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Poderes da Administração Pública APRESENTAÇÃO Dado que cumpre à Administração Pública a gestão do interesse público, a legislação prevê uma série de instrumentos que garantem que ela possa – efetivamente – concretizar os seus deveres funcionais. Tais instrumentos são chamados de poderes da administração. São eles: o poder vinculado, o poder discricionário, o poder hierárquico, o poder disciplinar, o poder regulamentar e o poder de polícia. Em função deles, torna-se possível compreender as mais diversas prerrogativas especiais das quais a Administração Pública dispõe para exercer as suas funções em suas relações jurídicas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre o conceito de poderes da Administração Pública. Nesse contexto, vai aprender algo sobre as diversas espécies de poderes atribuíveis à Administração Pública. Além disso, conhecerá alguns julgados de tribunais superiores que abordam o tema dos poderes da Administração Pública. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar os poderes da Administração Pública.• Descrever as características dos poderes normativo, disciplinar, hierárquico e de polícia.• Identificar os julgados de tribunais superiores que evidenciem a aplicação dos poderes da Administração Pública. • INFOGRÁFICO Quando as atividades dos particulares acabam por se revelar nocivas à coletividade ou ao Estado, a Administração Pública poderá se valer do chamado poder de polícia para contê-las. Trata-se da faculdade da qual dispõe os agentes e os órgãos públicos para condicionar e restringir o uso de bens, o exercício de atividades ou de direitos. Para saber mais sobre o poder de polícia, confira o Infográfico. CONTEÚDO DO LIVRO Os poderes da Administração Pública são certas prerrogativas especiais das quais dispõe a Administração Pública para realizar as suas funções. A título de exemplo, cita-se o poder disciplinar, cuja função é impor sanções para todos aqueles que estão sujeitos ao controle administrativo e incorrem em alguma infração. No Capítulo Poderes da Administração Pública, da obra Direito Administrativo, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre os poderes da Administração Pública. Além disso, vai aprender sobre as principais espécies de poderes administrativos, conforme a doutrina. Por fim, vai conhecer alguns julgados de tribunais superiores que abordam o tema dos poderes da Administração Pública. Boa leitura. DIREITO ADMINISTRATIVO Cássio Vinícius Steiner de Sousa Poderes da Administração Pública Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar os poderes da Administração Pública. Descrever as características dos poderes normativo, disciplinar, hie- rárquico e de polícia. Identificar os julgados de Tribunais Superiores que evidenciam a apli- cação dos poderes da Administração Pública. Introdução Os poderes da Administração são considerados instrumentos empregados pela Administração Pública para a concretização da gestão do interesse público, com vistas ao bem comum. Tais poderes são considerados prer- rogativas especiais que pautam as relações jurídicas da Administração. Em função deles, garante-se que, por exemplo, a Administração Pública possa fiscalizar estabelecimentos privados ou impor sansões no caso de descumprimento de normas administrativas. Neste capítulo, você vai ler sobre o conceito de poderes administra- tivos. Você também estudará os poderes administrativos em espécie, como o poder vinculado, o poder discricionário, o poder hierárquico, o poder disciplinar, o poder regulamentar e o poder de polícia. Por fim, você verá alguns julgados de Tribunais Superiores que envolvem a questão dos poderes da Administração Pública. Conceito de poderes da Administração Pública O Direito Administrativo é o ramo do Direito responsável pelo estudo de todas as facetas da Administração Pública, cuja função precípua consiste na gestão do interesse público. Na base de tal estudo, está a ideia segundo a qual a Administração Pública pode — a depender do contexto — submeter-se tanto ao regime de direito público quanto ao privado. Com relação ao conceito de interesse público, Mello (2009, p. 61) explica que se trata do “[...] interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando consideradas em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem”. Isto é, consiste no sumo fruto dos anseios dos indivíduos que formam a coletividade que compõe a sociedade. Quando atua sob o regime de direito privado, a Administração Pública está — em alguma medida — em pé de igualdade com a outra ou outras partes da relação jurídica. Nos casos em que a Administração Pública atua sob o regime de direito público, ela adota uma posição privilegiada com relação às outras partes. Nesse caso, ao atuar em condições superiores ou distintas dos particulares, é chamada pela doutrina de regime jurídico-administrativo. De modo geral, o regime jurídico-administrativo pode ser explicado em função das prerrogativas e restrições que pautam a atuação da Administração Pública. Enquanto as prerrogativas, que colocam a Administração Pública em posição superior, consistem em privilégios ou faculdades especiais que garantam que ela possa concretizar o interesse público, as restrições têm a função de impor regras rígidas para sua atuação, evitando que as prerrogativas especiais venham a ser utilizadas contra o interesse público. Tal conjunto de prerrogativas e restrições expressa, conforme a doutrina, os dois princípios basilares do Direito Administrativo: o princípio da supre- macia do interesse público sobre o privado e o princípio da indisponibilidade do interesse público. Poderes da Administração Pública2 1. Supremacia do interesse público sobre o privado — a propósito de tal princípio, Mello (2009, p. 69) afirma que ele “[...] proclama a superiori- dade do interesse da coletividade, firmando a prevalência dele sobre o do particular, condição, até mesmo, da sobrevivência e asseguramento deste último”. Nesse contexto, o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado explica a origem das prerrogativas especiais que pautam a atuação da Administração Pública, visando à concretização do interesse público e do bem comum. Assim, nos casos em que houver conflito entre o interesse público e o particular, em nome do princípio referido, prevalecerá o interesse público. 2. Indisponibilidade do interesse público — se o princípio da suprema- cia do interesse público embasa o conjunto de prerrogativas especiais atinentes à atuação da Administração Pública, o princípio da indis- ponibilidade do interesse público fundamenta o conjunto de deveres cabíveis aos administradores do interesse público. Quanto a isso, Mello (2009) chama a atenção para o fato de que — por ser qualificado como próprio da coletividade, isto é, interno ao setor público — o interesse público não pode ser livremente disposto por quem quer que seja. Ademais, o doutrinador afirma que “[...] o próprio órgão administrativo que os representa não tem disponibilidade sobre eles, no sentido de que lhe incumbe apenas curá-los, o que é também um dever — na estrita conformidade do que predispuser a intentio legis” (MELLO, 2009, p. 73-74). Assim, o princípio da indisponibilidade do interesse público vem para proteger os administrados contra o uso maléfico dos poderes públicos por parte dos seus administradores. Um meio para enaltecer a influência de tal princípio na atuação da Admi- nistração Pública surge da comparação entre a legalidade privada e a chamada legalidade administrativa. Nesse contexto, enquanto a legalidade privada está embasada no princípio da autonomia da vontade, a legalidade administrativa está embasada na vontade da lei. Em outras palavras, ao agirem, os particula- res podemfazer tudo aquilo que não está vedado ou proibido legalmente, ao passo que os agentes públicos, enquanto tais, só podem fazer aquilo que está autorizado ou permitido por lei. Isso garante que a Administração Pública não cometa abusos no uso das diversas prerrogativas oriundas da ideia de supremacia do interesse público. 3Poderes da Administração Pública Conforme Carvalho Filho (2017, p. 68), os poderes administrativos podem ser concei- tuados como “[...] o conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins”. Isto é, são os instrumentos por meio dos quais garante-se que os agentes públicos possam concretizar o interesse público. Com relação ao conceito de poderes administrativos, embora seja fácil compreender sua relação com a ideia de supremacia do interesse público, os poderes administrativos também estão intimamente ligados com a ideia veiculada pelo princípio da indisponibilidade do interesse público. Nesse contexto, as prerrogativas conferidas à Administração Pública para que possa desempenhar seu fim precípuo não são meras faculdades atribuíveis aos seus agentes, consistindo em verdadeiros deveres funcionais. Assim, rigorosamente falando, o termo “poderes” da Administração Pública deve ser lido como poderes-deveres da Administração Pública. Os poderes da Administração Pública são considerados prerrogativas cabíveis aos agentes no uso de suas atribuições funcionais. Tal poder deve ser utilizado dentro dos limites autorizados ou admitidos por lei. Ocorre que, muitas vezes, ao utilizar as suas prerrogativas especiais, os agentes públicos acabam por transgredir aquilo previsto em lei. Quando isso ocorre, dizemos que houve abuso de poder. Nesse contexto, embora possa ocorrer de muitos modos distintos, as hipóteses de abuso costumam ser classificadas em três espécies: 1. excesso de poder; 2. desvio de poder; 3. omissão administrativa. Poderes da Administração Pública4 Com relação às espécies e classificações dos poderes administrativos, Meirelles e Burle Filho (2016, p. 137) chamam a atenção para o fato de “[...] nascem com a Administração e se apresentam diversificados segundo as exigências do serviço público, o interesse da coletividade e os objetivos a que se dirigem”. Nesse contexto, se tomamos como referência a questão da liberdade decisória, os poderes podem ser distinguidos em poder vinculado e poder discricionário. Além disso, quando estão ligados à organização da Administração Pública de modo geral, eles são chamados de poderes hierárquicos. Quando estão ligados à punição daqueles — de algum modo — vinculados à Administração Pública, estamos diante do poder disciplinar. Já, nos casos em que possuem objetivo de normatizar algo, estamos diante do poder regulamentar. Por fim, se os poderes administrativos dizem respeito à contenção dos direitos individuais, estamos diante do poder de polícia (MEIRELLES; BURLE FILHO, 2016). Os detentores dos poderes públicos são as entidades políticas previstas na Constituição Federal (BRASIL, 1988) — a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios. Além disso, as entidades administrativas de direito público — como, por exemplo, autarquias e fundações públicas — também são dotadas de certos poderes próprios da Administração Pública. O excesso de poder consiste no uso dos poderes da Administração Pública de modo a ultrapassar os limites impostos pela legislação. A título de exemplo, citamos o caso de uma autoridade pública que impõe pena de multa para um ilícito administrativo, quando — em realidade — a lei previa apenas pena de advertência. Já o desvio de poder ocorre quando a autoridade possui competência para realizar tal ato, porém o faz com finalidade diversa daquela prevista pela lei. A título de exemplo, citamos o caso de agente público que decreta a desapropriação de um determinado bem sob a alegação de que há interesse público, quando, em realidade, ele objetiva — por alguma razão — vingar-se do proprietário. Por sua vez, a omissão administrativa ocorre quando a Administração Pública deixa de agir em casos que a lei impõe que deveria. 5Poderes da Administração Pública Poderes da Administração Pública em espécie Conforme mencionado, os poderes administrativos costumam ser distinguidos pela doutrina em seis espécies: poder vinculado; poder discricionário; poder hierárquico; poder disciplinar; poder normativo, ou regulamentar; poder de polícia. Veja cada um em detalhes a seguir. Poder vinculado A compreensão do signifi cado do poder vinculado está intimamente relacio- nada ao grau de liberdade decisória da Administração Pública no exercício de suas atividades. Nesse contexto, Meirelles e Burle Filho (2016, p. 138) explicam que tal poder é “[...] aquele que o Direito Positivo — a lei — confere à Administração Pública para a prática de sua competência, determinando os elementos e requisitos necessários à sua formalização”. Assim, os atos vinculados são aqueles em que os agentes públicos estão inteiramente condicionados ao texto legal. Em função disso, a liberdade de- cisória da Administração é praticamente inexistente, devendo simplesmente seguir os ditames legais. A título de exemplo, citamos a concessão de alvará para a construção de um imóvel, nos casos em que o requerente satisfaz todas as exigências legais. Poder discricionário Em oposição ao poder vinculado, existe também o poder discricionário. Nesse caso, sob certos contextos, é admitido que a Administração atue com certa liberdade de escolha sobre a conveniência e a oportunidade na realização Poderes da Administração Pública6 de certos atos. Quanto a isso, a possibilidade de atuação discricionária deverá ser explicitamente disposta em lei. Um importante ponto sobre o poder discricionário diz respeito ao grau de liberdade decisória dos seus agentes. Nesse contexto, dizer que um certo ato é discricionário não significa dizer que ele é completamente arbitrário. Nesse contexto, nunca será discricionária a questão da competência, da fina- lidade e da forma. A título de exemplo, citamos a possibilidade de estabelecer a gradação de uma penalidade administrativa. Poder hierárquico Conforme o entendimento de Meirelles e Burle Filho (2016, p. 142), o poder hierárquico consiste na faculdade da qual dispõe o Executivo para “[...] distribuir e escalonar funções de seus órgãos, ordenar e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoas”. Nesse contexto, em função do poder hierárquico, torna-se possível estabelecer relações de coordenação e subordinação entre agentes e órgãos da Administração Pública. Ademais, aqueles que detêm o poder hierárquico desempenham uma série de prerrogativas ante os seus subordinados. A título de exemplo, citamos a possibilidade de dar ordens, coordenar e fiscalizar suas atividades, bem como delegar e avocar o exercício de certas competências. A delegação de competência diz respeito à possibilidade de que o superior entregue o exercício de certa competência que lhe pertence para um certo subordinado, a avocação de competência trata da possibilidade de atrair para si o exercício de alguma competência exercida por alguém que lhe é subordinado. 7Poderes da Administração Pública Poder disciplinar O poder disciplinar consiste na faculdade inerente à Administração Pública para punir internamente quaisquer infrações cometidas por servidores ou aqueles que estejam — de algum modo — sujeitos ao controle exercido pelos órgãos administrativos. Nesse contexto, o poder disciplinar costuma se manifestar nas eventuais punições internas de infrações funcionais cometidas por servidores (sem excluir eventuais punições de ordem penal). Ademais, a Administração Pública também pode se valer do poder disciplinar contra aqueles ligados a ela mediante algum tipo específicode vínculo, como ocorre, por exemplo, em contratos ou convênios firmados com o setor privado. Assim, embora o poder disciplinar seja — em alguma medida — corre- lacionado com o poder hierárquico, tratam-se — em verdade — de poderes distintos. Nesse contexto, enquanto o poder hierárquico — conforme mencio- nado — trata da questão do instrumento por meio do qual a Administração Pública distribui e escalona as atribuições executivas, o poder disciplinar trata justamente do controle do uso de tais atribuições, com vistas à punição de abusos ou omissões oriundas do exercício de tais atribuições. Poder normativo, ou regulamentar O poder normativo ou regulamentar é a faculdade conferida aos chefes do Poder Executivo (presidente da República, governadores de Estado e prefeitos) de editar os atos administrativos normativos. Tais atos se manifestam com a edição de decretos regulamentares — cuja função é instituir procedimentos que garantam a fi el execução das leis — e de decretos autônimos — cuja função é dispor sobre matérias de competência dos chefes do executivo, tal qual listadas no art. 84, IV, da Constituição Federal (MEIRELLES; BURLE FILHO, 2016). Poder de polícia Segundo Meirelles e Burle Filho (2016, p. 152), o poder de polícia é “[...] a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e o gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da cole- tividade ou do próprio Estado”. Em outras palavras, o poder de polícia confere aos agentes públicos a possibilidade de conter eventuais abusos perpetrados pelos particulares. Assim, nos casos em que as atividades dos particulares acabem por se revelar nocivas à coletividade ou ao Estado, a Administração Pública poderá se valer do poder de polícia para contê-las. Poderes da Administração Pública8 Para compreender a essência do poder de polícia, é preciso distinguir a polícia admi- nistrativa da polícia judiciária. Na base da distinção entre ambas, está a questão do seu objeto. Nesse contexto, enquanto a polícia administrativa tem como objeto bens, direitos ou atividades, a polícia judiciária — exercida por corporações especializadas, como, por exemplo, a polícia civil e a polícia federal — tem como objeto os próprios indivíduos. O poder de polícia referido está ligado apenas à chamada polícia adminis- trativa. A título de exemplo, citamos a atividade desempenhada pela vigilância sanitária e a regulação dos mercados de títulos de valores mobiliários exercida pela Comissão de Valores Mobiliários. Jurisprudência sobre os poderes da Administração Pública A jurisprudência dos tribunais que aborda a questão dos princípios recursais é numerosa e vasta. A seguir, serão apresentadas três ementas que abordam o tema. A primeira, que trata do poder de polícia, é um acórdão relatado e jul- gado conforme o entendimento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, sobre uma apelação interposta contra decisão judicial proferida pelo juízo de primeiro grau. O requerente ingressou com ação para proibir que fosse demolido o imóvel no qual residia, mas a decisão de primeiro grau entendeu que a Administração Pública poderia se valer do poder de polícia para demolir a construção. Irresignado, o requerente recorreu, mas o seu apelo foi indeferido em grau recursal: Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. OCUPAÇÃO IRREGULAR. EDI- FICAÇÃO SEM ALVARÁ. DEMOLIÇÃO. PODER DE POLÍCIA. I — Não há irregularidade na atuação da Administração, que, no exercício do seu Poder de Polícia, coíbe a ocupação desordenada e os parcelamentos ilegais do solo, com edificações sem o respectivo alvará. II — O ato administrativo goza da presunção de legitimidade e legalidade, a qual somente pode ser afastada mediante prova inequívoca em sentido contrário. III — Negou-se provimento ao recurso (BRASIL, 2018, documento on-line). 9Poderes da Administração Pública A segunda ementa, que aborda o poder disciplinar, é um acórdão relatado e julgado conforme o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, sobre um agravo de instrumento interposto contra decisão judicial proferida pelo juízo de primeiro grau. O recorrente ingressou inicialmente com mandado de segurança contra decisão administrativa do Departamento de Trânsito do Rio Grande do Sul, que, no uso de seu poder disciplinar, suspendeu cautelarmente sua creden- cial de despachante, com base em denúncia de forte esquema fraudulento. Porém, no juízo de primeiro grau, a decisão administrativa foi admitida em caráter liminar. Irresignado, o autor resolveu ingressar com recurso, que foi desprovido: Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ES- PECIFICADO. MANDADO DE SEGURANÇA. SUSPENSÃO CAUTE- LAR DE CREDENCIAL DE DESPACHANTE DE TRÂNSITO. PODER DISCIPLINAR DA ADMINISTRAÇÃO. VIABILIDADE. Perfeitamente cabível a suspensão cautelar das atividades do despachante de trânsito, ante a denúncia de forte esquema fraudulento, visando ao resguardo dos admi- nistrados e da investigação das faltas noticiadas. Medida cautelar que não se confunde com eventual penalidade que poderá ser aplicada ao fim do processo administrativo instaurado e do qual foi devidamente notificado o agravante. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO (RIO GRANDE DO SUL, 2013, documento on-line). A terceira ementa, que aborda o poder hierárquico, é um acórdão relatado e julgado conforme o entendimento do Tribunal do Mato Grosso do Sul, sobre uma apelação interposta contra decisão judicial proferida pelo juízo de primeiro grau. No caso, uma servidora pública realizou atividades de outro cargo, por ordem de seu superior, valendo-se do poder hierárquico. Por conseguinte, o juízo de primeiro grau condenou o ente público a pagar, a título de indenização, a diferença remuneratória do seu cargo para o cargo correspondente às suas atividades fáticas. Irresignado, o ente público recorreu. Porém, em função do fato acervo probatório, o tribunal manteve a decisão de primeiro grau: Poderes da Administração Pública10 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDORA DO PODER JUDICIÁRIO ATUANTE EM DESVIO DE FUNÇÃO. SITUAÇÃO DE FATO IMPOSTA PELO PRÓPRIO SUPERIOR HIERÁRQUICO. DIREITO AO RECEBI- MENTO DA DIFERENÇA ENTRE OS VALORES PAGOS E AQUELES DEVIDOS, INCLUSIVE PARA FINS DE ADICIONAIS. CORREÇÃO DA ATUALIZAÇÃO CONDENATÓRIA. RECURSO ESTATAL DESPROVIDO. Segundo a orientação pacífica do STJ, o servidor tem direito de receber, a título de indenização, as diferenças remuneratórias decorrentes de equiparação salarial com o cargo efetivamente desempenhado, sob pena de enriquecimento sem causa da Administração Pública (Súmula 378/STJ). Particularidades fáticas do litígio atestando a robustez do pedido inicial. Assentado o direito ao recebimento dos importes impagos, faz o servidor jus aos adicionais de fato, cumpridos durante o exercício desviado de função pública. Verificada a correção da atualização condenatória, não há falar em reparo pelo Tribunal. Apelo desprovido (MATO GROSSO DO SUL, 2019, documento on-line). BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti- tuicao.htm. Acesso em: 26 ago. 2019. BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (Sexta Turma Cível). 20170110166969 DF 0005140-96.2017.07.0018. Relator: José Divino, 8 ago. 2018. Diário da Justiça eletrônico, 14 ago. 2018. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurispru- dencia/113616945/agravo-de-instrumento-ai-70056903883-rs/inteiro-teor-113616955. Acesso em: 27 nov. 2019. CARVALHO FILHO, J. S. Manual de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2014. MATO GROSSO DO SUL. Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul. APL: 0823404- 15.2015.8.12.0001 MS 0823404-15.2015.8.12.0001. Relator: Des: João Maria Lós, 14 out. 2019. Diário da Justiça eletrônico, 14 out. 2019. Disponível em: https://tj-ms.jusbrasil. com.br/jurisprudencia/769753784/apelacao-apl-8234041520158120001-ms-0823404--1520158120001?ref=serp. Acesso em: 27 nov. 2019. MEIRELLES, H. L.; BURLE FILHO, J. E. Direito Administrativo brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2016. 11Poderes da Administração Pública Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (Segunda Câmara Cível). Agravo de Instrumento nº. 70.056.903.883. Relator: Arno Werlang, 4 dez. 2013. Diário da Justiça, 10 dez. 2013. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurispru- dencia/113616945/agravo-de-instrumento-ai-70056903883-rs/inteiro-teor-113616955. Acesso em: 27 nov. 2019. Leituras recomendadas ALEXANDRINO, M. Direito Administrativo descomplicado. São Paulo: Editora Método, 2017. DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 31. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2018. PESTANA, M. Direito Administrativo brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. SANTANNA, G. Direito Administrativo: 4. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2015. ZIMMER JUNIOR, A. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Editora Método, 2009. Poderes da Administração Pública12 DICA DO PROFESSOR Os poderes hierárquico e disciplinar são inerentes à Administração Pública e garantem tanto a possibilidade de escalonar e distribuir competências quanto a possibilidade de punir eventuais abusos cometidos por agentes públicos ou aqueles que estejam sujeitos ao regime administrativo. Dito isso, para saber mais sobre ambos os poderes referidos, confira a Dica do Professor. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: AGU explica - poder de polícia O poder de polícia garante que a Administração Pública pode restringir direitos e liberdades individuais em nome do interesse público. Para saber mais sobre ele, confira o vídeo a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! AGU explica - poderes vinculado e discricionário O poder discricionário e o poder vinculado são poderes que explicam o grau de liberdade decisória da qual dispõe a Administração Pública ao realizar um certo ato. Dito isso, para saber mais sobre ambos os poderes, veja o vídeo a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Poderes da Administração Pública A doutrina costuma chamar a atenção para o fato de que a Administração Pública goza de uma série de prerrogativas ou poderes especiais que lhe garantem concretizar o chamado interesse público. Dito isso, para um apanhado geral dos poderes da Administração Pública, leia o artigo de Guaracy Francisco Cavalcante. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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