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A condição jurídica do estrangeiro

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DIREITO 
INTERNACIONAL 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Contextualizar o conceito de estrangeiro e como se dá sua admissão no 
território do Estado.
 > Descrever as formas de saída compulsória do estrangeiro.
 > Explicar os institutos de asilo e refúgio.
Introdução
O fluxo migratório, embora não seja um recente fenômeno, tem edificado uma 
série de desdobramentos no âmbito dos Estados, em diversos aspectos: político, 
social, jurídico e econômico. No Brasil, a matéria da condição jurídica do estran-
geiro era baseada em legislação instituída no ordenamento jurídico nacional 
do período da ditadura militar, cuja ideia estava calcada na segurança nacional. 
A matéria sofreu inúmeras modificações quando o antigo Estatuto do Estrangeiro 
foi revogado e passou a vigorar em território nacional a nova Lei de Migração — 
Lei nº 13.445, de 2017 — que se adequou à Constituição Federal de 1988. 
A Lei de Migração contempla inúmeros apontamentos relativos ao fenômeno 
das migrações no Brasil. Conceitua as diferentes formas de não nacionais, forne-
cendo informações quanto à natureza jurídica do estrangeiro no país, estipulando 
as formas de ingresso e as medidas que podem ser tomadas para a compulsória 
retirada do estrangeiro do território brasileiro. Também inova ao contemplar 
no texto legislativo a repatriação, que, embora fosse anteriormente utilizada 
pelas autoridades competentes, carecia de regulamentação. Além disso, a Lei 
A condição jurídica 
do estrangeiro
Karoline Freire 
nº 13.445, de 2017, abordou o instituto do asilo e enfatizou a aplicação da Lei nº 9.474, 
de 1997, nos casos de refúgio. 
Neste capítulo, você conhecerá o contexto dos estrangeiros em solo na-
cional e de que maneira o Brasil os admite em seu território. Também verá as 
diferentes formas de retirada compulsória do estrangeiro do país, além dos 
institutos do asilo e do refúgio, a diferença entre eles e de que forma essas 
medidas protetivas são aplicadas.
A admissão do estrangeiro no território 
do Estado
A mobilidade de pessoas em todo o mundo, segundo levantamento realizado 
pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 2015, ultrapassava 
244 milhões de indivíduos vivendo fora de seu país de origem, número que 
representava à época da estatística 3,4% da população mundial (ASANO; TIMO, 
2017). Dessa forma, por representar um enorme impacto para as nações, com 
alterações nas searas social, política, cultural, econômica, entre outras, essa 
questão ganhou maior atenção no âmbito jurídico.
No Brasil, até 2017 quando foi editada a Lei nº 13.445, denominada de 
Lei de Migração, a matéria vinculada à situação jurídica do estrangeiro era 
estabelecida por meio da Lei nº 6.815 de 1980, o Estatuto do Estrangeiro e, 
no período anterior a 1980, o país carecia de lei específica sobre migrações 
(GUERRA, 2017). 
No Brasil, a revogada Lei nº 6.815, de 1980, tinha nesse âmbito um caráter 
retrógrado. Após a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988 — que 
trouxe como fundamento máximo a dignidade da pessoa humana e direi-
tos fundamentais, recepcionando fortemente os direitos humanos —, tal lei 
mostrava-se em desconformidade com os novos proclames constitucionais do 
Brasil. Diante desse contexto, houve uma alteração na jurisprudência pátria, 
que passou perceber a necessidade de atualização da legislação infracons-
titucional quanto às migrações, tendo e vista que o Estatuto do Estrangeiro 
havia sido promulgado nos anos de ditadura militar. Tal estatuto adotava uma 
postura voltada à segurança nacional e à criminalização de estrangeiros, vistos 
como ameaça à coesão social do país. A partir de então, o que se passou a 
perceber foi que as decisões nos tribunais brasileiros quanto às migrações 
passaram a igualar o tratamento do estrangeiro e do nacional, sendo ambos 
sujeitos a direitos humanos e fundamentais, conforme a aplicação máxima 
da Constituição de 1988 (RESENDE; BRASIL, 2019). Nesse sentido: 
A condição jurídica do estrangeiro2
A Constituição Federal de 1988, [...], tem como fundamentos, dentre outros, a dig-
nidade da pessoa humana e o pluralismo político. Os fundamentos da República 
Federativa do Brasil servem, exatamente, para transmitir a noção de alicerces de 
nossa estrutura política-jurídica. A dignidade é um valor espiritual e moral, ine-
rente à pessoa, que se manifesta na autodeterminação consciente e responsável 
da própria vida, trazendo embutido em seu conceito a pretensão ao respeito 
por parte das demais pessoas. Constitui-se de um mínimo intangível que todo 
ordenamento jurídico deve assegurar, determinando a consideração à necessária 
estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos, de modo que, 
somente em raríssimas ocasiões, e devidamente justificadas, possam ser feitas 
limitações aos direitos fundamentais. Já o pluralismo político assegura ao indivíduo 
a liberdade para se autodeterminar e elevar a sua vida como bem lhe aprouver, 
imune à intromissão de terceiros, sejam elas provenientes do Estado ou mesmo 
de particulares (BRASÍLIA (DF), 2016, documento on-line). 
Dessa maneira, percebeu-se a necessidade de conceber na ordem jurídica 
nacional uma lei que retratasse a situação dos não nacionais, que até então 
eram tratados como hóspedes. Assim, no ano de 2017 entrou em vigor a Lei 
nº 13.445, de 2017, conhecida como Lei de Migração. A nova legislação foi 
concebida de acordo com as normas constitucionais de 1988, que atribuíram 
valor à dignidade da pessoa humana e toda a carga correspondente à proteção 
dos direitos humanos. A Lei de Migração trata dos direitos e obrigações dos 
migrantes e visitantes no Brasil, regula a entrada e permanência de estran-
geiros e impõe normas de proteção ao brasileiro no exterior (GUERRA, 2017). 
O revogado Estatuto do Estrangeiro denominava estrangeiro a partir da 
identificação de quem era nacional do Brasil; logo, a pessoa que não estava 
descrita no artigo 12 da Constituição Federal de 1988 como brasileiro nato 
ou naturalizado era indicada como estrangeiro e, em situações extremas e 
diversas, apátrida. Assim, sob o Estatuto do Estrangeiro, os que não se en-
quadravam no rol de possibilidades de ter nacionalidade brasileira segundo 
a Carta Maior eram tratados como estrangeiros. Entretanto, a matéria sofreu 
absoluta alteração com o advento da entrada em vigor da Lei nº 13.445/2017. 
“A nova lei estabeleceu alterações na nomenclatura do não nacional, substi-
tuindo a figura do estrangeiro pela do migrante” (GUERRA, 2017, documento 
on-line). 
Ademais, o artigo 1º, §1º, da Lei de Migração trouxe considerações e di-
ferenciações entre imigrante, emigrante, residente fronteiriço, visitante e 
apátrida (BRASIL, 2017b). O imigrante é interpretado como a pessoa que é 
nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece 
de maneira temporária ou definitiva no Brasil. O emigrante é o brasileiro 
que passou a residir temporária ou definitivamente no exterior. Por sua vez, 
a ideia de residente fronteiriço está baseada nas pessoas nacionais de país 
A condição jurídica do estrangeiro 3
limítrofe ou apátrida que conservam sua residência habitual em município 
fronteiriço de país vizinho. Já o visitante é a pessoa nacional de outro país ou 
apátrida e que vem ao Brasil para permanência de curta duração, sem que 
exista o objetivo de estabelecer residência no país, seja temporária ou defi-
nitivamente. Finalmente, o apátrida, segundo a Lei de Migração, é o indivíduo 
que não é considerado nacional por nenhum Estado, conforme estabelecido 
na Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo 
Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado 
brasileiro (BRASIL, 2017b). 
Merece destaque a disposição legislativa em relação ao residente fron-
teiriço, ao qual, a fim de facilitar sua livre circulação, poderá ser concedida 
autorização para a realização de atos da vida civil. Essa autorização indicará 
o município fronteiriço no qual o residente estará autorizadoa exercer os 
direitos a ele atribuídos pela Lei de Migração. Assim, o residente fronteiriço, 
possuindo autorização, terá garantias e direitos assegurados pelo regime 
geral de migração (BRASIL, 2017a). 
Sem dúvida, a Lei de Migração representou avanço significativo à matéria 
de migrações, uma vez que passou a conceder aos migrantes uma série de 
prerrogativas que até então eram exclusivamente concedidas aos nacionais. 
Entre as principais alterações trazidas pela Lei nº 13.445/2017, está a “desbu-
rocratização do processo de regularização migratório, a institucionalização da 
política de vistos humanitários, a não criminalização por razões migratórias, 
além de conferir uma série de direitos aos migrantes que até então não eram 
garantidos” (GUERRA, 2017, documento on-line). 
Em certa medida, a terminologia adotada na nova legislação de migra-
ção faz com que a pessoa não nacional do Estado seja colocada como par 
do nacional, não sendo tratada de maneira discriminatória. Nesse sentido, 
o próprio texto legislativo indica em seu artigo 4º que “ao migrante é ga-
rantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, 
a inviolabilidade do direito à vida, à igualdade, à segurança e à propriedade” 
(BRASIL, 2017b, documento on-line), além de trazer extensivo rol de garantias 
aos migrantes, como direitos e liberdades civis, culturais, sociais e econômicas, 
direito à educação pública, amplo acesso à justiça e à assistência jurídica, den-
tre tantos outros proclamados no artigo 4º da Lei de Migração (BRASIL, 2017). 
Além disso, permite-se ao imigrante exercer cargo, emprego e função 
pública, de acordo com indicação em edital, excetuados aqueles reservados 
para o brasileiro nato, conforme disposições trazidas na Constituição Federal 
de 1988, artigo 12, §3º, como, por exemplo, exercer o cargo de Presidente e 
Vice-Presidente da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988). 
A condição jurídica do estrangeiro4
Essas alterações propostas pela Lei de Migração buscam dar concretude 
ao que estabelece o texto constitucional, como é o caso do artigo 5º, caput, 
que consagra o princípio da igualdade entre brasileiros e não brasileiros, 
combatendo a discriminação, a xenofobia e outras práticas contrárias aos 
direitos humanos (BRASIL, 1988). Nesse sentido, afirmam Asano e Timo (2017, 
documento on-line): 
Nos últimos [...], vários debates em torno das migrações foram impulsionados no 
Brasil, principalmente pela chegada de migrantes haitianos, o que evidenciou uma 
série de questões como: ausência de políticas públicas para o acolhimento, obstá-
culos burocráticos para se obter documentação, discriminação e dificuldades de 
integração, que resultaram em vários eventos e debates públicos que culminaram 
ao final com a nova Lei de Migração que estivesse em conformidade com a política 
brasileira em prol dos direitos humanos. 
No que tange os direitos sociais, a Lei de Migração tratou da inclusão social, 
laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas, mediante 
“acesso igualitário e livre do imigrante a serviços, programas e benefícios 
sociais, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, 
serviço bancário e seguridade social” (GUERRA, 2017, documento on-line). 
A Lei de Migração, além de estabelecer uma nova definição para estran-
geiro, também determinou as maneiras que um não nacional pode ingressar 
no Brasil. Dessa forma, o ato de ingresso e permanência do migrante em 
território nacional está vinculado com o poder discricionário do Estado, apto a 
aceitar ou não que determinada pessoa entre e permaneça em seu território, 
“como no caso de um indivíduo que tenha atentado contra a segurança do 
Estado (como na prática de atos terroristas). Há de ressaltar que o Estado 
não pode ser prender a questões relativas a raça, sexo, idioma ou religião” 
(GUERRA, 2017, documento on-line). 
Ao contrário do Estatuto do Estrangeiro, a nova legislação de migração 
procura estabelecer critérios objetivos que garantem a proteção jurídica ao 
migrante. No Brasil, a Lei de Migração lista em seu artigo 5º os documentos 
aceitos para o acesso ao território nacional, admitindo como documentos de 
viagem: passaporte, laissez-passer, autorização de retorno, salvo-conduto, 
carteira de identidade de marítimo, carteira de matrícula consular, documento 
de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando admitidos 
em convenção ou tratado internacional, além do certificado de membro de 
tripulação de transporte aéreo e outros que venham a ser reconhecidos pelo 
Estado brasileiro em regulamento (BRASIL, 2017b). 
A nova lei traz o visto como documento que confere a seu portador a 
expectativa de ingresso no território nacional, conforme dispõe o artigo 6º. 
A condição jurídica do estrangeiro 5
Tal visto pode ser expedido por consulados-gerais, embaixadas, consulados, 
vice-consulados e, quando houver habilitação, pelo órgão competente do 
poder Executivo, por escritórios comerciais e de representação no Brasil no 
exterior, matéria disposta no artigo 7º, caput, da Lei 13.445 (BRASIL, 2017b). 
Ademais, conforme estabelece o artigo 12 da Lei de Migração, poderá ser 
concedido ao solicitante que tenha o interesse de ingressar ou permanecer 
no território nacional os vistos de visita, temporário, diplomático, oficial ou de 
cortesia, sendo que taxas e emolumentos consulares podem ser requisitados 
pelo processamento do visto (BRASIL, 2017b). 
O visto de visita abarca os casos de turismo, negócios, trânsito, atividades 
artísticas ou desportivas, entre outras possibilidades que devem ser definidas 
em regulamento. Tal modalidade é aplicada ao visitante que vem ao Brasil 
sem o intuito de estabelecer residência e por período de curta duração, 
sendo-lhe vedado o exercício de atividade remunerada enquanto estiver no 
território nacional. Salienta-se, entretanto, que nos casos de indivíduos que 
venham ao Brasil para participar de competições desportivas ou concursos 
artísticos ou culturais, há possibilidade de, portando o visto de visita, receber 
pagamento do governo, de empregador brasileiro ou de entidade privada 
com o objetivo de pagamento de diárias, ajuda de custo, cachê, pró-labore ou 
outras despesas com a viagem, além de poder concorrer a prêmios, inclusive 
em dinheiro (BRASIL, 2017b). 
O visto temporário, previsto no artigo 14 da Lei de Migração, pode ser 
concedido ao imigrante que vem ao Brasil com o objetivo de estabelecer 
residência por tempo determinado em casos de pesquisa, ensino ou extensão 
acadêmica; tratamento de saúde; acolhida humanitária; estudo; trabalho; 
férias-trabalho; prática de atividade religiosa ou serviço voluntário; realização 
de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, 
tecnológica ou cultural; reunião familiar; e atividades artísticas ou desportivas 
por prazo determinado (BRASIL, 2017b).
Algumas peculiaridades estão presentes nos ditames quanto ao visto 
temporário, como, por exemplo, no caso de visto temporário para pesquisa, 
ensino ou extensão acadêmica, que poderá que concedido ao imigrante com 
ou sem vínculo empregatício com a instituição de pesquisa ou de ensino bra-
sileira. Quando da existência de vínculo empregatício, exige-se a comprovação 
de formação superior compatível ou equivalente reconhecimento científico. 
Ademais, em se tratando de visto temporário para tratamento de saúde, 
poderá ser concedida a mesma natureza de visto ao acompanhante de quem 
passará pelo tratamento médico no país, desde que o imigrante comprove 
possuir fundos de subsistência suficientes (BRASIL, 2017a). 
A condição jurídica do estrangeiro6
Finalmente, os vistos diplomático, oficial e de cortesia podem ser con-
cedidos, prorrogados ou dispensados de acordo com o que impõe a Lei de 
Migração. Os vistos diplomáticos e oficiais poderão ser concedidos a auto-
ridades e funcionários estrangeiros de viagem ao Brasil em missão oficial 
de caráter transitório ou permanente, representandoEstado estrangeiro 
ou organismo internacional reconhecido. Ademais, o titular de visto diplo-
mático ou oficial apenas poderá receber remuneração por meio de Estado 
estrangeiro ou organismo internacional, mas o dependente de titular de 
visto diplomático ou oficial pode exercer atividade remunerada no Brasil, 
amparado pela legislação brasileira do trabalho, desde que seja nacional de 
país que assegure reciprocidade de tratamento ao nacional brasileiro, por 
comunicação diplomática (BRASIL, 2017a). 
No momento em que é admitido no território nacional, o indivíduo passa 
a estar sujeito às leis brasileiras, com exceção de imunidades concebidas 
em documentos internacionais. A Lei de Migração, da mesma forma, indicou 
em que situações o indivíduo não poderá ser aceito no território nacional, 
de acordo com a determinação trazida no artigo 45 (BRASIL, 2017b): 
 � pessoa anteriormente expulsa do país, enquanto os efeitos da expulsão 
vigorarem; 
 � condenada ou respondendo processo por ato de terrorismo ou por 
crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou 
crime de agressão, de acordo com as definições estabelecidas pelo 
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional; 
 � condenada ou respondendo processo em outro país por crime doloso 
passível de extradição de acordo com a normativa legal brasileira; 
 � indivíduo que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem 
judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo 
internacional; 
 � indivíduo que apresente documento de viagem inválido para o Brasil, 
que esteja com prazo de validade vencido ou que esteja com rasura 
ou indícios de falsificação; 
 � que não apresente documento de viagem; 
 � cujo objetivo da viagem não seja compatível com o tipo de visto que 
esteja portando; 
 � que tenha fraudado documentação ou prestado informação falsa por 
ocasião da solicitação de visto; 
 � que tenha praticado ato contrário com os princípios e objetivos indi-
cados na Constituição Federal de 1988. 
A condição jurídica do estrangeiro 7
Dessa forma, é necessário que a questão das migrações, para além dos 
dispositivos legais, seja encarada como realidade indiscutível e desafiadora, 
e, para além de questões de controle, estatais e policiais, passe a ser enca-
rada como questão social, sob o arquétipo do respeito aos direitos humanos 
(BRASIL, 2018). 
A repatriação, em medida de retirada compulsória do estrangeiro 
do país, não era um instituto normalizado no revogado Estatuto do 
Estrangeiro. Em 2017, com advento da Lei nº 13.445, a repatriação passou a ser 
expressamente contemplada no texto legislativo — Seção II, Capítulo V, artigo 
49, caput e parágrafos 1º a 4º da Lei de Migração (BRASIL, 2017b). Porém, muito 
embora representasse uma novidade legislativa, passando a ser regulamentada 
pela Lei de Migração, a repatriação já era um instituto aplicado pelas autoridades 
competentes mesmo antes da nova lei. 
Em 2012, a Polícia Federal barrou a entrada de um médico espanhol no 
aeroporto de Brasília, o qual não possuía passagem de regresso à Europa e 
viajava ao Brasil sem quaisquer reservas de hotéis ou indicação de endereço 
de permanência durante sua estada no país. Após ser impedido de entrar no 
Brasil, o turista espanhol regressou à Espanha no mesmo voo que o trouxe até 
Brasília (PF..., 2012). 
No ano de 2008, a Polícia Federal já havia impedido a entrada de 30 es-
trangeiros no Brasil. Dentre as razões de impedimento de ingresso estavam: 
ausência de todos os requisitos que a lei exigia para ingresso no país; excesso 
no limite de dias de permanência no Brasil em visita anterior; ausência de vistos 
para trabalho; visto vencido; não apresentação de passagem de retorno; e 
não apresentação de passaporte às autoridades competentes. Ainda em 2008, 
o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou que a Polícia Federal 
barrasse espanhóis de ingressar no Brasil, visto que, naquele ano, brasileiros 
estavam sendo impedidos de ingressar na Espanha, ainda que o destino final 
deles fosse outro país. O governo estudou as regras de entrada de estrangeiros 
e determinou que exigências como passagem de volta, comprovação de posse 
de fundos financeiros para se manter no país, indicação de hotel ou endereço 
no país e aquisição de seguro de saúde fossem requisitos obrigatórios à entrada 
de espanhóis do Brasil (CANTANHÊDE; CRUZ, 2008). 
Diante dos fatos, é possível concluir que, ainda que a repatriação não fosse 
regulamentada pelo Estatuto do Estrangeiro ou outro documento específico 
quanto à matéria antes da Lei de Migração de 2017, o instituto era amplamente 
utilizado no país, que se baseava em questões pontuais, como apresentação 
de passaporte válido para autorização ou impedimento de ingresso no Brasil. 
A condição jurídica do estrangeiro8
Formas de saída compulsória de 
estrangeiros
O ordenamento jurídico pátrio, por meio da Constituição da República de 1988, 
destaca em seu artigo 12 as formas de aquisição da nacionalidade brasileira, 
o que pode ocorrer de forma originária, no momento do nascimento, ou de 
maneira derivada, por meio da naturalização, em que é imperioso que o 
indivíduo manifeste sua vontade (BRASIL, 1988). 
Assim, partindo da concepção da nacionalidade e sua aplicação prática 
no âmbito jurídico nacional, a Lei de Migração abraça a relação do Estado 
brasileiro para com os não nacionais, ou seja, migrantes e visitantes, desta-
cando que, da mesma maneira que o Estado pode acolher um indivíduo de 
nacionalidade diferente dos seus, de acordo com o que dispõe a Lei nº 13.445, 
de 2017, também pode retirá-lo (GUERRA, 2017). 
As formas de saída compulsória do estrangeiro estão dispostas no Capítulo 
VI da Lei de Migração. Vale destacar que a Lei nº 13.445, de 2017, indica quatro 
diferentes mecanismos para que um não nacional seja retirado do Brasil: 
deportação, expulsão, extradição e repatriação. Nesse sentido, a nova legisla-
ção sobre migração inovou, uma vez que o revogado Estatuto do Estrangeiro 
previa apenas três institutos diversos para regular a retirada compulsória do 
estrangeiro do país: deportação, expulsão e extradição. Ademais, é possível 
perceber que a Lei 13.445, de 2017, trabalha com a deportação, a expulsão e 
a repatriação de forma humanitária, indicando que nenhuma das hipóteses 
poderá acontecer caso coloquem em risco a vida ou a integridade pessoal do 
processado em questão. Caso seja aplicada alguma das possibilidades de saída 
compulsória do estrangeiro do país, os mecanismos devem estar de acordo 
com as convenções, tratados e acordos internacionais dos quais o Brasil é 
signatário. Cabe destacar que, ao contrário das demais modalidades tratadas 
no capítulo das medidas compulsórias de retirada, a extradição é abordada 
no Capítulo VIII, o qual indica as medidas de cooperação (BRASIL, 2017b). 
A aplicação das medidas compulsórias de retirada de não nacionais do 
Brasil deverá observar o disposto na Lei nº 9.474, de 1997, que define os meca-
nismos para implementação do Estatuto dos Refugiados, de 1951, bem como 
as disposições legais, tratados, instrumentos e mecanismos que trabalham 
com a proteção aos apátridas ou de outras situações de caráter humanitário. 
Além disso, caso seja aplicada a repatriação, a deportação ou a expulsão, 
a destinação deve ser “para o país de nacionalidade ou de procedência do 
migrante ou do visitante, ou para outro que o aceite, em observância aos 
tratados dos quais o Brasil seja parte” (BRASIL, 2017b, documento on-line). 
A condição jurídica do estrangeiro 9
Para os casos de deportação ou expulsão, poderá o chefe da unidade da 
Polícia Federal representar perante juízo federal, sendo respeitados, nos 
procedimentos judiciais, o direito à ampla defesa e ao devido processo legal. 
É importante esclarecer que há diferença entre a saída compulsória e 
o impedimento de ingresso no país. A saída compulsória ocorre quando o 
estrangeiro já se encontra em território nacional e, por alguma das razõesprevistas em lei, fica impossibilitado de permanecer no Brasil, como nos 
casos de deportação, extradição e expulsão. Já o impedimento de ingresso 
acontece na repatriação quando, pelas razões trazidas na Lei de Migração, 
o estrangeiro sequer é autorizado de entrar no território brasileiro, devendo 
regressar imediatamente para seu destino de origem, salvo em exceções 
previstas na legislação — refúgio e apatridia. Assim, faltou ao legislador 
realizar este esclarecimento, na medida de que, semanticamente, indicar 
que a repatriação é uma medida de saída compulsória é equivocado, uma 
vez que o estrangeiro não entrou no Brasil para que, pelos requisitos de 
impossibilidade de permanência, pudesse sair. Mesmo assim, a repatriação 
é trazida no capítulo que versa sobre as medidas de retirada compulsória, 
embora seja necessário esse esclarecimento, com a finalidade de evitar 
incompreensão quanto à temática.
Logo, a primeira forma de impedimento de ingresso que pode ser adotada 
pelo Estado é a repatriação, prevista no artigo 49 da Lei de Migração. Esse 
mecanismo consiste na devolução de pessoa em situação de impedimento 
ao país de procedência ou de sua nacionalidade, destacando-se que essa 
medida não será aplicada nos seguintes casos: para refugiados e apátridas, 
de fato ou de direito; pra menores de 18 anos desacompanhados ou sepa-
rados de suas famílias, com exceção para os casos em que se demonstrar 
favorável; para garantia de seus direitos ou para a reintegração à sua família 
de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário; em qualquer 
caso de devolução para país ou região que possa apresentar risco a sua vida, 
integridade pessoal ou liberdade (BRASIL, 2017b). 
Na Lei nº 13.445, de 2017, ainda no capítulo VI, foram contemplados os 
aspectos vinculados com a deportação e a expulsão. Destaca-se que a nova 
lei, ao consagrar princípios e diretrizes que devem conduzir o desenvolvimento 
da disciplina no Brasil, garantiu a não criminalização em virtude de questões 
migratórias. Desse modo, qualquer que seja a razão pela qual se deu a medida 
de saída compulsória, o indivíduo não está sujeito à deportação, da mesma 
forma que não poderá ter sua liberdade limitada por não estar em poder 
de sua documentação, ao contrário do que ocorria quando da vigência do 
Estatuto do Estrangeiro. Em relação a essa questão, pesquisas indicam que 
A condição jurídica do estrangeiro10
a concretização dessa matéria será um grande desafio, especialmente nos 
controles de fronteira e em caso de deportações arbitrárias (GUERRA, 2017). 
Em relação à questão: 
Para ilustrar, podemos citar casos recentes ocorridos no Estado de Roraima — loca-
lizado na fronteira do Brasil com Venezuela e Guiana — quando venezuelanos foram 
deportados pela polícia ao longo do ano de 2016, mesmo aqueles que solicitaram 
o refúgio. Uma ação judicial impediu que 450 venezuelanos fossem coletivamente 
deportados no mês de dezembro daquele ano. Há, ademais, casos de repatriação 
em que migrantes são colocados em um limbo jurídico e mantidos em áreas de 
fiscalização, a exemplo do chamado “espaço Conector” do Aeroporto Internacional 
de Guarulhos, São Paulo, arbitrariamente e por tempo indeterminado, sem a assis-
tência necessária e a garantia do devido processo legal, até conseguirem verbalizar 
um pedido de refúgio ou serem devolvidos para o país de origem. De janeiro de 
2015 até abril de 2016, 1.814 migrantes foram mantidos no “espaço Conector”, dos 
quais 494 eram solicitantes de refúgio que procuravam proteção no país e foram 
impedidos de ingressar diretamente em solo brasileiro. Importante frisar que, 
neste ponto, pessoas em situação de refúgio não podem ser devolvidas para o 
país de origem por conta da sua vida estar em risco, de acordo com o princípio 
fundamental de non-refoulement (não devolução) do Direito Internacional Público 
e conforme consta na legislação brasileira que trata do refúgio (Lei nº 9.474/1997) 
(ASANO; TIMO, 2017, documento on-line).
Aliás, quanto ao residente fronteiriço, para auxiliar sua livre circulação, o 
Estado poderá conceder autorização para a realização de atos da vida civil, por 
meio de requerimento do interessado. Esse mecanismo foi muito conveniente, 
especialmente pelas fronteiras do Brasil com países da América do Sul — com 
exceção do Chile e do Equador, unicamente. Dessa forma, o residente fron-
teiriço que dispuser desta autorização terá garantias e direitos assegurados 
pelo regime geral de migração da nova legislação, podendo ser cancelado, a 
qualquer temo, caso o titular tenha fraudado o documento ou usufruído de 
falso documento para sua obtenção, ou ainda nos casos de aquisição de outra 
condição migratória, de sofrer condenação penal ou ainda por exercício de 
direitos fora dos limites previstos na autorização (GUERRA, 2017). 
Entre os casos de retirada compulsória do Brasil está a deportação. Esse 
mecanismo acontece quando se promove a retirada do não nacional que, 
ingressando no país ou neste se encontrando irregularmente, não sair volun-
tariamente no prazo que lhe foi determinado. A deportação ocorre por meio 
de um procedimento administrativo que equivale à retirada compulsória 
de indivíduo que se encontre em situação migratória irregular no território 
nacional (BRASIL, 2017b). Para tal, a deportação:
A condição jurídica do estrangeiro 11
[...] será procedida de notificação pessoal ao imigrante, na qual constem, expres-
samente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 
60 dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado 
e mediante compromisso do imigrante em manter atualizadas suas informações 
domiciliares (GUERRA, 2017, documento on-line). 
Cabe indicar que na hipótese de incidência da deportação não há por 
parte do sujeito o cometimento de crime, e sim a inobservância de determi-
nados requisitos legais para sua permanência no território brasileiro. A Lei 
de Migração inovou o ordenamento jurídico ao indicar que, ainda que seja 
notificado, o indivíduo não ficará impedido de circular livremente em território 
nacional, sendo de sua responsabilidade, entretanto, informar seu domicílio 
e suas atividades. Apenas depois de vencido o prazo para regularização da 
situação migratória no país, e sendo observados os princípios constitucionais 
da ampla defesa e do contraditório, é que a deportação poderá acontecer, não 
excluindo possíveis direitos adquiridos ao deportado, em vínculos contratuais 
ou consecutivos da legislação nacional (GUERRA, 2017). 
Ademais, a Lei de Migração prevê o mecanismo da expulsão. A nova le-
gislação trata-a como medida administrativa de retirada compulsória do 
migrante do território nacional, combinada com o impedimento de reingresso 
no país por prazo determinado. Segundo a Lei nº 13.445, de 2017: “poderá dar 
causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa 
à prática de crime de genocídio, contra a humanidade, crime de guerra ou 
crime de agressão”, em conformidade com o que define o Estatuto de Roma 
do Tribunal Penal Internacional, de 1998. Ainda é possível ocorrer a expulsão 
em caso de prática de “crime doloso possível de pena privativa de liberdade, 
consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território 
nacional” (BRASIL, 2017b, documento on-line). 
É de responsabilidade da autoridade competente resolver sobre a expul-
são, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação 
dos efeitos da expulsão. Cabe destacar que a Lei de Migração é enfática ao 
indicar que, para os casos de crime comum, a expulsão não prejudicará a: 
“progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional 
do processo, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer 
benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro” 
(BRASIL, 2017b, documento on-line). O período de aplicação de impedimento 
relativo à expulsão deverá ser proporcional ao tempo da pena aplicada ejamais superior ao dobro de seu tempo.
A condição jurídica do estrangeiro12
A Lei nº 13.445, de 2017, também apresenta possibilidades de não aplicação 
da expulsão nas seguintes situações: caso a medida configure extradição 
inadmitida pela lei brasileira; quando o expulsando tiver filho brasileiro 
que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou 
tiver pessoa brasileira sob sua tutela; quando tiver cônjuge ou companheiro 
residente no Brasil, sem qualquer discriminação, reconhecido judicial ou 
legalmente; quando tiver ingressado no Brasil até os 12 anos de idade, 
residindo desde então do país; se for pessoa com mais de 70 anos que resida 
no país há mais de 10 anos, considerados a gravidade e o fundamento da 
expulsão (BRASIL, 2017b). 
São garantidos os direitos à ampla defesa e ao contraditório nos casos 
de processo de expulsão. A Defensoria Pública da União será notificada da 
instauração de processo desse tipo se não houver defensor constituído, 
e caberá pedido de “reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo 
de dez dias, a contar da notificação pessoal do expulsando” (BRASIL, 2017b, 
documento on-line). 
Finalmente, cabe destacar que a condição migratória do expulsando será 
considerada regular enquanto o processo estiver pendente de decisão, nas 
condições previstas nas hipóteses de não proceder expulsão, previstas no 
artigo 55 da Lei de Migração. E mesmo que haja processo de expulsão do 
indivíduo do país, não existe impedimento à saída voluntária do expulsando 
do Brasil (BRASIL, 2017b). 
A última possibilidade prevista na Lei de Migração de retirada compulsória 
do país é a extradição. Esse mecanismo é tratado como medida de coope-
ração internacional entre o Brasil e outro Estado que concede ou solicita a 
entrega de pessoa a quem tenha recaído condenação criminal definitiva ou 
para instrução de processo penal em curso (BRASIL, 2017b). 
A extradição pode ser requerida por via diplomática ou por meio de auto-
ridades designadas, sendo que a comunicação se dará por órgão competente 
do Poder Executivo em conjunto com as autoridades judiciárias e policiais 
competentes. Esse mecanismo de saída compulsória é um ato de defesa 
internacional, sendo facultativo ao país extraditar ou não. De acordo com a 
Lei nº 13.445, de 2017, não será concedida a extradição se: 
 � o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato; 
 � o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou 
no Estado requerente; 
 � o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado 
ao extraditando; 
A condição jurídica do estrangeiro 13
 � a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 anos; 
 � o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido 
condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar 
o pedido; 
 � a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira 
ou a do Estado requerente; 
 � o fato constituir crime político ou de opinião; 
 � o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante 
tribunal ou juízo de exceção; 
 � o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474, 
de 22 de julho de 1997, ou de asilo territorial.
Ademais, a Lei de Migração indica as seguintes condições para a concessão 
da extradição: ocorrendo quando do cometimento de crime no território do 
Estado requerente ou quando forem aplicáveis ao extraditando as leis penais 
desse Estado; e nos casos em que o extraditando estiver respondendo a 
processo investigatório ou a processo penal ou tiver sido condenado pelas 
autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade 
(BRASIL, 2017b). 
A legislação nacional também indica que, nos casos em que há mais de 
um Estado requerendo a extradição do mesmo indivíduo, terá preferência 
o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida. Caso sejam 
crimes diversos, terá preferência, de forma sucessiva: o Estado requerente 
em sujo território tenha sido cometido o crime mais grave, de acordo com 
a normativa brasileira; o Estado que em primeiro lugar tenha solicitado a 
entrega do extraditando, caso a gravidade dos delitos seja igual; Estado de 
origem, ou, em sua falta, o domiciliar do extraditando, caso existam pedidos 
simultâneos (BRASIL, 2017b). 
Cabe ressaltar que o extraditando poderá se entregar de forma volun-
tária ao Estado requerente, desde que o faça de maneira expressa, estando 
assistido por advogado e advertido de que tem direito ao processo judicial 
de extradição e à proteção que tal direito encerra, caso em que o pedido 
será decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a normativa 
legal sobre migração, nenhuma extradição será concedida sem que ocorra o 
prévio pronunciamento do STF em relação à legalidade e procedência, sendo 
incabível recurso relativo à decisão. 
Na redação de Lei de Migração, o legislador brasileiro também advertiu 
quanto às possibilidades do Brasil não efetivar a entrega do extraditando 
sem que o Estado requerente assuma o compromisso de (BRASIL, 2017b): 
A condição jurídica do estrangeiro14
 � não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior 
ao pedido de extradição;
 � computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da 
extradição;
 � comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de 
liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 anos;
 � não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro 
Estado que o reclame;
 � não considerar qualquer motivo político para agravar a pena;
 � não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou 
penas cruéis, desumanas ou degradantes.
A entrega do extraditando ocorrerá segundo as normas brasileiras e 
respeitará os direitos humanos e normativas internacionais. É importante 
destacar que, conforme a disposição do artigo 33 do Estatuto dos Refugiados, 
o reconhecimento do status de refugiado obsta o seguimento de qualquer 
pedido de extradição que tenha sido realizado com base em fatos que fun-
damentaram a concessão do refúgio (GUERRA, 2017). 
A nova lei brasileira sobre migrações, influenciada em princípios como o 
da não indiferença, propicia a atribuição de valor e importância aos que, por 
diferentes questões, acabaram por deixar seu país de origem (GUERRA, 2017).
A suscetibilidade à deportação de inúmeros migrantes, com espe-
cial destaque aos nacionais minoritários, torna suas vidas e seus 
trabalhos descartáveis, mesmo quando a deportação não acontece. Isso ocorre 
porque a deportação é um mecanismo para a melhor compreensão de como 
os não nacionais minoritários podem ser despojados da sua nacionalidade e 
tornados apátridas.
Nesse sentido, tanto nos Estados Unidos quanto em outros contextos nas 
Américas, o alvo principal, inicialmente, eram os trabalhadores chineses, sendo 
que o motivo para que a deportação ocorresse era a exclusão racista.
Logo, se hoje há a compreensão da suscetibilidade à deportação como 
distinção principal e decisiva que separa os nacionais de não nacionais em 
escala global, a compreensão da genealogia da deportação se faz importante, 
uma vez que funciona com mecanismo de poder e é reveladora, uma vez que 
danifica a natureza da deportação com presunção de uma medida para que 
Estados deportem não-nacionais que não sejam desejáveis àquele local, deses-
tabilizando a divisão entre nacional e não-nacional, que é avidamente vinculada 
à suscetibilidade da deportação (GENOVA, 2020). 
A condição jurídica do estrangeiro 15
Asilo e refúgio
Os institutos do asilo e do refúgio guardam peculiaridades que merecem 
esclarecimentos. Assim, parte-se de uma análise dos institutos na seara do 
direito internacional para delinear as questões no sistema jurídico pátrio 
até a recente Lei de Migração, de modo que se fazem necessárias algumas 
ponderações em relação aos termos (BRASIL, 2017a). 
Ambos os institutos jurídicos, asilo e refúgio, têm comoobjetivo a pro-
teção humana nas circunstâncias em que o Estado de origem não oferece 
a adequada garantia de proteção. A necessidade de positivar a acolhida de 
estrangeiros se fez necessária no mundo jurídico, uma vez que as práticas 
foram amplamente difundidas ao longo dos anos, exigindo real proteção em 
âmbito internacional. 
Essa positivação ocorreu modernamente, estabelecendo-se o direito de asilo em 
sentido amplo, sob o qual estão abrangidos o asilo diplomático e territorial e o 
refúgio. Em razão disso, as expressões, em diversas legislações, são utilizadas 
como sinônimos (BRASIL; GOMES, 2020, documento on-line). 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, adotada e procla-
mada pela Assembleia Geral da ONU na Resolução 217-A (III), é o fundamento 
jurídico para as diferentes modalidades de normativas protetivas. O docu-
mento traz o termo asilo para se referir tanto ao refúgio quanto ao asilo. 
Na forma em que ambos os institutos objetivam a proteção do ser humano 
em relação a perseguições, pode-se afirmar que são semelhantes em sua 
essência (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). 
Asilo e refúgio têm caráter de complementariedade, sendo o asilo mais 
abrangente, podendo ser aplicado quando inexiste possibilidade de utilização 
do refúgio, o qual é mais específico. Tal semelhança pode ser observada no 
4º parágrafo preambular da Convenção de Genebra, de 1967, que, ao indicar 
as regras internacionais em relação ao refúgio, menciona o direito de asilo, 
apontando este como base para aquele, em igual tempo em que exorta os 
Estados a praticar a cooperação internacional (JUBILUT, 2007). 
O âmbito jurídico nacional traz textos normativos que disciplinam de modo 
específico o asilo e o refúgio, possibilitando verificar que os institutos são 
aplicados para situações discriminadas e específicas, tanto que nas normas 
regulamentadoras há um capítulo próprio para tratar exclusivamente o refúgio, 
a Lei nº 9.474, de 1997, enquanto o asilo está estabelecido diretamente na Lei 
nº 13.445, de 2017 (BRASIL; GOMES, 2020).
A condição jurídica do estrangeiro16
Inicialmente, cabem ressalvas relativas ao asilo. Este instituto tem sua 
origem na antiguidade clássica, mais especificamente na civilização grega, 
época em que era vastamente utilizado, originando sua denominação asylon, 
que significa não expulsão. Na época, o instituto era designado para escravos 
fugitivos, soldados vencidos e criminosos comuns que eram acolhidos em 
templos, sendo que o asilo se restringia a aspectos religiosos. Mais tarde, 
durante o Império Romano, surgiu o caráter jurídico de asilo. Já durante a 
Idade Média, esse instituto acabou retrocedendo, limitando-se apenas a 
igrejas e cemitérios. Apenas com a Reforma Protestante o asilo passou a 
ser novamente defendido como modelo de proteção da liberdade individual 
das pessoas. Em 1789, com a Revolução Francesa, o asilo sofreu relevantes 
alterações, restringindo-se à concessão de benefício jurídico a criminosos 
políticos, e não mais a criminosos comuns (JUBILUT, 2007).
De acordo com Haroldo Teixeira Valladão (1969, p. 237), o asilo é a: 
[...] admissão, por um Estado, em seu território ou fora dele, no local da sua repre-
sentação diplomática ou da residência do chefe desta última ou em seus navios 
ou aeronaves militares, de estrangeiro refugiado, perseguido em outro Estado 
por motivo político.
Desse modo, percebe-se a concepção de asilo a partir de dois vértices: 
o diplomático e o territorial. O asilo diplomático é concedido em extensões 
do território do Estado de acolhida, apresentando natureza provisória, uma 
vez que o serviço diplomático ou militar que admitiu o:
[...] perseguido deve providenciar o encaminhamento do asilado para o território do 
país solicitado, ou na hipótese de não concessão de asilo diplomático, o perseguido 
deve ser encaminhado para o solo de um terceiro país que o aceito como asilado 
político (BRASIL; GOMES, 2020, documento on-line). 
Quando do asilo territorial, o perseguido está de forma física no âmbito 
do espaço territorial de soberania do Estado solicitado e sob sua exclusiva 
jurisdição. Assim, resta ao Estado fiscalizar infrações cometidas pelo perse-
guido, bem como proceder com as providências relativas à documentação 
para o asilado, além de assegurar sua devida proteção, impondo limites à 
sua saída compulsória do país (BRASIL; GOMES, 2020). 
Além disso, o asilo é uma benesse concedida para perseguidos políticos, 
ou seja, a motivação da concessão do asilo está baseada na perseguição por 
questões de cunho político. Muito embora seja um instrumento jurídico de 
proteção à pessoa humana, o asilo é um direito do Estado, ou seja, nenhum 
Estado está obrigado a aceitar um indivíduo não nacional em seu território. 
A condição jurídica do estrangeiro 17
Logo, percebe-se que o caráter discricionário da decisão do Estado para 
concessão do asilo, o qual deve se basear na solidariedade e cooperação 
internacional, sendo que a indispensável fonte para esse benefício é o respeito 
aos direitos humanos (BRASIL; GOMES, 2020). 
Desse modo, o asilo político é um instituto que integra os direitos dos 
refugiados, principalmente diante da possibilidade de sua concessão na 
conjuntura extraterritorial, como acontece nos casos de asilo diplomático. 
Em contrapartida, delimita-se a proteção ao concedê-la aos que sofrem per-
seguições exclusivamente políticas. Ademais, o que se observa nos tratados 
e convenções é a ausência de políticas de integração local entre Estados de 
acolhida (BRASIL; GOMES, 2020).
De maneira contrária ao asilo, o refúgio é um benefício de solidariedade 
internacional mais recente, a ser aplicado não apenas aos que sofrem per-
seguições políticas, mas também a todas aqueles que não encontram em 
seu país de origem o fundamental à satisfação de seu mínimo existencial. 
A Convenção de 1951 e o Protocolo de Genebra, de 1967, documento conhecido 
como Estatuto dos Refugiados, definiu refugiados como aqueles que deixam 
seus países originários por razões vinculadas a perseguição de natureza 
religiosa, étnica, de nacionalidade, de liberdade de expressão política ou por 
questões sociais (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1951). 
Como resultado das barbaridades ocorridas durante as duas Guerras 
Mundiais, houve um enorme número de pessoas refugiadas, numa situação 
que não podia ser contornada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas 
para Refugiados (ACNUR), tendo em vista a escassez de estruturas físicas 
para atender a todos os migrantes forçados por esses conflitos (BRASIL; 
GOMES, 2020). 
Em 1946, o Alto Comissariado foi extinto e o Comitê Intergovernamental assumiu 
as suas funções. Todavia, o referido Comitê funcionou somente até 1947, época em 
que a proteção aos refugiados passou, provisoriamente, para a responsabilidade 
da Comissão Preparatória da Organização Internacional para Refugiados, órgão 
ligado à ONU que, posteriormente, em 1950, foi sucedido pelo [...] ACNUR. Desde 
esse período, o ACNUR, que atua no âmbito da ONU, tem o seu regulamento re-
visto e reformulado a cada cinco anos e permanece responsável pelos refugiados 
(JUBILUT, 2007, p. 78–80).
Ao contrário do asilo, o refúgio tem grandiosa regulamentação, hipó-
teses de concessão especificadas por meio de normativas que trabalham 
exclusivamente com a matéria, fator que qualifica o refúgio como um ato 
vinculado, diferente do asilo, que tem caráter discricionário. Muito embora a 
concessão de refúgio seja um ato vinculado, alguns apontamentos em relação 
A condição jurídica do estrangeiro18
à questão são necessários (BRASIL; GOMES, 2020). O artigo 1º do Estatuto 
dos Refugiados indica a definição para a situação de refugiado, atribuindo-a 
a qualquer indivíduo que encontra-se fora do país do qual é nacional em 
razão de fundado temor de sofrer perseguição por motivo de raça, religião, 
nacionalidade, participação em determinado grupo social ou convicção política 
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1951). 
É importantemencionar que, na hipótese de refúgio, há necessidade de 
extraterritorialidade, ou seja, exige-se que o perseguido esteja fisicamente 
fora do seu país, exigência que não está prevista à concessão de asilo diplo-
mático. Ademais, ressalta-se outra importante diferença entre o asilo e o 
refúgio, que são as obrigações assumidas pelo Estado solicitante ao reconhe-
cer o status de refugiado, fato que não ocorre quando da concessão de asilo. 
Desse modo, o asilo “trata-se de benefício bem menos dispendioso para o 
Estado concedente, já que não se obriga, em razão de tratados internacionais, 
assim como ocorre no refúgio, a implementar políticas de integração para os 
acolhidos” (BRASIL; GOMES, 2020, documento on-line). 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve um exponencial 
interesse relativo à proteção para refugiados e pelos direitos humanos. O texto 
constitucional é protetivo quanto às relações internacionais, destacando-se: 
“a prevalência dos direitos humanos a cooperação entre os povos para o 
progresso da humanidade e a concessão de aliso político, garantindo direitos 
fundamentais e segurança a quem está submetido a perseguições” (BRASIL, 
1988, documento on-line) sejam elas políticas, étnicas, religiosas ou relativas 
a nacionalidade, cultura e opinião política. 
Em consonância com o texto constitucional, “todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, 
à segurança e à propriedade”. De modo que aqueles que ostentarem o status de 
refugiados gozarão dos direitos constitucionais pátrios, além daqueles estabelecidos 
na Convenção de 1951 e seu Protocolo Adicional de 1967. Em 1997, foi aprovada e 
promulgada a Lei nº 9.474/97, integrando o ordenamento como Estatuto Jurídico 
dos Refugiados e consagrando-se como um marco legal de proteção aos refugiados 
no Brasil (BRASIL; GOMES, 2020, documento on-line). 
O Brasil, com a Lei nº 9.474, de 1997, foi além das políticas migratórias 
até então implementadas, passando a disciplinar tanto os deslocamentos 
forçados, fundamentais para requerer a condição de refugiado, quanto os 
direitos e obrigações dos refugiados (BRASIL, 1997). 
A condição jurídica do estrangeiro 19
Naquilo que concerne ao asilo, na seara nacional, o que se pode verificar é 
a ratificação pelo Brasil da Convenção Internacional sobre Asilo Diplomático, 
promulgada pelo Decreto nº 42.628, de 1957, e a Convenção Internacional 
sobre Asilo Territorial, promulgada pelo Decreto nº 55.929, de 1965 (BRASIL; 
GOMES, 2020). 
O Brasil estabeleceu pioneirismo em relação à proteção dos refugiados e 
asilados ao substituir o Estatuto do Estrangeiro, criado no período do regime 
militar, pela Lei de Migração, com o objetivo que oferecer maior amparo aos 
estrangeiros e refugiados, preocupando-se o legislador em adequar-se às 
exigências internacionais, garantindo maior mobilidade e liberdade para os in-
divíduos e protegendo os direitos dos imigrantes no país (BRASIL; GOMES, 2020). 
Os Estados, inevitavelmente, devem cumprir os compromissos internacionais 
assumidos convencionalmente ou de forma não convencional, respeitando o jus 
cogens (conjunto de normas jurídicas imperiosas e inderrogáveis, as quais vinculam 
a todos os sujeitos do direito internacional independentemente de sua vontade), 
procedendo às reformulações legislativas internas. O Estado brasileiro segue essa 
linha de pensamento, com promulgação da Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017, 
que foi regulamentada pelo Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017 (BRASIL, 
2018, documento on-line).
Ao instituto jurídico do asilo não há adições expressivas em relação à Lei 
de Migração. O texto infraconstitucional trabalha com as “condições para 
concessão e manutenção do asilo”, as quais serão dispostas em regulamento 
próprio (BRASIL, 2017b, documento on-line). Sendo ato discricionário do Es-
tado, o asilo político, conforme o caput do artigo 27 da Lei de Migração, será 
outorgado como instrumento de proteção à pessoa. 
O Decreto nº 9.199, de 2017, o qual regulamentou a Lei nº 13.445, de 2017, 
trouxe alguns apontamentos em relação ao asilo, não vislumbrando, de todo 
modo, qualquer inovação em relação à Convenção Internacional sobre Asilo 
Diplomático e Convenção Internacional sobre Asilo Territorial. Muito embora 
inexistam expressivas inovações relativas ao instituto do asilo, é preciso 
ressaltar as garantias trazidas nos artigos 31, §4º, e 82, IX, da Lei nº 13.445, 
de 2017, com relação ao estabelecimento de que o “solicitante de asilo fará jus 
à autorização provisória de residência até a obtenção ou não da concessão e 
ao vedar a extradição do asilado” (BRASIL, 2017b, documento on-line). 
Naquilo que concerne ao refúgio, a Lei nº 13.445, de 2017, indica que a 
“política de migrações, refúgio e apatridia será articulada conforme regula-
mento” (BRASIL, 2017b, documento on-line). A Lei nº 9.474, de 1997, reconhece 
como refugiado o indivíduo que: 
A condição jurídica do estrangeiro20
I — devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, 
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país 
de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; 
II — não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência 
habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias 
descritas no inciso anterior;
III — devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a 
deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país (BRASIL, 1997, 
documento on-line).
Esse instrumento normativo (Lei nº 9.474/97) contempla os mecanismos 
para implantação do Estatuto dos Refugiados de 1951, indicando questões 
como as condições jurídicas do refugiado. Assim, essa lei, as convenções 
internacionais relativas ao asilo diplomático e territorial que foram ratificadas 
pelo Brasil e a Lei de Migração disciplinam os institutos protetivos com o 
objetivo de alcançar uma adequada regulamentação (BRASIL; GOMES, 2020). 
Finalmente, ainda que as regulamentações apresentem suficiência relativa 
à temática, não se pode negar os critérios novos trazidos pela Lei de Migração 
no tocante ao estabelecimento de garantias de residência provisória e não 
extradição não previstas nos regulamentos até então presentes no âmbito 
jurídico nacional, o que vem fortificar a política migratória filiada pelo Brasil 
no sentido da acolhida aos que necessitam de proteção (BRASIL; GOMES, 2020). 
A partir da inovação constitucional, é possível perceber como, mesmo 
antes da edição da atual Lei de Migração, o comportamento dos 
órgãos do judiciário já balizavam de forma evidente a condição do estrangeiro 
no Brasil. Nesse sentido, é interessante lembrar o caso da paciente Maria Ro-
saria Barbato, uma cidadã italiana, titular do cargo de Professora Adjunta da 
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, que teve contra 
si inquérito policial instaurado. No caso em questão, a Polícia Federal intimou-a 
a prestar esclarecimentos em relação à sua participação política no território 
nacional e filiação sindical, uma vez que, pelo fato de ser estrangeira, reviveu 
práticas proibidas a estrangeiros no Brasil quando vigorava em território na-
cional o Estatuto do Estrangeiro. Tais práticas estavam sujeitas, pelo revogado 
documento legal, a detenção de 1 a 3 anos e expulsão do estrangeiro do país 
(BRASÍLIA (DF), 2016). 
O Ministério Público Federal de Minas Gerais impetrou habeas corpus com 
pedido liminar, buscando interromper a investigação policial. Argumentou-se 
que os dispositivos do Estatuto do Estrangeiro que vedavam a participação 
de estrangeiros em entidades sindicais não eram compatíveis com a Consti-
tuição da República de 1988, e que a limitação dos estrangeiros em atividades 
políticas também afrontava a liberdade de expressão ea igualdade. Por fim, 
A condição jurídica do estrangeiro 21
a liminar do remédio heroico foi concedida, com a determinação da suspensão 
das investigações do referido inquérito policial (OLIVEIRA; BAHIA; SILVA, 2016). 
A abertura de uma investigação policial por prática sindical e política, sendo 
fundada em legislação não recepcionada pela nova ordem constitucional, como 
era o caso do Estatuto do Estrangeiro, fora feita, portanto, sem o filtro de 
constitucionalidade, que remetia ao seu velho contexto de origem, o regime 
ditatorial. O Estatuto do Estrangeiro de fato criminalizava a prática sindical 
e política por não nacionais, com a cominação até mesmo de pena privativa 
de liberdade, além da expulsão. No entanto, tais dispositivos não resistiram, 
no caso da professora italiana, a um controle, quer de constitucionalidade, quer 
de convencionalidade (OLIVEIRA; BAHIA; SILVA, 2016). 
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A condição jurídica do estrangeiro 23
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