vinci Autor: Dan Brown Editora: Arqueiro Sinopse: um assassinato dentro do Museu do Louvre, em Paris, traz à tona uma sinistra conspiração para revelar um segredo que foi protegido por uma sociedade secreta por séculos. Uma criptógrafa e um simbologista passam a buscar mensagens escondidas em obras de arte para solucionar o crime. Comentário: o livro é uma história de ficção que cria mensagens dentro do universo da arte, mostrando como as obras podem ter múltiplos significados. Além da perfeição e delicadeza na representação das pessoas, “as obras de Da Vinci conseguiam simular movimentos e ações dos retratados, por meio do do- mínio do uso de sombras e luzes” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 137). Outra ca- racterística importante das obras é a composição em formato de pirâmide dos principais elementos retratados nos quadros, como é possível notar na pintura A Virgem dos Rochedos (Figura 8). A técnica ajuda a conduzir o nosso olhar quando observamos a obra de arte. 27 Também é do período renascentista o pintor e escultor Michelangelo, autor de algumas de outra obra que é uma das mais famosas da história da arte: a pintura do teto da Capela Sistina (FIGURA 9). Contratado pelo Papa Júlio II della Ro- vere, Michelangelo demorou quatro anos para produzir o afresco que retrata a criação do mundo e passagens bíblicas. Michelangelo realizou um trabalho físico descomunal deitado em andaimes para pintar os mais de 500 metros quadrados do local. “Entretanto, a proeza física de um homem para cobrir esse vasto espaço sem ajuda nenhuma pouco representa em comparação com a façanha intelectual e artística” (GOMBRICH, p. 308, 2019, p. 308). Ao todo, a pintura tem mais de 300 personagens retratados. Descrição da Imagem: a imagem se trata de uma pintura. A Virgem Maria está ao centro da imagem, com uma roupa verde azulada escura. A mão esquerda dela está aberta, virada para baixo, sobre a cabeça do meni- no Jesus ainda bebê. Ele está sentado ao lado de um anjo, Uriel, de cabelos longos claros, roupa azul e uma capa vermelha. O anjo olha para o menino Jesus. Ao mesmo tempo, Jesus e o anjo apontam para outro bebê, que está do outro lado da imagem, tam- bém ao lado de Maria. O outro bebê é João Batista, que está ajoelhado com as mãos juntas, à frente do peito. Maria está com a mão direita sobre o ombro de João. Eles todos estão em um ambiente rochoso e aparente- mente úmido. Ao fundo, várias rochas e ruínas compõem o cenário. Figura 8 – A Virgem dos Rochedos, de Leonardo da Vinci, 1486 Fonte: Souza e Batista (2019,p. 133) UNICESUMAR UNIDADE 1 28 Figura 9 – Capela Sistina, no Vaticano Descrição da Imagem: o quadro mostra Vênus, uma mulher jovem, branca, de longos cabelos ruivos esvoaçantes, nua, de pé, segurando seu peito com a mão direita aberta, e segurando seus cabelos com a mão esquerda frente à virilha, saindo de uma grande concha de dentro do mar esverdeado. Ela possui uma expressão serena em seu rosto. À esquerda e acima dela, contra o céu azul, está um homem branco com cabelos castanhos, com asas, vestido com lenços esvoaçantes azuis. Este está voando, inclinado à direita, abraçado a uma mulher branca, nua, com cabelos ruivos, cujo corpo está por trás do homem. Ambos estão cercados de flores rosas esvoaçantes, a mulher com uma expressão surpresa, enquanto o homem alado assopra em direção a Vênus com as bochechas inchadas. À direita e abaixo de Vênus, contra a terra verde e florestas ao fundo, temos uma outra mulher, branca, ruiva, de pé, inclinada para a esquerda, vestida de branco com detalhes florais azuis, movimentando um pano rosado com detalhes negros, em direção a Vênus, com o aparente intuito de vesti-la. Ela traz um semblante sereno. Em geral, as obras do Renascimento tinham como característica seguir um rigor estético que tinha sido desenvolvido nos períodos clássicos da Grécia e Roma Antiga, com uma representação fiel da figura humana, lastreada no conhecimento científico, na racionalidade e nas proporções. Como pudemos ver, os artistas dessa época eram intelectuais de várias áreas, e as técnicas aplicadas por eles eram muito refinadas. Isso fez com que os artistas fossem reconhecidos e disputados pelos mecenas do período. É por isso que, se você parar para pensar quais são os artistas mais antigos que você lembra pelo nome, uma boa parte deles são do período renascentista. Com o passar do tempo, a burguesia vinha enriquecendo e ganhando poder. Com isso, aconteceu o movimento da Reforma Protestante, no século XVI, o que gerou uma reação da Igreja Católica que ficou conhecida como contrarreforma. Foi nessa época que a Igreja promoveu ações, como o Tribunal da Inquisição, e 29 passou a colocar como prioridade a catequese dos povos dos territórios que os europeus passaram a dominar, principalmente na América. Isso deu um novo poder à religião e o que, na arte, marca o início do período Barroco. A “arte barroca surge como uma ideia de mediação entre a humanidade e Deus” (BARROSO; NOGUEIRA, 2018, p. 88, grifo nosso). As representações de pinturas e esculturas deste movimento tendem a exaltar a religião e a mensagem que elas pas- sam geralmente é de sobreposição da emoção diante da razão. Segundo Farthing (p. 213, 2011), o movimento Barroco é caracterizado “pela decoração pesada, o design complexo, porém sistemático e a aplicação abundante de luzes e sombras”. Além da representação das passagens bíblicas, muito comuns neste período, a vida cotidiana também passa a ser retratada nos quadros. Caravaggio, o principal pintor do Barroco, “procurava os seus modelos entre os vendedores, os músicos ambulantes, os ciganos, ou seja, entre as pessoas do povo” (BARROSO; NOGUEIRA, 2018, p. 92). Na Europa, nesta mesma época, surgia o estilo Rococó, um movimento de ruptura do Barroco, e que tinha “uma estética refinada e ornamental, sem ne- nhuma preocupação com a religiosidade, pois seu foco principal era a diversão e a felicidade de seus patrocinadores, a monarquia” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 214). A produção da arte Rococó também tinha como característica servir para decoração e ostentação. Por isso, uma influência muito grande desse período pode ser notada nas arquiteturas de interiores de palácios ou na produção de tapeçarias e porcelanas. Famoso pelas suas extravagâncias, o Palácio de Versalhes, na França, é um símbolo do período. NOVAS DESCOBERTAS Título: Maria Antonieta Ano: 2006 Sinopse: a jovem austríaca Maria Antonieta torna-se rainha da Fran- ça aos 14 anos de idade, após sua família arranjar um casamento precoce com o rei Louis XVI. Ela chega despreparada para enfrentar as res- ponsabilidades do posto e a pressão política crescente, que culminou na Re- volução Francesa, quando ela foi decapitada. Comentário: o filme, ambientado no Palácio de Versalhes, mostra de forma descontraída todo o luxo da família real francesa. As regalias vividas pelos monarcas enquanto boa parte do restante do povo da França vivia na misé- ria foi um dos fatores que inflamou os movimentos revolucionários. UNICESUMAR UNIDADE 1 30 São destes dois movimentos, Barroco e Rococó, as primeiras obras de arte re- conhecidas no Brasil após a colonização portuguesa. Muitas igrejas construídas nesta época no país, no séc. XVIII, têm as características da arquitetura barroca, com fachadas grandes, traços ondulados e assimétricos, que contrastavam com o rigor geométrico da arte renascentista. A arte Rococó também está presente nos tons pastéis e nas decorações dos prédios imperiais. O principal artista brasileiro deste período foi Antônio Francisco de Lisboa, conhecido popularmente como Aleijadinho. O arquiteto e escultor era de Ouro Preto, em Minas Gerais, cidade que, naquela época, era muito rica pela extração mineral e onde até hoje muitas de suas obras estão espalhadas pela região, como o Santuário de Bom Jesus do Congonhas e as estátuas dos Doze Profetas (Figura 10). Figura 10 – Santuário de Bom Jesus do Congonhas e as estátuas dos Doze Profetas Descrição da Imagem: a foto mostra a fachada da igreja, que tem as paredes brancas com detalhes, nos contornos das colunas laterais e janelas, em dourado. No topo destas colunas, há dois sinos dourados. No primeiro plano, na entrada da igreja, há duas escadarias laterais cercadas de muros brancos. Estes muros têm as pontas curvas. Sobre eles, há seis estátuas de cada lado, que representam profetas bíblicos. Ao centro, no meio destes muros, há um portão azul entreaberto. À frente da entrada da igreja, há uma calçada de pedras amareladas. Ao fundo, a imagem mostra um céu azul com nuvens brancas. Como já vimos anteriormente, os movimentos artísticos seguem, via de regra, uma tendência de alternância das características, geralmente fazendo um contra- ponto com o movimento anterior. Isso acontece novamente com o surgimento 31 do Neoclassicismo. Influenciado pelos ideais Iluministas, o movimento surge no final do século XVIII como uma nova tendência estética que expressa os valores da nova burguesia europeia e da Revolução Francesa. Uma curiosidade, segundo Farthing (2011, p. 260), é que o Neoclassicismo foi liderado, no início, não por artistas da época, mas por pensadores como Voltaire, que “lutaram contra a frou- xidão moral do estilo Rococó e, por consequência, do regime que o gerara. No lugar, exigiram uma arte que fosse racional, moral e intelectualizada”. A retomada dos padrões de beleza do período clássico combinava com estes ideais: “ Segundo a tendência neoclássica, a obra de arte só seria perfei-tamente bela se resgatasse os princípios e as criações dos artistas clássicos gregos e renascentistas italianos. Para isso, seria necessá- rio um cuidadoso aprendizado das técnicas e convenções da arte clássica. Assim, nesse período, prevaleceram o convencionalismo e o tecnicismo nas academias de belas-artes (SANTOS; SOUZA, 2018, p. 103). Uma novidade do período é que a arte neoclássica com alguma frequência re- tratava acontecimentos políticos da época. Isso aconteceu justamente por ser fortemente influenciada por pensadores iluministas e por estar ligada aos ideais da Revolução Francesa, que foi um dos grandes marcos civilizacionais da história moderna. Um exemplo marcante desta característica é a obra A morte de Marat, de Jacques-Louis David, que retrata Jean-Paul Marat, que tinha participado da Revolução, morto em uma banheira. Outra mudança em relação aos movimentos artísticos anteriores é que as repre- sentações são carregadas de emoção e drama. Nos movimentos anteriores, o Barrocoe o Rococó, o mais comum era a retratação de cenas cotidianas, banais e descontraídas. A Morte de Sócrates (Figura 11), também de Jacques-Louis David, é repre- sentativa sobre o aspecto dramático das obras daquele tempo. O quadro mostra o filósofo grego na prisão sendo visitado pelos seus discípulos, pouco antes de tomar o veneno que o mataria. Na mesma cena, vários alunos parecem inconfor- mados com o que acontecia. Alguns deles aparecem chorando, enquanto outros gesticulam revoltados. UNICESUMAR UNIDADE 1 32 Figura 11 – A morte de Sócrates, 1787 Descrição da Imagem: a pintura retrata Sócrates, ao centro da imagem, sentado em uma cama grande, com cabelos brancos curtos e barba, sem camisa, e com uma roupa branca cobrindo sua cintura e seu ombro esquerdo. Ele gesticula, com o braço esquerdo, apontando o dedo para cima. Com a outra mão, ele pega um cálice que é entregue a ele por um de seus alunos, que é retratado de costas. Este aluno está com uma roupa vermelha e com a mão esquerda tapa o rosto, lamentando que Sócrates esteja aceitando o cálice. No lado direito da imagem, a pintura mostra outros seis alunos dele, todos homens adultos, no mesmo ambiente, todos de cabelos curtos, e alguns com barba e outros sem. Um deles, de barba e cabelo escuros com tons de grisalho, está sentado ao lado do professor, vestido com uma roupa vermelha, com a mão na coxa de Sócrates. Ele e Sócrates estão se olhando. Outros alunos estão com as mãos no rosto ou na cabeça, lamentando a morte iminente do professor. Do lado esquerdo do quadro, ao pé da cama, um aluno de cabelos brancos curtos e roupa cinza clara está sentado de costas para Sócrates, de cabeça baixa. Ao fundo, um outro rapaz vestido de azul aparece apoiado na parede, como se estivesse chorando. O chão e a parede são de pedras cinza-escuras. Como reação ao racionalismo do Iluminismo, que tinha como símbolo o neo- classicismo, surge o Romantismo, no final do século XVIII. Mais uma vez, é um movimento que tende a ir na contramão de algumas características do período an- terior. De acordo com Farthing (2011, p. 267), o movimento emerge do sentimento que o Iluminismo tinha falhado ao buscar uma ordem racional que substituiria superstições e religiões. A sensação para os artistas românticos é que este mundo melhor não tinha sido entregue conforme prometido. Pelo contrário, o mundo via 33 guerras motivadas pelas revoluções e a crise social causada pela industrialização. Esse contexto ajudou a fomentar o Romantismo, que se baseava em uma arte mais sentimental, individualista, de exaltação à natureza. No Brasil, esse movimento resultou em uma arte que exaltava o nacionalismo e o ultrarromantismo. Alguns anos mais tarde, mais uma vez um novo movimento rompe com as tradições anteriores. Desta vez, a principal mudança foi impulsionada por uma revolução na técnica da arte. O Impressionismo surge na França no final do sé- culo XIX, com uma forma totalmente diferente de pintar. Por causa das primeiras experiências fotográficas, os artistas deste período passam a retratar as imagens de outras formas, o que inaugurou a Arte Moderna. No caso do Impressionismo, os cenários eram pintados como eles eram percebidos, enfatizando as sensações criadas a partir daquelas experiências. Conceito moderno de estética: o conceito filosófico de estética que conhecemos hoje foi desenvolvido pelo alemão iluminista Alexander Baumgarten, no século XVIII. Ele definiu o conceito em 1750, quando publicou o livro A Estética. Para o pensador, estética é o campo da filosofia que reflete sobre as emoções produzidas nos seres humanos pelos objetos e imagens. A partir da obra dele que a estética passa a ter um caráter subjetivo, em que se constrói a partir da relação entre o objeto e o observador. Este pensamento veio a influen- ciar a forma como entendemos a beleza das coisas a partir de então. Fonte: Martino (2016, p. 14-29) EXPLORANDO IDEIAS Para entender melhor esse movimento, pense que você está na praia, olhando para o mar no começo da manhã, quando o Sol nasce. É provável que o céu esteja dourado e que a luz do Sol ofusque algumas nuances do mar. Se você olhar para o mesmo cenário algum tempo depois, já no meio da manhã, é provável que o céu esteja bem azulado, que você consiga ver melhor os detalhes das ondas e o movimento do mar. Na pintura impressionista, a arte retrata como as luzes e os movimentos impactam na nossa forma de perceber aquela imagem. O termo impressionismo surgiu após a primeira obra do pintor francês Claude Monet, que retratava justamente um cenário ao nascer do Sol. “A preocupação central passou a ser os próprios aspectos da arte, ou seja, o registro das alterações que a luz causa sobre os objetos” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 238). UNICESUMAR UNIDADE 1 34 Para captar as impressões que as luzes e os ambientes proporcionavam, os artistas deixaram os ateliês e passaram a fazer suas pinturas ao ar livre. Segundo Gombrich (2019, p. 518), foi “o próprio Monet quem teve a ideia de que as pin- turas tinham que terminar in loco (do latim, que significa presencialmente no local)”. Como as coisas mudam o tempo todo, minuto a minuto, uma característi- ca desse movimento foi a adoção de pinceladas rápidas, porém pesadas, nas telas. “O impressionismo é uma arte visual, na qual o que se vê na pintura é o tema das obras em movimento” (BARROSO; NOGUEIRA, 2018, p. 158). Para os críticos da época, neste estilo parecia que as obras estavam inacabadas. O termo “impressionista” inclusive foi uma forma pejorativa que a crítica na época usou para criticar o movimento. Para os artistas, por outro lado, era esse visual que garantia a real representação dos movimentos e das luzes sob uma determinada cena. A obra Baile no Moulin de la Galette (Figura 12), de Pierre Auguste Renoir, mos- tra bem este efeito. Muitos rostos não apresentam todos os detalhes, confe- rindo movimento a um momento em que pessoas dançavam em uma festa. O contraste, incomum até então, de cortes no cenário realçam os locais onde ba- tia a luz do Sol na cena. Figura 12 – Baile no Moulin de la Galette, 1876 Fonte: Gombrich (2019, p. 521) Descrição da Imagem: o quadro mostra dezenas de pessoas em um baile ao ar livre, em plena luz do dia. Em primeiro plano, meia dúzia de pessoas estão sentadas ao redor de uma mesa. Duas mulheres, no centro da imagem, aparecem de frente. Uma delas, de cabelos claros, está sentada e veste um vestido listrado claro. Atrás dela, uma outra mulher está apoiada sobre o ombro direito da moça sentada. Esta mulher está com uma roupa preta e uma fita preta e branca prendendo os cabelos loiros. Há um homem de preto sentado à frente delas, virado de costas para a imagem. No canto direito, também sentados ao redor da mesma mesa, dois homens de chapéu olham para as duas mulheres. Todos eles estão com roupas escuras de gala. Alguns homens usam chapéus e cartolas. Ao fundo, dezenas de casais dançam. As pinceladas dão movimento à cena e reforçam a sensação de que há uma multidão indefinida naquele ambiente. No meio das pessoas, há árvores e postes com luminárias brancas. 35 Diferente de outros movimentos, como o Renascentismo, a criação impressionis- ta não seguia uma teoria formulada ou algum conhecimento prévio acadêmico. Ela foi desenvolvida por meio da experiência prática dos seus autores. Os impactos causados pelo movimento impressionista levaram certo tempo para se- rem compreendidos pelo público, de acordo com Souza e Batista (2019, p. 241), mas este reconhecimento chegou para os artistas ainda em vida, mesmo após o início conturbado. O movimento representou uma virada na avaliação estética da arte. Antes, a classificação de beleza de uma obra tinha valores mais rígidos, relacionados à uma forma mais tradicional de pintar. Após o Impressionismo, outros artistas se utili- zaram destes novos conceitos e técnicas para desenvolver suas expressões artísti- cas, o que mudou a forma de fazer arte dali emdiante. Este legado ficou evidente no período seguinte, chamado de Pós-Impressionismo. Ele contém artistas que beberam da fonte da revolução estética impressionista, mas que reforçaram o uso de novas técnicas, como pinturas bidimensionais e o uso de cores ainda mais for- tes. O nome mais famoso deste período foi o artista holandês Vincent Van Gogh. Com traços fortes que, à primeira vista, até pareciam grosseiros, Van Gogh tinha como característica uma pintura carregada de emoção, capaz de distorcer a rea- lidade de uma cena, mas, ao mesmo tempo, trans- mitir a sensação que ele tinha diante daquilo que retratava. É o que aconte- ce em A Noite Estrelada (Figura 13). Figura 13 – A Noite Estrelada, 1889. Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em https://bit. ly/3OiieZX. Acesso em: 12 jul. 2022. Descrição da Imagem: a tela apresenta uma paisagem noturna. A maior parte do quadro mostra um céu azulado. Há várias linhas e ondas com diferentes tons de azul. Há dez estrelas amareladas, que brilham em tamanho desproporcional. A lua crescente está no canto direito superior do céu, amarelada. Ao fundo, no horizonte, há uma cadeia de montanhas também azuladas. Na parte de baixo da imagem, há uma cidade vista de cima. Os telhados têm tons de verde e azul na sua maioria. À esquerda, em primeiro plano, há uma planta grande e esverdeada. Ela quase corta todo o quadro. As pinceladas são grossas e curvas, dando a impressão de movimento à imagem. UNICESUMAR UNIDADE 1 36 Neste quadro, note que o tamanho das estrelas não é proporcional ao que vemos quando olhamos para o céu. As ondas no firmamento também não são fiéis à realidade. O quadro foi pintado a partir da vista que o artista tinha da janela do hospital psiquiátrico onde estava internado, em Saint-Rémy-de-Provence. A forma dos traços e o movimento das pinceladas passam perfeitamente uma sensação de perturbação que Van Gogh vivia naquela época. “É evidente que Van Gogh não estava principalmente interessado na representação correta. Usou cores e formas para transmitir o que sentia em relação às coisas que pintava e o que desejava que os outros sentissem” (GOMBRICH, 2019, p. 548). Esse período marcou a transição para uma arte com mais elementos abstratos, que viria a seguir em diversos movimentos pelo mundo. Estas mudanças acontecem a partir de uma consciência maior das técnicas artísticas, e de que o conceito de “se pintar o que se vê” pode ser contraditório. A Noite Estrelada de Van Gogh mostra como o artista via aquela cena, ainda que ela claramente não seja uma representação literal do que acontecia naquela cidade naquele momento. Este tipo de expressão não chega a ser uma novidade, já que, ao longo da história da arte, isso sempre aconteceu – como os egípcios, que faziam corpos distorcidos, com o tronco da pessoa virado para um lado e o rosto virado para o outro, em uma representação impossível de ser natural – mas é na virada do século XIX para o século XX que os artistas passam a trabalhar esses aspectos de maneira central nas obras, dando luz, principalmente, à impressão sensorial que uma obra pode causar. Isso teve como consequência que artistas das primeiras décadas dos anos 1900 “tiveram que se tornar inventores. Para garantir a atenção eles tiveram que empenhar-se mais pela originalidade do que pela maestria que eram admiradas nos artistas do passado” (GOMBRICH, 2019, p. 562). Com esta intenção surge o movimento Expressionista. Gombrich (2019, p. 564) compara o movimento ao método de produção de um caricaturista, que distorce uma determinada situação “para expressar justamente o que pensa a respeito dela”. Estes artistas, que se reuniram principalmente em grupos na Ale- manha, que estava arrasada após a destruição causada pela I Guerra Mundial, tinham como premissa uma arte que expressasse a subjetividade humana, prin- cipalmente por meio desta distorção, simplificação dos detalhes e do uso de cores 37 intensas, não naturais e até incômodas. “As cores não deveriam convergir com o natural, e as formas eram alongadas e exageradas para criar cenas grotescas que refletissem o pessimismo e a maldade humana” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 255). Apesar de não ser alemão, o pintor norueguês Edvard Munch é um dos mais famosos desse movimen- to artístico. Sua obra mais conhecida é O Grito (Fi- gura 14), uma série de cinco obras, duas em ver- são pastel, duas em óleo, e uma litogravura, em que uma pessoa aparece sobre uma ponte gritando. As cores quentes do céu, as linhas do fundo e o rosto do personagem passam uma sensação de angústia e desespero. Figura 14 – O Grito, de Edvard Munch, 1893 Fonte: Nasjonalmuseet for kunst, arkitektur og design, The Fine Art Collections. Dispo- nível em: https://bit.ly/3uJjwGh. Acesso em: 12 jul. 2022. Descrição da Imagem: o quadro mostra, ao centro, uma pessoa com um olhar aterrorizante. Esta pessoa tem um rosto oval, sem cabelo. Está com os olhos redondos e arregalados. A boca dela está aberta. O tom de pele é esverdeado. As mãos estão encostadas nas laterais do rosto, em uma pose que transmite uma sensação de tormenta. A roupa é preta. Ela está sobre uma ponte, que atravessa o quadro na diagonal, da esquerda para a parte de baixo do quatro. Ao fundo, na ponte, duas pessoas com roupas escuras caminham. Um rio passa por baixo da ponte. No fundo, o céu tem tons de vermelho, amarelo e laranja, que completam o clima sombrio da obra. Todo o quadro é composto por elementos ondulados e por pinceladas grossas e contínuas. UNICESUMAR https://bit.ly/3uJjwGh UNIDADE 1 38 Até hoje, segundo Gombrich (2019), esse tipo de arte deixa parte do público perplexo. Segundo o autor, “as pessoas parecem aceitar melhor que uma realidade seja distorcida em um quadro para deixá-la mais bela, segundo os padrões, do que para deixá-la mais feia e incômoda” (GOMBRICH, 2019, p. 564). O Expressionismo teve uma vertente no cinema alemão também. Neste caso, o desconforto e a angústia eram retratados em maquiagens que distorciam os rostos dos atores, que atuavam em cenários pequenos e incômodos. Foi nessa época, também, que surgiram as obras de arte que hoje nós nos acos- tumamos a chamar de “abstratas”. São obras que, com a intenção de retratar sen- timentos e sensações acima de qualquer outra coisa, renunciam a representações e formatos tradicionais. Um dos primeiros ar- tistas a ganhar projeção com este tipo de arte foi o pintor Wassily Kan- dinsky, que vivia em Munique. Seus quadros (Figura 15) destacavam “os efeitos psicológicos da cor pura” (GOMBRI- CH, 2019, p. 570). Figura 15 – Cossacos, de Wassily Kandisky, 1910 Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://bit.ly/2oEOE6N. Acesso em: 12 jul. 2022. Descrição da Imagem: o quadro mostra uma imagem abstrata que, segundo o autor, representa sol- dados Cossacos, da Rússia. Três pequenos quadrados vermelhos à direita representam os chapéus dos guardas. Duas listras pretas inclinadas cruzam o quadro também à direita, que representam as armas destes guardas. O fundo do quadro é amarelado. Ainda à direita há linhas onduladas azuis escuras. Nas partes de cima e central da imagem, linhas e riscos pretos dão forma ao que parece uma construção. No centro há uma espécie de arco-íris vermelho, amarelo e verde. No topo da imagem, há manchas amarelas, alaranjadas e verdes. São vários os movimentos que surgiram de conceitos estéticos mais abstratos. O que os marcam, basicamente, é a discussão do papel da arte, além da experimen- tação e a inovação no modo de fazê-la. https://bit.ly/2oEOE6N 39 Descrição da Imagem: a pintura mostra, com linhas geométricas e com formas fora de proporção, cinco mulheres nuas. Os detalhes dos corpos não têm uma definição muito precisa. Duas mulheres ao centro do quadro estão com os braços dobrados atrás da cabeça. Elas estão de pé e olham para frente. Elas têm narizes grandes e cabelos pretos. Ao lado direito, duas mulheres parecem usar máscaras tribais, também em formatosgeométricos. Uma delas está sentada no chão, com as pernas abertas, olhando fixamente para frente, com os olhos desalinhados. A outra está de pé, olhando para a esquerda da imagem, de ca- belos ondulados pretos e longos. À esquerda da imagem, outra mulher está de pé, de lado, olhando para o lado direito da imagem. O rosto dela tem um tom mais escuro que o restante do corpo. Ela está com o braço direito repousado ao lado do corpo e o braço esquerdo levantado, como se estivesse apoiada a uma parede. O fundo do quadro é marrom no lado esquerdo e azul e branco no restante da imagem. No chão, há uma espécie de cesta de frutas em formatos geométricos. Uma destas correntes foi o Cubismo, que rompeu drasticamente com a arte clás- sica ao desconstruir as figuras nas suas representações. Os artistas desse movimento não usavam regras de perspectiva e nem mesmo se importavam com a realidade. “Os pintores cubistas representavam as figuras de vários lados e ângulos em um único plano frontal” (SANTOS; SOUZA, 2018, p. 149). O maior nome deste movimento foi o espanhol Pablo Picasso, que usou a arte para retratar os horrores da Guerra Civil Espanhola, na década de 1930. As obras do artista retratavam a natureza e as pessoas por meio de esferas, cones e cilindros, como é possível ver na obra Les Demoiseilles d’Avignon (Figura 16). Segundo Farthing (2011, p. 388), “demoraram mais de 30 anos para que as primeiras obras cubistas passassem a ser apreciadas”. Figura 16 – Les Demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso, 1907 Fonte: Farthing (2011, p. 392) UNICESUMAR UNIDADE 1 40 Outro movimento da época foi o Surrealismo, que rejeitava qualquer represen- tação da ‘razão’ na arte. A ideia era tentar replicar a sensação que as pessoas têm nos sonhos. Por isso, muitas pinturas dessa época mostram objetos se fundindo com pessoas, animais com personalidades humanas, objetos em formatos dife- rentes dos que estamos acostumados, dentre outras coisas. Esses e outros movimentos modernos vieram, acima de tudo, rejeitar os pa- drões artísticos de vários séculos anteriores, fazendo uma provocação, inclusive, sobre o que de fato era a arte. O Dadaísmo, outro movimento do início do século XX, que, por meio da espontaneidade, da irreverência e do protesto estabelece que, mais do que beleza, a arte precisa provocar algo naquele que a consome. O principal símbolo desta crítica é a obra A Fonte (Figura 17), do francês Marcel Duchamp. Trata-se de um mictório que é retirado do seu lugar e de sua origem funcional e que passa a ser considerado arte porque o artista o batiza como tal. Figura 17 – A Fonte, de Marcel Duchamp, 1917 Fonte: Barroso e Nogueira (2018, p. 150) Descrição da Imagem: a foto, em preto e branco, mostra um mictório de base oval e formato triangular. Ao invés de estar fixado a uma parede, ele está deitado so- bre sua base. Ele tem seis furos ao fundo, também no formato de um triângulo. No lado esquerdo, ele tem uma inscrição “R. Mutt 1917”. Note que esse tipo de expressão artística subverte totalmente o que séculos atrás era considerado belo. Lembra como, na Antiguidade, os egípcios e os gregos consideravam belo aquilo que tinha alguma utilidade, seja por motivos religiosos ou pela funcionali- dade daquelas obras de arte? Pois no início do século XX, alguns objetos passam a ser considerados arte quando perdem a sua funcionalidade e, por isso, se tornam belos. No Brasil, esses movimentos foram inaugurados na Semana de Arte Mo- derna, de 1922. Como nos outros países, foi uma arte rejeitada pelo grande público logo de início, que estranhou os novos padrões estéticos que estavam 41 sendo propostos. Além de toda a ruptura com os movimentos anteriores, no Brasil a Arte Moderna “resultou no importante movimento antropofágico, que ganhou força no Brasil buscando uma arte mais conectada às características e raízes culturais nacionais” (SANTOS; SOUSA, 2018, p. 148). Uma obra muito famosa e representativa desse período é O Abaporu, de Tarsila do Amaral, um quadro que até hoje é símbolo da arte brasileira. Você percebeu como, por muitos anos, especialmente antes do século XX, as mulheres estiveram muito repre- sentadas nas artes como personagens de quadros e escul- turas, mas poucas artistas foram reconhecidas? Acesse o QRCode ao lado para dar o Play e ouvir um Podcast sobre a presença da mulher na arte ao longo do tempo. Após a II Guerra Mundial e a explosão da indústria de consumo, um novo con- ceito que também mudaria a forma como entendemos a arte surgiu na Inglaterra, nos anos 1950. Com referências à comunicação de massa, a Pop Art transformou as expressões artísticas em um mercado acessível a todos. “Até então, a arte con- sistia apenas nos produtos resultantes do esforço criativo do artista, na forma de pintura ou escultura. Contudo, a partir desse período, esse conceito se amplia e passa a abarcar uma diversidade de atividades e formas de expressão” (SANTOS; SOUZA, 2018, p. 197). Os artistas passaram a usar colagens e a explorar a alta capacidade de reprodutibilidade de suas criações para falar sobre arte e consumo. A arte passou a ressignificar objetos e símbolos, “transformando o que era vulgar em refinado e, assim, aproximando a arte das massas populares” (BARROSO; NOGUEIRA, 2018, p. 182). Dessa forma, a ideia era que a arte não era mais res- trita a uma elite cultural, mas, sim, um produto de massa. O maior nome deste movimento foi o americano Andy Warhol. Ele usava a seri- grafia (técnica de impressão em que a tinta é aplicada através de uma tela) para mostrar que a produção desta arte tinha como característica a impessoalidade e a produção em série. “Entretanto, mesmo produzindo as suas obras em larga escala, Warhol fazia questão de definir onde colocar cada cor e de deixar erros no processo de impressão, para conferir à imagem certa singularidade” (SOUZA; BATISTA, 2019, p. 285). UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12458 UNIDADE 1 42 Estas características ficam claras na obra Vinte Marilyns (Figura 18), de 1962. Warhol pintou duas dezenas de fotos em preto e branco da atriz Marilyn Monroe. Ainda que a repetição cause um “efeito de linha de produção”, como diz Farthing (2011, p. 489), as pequenas diferenças entre cada uma das imagens trazem uma reflexão sobre a singularidade de cada uma delas. Figura 18 – Vinte Marilyns, de Andy Warhol, 1962 Fonte: Farthing (2011, p. 488) Descrição da Imagem: a imagem mostra vinte fotogra- fias colorizadas de Marilyn Monroe. Ela tem o rosto de pele cor-de-rosa, lábios escuros e grossos, com a boca entreaberta mostrando os dentes. Ela tem olhos peque- nos e sobrancelhas finas, mas bem-marcadas. Ela veste uma roupa de gola verde esmeralda. O cabelo dela é curto, ondulado, e está pintado de amarelo. O fundo da imagem é alaranjado. A obra mostra cinco linhas com quatro fotos cada. As fotos têm pequenas diferenças entre elas, algumas com linhas mais definidas, outras com sombras mais marcadas. Todos esses movimentos estabeleceram um novo conceito sobre o que pode ser considerado arte desde então. A beleza óbvia, de acordo com os antigos padrões, se torna menos importante do que a inovação ao fazê-la, do que os sentimentos que ela desperta, o impacto que ela causa ou a mensagem que ela passa. Na segunda metade do século XX, temos o que podemos chamar de Arte Con- temporânea. Neste caso, “é difícil estabelecer uma linearidade entre os movimentos”, segundo Souza e Batista (2019, p. 295). Uma característica que tende a ser comum é a busca de conexão com o público. Isso pode acontecer a partir de uma provocação ou pelo sentimento de estranhamento, pode ser por se utilizar de referências que as pessoas consigam reconhecer e refletir a respeito ou de inúmeras outras formas. A ideia de Arte Conceitual, por exemplo, surgiu nos anos 1960, em resposta à Pop Arte e ao conceito de que a arte poderia ser uma mercadoria. Para desafiar a produção em massa e o consumismo, artistas passarama preparar performances ou instalações para questionar o que era arte. “Essas criações zombavam da ideia de que a arte era comerciável e colecionável e a abraçavam a arte pela arte” (FARTHING, 2011, p. 504). 43 A transformação dos materiais usados em uma obra de arte é outro aspecto que ganha ainda mais importância. Fica ainda mais claro que a produção da arte já é, de alguma forma, a arte em si. Consolida-se a ideia de que arte não é algo que é feito para apenas se admirar, mas para experimentar e se expressar. Tomam as ruas, os metrôs, túneis e via- dutos, inclusive, com a arte urbana. Os conceitos sobre o que é arte mudaram a ponto de uma representação artística como grafitti, que, por muito tempo e por muitas pessoas, foi considerado uma forma de vandalismo e de “sujeira urbana”, ter se tornado uma das expressões artísticas mais atuais e vibrantes. Em resumo, a arte extrapola o papel da utilidade ou da contemplação e se fixa como uma experiência, tanto para o artista como para o público. Fazendo essa retomada histórica pelos principais movimentos artísticos que tivemos, você notou como os padrões estéticos mudaram ao longo do tempo? E percebe como o conceito do que é beleza também se alterou? E, com isso, como a percepção do que tem valor artístico mudou uma série de vezes? Um exemplo muito interessante é a forma como a representação ideal de beleza, com padrões estéticos clássicos, alternou momentos em que esteve em alta e em baixa ao longo dos séculos. Durante o período da Grécia Antiga, no Renascimento e no Neoclassicismo, por exemplo, esses padrões eram enaltecidos, mesmo separados por dois milênios. Em compensação, esses modelos estéticos Arte performática: surgiu em eventos teatrais como uma tentativa de destruir as barrei- ras entre a arte e o público. São obras em que os artistas usam seus próprios corpos como meio de se expressar ou até de realizar um protesto. Instalações artísticas: são obras que modificam ou criam um ambiente imersivo para que as pessoas tenham uma experiência sensorial. Inicialmente, estes ambientes eram criados dentro de museus e galerias, mas com o passar dos anos, as instalações tomaram ruas, terrenos abandonados e prédios públicos. Land art: tendência que surgiu nos anos 1960, quando artistas buscavam novos materiais para fazerem suas obras. Neste tipo de arte, o artista usa a natureza na composição da sua intervenção, como grandes esculturas em meio a uma paisagem ou algum objeto que, colocado na natureza, acaba sendo modificado pela ação do tempo. Fonte: Farthing (2011, p. 504-505; 512-513; 532-533) EXPLORANDO IDEIAS UNICESUMAR UNIDADE 1 44 foram rejeitados durante a Idade Média, no período Barroco e na arte moderna. Hoje, são quase irrelevantes para se definir o que é arte e o que não é. O papel da natureza e dos homens e das mulheres nas representações ar- tísticas também mudou. Antes, na Pré-História, a arte era uma forma dos seres humanos lidarem com a natureza. Depois, a natureza era central nas representa- ções, por ser a materialização da presença divina na Terra, com a representação humana sendo colocada em segundo plano. Mais tarde, a figura humana assume a centralidade das obras. E, por fim, a natureza e representações humanas se fundem no que é surreal e no que é abstrato. Os contextos políticos e sociais também interferem nos padrões estéticos e artísticos de cada tempo. Por muitos séculos, a arte era uma forma de servir aos reis, monarcas e poderosos. Em outros momentos, era usada como uma forma de dominação religiosa. Depois, como uma maneira de vangloriar as elites econômi- cas. Hoje, ela serve, inclusive, para contestar o poder e a dominação econômica. Além dessas mudanças que acontecem com o tempo e o contexto de cada obra ou movimento artístico, atualmente, temos, de maneira clara, que a arte reverbera de diferentes formas nas pessoas. É a aplicação do conceito de que estética é a forma como a nossa sensibilidade reage a uma determinada coisa. “A ideia de Beleza não é relativa apenas a diversas épocas históricas. Mesmo numa mesma época, e até no mesmo país, podem coexistir diversos ideais estéticos”, (ECO, p. 361, 2004). Como disse o historiador da arte, Ernst Gombrich (2019, p. 23-34), “existem pessoas que preferem expressões de mais fácil entendimento. Outras gostam de representações mais fiéis à realidade”. Há aqueles ainda que gostam quando uma obra deixa algo apenas implícito, mas com margem para reflexões e conjecturas. “ Existem duas coisas, portanto, que nos devemos perguntar sem-pre que encontramos falhas na exatidão de um quadro. Uma é se o artista não teria suas razões para mudar a aparência daquilo que viu [.] A outra é que nunca devemos condenar uma obra por estar incorretamente desenhada, a menos que tenhamos a mais profunda convicção de que nós estávamos certos e o pintor, errado. Temos o curioso hábito de pensar que a natureza deve parecer-se sempre com as imagens a que nos acostumamos (GOMBRICH, 2019, p. 27). 45 O que fica claro, após se revisitar tantas formas e entendimentos de expressões artísticas, é que não existe uma forma errada de arte. O que existem são pre- ferências artísticas e formas diferentes de se entender o que é arte. Você pode ver como diferentes fatores influenciam em como nós enxergamos a arte: a beleza de um objeto, a forma como ele foi feito, a sensação que ele provoca nas pessoas e a mensagem que ele passa. Tudo isso confere algum valor àquela expressão e influencia o valor artístico que ela tem. Isso, inclusive, determina se a estética daquele objetivo ou expressão nos agrada ou não. Ao observar uma obra de arte da época do Renascimento, por exemplo, pode- mos entender que a beleza daquele quadro está na forma como ele resgata elementos clássicos e aplica novos conceitos de perspectiva e geometria. Olhando as pirâmides egípcias, vemos que o valor artístico está na imponência das construções aliada ao misticismo que motivou que elas fossem erguidas. Nas artes contemporâneas, perce- bemos, portanto, que a beleza delas está na forma como se aproximam das pessoas e expressam mensagens sobre o nosso mundo. É o caso de um viaduto pintado por um muralista, que dá cor ao cenário urbano que vemos todos os dias, ou de uma colagem postada nas redes sociais, que dá novos significados a símbolos e imagens. Você lembra que, no começo desta unidade, você escolheu uma obra de arte para fazer uma análise? Se você escolheu, por exemplo, um quadro como a Guer- nica, de Pablo Picasso, é possível dizer que a soma de vários elementos geomé- tricos, que inicialmente parecem confusos, conseguem expressar um sentimento caótico. Ao pesquisar o contexto daquela obra de arte, é possível entender que a Espanha passava por uma guerra civil e o sentimento de horror que o país vivia está representado naquele mural. Pesquisando a vida do autor, é possível entender que Picasso foi um dos principais representantes do Cubismo, o que explica a forma como as pessoas, animais e objetos são retratados no quadro. UNICESUMAR 46 Agora é hora de mostrar que você compreendeu como se deu a evolução do conceito de arte e como o valor estético mudou ao longo dos séculos: 1. “Quando o jovem Mozart chegou a Paris, deu-se conta – conforme escreveu ao pai – de que todas as sinfonias em grande voga, ali, terminavam com um rápido finale; assim, decidiu surpreender sua plateia com uma lenta introdução no último movimento. Este é um exemplo trivial, mas revela o sentido em que uma apreciação histórica de arte deve caminhar” GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019. p. 9-10. Com base na evolução dos movimentos artísticos ao longo da história, analise as afirmações a seguir: I - A história da arte acontece de modo linear, de modo que cada movimento ar- tístico é uma evolução em relação ao período anterior. II - As gerações de artistas frequentemente rejeitam os padrões artísticos anteriores. III - Independentementedo período histórico, beleza é um conceito objetivo que persistiu, sendo o mesmo com o passar dos anos. IV - Alguns movimentos artísticos, como o Renascimento e o Neoclassicismo, re- tomaram conceitos de séculos anteriores no desenvolvimento de suas peças artísticas. V - Movimentos artísticos como Impressionismo, Expressionismo e Cubismo foram recebidos com estranhamento pela crítica das suas épocas, e demoraram alguns anos para serem reconhecidos como arte. É correto o que se afirma em: a) I, III e V; b) II e III; c) I, IV e V; d) II, IV e V; e) I, III e IV. 47 2. “Marina Abramovic nasceu em 1946, na Iugoslávia, e é uma artista que iniciou sua carreira nos anos de 1970. Ela se considera a ‘avó da arte da performance’. Pioneira na arte per- formativa de longa duração, Marina usa o próprio corpo como sujeito e objeto, tema e meio de expressão para explorar artisticamente os limites físicos e os potenciais mentais do ser humano. A performer é conhecida por se colocar em condições performáticas extremas, penosas e exaustivas, nas quais se expõe ao perigo, à dor e à agonia”. BARROSO, P. F.; NOGUEIRA, H. de S. História da arte. Porto Alegre: SAGAH, 2018. p. 200. A respeito da Arte Contemporânea, analise as afirmações a seguir: I - A beleza de uma expressão artística passou a ser menos importante do que o sentimento que ela desperta. II - Assim como a arte performática, a criação de instalações e a arte urbana também são formas contemporâneas de arte. III - A arte deixou de ser uma experiência meramente contemplativa para se tornar uma experiência sensorial. IV - Instalações artísticas só são consideradas obras de arte quando são realizadas dentro de museus e galerias, porque em outros espaços não há garantia de que as obras ficarão intactas. As alternativas corretas são: a) I, II e II; b) I, II e IV; c) II e IV; d) I, III e IV; e) I, II, III e IV. 48 3. “Alguns artistas pop criavam obras passíveis de serem interpretadas como críticas à moderna sociedade de consumo. A Primeira Escova de Dente (1962) do pintor britânico Boshier, parte de uma série de trabalhos inspirados por um comercial de TV para uma pasta de dentes listrada, parecia criticar a propaganda e a sociedade de consumo. Ao trocar latas de sopa e ídolos da cultura pop, como Elvis Presley e Marylin Monroe, pela cadeira elétrica e uma batida de carros, Andy Warhol estava, evidentemente, chamando a atenção para o lado obscuro da moderna experiência americana. Tais gestos eram, no entanto, exceção no mundo da Pop Art. Para a maio- ria dos artistas não se tratava de uma revolta contra a sociedade de consumo, mas contra a distinção artificial dos críticos entre a cultura ‘de elite’ e cultura ‘de massas’ e a sofisticação do ‘bom gosto’ tradicional”. FARTHING, S. Tudo sobre arte: os movimentos e as obras mais importantes de todos os tempos. Rio de Janeiro: Sextante, 2011, p. 485-486. Sobre o fenômeno da Pop Art, analise as afirmações a seguir: I - Os artistas não estavam preocupados sobre as mensagens sobre a indústria do consumo que as obras de arte passavam. Eles só se interessavam pelo valor estético das figuras. II - A Pop Art abordava, dentre outras coisas, os conceitos de reprodutibilidade e de singularidade das obras de arte. III - As figuras com marcas famosas usadas nestas épocas eram consideradas pu- blicidade e não arte. IV - Os artistas deste período distorciam imagens de conhecimento público para que não fossem reconhecidas pela maioria das pessoas, mantendo a arte gráfica como uma expressão artística de elite. São corretas as seguintes alternativas: a) I, II e IV; b) II, III e IV; c) II, apenas; d) II e IV; e) I e III. 2Arte e Comunicação Me. Pedro de Souza Lima Brodbeck A arte está intimamente relacionada à comunicação. As produções artísticas foram fundamentais para a transmissão de conhecimento entre as civilizações. Elas também sempre foram usadas para que artistas comunicassem sentimentos e sensações. Com a evolução tecnológica das formas de comunicação, as mensagens contidas nas artes ganharam capilaridade e importância. A forma como a arte era produzida e percebida também mudou. Nesta unidade, vamos estudar como se dá a relação entre comunicação e arte, como dois campos se misturam conforme as tecnologias evoluem, e quais os impactos desta mudança. UNIDADE 2 50 Caro(a) estudante! As obras de arte sempre carregaram com elas mensagens de seus tempos. Contudo, ao longo da história, as formas de produção e dissemi- nação da arte mudaram muito. Com isso, a forma e o alcance destas mensagens também mudaram. As técnicas usadas para fazer uma obra de arte e os contextos sociais de cada período histórico são determinantes para definir o resultado final de uma obra de arte e quem tem acesso a ela. A tecnologia, as mídias e as formas de comunicação também têm um impacto muito grande nisso. Você já refletiu sobre o impacto da comunicação na arte? Já parou para pensar que a arte feita séculos atrás tinha um impacto na sociedade da época e que as produ- ções artísticas e culturais de hoje têm outro impacto muito diferente? O número de pessoas que têm acesso a estas obras é apenas um dos vários aspectos influenciados pe- los meios de comunicação e pela evolução tecnológica. Já parou para pensar que até as mensagens contidas em uma obra de arte podem mudar por causa destas mudanças? A invenção da imprensa, com a possibilidade de vários livros serem reprodu- zidos mecanicamente em série, mudou a literatura. A fotografia, além de alterar completamente a forma de produção e a estética das pinturas, tornou as obras mais acessíveis a toda a população. A tecnologia de gravação e reprodução de sons também impactou e popularizou a música. O cinema, o rádio, a televisão, a internet e os celulares, cada um em seu tempo, também mudaram drasticamente a forma como a sociedade se relaciona com a cultura e as artes. Em um tempo de constante evolução nas formas como nos comunicamos e na velocidade em que as mensagens circulam pelo planeta, é fundamental enten- der como as mudanças na comunicação afetaram a produção e a difusão da arte, já que ela é um meio de propagação cultural muito importante. Para que possamos pensar melhor como a tecnologia e a comunicação impactam nas artes, vamos fazer um exercício de reflexão sobre esta relação e pensar um pouco melhor sobre como as produções artísticas são feitas hoje e como elas se disseminam. Procure em algum portal especializado ou em algum aplicativo tocador de música a lista das dez músicas mais tocadas no mundo. Pode ser um ranking das mais tocadas na semana, do mês, deste ano ou do ano passado. Anote esta lista e veja quais destas músicas você conhece, se alguma delas é de um estilo que você gosta, e se tem alguma que você não conhece. Procure informações sobre estas músicas, como: qual a nacionalidade dos músicos ou bandas que interpretam estas músicas, qual a língua destas canções, e quando elas foram produzidas. 51 Estas músicas são atuais? Qual é a música mais antiga desta lista? Existem músicas que você gosta nesta lista? Quais os perfis dos artistas que estão com as músicas mais tocadas? Existem cantores com outras músicas de sucesso? Exis- tem artistas que entraram nesta carreira há pouco tempo? De que modo você acredita que a tecnologia e os modos de se fazer música atualmente influenciam neste cenário? Em outros tempos, você acredita que esta lista teria características diferentes? Quais seriam? Reflita sobre o tempo que demorou para que estas músicas fossem lançadas e, depois, em quanto tempo elas se tornaram algumas das mais tocadas no planeta. Pense nos motivos que levam você a gostar ou a não gostar dessas músicas. Analise se há diferentes línguas, nacionalidades e estilos e reflita o que permite que esta lista tenha estas músicas. Anote seus achados e suas reflexões no Diário de Bordo. DIÁRIO DE BORDO A produção artística muitas vezes se prestou a algum objetivo. Apintura de um bisão na parede de uma caverna, por exemplo, não era uma obra de arte pela simples vontade de uma pessoa fazer aquele desenho. Ela tinha uma utilidade – naquele caso, acredita-se que as pessoas da época imaginavam que as pinturas UNIDADE 2 UNIDADE 2 52 tinham um poder místico de atrair os animais e dar coragem necessária a homens e mulheres para enfrentá-los para conseguir alimento. As obras de arte também sempre serviram, de alguma forma, entre suas várias funções, para comunicar algo. Como resumem Souza e Batista (2019, p. 7), “a arte envolve múltiplos aspectos, como técnica, estética, percepção, contexto histórico, subjetividade do artista, experiência sensorial, comunicação e expressão”. Isso po- dia acontecer de forma consciente, quando um artista tinha a intenção de passar uma mensagem que ele queria eternizar naquela obra de arte, ou inconsciente- mente, quando o artista apenas se expressava de maneira despretensiosa, mas, de uma forma ou de outra, aquela manifestação artística carregava informações sobre uma época, um contexto ou uma situação. Figuras pré-históricas carregaram mensagens que nos ajudam hoje a entender como funcionavam aqueles povos, mesmo antes da escrita. No Egito antigo, as pinturas e esculturas eram acompanhadas de hieróglifos, que eram caracteres baseados em imagens (FIGURA 1). A Ilíada, um conjunto gigantesco de poemas épicos, também é a base de boa parte da história da Grécia antiga. No Renasci- mento, as obras reforçaram a filosofia humanista dos séculos XV e XVI, em que a ciência passou a confrontar alguns dogmas da Igreja, colocando os seres hu- manos como tema central de várias obras. O Expressionismo, no início do século XX, já transmitia uma mensagem caótica, trágica e pessimista, influenciada pelo terror da Primeira Guerra Mundial. E assim por diante, todas as obras artísticas carregam um valor comunicacional que nos ajuda a compreender melhor um determinado tempo, contexto ou movimento cultural. A comunicação escrita e a comunicação por meio de imagens é algo que, por muitos anos, esteve em um mesmo patamar. Segundo Lévy (1998, p. 18), “a distinção entre escrita e desenho (ou artes plásticas em geral) é algo bastante recente”. Isso aconteceu porque por muitos séculos a leitura era uma habilidade restrita a alguns estratos sociais, o que reforça o valor das artes visuais e da co- municação contida nestas imagens. 53 Figura 1 – Parede com hieróglifos egípcios. Descrição da Imagem: a fotografia mostra uma parede de pedra, cor de areia, com imagens e símbolos talhados. Esta parede está dividida em quatro blocos, um sobre o outro. Há cinco imagens humanas. Elas estão em pé, com os corpos virados de frente para quem observa a parede, e os rostos de perfil. As duas primeiras pessoas estão viradas para a direita. A pessoa ao meio da imagem está virada para a esquerda. A terceira pessoa está virada para a direita e a última, para a esquerda. Eles estão descalços e sem camisas, com vestes apenas na cintura e ornamentos na cabeça. Entre as imagens destas pessoas, há colunas talhadas com hieróglifos. A aproximação entre artes e comunicação acontece porque as produções artísti- cas – visuais ou escritas – são compostas por signos. E, segundo Santaella e Nöth (2004, p. 77), ainda que o estudo dos signos esteja ligado à Semiótica, “não pode haver comunicação sem ação de signos e vice-versa”. Isso acontece em diferentes camadas do processo comunicacional. Um quadro que mostra uma paisagem, por exemplo, pode ter dezenas de mensagens associadas: um dia de sol pode passar uma mensagem positiva, um dia chuvoso com o céu fechado pode passar uma mensagem melancólica, a imagem de uma natureza preservada pode denunciar a degradação ambiental de um lugar etc. Os diferentes elementos de uma obra de arte podem despertar significados diferentes para aquela expressão artística. A arte é, também, um meio de transmissão de conhecimento. De acordo com Puppi (2012, p. 58), especialmente no início do processo civilizacional, ao lado da tradição oral, a arte foi o que permitiu que histórias, técnicas e outras formas de conhecimento passassem entre gerações. UNIDADE 2 UNIDADE 2 54 É interessante notar a eficiência da arte neste processo, reforçando seu valor comunicacional. Uma pintura ou uma gravura era capaz de transmitir a pessoas dos anos seguintes informações sobre o mundo e a natureza, independentemente do conhecimento linguístico de uma comunidade – uma vez que a interpretação de imagens, desenhos, pinturas e esculturas não dependem de conhecimento prévio de uma língua. Segundo Santos e Souza (2018, p. 19), por este motivo, “a arte é muitas vezes mais eficiente e profunda que o discurso verbal, por facilitar a aproximação de pessoas de diferentes culturas”. “Isso contribuiu para o desenvolvimento da pró- pria humanidade desde os seus mais hesitantes e vagarosos primeiros momentos de afirmação” (PUPPI, 2012, p. 58). Isso reafirma que a arte não é apenas a atividade que produz o útil ou o belo. “ É mais que isso. A arte pode contribuir para a compreensão do mun-do real e expressão da verdade. O artista, através de sua obra de arte autêntica, pode protestar contra as barbáries do mundo, transfor- mando a submissão em ato de luta, buscando resgatar a dignidade humana, o ser humano pleno, rumo a uma sociedade melhor, mais justa e mais democrática, onde todos possam ter acesso aos bens culturais de consumo e ao lazer (FERREIRA, 2011, p. 67). Até pensando no significado da palavra “comunicação”, de tornar algo comum a mais pessoas, a arte mostra sua importância neste processo. Segundo Santos e Souza (2018, p. 19), “a forma como um artista se expressa quando faz uma obra de arte e a forma como aquela obra impacta a sociedade, é essencialmente um processo comunicativo de tornar algo particular em uma experiência universal”. Isto é, os impactos de uma obra de arte têm um caráter pessoal, tanto de quem admira aquela obra como de quem produz, mas a arte também tem reflexos em uma comunidade ou sociedade. Uma expressão, mesmo que surgindo de um sentimento particular de um artista, se torna algo comum a quem se identifica com aquilo ou mesmo quem atribui outros significados àquela expressão artística. Quando um artista compõe uma música que narra uma aflição pessoal e esta obra é ouvida por outras pessoas, estabelece-se um processo comunicativo, por exemplo. Quando um pintor denuncia uma situação em uma pintura, a história contada ali, e repassada pelos próximos anos por meio das suas pinceladas, ele 55 também se comunica com seus espectadores. Isso faz com que uma obra seja um produto cultural de uma determinada época de uma criação da imaginação humana. “Dessa maneira, a criação artística pode se distinguir das demais moda- lidades de conhecimento por promover a comunicação entre os seres humanos, com a utilização particular das suas formas de linguagem” (SANTOS; SOUZA, 2018, p. 20). Por esta proximidade, a evolução da comunicação impactou muito a maneira como arte se disseminou e foi percebida pelas sociedades através do tempo. Se- gundo Santaella (2005, p. 7) “essa mistura se fortaleceu principalmente nos anos mais recentes, com algumas inovações tecnológicas”. “ A separação entre o belo e o útil, a arte e a técnica, modificaram-se desde o final do século XIX e durante o século XX. A concepção de arte deixou de ser vista meramente como criação genial e passou a ser concebida como ‘expressão criadora’ e como ‘trabalho da expres- são’ (FERREIRA, 2011, p. 65). Para entender esta aproximação, portanto, é interessante visualizar a trajetória e evolução da comunicação neste período. Santaella (2005) divide a história da comunicação em seis eras – que impactam também nas artes. São elas: • Era da comunicação oral. • Era da comunicação escrita. • Era da comunicação impressa. • Era dos meios de comunicação de massa. • Era da comunicação midiática. • Era da comunicaçãodigital. Via de regra, estas eras são marcadas por mudanças instrumentais na maneira de se comunicar. Seja no início, quando não havia forma de instrumentalização da comunicação alguma, e ela acontecia apenas de maneira oral, ou seja, atual- mente, quando a tecnologia permite que as pessoas se comuniquem das formas mais evoluídas possíveis. UNIDADE 2 UNIDADE 2 56 Segundo Santaella (2005, p. 9), “embora elas façam parte de períodos sequen- ciais, o surgimento de uma nova era não faz com que uma tradição anterior desa- pareça”. Na verdade, elas se sobrepõem. Com isso, a comunicação vai se tornando mais completa. No caso das artes, elas vão acumulando mais elementos de convergência com a comunicação. Isso acontece com laços mais fortes e marcantes a partir da era da comunicação impressa, a partir da invenção da imprensa, por Johannes Gutemberg no século XV. Na arte, essa inovação da comunicação permitiu a reprodução de livros e escritos em uma escala maior do que a existente até aquele momento. A Bíblia, por exem- plo, se popularizou e ganhou traduções do latim a partir da invenção da imprensa. Antes, nas eras de comunicação oral ou escrita, ela só era lida e interpretada por membros da Igreja que entendiam latim e tinham acesso aos manuscritos. Depois, a tecnologia da imprensa evoluiu associada às técnicas da litografia, xilografia e serigrafia, que ajudaram a replicar imagens e desenhos, ainda que de forma bastante rudimentar nos seus primeiros anos. A partir disso, artes gráficas e imagens começaram a ser reproduzidas com maior frequência, revolucionando tanto as artes como a comunicação. Isso permitia que imagens clássicas pudessem chegar a pessoas que nunca teriam a oportunidade de conhecer uma pintura original, por exemplo. No campo das comunicações, o uso destas técnicas permitiu, por exemplo, o registro ilustrado do cotidiano das pessoas, com a produção de jornais, folhetos e outros materiais. 57 Xilografia: usada desde o século XVI, funciona como uma espécie de carimbo, em que uma placa de madeira é usada como matriz. Esta placa é entalhada para formar uma ima- gem. Passa-se uma tinta nesta placa-matriz e pressiona-se esta placa contra uma outra superfície. Litografia: é a técnica do século XVII em que a matriz é uma pedra calcária em que as marcas e formas são desenhadas usando algum composto gorduroso, como um lápis. Ao se pressionar a matriz na superfície, o desenho é aplicado. Ao contrário das outras técnicas da gravura, o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz. Serigrafia: técnica que se popularizou no século XX. Ela é a impressão da imagem em uma superfície vazada, pela pressão de um rodo, através de uma tela. Ela tem a facilidade de poder ser aplicada em diferentes tipos de superfícies. Fonte: UFRGS. Glossário de técnicas artísticas. Disponível em: https://bit.ly/3IyaZeW. Aces- so em: 22 fev. 2022. EXPLORANDO IDEIAS Segundo Santaella (2005, p. 10), foi no momento da Revolução Industrial que “a comunicação de massa se iniciou e, com ela, que as comunicações e artes passa- ram a se entrecruzar de um modo ainda mais indissociável”. Com a evolução das máquinas, com a eletrônica e outras evoluções tecnológicas, surgiram a fotografia, o rádio, a televisão e o cinema. Por muitos e muitos anos, a obra de arte teve um alcance limitado, que tor- nava o impacto daquela produção artística muito diferente do que aconteceu a partir do século XX. Por muitos séculos, as estátuas e pinturas mais famosas da História da Arte só puderam ser apreciadas por um círculo restrito de pessoas que tinham condições de vê-las presencialmente. Gerações que viviam em outras partes do mundo nunca tiveram sequer conhecimento da existência da Monalisa de Leonardo da Vinci e do teto da Capela Sistina de Michelangelo. Antes da técnica da imprensa, os livros precisavam ser reproduzidos por ma- nuscritos, com cópias a mão. Antes dos primeiros fonógrafos – equipamentos que gravavam e reproduziam sons –, as obras musicais só podiam ser apreciadas pelas elites que tinham condições de irem a concertos e óperas e por pessoas que ti- nham a possibilidade geográfica de se deslocar até esses locais. Então, assim como a possibilidade de apreciação dessas obras de arte tinham um alcance limitado, as mensagens contidas nessas obras também eram restritas. UNIDADE 2 UNIDADE 2 58 Segundo Santaella (2005, p. 10), “a cultura limitava-se a uma divisão entre dois campos muito distantes”. De um lado havia a cultura erudita, com as belas artes, acessível às classes mais abastadas e que circulavam pelas galerias, museus e óperas de uma determinada cidade ou região. De outro lado, a cultura popular, que era perpetuada por uma preservação dos rituais e das memórias culturais de um povo. Com a produção e reprodução em massa, estes universos se apro- ximaram, e a produção cultural que estava reservada a um público passou a ser um pouco mais acessível ao outro. Uma das reflexões mais importantes sobre a relação das técnicas de reprodução, tecnologia, arte e comunicação é o ensaio A Obra de Arte na Época da sua Repro- dutibilidade Técnica, escrito pelo sociólogo alemão Walter Benjamin, em 1936. Benjamin fazia parte do movimento que ficou conhecido como Escola de Frank- furt. Este movimento era composto por pensadores ligados ao Instituto de Pesquisa Social fundado em Frankfurt na década de 1920 e que desenvolveram uma série de reflexões sobre a sociedade da época a partir das experiências e das consequências da Revolução Industrial e do capitalismo. Estes pensamentos, que tratavam de diversas áreas do conhecimento, ficaram conhecidos como Teoria Crítica. No caso de Benjamin, ele teve escritos ligados à comunicação e à cultura. Ele inaugurou a reflexão sobre como as técnicas de reprodução da arte impactam tanto na forma como os artistas produziam suas obras, como na experiência que o público tinha ao se deparar com uma produção artística. Segundo ele, a obra de arte sempre foi reprodutível, mesmo nos primórdios. O que mudou foi a forma como isso aconteceu, o impacto e a escala. Na Pré-História e na Antiguidade, essa reprodução acontecia por meio da cópia ar- tesanal: um artista produzia uma escultura e outros artistas, às vezes, alunos dele ou admiradores do trabalho, a reproduziam. Os gregos, por exemplo, conheciam duas técnicas de reprodução de arte: a cunhagem e a fundição, o que permitia apenas a reprodução em massa de moedas e outros materiais de bronze. “Todas as outras eram únicas e não podiam ser reproduzidas tecnicamente. Por isso, eram feitas para a eternidade” (BENJAMIN, 2012, p. 49). No entanto, as reproduções técnicas, que dependem menos do esforço humano e permitem mais escala à reprodução, foram evoluindo conforme a tecnologia também avançava. 59 De acordo com Benjamin (2012), as mudanças promovidas pelas técnicas de imprensa, com a fotografia e outras tecnologias rompeu com algumas características que as artes tinham até então. “Mesmo à mais perfeita re- produção falta um elemento: o aqui e agora da obra de arte - sua exis- tência única no local onde se encontra” (BENJAMIN, 2012, p. 17). Antes, quem tinha a oportunidade única de ver a escultura de Moisés feita por Michelangelo (FIGURA 2) tinha uma experiência única, intransmissível e que, possivelmente, só seria reproduzida na memória daquelas poucas pessoas que moravam na região de Roma, na Itália, e tinham condições sociais de conhecer a obra de perto. Só era possível rever aquela obra de arte se a pessoa tivesse condições de revisitar a estátua ou buscando aquela imagem na memória. O mesmo para quem podia ir a um concerto. Aquela experiência talvez fosse a única na vida daquela pessoa em que ela poderia ouvir uma música tocada por uma orquestra. A possibilidade de reproduzir a arte mudou a forma como as pessoas podem apreciá-la. Você já parou para pensar nas vantagens e desvantagens de poder conhecer uma obra famosa pessoalmente oude poder analisá-la a distância pela tela de um computador? PENSANDO JUNTOS UNIDADE 2 UNIDADE 2 60 Figura 2 – Estátua de Moisés, feita por Michelangelo. Descrição da Imagem: a fotografia mostra três estátuas e duas colunas de mármore. A imagem de Moisés está ao centro. Ele é forte e tem cabelos e barbas longas. Ele está com um lenço sobre parte do peito e sobre a cintura. Moisés está sentado, com o rosto virado para a sua esquerda. O braço esquerdo dele está dobrado, repousado sobre a barriga. O braço direito também está dobrado, mas com a mão mais próxima ao peito. Ela carrega uma placa com escrituras. Ele está entre duas colunas decoradas com vários detalhes. Ao lado das colunas, há outras duas imagens humanas. Do lado direito de Moisés, há a escultura de uma mulher. Ela está de pé, com lenços cobrindo todo o corpo. As mãos estão juntas em frente ao peito, fazendo um gesto como se rezasse. O rosto dela está virado para cima. Do outro lado, há uma outra figura de uma mulher. Ela também está de pé, usando um vestido. A imagem está olhando para baixo. O braço direito dela está dobrado, com a mão na direção do ombro. Para Benjamin, isso reservava às obras de arte uma aura, que se perdeu com a possibilidade de reprodutibilidade da arte. O autor alemão define esta aura como “um tecido fino de espaço e tempo” (BENJAMIN, 2012, p. 27) caracterizado pela unicidade daquela obra de arte. Segundo o autor, esta unicidade da obra de arte original carrega alguns elementos que são impossíveis às reproduções e é o que faz dela diferente das demais. As mudanças que uma escultura ou uma pintura têm ao longo do tempo, por exemplo, se integram à obra de arte original e fazem parte desta aura (FIGURA 3). Outra característica que compõe esta aura são “as cambiantes relações de propriedade em que ingressou” (BENJAMIN, 2012, p. 17). Ou seja, a 61 história desta obra, a quem ela pertenceu, onde ela esteve ao longo do tempo etc., só pertencem a uma obra de arte quando ela é única. Estes elementos simplesmente não existem na obra de arte reproduzida. Quando danificada, uma cópia pode ser trocada. E a posse de uma reprodução não significa a posse da obra de arte em si, mas sim de uma cópia, que várias pessoas podem ter. Com a reprodução técnica das obras, esta aura não existe mais, de acordo com ele. A aura de uma obra de arte está ligada, portanto, à autenticidade de uma produção artística. Descrição da Imagem: a foto mostra uma pintura em uma parede. São imagens de dois homens. Eles são representados do peito para cima. Eles têm rostos finos e usam roupas azuis e vermelhas. O homem da esquerda carrega uma espada na sua mão direita. O homem da direita, segura uma haste. O fundo da imagem está pintado em azul escuro. A obra de arte tem várias partes danificadas, com manchas em branco, como se a tinta tivesse descascado da parede Figura 3 – Afresco danificado pelo tempo no Monastério Ravanica, na Sérvia. Mas é claro que a possibilidade de reprodução da arte também tem muitas vanta- gens. A reprodução de uma obra pode ir até locais e situações impossíveis para a obra original. Por meio destas reproduções, as obras de arte podem ser vistas ou apreciadas por diversos públicos, em tempos diferentes ou ao mesmo tempo. Isso permite que as artes estejam em todos os lugares e façam parte das nossas rotinas. UNIDADE 2 UNIDADE 2 62 Ouvir uma música não é mais um momento único na vida de uma pessoa. Ao serem tocadas em todos os lugares, elas viraram praticamente um pano de fundo para as nossas atividades diárias, a ponto de muitas vezes nem nos darmos conta que elas estão tocando. Já imagens clássicas, pinturas e esculturas estão mescladas em peças publicitárias, em sites e jornais de tal modo que acabamos conhecendo uma obra de arte melhor a distância do que pessoalmente. É o caso de várias obras de museu. É muito mais fácil analisá-las nos mínimos detalhes pela tela do computador ou em uma impressão de boa qualidade do que diante delas, em uma galeria, onde a pintura estará cercada por uma grade, atrás de um vidro de proteção. Portanto, para Benjamin, ainda que a reprodutibilidade da obra de arte “des- valorize, de todo caso, o aqui e agora” (BENJAMIN, 2012, p. 21), ela pode tornar possível a arte ir até seu receptor. Com isso, a arte substitui uma existência única por uma existência massiva. Segundo Ferreira (2011, p. 66), “o valor cultural de uma obra, que era o aspecto de maior peso numa produção artística, perde relevância em detrimento do valor de exposição desta obra de arte”. Com essa distribuição massiva, que foi reforçada com o desenvolvimento do cinema, do rádio e da televisão, a arte e a comunicação se misturaram de uma maneira em que é quase impossível diferenciá-las. “A comunicação massiva deu início a um processo que estava destinado a se tornar cada vez mais absorvente: a hibridização das formas de comunicação e de cultura” (SANTAELLA, 2005, p. 11). Produtos artísticos se tornam peças de comunicação, e vice-versa. O uso destas tecnologias expandiu os limites da arte para os campos do desenho industrial, da publicidade, moda, histórias em quadrinhos, vídeos etc. A divulgação da arte também passou a depender destes meios e materiais para que a obra chegue ao seu público. “ Característica marcante da cultura de mídias está na intensificação das misturas entre as mídias por ela provocada: filmes são mostra-dos na televisão e disponibilizados em vídeo; a publicidade faz uso da fotografia, do vídeo e aparece em uma variedade de mídias; ca- nais de TV a cabo especializam-se em filmes ou em concertos, ópe- ras e programas de arte. Com isso, as misturas entre comunicações e artes também se adensam, tornando suas fronteiras permeáveis (SANTAELLA, 2005, p. 14). 63 A capacidade de reprodutibilidade das obras de arte também influenciou na maneira como estas expressões culturais são produzidas e quais são as mensa- gens que os artistas passam com elas. Foi a partir da evolução tecnológica e do surgimento destes novos meios que a cultura pode ser instrumentalizada politi- camente. Se uma música denuncia uma situação social, ao poder ser reproduzida ela tem capacidade de mobilizar uma multidão de pessoas. Se um filme reforça algum tipo de valor moral, ele tem o poder de reforçar aquela atitude em milhares de pessoas que o assistem. Peças artísticas não tinham este poder antes da repro- dutibilidade técnica delas, mas com a evolução das tecnologias, as mensagens contidas nestas produções culturais tomam novas proporções. Quando escreveu seu ensaio falando do impacto da reprodução das artes, Walter Benjamin pensou nisso. Ele escreveu sua obra em meados dos anos 1930, ao mesmo tempo em que o regime nazista se fortalecia na Alemanha. O autor, que era judeu e morreu tentando fugir da polícia de Adolf Hitler, em 1940, no- tou naquela época que algumas produções cinematográficas do país passaram a servir como propaganda de ideais que estavam ligados ao regime político. NOVAS DESCOBERTAS Título: Bastardos Inglórios Ano: 2009 Sinopse: O filme conta duas histórias paralelas: um pelotão de solda- dos americanos que ataca linhas inimigas de alemães e uma jovem judia que teve a família morta pelos nazistas. As histórias se encontram en- quanto a jovem tenta se vingar do crime cometido contra a sua família. Comentário: Após ter a família morta, a jovem vira operadora de um cine- ma em Paris, onde é exibido um filme de propaganda nazista chamado “O Orgulho da Nação”, exemplificando bem como as artes foram usadas como forma de propaganda política. UNIDADE 2 UNIDADE 2 64 Benjamin percebeu que o cinema alemão daquele período não usava apenas as mensagens e os símbolos que ajudavam a divulgar o regime, mas também criava técnicas que implicitamente reforçavam as mensagens do regime nazista. O uso das tomadas aéreas nos filmes é um exemplo. Ao mostrar multidões com tomadas mais amplas do que se a filmagem fosse feita no chão, elas eramúteis para passar a mensagem de devoção de uma população por um líder. No ensaio, Benjamin alerta para o perigo do potencial político da cultura nestes casos. Segundo ele, era um processo cultural de estetização da política e “todos os esforços da estetização da política culminam em um ponto: a guerra” (BENJAMIN, 2012, p. 117). O uso da arte para disseminar valores e ideais políticos não se restringiu aos ale- mães das décadas de 1920, 1930 e 1940. Na verdade, eles apenas inauguraram algumas técnicas de instrumentalização destas mensagens, que dali em diante passaram a ser usadas em vários momentos da história, por diferentes países, em diferentes contextos. O período da Guerra Fria, por exemplo, em que o conflito político-ideológico dividiu o mundo entre Estados Unidos e União Soviética dos anos 1940 à década de 1980, tanto americanos quanto soviéticos usaram as artes e a produção cultural para replicar seus ideais e demonizar os rivais. Os exemplos são vários: desde a série de James Bond, o 007, que mostrava um agente secreto galã perseguindo soviéticos imorais, até os filmes de Rocky (Figura 4), que em determinado momento da saga o boxeador americano enfrenta um russo para vingar a morte de um compatriota. Figura 4 – Encartes da série americana de filmes Rocky Descrição da Imagem: uma foto mostra cinco encartes dos filmes da série Rocky. Os encartes estão sobre- postos de maneira não alinhada. No topo da foto, por baixo dos demais panfletos, está o encarte do primeiro filme, escrito Rocky em branco com um fundo preto. Acima dele, mais à direita, há outro panfleto, com o nome do filme escrito em preto, com o fundo branco. Ao centro, à esquerda, está uma imagem de Sylvester Stallone, que interpreta o boxeador, sem camisa, de luvas de boxe vermelhas, vestindo um cinturão dourado de campeão e um calção preto. Ao lado direito, inclinado, há um encarte preto escrito Rocky IV, com uma imagem de Stallone sendo carregado enrolado em uma bandeira dos Estados Unidos. Na parte de baixo da foto, mas sobreposto a todos os outros folhetos, há uma folha em que está escrito Rocky V com as cores da bandeira americana. 65 Entretanto, os impactos da reprodutibilidade da arte não se restringem a isso. Segundo Santaella (2005, p. 37), “a evolução tecnológica e a renúncia da unicidade da arte também criaram a indústria da cultura”. Principalmente com a televisão, a arte foi inserida no contexto de mercado e se tornou, consequentemente, uma mercadoria popular. Isso parece óbvio nos dias de hoje, mas antes da possibilida- de de reprodução de bens culturais, a comercialização de uma obra estava restrita à compra de uma obra original ou a uma entrada em um concerto musical. Não existia um mercado massificado envolvendo a arte. O conceito de Indústria Cultural foi criado por outro pensador ligado à Escola de Frankfurt, Theodor Adorno. De um modo crítico, ele afirma que “a reprodutibilidade técnica não democratiza o acesso à arte, mas funda um merca- do massivo de consumo dos produtos culturais, se adaptando às leis do mercado inserindo-se na lógica capitalista” (GONZAGA; TELLES, 2012, p. 2). Segundo Adorno, este esquema torna a obra de arte algo repetitivo e modifica a forma como as pessoas percebem a arte, tornando esta experiência banal e consumista. Independentemente do caráter pessimista e crítico de Adorno, é fato que os produtos culturais, com a comunicação de massa ao longo do século XX e com a comunicação pela internet na virada para o século XXI, passaram a se submeter às lógicas de mercado. “O mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 104). De acordo com o pensador alemão, a Indústria Cultural é um fenômeno de massa – aqui entende-se como uma prática cultural imposta “de cima para baixo” para as massas, e não um movimento que surge espontaneamente das massas e se populariza. Essa “imposição” acontece porque as produções artísticas e culturais UNIDADE 2 UNIDADE 2 66 feitas para o consumo são apropriadas pelos meios de comunicação de massa - e quase não são mais percebidas como cultura. “ A violência da sociedade industrial instalou-se nos homens de uma vez por todas. Os produtos da indústria cultural, podem ter certeza, de que até mesmo os mais distraídos vão consumi-los alertamente. Cada qual é um modelo da gigantesca maquinaria econômica que, desde o início, não dá folga a ninguém, tanto no trabalho quanto no descanso (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 105). Uma característica dessa cultura de massa é uma intensa mistura das mídias, que tornam as fronteiras entre as artes e a comunicação “permeáveis”. “Filmes são mostrados na televisão; a publicidade faz uso da fotografia e do vídeo; canais de TV especializam-se em filmes ou programas de arte” (SANTAELLA, 2005, p. 14). Apesar do nome deste fenômeno ser “Indústria Cultural”, ele não está relacio- nado, necessariamente, a um processo de produção industrial de artes. A Indústria Cultural utiliza, inclusive, do individualismo artístico para explorar comercialmente suas estrelas e seus produtos. Segundo Nobre (2018), o que a expressão quer dizer com “indústria” é que existiria um processo racional de produção pensado para a comercialização e padronização dos produtos artísticos. Na prática, para Adorno, isso tiraria do artista a autonomia da sua produção artística porque “implica, na transferência da responsabilidade pela elaboração da obra do artista para admi- nistradores, técnicos e diretores que a julgam não pela sua qualidade artística, mas pela probabilidade de lucro e sucesso de mercado” (NOBRE, 2018, p. 107). É também uma característica deste fenômeno que as produções artísticas se- jam feitas pensando em outros produtos artísticos que vão sucedê-lo, como forma de aumentar o valor de exposição daquela arte. “Em todos os setores da indústria cultural, diz Adorno, fabricavam-se, de modo mais ou menos planejado, produtos talhados para o consumo das massas, sendo que esse consumo já era determinado em grande medida por esses mesmos produtos” (NOBRE, 2018, p. 106). É como uma série de livros e de filmes que você precisa consumir todas as suas edições, por exemplo. As produções cinematográficas da Marvel (Figura 5) mostram bem esta dinâmica: cada nova produção faz referência a outros filmes que já foram lançados e servem como base para outros vários filmes que são lançados na sequência. 67 Descrição da Imagem: uma foto mostra várias pessoas reunidas para a estreia de um filme da Marvel, em um shopping de Londres. A imagem mostra o chão do shopping decorado com as cores azul e vermelha, que são as cores do Capitão-América. No centro da foto, dezenas de pessoas estão atrás de uma grade de contenção que também está decorada com o cartaz do filme. Algumas destas pessoas carregam escudos do super-herói e cartazes vermelhos. Muitas pessoas estão mexendo no celular, enquanto outras conversam entre si. A grade não é alta e chega até, em média, o peito das pessoas que estão no local. Do outro lado da grade estão dois seguranças, vestidos de preto, um no lado direito da imagem e outro do lado esquerdo. Há uma escada rolante vermelha no meio destas pessoas, que dá acesso a um segundo pavimento do shopping. A foto mostra uma parte deste segundo andar, onde também há várias pessoas segurando cartazes. Figura 5 – Fãs se reúnem para a estreia do filme Capitão América: Guerra Civil, em 2016. A arte de massa, inclusive, se torna dominante, relegando a arte ‘tradicional’ a um circuito mais restrito às elites. A crítica à indústria cultural virou, inclusive, tema de obras de arte do circuito cultural das artes plásticas. Foi o caso do mo- vimento de Pop Art (do inglês, arte popular), quando ícones da cultura popu- lar, celebridades e marcas eram usadas para representar obras de arte gráficas, colagens e pinturas. Segundo Farthing (2011, p. 484-485), “o movimento usava elementos populares para ressaltar as característicasda arte naquele momento, classificadas, segundo ele, como: popular, efêmera, descartável, barata, produzida em massa, espirituosa, dirigida ao público jovem e comercial”. Ironicamente, apesar de estarem falando de cultura de massa, os artistas do movimento da Pop Art acabaram por ter suas obras consumidas pela elite cultural ao invés de conseguirem penetração com os grandes públicos. UNIDADE 2 UNIDADE 2 68 “ Apesar da ambição de romper a barreira entre cultura de elite e cultura de massas, os artistas pop acabaram, quase que invariavelmente, criando obras para as galerias de arte e colecionadores, com preços elevados conforme sua singularidade e autenticidade (FARTHING, 2011, p. 486). As poucas obras de artes plásticas de Pop Art que romperam essa barreira e real- mente se tornaram peças de consumo de massa foram, de acordo com Farthing (2011, p. 486, grifos nossos), “as capas de disco da época feitas por artistas gráficos, como a colagem da capa do disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Figura 6), dos Beatles, e a fotografia do álbum Sticky Fingers, dos Rolling Stones”. Descrição da Imagem: a fotografia mostra a capa do disco dos Beatles com sua parte direita coberta pelo vinil. A capa do álbum mostra um cenário caótico, com várias imagens de pessoas e celebridades. A colagem tem mais de cinquenta personalidades, entre elas o físico Albert Einstein, o psicanalista Carl Jung, a atriz Marilyn Monroe, o ator Marlon Brando e o poeta Edgard Allan Poe. Na primeira fileira da multidão de celebridades, ao centro, estão os quatro integrantes dos Beatles vestidos com roupas clássicas militares coloridas. John Lennon está de amarelo, Ringo Starr de rosa, Paul McCartney de azul e George Harrison de vermelho. É possível ver, também na primeira fileira da imagem, uma colagem com os quatro músicos quando ainda mais jovens, vesti- dos com ternos e gravatas pretas e camisas brancas. As demais celebridades estão atrás deles e só é possível ver os rostos delas em colagens coloridas e em preto e branco. Na frente dos músicos, há um instrumento de percussão com o nome do álbum escrito. Na parte de baixo da capa do disco, há um jardim, com o nome “Beatles” escrito com flores vermelhas e um instrumento musical formado por flores amarelas. O vinil, que está à direita da imagem, é preto com o centro colorido nas mesmas cores das roupas dos integrantes da banda. Figura 6 – Capa do disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967. 69 Exceto pelas artes plásticas, a dinâmica de Indústria Cultural, especialmente no cinema e na música, se tornou dominante no processo de criação artística e de distribuição de cultura. Este fenômeno se fortaleceu com a evolução da comu- nicação, especialmente com a popularização da televisão e, depois, com os com- putadores e a internet. Mais otimista do que Adorno, que destacava sobretudo os potenciais de domi- nação da evolução tecnológica na comunicação e na cultura, o teórico canadense Marshall McLuhan dizia que as novas tecnologias eram “extensões dos seres humanos”, com impactos irreversíveis nas comunicações e nas artes. Segundo ele, os equipamentos eletrônicos inauguraram uma nova forma de percepção estética da comunicação e das artes. Ele categorizou os meios de co- municação como meios quentes e frios, o que, na arte, impacta na intensidade e na experiência que uma obra proporciona. Meios quentes, segundo McLuhan (2008, p. 35), “são aqueles meios como o cinema, fotografia e livros, em que muitas informações e dados sobre uma men- sagem são entregues à pessoa e exige pouca participação do destinatário daquela informação”. Meios frios, como a televisão, o telefone e a expressão oral, forne- cem menos informações ao destinatário, mas permitem uma maior interação ou participação dele. Segundo Arantes (2005, p. 176), “estas classificações ajudam a entender, no contexto da evolução tecnológica, as diferentes estéticas das artes no contexto das redes midiáticas – como participação, interação e possibilidade de aprofundamento das mensagens”. Na era da comunicação midiática, a partir dos anos 1980, as artes não só esta- vam mais acessíveis, como também passaram a acompanhar as pessoas ao longo do dia. O barateamento de equipamentos eletrônicos permitiu que as pessoas usassem aparelhos de som portáteis com fones de ouvido, e a música passou a ser ouvida na hora que a pessoa quer, onde ela quiser. A popularização dos eletrônicos também permitiu que mais pessoas pro- duzissem artes e se comunicassem por meio delas. A câmera fotográfica se tornou mais acessível e as fotos se tornaram uma forma de expressão que não estava mais restrita aos profissionais. Já com uma câmera de vídeo portátil, por exemplo, uma pessoa podia registrar acontecimentos como um documentarista. Isso, de certa forma, democratizou a produção artística e comunicacional. “Embora não pudesse competir com a sofisticação dos equipamentos utilizados pelas televisões UNIDADE 2 UNIDADE 2 70 comerciais, trouxe aos artistas a possibilidade de explorar um novo meio para criação, paralelo ao meio televisivo” (SANTAELLA, 2005, p. 51). Na era da comunicação digital, isso fica ainda mais intenso. Um músico pode gravar uma música de dentro do seu quarto e disponibilizar a obra final para as pessoas baixarem de graça, sem precisar, necessariamente, de uma gravadora para produzir o material ou distribuí-lo. Nas redes sociais, fotografias amadoras e profissionais se misturam em um mesmo feed, despertando o mesmo nível de atenção dos usuários. Um artista plástico pode filmar e disponibilizar em tem- po real, por alguma plataforma de vídeo, o processo de produção daquela obra de arte. “O momento da obra de arte na atualida- de já não diz mais res- peito somente à era da reprodutibilidade téc- nica, mas à era digital, a esse momento histórico permeado pela revolu- ção da informática e por sua confluência com os meios de comunicação” (ARANTES, 2005, p. 8). O contexto digital se torna fundamental não apenas para a disseminação das artes, como também para a produção das obras e organização prática dos artistas. Um artista pode consultar uma tendência de outros artistas do outro lado do planeta, por exemplo. Ou então pode acessar qualquer corrente artística da história em poucos segundos – uma situação inimaginável para quem viveu nos anos 1980 e 1990, quando este tipo de referência estava restrito a livros ou programas de televisão, que disseminavam uma determinada informação, mas que não estavam acessíveis a qualquer momento para qualquer pessoa. Músicos conseguem compor e produzir uma música sem nunca estarem juntos no mesmo estúdio, criando melodias, inclusive, a partir de sons e trechos de outras canções de outras épocas. A forma de comunicação e produção evolui para um tempo em que a tecnologia vira parte intrínseca da arte. 71 Como afirma Arantes (2005, p. 96), “ A comunicação à distância, a ação e presença em espaços físicos remo-tos, a troca simultânea de informações, a possibilidade de realizar traba-lhos em parceria, de visualizar e agir em espaços remotos, de coexistir em espaços virtuais e de realizar ações compartilhadas são algumas das características que podemos encontrar nos trabalhos em rede. Assim como a produção de arte se revoluciona, a maneira como as pessoas têm contato com as artes também muda com as tecnologias virtuais. De acordo com Arantes (2005, p. 116), “o olhar sempre esteve em um patamar diferente dos demais sentidos quando se fala no processo de contemplação ou consumo de uma arte”. Exceto no caso da música, em que naturalmente o protagonismo é da audição, a maior parte das artes tradicionais dependeram, por muito tempo, da experiência visual. A virtualização da arte rompe com essa hegemonia da mesma forma como que se torna independente da realidade – e das amarras que ela impõe à arte e as experiências artísticas. “ Diferentemente do mundo físico, o virtual é um mundo artificial, um mundode dados constituído por informações numéricas e bi-nárias. Assim, o virtual é um mundo totalmente diverso daquele das tecnologias óptico-eletrônicas, como a fotografia, o cinema e o vídeo, já que não apresenta nenhuma adesão à realidade física (ARANTES, 2005, p. 110). Sabe quando uma música que você gosta tem um trecho de uma outra canção? Este é um exemplo de sample, quando um artista usa um áudio para criar algo novo. Acesse o QRCode ao lado para dar o Play e ouvir um Podcast sobre como esta técnica tem tudo a ver com o impacto das evoluções tecnológicas na arte. UNIDADE 2 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12459 UNIDADE 2 72 Uma mudança que já vinha acontecendo com a arte contemporânea do século XX era a de privilegiar sensações e experiências, ao invés da simples contemplação, que era mais comum antigamente. Essa mudança se consolida com os sistemas de rea- lidade virtual. Eles são capazes de transmitir sons, imagens, cheiros e sensações de maneira que uma pessoa consegue experimentar uma arte em um ambiente total- mente simulado por meio de equipamentos eletrônicos e de sinais digitais. “Nas obras que envolvem realidade virtual, portanto, não se trata somente de ver uma realidade gerada computacionalmente, em uma tela – como nos ambientes em VRML –, mas de estar realmente dentro desse ambiente: imersão total” (ARANTES, 2005, p. 110). Ao longo deste percurso histórico da evolução da comunicação, fica claro que a arte é um processo comunicacional que é diretamente impactada por todas es- sas inúmeras mudanças. Fica claro, também, que a evolução tecnológica também alterou a maneira como os artistas produzem suas obras, como elas chegam até o público e como as pessoas as percebem. De uma experiência única, capaz de transmitir informações sobre um povo distante, a arte se tornou uma indústria presente em quase todos os momentos das nossas vidas. Caro(a) aluno(a)! Você lembra que no começo desta unidade foi pedido para que você pesquisasse sobre uma lista de músicas mais tocadas no mundo nesta semana, mês ou ano e analisasse as características desta lista, como eram as mú- sicas, quem eram os artistas, quais os estilos musicais, se eram músicas atuais e se listas como estas seriam diferentes em outros tempos, mais antigos? 73 Se pegarmos a lis- ta das músicas e artis- tas mais tocados em 2021 no Spotify, uma das maiores platafor- mas de streaming do mundo, nós vamos notar que a música mais tocada é da can- tora americana Olivia Rodrigo. A canção mais tocada dela foi reproduzida 1,1 bi- lhão de vezes no aplicativo. Além dela, estão na lista também o cantor australiano de 18 anos The Kid LAROI, em uma música gravada em parceria com o astro Justin Bieber, e o grupo sul-coreano BTS. É possível notar que são na sua maioria artistas jovens, com uma carreira musical meteórica, e de várias partes do mundo. Por mais banal que isso possa parecer nos dias de hoje, era muito difícil uma artista ter uma música reproduzida mais de 1 bilhão de vezes antes dos serviços de streaming. É simplesmente impossível chegar perto disso quando a reprodução de uma música dependia, exclusivamente, da performance ao vivo dela. Também não era provável que tantos artistas de lugares tão distantes pudessem alcançar os topos das paradas mundiais com carreiras tão curtas. Assim como era impossível que um cantor adolescente da Austrália pudesse fazer uma parceria, ainda tão jovem, com um dos principais cantores de uma geração. Estes são fenômenos que só são possíveis por causa da evolução tecnológica, por causa das características mercadológicas da indústria da cultura e pela dinâ- mica comunicacional em que estamos inseridos atualmente. UNIDADE 2 74 Agora é hora de mostrar que você compreendeu como se dá a relação entre comu- nicação e arte, e como isso mudou de acordo com a evolução tecnológica: 1. “Foi no momento histórico em que a comunicação massiva começou a se instaurar, a partir da Revolução Industrial, que os dois campos, comunicações e artes, também começaram a se entrecruzar”. SANTAELLA, L. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Editora Paulus, 2005. Levando em conta a evolução da comunicação e a relação com as artes, é correto afirmar que: I - A arte visual tem um valor comunicacional tão importante quanto o da escrita, uma vez que não dependia da leitura para transmitir mensagens. II - Uma mensagem contida em um livro é mais confiável do que quando está em uma pintura, porque ela é mais objetiva e não abre margem para interpretações. III - A arte é uma forma de transmissão de conhecimento. Um exemplo é que, hoje, conhecemos algumas civilizações que não dominavam a escrita por meio das suas produções artísticas. IV - A evolução tecnológica permitiu que até a produção artística aconteça de modo virtual. V - As mudanças na forma como a arte é entendida pelo público diminuem o caráter contemplativo da arte na medida em que foram privilegiadas obras que promo- vem uma experiência imersiva. As alternativas corretas são: a) I, II e III. b) II, III e IV. c) I, II e IV. d) II, III e V. e) I, III, IV e V. 75 2. “Para uma investigação que trata da obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica é indispensável levar em conta alguns contextos. Pois eles preparam o conhe- cimento que é aqui decisivo: a reprodutibilidade técnica da obra de arte emancipa-a pela primeira vez na história mundial de sua existência parasitária em relação ao ritual. A obra de arte reproduzida torna-se, progressivamente, a reprodução de uma obra de arte destinada à reprodutibilidade”. BENJAMIN, W. A obra de arte na época da reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: Editora Zouk, 2012. p. 35. Levando em conta o impacto da reprodutibilidade técnica na arte, é correto afirmar: I - As obras de arte antes da invenção da imprensa não tinham como ser repro- duzidas. II - O valor cultural de uma obra de arte que não era reproduzida era mais impor- tante do que o valor de exposição de uma obra que é reproduzida e, por isso, a arte perdeu espaço na sociedade com a evolução tecnológica. III - Com a reprodução de produções culturais, algumas obras de arte passaram a ser concebidas para que fossem reproduzidas em larga escala, mudando a dinâmica como muitos artistas trabalham. IV - As mensagens contidas nas obras de arte passaram a ter muito mais capilaridade com a possibilidade de reprodução da arte. Por outro lado, estas mensagens eram mais fracas porque tinham baixo valor cultural. V - Os alemães do início do século XX usaram a arte para replicar e reforçar mensa- gens políticas, conforme Benjamin alertou. Esta prática, no entanto, não se popu- larizou em outros países nos anos seguintes por não ser atrativa para o público. São corretas as seguintes alternativas: a) I e III. b) I, II e III. c) III, apenas. d) I, II, III e IV. e) IV e V. 76 3. “O novo não é o caráter mercantil da obra de arte, mas o fato de que, hoje, ela se declara deliberadamente como tal, e é o fato de que a arte renega sua própria auto- nomia, incluindo-se orgulhosamente entre os bens de consumo”. ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. A dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. Sobre o conceito de Indústria Cultural e a mercantilização da arte, é correto afirmar que: I - Adorno acreditava, principalmente, nas vantagens da massificação da arte. II - O conceito de Indústria Cultural sugere que o potencial comercial de uma obra de arte se sobrepõe ao potencial artístico dela. III - Por ser um fenômeno de massa, o conceito de Indústria Cultural se aplica tanto para fenômenos culturais impostos pela indústria artística, quanto para movi- mentos espontâneos de massa. IV - O fenômeno foi batizado de Indústria Cultural porque os produtos são pensados a partir de uma racionalidade em detrimento do processo criativo livre. V - Uma obra de arte de massa é sempre pior que uma obra de arte que não seja de massa. As alternativas corretas são:a) I, II e III. b) I, III e IV. c) II, III e V. d) II e IV. e) IV e V. 3Estéticas da Comunicação Me. Pedro de Souza Lima Brodbeck comunicar tem um caráter estético, assim como a estética tem um viés comunicativo. Nesta unidade, vamos trabalhar os diferentes conceitos de Estéticas da Comunicação. Um deles trata da mudança estética nas artes a partir da evolução e do uso dos meios e novas ferramentas de comunicação. Além de levar a produção artística para novos caminhos, este movimento mudou a forma como vemos as expressões artísticas. O outro conceito trata das experiências sensíveis do processo comu- nicacional. Também vamos estudar o modo como a estética se molda ao senso comum e ao cotidiano e o impacto disso nos meios e nas atividades de comunicação. UNIDADE 3 78 Caro(a) estudante! A maneira como uma mensagem comunicativa impacta as pessoas depende, também, da forma como ela é construída. A Estética da Comu- nicação estuda de que forma estas interações se moldam por meio das experiên- cias sensíveis que temos. Por mais que a gente viva e trabalhe em ambientes com regras sociais, com tradições e culturas determinadas, as nossas relações com os objetos comunicacionais ajudam a despertar sensações nos interlocutores. Este campo do conhecimento também analisa como as nossas impressões sobre as coisas se alteram conforme o meio ou a forma usada para se expressar. Você já refletiu sobre a comunicação como um processo de interação que necessariamente causa um impacto nas outras pessoas? E já parou para pensar que a forma como usamos as palavras, como nos portamos ou nos apresentamos alteram o resultado desta comunicação? Além disso, já pensou que as mensagens propagadas nos meios de comunicação constroem sensações, às vezes, muito diferentes e às vezes, parecidas, em milhares de pessoas? A estética é a maneira como a comunicação atinge as pessoas. Seja o modo como uma mensagem é percebida por uma pessoa com quem conversamos, seja o sentimento que uma notícia, arte ou peça publicitária impacta uma pessoa. A estética não trata apenas da beleza das coisas, mas, de um modo subjetivo, é a forma como a nossa sensibilidade é despertada. Em um processo comunicativo esse é um aspecto central, que pode deter- minar se uma mensagem foi transmitida de maneira eficiente ou não. A eficácia deste processo de comunicação depende, além das interações individuais de um sujeito com aquela mensagem, com um contexto em que está inserido, com o meio de comunicação usado e com as referências culturais e sociais que a comu- nidade em que estamos inseridos tem. Para que isso fique mais claro e prático, pense em uma propaganda que te- nha marcado a sua infância. Tente relembrar o que chamava a atenção naquela campanha e quais eram as sensações que aquela propaganda despertava em você. Faça uma busca na internet e tente encontrar o vídeo ou a imagem desta pro- paganda para rever a campanha. Também busque informações sobre o produto que era objeto desta propaganda e tente pensar no contexto social daquela época. Olhando hoje novamente para esta campanha, pense nos elementos que fizeram esta peça de comunicação ser tão marcante para você. 79 Qual era a sua idade na época que esta propaganda foi veiculada? Qual era o contexto socioeconômico do país naquela época? O produto do qual a propagan- da falava era acessível? Era popular? Ao rever a campanha nos dias atuais, você sentiu as mesmas sensações que teve naquela época quando viu a campanha pela primeira vez? As peças de comunicação eram exatamente como você lembrava? Pense sobre estas semelhanças ou diferenças, reflita sobre quais elementos da campanha que chamaram a sua atenção hoje e naquela época e anote suas im- pressões no seu Diário de Bordo. DIÁRIO DE BORDO Quando falamos da Estética da Comunicação, nós podemos pensar em algumas maneiras diferentes de relacionar os conceitos de estética e de comunicação. Uma delas, que surgiu antes, nos anos 1980, é pensar em como a evolução da comu- nicação, de seus meios e tecnologias mudaram a maneira como percebemos a estética e a arte ao longo do tempo. Outra forma, que se desenvolveu a partir dos anos 1990 e que é mais ligada aos estudos em comunicação, é pensar neste tema refletindo sobre as diferentes estéticas do processo comunicativo. UNICESUMAR UNIDADE 3 80 Para tratar destas diferentes formas da Estética da Comunicação é preciso primeiro aprofundar o conceito de estética, para que depois possamos relacioná- -la com o processo comunicativo e com os meios de comunicação. A estética vai além da beleza de um objeto. É, em maior medida, a forma como objetos, imagens, representações ou fenômenos são sentidos pelas pessoas, a partir de um caráter subjetivo. Este conceito independe se estamos falando da abordagem da estética relacionada à arte ou à comunicação. Segundo Priscila Arantes (2005, p. 169), a estética é: “uma espécie de experiên- cia que não é adquirida por meio do conhecimento intelectual e racional, mas pela sensibilidade. A palavra estética, aliás, que deriva do grego aisthesis, significa ‘aquilo que é sensível e deriva dos sentidos’”. A relação entre estética e comunicação é antiga – para muitos autores, que veremos mais adiante, é intrínseca. Mas como um campo de estudo, inicialmente, a Estética da Comunicação surgiu apenas na década de 1980, cerca de dez anos antes de começar a ser pensada por teóricos da comunicação. Neste primeiro momento, ela tratava apenas de objetos artísticos que se utilizavam das “possi- bilidades telemáticas e interativas as então novas tecnologias informacionais” (LIESEN, 2010, p. 22). Isso quer dizer que o primeiro conceito de Estética da Co- municação relacionava a produção artística que se utilizasse de alguma tecnologia da comunicação para as suas criações. Nesta época, ela também era reconhecida com o nome de ‘arte tecnológica’. Era uma mudança muito grande nos paradigmas da arte. Como o próprio nome diz, a produção artística antes era muito relacionada a algo artesanal. Com o uso das novas tecnologias que surgiam, esta dinâmica de produção e distribuição mudou. “ As barreiras entre as artes e as mídias perderam seus contornos, tornaram-se permeáveis, com artistas fazendo uso de tecnologias audiovisuais para a produção, de meios industriais para a gravação e de sistemas de distribuição comerciais para a disseminação de suas obras (SANTAELLA, 2005, p. 49). Ainda que estes conceitos só tenham sido batizados no final do século XX, uma nova estética ligada a revoluções tecnológicas surgiu muitos anos antes. De acor- do com Arantes (2005, p. 43), “estudos das artes apontam que os primeiros sinais 81 do que os pensadores das artes chamavam de estética da comunicação datam de meados do século XIX, após a Revolução Industrial e o surgimento das primeiras tecnologias de telecomunicação”. Um dos marcos deste processo aconteceu em 1844, quando, pela primeira vez na história, uma partida de xadrez foi disputada em tempo real por duas pessoas em cidades diferentes. Usando um telégrafo de uma linha recém-inaugurada entre Baltimore e Washington D.C., nos Estados Unidos, os dois jogadores comu- nicavam suas jogadas. Foram disputadas sete partidas com os jogadores a cerca de 60 km de distância. O experimento foi uma forma de testar o funcionamento da linha telegráfica que tinha sido instalada naquele momento. Como funcionava o telégrafo: o telégrafo foi um sistema de comunicação desenvolvido antes do telefone, com os primeiros experimentos ainda no século XVIII, com o objetivo de transmitir mensagens de forma confiável e segura de um ponto a outro através de gran- des distâncias. Foi muito utilizado pelos governos e corporações militares para transmitir mensagens por meio de uso de códigos, como o Código Morse. O sistema não permitia que outra mensa- gem pudesse ser transmitida pelo mesmo fio antes que a primeira mensagem tivesse chegado ao seu destino final. Fonte: HÁ 168 ANOS,era inaugurada a primeira linha de telégrafo do Brasil. Biblioteca Nacional, Brasília, DF, 12 maio 2020. Disponí- vel em: https://bit.ly/3ciVVpG. Acesso em: 21 mar. 2022. EXPLORANDO IDEIAS Este caso, ainda que usando uma técnica muito rudimentar, inaugurou um pro- cesso que se tornaria comum a partir do século XX, que é dos meios de comu- nicação serem usados para uma alteração da percepção da realidade que nos cerca. E isso foi rapidamente absorvido pela arte. Nos anos 1920 e 1930, algumas manifestações artísticas que usavam os meios de comunicação ficaram famosas e inauguraram esta Estética da Comunicação na arte. Existem dois casos famosos, quando artistas como Orson Welles e László Moholy-Nagy usaram do telefone e do rádio para obras culturais e artísticas. UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14699 UNIDADE 3 82 Descrição da Imagem: uma fotografia em preto e branco mostra quatro pessoas em primeiro plano que estão sentadas. São uma mulher e outros três homens. A mulher, que está no canto esquerdo da imagem, usa um chapéu preto, que esconde a maior parte do rosto dela, uma vez que ela está com a cabeça levemente abaixada. Ela está olhando para um bloco de notas, que está apoiado no colo para que ela consiga fazer anotações. Ela usa uma camisa branca, uma saia escura e um casaco que cobre um dos ombros. Ao lado dela há outro jornalista, homem, que também usa chapéu. Ele está de paletó escuro e camisa clara. Ele também segura um bloco de notas apoiado sobre as pernas. Este homem está com o rosto levemente virado em direção a Orson Welles, que está sentado no centro da imagem. Welles usa um terno claro, está de cabelo penteado e olha em direção à jornalista mulher. Ao lado dele, no canto direito da imagem, há outro jornalista homem, sem chapéu, com terno escuro e com um cachimbo na boca. Ele também segura um bloco de papel para fazer anotações. Ao fundo, há outros cinco homens, todos de terno. Três deles estão inclinados para frente, tentando ouvir o que Welles diz. Wells (FIGURA 1) usou um programa de rádio para fazer uma transmissão simulando uma invasão de marcianos na Terra, enquanto Moholy-Nagy usou o telefone para fazer pinturas, “ligando para uma empresa de confecção de cartazes, solicitando a um funcio- nário que pintasse três quadros, conforme suas especificações” (ARANTES, 2005, p. 44). Estas manifestações são revolucionárias e ditaram uma nova estética porque produ- ziram sensações a partir de ferramentas comunicacionais. Antes do telefone ou do rádio, seria impossível, por exemplo, fazer uma intervenção que desafiasse o espaço e o tempo destas formas. Figura 1 – Orson Welles fala com jornalistas após transmissão da Guerra dos Mundos Fonte: Wikimedia Com- mons. Disponível em https://commons.wiki- media.org/wiki/File:Or- son_Welles_War_of_the_ Worlds_1938.jpg. Acesso em: 21 mar. 2022. Em 1938, Orson Welles transmitiu uma peça de rádio-teatro inspirada no livro Guerra dos Mundos. O cineasta noticiou uma invasão alienígena em New Jersey, que causou pânico em milhares de pessoas que ouviram a transmissão e acreditaram que era uma notícia real. Acesse o QRCode ao lado para dar o Play e ouvir um Podcast sobre uma das mais famosas intervenções artísticas do rádio. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12460 83 Na mesma linha, nos anos 1970, a dupla de artistas Kit Galloway e Sherrie Ra- binowitz apresentaram, em parceria com a agência espacial norte-americana NASA, um projeto chamado Satellite Arts Projects: a Space with no Geographical Boundaries (em inglês, Projetos de Artes em Satélites: um Espaço sem Frontei- ras Geográficas). Foi uma captação via satélite de imagens de dançarinos que estavam em cidades diferentes dos Estados Unidos. As imagens foram mixadas e transmitidas como se todos estivessem no mesmo ambiente fazendo a mesma performance – algo quase impossível de se imaginar naquela época. Conforme estas manifestações com padrões que desafiavam a lógica de espa- ço e tempo da época foram se popularizando, este tipo de atividade passou a ser analisada por teóricos. Foi assim que em 1983, após os veículos de comunicação de massa e as tecnologias da computação levarem este tipo de manifestação a um outro patamar, o filósofo italiano Mario Costa fez um manifesto batizando a ‘Estética da Comunicação’ nas artes. Este manifesto defendia “elaborar uma teoria estética e psicossociológica ligada às novas tecnologias da comunicação e estabelecer um vínculo entre os artistas e os pesquisadores de todos os países interessados no projeto” (ARANTES, 2005, p. 49). Os artistas passaram a perceber que as tecnologias de comunicação faziam parte de uma realidade irreversível, e que estas ferramentas mudariam de uma vez por todas o modo de produzir cultura e arte. O que os artistas tomavam cons- ciência naquele momento é que os meios de comunicação impactavam na arte de duas formas: de um lado, o modo de fazer as obras tinha novas ferramentas que permitiam atividades que antes eram impossíveis; do outro, o avanço tecnológico proporcionava estéticas novas. Ou seja, ao reafirmar que a história da arte estava necessariamente ligada à evolução dos meios de comunicação, Costa acreditava que os artistas deveriam se apropriar dos sons, texturas, imagens e formas que estas novas tecnologias proporcionavam. Era a substituição, em parte, do artista e da obra de arte pela máquina (SANTAELLA, 2005, p. 20). Costa acreditava que estas evoluções nos colocavam em um estado chamado de sublime tecnológico que se manifesta estética e artisticamente em três vias, segundo Patrícia Arantes (2005, p. 180-181): UNICESUMAR UNIDADE 3 84 • As criações artísticas podiam ser coletivas e compartilhadas. Segundo Cos- ta, isso transcendia um criador individual, formando uma mente coletiva. • As tecnologias eram capazes de domesticar “o absolutamente grande da natureza”. Radares e satélites levavam o conhecimento humano a um lugar que antes eram inacessíveis. Agora era possível, com a tecnologia, fazer fotografias do espaço sideral e ver a Terra de outro ângulo, por exemplo. • Uso de um ambiente virtual para se desprender da localidade física e material. Ainda que hoje tudo isso pareça natural e acessível, nos anos 1970, 1980 e 1990 es- tas mudanças representaram uma revolução brutal. Todas as formas de produção artística e intelectual estavam sendo reinventadas. Segundo Arantes (2005, p. 50): “ Pode-se dizer que os trabalhos de arte-comunicação baseados na transmissão de textos, sons e imagens por meio de telefone, fax, slo-w-scan tv, satélite e televisão são como uma espécie de antevisores e genitores da arte na internet, uma vez que potencializam o aspecto dialógico, em escala global, e em rede, entre pessoas localizadas em pontos diversos do planeta. O que a Estética da Comunicação nas artes mostra, segundo Liesen (2010, p. 25), é que sempre que há o surgimento de um novo meio de comunicação ou alguma evolução tecnológica, criam-se novas formas de sentir e pensar o mundo. Hoje entendemos com bastante clareza que vivemos em uma constante evolução tec- nológica, que promovem uma reinvenção permanente. 85 Além disso, é também interessante refletir como o surgimento de novas tecno- logias criaram novos conceitos estéticos. Com o surgimento da fotografia, por exemplo, a pintura perdeu a hegemonia como forma visual de se retratar alguma coisa. Com a popularização do cinema, do rádio e da televisão, a literatura deixou de ser a única forma artística de se contar uma história. Mas isso não tirou o valor destas expressões artísticas. Com o surgimento destes novos meios, algumas for- mas de expressão caminharam para novos campos que culminaram, por exemplo, na arte abstrata e na literatura de realismo fantástico, entre vários outros gêneros e formas de representação artística. As novas tecnologias também deixaram ainda mais claro o poder dos pontos de vista e da subjetividade na produção artística. Quando afotografia se popularizou, por exemplo, imaginava-se que ela era a representação da neutralidade nas reproduções imagéticas, delegando a interpretação dos cenários às pinturas. Com o tempo foi possível perceber que não existe neutralidade quando se fala em ponto de vista. Por mais fiel que uma fotografia seja de uma imagem, a escolha do momento em que o registro é feito, a posição do objeto fotografado, dentre outros fatores podem produzir resultados muitos diferentes. E isso vai moldar a forma como determinados objetos ou cenas são retratados. Como exemplifica Santaella (2005, p. 22): “ (A fotografia) acabou por revelar que o nosso próprio olhar é tam-bém fruto de uma construção com potenciais e limites definidos, uma construção dependente de pontos de vista física e cultural- mente instituídos, dependente da proximidade ou distância físicas e ideológicas que estabelecemos com os objetos percebidos. Em suma, foi a fotografia que acabou com o mito de que nosso olhar é algo natural e inocente. A partir disso, é possível compreender que as mensagens são recriadas a partir das mídias, e que os indivíduos se apropriam destas mensagens, as transformam e se definem com elas, como afirma o professor Luís Mauro Sá Martino (2007, p. 9). Isso nos leva à outra forma de abordagem da Estética da Comunicação, que trata a estética como uma experiência sensível no processo comunicacional. Este enfoque passou a ser pensado pelos teóricos da comunicação a partir dos anos 1990. Foi quando, segundo Liesen (2010, p. 32), “a experiência estética passou UNICESUMAR UNIDADE 3 86 de algo vinculado apenas ao campo das artes para algo mais abrangente, próximo da comunicação e do cotidiano”. Para entender esta corrente é preciso voltar a pensar no conceito de estética. De acordo com Martino, o significado original da palavra ‘estética’ vem do grego aisthesis e quer dizer ‘sensibilidade’. Portanto, para segundo ele, a Estéti- ca da Comunicação trata das “relações entre os meios de massa e o indivíduo como um exercício de sensibilidade e produção” (MARTINO, 2007, p. 11). Partindo deste princípio, toda atividade comunicacional que envolve algu- ma forma de percepção tem algum caráter estético, porque envolve alguma comunicação de afeto, sentimento, sensação ou, em resumo, sensibilidade. De início, este processo parece bastante abstrato, mas ele tem implicações práticas que veremos mais adiante. No entanto, é preciso entender como este fluxo acon- tece, como ele impacta o mundo, como o mundo impacta ele e como os meios de comunicação estão inseridos nesta dinâmica. Você já parou para pensar que quando formulamos uma frase, quando fazemos um pe- dido, quando tornamos pública uma ideia, as palavras que escolhemos, a forma como dizemos e o tom que usamos impactam na maneira como esta mensagem é recebida pelas pessoas? PENSANDO JUNTOS Todo ato de comunicação se inicia quando um indivíduo tenta tornar comum algum pensamento. Quando uma pessoa tenta transmitir alguma produção da consciência para o mundo exterior. “O próprio exercício do pensamento é uma relação comuni- cativa na qual o Ser discorre a respeito de si mesmo” (MARTINO, 2007, p. 25). Neste processo, no entanto, pensamos de um jeito e manifestamos externamen- te essa mensagem, normalmente, de alguma outra forma. Aliás, nem nos damos conta exatamente como as mensagens se formam na nossa consciência. Ao mesmo tempo, às vezes, temos dificuldade de expressar ou externar uma ideia exatamente como a pensamos. Isso acontece porque a comunicação é como uma forma de ‘tradução’ do que estamos pensando para que a outra pessoa entenda. A estética, 87 portanto, é um ponto de partida de como alguma mensagem é externada para além de si mesmo com o objetivo de causar uma sensação similar em outro indivíduo. É necessário notar que essas manifestações vão muito além do simples uso das palavras na forma da descrição linguística. Ela envolve qualquer tipo de troca de signos entre as pessoas. Podem ser gestos, podem ser símbolos ou cores que usamos em uma roupa ou qualquer forma de expressão que comunique algo. NOVAS DESCOBERTAS Título: O Discurso do Rei Ano: 2010 Sinopse: desde criança, George, herdeiro do trono do Reino Unido, tem problemas para se expressar por ser gago. Com a morte de seu irmão, ele passa a fazer um tratamento para tentar superar este problema para conseguir assumir o posto real e liderar a nação com seus discursos. Comentário: George foi rei da Inglaterra durante um período turbulento, sendo coroado alguns anos antes da Segunda Guerra Mundial. O filme mos- tra como foi importante que o monarca conseguisse superar problemas na forma como se comunicava para conseguir ganhar o respeito da população. Segundo o comunicólogo francês Jean Caune (1997, p. 3), a comunicação acon- tece a partir de interações e a experiência estética “se concretiza em um objeto endereçado aos sentidos: à visão, à audição, ao toque. Essa noção de sensibilidade dá ao objeto sua dimensão estética”. “ São signos de toda natureza, não apenas os utilizados para descrever ou nomear, mas também para se referir ao próprio pensamento. É nesse sentido que a objetivação da linguagem, embora seja uma pro- dução subjetiva, se manifesta projetivamente sobre outro indivíduo no qual se espera conseguir um efeito de sensação e compreensão - um efeito estético, em suma. (MARTINO, 2007, p. 33) De acordo com o sociólogo e jornalista Muniz Sodré (2006, p. 109), o ‘signo estético’ da comunicação é “o principal operador das relações entre a lógica do UNICESUMAR UNIDADE 3 88 discurso e as modelações da sensibilidade na esfera do audiovisual”. De acordo com Liesen (2010, p. 30), Sodré, a partir disso, concebe o processo de comuni- cação como um vínculo, “cujo lado afetivo se torna cada vez mais importante contemporaneamente, seja para sua exploração na retórica midiática, seja na formação de comunidades estéticas”. Aqui quando falamos de ‘afeto’, não devemos pensar nos clichês, na demago- gia, no discurso apelativo ou coisas deste gênero. Mas imaginar que o ato de se comunicar, de qualquer forma que seja, é uma maneira de se conectar aos inter- locutores por meio de signos e sensações que o farão entender uma mensagem. Sempre que nos comunicamos, mesmo que sem nos darmos conta, estamos ten- tando interferir na estrutura de significados de outras pessoas. Da mesma forma, sempre que recebemos uma mensagem, estamos sendo modificados por ela. Um exemplo dado por Sodré (2006, p. 9) é o seguinte: quando uma pessoa vai tentar explicar alguma coisa relacionada à Física para outras pessoas, ele vai usar alguns elementos próprios daquele assunto – exemplos matemáticos, conceitos científicos daquela área e usar termos e expressões próprias. Se esta mesma pessoa falar sobre Filosofia, ela pode usar outros elementos para se fazer entender, usar expressões e termos que estão mais familiarizados a este campo do conhecimento. Ao mesmo tempo, dependendo do conhecimento que ela tem sobre as duas áreas, dependendo do conhecimento que o interlocutor dela também tem sobre estas áreas e a depender do assunto, do ambiente e de vários outros fatores, pode ser que os signos usados sejam os mesmos. De acordo com Liesen (2010, p. 30), as escolhas destes elementos formam um “laço social de base estética” entre os sujeitos que se comunicam. Segundo o sociólogo francês Michel Maffesoli (2005, p. 33), a estética da atividade comuni- cacional tem como função ressaltar a eficácia das formas de simpatia e seu papel de ‘laço’ social. “Pode-se pensar que este seja o caso da estética que garante, desde então, a sinergia social, a convergência das ações, das vontades, que permite um equilíbrio, mesmo conflitual, dos mais sólidos” (MAFFESOLI, 2005, p. 32). Por isso, é preciso ter em mente que, apesar de se formar na consciência do sujeito e das sensações serem efeitos pessoais, a experiência estética não é exclusivamente subjetiva. Ela é determinadatambém pelo contexto que a cerca. Segundo Liesen (2010, p. 33), “ela tem um efeito prático que muda conforme entra em contato com o mundo e se contrapõe com experiências externas e cotidianas. E são vários os fatores que influenciam nisso”. 89 Neste ponto, muitos estudiosos da Estética da Comunicação relacionam este processo com o conceito de senso comum. De acordo com Martino (2007, p. 118), “a realidade social das pessoas se constrói na relação recíproca entre os se- res humanos através de uma gigantesca troca de sentidos e as relações sociais se formam a partir de uma constante e recíproca troca de significados”. O que isso quer dizer é que os nossos conceitos, impressões e opiniões se formam a partir de uma troca permanente de mensagens nossas com o mundo exterior e com outras pessoas. São conversas que temos durante anos, são filmes a que assistimos, informações que acumulamos, anúncios que lemos, histórias que lembramos, dentre outras milhares de coisas. “Assim, o cotidiano é uma enorme trama de sentidos e significações constantemente em circulação produzidos e trocados a partir de cada indivíduo” (MARTINO, 2007, p. 118). O senso comum é a reunião desta realidade social e destes significados em uma rede imensa, que foge ao nosso controle. Segundo o filósofo belga Herman Parret, o senso comum é o elo entre a sensibilidade das pessoas e o senso de comunidade. “É a categoria estética do senso comum que nos serve de valoração legitimadora de toda prática intersubjetiva da vida cotidiana” (PARRET, 1997, p. 187). Isto é: a forma como sentimos as mensagens que recebemos estão inseridas pelo ‘filtro’ do senso comum. Da mesma forma, as mensagens que externamos são recebidas pelas outras pessoas também por meio disso. Este senso comum seria a fronteira entre a intersubjetividade das pessoas que, ao compartilharem significados por meio da comunicação, estabelecem princípios da realidade de maneira imediata. Segundo Martino (2007, p. 119), “na prática, isso se reflete da seguinte forma: o modo que alguém se veste, que fala, que anda, que se porta, entre várias coisas, servem como informações que são imediatamente reconhecidas e compreendidas pelas pessoas num processo de comunicação”. Apenas o reconhecimento destas formas no outro já transmite uma série de mensagens que, baseadas em conceitos previamente concebidos, em contextos e culturas, já podem denotar várias informações sobre aquela pessoa. Estas informações se transformam em um conhecimento de maneira muito rápida, quase automática, segundo Martino (2007), sem que seja necessário um raciocínio formal ou uma análise aprofundada. A capacidade de reconhecer esses padrões e estas informações associadas a isso, mesmo que elas não transmitam a mensagem correta, é a dimensão estética do senso comum. “Essa capacidade é UNICESUMAR UNIDADE 3 90 apreendida no decorrer do tempo, durante a vida social, na qual aprende-se a re- conhecer informações, classificá-las, contextualizá-las e transformá-las em com- portamentos decorrentes das informações que temos” (MARTINO, 2007, p. 119). Este reconhecimento está cada vez mais ligado ao uso dos meios de comuni- cação de massa. São eles que permitem a reprodução de padrões em uma escala global, em altíssima velocidade. São eles que ditam tendências e que têm o poder de incutir o que parece ser certo, errado, bonito ou feio. “Em pouco tempo, a mídia passa a influenciar as fronteiras entre o legítimo e o ilegítimo no terreno do pensamento” (MARTINO, 2007, p. 131). Antes uma construção, para o bem ou para o mal, que dependia muito mais de um contexto cultural e histórico, pode ter reflexos muito mais impactantes baseada exclusiva- mente no potencial dos meios de comunicação. Além disso, a possibilidade das transmissões em massa de bens simbólicos cultu- rais levou à formação de um senso comum mundial “como reflexo de uma comuni- cação sem limites de espaço ou tempo” (MARTINO, 2007, p. 132). Isso, na prática, é o que permite que uma mesma campanha publicitária seja veiculada em Nova York, São Paulo e Pequim (FIGURA 2). O que um profissional pensa que pode ativar a sen- sibilidade do público consumidor pode se aplicar, em boa medida, a comunidades com histórias completamen- te diferentes, a milhares de quilômetros umas das outras. Figura 2 – Anúncio de tênis da Nike em Pequim, capital da China Descrição da Imagem: foto mostra um cartaz centralizado, bem grande, com um anúncio de um tênis Air, da Nike. A imagem do anúncio está dividida em três partes praticamente do mesmo tamanho. À esquerda, há a imagem de um rapaz de casaco preto e camiseta branca. Ele está andando em direção à câmera e usa um capuz na cabeça. Ao centro do anúncio uma frase, em vermelho, diz “Kiss My Airs”, que do inglês quer dizer “beije meus Airs”. À direita do anúncio, há uma mão segurando um tênis branco na vertical. Este anúncio está em um gramado em uma calçada, em frente a dois prédios modernos com janelas espelhadas. À frente do anúncio, uma pessoa de blusa alaranjada e calça preta anda de bicicleta. 91 Isso está diretamente ligado ao conceito de Indústria Cultural, elaborado pelo filósofo alemão Theodor Adorno. Os meios de comunicação são indústrias de massa de bens simbólicos que se popularizam como mercadorias e são consumi- dos pelo público em larga escala. A produção das mensagens parte de uma racio- nalidade da construção comunicativa, que visa ao maior alcance e repercussão. Outro importante pensador alemão, Jürgen Habermas, desenvolveu a partir disso a ideia de Teoria da Ação Comunicativa que, dentre outras coisas, trata da racionalização da comunicação. “ A ação comunicativa é um tipo de interação social em que o meio de coordenar os diversos objetivos das pessoas envolvidas é dado na for-ma de um acordo racional, do entendimento recíproco entre as partes, alcançado através da linguagem. Ou seja, comunicação se refere a um determinado uso da linguagem, o uso da linguagem orientado para a obtenção de um acordo, de um consenso (NOBRE, 2018, p. 234). O caráter estético da comunicação é uma forma de racionalização daquilo que queremos que sensibilize o outro. Quando formamos uma mensagem na nossa consciência, precisamos de alguma forma racionalizar esta informação para, ao externá-la, torná-la significativa e atraente para o outro. Na Teoria da Ação Comunicativa, Habermas aponta que a comunicação acontece por meio de atos da fala, que são atos que buscam do ouvinte o reconhecimento da va- lidade do que é dito. “Quando afirmamos, explicamos, descrevemos algo, está associada à nossa fala uma pretensão de que o que é dito é verdadeiro” (NOBRE, 2018, p. 236). UNICESUMAR UNIDADE 3 92 O que Habermas faz é explicar uma realidade social a partir de uma teoria comunica- cional. Então, por mais que esta validação seja algo que parta, na origem, de um indi- víduo, esta dinâmica tem implicações que regem as relações sociais e o senso comum. Segundo Martino (2007, p. 134-135), “os meios de comunicação de massa são mediadores da realidade social formada a partir dessa interação, por terem como matéria prima a linguagem. De acordo com ele, as notícias, por exemplo, são o retrato do senso comum”. Segundo o estudioso da comunicação na televisão James M. Carlson (1993, p. 243), “exemplo disso é que análises revelam que os telespectadores mais assíduos reconhecem mais como real aquilo que é veiculado na TV do que o que acontece no ‘mundo real’, ainda que assistir televisão gere representações imprecisas da realidade social”. Uma vez que estas formas de ação comunicativa são racionais, esta racio- nalidade se baseia na ideia, segundo Nobre (2018, p. 234) da “eficácia dos meios utilizados para a obtenção do fim, ou seja, uma ação é tanto mais racional quanto mais eficiente é o meio adotado para se obter”. Isso faz sentido se pensarmos os meios de comunicação como indústrias que produzem símbolos e mensagens. Deixando de pensar apenas nos meios decomunicação e analisando, agora, o profissional de comunicação neste contexto: quando um jornalista faz uma matéria ou um publicitário cria uma peça de propaganda, eles têm como ob- jetivo impactar o maior número de pessoas, certo? A relação dele com o obje- to comunicacional, as escolhas dele, a inspiração e referências fazem diferença na forma como aquela reportagem ou propaganda será percebida pelo público. Consequentemente, o uso desta racionalidade vai definir, em alguma medida, a abrangência daquela mensagem, também. No entanto, apesar deste processo tratar da relação do indivíduo com a pró- pria mensagem, existem os impactos do senso comum nesta produção. No caso dos profissionais e no modo de fazer da comunicação, existem estruturas de re- gras de estilo que se entende que são mais eficientes para que se chegue a este ob- jetivo. No caso do jornalismo impresso e online, por exemplo, existe a técnica da “pirâmide invertida” que, a partir do senso comum, é um modelo que formata o texto com uma apresentação e uma ordem das informações visando à melhor eficácia para transmitir uma notícia. Isso, de certa forma, é uma fronteira para o processo de produção estética da comunicação. 93 OLHAR CONCEITUAL A técnica da Pirâmide Invertida formata o texto hierarquizando as informações. Aquilo que é mais importante para o entendimento de uma notícia é apresentado nos parágra- fos iniciais, o contexto é desenvolvido nos parágrafos intermediários e as informações menos relevantes são apresentadas no final do texto. Informações mais importantes (O que, quem, quando, onde) Contexto (Aspas, informações secundárias) Informações menos importantes (dados gerais, serviço) Descrição da Imagem: a imagem mostra uma pirâmide invertida, com a parte mais larga no topo e a mais fina na base. Ela está dividida horizontalmente em três partes. De cima para baixo, na primeira parte, em laranja, está escrito “Informações mais importantes (O que, quem, quando, onde)”. Na segunda parte, em amarelo, está escrito “Contexto (Aspas, informações secundárias)”. Na terceira parte, em verde, está escrito “Informações menos importantes (dados gerais, serviço)”. A redação publicitária é um outro exemplo. Existem manuais sobre as cons- truções de frase que são permitidas ou não, quais verbos devem ser evitados etc. Eles são formatados a partir de um limite imposto pelo senso comum às UNICESUMAR UNIDADE 3 94 escolhas individuais. Isso não invalida a inspiração, intuição ou autonomia de um profissional, mas impõe eventuais tensões entre as escolhas dele e o que se convencionou como mais eficiente. De acordo com Martino (2007, p. 136), o uso dos meios de comunicação para que estas histórias sejam veiculadas – sejam os portais, telejornais ou rádios que publicam uma matéria ou a rede social ou cartaz que estampa uma campanha – “representa a combinação de instâncias sociais e de construção de universos simbólicos que pautariam a ótica que terá o leitor-receptor da realidade”. Em ou- tras palavras, os meios de comunicação de massa, por estarem inseridos em uma estrutura industrial e global, estão muito sujeitos a esta rede de relações sociais que impactam como as mensagens são sentidas pelo público. Levando isso em conta, a racionalização da comunicação no contexto dos meios de comunicação de massa também pode servir como limites para a pro- dução de um discurso que pareça mais potencialmente sensível por parte de um profissional. Este processo, então, não é construído apenas pelo profissional. Ele será moldado pelo senso comum, pelos padrões estilísticos e pelas dinâmicas de trabalho. Até o pouco tempo que os profissionais têm nas redações, agências e em- presas para transformar uma informação bruta em um material distribuível para o público acaba limitando a dimensão estética da comunicação nestes casos. Este contexto é que determina, via de regra, como se dará a forma daquela mensagem. “ O processo, portanto, não é inteiramente consciente. Do repórter que presencia determinado acontecimento até a recepção do pro-duto midiático pelo leitor, a realidade passa por processos vários de reconstrução, seleção, adaptação e edição, que distanciam o produto final da realidade objetiva, criando um efeito de distanciamento entre instâncias arbitrárias de decisão e sua objetivação no poder simbólico exercido (MARTINO, 2007, p. 137). Ainda que existam definições distintas de Estética da Comunicação levando em conta o campo da arte e o campo da comunicação, alguns conceitos aproximam as duas abordagens. Nos dois casos há a necessidade de se ativar a sensibilidade, seja do interlocutor do processo comunicativo, seja no espectador de uma obra de arte. Ao pensar no impacto do senso comum na criação estética, os dois campos, 95 da comunicação e da arte, também se aproximam, pois nos indica que é preciso levar em conta os contextos sociais e temporais para que os dois processos te- nham êxito e possam ser compreendidos. Em resumo, as duas formas a Estética da Comunicação tratam das experiên- cias sensíveis dos indivíduos com o mundo. Você lembra que no começo desta unidade você foi questionado sobre uma campanha publicitária que tenha marcado a sua infância? Você conseguiu lem- brar as sensações que esta propaganda despertava em você? Além disso, conse- guiu relacionar quais elementos estéticos a fizeram marcante? Vamos pegar, por exemplo, uma das propagandas de maior sucesso no Brasil nos anos 1990, que era uma campanha do Guaraná Antarctica, que falava sobre como era gostoso tomar a bebida enquanto se comia pipoca. Um dos elementos mais marcantes da propaganda era um jingle envolvente e fácil de cantar. O filme também mostrava várias garrafas de refrigerante sendo abertas, o que passava uma sensação de refrescância. Ao mesmo tempo, apareciam vários baldes de pipoca em cortes rápidos e dinâmicos. A propaganda chamava a atenção pela música, principalmente, que era ‘pegajosa’ e fácil de cantar. Ela também trabalhava com uma sensação de diversão, remetendo ao hábito das pessoas assistirem à televisão comendo pipoca e tomando o refrigerante, geralmente em um momento feliz. Portanto, é possível atrelar os elementos escolhidos para o comercial com os sentimentos de alegria e descontração, por exemplo. Esta propaganda foi veiculada no início dos anos 1990. Esta era uma época em que a televisão estava no seu auge como meio de entretenimento, alguns anos antes do surgimento da internet comercial no Brasil. Isso casava bem com a ideia de que assistir à televisão era um passatempo descontraído e interessante para ser consumido com os produtos descritos no comercial. A campanha fez tanto sucesso que ela foi relançada outras três vezes, em 2008, 2011 e 2020. No entanto, nestas vezes, ela não teve o mesmo sucesso da veiculação original. É possível que isso tenha acontecido porque os recursos estéticos não tivessem mais tanta aderência no público ou na mensagem como tinham no começo dos anos 1990. UNICESUMAR 96 Chegou o momento de você mostrar que entendeu os diferentes conceitos de Es- tética da Comunicação: 1. Leia o texto a seguir: Em um primeiro momento, questões de Estética normalmente são relacionadas à Teorias da Arte, Teorias Literárias ou ainda, ao estudo filosófico do Belo. No entanto, desde os meados dos anos 1990 – quiçá até antes, conforme a força da acepção que se queira dar ao termo – nota-se um aumento progressivo na atenção depo- sitada ao tema dentro dos estudos de Comunicação. Dentro desta apropriação, é possível perceber um alargamento acerca da noção de “Estética” que, para além de sua vinculação específica à Arte, também passa a adquirir espaço e forma como um fenômeno estético – na forma de se pensar a comunicação humana, em seu jogo de sentidos, afetos, sensibilidades e inteligibilidades. MARTINO, L. M. S. Aproximações entre estética e comunicação: aberturas possíveis e diálogos entre os conceitos. Intexto, Porto Alegre, UFRGS,n. 36, p. 14, maio/ago. 2016. Com base nos diferentes entendimentos e abordagens sobre Estética da Comuni- cação, é possível afirmar: I - Antes de ser abordado como um fenômeno da comunicação, a Estética da Co- municação foi um conceito relacionado à produção artística. II - As abordagens da Estética da Comunicação nas artes não têm qualquer relação com o conceito comunicacional porque quando está relacionada à produção artística, a estética é sinônimo de beleza, diferente do conceito quando se trata do processo de comunicação. III - Tanto na abordagem comunicacional quanto artística, é possível entender Esté- tica como um conceito relacionado à sensibilidade. IV - Depois que foi apropriado pela comunicação, o conceito de Estética da Comuni- cação foi abandonado e rejeitado pelos pensadores da produção artística. V - Apesar de ter sido batizada apenas nas últimas décadas do século XX, a relação entre estética e comunicação é anterior a isso. As afirmações verdadeiras são: 97 a) I e II. b) I, III e V. c) II e IV. d) I, IV e V. e) IV. 2. Leia o texto a seguir: A interface das artes com as comunicações já é antiga. No “Manifesto radiofônico”, publicado na Gazzeta Del Popolo, em setembro de 1933, Marinetti e Pino Masnata propõem que o rádio seja utilizado in liberta (livremente), a fim de expandir os recur- sos sonoros e expressivos das programações radiofônicas usuais: ruídos, verbos em sua forma infinitiva e barulhos de máquina foram algumas das exigências propostas no manifesto. ARANTES, P. @rte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Senac, 2005. p. 44. Levando em conta o texto acima e o conceito de Estética da Comunicação nas artes, veja as afirmações a seguir: I - A evolução tecnológica dos meios de comunicação, após a Revolução Industrial, passou a fornecer novos materiais, produtos, meios e temas para a produção artística. II - A Estética da Comunicação na arte estuda como as tecnologias passaram a de- safiar os parâmetros de espaço e tempo que se conheciam até então. III - O uso da internet e dos meios digitais encerrou a Era da Estética da Comuni- cação, porque o uso da tecnologia deixou de ser uma exceção e virou regra na produção artística. IV - Pinturas, esculturas e livros perderam sentido como elementos artísticos porque foram substituídos pelas obras de arte que se utilizam de tecnologia. V - O conceito de sublime tecnológico, pensado pelo filósofo italiano Mario Costa, trata de três aspectos da Estética da Comunicação: coletividade das criações artís- ticas; ambientes virtuais que se desprendem de uma localidade física e material; e capacidade de dominar o ‘absolutamente grande da natureza’. Estão corretas as alternativas: 98 a) I, II e III. b) II e IV. c) I, II e V. d) I, II, III e IV. e) III e IV. 3. Leia o texto a seguir: O publicitário que desenha um cartaz mantém com ele uma relação pessoal – assim como o jornalista ao escrever um texto ou o radialista produzindo um programa. Por mais mecanizado e rotineiro que seja o trabalho, o criador precisa pensar, imaginar, criar e, para isso, comporta-se em uma relação pessoal com o objeto, mesmo em um nível mínimo decorrente da repetição da mesma atividade. MARTINO, L. M. S. Estética da comunicação: da consciência comunicativa ao “eu” digital. Petrópolis: Vozes, 2007. Sobre a estética nos processos comunicativos, é correto afirmar que: I - A Estética da Comunicação pode ser entendida como o estudo das relações in- dividuais de uma pessoa com o objeto da comunicação que têm como objetivo uma experiência sensível. II - A estética de uma mensagem está sujeita apenas à emissão de uma mensagem e à interpretação do interlocutor. III - A estética de uma linguagem está necessariamente atrelada às expressões ver- bais. IV - Segundo o filósofo belga Herman Parret, o senso comum é o elo entre a sensi- bilidade das pessoas e o senso de comunidade. V - Como a Estética da Comunicação remonta à comunicação interpessoal, os meios de comunicação de massa não estão inseridos neste tipo de abordagem. As alternativas corretas são: a) I, III e IV. b) II, III e IV. c) II e V. d) I, II, IV e V. e) I e IV. 4Linguagens Tradicionais e Digitais Me. Pedro de Souza Lima Brodbeck A digitalização, a internet e a conectividade móvel mudaram comple- tamente vários aspectos da sociedade. O mais impactado deles foi a comunicação, que viu uma revolução que não se via desde a criação do alfabeto, milênios atrás. Nesta unidade veremos como produtos comunicacionais tiveram que se apropriar das novas possibilidades que estas tecnologias proporcionaram, como as ferramentas interativas, hi- pertextuais e multimídias. Também vamos estudar como um novo leitor também surgiu a partir disso, que passou a exigir novos formatos de conteúdos. Tudo isso impacta na estética e nas experiências sensoriais que os meios de comunicação promovem nas suas audiências. UNIDADE 4 100 Caro(a) estudante! Você, possivelmente, tem seus portais, programas de televisão ou aplicativos de redes sociais favoritos, certo? Em alguns casos, estes produtos comunicacionais agradam mais do que outros pelo conteúdo que oferecem. Em outros casos, você os acessa porque já está mais acostumado com aquele layout, com aquele tipo de navegação e com a forma como estes conteúdos são apresentados. Você já parou para pensar que, independentemente do motivo, o conteúdo ou a apresentação destes produtos se moldou com o tempo para satisfazer o seu gosto e o gosto de outros clientes, usuários ou espectadores? E que os elementos que agradam nestes produtos também mudaram com o tempo, conforme você conheceu novas ferramentas e aplicações? E que, quanto mais intuitiva for a forma que você pode acessar um produto de comunicação, mais agradável ela vai ser? A forma como os conteúdos são apresentados nos meios de comunicação seguem alguns critérios que mudaram ao longo do tempo, com o objetivo de envolver e satisfazer melhor as audiências. Antigamente, nos séculos passados, a comunicação formal acontecia essencialmente pela escrita e seu grande atrativo era a informação que constava nos livros. Depois, com os meios de comunicação de massa, a informação começou a se espalhar com mais velocidade e variedade, e o caráter estético destes meios se tornou mais importante. Os sentimentos que um filme desperta quando é exibido fazem com que um espectador preste mais atenção ou não naquela mensagem, um programa de televisão agradável de se assistir tende a ter mais audiência, e assim por diante. Com o surgimento da internet, dos meios digitais e da comunicação móvel, as fontes de informação se multiplicaram muito e a competição pela atenção das audiências ficou ainda maior. O nível de informação que os produtores de conteúdo têm sobre suas audiências – e o comportamento delas – também au- mentou, o que fez crescer exponencialmente a importância de se produzir infor- mação mais acessível, ágil e interativa, atendendo aos anseios do público. Com isso, as linguagens e as formas dos conteúdos ganharam importância e os meios de comunicação tradicionais se viram obrigados a absorver, com maior rapidez, elementos e ferramentas digitais para corresponder a estes anseios. Caro(a) aluno(a)! Vamos pensar sobre isso na prática. Pense em um veículo de comunicação de que você goste. Pode ser um programa de televisão ou um portal de notícias ou um site qualquer. Algo que você assiste ou acessa há algum tempo com o objetivo de se informar. Escolha um veículo de comunicação para 101 analisar e liste quais são os elementos que fazem você gostar deste produto de comunicação, quais são os concorrentes dele, e quais as diferenças que fazem preferir um produto a outro. O que mais agrada você neste produto? Se é o conteúdo, o que ele tem que os concorrentes não têm? Se é o formato ou o visual, no que estes elementos di- ferem dos demais veículos? São as duas coisas? E pensando, você se lembra das mudanças que este produtode comunicação teve com o passar do tempo? Que novos elementos foram absorvidos que o tornaram melhor? Analise esses fatores, pense a respeito de como estes elementos são percebidos por você e por que eles agradam ou não. Anote seus achados e suas reflexões no Diário de Bordo. DIÁRIO DE BORDO A digitalização, o acesso à internet e a proliferação de dispositivos móveis promoveram mudanças muito profundas na sociedade. Quem eventualmente nasceu em uma época em que ter computadores e celulares é algo corriqueiro pode não conseguir dimensionar isso, mas a possibilidade de acessar informa- ções variadas do mundo inteiro com alguns poucos cliques e de estar conectado UNIDADE 4 UNIDADE 4 102 o tempo inteiro pelo celular mudou a forma como praticamente tudo que existe no mundo funciona. Isso aconteceu devido ao impacto que a digitalização e a conectividade têm no modo como as pessoas se relacionam e como as informa- ções são distribuídas. As tecnologias digitais também permitiram que um novo mundo virtual se abrisse ao nosso redor, modificando completamente o ambiente em que vivemos, já que, segundo Luís Sá Martino (2007, p. 155), “a dimensão mais externa do sujeito é sua relação com o espaço circundante” – e no mundo globalizado e conectado, o espaço que nos rodeia foi totalmente redimensionado. Todas as áreas do conhecimento e todos os aspectos da vida humana muda- ram em alguma medida com isso, mas, segundo o sociólogo espanhol Manuel Castells (2019, p. 18), um dos maiores estudiosos sobre a vida em rede, “a mudança social mais aparente e profunda se deu na comunicação, em função da populari- zação da internet comercial, para uso doméstico e particular, e pela tecnologia dos aparelhos sem fio, que permitiram que a conexão à internet se tornasse constante às pessoas”. Para ele, esta transformação tecnológica tem uma dimensão histórica tão revolucionária e importante que é comparável à invenção do alfabeto, que aconteceu muitos séculos atrás (Figura 1). Figura 1 – Bloco de rocha com inscrições do alfabeto fenício, no Líbano Descrição da Imagem: a fotografia mostra, ao centro, uma rocha bege com várias inscrições feitas com letras do alfabeto fenício na superfície. São sete linhas de inscrições, com cerca de vinte sinais em cada uma delas. A superfície da rocha está levemente danificada. O formato do pedaço de pedra é retangular, com as bordas arredondadas e danificadas pelo tempo. A rocha está exposta em um balcão preto. Ao fundo, à direita, há uma parede de pedra, e no canto superior esquerdo da foto, ao lado do balcão onde a rocha está, há um painel preto com uma folha branca pendurada, com textos informativos. 103 Segundo Castells, a invenção do alfabeto séculos atrás marcou significativa- mente a sociedade, estabelecendo um marco histórico que causou mudanças profundas em todos os aspectos das ações humanas. Assim como aconteceu com a popularização da internet, a criação do alfabeto alterou as maneiras como nos comunicamos e impactou na importância que nós damos a cada uma das dife- rentes formas de comunicação. Para entender o raciocínio de Castells, é preciso fazer uma retomada das mudanças promovidas milênios atrás. De acordo com o sociólogo, “foi o alfabeto que proporcionou a infraestrutura mental para a comunicação cumulativa, ba- seada em conhecimento” (CASTELLS, 2019, p. 413). Isto quer dizer que foi este acúmulo de conhecimento, por meio de um discurso conceitual e racional que a linguagem escrita promove, que permitiu o desenvolvimento da filosofia e da ciência, por exemplo. Por outro lado, segundo ele, o alfabeto também separou de vez a comunicação escrita do sistema audiovisual de símbolos e percepções, que eram baseados na fala e nos gestos. “ Ao estabelecer, implícita e explicitamente, uma hierarquia social entre a cultura alfabetizada e a expressão audiovisual, o preço pago pela adoção da prática humana do discurso escrito foi relegar o mundo dos sons e imagens aos bastidores das artes, que lidam com o domínio privado das emoções e com o mundo público da liturgia (CASTELLS, 2019, p. 413). Então, apesar de proporcionar o acúmulo de conhecimento por meio de um discurso racional escrito, por outro lado, a criação do alfabeto deixou a tradição de comunicação por meio da fala e dos gestos em uma posição de inferioridade e informalidade perante a escrita. Isso teve suas vantagens, como a possibilidade de registrarmos conhecimento e a história, mas colocou em desvantagem a imensa maioria das pessoas que, ao longo de séculos, não dominava a escrita, criando uma hierarquia entre as formas de comunicação. UNIDADE 4 Hipertexto: o conceito é de uma teia de textos (escritos, verbais, visuais) interligados em um ou vários ambientes que promovem uma leitura que não precisa ser linear entre eles. Na prática, é como uma página na internet que apresenta vídeos, fotografias, links para outras páginas, caixas de textos explicativos, dentre outros recursos que complementam e aprofundam as informações. Interatividade: quando se permite que exista um sistema de trocas de informação en- tre emissores e receptores. Antes, com os meios de comunicação de massa, a interação com os conteúdos era muito limitada – resumindo-se à escolha de um canal de TV, por exemplo. Já com a internet e as mídias digitais, é possível comentar matérias, participar de enquetes, alterar conteúdos e criar produtos. Fonte: Silva (2000). EXPLORANDO IDEIAS UNIDADE 4 104 Essa dinâmica de superioridade da escrita perante as outras formas de comunicação durou muitos séculos, quando, no século XX, começou a mudar com a invenção de aparelhos como a televisão, o cinema e o rádio, que permitiam a gravação de formas de comunicação orais e visuais e reprodução em massa – algo que, desde a imprensa, só era possível com a comunicação escrita. Foi neste momento em que, de acordo com Castell (2019), “começou a revanche audiovisual”, que se tornaria completa com a popularização das tecnologias digitais de rede interativa. Para ele, os dois momentos são comparáveis por que, agora, uma nova revolução de propor- ções parecidas acontece, já que “pela primeira vez na história se integrou, no mes- mo sistema, as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana” (CASTELLS, 2019, p. 414), no uso de hipertextos e de interatividade. Essa integração, feita a partir de pontos variados ao redor do planeta, em uma dinâmica que pode acontecer em tempo real ou no tempo que a pessoa quiser, de maneira assíncrona, muda completamente todas as formas de comunicação e a maneira como os meios e os produtos de comunicação se apresentam estetica- mente. Se lembrarmos que Estética da Comunicação é o caráter sensível deste processo, ou seja, a maneira como a comunicação é sentida pelas pessoas que interagem, fica bem claro que estas mudanças tecnológicas alteraram a forma como estes produtos comunicacionais são apresentados. 105 Em geral, a comunicação e os seus meios se adaptam às mudanças tecnológicas que acontecem. Estas mudanças são impostas pela conveniência que cada meio assume na vida das pessoas. Isso aconteceu inúmeras vezes ao longo da história dos modelos de comunicação, mesmo antes da internet. Por exemplo: com a populari- zação da televisão, o rádio perdeu a hegemonia que tinha como meio de comunica- ção que prestava as informações básicas para as pessoas, mas ganhou importância em “penetrabilidade e flexibilidade, adaptando modalidades e temas ao ritmo da vida cotidiana das pessoas” (CASTELLS, 2019, p. 415). Os jornais impressos deixa- ram de ter caráter nacional, mas conseguiram ter edições locais simultâneas a partir da possibilidade de escrita, edição e impressão a distância. Os filmes passaram a ser pensados para exibição em telas pequenas dos televisores domésticos ao invés das grandes telas de cinema – e hoje precisam ser pensados para quem assiste a eles pela tela do celular. E, assim por diante, algumas adaptações semelhantes aconteceramcom absolutamente todos os meios de comunicação ao longo da história. Com a digitalização, o que aconteceu de mais marcante relacionado à adaptação das outras mídias foi uma apropriação das linguagens já existentes pelos meios digitais e adequação delas para novos formatos. Segundo Castells (2019, p. 19), este processo promoveu uma “perda de nitidez” das fronteiras entre os meios de comunicação de massa e os meios digitais. Isso fica claro, por exemplo, em materiais audiovisuais feitos para televisão, mas que são integrados em plataformas digitais, como uma matéria de um telejornal que é publicada como conteúdo extra em uma reportagem em um portal de notícias. Ou, por outro lado, quando um vídeo posta- do em uma rede social acaba sendo usado como material para algo que é exibido na televisão. A partir do momento em que não existem mais fronteiras claras entre os meios, há uma adaptação estética nos modelos de comunicação. Um exemplo interessante de se notar, neste caso, é a forma como as pessoas fazem o enquadramento das fotos e dos vídeos. Antes dos telefones celulares com câmeras, o modo tradicional de registrar imagens era na horizontal, que era como as máquinas fotográficas e câmeras faziam suas gravações de maneira mais natural e como as imagens eram exibidas na tela do cinema ou da televisão. Com a popu- larização dos smartphones (do inglês, telefones inteligentes), as fotos e vídeos na vertical se tornaram muito mais populares – a ponto de se transformar no modelo de exibição padrão em vários aplicativos, como no Instagram e no TikTok. UNIDADE 4 UNIDADE 4 106 A internet e a comunicação digital também moldaram um novo leitor, com novos hábitos, o que impactou em uma nova forma de apresentação dos conteúdos. Segundo Lúcia Santaella (2004, p. 32-34), a possibilidade de navegação interati- va que a internet e a informática proporcionaram envolveram “transformações perceptivo-cognitivas por parte do leitor”, que se transformou em um leitor imersivo. Segundo a autora, antes do ambiente virtual, existiam dois tipos de leitores – entendendo “leitores” como pessoas que consomem qualquer tipo de comunicação: o leitor contemplativo e o leitor movente. O leitor contemplativo era aquele leitor que existia antes dos meios de comu- nicação de massa, que basicamente tinha acesso a livros, jornais e a comunicações orais. A relação dele com estes produtos, e até mesmo com produções culturais e artísticas, era de contemplação. “O máximo de interação que existia era, por exem- plo, poder voltar algumas páginas de livro para reler alguma passagem, reimaginar alguma cena, de maneira solitária e concentrada” (SANTAELLA, 2004, p. 24). Outra forma de leitor surgiu depois, com os meios de comunicação de massa. É o leitor movente, já impactado pelos cinemas, a televisão, rádio, em meio ao cres- cimento das grandes cidades, do trabalho industrial e do consumo. O leitor destas mídias e obras culturais passa a ser alvo da publicidade, as regras de mercado passam a influenciar os produtos de comunicação e a interação com os meios de comunicação passa a ser mais ágil e transitório entre linguagens escritas, sonoras e visuais. NOVAS DESCOBERTAS Título: The Stunt Double (O Dublê, em inglês) Ano: 2020 Sinopse: o curta-metragem de nove minutos produzido a pedido da Apple conta uma breve história do cinema, desde os filmes mudos até os dias de hoje, sendo todo filmado com um aparelho celular, com o enquadramento na vertical. Comentário: como o enquadramento de todas as cenas é feito de um modo diferente, é curioso notar como os elementos são apresentados na tela. 107 “ Esse segundo tipo de leitor, no entanto, intermediário entre o leitor do livro e o leitor imersivo do ciberespaço, esteve preparando a sen-sibilidade perceptiva humana para o surgimento do leitor imersivo, que navega entre nós e conexões alineares pelas arquiteturas líqui- das dos espaços virtuais (SANTAELLA, 2004, p. 29). É um leitor que, por meio da hipertextualidade, pode mergulhar em um ambiente infinito de conteúdos “num roteiro multilinear, multissequencial e labiríntico que ele próprio ajudou a construir ao interagir com os nós entre palavras, imagens, documentação, músicas, vídeos etc.” (SANTAELLA, 2004, p. 33). Isso promove uma experiência estética que não existia antes. De acordo com a autora, a passa- gem de um tipo de leitor para o outro envolve grandes transformações sensórias, perceptivas, cognitivas e, consequentemente, transformações de sensibilidade. Não é comum você ler uma notícia e, depois de alguns minutos, ao clicar em alguns links, navegar em um site completamente diferente do assunto inicial que estava acessando? Já pensou que isso só é possível por causa deste roteiro sem linearidade dos hipertextos da internet? PENSANDO JUNTOS O leitor imersivo está tão envolvido nesta rede de informações e interações que ele acaba sendo um agente gerador de conteúdo, que eventualmente é aprovei- tado pelas mídias tradicionais. A avalanche de informações é tão grande, que as empresas de comunicação, por exemplo, não conseguem dar conta sozinhas da produção, curadoria e divulgação de informações. É preciso aproveitar estas fer- ramentas de interatividade para dar vazão a esta oferta tão grande de conteúdos. “Não há como produzir conhecimentos na intensidade, profundidade e velo- cidade exigidas pela era digital, senão por meio da ação coletiva” (CASTILHO; FIALHO, 2009, p. 123). Ou seja, o leitor ou o espectador se torna um agente ativo neste processo de criação e compartilhamento, em uma dinâmica em que não fica mais claro quem é o emissor e quem é o receptor de uma mensagem. Além da interatividade entre o público e os conteúdos, o ambiente virtual tam- bém permite que os usuários interajam entre si. Isso passa por uma grande revo- lução nas telecomunicações, que permitiu que pessoas se conectassem de maneira UNIDADE 4 UNIDADE 4 108 muito rápida entre si dos pontos mais extremos do planeta, mas também permitiu que várias teias de relações baseadas em laços comuns e identidades virtuais se conso- lidassem. É o que define e populariza as redes sociais. São ambientes onde as pessoas podem criar perfis e formar comunidades para troca de informações e afinidades. É possível, inclusive, assumir uma personalidade virtual muito diferente daquela que as pessoas vivem nas suas vidas cotidianas no mundo desconectado. É também possível criar conteúdos, postar e ter um alcance, dependendo do caso, até maior do que veícu- los de comunicação tradicionais alcançam – que é o conceito de Conteúdo Gerado por Usuários, que caracteriza uma segunda geração das redes sociais. NOVAS DESCOBERTAS Título: A Rede Social Ano: 2010 Sinopse: o filme conta a história da criação do Facebook. O enredo mostra Mark Zuckerberg em 2003, quando ainda era um estudante em Harvard, desenvolvendo a rede social e, depois, com a popularização do site, lidando com o sucesso e as complicações decorrentes do negócio. Comentário: é interessante notar, neste caso, o que fez com que o Face- book tenha se popularizado tão rápido entre os estudantes e, depois, em todo o planeta. O conceito de as pessoas poderem ter um perfil público em um ambiente virtual e terem a oportunidade de interagir com outras pes- soas foi inovador e revolucionou o conceito de redes sociais. Como podemos ver, estas ferramentas impactaram diretamente diversos produtos de comunicação. A duração das reportagens na televisão, o tamanho dos textos nos portais de notícia, as linguagens dos anúncios publicitários e diversas outras formas de comunicação assimilaram elementos da internet e das mídias sociais. Os espaços dedicados a comentários de leitores em portais de notícias são um exemplo bem claro de como alguns elementos visuais e interacionais foram imitados das redes sociais pelas mídias tradicionais. Antes, os leitores ou espectadores podiam, no máximo, mandar uma mensagem para o veículo de comunicação que decidia se pu- blicavaaquele comentário ou não. Depois das redes sociais, foram abertas caixas de mensagens onde os leitores podem fazer os comentários públicos para que outros usuários leiam; podem responder a comentários de outros leitores; podem ‘curtir’ ou 109 ‘descurtir’ interações de terceiros, dentre outras coisas. Ações pare- cidas com as que as ferramentas de mídias sociais oferecem só que dentro de um portal de notícias. Tudo isso para tentar usar elemen- tos que deram certo nas redes so- ciais e promover maior interação dos usuários com o portal. Adaptação das linguagens e formatos em função do que é dito nas redes também é muito comum na publicidade. Você lembra de uma história que ficou famosa de uma criança que escreveu um bilhete se passando por uma professora, que dizia que os alunos estavam dispensados da aula e que ao final dizia “É verdade este bilhete”? A história viralizou e, segundo o Google Trends, este foi o terceiro meme de internet mais comentado no Brasil em 2018. Segundo Pereira (2019, p. 135), “a ressignificação do conteúdo deste caso para diversos contextos é o que fez dele muito atrativo e compartilhado por artistas, marcas e imprensa”. Descrição da Imagem: a foto mostra um pedaço de folha de caderno rasgada no formato retangular com a seguinte mensagem escrita, em letra de forma: “Senhores paes (sic). Amanhã não vai ter aula poorque (sic) pode ser feriado. Assinado: Tia Paulinha. É verdade esse bilete (sic)”. Abaixo da palavra “vai”, há uma palavra ilegível rabiscada. O texto está escrito em tinta de caneta preta. O pedaço de papel está sobre uma superfície que tem as cores e alguns elementos da bandeira do Brasil. Figura 2 – Bilhete de garoto que tentou se passar por professora e viralizou nas redes sociais Fonte: Pereira (2019, p. 116). UNIDADE 4 UNIDADE 4 110 Aproveitando a ideia, Netflix e Casas Bahia, dentre outras empresas, fizeram cam- panhas usando a mesma estética e linguagem do garoto, com bilhetes anunciando promoções ou promovendo produtos. Casos como este acontecem com bastante frequência como estratégia das agências de publicidade e marcas. É uma forma de um produto tentar entrar nas discussões orgânicas que acontecem nas redes digitais e se aproximar do público. NOVAS DESCOBERTAS A Netflix aproveitou o assunto para fazer uma campanha no Insta- gram na mesma semana em que o caso do menino que escreveu o bilhete para tentar não ir para a aula. Na postagem, a empresa utiliza uma estética parecida com a foto original do bilhete: um recado ano- tado em uma folha de papel. O texto, em tinta preta, em letra de forma, está escrito: “Senhoras e senhores responsáveis, amanhã é dia de maratonar e não haverá aula. Pode maratonar em paz. Ass: Tia Netflix. É verdade esse bilete (sic)”. No lado direito da imagem, o texto da postagem diz: “Gente, pas- sando aqui para esclarecer que este bilhete não é real #FakeNews.” Acesse o QR Code a seguir e veja a postagem. Fonte: INSTAGRAM. Perfil da Netflix. 27/08/2018. Disponível em https:// www.instagram.com/p/Bm_m57lH123/. Acessado em: 14 abr. 2022. Essa apropriação não se restringe aos sites de notícias ou às agências de publicida- de. No mundo corporativo há um exemplo interessante quanto estas ferramentas interacionais podem ser aplicadas em vários lugares. Empresas começaram a usar ferramentas que criam ‘timelines’ (do inglês, linha do tempo) semelhantes às de plataformas como o Facebook e oferecem ambientes de ‘chats’ (do inglês, conver- sas) em grupo para que os funcionários possam interagir entre si e melhorar a comunicação das equipes, setores ou departamentos de uma mesma companhia. Esse tipo de ambiente virtual ganhou ainda mais espaço com a popularização do trabalho remoto ou em grandes companhias que têm várias sedes pelo mundo. Desta forma, as empresas conseguem promover os pilares corporativos e tentam melhorar o clima organizacional a distância, em um espaço totalmente virtual. Enfim, em geral, todos os meios e formas de comunicação se apropriaram da es- https://www.instagram.com/p/Bm_m57lH123/ https://www.instagram.com/p/Bm_m57lH123/ https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15231 111 tética, da apresentação e da linguagem das redes sociais para conseguir ter maior capilaridade e promover interatividade. Os meios de comunicação também ‘importaram’ vários destes recursos por uma questão de sobrevivência, segundo o pesquisador sobre estudos de mídia Mark Deuze. Com a internet, a mídia tradicional ganhou uma porção quase infi- nita de concorrentes. De acordo com o relatório da agência global de tendências de comportamento We Are Social, em 2020, em média, em todo o mundo, as pessoas passavam 6 horas do dia na internet, o que representa quase o dobro do tempo médio gasto assistindo televisão (3 horas e 24 minutos) e o triplo do tempo lendo mídias impressas e livros (2 horas e 2 minutos). O Brasil tem uma taxa de pessoas conectadas que ainda é baixa, se relacionada aos países desenvolvidos, com 75% da população conectada à internet, mas, de acordo com o mesmo relatório, as pessoas que têm acesso à internet passam, em média 10 horas e 8 minutos conectadas, o que representa a segunda maior média do mundo, enquanto o tempo assistindo televisão caiu, entre 2012 e 2021, de 2 horas e 15 minutos diários para 1 hora e 56 minutos, em média. Esse movimento acontece, em geral, porque as mídias digitais e a internet estão cada vez mais imbricadas nas nossas vidas e, também, porque apresentam informações e interações mais interessantes para uma boa parte da audiência do que as mídias tradicionais. Mais interativas e seg- mentadas, estas mídias digitais passaram a ofe- recer recursos para os usuários que escapavam das grandes mídias. Isso também mudou alguns conceitos estéticos de décadas que a mídia tratava quase como leis. É possível notar isso na apresentação dos con- teúdos visuais de uma maneira mais despojada e menos produzida. A apresentação de um programa de televisão é um exemplo. Antigamente, o apresentador quase sempre falava o que já tinha sido escrito anteriormente em UNIDADE 4 UNIDADE 4 112 uma lauda, o texto era reproduzido no teleprompter e os vídeos tinham que ter um critério mínimo de qualidade técnica para serem exibidos. Os repórteres de televisão eram as testemunhas oculares dos fatos e eram praticamente detento- res do monopólio da informação. Isso tudo mudou de maneira radical com a internet e a digitalização da comunicação. Primeiro, as pessoas passaram a ter acesso a equipamentos para captação de imagens digitais, depois elas passaram a compartilhar isso organicamente nas redes sociais e, além disso, passaram a gerar conteúdo para outros usuários da rede. Tudo isso, da câmera digital aos canais de YouTube, forçaram as mídias tradicionais a adotarem novos visuais: o texto pode ser mais despojado, uma apresentação dos programas tem a possibilidade de ser mais despojada e as imagens mais interessantes são aquelas que captam a notícia mais inusitada possível, mesmo que seja uma câmera de segurança que flagra um acidente de carro ou uma câmera de celular sem uma resolução boa que filma a hora exata de um desastre. Lauda jornalística: é um arquivo, impresso ou digital, em que o texto da televisão ou do rádio é escrito antes de ir ao ar. A lauda tem marcações técnicas para, no caso da televisão, apontar o que vai ser exibido enquanto o texto é lido e também mostra qual a duração de tempo que aquele texto vai ter quando for apresentado. Pode acontecer de os jornalistas levarem as laudas impressas para as bancadas dos telejornais para organizar a ordem dos textos que serão apresentados. Teleprompter: é um equipamento que fica acoplado às câmeras onde o texto da lauda é mostrado ao jornalista. Com ele, o jornalista consegue ler o que precisa dizer no ar ao mesmo tempo em que olha para a lente da câmera. O texto corre pela tela do equipamen- to conforme for o ritmo de locução do apresentador ou da apresentadora.Fonte: Silva e Penteado (2014). EXPLORANDO IDEIAS Para se aproximar do público e tentar estancar a fuga da audiência, os meios de comunicação apostam cada vez mais na interação com a audiência, na publicação de conteúdos enviados pelos telespectadores e leitores em uma dinâmica quase que colaborativa de produção. O texto escrito também mudou. As grandes repor- tagens de jornais perderam espaço para textos mais breves, diretos e objetivos, com linguagem mais acessível e chamativa. 113 Figura 3 – Teleprompter em programa de televisão Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: ht- tps://bit.ly/3Pk17re. Acessado em 13 abr. 2021. Descrição da Imagem: a fotografia mostra um aparelho teleprompter, usado para que o texto de televisão seja lido pelo apresentador. A imagem está na vertical. Há um monitor preto virado com a tela para cima e ele é re- fletido em um espelho, que reproduz o texto que está parcialmente coberto. É possível ler parcialmente, em azul na tela preta, a frase “Boa noite… O Roda Viva… Chegando ao… E queremos agradecer a…”. Ao fundo, há uma parede branca. De acordo com Mark Deuze (2019, p. 130), em geral, a criatividade no trabalho jornalístico, por causa de uma tradição que buscava a objetividade da infor- mação acima de tudo, tendia a ser vista como limitada “pela natureza rotinizada, formulada e altamente estruturada da indústria de notícias”, mas estes padrões acabaram tendo que ser frequentemente revistos para tornar a mídia tradicional mais atraente e acessível, como são as mídias sociais e alternativas. Na publicidade isso também acontece. Antes, uma campanha para ter muito impacto tinha que ser veiculada muitas vezes na televisão ou ter artistas muito famosos como garotos-propaganda, tinha que falar com muitos públicos ao mes- mo tempo e, consequentemente, acabava sendo muito cara. A internet e as redes sociais permitem hoje campanhas muito mais focadas nos públicos-alvo de uma marca, que fale exatamente a mesma língua daqueles consumidores. É possível também trabalhar com influenciadores nichados, que atingem os públicos com mais eficiência, mexendo com os sentimentos dos consumidores. Estas mudanças têm dois aspectos. Por um lado, tudo isso é muito positivo, pois proporciona uma comunicação mais acessível, mais plural, mais rápida e mais barata. As fontes de informação estão mais distribuídas. A apresentação delas também é mais atraente e interativa. Há espaço para conteúdos mais es- UNIDADE 4 UNIDADE 4 114 pecializados, e os públicos são melhor segmentados e entendidos pelos meios de comunicação. Por outro lado, essa dinâmica incentiva uma comunicação guiada por cliques, que pode ser sensacionalista, apelativa e que não tem incentivos para ser mais profunda. É mais difícil também identificar o que é confiável e o que não é. As fontes, mesmo com informação de qualidade, têm a credibilidade questionada. “ Ao mesmo tempo em que a cultura digital permite uma comuni-cação mais flexível do que a produzida pelas mídias tradicionais (impresso, rádio e TV), ela não privilegia o processo reflexivo, tendo em vista que muitas vezes a inovação é incorporada de maneira imediatista e de forma acrítica. Em síntese, o sistema digital rom- peu com o modelo de produção e distribuição da informação de um-para-todos, pois no ciberespaço a relação acontece no contex- to todos-todos, modificando comportamentos sedimentados pelas mídias tradicionais (MATTOS, 2013, p. 8). De acordo com Santaella (2004, p. 173), “estas mudanças também impactam na maneira como os leitores se relacionam com os conteúdos”. As mudanças estéticas promovidas pela digitalização moldaram um novo comportamento de consumo que, por meio da instantaneidade e da navegação intuitiva, tende a tornar o leitor menos resiliente diante de conteúdos que não sejam tão fáceis de consumir. “ A aprendizagem em um mundo de navegação, de zapping, de ins-tantaneidade e de realidade virtual não apresenta o perigo de criar seres incapazes de ler textos na sua integridade - de modo definitivo, de ler – indivíduos demasiadamente voltados para a ação, em detri- mento da reflexão e do esforço duradouro? Ou então sonhadores, mitômanos e zumbis, sem discernir a diferença entre o universo da fantasia e do mundo real? (NORA, 1997, p. 324-325). Por causa de todas estas mudanças mencionadas até agora, causadas pela internet e pelas redes digitais, o componente estético da mídia tem ganhado importância e atenção. Isso acontece porque “a estética da mídia é esta mistura complexa de impressões sensoriais que organizam a materialidade do ambiente digital – tanto para o usuário quanto para o produtor do conteúdo” (ZAGIDULLINA, 2019, p. 115 75). Desta forma, é a estética que vai, diante de uma enormidade de conteúdos que existem à disposição e que disputam a atenção e o tempo das pessoas, ordenar como os elementos são apresentados de modo que satisfaçam melhor o leitor. É ela que vai tornar um conteúdo mais afável e satisfatório para quem o lê ou assiste a ele. A estética ganha importância nesse momento porque as interações en- tre os usuários e os meios tem uma “tecnicidade”. Isso quer dizer que a arquitetura dos aplicativos e sites, as linguagens dos textos, as escolhas de cores e formatos dos produtos comunicacionais são guiadas por cri- térios técnicos. Segundo a pesquisadora de mídia Martina Zagidullina (2019), todos estes elementos são bem-sucedidos esteticamente se eles correspondem às expectativas dos usuários, leitores e espectadores. Na A experiência que um usuário ou cliente tem quando acessa um site ou um aplicativo é muito estudada pelo design e pelo marketing. É o conceito de User Experience (em inglês, experiência do usuário). Quer entender mais como isso funciona e como é aplicado na prática? Acesse o QRCode ao lado para dar o Play e ouvir um Podcast sobre o assunto. UNIDADE 4 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12461 UNIDADE 4 116 era da internet e das mídias digitais, é possível aferir detalhadamente quais recursos funcionam ou não, baseado nos dados de navegação e nos softwares sobre comportamento de audiência – algo que não existia antes. A estética também passa a ser mais abrangente com os sentidos do corpo humano. Pelo caráter multimídia que os meios têm atualmente, mais sentidos são ativados no espectador: desde o que ele vê e ouve, até o que ele toca, mesmo que virtualmente, baseado na quantidade de cliques que ele precisa dar para acessar determinado conteúdo. De acordo com Zagidullina (2019, p. 75), “estética, neste caso, é baseada em elementos técnicos (como a interface dos softwares, aplicativos e produtos), bio- lógicos (os sentidos das pessoas e como elas percebem estes recursos) e semânticos (as referências estéticas, os códigos visuais, sonoros e textuais usados)”. Mais uma vez, antes da internet, a estética das mídias estava muito centrada nos aspectos audiovisuais dos produtos comunicacionais. Portanto, levando em conta todo este histórico e o atual cenário da comunicação, percebe-se que os meios e os produtos de comunicação sempre se adaptaram às mudanças tecnológicas. No caso da internet, dos meios digitais e das redes sociais, essa adaptação aconteceu de forma muito significativa, uma vez que as mudanças promovidas por estas tecnologias foram muito profundas. Estas mudanças têm uma implicação estética, uma vez que a estética é a forma como os elementos são percebidos pela pessoa que interage com aquele produto comunicacional. Entre as principais mudanças estéticas promovidas por este fenômeno estão a linguagem multimídia, a interatividade, a agilidade, a objetividade e a informalidade. Com base nestes conceitos, os meios de comunicação tradicionais conseguem se conectar melhor com seus públicos e se aproximar com aquilo que as audiências exigem. 117 Caro(a) aluno(a)! No começo desta unidade, você foi questionado sobre os elementos que chamam a atenção em algum produto comunicacional que vocêconsuma com frequência há algum tempo, certo? Você conseguiu apontar quais são os fatores que fazem gostar daquele veículo, quais os conteúdos que agradam, se o formato é algo que chama a atenção e o que aquele veículo apresenta de diferente dos concorrentes? Digamos que você tenha escolhido um portal de notícias como o G1. Um dos diferenciais do site é que ele tem notícias em tempo real de todo o país, aproveitando as redações da Globo em todos os estados. Então, o conteúdo que o portal apresenta é um dos diferenciais perante os concorrentes, que podem ser mais focados ou não con- seguir ter tanta capilaridade. O visual do portal é limpo e o conteúdo é gratuito, o que também é uma vantagem em relação a outros sites de notícias que cobram dos leitores. É possível pensar em elementos estéticos que fazem com que a leitura do site seja melhor: os parágrafos são curtos, as matérias têm sempre imagens ou vídeos que dinamizam a leitura e os textos tendem a ser objetivos. Ao longo do tempo, o portal também mudou a arquitetura do site para assimi- lar inovações provenientes das redes sociais. As matérias têm caixas de comentá- rios, os assuntos mais importantes contêm hiperlinks que ajudam a contextualizar a leitura e o design é responsivo para aplicativos móveis. Em geral, estes elementos podem ser analisados e percebidos em todos os produtos comunicacionais. É comum que a linguagem, o conteúdo e o forma- to destes produtos, alinhados com as referências e sentimentos da audiência, sejam percebidos de diferentes formas e façam destes programas, sites ou portais mais agradáveis do que outros. UNIDADE 4 118 Agora é o momento de você mostrar que entendeu como se deu o processo evolu- tivo das mídias tradicionais e digitais e como os elementos estéticos estão relacio- nados a estas mudanças: 1. Leia o texto a seguir: A integração potencial de texto, imagens e sons no mesmo sistema – interagindo a partir de pontos múltiplos, no tempo escolhido (real ou atrasado) em uma rede global, em condições de acesso aberto e de preço acessível – muda de forma fun- damental o caráter da comunicação. E a comunicação molda a cultura porque nós não vemos a realidade como ela é, mas como são as nossas linguagens. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 20. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2019. p. 414. Com base neste trecho e nos conceitos trabalhados sobre as mudanças nos proces- sos de comunicação, é correto dizer que: I - Para Manuel Castells, a criação da internet e dos meios digitais é um fenômeno comparável à invenção do alfabeto. II - Um fator que marcou as mudanças promovidas pela internet e pelos meios digitais é a possibilidade de integrar linguagens escritas, sonoras e visuais em um mesmo produto. III - Os conteúdos postados na internet são mais importantes que os meios de co- municação tradicionais, que perderam valor por não serem interativos e não terem hipertextos. IV - As fronteiras do que são meios de comunicação de massa estão perdendo a “nitidez”, segundo Castells. V - A comunicação pela internet é uma forma menos acessível porque nem todas as pessoas têm acesso às ferramentas digitais e em rede. As alternativas corretas são: a) I, II e III. b) I, III e IV. c) II, III, IV e V. d) I, II e IV. e) II, IV e V. 119 2. Leia o texto a seguir: A navegação interativa no ciberespaço envolve transformações perceptivo-cognitivas por parte desse novo tipo de leitor que chamo de “leitor imersivo”, aquele que navega entre nós e nexos construindo roteiros não lineares, não sequenciais. SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Palus, 2004. Com base nas ideias de tipos de leituras que existiram relacionadas a diferentes meios, é correto afirmar: I - Antes da existência das mídias de comunicação de massa e das mídias digitais, o perfil predominante do leitor é caracterizado por Lucia Santaella como leitor contemplativo ou meditativo, porque a relação com os textos era apenas de contemplação, com poucas interações. II - A autora define um segundo perfil de leitor como movente, que é um leitor que migra entre mídias, ainda que elas não tenham muita interação entre si. III - A leitura imersiva só é possível por meio de óculos de realidade virtual ou em ambientes como o metaverso. IV - Por não ser linear, a leitura dos ambientes digitais é confusa e rasa. V - A passagem de um tipo de leitor para o outro envolve grandes transformações sensórias, perceptivas, cognitivas e, consequentemente, transformações de sen- sibilidade. Estão corretas as afirmações: a) I, II, III. b) I, II e IV. c) I, III, IV e V. d) II, III, V. e) I, II e V. 3. Leia o texto a seguir: O componente estético da mídia da comunicação está evidentemente aumentando agora. A estética da mídia pode ser descrita como uma mistura complexa de impres- sões sensoriais que organizam a materialidade do ambiente digital – tanto para o usuário do conteúdo quanto para o produtor de conteúdo. Mas também inclui inte- rações humano-mídia, seu “estilo” físico e organização material. A estética da mídia, 120 assim, pode ser definida em sentido amplo como a materialidade da comunicação tomada em seu aspecto perceptivo (como um usuário pode “saborear” a informação). ZAGIDULLINA, M. The media-aesthetic aspect of journalism. In: ZAGIDULLINA, M. (ed.). Journalistic text in a new technological environment: achievements and problems, London: Future Academy, 2019, p. 75. Disponível em: https://doi. org/10.15405/epsbs.2019.08.02.9. Acesso em: 4 maio 2022. Levando em conta os impactos da internet, das mídias sociais e da interatividade para a estética da comunicação, é correto afirmar: I - Meios de comunicação tradicionais não conseguem absorver ferramentas inspi- radas nas redes sociais porque isso implica a perda de credibilidade. II - A estética dos produtos comunicacionais tem ganhado importância porque, com a internet, eles ganham uma tecnicidade e sua eficiência pode ser aferida a partir de dados. III - A concorrência que as mídias sociais e alternativas impuseram aos meios de comunicação tradicionais fez com que estes veículos passassem a incorporar elementos próprios da internet e dos meios digitais. IV - A preocupação com a estética da comunicação fez com que os telejornais as- sumissem textos mais formais e rebuscados para se diferenciar dos vídeos da internet. V - Ao mesmo tempo que a apropriação de novos formatos, linguagens e ferramen- tas torna os produtos da comunicação mais atraentes e acessíveis, há o risco de que os meios de comunicação caiam na tentação de se orientar apenas pelos cliques e pelo que repercute melhor na audiência. Estão corretas as seguintes afirmações: a) I, II e V. b) II, III e V. c) II, IV e V. d) I, III e IV. e) II, IV e V. https://doi.org/10.15405/epsbs.2019.08.02.9 https://doi.org/10.15405/epsbs.2019.08.02.9 5A Comunicação na Atualidade Me. Pedro de Souza Lima Brodbeck Em um cenário de abundância de informação, a comunicação nos dias de hoje se dá em um contexto de permanente disputa pela atenção das audiências. Nesta unidade, vamos estudar as consequências do estado de hiperconexão que vivemos e como isso resulta no fenômeno da co- municação ubíqua, em que as pessoas são capazes de se comunicar o tempo todo. Também vamos tratar da Economia da Atenção e a impor- tância de recorrer a produtos comunicacionais que se destaquem em meio à imensidão de informações que estão disponíveis nos ambientes virtuais. Vamos tratar das características estéticas da comunicação na atualidade e como ela impacta nas disputas por visibilidade. UNIDADE 5 122 Qual é a primeira coisa que você faz quando acorda? Se você usa um despertador no celular para acordar, é possível que, ainda na cama, uma das primeiras coisas que você faça todos os dias seja dar uma olhada nas notificações do seu celular. Indo mais além, pode ser que, assim como muitas pessoas, antes de levantar, você já acesse alguma rede social. Ainda háquem prefira ligar a televisão ou o rádio enquanto se arruma para sair. Dependendo dos seus hábitos, é provável que você seja ‘bombardeado’, quase que involuntariamente, por uma infinidade de informações logo nos primeiros minutos do dia. Depois, ao longo do dia, isso se repete. São várias notificações no celular, vários outdoors, letreiros, sons e es- tímulos visuais que chegam sem que você note ou busque aquelas informações. Entretanto, entre as milhares de informações que chegam até você diariamente, o que faz com que algumas coisas chamem sua atenção e outras não? Vivemos em um estado de hiperconexão, em que os elementos digitais e virtuais não se diferenciam mais da nossa “vida real”. Não existe mais divisão do universo on-line e do mundo off-line. As informações que circulam nas redes chegam a nós sem que precisemos acessar sites ativamente – somos impactados por ela pelo simples fato de estarmos conectados o tempo inteiro. Diante de uma abundância de informação, a atenção das pessoas é o maior alvo da disputa dos produtos comunicacionais. A publicidade, por exemplo, incorporou elementos das comunicações visuais, das expressões urbanas, das manifestações artísticas e das relações sociais para, por meio da estética, chamar a atenção do olhar dos consumidores. Isso acontece de tal forma que nem sempre nos damos conta que estamos consumindo uma propaganda ou estamos sendo alvo de uma campanha. Em resumo, a comunicação na atualidade, mais do que nunca, é uma competição ferrenha pela atenção das pessoas, e diante de uma avalanche de informações, as mídias e produtos comunicacionais recorrem a novos elementos para conseguir despertar o interesse da audiência e dos públicos. Vamos pensar, então, nas maneiras que algumas formas de comunicação assu- mem que chamam a nossa atenção. Muitas marcas escolhem trabalhar com influen- ciadores digitais ou personalidades das redes sociais para divulgar suas campanhas e produtos porque, por meio da credibilidade e identificação que estas pessoas criam com seus públicos, conseguem mais visibilidade e melhores retornos. 123 Para tentar entender melhor como estas dinâmicas funcionam, vamos tentar analisar na prática como é a estética deste tipo de informação. Você tem algum influenciador das redes sociais que acompanha e que gosta do trabalho? Escolha alguma personalidade das redes digitais que atue como influenciadora e analise as postagens dela nas mídias sociais. Observe o que falam as postagens em geral des- ta pessoa. Ela fala sobre o dia a dia dela? Ela aborda alguns assuntos específicos? Se sim, quais são? As fotos que ela posta parecem que têm uma produção profis- sional ou são feitas por esta pessoa mesmo? Sobre o que são as publicidades que ela posta? Faça uma lista destas características e analise quais destes elementos você acha que fazem esta pessoa ser uma influência positiva para o público dela. Por que você acha que as postagens deste influenciador ou influenciadora se destacam em meio a centenas de outras postagens que aparecem nas redes so- ciais? Por que você acha que as marcas que patrocinam este perfil o escolheram? Quais são os elos de identificação que ele cria com a audiência? No que ele se diferencia de outros influenciadores que têm características semelhantes? Reflita sobre estas questões e anote seus apontamentos no seu Diário de Bordo. DIÁRIO DE BORDO UNICESUMAR UNIDADE 5 124 Quando falamos dos processos de comunicação na atualidade e as influências estéticas que estes processos sofrem, precisamos entender o contexto em que vivemos. Hoje, a comunicação se distribui e as informações chegam até as pes- soas por um fluxo contínuo. Isso acontece porque vivemos em um estado de hiperconexão. A conexão ao mundo virtual extrapola os computadores e, por meio dos aplicativos e dispositivos móveis, chega até as pessoas a todo momento. Segundo o pesquisador dos estudos de Comunicação Wilson Gomes, a hiperco- nexão é um estado em que as pessoas estão permanentemente conectadas por meio de aparelhos que raramente desligamos – como os nossos celulares, por exemplo. “ Mais que isso, nesse estado, as pessoas estão cada vez mais rodeadas por múltiplos aparelhos, frequentemente com funções redundantes, por meio dos quais satisfazem funções e necessidades como estar em contato social, atualizar-se sobre fatos, coisas e pessoas que lhe interes- sam, obter informação, conversar com outras pessoas, transferir para redes sociais digitais conteúdo de todo o tipo e formato, cumprir e agendar compromissos, orientar-se no espaço e na vida, matar o tédio, trabalhar, relacionar-se, entre outras coisas (GOMES, 2018, p. 80). “Entrar na internet” era uma expressão comum nos primeiros anos do século XXI, mas perdeu o sentido a partir do momento em que temos dispositivos pessoais que carregamos conosco a todo momento e que estão sempre conectados. Nossas ações e interações se dão olhando e tocando em telas, ao mesmo tempo que rea- lizamos as atividades cotidianas que sempre fizemos – indo trabalhar, pegando ônibus, almoçando. Desta forma, não existe mais separação entre a vida on-line e off-line, entre a vida real e virtual. “ O acesso a estes ambientes se desloca, todas as horas do dia e em todas as circunstâncias que se desejar: pode-se ler, ver, publicar, compartilhar e interagir com o ambiente digital durante a aula, no silêncio da cama, no banheiro, na reunião, na praia, nas férias, no aeroporto (GOMES, 2018, p. 81). 125 Este fenômeno leva ao que a pesquisadora Lúcia Santaella (2014, p. 12) chama de comunicação ubíqua. “É a possibilidade de estar apto para se comunicar em todos os lugares, em todas as situações, a todo momento”. É quase que uma condi- ção que multiplica a presença da pessoa a múltiplos ambientes ao mesmo tempo, conversando com um grupo de amigos pelo aplicativo de mensagens, resolvendo pendências bancárias pelo celular, fazendo alguma solicitação de um serviço pela internet – ainda que essa multiplicidade da presença aconteça de maneira virtual. Você já parou para contar quantos aparelhos, equipamentos eletrônicos ou dispositivos pessoais você carrega que estão conectados à internet o tempo todo? E se você contar, também, os eletrônicos que têm em casa, quantos são? PENSANDO JUNTOS O chamado “acesso always on” (do inglês, sempre ligado) tem proporcionado uma reinvenção de hábitos sociais, ainda que considerando as diferenças econô- micas, sociais e de contexto de cada pessoa, mas desafiando “os limites de tempo e espaço, reconstruindo, obviamente, outras formas de relações entre os processos de produzir, consumir e distribuir informação” (CAMARGO, 2016, p. 64). NOVAS DESCOBERTAS Título: Buscando… Ano: 2018 Sinopse: uma jovem de 16 anos desaparece e seu pai recorre à polí- cia para tentar encontrá-la. Um dia depois, sem que as investigações consigam encontrá-la, ele decide acessar o computador dela para tentar buscar algumas pistas que possam ajudar a levar ao paradeiro da garota. Comentário: o filme é um suspense contado todo por imagens de telas de computador, celulares, imagens de câmeras de segurança e vídeos gravados pela garota. Além de apresentar um formato diferente, ele dá a noção de como as informações da nossa vida estão dispostas também nos ambientes virtuais e como estes dispositivos fazem parte da nossa vida, mesmo que a gente não perceba. UNICESUMAR UNIDADE 5 126 Resolver várias coisas de maneira virtual ou remota é muito natural hoje em dia, mas antigamente era necessário despender uma parte do dia para cada uma destas tarefas. A comunicação por telefone, por exemplo, dava conta de só algumas destas atividades. Hoje, a comunicação ubíqua leva a uma atividade que, antes da hiperconexão, só seria possível desafiando o tempo e o espaço. Segundo Santaella (2014, p. 13), estas atividades parecem naturais para nós por causa de um outro fenômeno, chamado de computação pervasiva. “ A computação pervasiva, por sua vez, significaque o computador está embarcado no ambiente de forma invisível para o usuário. Des-se modo, o computador tem a capacidade de obter informação do ambiente no qual ele está embarcado e utilizá-la para dinamica- mente construir modelos computacionais. Com isso, o computador pode controlar, configurar e ajustar a aplicação para melhor atender as necessidades do dispositivo ou usuário. 127 Na prática, isso quer dizer que nem notamos que estamos conectados, gerando, o tempo inteiro, informações que serão usadas nas nossas interações futuras. Sabe quando o aplicativo de entrega de comida manda uma mensagem oferecendo uma promoção de algum prato que você sempre pede, bem na hora do almoço? Ou quando o aplicativo que você usa para encontrar o melhor caminho avisa qual é o melhor horário para sair de casa sem pegar trânsito? São informações que, com base no nosso uso de algumas ferramentas, são fornecidas, interagem com o nosso ambiente e se aplicam para tentar solucionar algum problema real. Estas situações dão uma medida do volume brutal de informações que são produzidas por nós e também que chegam até nós o tempo inteiro, sem trégua. E que são totalmente impactadas ou até mesmo geradas pelos aparatos tecnológicos e interacionais das ferramentas de comunicação que existem atualmente. Hiperconexão: é o estado em que as pessoas estão permanentemente conectadas à in- ternet por múltiplos aparelhos que raramente desligam e têm funções redundantes. Estes equipamentos permitem que estejamos informados, que tenhamos contatos sociais e que possamos transferir informações, arquivos, imagens e dados a todo momento. Comunicação ubíqua: é a possibilidade de poder se comunicar a todo momento, em todas as situações, em qualquer lugar. É uma comunicação que praticamente multiplica a nossa presença, mesmo que seja de forma virtual. Só é possível por causa do estado de hiperconexão. Computação pervasiva: é o fenômeno causado por estarmos conectados de uma forma que sequer percebemos. Temos vários aparelhos e equipamentos que estão conectados automaticamente entre eles e que nos auxiliam em tarefas diárias e nem nos damos conta. Fontes: Gomes (2018, p. 80-81) e Santaella (2014, p. 12-13). EXPLORANDO IDEIAS Quando falamos no ato de “se informar”, inicialmente imaginamos alguém lendo um jornal ou um portal de notícias. Entretanto, neste caso, é um movimento que vai muito além disso. O simples fato de estar conectado, recebendo notificações ou rolando os aplicativos de redes sociais, já coloca a pessoa em contato com uma série de informa- UNICESUMAR UNIDADE 5 128 ções que ela não está necessariamente buscando, mas que de alguma forma já chegam até ela. As comunicações digitais são formas de comunicação massivas, mais massivas do que qualquer outra forma de comunicação que já existiu, especialmente levando em conta o volume brutal de dados e informações geradas por elas. Com este volume gigantesco de informações que chegam até nós ao longo do dia, em todos os momentos, nos ambientes virtuais e não virtuais, a competição pela atenção das audiências se torna ainda mais acirrada. Nas ruas e na televisão, as informações, as campanhas publicitárias, os noticiários e as produções culturais precisam ser in- teressantes o suficiente para fazer as pessoas tirarem os olhos do celular. Já nas redes sociais, o conteúdo precisa se destacar em meio a uma infinidade de outros conteúdos que disputam relevância nas plataformas. Quando os primeiros computadores começaram a ser projetados, nas déca- das de 1960 e 1970, ainda que longe do uso comercial e doméstico que vieram a ter anos depois, o pesquisador americano Herbert Simon (1971, p. 40-41), já prevendo as consequências do aumento de fluxo de informações, afirmou que: “ Em um mundo rico em informações, essa fartura significa falta de outra coisa: uma escassez do que quer que seja que a informação consome. O que a informação consome é bastante óbvio: ela con- some a atenção de seus destinatários. Portanto, a fartura de infor- mações cria déficit de atenção e uma necessidade de alocar essa atenção de forma eficiente em meio à superabundância de fontes de informação que possam consumi-la. É uma das primeiras definições do que hoje ficaria conhecido como Econo- mia da Atenção, que afirma que, historicamente, sempre buscamos pela maior quantidade de informações possível. Entretanto, quando há muita informação à disposição, a atenção das pessoas é que passa a ser disputada. 129 Isso assumiu uma proporção muito maior e perma- nente com os dispositivos móveis que nos deixam hi- perconectados. “A onipresença de computadores cada vez menores, conectados o tempo todo e usados para tudo estendeu essa inversão entre infor- mação e atenção para uma escala global” (WILLIAMS, 2021, p. 37). O que isso quer dizer é que, enquanto a comunicação teve que lidar, na maior parte do tempo, ao longo de décadas, com a escassez de informação, agora que há abundância de informações, há escassez de atenção. Com isso, as ferramentas usadas para guiar o olhar das pessoas dependem cada vez mais de elementos que ajudem a despertar a curiosidade e o interesse das audiências, em uma disputa diferente da que existia antigamente. “ Muitos dos sistemas que desenvolvemos para ajudar a guiar nossas vidas – notícias, educação, direito, publicidade e assim por diante – surgiram em um ambiente de escassez de informações e conti- nuam a operar segundo essa premissa. Estamos apenas começando a explorar como esses sistemas deveriam nos servir e no que pre- cisam mudar neste novo ambiente de abundância de informações (WILLIAMS, 2021, p. 39). UNICESUMAR UNIDADE 5 130 Além disso, é importante pensar que, segundo Wilson Gomes (2018, p. 80), esta- mos permanentemente conectados às redes sociais ou plataformas que formam o que ele chama de internet social. Ou seja, não são meros ambientes virtuais, mas espaços de interação entre usuários. É uma rede baseada em mídias sociais em que há um intenso consumo e produção de conteúdo digital feito por estes usuários para outros usuários. “ As áreas da informação e conteúdo foram as mais impactadas, po-sitiva e negativamente, com essa inclusão de novidades, pois a co-laboração e a participação ativa na gestão de conteúdos passaram a serem feitas pelo próprio usuário e não mais por um quarto poder delimitador (CAMARGO, 2016, p. 64). Estas redes formam ambientes digitais que “cumprem funções de referência inte- lectual, afetiva, política, ideológica, identitária etc. de acordo com a clivagem que cada um considerar importante e usar como critério para selecionar as conexões que manterá on-line” (GOMES, 2018, p. 81). Isso quer dizer que temos identidades virtuais em vários ambientes, que são portáteis, pessoais e dos quais nunca nos desconectamos, onde criamos laços e nos informamos em vários – e às vezes em todos – os aspectos das nossas vidas. NOVAS DESCOBERTAS Título: Liberdade e Resistência na Economia da Atenção Autor: James Williams Editora: Arquipélago Editorial Sinopse: James Williams, ex-estrategista do Google, fala sobre como a nossa atenção é condicionada pelo volume e pela velocidade dos estímu- los do ambiente digital e alerta para os riscos desta dinâmica, centrada nas novas tecnologias. Comentário: o livro aborda reflexões interessantes sobre como acontece a disputa pela atenção das pessoas e como aplicativos estimulam hábitos de imersão nestes ambientes. 131 “ Nesse cenário, a troca de informações e acesso a conteúdos diversos são cada vez mais fluídos e convergentes ao mesmo tempo, por cau-sa da assimilação dessas tecnologias como meios de comunicação, caracterizando uma paisagem midiática diferente das já vividas na era dos meios de massa. A atual, se encontra no desafio de contri- buir para o desenvolvimento das experiências móveis informativas, individuais ou coletivas (CAMARGO, 2016, p. 76). É importante pontuar desta forma para entendermos, então, que estamos conectadoso tempo todo, que essa condição leva a um processo de comu- nicação permanente por meio de dispositivos que, mesmo que não per- cebamos, nos distribuem uma avalanche de informações o tempo inteiro. Estas informações são abundantes, estão em todo lugar, mas sobretudo neste ambiente formado por notificações de serviços, notícias, postagens e conteúdos gerados por outros usuários, dentre outras, que despertam a nossa atenção de acordo com os nossos laços e com as interações das nossas identidades virtuais e reais. Neste contexto, de hiperconexão e comunicação ubíqua em um mercado em que a atenção está em disputa para que as informações tenham visibilidade, a estética ganha uma im- portância ainda maior nos produtos comunicacionais. Lembrando que estética trata não apenas da beleza das coisas, mas diz respeito a toda a nossa experiência sensível diante destas coisas – e como elas nos provo- cam sensações, reações e nos despertam sentimentos. UNICESUMAR UNIDADE 5 132 Vamos pensar de maneira mais prática. Fica claro que uma campanha publicitária, por exemplo, para se destacar em meio a todas as informações que recebemos, deve mexer com as pessoas de alguma forma. É natural, então, que elas busquem formas de se aproximar de seus públicos, de ser mais intimista, de chegar até um potencial con- sumidor de maneira aparentemente mais natural. Por outro lado, “qualquer linguagem publicitária que reproduza a estratégia intrusiva de anúncio, típica da lógica massiva de comunicação, está fadada ao fracasso” (PEREIRA; HECKSHER, 2008, p. 2). Por isso, por exemplo, as campanhas se utilizam tanto de influenciado- res digitais para divul- gar produtos e serviços. Não basta que as pes- soas saibam que estes produtos estão à dispo- sição, que são bons ou baratos. Segundo Issaf Karhawi (2016, p. 43), “estes influenciadores ganham relevância pela necessidade que as pes- soas têm, diante de tanta informação, de alguém que ‘filtre’ os conteúdos que são relevantes ou não e por reunirem atributos que lhes conferem credibilidade, reputação e prestígio”. “Em um mundo de links e feeds é mais fácil achar a próxima coisa a ser lida, vista ou ouvida por indicação de amigos do que pela fidelidade inabalável a uma determinada publicação” (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p. 35). Pessoas que influenciam as outras e que servem como referência para as demais sempre existiram – e a comunicação sempre se utilizou delas para promover produtos, marcas ou ideais. Entretanto, com as mídias sociais esta influência e popularidade ganhou ferramentas para ser medida. E com o aumento do volume de informações, estas figuras se tornaram mais do que garotos-propaganda, transformaram-se em verdadeiros curadores de conteúdo. Portanto, entende-se que a comunicação é mais eficiente se ela vem por intermédio de alguém em que nós confiamos, que surge nas nossas redes com frequência e que vai ser capaz de indicar ou falar sobre assuntos que nos interessam, diante da infinidade de coisas que surgem na internet. 133 Reputação: é uma das características mais importantes de influenciadores digitais. Ela se constitui como a percepção construída de alguém pelos demais atores de um ambiente. A reputação não é construída apenas pelas ações de um influenciador, mas estas ações influenciam como uma pessoa vai ser percebida pelas demais. As redes sociais têm ferra- mentas de interação e dados que permitem que os influenciadores tenham um “termô- metro” sobre como está a reputação deles. Autoridade: trata-se do poder de influência que se tem perante outras pessoas. No caso dos influenciadores, é uma medida da efetiva influência de um ator com relação à sua rede, juntamente com a percepção dos demais atores da reputação dele. Popularidade: é um valor relacionado à audiência. Nas redes sociais, a audiência é o “va- lor de rede” mais facilmente medido, por causa da facilidade de visualizar os seguidores que um influenciador tem ou pelas visualizações e interações que suas postagens geram. Fonte: RECUERO, R. Reputação, popularidade e autoridade em redes sociais na internet. Social Media, Pelotas, 28 out. 2008. Disponível em: https://bit.ly/2FcnTge. Acesso em: 11 maio 2022. EXPLORANDO IDEIAS No caso das campanhas publicitárias, por exemplo, os influenciadores são muito usados porque, ao falar de um produto, aquela propaganda é apresentada quase como se fosse uma recomendação natural que aquela pessoa faria – mesmo que as postagens publicitárias sejam publicadas com uma sinalização que fazem parte de uma campanha. Estes “publis” têm uma estética mais natural, às vezes, até com um visual amador, mas que conversa melhor com as nossas necessidades. É o que também ajuda a explicar porque muitas pessoas preferem se informar por canais do YouTube ao invés dos veículos de imprensa tradicionais. Segundo Jean Burgess e Joshua Green (2018, p. 32), “muitos youtubers chamam a atenção e cativam audiências gravando vídeos sem aparatos técnicos complexos ou edições sofisticadas, mas apostando em histórias bem contadas, de forma direcionada e pessoal ao público”. Então estão embalados no mesmo pacote, que fazem com que as pessoas gostem e sigam um influenciador, o conteúdo que ele produz e as identificações que ele cria com os públicos. Isso quer dizer que não é apenas o texto ou o vídeo que ele posta que chama a atenção, mas todas as ideias que ele representa e a maneira como ele faz isso. “Nesse processo, o influenciador comercializa não apenas banners em seu blog ou negocia posts e vídeos pagos em que fala de marcas parceiras, mas monetiza a sua pró- pria imagem. Assim, aceita-se o Eu como uma commodity” (KARHAWI, 2016, p. 42). UNICESUMAR UNIDADE 5 134 Nestes exemplos, fica bastante claro que a experiência estética, fundamental para que os produtos comunicacionais cheguem até suas audiências e impactem seus públicos em um contexto de disputa intensa pela atenção dos usuários, não está relacionada à beleza, à qualidade técnica ou estritamente ao conteúdo, mas, sim, na capacidade que pessoas ou produtos comunicacionais têm de atrair o olhar das pessoas, criar conexões e promover interações. A trajetória histórica do entendimento sobre a estética das artes, por exemplo, pode nos ajudar a entender o estado atual de disputa pela atenção das pessoas e de criação de conexões. Podemos relembrar como o conceito do valor estético mudou ao longo do tempo se olharmos novamente para a história das artes. Na Pré-História, por exemplo, as pinturas rupestres eram as informações mais fun- damentais para aqueles povos, pois eram aquelas manifestações artísticas que, de acordo com a crença da época, ajudavam a espantar os perigos da natureza. O valor daquelas informações estava centrado na capacidade de elas ajudarem aquelas pessoas a sobreviver, dominar aqueles animais e ter alimento para o dia seguinte. No Impressionismo, muitos séculos depois, em um período que mudou radicalmente a forma como as artes passaram a representar a realidade nas obras de arte no século XIX, a expressão artística esteve baseada na estética do movi- mento e das luzes, influenciado sobretudo pela invenção da fotografia. Com isso, se criou uma nova forma de ver as coisas. As pinceladas distorcidas e os traços grossos deste movimento, por mais que parecessem mostrar uma realidade di- ferente do que os quadros estavam acostumados a retratar, mudaram o conceito do que era considerado arte ao aplicar uma estética que fazia mais sentido para aquele momento. Portanto, é importante notar que o valor estético de uma épo- ca está relacionado com os valores e os contextos em que ela está inserida, com as necessidades daquele tempo. Quando estas produções tinham como objeti- vo repassar uma informação de uma geração para outra, ela acontecia com um formato. Quando as obras de arte eram fundamentais para popularizar alguma 135 convicção política, religiosa ou filosófica de um determinado período, a estética delas também passou paraoutras. E assim por diante. Quando, hoje, a necessidade é gerar identificação e interação entre as pessoas na disputa pela atenção, a estética então se presta a estes objetivos. Se pensarmos na arte atual, a estética que mais chama a nossa atenção e que conversa melhor com as pessoas é aquela que está inserida nos espaços urbanos, que guia nosso olhar para as contradições do mundo moderno, que consegue ser bem-humorada ao mesmo tempo em que é socialmente relevante e que explora bem os ambientes midiáticos. Um exemplo de artista que conseguiu se tornar muito popular fazendo trabalhos deste tipo é o inglês Banksy. Com obras satíricas, o artista ficou famoso por fazer pinturas em muros de ruas da Inglaterra e dos Estados Unidos com críticas sociais e políticas (Figura 1). Ele conseguiu tornar suas produções artísticas em eventos midiáticos que atendem aos interesses do público contemporâneo. Descrição da Imagem: a foto mostra a lateral de um prédio com cerca de três ou quatro andares em que há uma pintura ocupando quase todo o muro da constru- ção. Esta pintura tem uma grande bandeira da União Europeia – um quadrado azul com um círculo formado por doze estrelas amarelas – e um homem, em preto e branco, sobre uma escada, que está com um martelo e uma estaca retirando uma destas estrelas. A obra faz uma alusão ao Brexit, movimento nacionalista inglês que retirou o Reino Unido da União Europeia. Há um gramado ao lado do muro onde a obra foi pintada e, na parte de baixo da foto, ainda há uma grade e uma calçada que estão ao lado deste gramado. Figura 1 – Mural pintado por Banksy com crítica ao Brexit em Dover, na Inglaterra Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https:// bit.ly/3Pok8ZR. Acesso em: 22 maio 2022. É possível citar como exemplo disso uma obra de arte dele que mostrava uma menina com um balão em formato de coração, e que foi leiloada por 1 milhão de euros, mas, no minuto seguinte ao lance vencedor, a obra se autodestruiu par- cialmente, sendo picotada pela moldura onde estava armazenada. A obra dele, em si, conseguiu gerar um fato midiático que chamou a atenção para o trabalho e para a sua crítica ao mercado de leilões de obras de arte. Até mesmo o fato dele usar um pseudônimo e não revelar a própria identidade é mais um fator que faz com que as pessoas tenham mais curiosidade pelos trabalhos UNICESUMAR UNIDADE 5 136 que ele faz. Notem que o artista se utiliza de vários elementos para conseguir destacar seu trabalho. É essa a estética do nosso tempo: uma arte contemporânea, midiática, urbana e que consegue despertar o interesse e chamar a atenção das pessoas. Por isso, pensando na atividade da comunicação e suas estéticas contempo- râneas, o mais importante é promover uma comunicação que consiga se destacar em meio a uma oferta imensa de informações. E para isso, vale mais uma comu- nicação mais intimista, que fale com as audiências segmentadas, que pareça mais natural do que profissional, que desperte emoções, que solucione problemas reais e que se destaque diante de uma infinidade de distrações. NOVAS DESCOBERTAS Um exemplo interessante da estética dos meios digitais é o streamer (do inglês, pessoa que faz transmissões ao vivo) Casimiro Miguel. Fa- zendo transmissões com uma webcam de um quarto na casa dos seus pais, ele conseguiu bater o recorde brasileiro de audiência simultânea em uma live, com mais de 500 mil pessoas. Devido ao sucesso e identificação que criou com o público, ele pas- sou, em 2022, a transmitir vários jogos de futebol de campeonatos estaduais e do Campeonato Brasileiro – e, mesmo com uma estrutura incomparável com os grandes canais de televisão, centenas de milha- res de pessoas escolhem assistir às partidas com ele pela forma mais descontraída e próxima do público que ele imprime em suas trans- missões. Acesse o QR Code a seguir e veja a postagem. Fonte: O DIA que Casimiro tentou comprar um novo iPhone. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (22 min). Publicado pelo canal Cortes do Casimiro [OFI- CIAL]. Disponível em https://bit.ly/3O8EqFs. Acesso em: 29 maio 2022. É claro que não é apenas a dimensão estética que determina o que chama a atenção das pessoas nos ambientes virtuais. Vivemos em uma dinâmica em que as interações e expe- riências são cada vez mais mediadas pelas tecnologias. Nas redes sociais, por exemplo, os algoritmos também são fundamentais para definir o que ganha mais visibilidade e o que não vai ser tão distribuído aos demais usuários. Em todo caso, o próprio formato das publicações e a estética destas informações influenciam nestes algoritmos. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15348 137 Muito se fala dos algoritmos das redes sociais e como eles impactam na visibilidade de determinados conteúdos em detrimentos de outros, mas você sabe o que eles são e como eles funcionam? Acesse o QRCode ao lado para dar o Play e ouvir um Podcast sobre este tema. Contudo, levando em conta apenas os formatos das comunicações e nas suas estéticas, é interessante ver como o formato das redes sociais, e suas dinâmicas, passaram a ditar o modo que movimentos e ativistas, além de pessoas e marcas, disputam espaço e atenção das pessoas e dos públicos. Este é um “paralelo interessante de se fazer, porque é por meio da visibilidade que movimentos sociais e ativistas conseguem angariar simpatizantes e apoiado- res” (PRUDENCIO, 2018, p. 257) para que suas demandas sejam realizadas – e visibilidade está diretamente relacionada à disputa cada vez mais acirrada pela atenção das pessoas neste contexto que vivemos. É possível notar como a disputa pela visibilidade de ativistas, movimentos sociais e outros atores deste tipo se reconfigurou com as redes sociais, por exemplo. Dá para fazer um paralelo de como duas manifestações por impeach- ment (do inglês, impedimento), separadas por duas décadas de distância, se relacionaram de maneiras diferentes com a mídia, em função dos con- textos comunicacionais em que aconteceram. A primeira, em 1992, em que os manifestantes foram às ruas pedir o afastamento do presidente Fernando Collor, toda a estética estava direcionada à televisão. Mais do que angariar pessoas, um ato tinha visibilidade se ele conseguia chamar a atenção da televisão. A partir das imagens transmitidas daquele evento para todo o país ou para até outros países, se media o sucesso, a adesão e a importância daquela manifestação. “ A mídia engendrou o evento na medida em que levou a rua para as páginas de jornais e revistas, e para as telas de TVs, e permitiu que este local coletivo se fizesse ou até mesmo se refizesse como aquilo posto pelos meios de comunicação (QUINTÃO, 2010, p. 6). UNICESUMAR https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/12462 UNIDADE 5 138 Já o segundo exemplo, de 2015 e 2016, em que pessoas foram às ruas pedir a saída da então presidente Dilma Rousseff, ainda que a forma como a televisão transmitia os protestos fosse ainda muito importante, uma nova dinâmica en- trou em cena: as interações via redes sociais. Boa parte da estética do protesto estava centrada na geração de elementos capazes de gerar postagens que dessem visibilidade ao ato pelas plataformas virtuais – o protesto começava já quando as pessoas confirmavam a participação nos eventos do Facebook e se encerravam com as postagens de fotos nos perfis pessoais. Os símbolos também mudaram. Antes, as principais marcas das manifestações eram bandeiras e faixas que, no local dos protestos, davam o tom imagético do ato. No caso do pedido pelo impeachment de Collor, ficou marcado também o ato de pintar o rosto, movimento que foi batizado de “caras-pintadas” (Figura 2) – um elemento que faz muito sentido em um ato presencial, que vai gerar imagens para a televisão. Descrição da Imagem: uma foto em preto e branco mostra, em primeiro plano, dois jovens. À direita, um rapaz, de cabelos curtos e camiseta branca está de lado, virado para o centro da imagem, pintando o rosto de uma jovem. Ele segura doispotes de tinta com a mão esquerda e, com a mão direita, pinta a bochecha da jovem. A moça tem cabelos longos escuros e cacheados, está vestindo uma camiseta branca por baixo de um casaco claro. Ela usa uma bolsa com uma alça que atravessa o corpo dela na diagonal. Ela está com as duas mãos na altura da cintura enquanto o homem pinta o lado direito do rosto dela. Eles estão no gramado em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, que aparece ao fundo da foto. Várias outras pessoas também aparecem ao fundo, no mesmo gramado. Já nos protestos e atos atuais, após a popularização das redes sociais, o que impera são as postagens. Elas podem ser simplesmente fotos, mas também são artes, montagens, memes e imagens que se adéquam às plataformas digitais, e pelos quais as pessoas podem manifestar apoio ou repúdio apenas com alguns cliques. Se antes se disputava a atenção e o enquadramento que a mídia de massa daria a uma manifestação, hoje a disputa está pelo engajamento nas redes sociais e a Figura 2 – Manifestantes pintam os rostos em protesto pelo impeachment de Collor, em 1992 Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://bit.ly/3cfEczh. Acesso em: 6 maio 2022. 139 onda virtual que ela pode gerar. E nestes casos, a estética é importante, também, para se fabricar identificação com os usuários e para atrair simpatizantes. A campanha eleitoral da primeira candidatura de Barack Obama para a pre- sidência dos Estados Unidos é um exemplo que marcou esta virada no conceito estético voltado às redes sociais. Um cartaz (Figura 3) feito por um apoiador, se utilizando de uma linguagem da arte de rua do então candidato democrata, vi- ralizou e se tornou o símbolo de uma campanha que foi totalmente baseada no engajamento virtual. É difícil imaginar que uma foto tradicional de campanha fosse se tornar tão popular e compartilhada quanto uma arte estilizada. Figura 3 – Pôster “Hope”, de Shepard Fairy, de 2008 Fonte: Silva (2021, p. 162). Descrição da Imagem: um desenho retangular na ver- tical retrata o então candidato a presidente Barack Oba- ma. Ele aparece do peito para cima, levemente virado de lado, com o rosto inclinado para cima. A imagem é composta por tons de vermelho, azul-claro, azul-escuro e bege-claro. Obama tem cabelos curtos, quase raspa- dos, e veste um terno escuro e uma gravata vermelha. Na parte de baixo da arte, está escrita a palavra “Hope”, que em inglês quer dizer “Esperança”. De acordo com o pesquisador Tarcísio Torres Silva (2021, p. 162) “arte, que pin- tava com as cores da bandeira norte-americana, ajudou no resultado final das eleições pelo seu apelo para o compartilhamento”. A imagem não tinha nenhum apelo televisivo, mas funcionou como um avatar comum nas redes sociais. Portanto, é importante notar que, no contexto da hiperconexão e da comu- nicação ubíqua, a mudança na dinâmica da disputa pela atenção se dá em vários aspectos, em situações muito diferentes. Ela acontece tanto nas campanhas publi- citárias como nas disputas políticas, passando, inclusive, pelo jornalismo – como vimos anteriormente, portais de notícias mudaram seus visuais e adotaram fer- ramentas próprias das redes sociais para tentar atrair audiência. UNICESUMAR UNIDADE 5 140 Tudo isso passa pelas características estéticas que são impactantes nestes con- textos. Como visto, a estética não trata necessariamente do que é belo, mas do que mexe com a sensibilidade das pessoas. Este valor, inclusive, mudou muito ao longo do tempo, haja vista as diferentes correntes artísticas que existiram ao longo da história da nossa civilização. Nos dias de hoje, e especialmente se tratando da comunicação, a estética está ligada à interação e a criação de laços com os diferentes públicos que existem, cada qual com sua particularidade. Esta estética se manifesta na maneira como um influenciador deve se portar para gerar maior identificação com seus segui- dores, nos elementos artísticos que um movimento social precisa adotar nas suas postagens para motivar que seus simpatizantes a compartilhem ou na mudança de linguagem que os telejornais precisam adotar para competir com os youtubers. O formato e os valores estéticos precisam se adequar com as necessidades e as vontades das audiências quando a informação é abundante e a atenção é escassa.' Você lembra que no começo desta unidade você foi questionado sobre algum influenciador ou influenciadora digital que você segue ou com quem você se iden- tifica? Você conseguiu verificar o que falam as postagens dessa pessoa, quais são os assuntos que mais interessam a você e como ela publica postagens com publicidade? Se nós usarmos como exemplo o streamer Casimiro, citado anteriormente nesta mesma unidade, nós percebemos que suas postagens têm um caráter bas- tante pessoal. Ele compartilha fotos com jogadores de futebol ao mesmo tempo que posta imagens com seus amigos pessoais. Posta vídeos do seu cotidiano, em que grava os vídeos de dentro de casa. Com isso, ele gera identificação no seu público, que via de regra também gosta de esportes. As postagens das campanhas publicitárias que ele divulga têm um visual muito semelhante com as postagens que ele faz espontaneamente, o que naturaliza as campanhas. Por outro lado, se analisarmos o perfil da apresentadora Sabrina Sato, que também é uma influenciadora muito relevante nas redes sociais, notamos que ela 141 publica fotos mais produzidas, com uma estética parecida com a de editoriais de moda. No caso dela, as produções fazem mais sentido, já que ela é considerada uma referência neste assunto – além de ser uma personalidade egressa da televisão. O importante é notar que cada influenciador tem uma linha, um visual e um tipo de conteúdo que se relaciona com o perfil do seu público de acordo com a popularidade e a relevância que ele tem. Neste caso, portanto, vemos como, diante de uma imensidão de informações que chegam às audiências na internet, conteúdos que falam a língua das pessoas, que criam identificação com o público e que, pensando na atividade profissional da comunicação, conseguem fazer com que uma determinada informação chegue até a audiência, se destacando den- tre outros estímulos que existem no universo digital, são uma alternativa muito interessante de ser trabalhada. Entre os exemplos citados, temos um influen- ciador que fala diretamente com um pú- blico jovem, mais ligado em tecnologia, esportes, jogos, e outra influenciadora que fala com um público mais abran- gente, ligado à moda e ao consumo. Nos dois casos, no entanto, são pessoas que são muito espontâneas e que criam laços muito fortes com suas audiências, que é a característica mais importante para atrair o olhar das pessoas. Este tipo de trabalho não se resume ao uso de influenciadores di- gitais, mas é sempre preciso ter em mente que, em um contexto de hiperconexão e comunica- ção ubíqua, é preciso traba- lhar com estéticas e formatos que se destaquem e chamem a atenção do público. UNICESUMAR 142 Agora é o momento de você mostrar que entendeu a importância dos elementos estéticos nos processos comunicativos da atualidade: 1. Leia o texto a seguir: Do ponto de vista do uso social das comunicações digitais, a última década é mar- cada pela hiperconexão e pelo que dela decorre. A hiperconexão é um estado em que os indivíduos têm sempre à mão um aparelho que geralmente não é desligado nem desconectado da rede. GOMES, W. A democracia no mundo digital: história, problemas e temas. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018. p. 80. Levando em conta os conceitos de hiperconexão, comunicação ubíqua e computação pervasiva, é correto afirmar que: I - A hiperconexão só é possível quando conseguimos conectar algum aparelho pessoal em uma rede de alta velocidade de internet. II - A comunicação ubíqua é caracterizada pela possibilidade de estar apto para se comunicar em todos os lugares, em todas as situações, a todo momento III - A comunicação ubíqua está relacionada ao conceitode computação pervasiva, que significa que às vezes nem nos damos conta que estamos imersos em um ambiente com computadores e aparelhos conectados entre si e às redes virtuais. IV - Por meio deste estado de hiperconexão, é comum que tenhamos uma série de aparelhos com funções redundantes e que usamos tanto para conexões sociais como para funções práticas, como pagar contas e agendar serviços. V - As vidas on-line e off-line são bastante distintas e suas diferenças são bastante demarcadas no contexto de hiperconexão. Assinale a alternativa correta: a) I, II e III estão corretas. b) I, II e IV estão corretas. c) I e V estão corretas. d) II, IV e V estão corretas. e) II, III e IV estão corretas. 143 2. Leia o texto a seguir: Informações dos mais diferentes tipos, sejam elas ad hoc, práticas, geolocalizadas, conceituais, ou seja, de qualquer espécie, podem ser acessadas de múltiplos pontos no espaço. As mesmas mídias que nos fornecem o acesso são também mídias de co- municação. Redes sem fio e, consequentemente, móveis são a tônica tecnológica do momento. Isso disponibiliza um tipo de comunicação ubíqua, pervasiva e, ao mesmo tempo, corporificada e multiplamente situada que está começando a se insinuar nos objetos cotidianos com tecnologia embarcada, a tão falada internet das coisas. Na verdade, essas tecnologias já estão também sendo embarcadas nas pessoas, como as etiquetas de radiofrequência implantadas sob a pele dos indivíduos. SANTAELLA, L. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2014. p. 11. Ao considerar o contexto de disputa pela atenção das audiências em um cenário de permanente conexão, veja as afirmações a seguir: I - Os fenômenos da comunicação ubíqua e computação pervasiva facilitam que o volume de informações que chegam até nós seja cada vez maior. II - Quanto maior a oferta de informações, mais importante é a disputa pela atenção das audiências. III - As pessoas estão menos informadas atualmente, porque hoje elas estão mais interessadas em entretenimento do que em notícias jornalísticas. IV - Os algoritmos das redes sociais são programados pelos usuários para que cada pessoa só veja conteúdos que correspondem aos seus interesses. V - A oferta abundante de informações está relacionada às configurações dos celu- lares e à possibilidade de desabilitar notificações recebidas. Assinale a alternativa com as afirmações corretas: a) I e II. b) I, II e III. c) I, II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e V. 144 3. Leia o texto a seguir: Ao trabalhar com influenciadores digitais a premissa fundamental é: não há espaço para moldar os influenciadores, eles são mídias autônomas e têm uma imagem de si construída sobre uma estrutura muito sólida de reputação e legitimação no espaço digital. Influenciadores não são celebridades que moldam sua imagem – uma vez que desconhecemos seu verdadeiro Eu. Influenciadores têm um Eu conhecido por todos. Não o compre, empreste-o. KARHAWI, I. Influenciadores digitais: o eu como mercadoria. In: SAAD, E.; SIL- VEIRA, S. C. (org.). Tendências em comunicação digital. São Paulo: ECA/USP, 2016. p. 56-57. Com base no que foi abordado nesta unidade sobre a escolha de influenciadores para campanhas publicitárias, é correto afirmar: I - Quanto mais profissional e elaborado é o formato de comunicação de um in- fluenciador digital, mais adequado ele é para divulgar uma campanha. II - Além de “emprestar” sua credibilidade para uma marca em uma campanha, um influenciador atua como uma espécie de “curador de conteúdo” para seus seguidores. III - A estética de um influenciador está mais ligada à identificação que ele cria com sua audiência do que à beleza das suas postagens. IV - Influenciadores não devem se aliar a marcas para não perder credibilidade. V - Segundo Raquel Recuero, três características estão ligadas ao valor que um influenciador tem para sua audiência: reputação, autoridade e popularidade. Assinale a alternativa correta: a) I e II. b) II, III, IV. c) I, II, IV e V. d) II, III e V. e) II, III, IV e V. 145 UNIDADE 1 ECO, U. A história da beleza. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. BARROSO, P. F.; NOGUEIRA, H. de S. História da arte. Porto Alegre: SAGAH, 2018. DIAS, L. da C. Platão e a arte: algumas observações sobre as origens da Teoria da Arte no oci- dente em perspectiva hermenêutica. DAPesquisa, Florianópolis, v. 15, p. 1-13, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3yCDZO0. Acesso em: 12 jul. 2022. FARTHING, S. Tudo sobre arte: os movimentos e as obras mais importantes de todos os tem- pos. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019. MARTINO, L. M. S. Aproximações entre estética e comunicação: aberturas possíveis e diálogos entre os conceitos. 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Ao mesmo tempo, era comum que alguns movimentos retomassem conceitos de muitos anos antes para definirem seus padrões. Foi o que aconteceu com o Renascimento e o Neoclassicismo, que relembrou a estética da Grécia Antiga, por exemplo. Por conta destas mudanças, o conceito do que é belo nas artes não é algo objetivo, mas, sim, algo que muda com o passar do tempo e dependendo do contexto histórico. Por causa dessas mudanças, é comum que movimentos artísticos causem estranhamento quando surgem com novos padrões, como foi quando do surgimento do Impressionismo, Expressionismo e Cubismo, por exemplo. 2. Alternativa correta: a) I, II e III. Por ser um conceito com vários fatores relativos, a beleza passou a ser considerada menos importante do que o sentimento que uma arte desperta no espectador na Arte Contemporânea. Como envolve a sensibilidade daquele que a percebe, a arte passou a ser considerada uma experiência sensorial, que pode até ser incômoda. A arte também passou a estar mais próxima das pessoas. As instalações artísticas, por exemplo, saíram dos museus e tomaram as ruas, assim como a arte urbana. 3. Alternativa correta: c) II O movimento da Pop Art tinha um forte apelo estético, mas o bom humor, a crítica à elite da arte e à sociedade de consumo também eram fatores centrais deste período. Pela evolução das técnicas de reprodução dos materiais, a reprodutibilidade em alta escala e a singularidade das obras de arte eram mensagens que foram contempladas pelos artistas desta geração. O uso de celebridades e marcas famosas é outra marca deste período, o que aproximou a arte das grandes massas. 150 UNIDADE 2 1. Alternativa correta: e) I, III, IV e V. As artes visuais e os registros escritos são igualmente importantes do ponto de vista comunicacional, pois fornecem aspectos e informações diferentes, que podem inclusive ser complementares. Por isso mesmo, não é possível dizer que uma forma é mais confiável do que a outra, uma vez que há subjetividade nas duas formas de comunicação. A arte é até hoje uma importante forma de transmissão de conheci- mento e foi uma das únicas durante muitos séculos, quando não havia sido inventada a escrita. As inovações tecnológicas mudaram a forma de fazer e de experimentar as artes. Do lado do artista, a internet permitiu que toda a produção seja feita de forma virtual, por exemplo. Do outro lado, criaram-se meios para que a apreciação da arte deixe de ser apenas uma experiência contemplativa e passe a ser imersiva, com estímulos de vários sentidos. 2. Alternativa correta: c) III, apenas. A obra de Walter Benjamin aponta o impacto da reprodução técnica das obras de arte. Ainda que antes da imprensa e da Revolução Industrial obras de arte fossem reproduzidas, isso acontecia em menor escala. Era preciso realizar uma reprodução manual de um livro, de uma pintura ou escultura, o que não se comparava ao im- pacto de uma impressão em larga escala de uma obra literária ou de uma gravura. Benjamin aponta para as vantagens e desvantagens destas mudanças, enaltecendo os valores da experiência da obra autêntica bem como os benefícios da reprodução dela. Isso, no entanto, mudou a forma como os artistas produziam suas obras. Dali em diante, a arte passou a ser feita pensando no potencial de reprodução dela e nos efeitos disso. Não é porque uma arte é uma reprodução que a mensagem contida nela era necessariamente mais forte ou mais fraca. Um exemplo disso é o uso político do cinema para reforçar valorese ideologias, que passou a ser amplamente usado dali em diante e, por muitas vezes, com muito sucesso. 3. Alternativa correta: d) II e IV. Theodor Adorno era um crítico ferrenho da Indústria Cultural. Isso fazia dele, inclu- sive, pessimista em relação a vários fenômenos culturais que se popularizavam na época, como o jazz. De acordo com os escritos do pensador alemão, o contexto de 151 Indústria Cultural levava um diretor, por exemplo, a julgar racionalmente o valor de sua obra pelo potencial de mercado ao invés da estética ou da mensagem artística dela. De acordo com ele, estes produtos culturais eram uma forma de dominação, que não se aplicavam quando a cultura de massa partia de um movimento popular “de baixo para cima”. Apesar do pessimismo de Adorno, não é possível dizer que uma obra de arte de massa é necessariamente pior do que a arte em outros contextos. UNIDADE 3 1. Alternativa correta: b) I, III e V O conceito de Estética da Comunicação foi formulado e batizado, inicialmente, como uma abordagem relacionada ao campo das artes, por volta de 1980. Somente na década seguinte é que o conceito foi apropriado pelos teóricos da comunicação. Apesar desta diferença temporal e de definição, existem intersecções entre as duas abordagens. Uma delas é a relação com a sensibilidade despertada pelas obras de arte ou pelas interações comunicacionais. Por isso, o conceito de estética nas artes não está necessariamente ligado à ideia de beleza. Ele vai além disso. Apesar desta apropriação por parte dos teóricos do campo da comunicação, o conceito de Estética da Comunicação nas artes ainda é atual e não foi abandonado pelos pensadores desta corrente. Tanto nas artes, como na comunicação, a relação entre estética e comunicação é muito anterior ao batismo do conceito. 2. Alternativa correta: c) I, II e V Ao longo de toda a história, a evolução tecnológica e dos materiais forneceu novas formas de se fazer arte. Um dos momentos em que isso acontece é após a Revolu- ção Industrial. Neste caso, houve a possibilidade de mecanização e reprodução em massa das produções artísticas. Também permitiu um novo universo de possibilida- des de materiais, temas, produtos e principalmente meios para a arte. A Estética da Comunicação na arte estuda, dentre outras coisas, o uso destes novos meios para a produção artística. Neste contexto do século XX, isso representa estudar como as produções artísticas passaram a desafiar as noções de espaço e tempo que existiam até então. Este é um dos aspectos abordados pelo filósofo italiano Mario Costa, um dos primeiros pensadores a abordarem o assunto, nos anos 1980. Ele afirmou que um conceito chamado de sublime tecnológico se manifestava na coletividade das criações, na nova maneira de se entender estas produções independente de uma 152 localidade física, material e temporal e permitindo novos olhares sobre o mundo. Apesar do cinema ter inaugurado uma nova forma de contar histórias, que antes estavam restritas aos livros, e da fotografia trazer uma nova maneira de registrar as imagens, o que antes era feito pelas pinturas e esculturas, nenhuma destas expres- sões artísticas perdeu o status de arte. Elas apenas incorporaram outras formas de se expressar. E hoje, com a evolução da internet e das ferramentas digitais e virtuais, a Estética da Comunicação nas artes está mais presente do que nunca. 3. Alternativa correta: e) I e IV A Estética da Comunicação pode ser entendida como o estudo das relações indi- viduais de uma pessoa com o objeto da comunicação que têm como objetivo uma experiência sensível. É a forma como uma pessoa formula uma mensagem, verbal ou não, para que ela provoque uma sensação (que geralmente está relacionada ao entendimento) no interlocutor. Apesar disso, esta dinâmica está atrelada a fatores externos, como o senso comum, que é o elo entre a sensibilidade das pessoas e o senso de comunidade. Neste ponto, os meios de comunicação de massa têm um papel central na formulação da estética comunicacional, uma vez que eles têm a capacidade de reforçar padrões e conceitos, visuais ou morais, de uma maneira muito mais rápida e abrangente que uma interação pessoal. UNIDADE 4 1. Alternativa correta: d) I, II e IV Para Manuel Castells, a criação da internet e o acesso às tecnologias digitais em rede são comparáveis à criação do alfabeto, de séculos atrás. Segundo o estudioso, o alfabeto permitiu que o pensamento racional fosse repassado, preservando o conhecimento. Com isso, vimos uma evolução muito grande na ciência e na filosofia, por exemplo. Por outro lado, a comunicação escrita foi colocada em uma posição hierárquica superior à comunicação visual e sonora. Com a internet, foram criadas ferramentas que conseguiram reintegrar a comunicação audiovisual aos dispositivos formais. Apesar destas mudanças, não é possível dizer que os produtos comunica- cionais da internet são mais importantes que outros, uma vez que cada um deles cumpre seu propósito. A internet, por outro lado, foi fundamental para dar mais capilaridade e tornar outros meios de comunicação mais acessíveis. Por causa dessa 153 integração, Castells afirma que os meios de comunicação de massa tradicionais estão perdendo a ‘nitidez’. 2. Alternativa correta: d) I, II e V A autora Lúcia Santaella afirma que existiram três tipos de leitores que foram ca- racterizados pelas formas de interação e pelo comportamento como consumiram mídias ao longo do tempo. Primeiro ela pontua a existência do leitor contemplativo, que era basicamente o leitor de livros, que existia antes do surgimento dos meios de comunicação eletrônicos. Este leitor interagia pouco com as mídias, tendo como atividade, no máximo, manusear um livro, imaginar passagens etc. Depois, com as mídias eletrônicas, surge o leitor movente. Ele tem uma variedade maior de mídias, que não interagem muito bem entre si, e que têm diferentes formatos e linguagens. Também é um leitor que está inserido em uma sociedade de consumo, na qual ele é frequentemente impactado pela publicidade. Por fim, há o leitor imersivo, que mer- gulha nos ambientes digitais e virtuais e tem uma experiência multimídia no consumo de informação. A leitura, neste caso, é multilinear e multissequencial, baseada nos hiperlinks e na navegação conforme for conveniente ao leitor. Como a arquitetura das redes prevê este tipo de leitura, ela acaba fazendo sentido para a audiência, mesmo que não tenha uma sequência aparentemente lógica. Ela acompanha o fluxo de pensamento e a curiosidade do leitor. De acordo com a autora, a passagem de um tipo de leitor para o outro envolve grandes transformações sensórias, perceptivas, cognitivas e, consequentemente, transformações de sensibilidade. 3. Alternativa correta: b) II, III e V A estética dos produtos comunicacionais tem ganhado importância porque, com a internet, eles ganham tecnicidade, ou seja, ela passa a ser guiada por critérios téc- nicos, já que sua eficiência pode ser aferida a partir de dados. Ela também se torna mais importante porque há uma maior concorrência na distribuição de informação. Isso fez com que os meios de comunicação tradicionais passassem a absorver fer- ramentas inspiradas nas redes sociais, como conteúdos gerados por usuários ou espectadores, hipertextualidade e multimidialidade. Na prática, isso fez com que a linguagem e os formatos da internet se popularizassem nos meios de comunicação tradicionais. Os textos escritos tendem a ser mais curtos e objetivos. As produções de televisão são mais enxutas e informais. Ao mesmo tempo que a apropriação de novos formatos, linguagens e ferramentas torna os produtos da comunicação mais 154 atraentes e acessíveis, há o risco de que os meios de comunicação caiam na tenta- ção de se orientar apenas pelos cliques e pelo que repercute melhor na audiência. UNIDADE 5 1. Alternativa correta: e) II, III e IV estão corretas. A hiperconexão é um estado caracterizado pela permanente conexão de aparelhospessoais à internet, que recebem e enviam informações pessoais a todo momento. Ela não está relacionada, necessariamente, com a velocidade da conexão à internet. Este estado leva à possibilidade da comunicação ubíqua, que é quando estamos aptos para nos comunicarmos em todos os lugares, em todas as situações, a todo momento. Isso acontece porque vivemos imersos em uma computação pervasiva, que é definida pela existência de uma série de aparelhos conectados que, de tão naturalizados, se tornam até invisíveis a nós. Não é mais necessário o ato de “se co- nectar à internet”, porque estes equipamentos pessoais já estão permanentemente ligados e conectados. Assim, realizamos uma série de tarefas de maneira virtual: nos relacionamos com pessoas, fazemos serviços corriqueiros, nos informamos, nos divertimos e trabalhamos. As fronteiras destas atividades e dos ambientes ficam difusas e praticamente não existe mais diferença entre os ambientes virtuais e reais, pois eles se entrelaçam e conversam o tempo inteiro. 155 2. Alternativa correta: a) I e II Os fenômenos da comunicação ubíqua e computação pervasiva facilitam que o vo- lume de informações que chegam até nós seja cada vez maior, porque permitem que tenhamos acesso às mais variadas informações o tempo inteiro. Como há uma abundância muito grande de informações, a disputa pela atenção das audiências ganha importância. Independentemente do interesse das pessoas, seja por notícias, entretenimento ou qualquer outro tipo de conteúdo, nunca tivemos acesso a tanta informação como hoje. Nas redes sociais, por exemplo, somos bombardeados por informações de todos os tipos, mesmo aquelas que não nos interessam, mas que chegam até nós pelos algoritmos definidos pelas plataformas de mídias sociais. A oferta abundante de informações não está relacionada às configurações do celular ou de aparelhos individuais, mas a um contexto da comunicação contemporânea. 3. Alternativa correta: d) II, III e V Em um contexto de abundância de informação, a figura de um curador de conteúdo que use a sua credibilidade e identificação com o público para jogar luz ao que é rele- vante é muito importante, especialmente quando marcas querem ganhar visibilidade. Assim, as marcas contratam influenciadores que “emprestam” a credibilidade para uma campanha. O impacto estético de um influenciador está mais ligado à identi- ficação que ele cria com sua audiência do que à beleza das suas postagens. Dessa forma, muitas vezes, um perfil pode ser simples, com um visual amador, e mesmo assim criar identificação com o público. Segundo Raquel Recuero, três características estão ligadas ao valor que um influenciador tem para sua audiência: a reputação, que é a forma que aquela pessoa é vista; a autoridade, que se materializa na capa- cidade de influenciar o público; e a popularidade, que é o número de pessoas que acompanha esta pessoa. Noções de Estética e História da Arte Arte e Comunicação Estéticas da Comunicação Linguagens Tradicionais e Digitais A Comunicação na Atualidade _30j0zll _2et92p0 _1t3h5sf Button 14: Button 25: Button 16: Página 9: Botão 23: Botão 22: Botão 21: