Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
31ARTIGO ORIGINAL Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020Adolescência & Saúde RESUMO Objetivo: Identificar marcadores de alimentação saudável e não saudável e sua relação com excesso de peso na população adolescente acompanhada por meio do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional na Atenção Básica em 2017. Métodos: Foram extraídos dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) contendo as frequências de obesidade e de marcadores de consumo alimentar em adolescentes (10 a 19 anos). As variáveis foram comparadas a projeções populacionais do IBGE para 2017, visando investigar a proximidade com a amostra analisada. Intervalos de Confiança de 95% (IC95%) foram calculados para as prevalências obtidas no Sisvan. Utilizou-se o software TabWin 4.15 para a plotagem dos dados visando a inspeção visual de sua distribuição espacial. Realizou-se o teste de correlação de Spearman para investigar a relação entre a obesidade e consumo de alimentos ultraprocessados nas Unidades de Federação, com significância de 5%. Resultados: Foram extraídos dados de antropometria de 5.570 municípios e dados de consumo alimentar de 3.513 municípios, o que correspondeu a 4.630.485 e 102.085 adolescentes avaliados, respectivamente. A Região Sul apresentou a maior prevalência de obesidade com 13,3% (IC 95% 13,2-13,4), seguida pela região Sudeste com 10,4% (IC95% 10,3-10,4). O número de casos de obesidade correlacionou-se com o número de casos de consumo de embutidos (r=0,76; p<0,001); bebidas adoçadas (r=0,74; p<0,001), macarrão instantâneo (r=0,76; p<0,001) e guloseimas (r=0,75; p<0,001). Conclusão: Houve uma correlação positiva forte entre o consumo de alimentos ultraprocessados e obesidade em todas as macrorregiões brasileiras. PALAVRAS-CHAVE Adolescente; Alimentação; Estado Nutricional; Vigilância Nutricional; Obesidade. ABSTRACT Objective: Identify markers of healthy and unhealthy eating and their relationship with obesity in the adolescent population accompanied by the Food and Nutrition Surveillance System in Primary Health Care of Brazil in 2017. Methods: Data were extracted from the Food and Nutrition Surveillance System (Sisvan) containing the frequencies of obesity and food consumption markers in adolescents (10 to 19 years). The variables were compared to population projections of the IBGE for 2017, aiming to investigate the proximity with the analyzed sample. The 95% Confidence Intervals (95% CI) were calculated for the prevalence’s obtained in Sisvan. TabWin software 4.15 was used to plot the data for the visual inspection of its spatial distribution. The Spearman correlation test was performed to investigate the relationship between obesity and consumption of ultra processed foods in the Federation Units, with a significance of 5%. Results: We extract anthropometry data from 5,570 municipalities and food consumption from 3,513 municipalities corresponding to 4,630,485 and 102,085 Consumo alimentar e obesidade em adolescentes brasileiros acompanhados na Atenção Básica: estudo ecológico com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional Food consumption and obesity in Brazilian adolescents accompanied in Primary Health Care: an ecological study with data from the Food and Nutrition Surveillance System Valéria Moreira Silva1 Patrícia Rodrigues Farias1 Vívian Siqueira Gonçalves2 Valéria Moreira Silva (vaaleria17@gmail.com) – Centro Universitário Euro-Americano (UNIEURO), Curso de Nutrição. Avenida das Nações, Trecho 0, Conjunto 5, Brasília, DF, Brasil. CEP: 70200-001. Submetido em 05/12/2019 - Aprovado em 05/01/2020 1Curso de Nutrição do Centro Universitário Euro-Americano (UNIEURO). Brasília, DF, Brasil. 2Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Brasília, DF, Brasil. > > > 32 Silva et al.CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020 de desnutrição e um aumento crescente da pre- valência de sobrepeso e obesidade na população de adolescentes10. Durante o período de 1974 a 2009 foi contí- nuo o excesso de peso entre os adolescentes em todas as regiões brasileiras. No sexo masculino, a prevalência de excesso de peso passou de 3,7% para 21,5%, e no sexo feminino passou de 7,6% para 19,4% durante esses 34 anos. A obesidade mostrou-se menos frequente, mas a tendência também foi ascendente11. A Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) desempenha um papel importante no auxílio aos gestores e profissionais de saúde que atuam no planejamento de ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde da população brasileira, incluindo os adolescentes. Sendo realizada de maneira ampliada, como preconiza o Ministério da Saúde, a VAN utiliza a coleta e análise dos dados da população assistida na Atenção Básica, além de outras estratégias que visam o aumento do rol de informações acerca da sua condição de saúde. O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é uma das estratégias que compõem VAN. Um dos objetivos do SISVAN é avaliar o con- sumo alimentar e o estado nutricional das pessoas assistidas na Atenção Básica pelo Sistema Único de Saúde (SUS)12. Há um módulo disponível no SISVAN para inserção de dados antropométricos dos usuários atendidos, sendo possível se obter relatórios muni- cipais, regionais e nacionais relacionados ao estado nutricional da população12. O cálculo do Índice de Massa corporal (IMC) é amplamente utilizado para avaliar o estado nutricional. No caso dos adoles- centes, a OMS recomenda a utilização dos índices Estatura para Idade e IMC para Idade, sendo a classificação obtida pelas curvas de crescimento INTRODUÇÃO A adolescência é o período, definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), entre a infância e a idade adulta e se delimita à faixa etária de 10 a 19 anos1. Essa fase pode ser considerada de “transição”, pois é marcada por transformações biológicas (aceleração do crescimento e início da puberdade), psicológicas (desenvolvimento intelec- tual) e sociais (identificação com grupos, consoli- dação de ideias e construção da sua identidade)2. O meio social contribui para a formação dos hábitos alimentares dos indivíduos, pois o alimento e o ato de comer influenciam na formação da cul- tura alimentar³. A alimentação dos adolescentes brasileiros se caracteriza pelo consumo insuficiente de frutas, hortaliças e cereais integrais e alto con- sumo de alimentos ultraprocessados, com elevada densidade calórica e ricos em gorduras que in- fluenciam a prevalência de sobrepeso e obesidade nessa população4,5. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2015), revelaram que os adolescentes consomem pelo menos um alimento ultra processado diariamente6. Apesar de existir um entendimento sobre o que é uma alimentação saudável por parte dos adolescentes brasileiros, quando questionados sobre o porquê de possuírem uma alimentação inadequada foi relatado que a falta de tempo para se alimentar bem, o prazer de comer e a realização de refeições fora de casa são práticas que inter- ferem negativamente na própria alimentação7,8. A OMS define obesidade como uma doença de etiologia multifatorial que é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal capaz de ocasionar prejuízos à saúde do indivíduo9. A transição nutricional que está acontecendo no Brasil, mostra que há uma queda na ocorrência > > adolescents evaluated, respectively. The South Region presented a higher prevalence of obesity with 13.3% (CI 95% 13.2- 13.4) followed by the Southeast region with 10.4% (CI95% 10,3-10,4). The number of obesity cases was correlated with the number of cases of sausage consumption (r = 0.76, p <0.001); sweetened drinks (r = 0.74, p <0.001), instant noodles (r = 0.76, p <0.001) and treats (r = 0.75,p <0.001). Conclusion: There was a strong positive correlation between the consumption of ultra processed foods and obesity in all Brazilian macro regions. KEY WORDS Adolescent; Diet; Nutritional Status; Nutritional Surveillance; Obesity. 33Silva et al. CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020Adolescência & Saúde da OMS por meio de escores-z1. Essa recomen- dação é adotada pelo Sisvan, que disponibiliza para a população relatórios consolidados com as classificações desses referidos índices12. O SISVAN também disponibiliza aos profis- sionais da Atenção Básica um módulo para in- vestigação de práticas importantes em relação à alimentação que ocorrem em cada faixa etária do curso de vida. Há três questionários distintos que abrangem: lactentes, crianças em alimentação complementar e maiores de dois anos de idade, adolescentes, adultos, idosos e gestantes. O ques- tionário para maiores de dois anos é caracterizado pelos marcadores de consumo alimentar saudável como frutas, verduras, legumes e feijão; e não saudáveis como doces, guloseimas, embutidos e salgadinhos13. Diante do exposto e considerando a im- portância da atualização frequente dos dados de monitoramento de saúde, o objetivo deste estu- do foi identificar a prevalência de marcadores de alimentação saudável e não saudável e sua rela- ção com a obesidade na população adolescente acompanhada por meio do SISVAN, na Atenção Básica em 2017. MÉTODOS Foi realizado um estudo observacional do tipo ecológico, a partir dos dados extraídos do SISVAN WEB (versão on-line com dados públi- cos e disponíveis sobre a população de todo território brasileiro) referente ao ano de 2017. Delimitou-se a faixa etária da adolescência (10 a 19 anos), sem seleção de filtros para nenhum grupo comunitário e nenhuma especificidade quanto a etnia, sexo e escolaridade. Os dados foram obtidos no período de 7 de março de 2019 a 31 de março do mesmo ano, por meio do módulo Relatórios Consolidados14. Dados refe- rentes aos índices antropométricos (IMC para Idade e Estatura para Idade) foram coletados, considerando a classificação recomendada pela OMS e utilizada pelo SISVAN para a definição do diagnóstico nutricional. Para ambos os índices foram considerados seus escores-Z1. A avaliação dos marcadores de consumo alimentar para a identificação de um padrão positivo ou negativo teve como base o formulário disponibilizado a partir de 2015 no SISVAN, que objetiva instrumentalizar as equipes de Atenção Básica para esse tipo de avaliação. São dez ques- tões específicas para a população de crianças com 2 anos ou mais, adolescentes, adultos, gestantes e idosos. Com exceção das duas primeiras questões contidas no formulário, as demais se referem ao consumo no dia anterior13. Posteriormente, os dados extraídos foram compilados no software Microsoft Excel para elaboração do banco de dados e tratamento estatístico. A distribuição dos indicadores da amostra SISVAN por macrorregião brasileira, e a projeção populacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017 dos adolescentes de 10 a 19 anos foram comparados. O objetivo foi investigar se há si- milaridade da amostra SISVAN Web com a com- posição populacional estimada pelo IBGE para o mesmo período. As variáveis foram estudadas da forma em que são disponibilizadas por meio do SISVAN. Os dados de interesse para a amostra estudada foram: 1) Prevalência do sobrepeso e obesidade nas regiões e Brasil; e 2) Prevalência dos mar- cadores de consumo alimentar: saudável e não saudável nas regiões e Brasil. Depois de coletada a frequência dos indicadores de consumo alimentar no dia anterior e dos índices antropométricos, os Intervalos de Confiança de 95% (IC95%) foram calculados. Após apresentadas a frequência e a distribui- ção espacial do estado nutricional e de consumo alimentar dos adolescentes em macrorregiões e Brasil, os dados foram plotados em mapas por meio do software TabWin 4.15 para a inspeção visual das diferenças entre os indicadores nas localidades estudadas. Investigou-se ainda, a correlação do número de casos de obesidade (ou excesso de peso) e casos de consumo de alimentos ultraprocessados nas Unidades da Federação por meio do teste de Correlação de Spearman realizado pelo software Stata versão 15, considerando significância de 5%. > 34 Silva et al.CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020 RESULTADOS Foram coletados dados de 5.570 municípios brasileiros que corresponderam a 100% dos mu- nicípios avaliados referentes ao estado nutricio- nal, totalizando 4.630.485 adolescentes avaliados. Quanto ao consumo alimentar, obteve-se dados disponíveis de 63% dos municípios, ou seja, 3.513 municípios totalizando 102.085 adolescentes ava- liados. Os dados de antropometria mostraram que houve um maior número de adolescentes avalia- dos na Região Nordeste, seguidas pelas regiões Sudeste, Norte, Sul e Centro-Oeste. Em relação ao consumo alimentar, a região Sudeste apresentou o maior número de adolescentes avaliados, seguida pelas regiões Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste. As regiões que apresentaram dados de antro- pometria e consumo alimentar mais próximas à estimativa do IBGE foram Centro-Oeste, Norte e Sul (Tabela 1). A maior frequência de sobrepeso e obesidade se concentrou na região Sul, seguida pela região Sudeste (Tabela 2). A Região Sudeste apresentou o maior percentual de adolescentes que realiza- vam as três principais refeições do dia (64,7%), e que realizavam as refeições assistindo à televisão (72,7%). Em contrapartida, a região Centro-Oeste mostrou o menor percentual de adolescentes que realizavam as três principais refeições diárias, cor- respondendo a 24,5%. A região Norte obteve o menor percentual de adolescentes que possuíam o hábito de realizar as refeições assistindo à televisão (50,4%). A nível nacional, 64,3% dos adolescentes realizavam as refeições assistindo TV. Entre os marcadores de alimentação saudável, o consumo de feijão demostrou ser o mais frequen- te nas macrorregiões com variação decrescente da região Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte. A região Norte obteve o menor percentual do consumo de verduras e legumes, seguida pela região Nordeste com o segundo menor percen- tual para este marcador (Tabela 3). Já em relação aos marcadores de alimentação não saudável, o consumo de macarrão instantâneo, salgadinho de pacote e biscoito salgado foram maiores nas regiões Sul e Nordeste. A menor frequência de alimentos não saudáveis encontrada foi o consu- mo de hambúrgueres e embutidos em todas as regiões. Quando comparado aos outros produtos estudados, o consumo de bebidas adoçadas no Brasil foi o maior encontrado (Tabela 3). Houve correlação forte, variando de r= 0,7491 a r= 0,7680 (p<0,001), entre o número de casos de consumo de alimentos ultraprocessados com os números de casos de obesidade nos adolescentes avaliados nas Unidades da Federação. Quando investigada a correlação entre os diferentes tipos de alimentos ultraprocessados, observou-se cor- relação muito forte, variando de r= 0,9866 a r= 0,9968 (p<0,001) (Tabela 4). Evidenciou-se maior prevalência do consumo de ultraprocessados nas regiões Sul e Sudeste, onde também ocorreram as maiores prevalências de consumo de bebidas adoçadas e de biscoitos recheados, doces e guloseimas. O consumo desses alimentos citados foi menos frequente na região Nordeste e Norte (Figura 1). Tabela 1. Comparação da amostra SISVAN com a projeção populacional do IBGE por macrorregião em 2017. RegiãoAmostra SISVAN População estimada IGBE Antropometria Consumo alimentar n (%) n (%) n (%) Centro-Oeste 269.022 (5,8) 9.336 (9,1) 2.575.210 (7,7) Nordeste 2.046.131 (44,1) 20.201 (19,8) 10.152.550 (30,2) continua > 35Silva et al. CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020Adolescência & Saúde continuação da tabela 1 Região Amostra SISVAN População estimada IGBE Antropometria Consumo alimentar n (%) n (%) n (%) Norte 733.453 (15,9) 14.166 (13,9) 3.540.026 (10,5) Sudeste 1.139.095 (24,6) 42.483 (41,6) 12.948.762 (38,6) Sul 442.784 (9,6) 15.899 (15,6) 4.381.477 (13,0) SISVAN – Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional; IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tabela 2. Taxa de prevalência de Baixa Estatura, Magreza, Sobrepeso e Obesidade para Idade em adolescentes de 10 – 19 anos por macrorregião e no Brasil, 2017. Região n Baixa Estatura Magreza Sobrepeso Obesidade % IC95% % IC95% % IC95% % IC95% Brasil Centro-oeste Nordeste Norte Sudeste Sul 4.630.485 269.022 2.046.131 733.453 1.139.095 422.784 10,2 7,3 11,4 15,0 7,1 6,2 10,2-10,2 7,2-7,4 11,4-11,5 15,0-15,1 7,0-7,1 6,2-6,3 4,0 3,8 4,6 3,8 3,8 2,5 4,0-4,1 3,8-4,0 4,6-4,6 3,8-3,9 3,8-3,9 2,4-2,5 17,7 18,7 16,6 17,0 18,6 20,9 17,7-17,7 18,5-18,8 16,6-16,7 16,9-17,1 18,6-18,7 20,8-21,1 8,2 9,5 6,6 5,8 10,4 13,3 8,2-8,2 9,3-9,6 6,5-6,6 5,7-5,9 10,3-10,4 13,2-13,4 Fonte: SISVAN – Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Tabela 3. Frequência dos marcadores de alimentação saudável e não saudável dos adolescentes acompanhados na Atenção Básica por macrorregião e no Brasil, 2017. Região Adolescentes Consumo alimentar – marcadores saudáveis Feijão Frutas Verduras e Legumes n° % IC95% % IC95% % IC95% Brasil Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul 102.085 9.336 20.201 14.166 42.483 15.899 84,8 83,9 84,1 75,3 89,4 79,9 84,2-84,6 83,2-84,7 83,6-84,6 74,5-76,0 89,1-89,6 79,3-80,5 68,6 68,6 66,8 67,5 67,3 75,3 68,3-68,8 67,6-69,5 66,1-67,4 66,7-68,2 66,9-67,7 74,6-75,9 66,9 69,5 58,2 58,0 71,1 73,5 66,6-67,2 68,6-70,5 57,5-58,9 57,2-59,0 70,6-71,5 72,8-74,2 continua 36 Silva et al.CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020 continuação da tabela 3 Região Adolescentes Consumo alimentar – marcadores não saudáveis Hambúrgueres e embutidos Bebidas adoçadas Macarrão instantâneo Biscoitos recheados n° % IC95% % IC95% % IC95% % IC95% Brasil Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul 102.085 9.336 20.201 14.166 42.483 15.899 42,3 37,8 38,4 33,2 43,7 54,5 42,0-42,6 36,8-38,8 37,7-39,1 32,4-34,0 43,2-44,2 53,7-55,3 65,9 65,1 58,6 60,0 69,7 71,1 65,6-66,2 64,1-66,1 57,9-59,3 59,1-60,7 69,1-70,0 70,4-71,8 48,0 45,3 48,0 41,7 43,6 59,3 47,6-48,3 44,3-46,3 47,3-48,7 40,9-42,5 45,8-46,8 58,5-60,1 60,8 62,0 53,2 50,4 62,1 75,5 60,5-61,1 61,0-63,0 52,5-53,8 49,5-51,2 61,7-62,6 74,8-76,2 Fonte: SISVAN – Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Tabela 4. Correlação (r) entre a frequência de consumo alimentar e obesidade em adolescentes de 10 a 19 anos acompanhados na Atenção Básica, 2017. Obesidade Hambúrgueres e embutidos Bebidas adoçadas Macarrão instantâneo Biscoitos recheados Obesidade - Hambúrgueres e embutidos 0,7680 <0,001 - Bebidas adoçadas 0,7491 <0,001 0,9866 <0,001 - Macarrão instantâneo 0,7613 <0,0001 0,9927 <0,001 0,9945 <0,001 - Biscoitos recheados 0,7550 <0,001 0,9895 <0,001 0,9940 <0,001 0,9968 <0,001 - 37Silva et al. CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020Adolescência & Saúde DISCUSSÃO Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009 mostraram as prevalências de excesso de peso e obesidade em adolescentes do sexo masculino e feminino de 10 – 19 anos de idade em todas as macrorregiões. Houve oscila- ção na prevalência de excesso de peso, nos dois sexos, de 20 a 27% nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e de 16 a 19% nas regiões Norte e Nordeste. Os resultados deste estudo apontaram Figura 1. Distribuição espacial do consumo alimentar e da prevalência de obesidade dos adolescentes de 10 – 19 anos acompanhados na Atenção Básica por macrorregiões brasileiras, 2017. as maiores e menores taxas de excesso de peso nas mesmas localidades, sendo possível inferir que a distribuição do número de casos nas regiões do Brasil não mudou durante esses 10 anos15. De acordo com a PeNSE 2015 realizada pelo IBGE, observou-se nesta população maior preva- lência de obesidade na Região Sul (10,2%) e a menor na Região Norte (6,1%) em escolares de 13 a 17 anos de idade16. Dados semelhantes foram encontrados no presente estudo, evidenciando a proximidade das frequências obtidas pelos dados > 38 Silva et al.CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020 administrativos do SISVAN com as frequências obtidas em inquéritos representativos da popu- lação brasileira, o que evidencia sua utilidade e importância, ao mesmo tempo em que reforça a urgência pelas ações de prevenção e controle de obesidade em todo território nacional. Em relação ao consumo de alimentos, a PeNSE 2015 evidenciou o consumo de 13,7% de salgados fritos, 41,6% de guloseimas, 26,7% de refrigerantes e 31,3% de ultraprocessados salgados em cinco vezes na semana ou mais pelos adolescentes estudados, e 57,9% da amos- tra realizava as refeições assistindo à televisão, sendo esse hábito mais comum na região Su- deste16. O presente estudo também apontou um maior número de adolescentes que realizam as refeições em frente à TV na região Sudeste quando comparado as outras regiões. A pesquisa citada acima avaliou também quais os tipos de alimentos que os jovens estão expostos no ambiente escolar. Foi evidenciado que 49,7% dos alunos de escolas públicas podia comprar guloseimas, 58,5% podiam comprar refrigerantes e 63,7% podiam comprar salga- dinhos industrializados nas cantinas das escolas ou em suas proximidades, sendo que 41,6% dos alunos relataram consumir guloseimas cinco dias ou mais em uma semana16. De acordo com os dados obtidos pelo SISVAN, o percentual de adolescentes que consumiu guloseimas, refrige- rantes e salgadinhos de pacotes no dia anterior foi de 60,8%, 65,9% e 48,0%, respectivamente. Possivelmente esse acesso a compra de alimen- tos não saudáveis no ambiente escolar pode se associar à obesidade ou doenças relacionadas, como hipertensão arterial17. Um estudo conduzido por Tavares et al.18 com dados da PeNSE de 2009, mostrou maior proporção no padrão de alimentação saudável (consumo de hortaliças cozidas e cruas, frutas, leite e feijão) dos adolescentes nas capitais das regiões Centro-Oeste e Sul quando comparado ao padrão de alimentação não saudável (consu- mo de ultraprocessados). A região Sudeste apre- sentou o terceiro maior percentual do padrão de alimentação saudável18. O presente estudo apontou resultados inversos, por consequência da transição alimentar no decorrer de dez anos nesta população. Uma pesquisa elaborada a partir dos da- dos do Estudo de Risco Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) conduzido em 2013 e 2014, apontou diferenças importantesquan- to à prevalência de consumo de alguns itens alimentares entre as macrorregiões brasileiras, com destaque para a prevalência de consumo de alimentos como refrigerantes, salgados fritos e assados, biscoitos doces e salgados, sendo o refrigerante a bebida adoçada mais consumida entre os adolescentes na região Sul (51,2%). Doces e sobremesas ficaram entre os dez ali- mentos mais consumidos em todas as regiões. Em contrapartida, foi evidenciado que faz parte da alimentação dos adolescentes o arroz e o feijão, porém o consumo de ultraprocessados é diário19. No mesmo sentido, dados investi- gados neste estudo mostraram que dentre os marcadores de alimentação não saudável, o que persiste com maior prevalência é o de bebidas adoçadas, seguida pelo consumo de doces e guloseimas em todas as regiões, caracterizando a forte presença de alimentos ultraprocessados na alimentação dessa população. O estudo conduzido por Levy et al.20 ana- lisou o consumo e o comportamento alimentar entre adolescentes brasileiros, englobando os 27 estados existentes, e mostrou que de 18,0% a 50,9% dos adolescentes consumiam alimentos marcadores de alimentação não saudável regu- larmente (5 vezes na semana ou mais, referente à semana que antecedeu o estudo), sendo maior a proporção daqueles que consumiam gulo- seimas e refrigerantes e menor daqueles que consumiam biscoitos doces e embutidos20. Um estudo elaborado por Costa et al.6 que analisou o comportamento sedentário e o consumo de alimentos ultraprocessados entre adolescen- tes brasileiros de escolas públicas e privadas apontou que 39,7% dos escolares da amostra reportaram consumo diário de pelo menos um tipo de alimento ultraprocessado6. Devem ser consideradas algumas limitações quanto ao desenvolvimento do presente estudo. Apesar de abranger as unidades da federação 39Silva et al. CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020Adolescência & Saúde > > REFERÊNCIAS 1. World health organization. Growth reference data for 5-19 years; 2007. Disponível em: https://www.who. int/growthref/en/ . 2. Paraná. Secretaria de Estado da Criança e da Juventude. Compreendendo o Adolescente. 2. ed. Curitiba, 2010. Cadernos de Socioeducação. [Acesso 13 abril 2019]. Disponível em: http://www.desenvolvimentosocial. pr.gov.br/arquivos/File/CompreendendooAdolescente2010.pdf. 3. Leonardo M. Antropologia da alimentação. Rev Antropos. 2009; Dez: (3):1-6. 4. Neutzling MB, Araújo CLP, Vieira MCDFA, Hallal PC, Menezes AMB. Frequência de consumo de dietas ricas em gorduras e pobres em fibras entre adolescentes. Rev Saúde Públ. 2007; 41(3):336-42. 5. Louzada MLC, Martins APB, Canella DS, Baraldi LG, Levy RB, Claro RM, et al. Alimentos ultraprocessados e perfil nutricional da dieta no Brasil. Rev Saúde Públ. 2015; 49(38):11. 6. Costa CS, Flores TR, Wendt A, Neves RG, Assunção MCF, Santos IS. Comportamento sedentário e consumo de alimentos ultraprocessados entre adolescentes brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2015. Cad Saúde Públ. 2018; 34(3): e00021017. 7. Silva JG, Teixeira MLO, Ferreira DA. Alimentação na adolescência e suas relações com a saúde do adolescente. Texto & Contexto Enferm. 2014; 23(4): 1095-103. 8. Silva DCA, Frazão IS, Osório MM, Vasconcelos MGL. Percepção de adolescentes sobre a prática de alimentação saudável. Rev Ciênc e Saúde Colet. 2015: 20(11):3299-3308. 9. World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. [livro on-line]. 2000. [acesso 13 abril 2019] Disponível em: https://www.who.int/nutrition/publications/obesity/WHO_TRS_894/en/. 10. Ramires EKNM, Menezes RCEM, Oliveira JS, Oliveira MAA, Temoteo TL, Silva GL, et al. Estado nutricional de crianças e adolescentes de um município do semiárido nordestino. Rev Paul Pediatr. 2014; 32(3):200-207. 11. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Antropometria e Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil. Pesquisas de Orçamentos Familiares 2008-2009. Rio de Janeiro, 2010. e por se tratar de dados secundários, o estudo engloba apenas os adolescentes atendidos pela Atenção Básica e não representa de forma pro- porcional a população adolescente brasileira. Dados em constante atualização entre os dias da coleta dos relatórios consolidados podem ter contribuindo para erros nas estimativas produ- zidas. Por se tratar de um estudo ecológico não se pode fazer inferências sobre características em nível individual da população. Como pontos fortes do estudo pode-se citar a inclusão de um número alto de adolescen- tes e a alta capilaridade na obtenção de dados, o que seria inviável num estudo amostral. Além disso, evidenciou-se a importância e utilidade dos dados administrativos obtidos por meio do trabalho das equipes de Atenção Básica para a realização e consolidação da VAN. CONCLUSÃO Conclui-se que as localidades que apre- sentaram as maiores prevalências de obesidade são também as que apontaram as maiores preva- lências de consumo de ultra processados. Houve uma correlação positiva forte entre o número de casos de obesidade e o de consumo de alimentos ultraprocessados em adolescentes avaliados na Atenção Básica, nas Unidades de Federação. Outro achado importante aponta que os adolescentes possivelmente não consomem apenas um tipo de alimento ultraprocessado, mas sim vários. Diante destes resultados, é necessário que os profissionais que atuam na Atenção Básica criem e intensifiquem novas estratégias educativas para o público ado- lescente visando o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis que impliquem na redução de impactos negativos na saúde pública. 40 Silva et al.CONSUMO ALIMENTAR E OBESIDADE EM ADOLESCENTES BRASILEIROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTUDO ECOLÓGICO COM DADOS DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 31-40, jul/set 2020 12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Marco de Referência da Vigilância Alimentar e Nutricional na Atenção Básica. Brasília, 2015; 9–17 13. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para Avaliação de Marcadores de Consumo alimentar na Atenção Básica. Brasília, 2015a; 12. 14. Brasil. Ministério da Saúde. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional: Relatórios Consolidados, 2017 [acesso 7 de março 2019]. Disponível em: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_ consolidados. 15. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2002/2003. Antropometria e Análise do Estado Nutricional de Crianças e Adolescentes no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. 16. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rio de Janeiro, 2015. 17. Gonçalves VSS, Duarte EC, Dutra ES, Barufaldi LA, Carvalho KMB. Characteristics of the school food environmente associated with hypertension and obesity in Brazilian adolescents: a multilevel analysis of the Study of Cardiovascular Risks in Adolescents (ERICA). NS Public Health Nutr. 2019; 22 (14): 2625-2634. 18. Tavares LF, Castro IRR, Levy RB, Cardoso LOC, Claro RM. Padrões alimentares de adolescentes brasileiros: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE). Cad Saúde Públ. 2014; 30(12):1-13. 19. Souza AM, Barufaldi LA, Abreu GA, Giannini DT, Oliveira CL, Santos MM, et al. ERICA: Ingestão de Macro e Micronutrientes em Adolescentes Brasileiros. Rev Saúde Públ. 2016;50 (supl 1):5s 20. Levy RB, Castro IRR, Cardoso LDO, Tavares LF, Sardinha LMV, Gomes FDS, et al. Consumo e comportamento alimentar entre adolescentes brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2009.Rev Ciênc Saúde Colet. 2010; 15(2): 3085-3097.
Compartilhar