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ESCOLA, FAMÍLIA E SOCIEDADE: 
DIFERENTES ESPAÇOS NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 
ASSIS, Graciano Júnio de - FURG 
gracianoassis@bol.com.br 
 
DE LIMA, Edenilson Ernesto - FURG 
spaspa@zipmail.com.br 
 
 
Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma breve reflexão sobre a importância da 
escola, da família e da sociedade no processo de construção da cidadania. Para tal, optou-se 
por uma pesquisa bibliográfica, a qual contou com a colaboração de Marshall (1967), Alencar 
(1993) e Carvalho (2008). Abordaremos aqui como diferentes espaços constituem-se como 
meio de se alcançar a formação de um cidadão ativo, participativo, que coopera e influencia 
diretamente na decisão da sociedade no qual está inserido. Como diferentes espaços dessa 
conquista, citaremos a família, a escola e a sociedade. A família faz parte do primeiro contato 
do ser humano com o mundo que ele agora faz parte. Sendo assim, nos relacionamos durante 
toda a nossa vida com conhecimentos adquiridos na infância, na primeira etapa da vida 
advindos da família. Esses conhecimentos, essas experiências, além de refletirem nossa 
personalidade, influenciarão também no processo de desenvolvimento da cidadania. A escola 
tem um papel extremamente importante nesse processo, pois é um espaço institucionalizado 
de ensino. Não podemos esquecer que, para que ela desempenhe com êxito sua função, faz-se 
necessário a participação da família e da sociedade. Seus interesses não devem se conflitar, 
pois a união de forcas é necessária para que as dificuldades sejam superadas, através da 
educação. A sociedade, como sendo o outro espaço de educação não institucionalizado, 
contribui na formação de caráter do individuo através do aprendizado, seja com os amigos, 
com os colegas, com as pessoas significativas do meio habitado, do cotidiano. A união desses 
eixos educacionais – institucionalizados ou não – contribuem e influenciam diretamente na 
educação e na formação do cidadão. 
 
Palavras-chave: Educação. Família. Sociedade. Cidadão. Escola. 
 
Introdução 
 
Neste texto discutiremos brevemente como a Educação, nos mais variados espaços de 
convivência, influencia (ou não) na sua formação do sujeito e na construção da cidadania. 
13109 
 
Abordaremos o papel da Educação nesse processo, não esquecendo que ela não é a única 
responsável pela conquista da cidadania, mas um dos pilares centrais. 
Sendo assim, a Educação e a escola devem representar "espaços privilegiados" para o 
aluno, dentro da pluralidade de idéias e da vivência de diferentes concepções pedagógicas, 
para ter suas concepções de forma crítica, responsável, autônoma. Nesse contexto e nesse 
tempo, entendemos que a escola precisa, urgentemente, se transformar em espaço que 
oportunize ao aluno se desenvolver como um cidadão reflexivo, analítico, capaz de viver e de 
conviver, desenvolver-se, continuar aprendendo, agir, interagir e ser feliz. 
O que mobiliza e deve dar vida a essa escola deve ser o do professor aberto ao 
convívio, permeável às mudanças, evoluções e interações: o professor deve ser o autor da 
ruptura da relação de dominação professor/aluno. O professor não pode mais ser só o "sujeito 
que ensina", porque os alunos não são mais apenas os "sujeitos que aprendem". 
Ensinar/aprender é uma ação continuada e compartilhada entre professores e alunos. A 
essência do ato de aprender está no diálogo, do entendimento dos diferentes pontos de vista e 
compreensão dos alunos. Freire (1970) afirma que: 
 
Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se 
solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser 
transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um 
sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca da, idéias a serem 
consumidas pelos permutantes ( p. 45). 
 
 
O diálogo adotado como cerne do ato educacional pode fazer com que se consiga, na 
prática, cidadãos críticos e dialogantes. Esse diálogo desenvolvido nas mais tenras fases 
contribui na construção permanente do cidadão. 
Ressaltamos ainda que o contexto de cidadania empregado ao longo desse texto tem 
como referencial teórico as definições adotadas por Marshall (1967) e Carvalho (2008). 
Sendo assim, destacaremos a seguir as contribuições tais autores a respeito do assunto. 
 
Conceito de cidadania: direitos dos cidadãos. 
 
Para que discutamos sobre cidadania, se faz necessário que a entendamos. Aqui a 
conceituaremos na visão de Marshall (1967) e Carvalho (1998). A história da cidadania 
mostra bem como esse valor encontra-se em permanente construção. A cidadania constrói-se 
13110 
 
e conquista-se. Para tal, o exercício da cidadania plena pressupõe ter direitos básicos, segundo 
Carvalho (2008). 
Ao analisar a sociedade Inglesa, Marshall (1967) “[...] divide a conquista do status de 
cidadania em três aspectos, a conquista dos direitos civis, os políticos e por fim os sociais” 
(Martins, 2010). Mas Carvalho (2008) ressalta que, esse modelo adotado por Marshall refere-
se ao padrão inglês, e que “o percurso inglês foi apenas um entre outros. [...] cada país seguiu 
seu próprio caminho. O Brasil não é exceção” (p.11). 
Segundo Martins (2010), para ser considerado um cidadão pleno, o sujeito tem que 
exercer plenamente os três direitos acima citados. Caso isso não ocorra, podemos ter o 
cidadão – aquele que possui apenas alguns deles – ou ainda o não-cidadão, que é aquele que 
não possui nenhum dos três direitos. Carvalho (2008) ressalta ainda que, os direitos civis 
“são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei” (p. 
9). Os direitos políticos “se referem à participação do cidadão no governo da sociedade” (Ib. 
Idem.). Por fim, salienta que, “[...] os direitos sociais garantem a participação na riqueza 
coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à 
aposentadoria” (Carvalho, p.10). 
 
Evolução histórica da escola frente à construção da cidadania no Brasil. 
 
Para falar da construção histórica da cidadania temos que traçar uma linha do tempo 
sobre a história da educação do Brasil. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, a 
educação brasileira sofreu uma nova ruptura. Neste período foram abertas academias 
militares, escola de medicina e escola de direito, bibliotecas e o jardim botânico. Nesta época, 
a escola só atendia a determinada classe social e não estava preocupada com a formação de 
todos os cidadãos. Segundo Ribeiro (1995, p. 33), “do ponto de vista educacional, a 
orientação adotada na administração de Pombal foi de formar o perfeito nobre, agora 
negociante”. 
Com a saída da família real do Brasil em 1889, é proclamada a República. Dois anos 
depois é promulgada a Primeira Constituição do período republicano, que prioriza o ensino 
laico em oposição ao ensino religioso no país que perdurou durante todo período colonial. 
Assim o país entra no século XX realizando diversas reformas educacionais, onde cada estado 
do Brasil passou a elaborar a sua, de acordo com as necessidades locais. Estas reformas 
13111 
 
tentam reconduzir a educação para novos métodos de ensino e assim fazer com que as pessoas 
alcancem a cidadania. 
Em 1930, Getúlio Vargas assumiu o governo e dissolveu o congresso. Este período 
ficou conhecido como o período da Segunda República, quando a prioridade passa a ser a 
mão de obra especializada. Neste mesmo ano é criado o Ministério da Educação e Saúde 
Pública, e no ano seguinte ele passa a organizar através do decreto lei 19.850, o ensino 
secundário e universitário. Depois de governar durante quatros anos Getúlio Vargas promulga 
a terceira Constituição brasileiraem 1934, onde pela primeira vez o ensino público passa a ser 
direito de todos, que ficaria a cargo do governo e da família assinalando assim uma 
preocupação, ainda que superficial, com a cidadania. Em 1937, há uma nova ruptura na 
historia da educação que levaria a cidadania ficar mais distante do povo, ou seja, há um 
retrocesso, pois, a Constituição redigida por Francisco Campos, retirava do texto o seguinte: 
“a educação é direito de todos e dever do governo”, neste momento a cidadania mais uma vez 
é retirada do povo só que legalmente. 
Neste mesmo ano (1937) nasce a UNE (União Nacional dos Estudantes) que passou a 
lutar pela educação como forma de criar cidadania e identidade do povo. Só em 1945, que a 
educação brasileira passou por reformas significativas; quando os militares, através de um 
golpe, destituíram Vargas, criando assim a nova república. A nova redemocratização cria uma 
nova Constituição em 1946, promulgada por Eurico Gaspar Dutra. Nesta nova constituição 
volta o texto retirado anteriormente. No ano de 1948 inicia a aprovação da LDB (porém 
aprovada 13 anos depois, em 1961); em 1951, Getúlio Vargas volta ao poder. Neste mandato 
deu-se inicio à discussão sobre (escola classe e escola parque), foi neste período que as idéias 
de Jean Piaget assumiram as bancas escolares. Em 1953, foi “criado” também o MEC 
(Ministério da Educação e Cultura). Na verdade, o a educação era atrelado ao Ministério da 
Saúde, mas essa vinculação foi desfeita pela Lei n.° 1.920, de 25 de julho de 1953. 
Em 1956, JK (Juscelino Kubitschek) assume. Neste momento houve um crescimento 
econômico, mas no seu plano de metas para o governo, a educação, como forma de cidadania, 
não está priorizada o foco era formação técnica. A falta de incentivo com a educação trouxe 
revolta popular dos educadores brasileiros. A cidadania, que tem seu berço na educação, 
estava ameaçada. O papel da escola pública é de crucial importância na educação para a 
cidadania: é que a escola pública, por definição, acolhe todos, é parte integrante da vida da 
cidadania democrática. Nesta época, mais de 189 educadores publicaram um manifesto que 
13112 
 
ficou conhecido como “manifesto dos pioneiros da educação nova”, exigindo que a educação 
pública, obrigatória, laica e gratuita fosse dever do Estado. 
Os educadores estavam comprometidos em garantir o direito ao ensino público para 
todos, para formar, assim, uma identidade de cidadania no povo brasileiro. Neste período 
surgem os defensores da escola privada, argumentando que tipo de ensino as famílias queriam 
para seus filhos, esta discussão perdurou até a promulgação da LDB em 1961 – Lei 4.024 de 
20/10/1961 – mas as regulamentações foram desconsideradas, e os educadores da “educação 
nova” criticavam os incentivos dados as escolas particulares, e a pouca atenção a rede oficial 
de ensino. 
Vale ressaltar que o objetivo de se criar escola privada deve-se ao fato do ideal de 
melhorias na educação. Com esse pretexto, iniciou-se uma série de processos desenfreados de 
privatizações. Essas ações tiveram contaram a seu favor com o abandono da educação pelo 
Estado, consequentemente, o abandono da cidadania. 
Nesta época na cidade do Recife-PE, criou-se um movimento popular de cultura que 
tinha como alvo a alfabetização de jovens e adultos. Este movimento tomou conta do país, 
realizando a inclusão do cidadão. Este movimento tinha a frente um jovem educador chamado 
Paulo Freire. Foi também elaborado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de 
Alfabetização. Mas este caráter de redemocratização educacional seria sufocado através do 
golpe militar em 1964, sobre o pretexto que as propostas eram agitadoras, e com isto mais 
uma vez, a cidadania encontrava-se atada, pois neste período ela passou a não ter mais voz. 
 
A cidadania nos diferentes espaços 
 
A Escola e a Cidadania 
 
A escola é um lugar institucional de educação para a cidadania, de uma importância 
cívica fundamental, não como uma antecâmara para a vida em sociedade mais constituindo os 
primeiros degraus de uma caminhada que a família e a comunidade se enquadram. Deve 
proporcionar a «cultura do outro» como «necessidade de compreensão de singularidades e 
diferenças», a responsabilidade pessoal e comunitária, o conhecimento rigoroso e metódico da 
vida e das coisas e a compreensão de culturas, de nações, do mundo. A escola fornece um 
horizonte mais amplo no qual a criança ou o jovem inscrevem as suas vidas. 
13113 
 
A escola, agente de mudança e fator de desenvolvimento tem que se assumir 
basicamente não só como um potencializador de recursos, mas também como um lugar de 
abertura e de solidariedade, de justiça e de responsabilização mútua, de tolerância e respeito, 
de sabedoria e de conhecimento. O papel da escola pública é de crucial importância na 
educação para a cidadania: é que a escola pública, por definição, acolhe todos, é parte 
integrante da vida da cidade democrática. Grande parte da nossa educação falha porque 
esquece o princípio fundamental da escola como modo de vida comunitária. 
Sarmento (2006) corrobora estas idéias afirmando ser a escola o primeiro pilar da 
socialização pública das crianças e a importância da construção da experiência escolar pelos 
próprios atores sociais como importante fator de aprendizagem da cidadania. 
Simultaneamente há que sublinhar, numa perspectiva de educação e formação ao longo da 
vida, a importância estratégica da educação não-escolar, da educação não-formal, da educação 
de adultos, especificando a importância educativa de instituições não escolares tais como os 
meios de comunicação, a publicidade, as redes sociais, o bairro, as igrejas, os grupos e 
associações de moradores. 
Marshall (1967, p.73) afirma que “O direito á educação é um direito social de 
cidadania genuíno porque o objetivo da educação durante a infância é moldar o adulto em 
perspectiva”. Com essa fala, Marshall deixa bem claro que, o adulto que se almeja no futuro, 
começa a ser moldado, “fabricado” na infância e que nesse sentido, a escola tem um papel 
crucial. 
Quando o Estado assume, garante a educação das crianças, “Está tentando estimular o 
desenvolvimento de cidadãos em formação” (Marshall, 1967, p.73). Esse deveria realmente 
ser o papel da educação: formar cidadãos. A escola deve proporcionar às novas gerações 
aquilo a que Polakow (1993) chama “um sentido de lugar”. E acrescenta: 
 
[...] um lugar é mais do que a soma das suas rotinas, regras, horários, resultados de 
avaliação […] um lugar onde as crianças e os jovens sintam que são importantes, 
não instrumentalmente, porque estão presentes e fazem parte de um número 
determinado, mas existencialmente, porque se trata de uma paisagem em que elas 
têm significado e um sentido de pertença (POLAKOW, 1993, p. 159). 
 
 
Contudo, variados espaços contribuem para a construção e aperfeiçoamento da 
cidadania. Todas as experiências, os fatos vivenciados, colaboram de alguma forma para esse 
crescimento, essa evolução como homem e como cidadão. 
13114 
 
 
A Família e Cidadania 
 
A família é o primeiro espaço de afeto, de segurança e de alteridade. Daí constituir-se 
num primeiro espaço de educação para a cidadania, pois é a instância matriz da socialização 
na vida das crianças. Tomamos aqui família num sentido muito amplo, podendo assumir as 
formas mais diversas: famílias tradicionais, famílias mono parentais, famílias de acolhimento. 
O importante é que a família seja exemplo de participação na vida social, de atenção ao que a 
cerca, de abertura e solidariedade. 
No entanto, as famílias podem também ser lugares problemáticos, de exploração e de 
vitimização. Os jornais inundam-nos diariamente com notícias a esse respeito, ultrapassando 
classes sociais e condições socioeconômicas. Encontramos também famílias fechadas sobre si 
mesmas, isoladassocialmente, que não têm condições para se tornar espaços de cidadania. 
A participação familiar no processo de construção da cidadania torna-se 
imprescindível quando entendemos que é nela que a criança tem o primeiro contato com o 
mundo. As relações que o bebê constrói desde esses primeiros instantes o acompanharam pelo 
resto da vida. Ana Bock (1999 p.108) afirma que “as crianças, desde o nascimento, estão em 
constante interação com os adultos [...]” e que “[...] à medida que a criança cresce, os 
processos acabam por serem executados dentro das próprias crianças – intrapsíquicos”. Sendo 
assim, esses processos influenciam diretamente na formação da criança enquanto ser humano, 
consequentemente, exerce influências na formação do cidadão. 
 
A Sociedade, a escola e a família no processo de construção da cidadania 
 
A família e a comunidade lançam visão e cobranças à escola. Mas a escola não é a 
exclusiva instância de formação de cidadania. Aperfeiçoar cidadãos supõe instituições onde se 
possa resgatar a subjetividade inter-relacionada com a grandeza social do ser humano, em que 
a produção e diálogo do conhecimento ocorram através de práticas participativas (sociedade, 
escola, família) e criadoras, inovadoras. 
Trata-se de uma instituição da sociedade na qual a criança atua efetivamente como 
sujeito particular e social. É um lugar concreto e principal para a formação de significados e 
para construção da cidadania: na medida em que aprove a aprendizagem de informação crítica 
13115 
 
e criativa, colabora para formar cidadãos que operem na junta entre Estado e a comunidade 
civil. 
A sociedade colabora e muito na constituição do sujeito em formação. Esta aliada aos 
outros dois fatores citados anteriormente – escola e família – podem formar, ou não, base para 
construção da cidadania. Sendo assim, elas podem incluir, mas também excluir seus 
participantes do processo de desenvolvimento integral. 
Segundo Alencar (1993) a produção do fracasso escolar advém de comprometimentos 
na estrutura da família e da escola e do próprio sistema político e econômico de nossa 
sociedade. Fracassando-se a educação, podemos interpretar que se dificulta, pra dizer que se 
fracassa também, o processo de construção da cidadania. 
Tornam-se praticamente impossível dicotomizar esses três pilares do processo 
educacional, pois entendendo o sujeito como aluno, filho e cidadão em formação ao mesmo 
tempo, a tarefa de ensinar não cabe somente à escola, até porque aprendemos também em 
outros espaços não institucionalizados de ensino. Nesse processo a sociedade e a família 
contribuem juntas com a escola. 
Os valores do mundo social (sociedade, família, escola) onde a criança está inserida 
auxiliam na definição desse mundo e servem de modelos para suas atitudes e 
comportamentos. Forma-se sua personalidade, seu desenvolvimento pessoal e intelectual, 
consequentemente reflete no perfil de cidadão que virá a ser. 
 
 
O ambiente familiar é o ponto primário da relação direta com seus membros, onde a 
criança cresce, atua, desenvolve e expõe seus sentimentos, experimenta as primeiras 
recompensas e punições, a primeira imagem de si mesma e seus primeiros modelos 
de comportamentos – que vão se inscrevendo no interior dela e configurando seu 
mundo interior. Isto contribui para a formação de uma “base de personalidade”, 
além de funcionar como fator determinante no desenvolvimento da consciência, 
sujeita a influências subseqüentes (DE SOUZA & JOSÉ FILHO, 2008). 
 
 
É trabalho principal tanto dos pais, como também da escola o trabalho de modificar a 
criança imatura e ingênua em cidadão amadurecido e participativo, influente, consciencioso 
de seus deveres e direitos. E que este ser em desenvolvimento seja em tempo futuro um 
homem consciente, crítico e autônomo expandindo valores éticos, espírito arrojado capaz de 
interatuar no meio em que habita. 
13116 
 
A cidadania esteve e está em permanente construção, sendo assim, não pode ser 
abandonada nem tampouco colocada a cargo de apenas uma esfera social. 
 
 
A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de 
participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania 
está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando 
numa posição de inferioridade dentro do grupo social (DALLARI, 1998, p.14). 
 
 
A constante integração entre a família, a escola, a sociedade e o ser em formação, 
constitui como elemento fundamental e indispensável. Sendo a convivência do ser humano 
em sociedade e família, torna-se essencial a participação dessas esferas no processo 
constituidor da cidadania. 
 
A escola no processo de construção da cidadania: o papel da educação 
 
Ao citarmos o termo “cidadão” devemos ter em mente quais são os direitos que estes 
podem possuir. Devemos também compreender que, para se tornar um cidadão pleno, faz-se 
necessário o gozo de todos esses direitos; mas que a falta de algum(s) deles, não o 
desqualifica totalmente, porem a falta de todos eles sim. Para isso, vamos nos valer da visão 
de Marshall (1967) e Carvalho (2008) acerca do assunto. 
Percebe-se que, para participar ativamente “da” e “na” sociedade, para tornar-se um 
cidadão pleno, a educação tem um papel fundamental. Sendo a educação, na visão de 
Marshall (1967) e Carvalho (2008), definida nos direitos sociais, faz-se necessário que a 
sociedade se auto-organize para que, através da educação, se conquistem outros direitos 
sociais básicos. Essa auto-organização está diretamente ligada à participação social coletiva 
na constituição do Estado. Essa constante luta pelos direitos leva à construção de uma 
identidade cada vez mais forte, uma particularidade que cada nação constrói, o que fatalmente 
a diferenciará das demais. Uma nação não terá o mesmo tipo de cidadão de outra nação. 
Alguns outros fatores como a história, a política, a religião e a cultura são determinantes na 
constituição do cidadão. 
 
[...] a construção da cidadania tem a ver com a relação das pessoas com o Estado e 
com a nação. As pessoas se tornavam cidadãs à medida que passavam a se sentir 
13117 
 
parte de uma nação e de um Estado. [...]. A maneira como se formam os Estados-
nação condiciona assim a construção da cidadania (CARVALHO, 2008, p.12). 
 
 
A educação deve contribuir para que se forme a consciência sobre o papel do cidadão, 
sua função dentro da sociedade e como suas contribuições são significantes para a vida dessa 
sociedade. A independência de uma sociedade depende muito da consciência do cidadão 
sobre a sua tarefa desempenhada. 
Mas para essa conscientização, faz-se necessário que os educadores estejam engajados 
no processo para que se cumpra seu papel social e contribuição na formação do cidadão. A 
educação teórica, aquela praticada em sala de aula deve estar em conexão com a prática 
social. 
 
[...] na escola, a cidadania, enquanto aprendizagem e exercício social afetivo, precisa 
se referir, por exemplo, não somente ao acesso a diversas formas de conhecimento, 
mas também a uma prática social de respeito, de igualdade, de dignidade e de 
participação (GARCIA, 2008, p.70). 
 
 
Sendo a educação um processo de humanização que perdura por toda a vida e se 
constitui em vários espaços, estamos em constante construção de cidadania. Sempre nos 
educamos, consequentemente sempre nos constituímos como cidadãos. 
 
Conclusão 
 
Portanto, ser um cidadão é está inserido nos contextos vivenciado neste ensaio; é 
poder agir e interagir com a sociedade, extraindo dela e contribuindo para ela com toda 
potencialidade conveniente a um cidadão; é ser respeitado e respeitar, é falar e ser ouvido, é 
questionar, é participar dos atos públicos com autonomia. Ser cidadão é poder ir e vir sem 
restrições, ser cidadãoe ter o direito a um ensino de qualidade, é ter um lar, é poder ter um 
trabalho digno que o remunere com equidade. E é dentro do seio familiar, da escola e da 
sociedade ao qual está inserido que o cidadão forma e toma consciência de seus direitos e 
deveres. 
Entretanto vemos que em todos os tempos em que se fez a historia da educação no 
Brasil, a cidadania esteve sempre à margem, pois na sociedade em que o governo usa a escola 
13118 
 
para ser instrumento de continuidade e perpetuação dos seus privilégios, onde o ter é maior 
que o ser. 
O cidadão que a sociedade tanto deseja, que tanto espera, começa a ser formado, a ser 
“moldado” logo nos primeiros dias de vida, e continua sendo formado por toda a vida. Logo, 
não se pode pensar em construção de cidadania a partir de um determinado período de vida de 
um sujeito. Todas essas questões devem ser pensadas e colocadas em práticas para que, 
consigamos uma sociedade mais ativa. 
Temos que viver em luta continuada pela cidadania plena fazendo com que a educação 
– mas não somente ela – seja o degrau para isso. Assim poderemos obter uma sociedade mais 
justa, mais participativa e com cidadãos bem mais conscientes. 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
ALENCAR, Eunice. Novas contribuições da psicopedagogia de ensino e aprendizagem. 
São Paulo: Cortez, 1993. 
 
BOCK, Ana M. B., FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria L. T. Psicologias: Uma 
Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo, Editora Saraiva, 1999. 
 
BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Constituicao/Constitui%C3%A7ao37.htm>. Acesso 
em: 05 jun. 2011. 
 
_______. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui%C3%A7ao46.htm>. Acesso 
em: 05 jun. 2011. 
 
_______. Constituição Política do Império do Brasil de 1824. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm>. Acesso em: 
05 jun. 2011. 
 
_______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui%C3%A7ao67.htm>. Acesso 
em: 08 jun. 2011. 
 
_______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. <Disponível em 
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 08 jun. 2011. 
 
_______. Lei n.° 1.920, de 25 de julho de 1953. Cria o Ministério da Saúde e dá outras 
providências. <Disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/Lei1920.pdf>.Acesso em: 
12 jun. 2011. 
 
13119 
 
_______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional. <Disponível em 
http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>. Acesso em: 12 jun. 
2011. 
 
_______. Plano Nacional da Educação. Disponível em 
<http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2011. 
 
_______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: 
história, geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997 
 
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