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EMENTA PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO CÍVIL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. PESSOA COM DEFICIÊNCIA. CONTRIBUIÇÕES NECESSÁRIAS ALCANÇADAS. SEM NOVA PERÍCIA. - Apelação interposta em face de sentença, que julgou procedente o pedido e para condenar o INSS a conceder aposentadoria por tempo de contribuição ao segurado com deficiência, nos moldes da Lei Complementar nº 142/2013, a partir da data do requerimento administrativo do benefício, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora. - Com base no artigo 3º, II da referida Lei Complementar nº 142/2013, é assegurada a concessão de aposentadoria pelo RGPS ao segurado com deficiência, aos 29 (vinte e cinco) anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 (vinte) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência moderada. - Atestando o laudo pericial que a autora é portadora de deficiência moderada e restando comprovado tempo de contribuição de 24 anos, 02 meses e 20 dias, tem direito ao beneficio, eis que foram preenchidos os requisitos legais. - Verifica-se que não há prova no processo administrativo anexado pelo apelante de que a apelada teria sido notificada para comparecimento em perícia a ser realizada pelo INSS. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento à Apelação, nos termos do Voto do Relator. Rio de Janeiro, 10 de maio de 2018. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPIRITO SANTO Relator Apelação Cível - Turma Especialidade I - Penal, Previdenciário e Propriedade Industrial Nº CNJ : 0102361-33.2017.4.02.5101 (2017.51.01.102361-0) RELATOR : Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO APELANTE : INSS-INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL PROCURADOR : PROCURADOR FEDERAL APELADO : MARCIA MARIA CORTINES HORA MARTINS ADVOGADO : RJ053782 - MARCELO DAVIDOVICH E OUTRO ORIGEM : 25ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01023613320174025101) 1 RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta por INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL contra sentença proferida às fls. 233/239, pelo MM. Juiz Federal EDUARDO ANDRÉ BRANDÃO DE BRITO FERNANDES, que julgou procedente o pedido para condenar o INSS a conceder aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência, a partir da data de entrada do requerimento administrativo (DER), em 26/03/2015, antecipando os efeitos de tutela, na forma do artigo 300 do CPC, para que o benefício seja implantado em até 30 (trinta) dias da intimação da AADJ/INSS. corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora. Condenou ainda o INSS no pagamento de honorários advocatícios, no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, excluída as prestações vencidas após a sentença (Súmula nº111 do STJ), nos moldes dos artigos 85, § 2º e § 3º, I e §4º, I do NCPC, pois, apesar de ilíquida a sentença, não se vislumbra na espécie a possibilidade de que a causa resulte em proveito econômico superior a 200 (duzentos) salários mínimos (art. 85, § 4º, I e II do NCPC). Em suas razões de apelação (fls. 250/255), o Réu, ora Apelante, requer urgentemente a suspensão da tutela antecipada concedida na r. sentença e a extinção do processo sem resolução de mérito, conforme disposto no artigo 485, inciso VI, do NCPC, em virtude de estar ausente o interesse de agir pela falta de comprovação de requerimento administrativo, visto que a Autora não compareceu à perícia médica agendada pelo INSS para o dia 09/06/2015. Contrarrazões de MARCIA MARIA CORTINES HORA MARTINS, às fls. 261/266. Manifestação do Ministério Público Federal, à fl. 272, concluindo ser desnecessária sua intervenção na presente demanda. É o relatório. Rio de Janeiro, 10 de maio de 2018. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPIRITO SANTO Relator Apelação Cível - Turma Especialidade I - Penal, Previdenciário e Propriedade Industrial Nº CNJ : 0102361-33.2017.4.02.5101 (2017.51.01.102361-0) RELATOR : Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO APELANTE : INSS-INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL PROCURADOR : PROCURADOR FEDERAL APELADO : MARCIA MARIA CORTINES HORA MARTINS ADVOGADO : RJ053782 - MARCELO DAVIDOVICH E OUTRO ORIGEM : 25ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01023613320174025101) 1 VOTO No caso dos autos, a parte autora, MARCIA MARIA CORTINES HORA MARTINS, ajuizou demanda em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, na qual alega apresentar deficiência severa, conforme laudo médico (fls. 30/31). Nesse passo, alega a Autora que segundo o artigo 3º e seus incisos, da Lei Complementar nº 142/2013, o tempo de contribuição necessário para obtenção do benefício, se mulher, seria de 20 anos, no caso de segurada com deficiência grave, e 24 anos, no caso de deficiência moderada. Sustenta, então, que a Autora, que possui mais de 24 anos de contribuição, deveria ter esse benefício concedido. O douto juízo a quo, por sua vez, julgou procedente o pedido formulado, sob o fundamento de que se constata que a Autora conta com os requisitos necessários para perceber a pleiteada aposentadoria prevista na Lei Complementar nº 142/2013. No que tange ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência, verifica-se que o mesmo encontra-se regulamentado na Lei Complementar nº 142/2013, conforme se pode observar nos artigos transcritos a seguir: “Art. 2 o Para o reconhecimento do direito à aposentadoria de que trata esta Lei Complementar, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Art. 3o É assegurada a concessão de aposentadoria pelo RGPS ao segurado com deficiência, observadas as seguintes condições: I - aos 25 (vinte e cinco) anos de tempo de contribuição, se homem, e 20 (vinte) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave. II - aos 29 (vinte e nove) anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 (vinte e quatro) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência Apelação Cível - Turma Especialidade I - Penal, Previdenciário e Propriedade Industrial Nº CNJ : 0102361-33.2017.4.02.5101 (2017.51.01.102361-0) RELATOR : Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO APELANTE : INSS-INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL PROCURADOR : PROCURADOR FEDERAL APELADO : MARCIA MARIA CORTINES HORA MARTINS ADVOGADO : RJ053782 - MARCELO DAVIDOVICH E OUTRO ORIGEM : 25ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01023613320174025101) 1 moderada. ” Com isso, em sede de apelação, o INSS, ora Apelante, alega que a Autora não compareceu à perícia médica agendada por ele, sendo, então, obrigado a indeferir o pedido do benefício por falta de requisitos mínimo. Entretanto, sustenta a Autora que não há que se falar em falta de interesse de agir por sua parte, já que não há prova no processo administrativo anexado pelo apelante de que a apelada teria sido notificada para comparecimento em perícia a ser realizada pelo INSS. Dessa forma, embora tenha sido lançada a anotação de que a apelada foi comunicada via telegrama em 15/05/2015 e certificado tal ato nos autos do processo administrativo por agente público, conforme revelam os documentos de fls. 153/155, não foi juntado qualquer AR ou outro documento que comprovasse que a apelada, de fato, tomou ciência da data agendada para perícia. Essa ausência do AR não pode ser suprida pelo documento de fl. 155, como pretende o apelante, razão pela qual não há que se falar em qualquer falta de interesse de agir por parte da apelada. Pugna, ainda, pela concessão da gratuidade de justiça. No caso em testilha, a demandante logrou êxito em comprovar que está incapacitada para o exercício de sua atividade laborativa, consoante o laudo médico judicial, às fls. 215/224, do qual ressalto os seguintes trechos: “Quesitos do Juízo: b) A parte Autora possui alguma deficiência/impedimento? Qual? Mencionaro CID. R: Sim, é portadora de sequelas nos membros inferiores devido a uma doença chamada Raquitismo Hipofostatêmico. Apresenta importante deformidade em varo dos joelhos CID M21-1, Gonartrose bilateral M17-4, Coxoartrose bilateral M16-7. (...) f) A deficiência/impedimento dificulta o desempenho das tarefas da atividade profissional da pessoa periciada? Fundamente. R: Sim, pois a Autora é portadora de sequelas em ambos os membros inferiores, que vem se agravando com o passar dos anos, gerando uma série de dificuldades, como dores nos joelhos e quadris, devido a posição sentada por período prolongado, mesmo que seja oferecida as facilidades para realizar seu trabalho a postura prejudica suas lesões. Além disso as dificuldades relatadas para se deslocar de casa para o trabalho e vice versa usando diversas conduções para ir e vir ao trabalho. 2 h) Na hipótese de ter sido possível confirmar a deficiência/impedimento da parte autora, informe se, quanto ao grau, esta/este pode ser classificada (o) como leve, moderada ou grave, conforme pontuação prevista na Portaria Interministerial nº 1/2014. (...) R: (...) Sua doença vem desde a infância mesmo já tendo sofrido diversas cirurgias para tentar corrigir as deformidades que se instalaram, estas porém são progressivas e pioram com o passar dos anos. Considero um Grau Moderado.” Em análise ao laudo pericial, vê-se que os principais quesitos formulados pela Autarquia-Ré foram integralmente respondidos, sendo evidente que a perícia afirma haver deficiência desde a infância e que está piorando com o passar dos anos, considerando a segurada com deficiência moderada. Diante disso, verifica-se que a autora tem, portanto, direito ao benefício. Isto porque os documentos juntados indicam o tempo de contribuição de 24 anos, 02 meses e 20 dias, às fls. 10/22, preenchendo os requisitos do artigo 3º, II da Lei Complementar nº 142/2013. De fato, o resumo de documentos fornecido pelo INSS (fl.33) comprova o labor da autora nos seguintes estabelecimentos: MARLU CONSULTORIA DE IMÓVEIS LTDA (no período de 01/07/1988 a 30/09/1988), OSÓRIO DA SILVA PINTO (01/06/1989 a 31/05/1994), UNIDADE EDUCACIONAL NASCISO CAVALCANTE LTDA. (06/03/1995 a 08/12/1995), SOCIEDADE AMIGOS DO DEFICIENTE FÍSICO (01/04/1996 a 06/12/1999), ASSOCIAÇÃO NITEROIENSE DOS DEFICIENTES FÍSICOS (04/12/1999 a 01/06/2007) E LIGHT - SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S/A (04/06/2007 a 26/03/2015, sendo essa última data do requerimento do benefício da aposentadoria). Nesse contexto, torna-se evidente, ao levar em conta o laudo pericial, o qual indica que MARCIA MARIA CORTINES HORA MARTINS possui deficiência moderada, o direito da Autora quanto à recepção do benefício pleiteado. Assim sendo, em acordo com a documentação juntada aos autos, com o tempo de contribuição demonstrado pela parte autora, aliada à deficiência verificada pela perícia judicial, confirma-se que esta faz jus à concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição ao segurado com deficiência. Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO à Apelação do INSS e mantenho a r. sentença in totum por seus próprios fundamentos. É como voto. Rio de janeiro, 10 de maio de 2018. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ESPIRITO SANTO Relator 3 VOTO
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