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História do Pensamento Econômico 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História do Pensamento Econômico 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
 
Escrito por 
Murray N. Rothbard 
 
 
 
 
 
Instituto Rothbard 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
 
 
 
iv 
História do Pensamento Econômico: 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
Murray N. Rothbard 
Editora Konkin, 1ª edição 
 
Coordenação Editorial 
Daniel Miorim de Morais 
 
Tradução 
Adriano Bernardes de Oliveira Jr., Alex Pereira de Souza, Carolina 
Lázaro, Caroline Andrade, Daniel Estevão, Daniel Miorim de Morais, 
Eric Matheus, Erick Kerbes, José Aldemar Santos Pereira Júnior, 
Júnior Percebon, Vitor Gomes Calado. 
 
Capa 
Raíssa Souza Abreu 
 
Diagramação 
Daniel Silva de Souza e Vitor Gomes Calado 
 
Licença 
Domínio Público. Este livro está livre de restrição de autor e de direi-
tos conexões. 
 
v 
Sumário 
Introdução ............................................................................................ xi 
Agradecimentos ................................................................................. xxi 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos ............................... 23 
1. A lei natural ................................................................................. 25 
2. A política da polis ....................................................................... 29 
3. O primeiro “economista”: Hesíodo e o problema da escassez ... 31 
4. Os pré-socráticos ........................................................................ 33 
5. A utopia coletivista direitista de Platão....................................... 35 
6. Xenofonte sobre a administração doméstica .............................. 37 
7. Aristóteles: a propriedade privada e o dinheiro .......................... 38 
8. Aristóteles: troca e valor ............................................................. 41 
9. O colapso depois de Aristóteles .................................................. 45 
10. Taoísmo na China antiga .......................................................... 51 
A Idade Média Cristã ........................................................................... 59 
1. O direito romano: direitos de propriedade e laissez-faire .......... 61 
2. Atitudes dos cristãos primitivos em relação aos comerciantes ... 62 
3. Os carolíngios e o direito canônico ............................................ 67 
4. Canonistas e romanistas da Universidade de Bolonha ............... 69 
5. A proibição canonista da usura ................................................... 76 
6. Teólogos na Universidade de Paris ............................................. 81 
7. O filósofo teólogo: São Tomás de Aquino .................................. 87 
8. Escolásticos do final do século XIII: Os franciscanos e a teoria 
da utilidade ..................................................................................... 97 
Da Idade Média à Renascença .......................................................... 105 
1. A grande depressão do século XIV ........................................... 107 
2. Absolutismo e nominalismo: o rompimento do Tomismo. ....... 112 
3. Utilidade e dinheiro: Buridan e Oresme ................................... 114 
4. O homem que não se encaixa: Heinrich von Langenstein........ 120 
5. A usura e o câmbio internacional no século XIV ..................... 123 
6. O ascético mundano: São Bernadino de Siena ......................... 125 
7. O discípulo: Santo Antonino de Florença ................................. 131 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
vi 
8. Os liberais suábios e o ataque à proibição da usura ................. 135 
9. Nominalistas e direitos naturais ativos ..................................... 142 
Os Escolásticos Tardios Espanhóis ................................................... 145 
1. A expansão comercial do século XVI ...................................... 147 
2. Cardeal Caetano: O Tomista Liberal ........................................ 148 
3. A Escola de Salamanca: a primeira geração ............................. 150 
4. A Escola de Salamanca: Azpilcueta e Medina ......................... 155 
5. A Escola de Salamanca: os anos intermediários ...................... 160 
6. Os Salmantinos tardios............................................................. 164 
7. O extremista erudito: Juan de Mariana .................................... 170 
8. Os últimos Salmantinos: Lessius e de Lugo ............................ 178 
9. A queda do escolasticismo ....................................................... 185 
10. Tiros de despedida: a tempestade sobre os jesuítas ................ 190 
Protestantes e Católicos .................................................................... 193 
1. Lutero, Calvino e absolutismo do estado ................................. 195 
2. A economia de Lutero .............................................................. 198 
3. A economia de Calvino e do calvinismo .................................. 200 
4. Calvinistas sobre a usura .......................................................... 205 
5. Zelotes comunistas: os anabatistas ........................................... 208 
6. O comunismo totalitário em Münster ...................................... 214 
7. As raízes do comunismo messiânico ........................................ 226 
8. Católicos não-escolásticos ....................................................... 232 
9. Huguenotes radicais ................................................................. 236 
10. George Buchanan: calvinista radical ...................................... 240 
11. Membros da liga e os politiques ............................................. 243 
O Pensamento Absolutista na Itália e na França ............................... 247 
1. O surgimento do pensamento absolutista na Itália ................... 249 
2. Humanismo italiano: os republicanos ...................................... 251 
3. Humanismo italiano: os monarquistas ..................................... 256 
4. “Velho Nick”: Pregador do mal ou primeiro cientista político 
livre de valor?............................................................................... 261 
5. A propagação do humanismo na Europa .................................. 269 
6. Botero e a difusão do Maquiavelismo ...................................... 271 
7. Humanismo e absolutismo na França ...................................... 276 
8. O cético como absolutista: Michel de Montaigne .................... 278 
Sumário 
vii 
9. Jean Bodin: o ápice do pensamento absolutista na França ....... 282 
10. Depois de Bodin ..................................................................... 286 
Mercantilismo: Servindo ao estado Absoluto .................................... 291 
1. Mercantilismo como o aspecto econômico do absolutismo ..... 293 
2. Mercantilismo na Espanha........................................................ 295 
3. Mercantilismo e Colbertismo na França ................................... 298 
4. Mercantilismo na Inglaterra: têxteis e monopólios .................. 303 
5. A redução à servidão na Europa Oriental ................................. 310 
6. Mercantilismo e Inflação .......................................................... 311 
O Pensamento Mercantilista Francês no Século XVII ...................... 317 
1. Construindo a Elite Dominante ................................................ 319 
2. O primeiro grande Mercantilista Francês: Barthelemy de 
Laffemas ....................................................................................... 321 
3. O primeiro “Colbert”: o duque de Sully ................................... 324 
4. O poeta excêntrico: Antoine de Montchrétien .......................... 325 
5. O grandioso fracasso de François du Noyer ............................. 327 
6. Sob o governo dos cardeais, 1624–61...................................... 330 
7. Colbert e Luís XIV ................................................................... 333 
8. Luís XIV: apogeu do absolutismo (1638-1714) ....................... 338 
A Reação Liberal Contra o Mercantilismo na França do Século XVII
 ........................................................................................................... 341 
1. A rebelião dos croquants .......................................................... 343 
2. Claude Joly e a fronde .............................................................. 345 
3. Um imposto único .................................................................... 346 
4. Oposição crescente ao coletivismo por parte dos mercadores e 
dos nobres ..................................................................................... 348 
5. Os mercadores e o conselho de comércio ................................. 352 
6. Marshal Vauban: engenheiro real e defensor do imposto único
 ...................................................................................................... 353 
7. Fleury, Fénélon e o círculo de Borgonha .................................. 355 
8. O utilitarista de laissez-faire : o Seigneur de Balesbat ............. 360 
9. Boisguilbert e laissez-faire ....................................................... 363 
10. O manual otimista na virada do século ................................... 368 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
viii 
Mercantilismo e Libertação na Inglaterra: dos Tudors à Guerra Civil
 .......................................................................................................... 371 
1. O absolutismo dos Tudors e dos Stuart .................................... 373 
2. Sir Thomas Smith: mercantilista defensor do dinheiro sonante
 ...................................................................................................... 377 
3. O “liberalismo econômico” de Sir Edward Coke .................... 381 
4. O ataque “bulionista” sobre o câmbio internacional, e às 
negociações nas Índias Orientais ................................................. 383 
5. Os apologistas das Índias Orientais contra-atacam .................. 388 
6. O profeta do “empirismo”: Sir Francis Bacon ......................... 393 
7. Os Baconianos: Sir William Petty e a “política aritmética”..... 399 
Mercantilismo e libertação na Inglaterra: da Guerra Civil até 1750. 413 
1. Os Pettyistas: Davenant, King e “a lei da demanda” ............... 415 
2. Liberdade e propriedade: Os Levellers e Locke ...................... 420 
3. Child, Locke, a taxa de juros, e a cunhagem ............................ 428 
4. Os irmãos North, deduções de axiomas, e o laissez-faire Tory 437 
5. Os Inflacionistas ....................................................................... 443 
6. A reação pelo dinheiro-sólido .................................................. 450 
7. Laissez-faire no meio do século: Tucker e Townshend ............ 455 
O Pai Fundador da Economia Moderna: Richard Cantillon ............. 463 
1. Cantillon, o homem .................................................................. 465 
2. Metodologia ............................................................................. 468 
3. Valor e preço ............................................................................ 470 
4. A incerteza e o empreendedor .................................................. 473 
5. Teoria populacional .................................................................. 475 
6. Economia espacial.................................................................... 477 
7. Dinheiro e análise de processo ................................................. 478 
8. Relações monetárias internacionais ......................................... 483 
9. A autorregulação do mercado ................................................... 485 
10. Influência ............................................................................... 487 
A Fisiocracia na França de Meados de Século XVIII ....................... 489 
1. A seita ....................................................................................... 491 
2. Laissez-faire e livres negociações ............................................ 493 
3. O precursor do laissez-faire: o Marquês d’Argenson .............. 495 
4. Lei natural e direitos de propriedade ........................................ 496 
Sumário 
ix 
5. O imposto único sobre a terra ................................................... 499 
6. Valor “objetivo” e custos de produção ..................................... 504 
7. O tableau économique .............................................................. 505 
8. Estratégia e influência .............................................................. 508 
9. Daniel Bernoulli e a fundação da economia matemática ......... 510 
O Brilhantismo de Turgot .................................................................. 515 
1. O homem .................................................................................. 517 
2. Laissez-faire e livres negociações ............................................ 518 
3. Valor, troca e preço ................................................................... 524 
4. A teoria da produção e distribuição .......................................... 528 
5. A teoria do capital, empreendedorismo, poupança e juros ....... 531 
6. A teoria monetária ..................................................................... 540 
7. Influência .................................................................................. 541 
8. Outros teóricos franceses e italianos da utilidade do século XVIII
 ...................................................................................................... 543 
O Iluminismo Escocês ....................................................................... 557 
1. O fundador: Gershom Carmichael ............................................ 559 
2. Francis Hutcheson: professor de Adam Smith ......................... 563 
3. O Iluminismo Escocês e o Presbiterianismo ............................ 567 
4. David Hume e a teoria monetária ............................................. 570 
O Celebrado Adam Smith ................................................................. 579 
1. O mistério de Adam Smith ....................................................... 581 
2. A vida de Smith ........................................................................ 586 
3. A divisão do trabalho ................................................................ 590 
4. Trabalho produtivo vs trabalho improdutivo ............................ 594 
5. A teoria do valor ....................................................................... 600 
6. A teoria da distribuição ............................................................. 614 
7. A teoria monetária ..................................................................... 617 
8. O mito do laissez-faire.............................................................. 623 
9. Sobre a taxação ......................................................................... 631 
A Propagação do Movimento Smithiano .......................................... 635 
1. A Riqueza das Nações e Jeremy Bentham ................................ 637 
2. A influência de Dugald Stewart ................................................ 638 
3. Malthus e o ataque à população ................................................ 642 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
x 
4. Resistência e triunfo na Alemanha ........................................... 657 
5. Smithianismo na Rússia ........................................................... 666 
6. A conquista smithiana do pensamento econômico ................... 668 
Ensaio Bibliográfico ......................................................................... 673 
Bibliografias gerais ......................................................................675 
Pensamento Antigo ...................................................................... 675 
Pensamento Medieval .................................................................. 678 
Os escolásticos tardios ................................................................. 680 
Lutero e Calvino........................................................................... 682 
Comunismo anabatista ................................................................. 684 
Católicos não-escolásticos ........................................................... 684 
Monarcômacos: Huguenotes e Católicos ..................................... 685 
Absolutismo e humanismo italiano .............................................. 685 
Absolutismo na França................................................................. 685 
Mercantilismo .............................................................................. 686 
Pensamento mercantilista francês do século XVII ...................... 689 
Oposição liberal francesa contra o mercantilismo ....................... 689 
Mercantilistas ingleses: século XVI e início do século XVII ...... 690 
Locke e os Levellers .................................................................... 692 
Mercantilistas ingleses: final do século XVII e século XVIII ..... 694 
Economia moderna: Richard Cantillon: Pai Fundador ................ 695 
Primeiros economistas matemáticos ............................................ 697 
Os Fisiocratas e o laissez-faire ..................................................... 698 
A.R.J. Turgot ................................................................................ 698 
Ferdinando Galliani...................................................................... 699 
O Iluminismo Escocês ................................................................. 700 
O Celebrado Adam Smith ............................................................ 702 
A propagação do movimento smithiano....................................... 707 
Malthus e a População ................................................................. 708 
Índice Remissivo .............................................................................. 709 
 
 
xi 
 
Introdução 
 
 Assim como o diz o subtítulo, esta obra é uma história geral do 
pensamento econômico de um ponto de vista honestamente “Austrí-
aco”: isto é, do ponto de vista de um adepto da “Escola Austríaca” de 
economia. Esta é a única obra do tipo feita por um Austríaco moderno; 
de fato, apenas algumas monografias em áreas especializadas da histó-
ria do pensamento foram publicadas por Austríacos nas últimas déca-
das. 1 Não apenas isso: essa perspectiva é fundada na vertente de pen-
samento menos famosa, no entanto não menos numerosa da Escola 
Austríaca: A “Misesiana” ou “Praxeológica”.2 
 Entretanto, a natureza Austríaca desta obra é dificilmente sua 
única singularidade. Quando o presente autor começou a estudar eco-
nomia na década de 1940, havia um paradigma esmagadoramente do-
minante na abordagem da história do pensamento econômico — um que 
ainda é presente, mas não tanto quanto já foi. Essencialmente, tal para-
digma destaca alguns Grandes Homens como a essência do pensamento 
econômico, com Adam Smith como seu fundador quase super-humano. 
Mas, se Smith fosse de fato criador tanto da análise econômica quanto 
da análise do livre comércio e da tradição do livre mercado na economia 
política, seria muito mesquinho e insignificante questionar seriamente 
qualquer aspecto de suas supostas façanhas. Qualquer crítica afiada de 
Smith tanto como economista quanto como defensor do livre mercado 
pareceria somente anacronismo: desprezar o pioneiro fundador do 
ponto de vista superior do conhecimento de hoje, débeis descendentes 
injustamente atacando os gigantes em cujos ombros estamos. 
 Se Adam Smith tivesse criado a economia, assim como Atena 
saiu completamente crescida e armada da testa de Zeus, então seus pre-
decessores deveriam ser coadjuvantes, pequenos homens sem valor. E 
 
1 O valioso e monumental History of Economic Analysis (Nova York: Oxford Uni-
versity Press, 1954) de Joseph Schumpeter, tem sido, geralmente, referido como 
“Austríaco”. Mas ainda que Schumpeter tenha sido criado na Áustria e estudado 
sob o grande austríaco Böhm-Bawerk, ele próprio era um Walrasiano dedicado e 
seu History era, além disso, eclético e idiossincrático. 
2 Para uma explicação dos três paradigmas austríacos de ponta no tempo presente, 
consulte Murray N. Rothbard, The Present State of Austrian Economics (Auburn, 
Ala.: Ludwig von Mises Institute, 1992). 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
xii 
de fato tal pouca atenção foi dada, nessa representação clássica do pen-
samento econômico, a qualquer um azarado o suficiente para anteceder 
Smith. Geralmente eles eram agrupados em duas categorias e rispida-
mente dispensados. Precedendo imediatamente Smith, havia os mer-
cantilistas, os quais ele fortemente criticou. Mercantilistas aparente-
mente eram idiotas que encorajaram as pessoas a acumularem dinheiro, 
mas não a gastá-lo, ou insistiam que o equilíbrio comercial deveria se 
“balancear” com cada país. Escolásticos foram dispensados ainda mais 
rudemente, como ignorantes medievais e moralistas alarmando que o 
preço “justo” deveria cobrir o preço de produção de um mercador, com 
adição de um lucro razoável. 
 As obras clássicas na história do pensamento das décadas de 
1930 e 1940 então prosseguiram expondo e amplamente celebrando al-
gumas poucas figuras elevadas após Smith. Ricardo sistematizou 
Smith, e dominou a economia até a década de 1870; então os “margi-
nalistas”, Jevons, Menger e Walras, marginalmente corrigiram a “eco-
nomia clássica” de Smith e Ricardo ao enfatizarem a importância da 
unidade marginal quando comparadas a todas as classes de bens. Então 
veio Alfred Marshall, que sabiamente integrou a teoria de custos Ricar-
diana com a suposta ênfase unilateral Austro-Jevoniana na demanda e 
na utilidade, para criar a economia neoclássica moderna. Karl Marx di-
ficilmente poderia ser ignorado, então foi tratado como um Ricardiano 
anômalo. Assim, o historiador pôde acabar com sua história lidando 
com quatro de cinco Grandes Figuras, cada qual, com a exceção de 
Marx, contribuíram com mais pilares para o progresso contínuo da ci-
ência econômica, que é essencialmente uma jornada contínua de pro-
gresso.3 
 Nos anos subsequentes à Segunda Guerra Mundial, Keynes ob-
viamente foi adicionado ao Panteão, fornecendo um novo capítulo cul-
minante no progresso e desenvolvimento da ciência. Keynes, amado es-
tudante do grande Marshall, percebeu que o velho havia se esquecido 
daquilo que mais tarde foi chamado de “macroeconomia” em sua ênfase 
 
3 Quando o presente autor estava se preparando para seus exames orais de douto-
rado na Columbia University, ele teve o venerável John Maurice Clark como exa-
minador da história do pensamento econômico. Quando perguntou a Clark se de-
veria ler Jevons, Clark replicou um tanto surpreso: “Qual é o ponto? Tudo que há 
de bom em Jevons está em Marshall”. 
Introdução 
xiii 
exclusiva ao micro. E assim Keynes adicionou o macro, focando no es-
tudo e explicação do desemprego, um fenômeno que foi inexplicavel-
mente esquecido do quadro econômico por todos que precederam Key-
nes, ou foi convenientemente passado para debaixo do tapete ao descui-
dadamente “assumirem pleno emprego”. 
 Desde então, o paradigma dominante vem sendo largamente 
sustentado, apesar dos assuntos terem se tornado certamente nebulosos. 
Para começo de conversa, esse tipo de história sempre ascendente de 
um Grande Homem requer ocasionais novos capítulos finais. A Teoria 
Geral, publicada em 1936, completa agora quase sessenta anos de 
idade; deve haver um Grande Homem para um capítulo final? Mas 
quem? Por um tempo, Schumpeter, com sua moderna e aparentemente 
realistaênfase em “inovação”, teve chances, mas surgiu um grande en-
trave nessa tendência, talvez a realização de que o trabalho fundamental 
de Schumpeter (ou “visão”, como ele explicitamente dizia) foi escrita 
mais de duas décadas antes de A Teoria Geral. Os anos desde 1950 fo-
ram obscuros; e é difícil forçar um retorno ao uma vez esquecido Walras 
no leito procustiano do progresso contínuo. 
 Minha visão sobre a grave deficiência da ideia dos Grandes Ho-
mens foi grandemente influenciada pelo trabalho de dois excelentes his-
toriadores do pensamento. Um sendo o meu próprio mentor de disser-
tação Joseph Dorfman, cujo trabalho ímpar de muitos volumes sobre a 
história do pensamento econômico americano demonstrou o quão im-
portantes figuras alegadamente “menores” são para qualquer movi-
mento de ideias. Em primeiro lugar, a completude da história é deixada 
de lado quando se omite essas figuras, e, portanto, a história é falsifi-
cada por seleção e preocupação sobre alguns textos dispersos para cons-
tituírem A História do Pensamento. Em segundo, um vasto número de 
supostas figuras secundárias contribuiu bastante para o desenvolvi-
mento do pensamento, mais em algumas formas que os poucos pensa-
dores de auge. Assim sendo, importantes características do pensamento 
econômico são omitidas, e o desenvolvimento teórico é feito de forma 
enfadonha e desprezível, assim como sem vida. 
 Adiante, o desenrolar da própria história, o contexto das ideias 
e movimentos, como as pessoas se influenciam, e como reagiam para 
com uns aos outros, é necessariamente excluído da abordagem dos 
Grandes Homens. Tal aspecto do trabalho do historiador foi particular-
mente trazido a mim pela notável obra de dois volumes de Quentin 
Skinner Foundations of Modern Political Thought, de tal importância 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
xiv 
que poderia ser grandemente apreciado se não fosse a adoção da sua 
própria versão da metodologia behaviorista de Skinner.4 
 A abordagem do progresso contínuo, sempre para cima e para 
frente, foi destruída para mim, e deveria ter sido para todos, pela famosa 
Estrutura das Revoluções Científicas de Thomas Kuhn.5 Kuhn não de-
dicou atenção à economia, mas, em vez disso, do mesmo modo como 
filósofos e historiadores da ciência, focou-se em ciências mais “rígidas” 
tais quais a física, a química e a astronomia. Trazendo a palavra “para-
digma” ao discurso intelectual, Kuhn demoliu aquilo que eu gosto de 
chamar de “teoria Whig da história da ciência”. 
A teoria Whig, aceita por quase todos os historiadores da ciên-
cia, incluindo a econômica, é a de que o pensamento científico progride 
pacientemente, se desenvolvendo um ano após outro, mudando, e tes-
tando teorias, para que a ciência marche sempre ao progresso e a cada 
ano, década ou geração vá aprendendo mais e possuindo teorias cientí-
ficas cada vez mais corretas. Em analogia com a teoria Whig da história, 
cunhada no meio do século XIX na Inglaterra, que defendia que as coi-
sas estão sempre (e, portanto, devem ficar) cada vez melhores, o histo-
riador Whig da ciência, aparentemente em solos mais firmes que o his-
toriador Whig médio, implicitamente ou explicitamente afirma que “de-
pois é sempre melhor” em qualquer disciplina científica particular. 
O historiador Whig (tanto da ciência quanto da própria história) 
realmente sustenta a ideia de que, para qualquer ponto do tempo histó-
rico, “aquilo que era, estava certo”, ou ao menos melhor que “aquilo 
que veio antes”. O resultado inevitável é um complacente e irritante 
otimismo Panglossiano. Na historiografia do pensamento econômico, a 
consequência é a firme, senão implícita, posição de que todo econo-
mista individual, ou pelo menos toda escola de economistas, contribuiu 
com seu importante fragmento à inevitável marcha do progresso. É pos-
sível, então, que não haja nada como um erro sistêmico grosseiro que 
revele uma grande falha, ou invalide uma escola de pensamento inteira, 
muito menos que extravie a direção do mundo econômico permanente-
mente. 
 
4 Joseph Dorfman, The Economic Mind in American Civilization (5 vols. Nova 
York: Viking Press, 1946-59); Quentin Skinner, The Foundations of Modern Po-
litical Thought (2 vols., Cambridge: Cambridge University Press, 1978). 
5 Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions (1962, 2ª ed., Chicago: 
University of Chicago Press, 1970). 
Introdução 
xv 
 Kuhn, entretanto, chocou o mundo filosófico ao demonstrar que 
essa simplesmente não é a forma como a ciência se desenvolveu. Uma 
vez que um paradigma central é selecionado, não há testagem ou filtra-
gem, e testes de hipóteses básicas só são feitos após uma série de fra-
cassos e anomalias no paradigma vigente que levaram a ciência a uma 
“situação de crise”. Não é necessária a adoção da percepção filosófica 
niilista de Kuhn, ou de sua implicação de que nenhum paradigma é ou 
pode ser melhor que qualquer outro, para perceber que sua visão menos 
romântica soa verdadeira tanto para história quanto para a sociologia. 
 Mas se a visão romântica ou Panglossiana padrão não funciona 
nem mesmo para as ciências hard, a fortiori ela deve estar inteiramente 
errada em uma “ciência soft” tal qual a economia, em uma disciplina 
onde não se pode testar em laboratório, e onde disciplinas ainda mais 
softs como política, religião e ética necessariamente impactam a pers-
pectiva econômica de alguém. 
 Portanto, não pode haver qualquer tipo de presunção econômica 
de que o pensamento tardio é melhor que o anterior, ou que todos os 
economistas famosos contribuíram o seu bocado para o desenvolvi-
mento da disciplina. Pois isso torna muito provável que, ao invés de 
todos contribuírem para um edifício sempre progressivo, a economia 
possa estar (e está) procedendo de forma contenciosa, até mesmo em 
um estilo zigue-zague, com falácias sistêmicas tardias algumas vezes 
desconsiderando paradigmas prévios, porém mais sensatos, assim mu-
dando a direção do pensamento econômico para um caminho comple-
tamente errôneo ou até mesmo trágico. O trajeto geral da economia 
pode ser para cima, ou pode ser para baixo, dado qualquer espaço de 
tempo. 
 Nos anos recentes, a economia, adentrou dentro da influência 
dominante do formalismo, do positivismo e da econometria, e enfei-
tando-se como uma ciência hard, demonstrou pouco interesse em seu 
próprio passado. Essa foi sua intenção, assim como qualquer ciência 
“real”, estar no livro didático mais recente ou artigo de jornal do que 
explorando sua própria história. Afinal de contas, os físicos contempo-
râneos ficam muito tempo lendo atentamente textos sobre óptica do sé-
culo XVIII? 
 Na última ou duas últimas décadas, entretanto, o reinado do pa-
radigma Walrasiano-Keynesiano neoclássico formalista vem sendo 
cada vez mais questionado, e a voraz “situação de crise” Kuhniana se 
desenvolveu em várias áreas da economia, preocupando-se com sua 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
xvi 
própria metodologia. No meio dessa situação, o estudo da história do 
pensamento regressou significantemente, estudo esse que desejamos e 
esperamos que se expanda nos anos seguintes.6 Pois se conhecimento 
enterrado e perdido em paradigmas pode ser esquecido com o passar do 
tempo, então estudar economistas velhos e escolas de pensamento não 
precisa ser apenas por propósitos antiquados ou para examinar como a 
vida intelectual procedeu no passado. Economistas prévios podem ser 
estudados por sua contribuição ao esquecido, e, portanto, novo, conhe-
cimento de hoje. Verdades valiosas podem ser aprendidas a respeito do 
conteúdo econômico, não apenas nos jornais mais novos, mas dos tex-
tos de pensadores há muito tempo mortos. 
 Mas estas são apenas generalizações metodológicas. A realiza-
ção concreta de que conhecimento econômico importante foi perdido 
com o tempo veio até mim pelo revisionismo dos escolásticosque se 
desenvolveu nas décadas de 1950 e 1960. A revisão pioneira veio de 
forma drástica na História da Análise Econômica de Schumpeter, e foi 
desenvolvida pelos trabalhos de Raymond de Roover, Marjorie Grice-
Hutchinson e John T. Noonan. Acontece que escolásticos não eram sim-
plesmente “medievais”, mas começaram no século XIII e expandiram 
e floresceram durante o século XVI até o século XVII. Longe de serem 
moralistas do custo de produção, os escolásticos acreditavam que o 
preço justo era qualquer preço estabelecido na “estimativa comum” do 
livre mercado. Não apenas isso: longe de serem teóricos ingênuos do 
trabalho ou do valor de custo de produção, os escolásticos podem ser 
considerados “Proto-austríacos”, com uma sofisticada teoria subjetiva 
da utilidade do valor e preço. Até mais, pois alguns dos escolásticos 
eram muito superiores aos atuais microeconomistas formalistas no que 
tange ao desenvolvimento de uma teoria dinâmica do empreendedo-
rismo. Além disso, no “macro”, os escolásticos, começando por Buri-
dan e culminando nos escolásticos espanhóis do século XVI, trabalha-
ram em uma teoria monetária e de preços muito mais austríaca do que 
a teoria monetarista de oferta e demanda, incluindo fluxo de dinheiro 
 
6 A atenção devotada nos anos recentes à brilhante crítica do formalismo neoclás-
sico como totalmente dependente da mecânica obsoleta de meados do século XIX 
é um sinal de boas-vindas dessa recente mudança de atitude. Consulte Philip 
Mirowski, More Heat than Light (Cambridge: Cambridge University Press, 
1989). 
Introdução 
xvii 
inter-regional, e até mesmo com uma teoria de paridade de poder de 
compra das taxas de câmbio. 
 Parece não ser por acaso que essa revisão dramática de nosso 
conhecimento dos escolásticos foi trazida aos economistas americanos, 
geralmente não estimados por sua profundidade de conhecimento do 
latim, por economistas treinados na Europa mergulhados no latim, a 
língua em que os escolásticos escreviam. Este ponto simples enfatiza 
outra razão para a perda de conhecimento no mundo moderno: a insu-
laridade na própria língua (particularmente severa nos países de língua 
inglesa) que, desde a Reforma, rompeu a outrora ampla comunidade de 
estudiosos da Europa. Uma razão pela qual o pensamento econômico 
continental frequentemente exerceu influência mínima, ou pelo menos 
tardia, na Inglaterra e nos estados Unidos é simplesmente porque essas 
obras não foram traduzidas para o inglês.7 
 Para mim, o impacto do revisionismo escolástico foi comple-
mentado e fortalecido pelo trabalho, de algumas décadas, do nascido 
alemão, historiador “austríaco”, Emil Kauder. Kauder revelou que o 
pensamento econômico dominante na França e na Itália durante o dé-
cimo sétimo e especialmente décimo oitavo século também era “Proto-
austríaco”, enfatizando a utilidade marginal e escassez relativa como 
determinantes do valor. A partir dessa base, Kauder procedeu com uma 
surpreendente compreensão do papel de Adam Smith que, de qualquer 
forma, segue diretamente de seu próprio trabalho e daqueles dos revisi-
onistas escolásticos: que Smith, longe de ser o fundador da economia, 
era praticamente o oposto. Pelo contrário, Smith realmente levou a sé-
rio, e quase completamente desenvolveu uma tradição Proto-austríaca 
de valor subjetivo, mas tragicamente desviou a economia para um ca-
minho falso, uma rua sem saída da qual os austríacos tiveram que res-
gatar a economia um século depois. Ao invés de valor subjetivo, em-
preendedorismo e ênfase nos preços reais do mercado e atividade de 
mercado, Smith largou isso tudo e trocou por uma teoria do valor-tra-
balho e um foco dominante no equilíbrio do imutável “preço natural” 
de longo prazo, um mundo onde empreendedorismo foi suposto como 
fora de existência. Sob Ricardo, essa troca infortuna no foco foi inten-
sificada e sistematizada. 
 
7 No tempo presente, quando o inglês se tornou a língua franca europeia e a maioria 
dos periódicos europeus publica artigos em inglês, essa barreira tem sido minimi-
zada. 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
xviii 
 Smith não foi o criador da teoria econômica, nem o fundador do 
laissez-faire na economia política. Não somente eram os escolásticos 
analistas do, e confiantes no livre mercado e nas críticas a intervenção 
estatal; mas os economistas franceses e italianos do século dezoito eram 
muito mais orientados ao laissez-faire do que Smith, que introduziu inú-
meras tagarelices e poréns naquilo que foi, nas mãos de Turgot e outros, 
uma quase pura defesa do laissez-faire. Acontece que, ao invés de ser 
venerado como criador da economia moderna ou do laissez-faire, Smith 
estava mais próximo da figura retratada por Paul Douglas na comemo-
ração da riqueza das nações em Chicago de 1926: um precursor neces-
sário para Karl Marx. 
 A contribuição de Emil Kauder não foi limitada a sua represen-
tação de Adam Smith como o destruidor de uma tradição sólida de teo-
ria econômica, como o fundador de um enorme “zague” na imagem 
Kuhniana de uma história zigue-zague do pensamento econômico. 
Também fascinante, senão mais especulativa era a estimativa de Kauder 
sobre a causa essencial de uma assimetria curiosa no curso do pensa-
mento econômico em diferentes países. Por que é, por exemplo, que a 
tradição da utilidade marginal floresceu no continente, especialmente 
na França e na Itália, e então foi revivida particularmente na Áustria, ao 
passo que as teorias do valor-trabalho foram desenvolvidas especial-
mente na Grã-Bretanha? Kauder atribuiu a diferença a uma profunda 
diferença de religiões: os escolásticos, até então França, Itália e Áustria 
eram países católicos, e o Catolicismo enfatizou o consumo como o ob-
jetivo da produção e da utilidade ao consumidor e o de lhe conferir sa-
tisfação, ao menos em moderação, como valiosas atividades e objetivos. 
A tradição Britânica, ao contrário, começando com o próprio Smith, que 
era calvinista, e refletia a ênfase calvinista no trabalho duro não so-
mente como boa, mas como um grande bem em si mesma, ao passo que 
o aproveitamento do consumidor é no máximo um mal necessário, um 
mero requisito para continuar o trabalho e a produção. 
 Enquanto lia Kauder, considerei essa visão como um esclareci-
mento desafiador, mas essencialmente como uma especulação não com-
provada. Entretanto, enquanto continuava estudando o pensamento eco-
nômico e embarquei na escrita desses volumes, concluí que Kauder es-
tava sendo confirmado várias vezes. Apesar de Smith ser um calvinista 
“moderado”, ele era ao menos firme, e eu cheguei à conclusão de que a 
ênfase calvinista poderia ser levada em conta, por exemplo, para a, de 
outra maneira confusa, defesa de Smith às leis de usura, assim como 
Introdução 
xix 
sua troca de ênfase do consumidor caprichoso e amante do luxo como 
o determinante do valor, ao virtuoso trabalhador empenhando suas ho-
ras de labor no valor do produto material. 
 Mas se o calvinismo de Smith poderia ser levado em conta, e 
quanto ao espanhol-português judeu que virou Quaker, David Ricardo, 
que certamente não era calvinista? Aqui me parece que pesquisas re-
centes no papel dominante de James Mill como mentor de Ricardo e 
importante fundador do “sistema Ricardiano” entraram fortemente em 
jogo. Pois Mill era um escocês ordenado como ministro presbítero e 
imerso em calvinismo: o fato que, tarde em sua vida, Mill se moveu 
para Londres e se tornou agnóstico não tem efeito na natureza calvinista 
nas atitudes básicas de Mill para com a vida e o mundo. A grande ener-
gia evangélica de Mill, sua cruzada por melhoria social, e sua devoção 
ao trabalho duro (assim como a virtude calvinista cognata da poupança) 
refletiram em sua perspectiva de mundo calvinista por toda a vida. A 
ressurreição do Ricardianismo por John Stuart Mill pode ser interpre-
tada como sua devoção filopietista a memóriade seu pai dominador, e 
a trivialização de Alfred Marshall aos esclarecimentos austríacos ao seu 
esquema neo-ricardiano também vieram de um altamente moralista e 
evangélico neo-calvinista. 
 Em contrapartida, não é acidente que a Escola Austríaca, o 
maior desafio à visão de Smith-Ricardo, não somente surgiu em um país 
solidamente católico, mas cujos valores e atitudes ainda estavam forte-
mente influenciados pelo Aristotelismo e pensamento Tomista. Os pre-
cursores germânicos da Escola Austríaca floresceram, não na protes-
tante e anticatólica Prússia, mas nos estados germânicos que eram ou 
católicos ou politicamente alinhados mais com a Áustria do que com a 
Prússia. 
 O resultado dessas pesquisas foi a minha convicção crescente de 
que excluir a perspectiva religiosa, assim como a filosofia social e po-
lítica, iria distorcer desastrosamente qualquer retrato da história do pen-
samento econômico. Isso é certamente óbvio para os séculos antes do 
décimo nono, mas é verdade para aquele século também, ainda mais 
pelo aparato técnico empregar mais de uma vida do que a sua própria. 
 Em consequência dessas revelações, esses volumes são muito 
diferentes da norma, não só em apresentar uma perspectiva muito mais 
austríaca em contraste a uma visão neoclássica ou a uma instituciona-
lista. O trabalho inteiro é muito mais longo que a maioria, uma vez que 
insiste em trazer todas as figuras “menores” e suas interações, assim 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
xx 
como enfatizar a importância de suas filosofias sociais e religiosas as-
sim como suas visões “econômicas” estritas. Mas eu espero que a ex-
tensão e inclusão de outros elementos não faça esse trabalho menos le-
gível. 
Pelo contrário, a história necessariamente significa narrativa, dis-
cussão de pessoas reais assim como suas teorias abstratas, e inclui triun-
fos, tragédias e conflitos, conflitos os quais eram recorrentemente mo-
rais, assim como puramente teoréticos. Por isso, eu espero que, para o 
leitor, o tamanho incomum seja compensado pela inclusão de muito 
mais drama humano do que geralmente é nos oferecido em outras his-
tórias do pensamento econômico. 
 
Murray N. Rothbard 
Las Vegas, Nevada
 
xxi 
Agradecimentos 
 
 Estes volumes foram inspirados por Mark Skousen, do Colégio 
Rollings, Flórida, que me encorajou a escrever uma história do pensa-
mento econômico de uma perspectiva austríaca. Em adição a fornecer 
a faísca, Skousen convenceu o Instituto de Economia Política a apoiar 
minha pesquisa durante seu primeiro ano acadêmico. Mark primeira-
mente viu o trabalho com um tamanho padrão de Smith-aos-dias-pre-
sentes, um tipo de contra-heilbroner. Depois de ponderar o problema, 
entretanto, eu o disse que deveria começar por Aristóteles, uma vez que 
Smith era um declive íngreme de seus predecessores. Nenhum de nós 
percebia então o escopo ou largura da pesquisa que se seguiria. 
 É impossível listar todas as pessoas das quais eu aprendi em toda 
uma vida de instrução e discussão na história econômica e todas as suas 
disciplinas cognatas. Aqui eu terei que menosprezar vários deles e es-
colher alguns poucos. A dedicação reconhece minha imensa dívida a 
Ludwig Von Mises por providenciar um imponente edifício de teoria 
econômica, assim como por seus ensinamentos, sua amizade e seu ins-
pirador exemplo de sua vida. E para Joseph Dorfman por seu revoluci-
onário trabalho na história do pensamento econômico, sua ênfase na 
importância da completude da história assim como das próprias teorias, 
e sua minuciosa introdução ao método histórico. 
 Eu tenho uma grande dívida com Llewellyn H. Rockwell Jr por 
criar e organizar o Instituto Ludwig Von Mises, estabelecendo-o na Uni-
versidade de Auburn, e construindo-o, em quase uma década, em um 
próspero e produtivo centro para a propagação e instrução de pessoas 
na Economia Austríaca. Nem de longe o menor serviço do Instituto Mi-
ses para mim, foi anexar uma rede de estudiosos dos quais eu pudesse 
aprender. Novamente eu devo distinguir Joseph T. Salerno, da Univer-
sidade Pace, que fez um trabalho notavelmente criativo na história do 
pensamento econômico; e aquele grande polímata e estudioso dos estu-
diosos, David Gordon do Instituto Mises, cuja produção substancial em 
filosofia, economia e história intelectual integra apenas uma fração de 
sua erudição nesses e em vários outros campos. Também agradeço a 
Gary North, diretor do Instituto de Economia Cristã em Tyler, Texas, 
por conduzir uma extensa biografia de Marx e do socialismo no geral, 
e por me introduzir nos mistérios das variedades do milenarismo, a-, 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
xxii 
pré- e pós. Nenhuma dessas pessoas, certamente, deve ser culpada por 
qualquer erro aqui contido. 
 A maior parte da minha pesquisa foi conduzida com o auxílio 
dos ótimos recursos das livrarias das Universidades de Columbia e 
Stanford, assim como a livraria na Universidade de Nevada, Las Vegas, 
suplementadas pela minha própria coleção de livros acumulada com os 
anos. Uma vez que eu sou um dos poucos estudiosos que inflexivel-
mente permanece apegado aos escritos em papel de pouca tecnologia 
ao invés de adotar processadores de texto/computadores, eu estive de-
pendente dos serviços de alguns datilógrafos/processadores de texto, 
dos quais eu particularmente mencionaria Janet Banker e Donna Evans 
da Universidade de Nevada, Las Vegas. 
 Em adição o autor e os publicadores desejam agradecer às se-
guintes pessoas que gentilmente deram permissão para o uso do mate-
rial de direitos autorais. 
 
Groenewegen, P.D. (ed.), The Economics of A.R.J. Turgot. Cop-
yright 1977, Por Martinus Nijhoff, The Hague. Reimpresso com per-
missão da Kluwer Academic Publishers. 
 
Rothkrug, Lionel, Opposition to Louis XIV. Copyright 1965, re-
newed 1993, pela Princeton University Press. Reimpresso com permis-
são da Princeton University Press. 
 
O autor gostaria particularmente de expressar sua apreciação 
pela eficiência e graciosidade da Sra. Berendina van Straalen, do Rights 
and Permission Debt, Kluwer Academic Publishers, Dordrecht, Países 
Baixos. 
 
23 
 
capítulo 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos 1 
 
 
1. A lei natural......................................................................................25 
2. A política da polis.............................................................................29 
3. O primeiro “economista”: Hesíodo e o problema da escassez..........31 
4. Os pré-socráticos..............................................................................33 
5. A utopia coletivista direitista de Platão.............................................35 
6. Xenofonte sobre a administração doméstica....................................37 
7. Aristóteles: a propriedade privada e o dinheiro................................38 
8. Aristóteles: troca e valor...................................................................41 
9. O colapso depois de Aristóteles........................................................45 
10. Taoísmo na China antiga................................................................51 
 
25 
 Tudo começou, como sempre, com os gregos. Os gregos antigos 
foram as primeiras pessoas civilizadas a usarem sua razão para pensar 
sistematicamente acerca do mundo que os circundava. Os gregos foram 
os primeiros filósofos (philo sophia — amantes da sabedoria), as pri-
meiras pessoas a pensarem profundamente e a descobrirem como apre-
ender e uma vez aprendido a verificarem o conhecimento acerca do 
mundo. Outras tribos e pessoas tendiam a atribuir eventos naturais aos 
caprichos arbitrários dos deuses. Uma tempestade violenta, por exem-
plo, poderia ser atribuída a algo que irritou o deus do trovão. O jeito de 
se trazer a chuva ou de refrear tempestades violentas seria, então, des-
cobrir quais atos humanos satisfaziam o deus dachuva ou apaziguavam 
o deus do trovão. Tais pessoas teriam considerado tolice a tentativa de 
achar as causas naturais da chuva ou dos trovões. Em vez disso, a coisa 
certa a se fazer seria descobrir o que os deuses mais relevantes queriam 
e então tentar satisfazer suas necessidades. 
 Os gregos, em contraste, ansiavam pelo uso da razão — suas 
observações sensíveis e conhecimento lógico — para investigar e 
aprender sobre o mundo. Ao fazê-lo, eles pararam gradualmente de se 
preocupar com os caprichos dos deuses, e passaram a investigar os entes 
actuais que os cercavam. Liderados em particular pelo grande filósofo 
ateniense Aristóteles (384 - 322 a.C.), um magnificente e criativo siste-
matizador conhecido pelas gerações posteriores como O Filósofo, os 
gregos desenvolveram uma teoria e um método de raciocínio e de ciên-
cia que posteriormente passou a ser chamado de lei natural. 
 
1. A lei natural 
 
 A lei natural reside no insight crucial de que ser significa neces-
sariamente ser alguma coisa, isto é, alguma coisa ou ente particular. 
Não há um Ser em abstrato. Tudo o que é, é alguma coisa particular, 
seja essa coisa uma pedra, um gato, ou uma árvore. É constatado empi-
ricamente que há mais de um tipo de coisa no universo; na verdade 
existem milhares, senão milhões de tipos de coisas. Cada coisa tem seu 
próprio conjunto particular de propriedades ou atributos, sua própria 
natureza, que a distingue de outros tipos de coisas. Uma pedra, um gato, 
um carvalho, cada uma dessas coisas tem sua própria natureza particu-
lar, que o homem pode descobrir, estudar e identificar. 
 O homem estuda o mundo e então, ao examinar os entes, iden-
tifica tipos similares de coisas e as classifica em categorias cada qual 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
26 
com suas próprias propriedades e naturezas. Se vemos um gato andando 
pela rua, podemos imediatamente incluir isso dentro de um conjunto de 
coisas, ou animais, chamados “gatos”, cuja natureza já descobrimos e 
analisamos. 
 Se podemos descobrir e aprender sobre as naturezas dos entes X 
e Y, então nós podemos descobrir o que acontece quando dois entes in-
teragem. Suponha, por exemplo, que quando um determinado número 
de X interage com um dado número de Y, alcançamos uma determinada 
quantidade de outra coisa, Z. Podemos, assim, dizer que o efeito Z foi 
causado pela interação de X e de Y. Assim, os químicos podem desco-
brir que quando duas moléculas de hidrogênio interagem com uma mo-
lécula de oxigênio, o resultado é uma molécula de um novo ente, água. 
Todos esses entes — hidrogênio, oxigênio e água — têm propriedades 
ou naturezas específicas descobríveis, que podem ser identificadas. 
 Vemos, então, que os conceitos de causa e de efeito são parte da 
análise da lei natural. Eventos no mundo podem ser traçados de volta 
às interações de entes específicos. Visto que as naturezas são dadas e 
identificáveis, as interações dos vários entes serão replicáveis sob as 
mesmas condições. As mesmas causas sempre produzirão os mesmos 
efeitos. 
 Para os filósofos aristotélicos, a lógica não é uma disciplina se-
parada e isolada, mas uma parte integral da lei natural. Assim, o pro-
cesso básico de identificar determinados entes leva, na lógica “clássica” 
ou aristotélica, à Lei de Identidade: uma coisa é, e não pode ser outra 
coisa além do que é: a é a. 
 Segue-se, portanto, que um ente não pode ser a negação de si. 
Ou, se colocado de outra maneira, temos a Lei da Não-Contradição: 
uma coisa não pode ser ambos a e não-a; a não é, e não pode ser, não-
a. 
 Finalmente, em nosso mundo de numerosos tipos de entes, qual-
quer coisa precisa ser ou a ou não será; em resumo, será ou a ou não-a. 
Nada pode ser ambos. Isso nos dá uma segunda famosa lei da lógica 
clássica: a Lei do Terceiro Excluído: toda coisa no universo é ou a ou 
não-a. 
 Mas se todo ente no universo — se hidrogênio, oxigênio, pedra, 
ou gato — pode ser identificado, classificado, e ter sua natureza exami-
nada, então o mesmo se aplica ao homem. Os seres humanos precisam 
também ter uma natureza específica com propriedades específicas que 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos 
27 
podem ser estudadas, e das quais podemos obter conhecimento. Os se-
res humanos são únicos no universo porque eles podem e estudam a si 
mesmos, bem como o mundo que os cerca, e tentam descobrir quais 
objetivos devem ser alcançados e quais meios eles devem empregar 
para alcançá-los. 
 O conceito de “bem” (e, portanto, de “mal”) é relevante apenas 
para entes viventes. Visto que pedras ou moléculas não possuem fins 
nem propósitos, qualquer ideia do que pode ser um “bem” para uma 
molécula ou para uma pedra seria algo propriamente bizarro. Mas o que 
pode ser um “bem” para um carvalho ou para um cachorro faz muito 
sentido: especificamente, o “bem” é tudo o que conduz para vida e o 
florescer do ente vivente. O “mal” é tudo o que prejudica a vida ou 
prosperidade de tais entes. Assim, é possível desenvolver uma “ética 
dos carvalhos” ao se descobrir as melhores condições: solo, luz solar, 
clima, etc., para o crescimento e sustento dos carvalhos; e ao tentar evi-
tar certas condições tidas como “mal” para os carvalhos: pragas, en-
chentes, etc. Um conjunto similar de propriedades éticas pode ser de-
senvolvido para vários tipos de animais. 
 Assim, a lei natural vê a ética como sendo relativa aos entes vi-
vos (ou espécies). O que é um bem para repolhos é diferente do que é 
um bem para coelhos, que, por sua vez, será diferente do que é um bem 
ou um mal para o homem. A ética para cada espécie diferirá de acordo 
com suas naturezas respectivas. 
 O homem é a única espécie que pode — e certamente precisa — 
esculpir uma ética para si mesmo. As plantas não possuem consciência, 
e, portanto, não podem escolher ou agir. A consciência dos animais é, 
estritamente, perceptual e carece de elementos conceituais: a habilidade 
de enquadrar conceitos e agir sobre eles. O homem, na famosa frase 
aristotélica, é singularmente o animal racional — a espécie que usa a 
razão para adotar valores e princípios éticos, e que age para alcançar 
esses fins. O homem age, isto é, ele adota valores e propósitos, e escolhe 
os caminhos para atingi-los. 
 O homem, portanto, ao buscar objetivos e caminhos para obtê-
los, precisa descobrir e trabalhar dentro da estrutura da lei natural: as 
propriedades de si mesmo e dos outros entes e os caminhos pelos quais 
eles podem interagir. 
 A civilização ocidental é, de várias maneiras, grega; e as duas 
grandes tradições filosóficas da Grécia Antiga que têm moldado a 
mente dos ocidentais desde então foram as de Aristóteles e a de seu 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
28 
grande professor e antagonista Platão (428-357 a.C.). Já foi muito dito 
que todo homem, no fundo, é ou um platonista ou um aristotélico, e as 
divisões ocorrem ao longo dos pensamentos. Platão foi pioneiro na 
abordagem da lei natural, que Aristóteles desenvolveu e sistematizou; 
mas o impulso básico foi bem diferente. Para Aristóteles e seus segui-
dores, a existência do homem, tal como a de todas as outras criaturas, é 
“contingente”, i.e., não é necessária nem eterna. Apenas a existência de 
Deus é necessária e transcende o tempo. A contingência da existência 
do homem é simplesmente uma parte inalterável da lei natural, e precisa 
ser aceita como tal. 
 Para os platonistas, entretanto, especialmente como foi elabo-
rado pelo seguidor de Platão, o egípcio Plotino (204-270 d.C.), essas 
inevitáveis limitações do estado natural do homem eram intoleráveis e 
deveriam ser transcendidas. Para os platonistas, a existência actual, con-
creta, temporal e factual do homem era muito limitada. Em vez disso, 
essa existência (que é tudo o que qualquer um de nós já temos visto) é 
uma queda da graça, uma queda do não-existente, ideal, perfeito, eterno 
e originalser do homem, um ser perfeito e divino e, portanto, sem limi-
tes. Numa inversão bizarra da linguagem, este ser perfeito e nunca-exis-
tente foi tido pelos platonistas como o verdadeiramente existente, a ver-
dadeira essência do homem, da qual todos nós fomos alienados e priva-
dos. A natureza do homem (e de todos os outros entes) no mundo é ser 
alguma coisa e existir no tempo; mas na inversão semântica dos plato-
nistas, o homem verdadeiramente existente é para ser eterno, viver fora 
do tempo e não ter limites. A condição do homem na terra é, portanto, 
assumida como um estado de degradação e alienação, e se assume que 
seu propósito é percorrer o caminho de volta para seu auto-alegado 
“verdadeiro” estado original, ilimitado e perfeito. Alegado, é claro, com 
base em nenhuma evidência — obviamente, a própria evidência identi-
fica, limita e, portanto, para a mente platônica, corrompe. 
 As visões de Platão e de Plotino acerca do alegado estado de 
alienação humana foram altamente influentes, como veremos, nos es-
critos de Karl Marx e de seus seguidores. Outro filósofo grego, enfati-
camente diferente da tradição aristotélica, foi o antigo filósofo pré-so-
crático Heráclito de Éfeso (c. 535-475 a.C.), que prefigurou Hegel e 
Marx. Ele era pré-socrático no sentido de preceder o grande professor 
de Platão, Sócrates (470-399 a.C.), que nada escreveu, mas chegou a 
nós interpretado por Platão e por vários outros seguidores. Heráclito, ao 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos 
29 
qual foi de forma apta dado o título de “O Obscuro” pelos gregos, pen-
sou que às vezes coisas que são opostas, a e não-a, podem ser idênticas, 
ou, em outras palavras, que a pode ser não-a. Esse desafio a lógica ele-
mentar pode talvez ser perdoada no caso de alguém como Heráclito, 
que escreveu antes de Aristóteles desenvolver a lógica clássica, mas é 
difícil tolerar isso no que diz respeito a seus posteriores seguidores. 
 
2. A política da polis 
 
 Quando o homem passa do uso de sua razão do mundo inani-
mado para usar a razão para o próprio homem e para a organização so-
cial, torna-se difícil, por pura razão, evitar abrir mão às opiniões ten-
denciosas e aos preconceitos da estrutura política da época. Isso tudo 
era muito verdadeiro para os gregos, incluindo os socráticos, Platão e 
Aristóteles. A vida dos gregos era organizada em pequenas cidades-es-
tados (as polis) algumas das quais puderam formar impérios ultramares. 
A maior cidade-estado, Atenas, cobria uma área de cerca de mil milhas 
quadradas, ou metade do tamanho do moderno Delaware. A faceta 
chave da vida política era que a cidade-estado era gerida por uma firme 
oligarquia de cidadãos privilegiados, muitos dos quais eram grandes 
donos de terra. A maioria da população da cidade-estado era de escravos 
ou de residentes estrangeiros, que geralmente exerciam, respectiva-
mente, o trabalho manual e os empreendimentos comerciais. O privilé-
gio da cidadania era reservado aos descendentes dos cidadãos. En-
quanto as cidades-estados gregas flutuavam entre tiranias absolutas e 
democracias, em sua fase mais “democrática”, Atenas, por exemplo, re-
servou os privilégios da regra democrática para 7 por cento da popula-
ção, o resto dos quais eram ou escravos ou estrangeiros residentes (na 
Atenas do século quinto a.C. havia aproximadamente 30 mil cidadãos 
de uma população total de 400 mil). 
 Como donos de terra privilegiados vivendo de impostos e pro-
dutos de escravos, os cidadãos atenienses tinham o tempo livre para 
votações, discussões, as artes e — no caso dos particularmente inteli-
gentes — filosofar. Embora o filósofo Sócrates fosse ele mesmo filho 
de um pedreiro, suas visões políticas eram ultraelitistas. No ano 404 
a.C., o estado despótico de Esparta conquistou Atenas e estabeleceu um 
reino de terror conhecido como Tirania dos Trinta. Quando os atenien-
ses derrubaram esse curto governo um ano depois, a democracia restau-
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
30 
rada executou o velho Sócrates, em grande parte por suspeita de simpa-
tia com a causa dos espartanos. Essa experiência confirmou o brilhante 
jovem discípulo de Sócrates, Platão, o herdeiro de uma família nobre 
de Atenas, o que seria agora chamado de uma devoção “de extrema di-
reita” ao governo dos déspotas e dos aristocratas. 
 Uma década depois, Platão estabeleceu sua academia aos arre-
dores de Atenas como um think-tank não apenas da pesquisa e do ensino 
filosófico abstrato, mas também como uma fonte de programas políti-
cos para o despotismo social. Ele mesmo tentou três vezes sem sucesso 
estabelecer regimes despóticos na cidade-estado de Siracusa, enquanto 
não menos de nove dos alunos de Platão tiveram sucesso em se estabe-
lecerem como tiranos sobre determinadas cidades-estados gregas. 
 Enquanto Aristóteles era politicamente mais moderado que Pla-
tão, sua devoção aristocrática à polis era totalmente evidente. Aristóte-
les nasceu de uma família aristocrática na cidade costeira macedônica 
de Estagira, e entrou na Academia de Platão como estudante com 17 
anos, em 367 a.C. Lá ele permaneceu até a morte de Platão, 20 anos 
mais tarde, depois de ele ter deixado Atenas e eventualmente voltado à 
Macedônia, onde entrou para a corte do Rei Felipe e foi tutor do jovem 
futuro conquistador do mundo, Alexandre o Grande. Depois de Alexan-
dre ter ascendido ao trono, Aristóteles retornou para Atenas em 335 a.C. 
e estabeleceu sua própria escola de filosofia no Liceu, do qual suas 
grandes obras chegaram a nós como notas de aulas escritas por ele 
mesmo ou transcritas por seus estudantes. Quando Alexandre morreu 
em 323 a.C., os atenienses se sentiram livres para descontar sua raiva 
nos macedônios e em seus simpatizantes, e Aristóteles foi expulso da 
cidade, morrendo pouco depois disso. 
 Suas tendências aristocratas e suas vidas dentro da matriz de 
uma polis oligárquica tiveram um maior impacto no pensamento dos 
socráticos do que as várias excursões de Platão em teorias de utopias 
direitistas coletivistas ou na tentativa prática de seus estudantes de es-
tabelecerem tiranias. Pois o status social e tendências políticas dos so-
cráticos coloriram suas filosofias morais e políticas, bem como suas vi-
sões econômicas. Assim, tanto para Platão quanto para Aristóteles, o 
“bem” para o homem não era algo a ser buscado pelo indivíduo, e nem 
era o indivíduo uma pessoa com direitos que não poderia ser reduzida 
ou violada por seus semelhantes. Para Platão e Aristóteles, o “bem” na-
turalmente não era buscado pelo indivíduo, mas pela polis. A virtude e 
a boa vida eram da polis em vez de serem orientadas ao indivíduo. Tudo 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos 
31 
isso significa que o pensamento de Platão e de Aristóteles era estatista 
e elitista em sua raiz, um estatismo que infelizmente permeou a filosofia 
“clássica” (grega e romana) bem como influenciou fortemente o pensa-
mento cristão e medieval. A filosofia clássica da “lei natural”, portanto, 
nunca chegou em suas elaborações posteriores, primeiro na Idade Mé-
dia e então nos séculos XVII e XVIII, dos “direitos naturais” do indiví-
duo, direitos esses que não poderiam ser invadidos nem pelo homem 
nem pelo governo. 
 No campo mais estritamente econômico, o estatismo dos gregos 
significou a recorrente exaltação aristocrática das alegadas virtudes das 
artes militares e da agricultura, bem como um desprezo sutil pelo traba-
lho e pelo comércio, e consequentemente do acúmulo de dinheiro e da 
busca pelo lucro. Assim, Sócrates, abertamente desprezando o trabalho 
como sendo pouco saudável e vulgar, cita o rei da Pérsia dizendo que, 
de longe, as artes mais nobres são a agricultura e a guerra. E Aristóteles 
escreveu que a nenhum bom cidadão “deveria ser permitido exercer 
qualquer baixo emprego ou tráfego mecânico, pois isso é ignóbil e des-
trói a virtude”. 
 Ademais, a elevaçãogrega da polis sobre o indivíduo os levou 
a tomar uma visão obscura da inovação econômica e do empreendedo-
rismo: o empreendedor, o inovador dinâmico é, antes de tudo, o locus 
do ego e da criatividade individual, e é, portanto, o precursor das fre-
quentes mudanças sociais perturbadoras, bem como do crescimento 
econômico. Mas o ideal ético grego e socrático para o indivíduo não era 
o desdobramento e florescimento de possibilidades interiores, mas, em 
vez disso, uma criatura política/pública moldada para se conformar às 
demandas da polis. Esse tipo de ideal social foi feito para promover uma 
sociedade congelada, com status políticos determinados, e certamente 
não uma sociedade criativa de indivíduos dinâmicos e inovadores. 
 
3. O primeiro “economista”: Hesíodo e o problema da escassez 
 
 Ninguém deve ser induzido a pensar que os antigos gregos fo-
ram “economistas” no sentido moderno. No percurso de pioneiros na 
filosofia, o filosofar dos gregos acerca do homem e de seu mundo ren-
deram fragmentos de pensamentos e insights político-econômicos ou 
até mesmo estritamente econômicos. Mas não haviam tratados de eco-
nomia tal como se faz hoje per se. É verdade que o termo “economia” 
é grego, derivado do grego oikonomia, mas oikonomia não significa 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
32 
“economia” no nosso sentido, mas, na verdade, significa “administra-
ção doméstica”, e tratados sobre “economia” discutiriam o que poderia 
ser chamado de tecnologia de administração doméstica — útil talvez, 
mas certamente não é o que tomamos hoje em dia como sendo a econo-
mia. Existe, portanto, um perigo, infelizmente não evitado por muitos 
proeminentes historiadores do pensamento econômico, de ansiosa-
mente tentar abstrair em antigos fragmentos dos antigos sábios o conhe-
cimento obtido pela economia moderna. Enquanto nós certamente não 
devemos negligenciar quaisquer gigantes do passado, devemos também 
evitar qualquer apreensão “presentista” de algumas sentenças obscuras 
para saudar alegados, mas inexistentes, precursores de sofisticados con-
ceitos modernos. 
 A honra de ter sido o primeiro pensador econômico grego vai 
para o poeta Hesíodo, um beócio que viveu numa Grécia nos primórdios 
de sua antiguidade, no meio do século VIII a.C. Hesíodo viveu na pe-
quena e autossuficiente comunidade agrícola de Ascra, para a qual ele 
mesmo se refere como “lugar triste […] ruim no inverno, difícil no ve-
rão, nunca bom”. Ele era, portanto, naturalmente afinado com o pro-
blema eterno da escassez, do esgotamento dos recursos em contraste 
com a rapidez das metas e desejos humanos. O grande poema de Hesí-
odo, Os Trabalhos e os Dias, consistiu em centenas de versos designa-
dos para recitação solo com acompanhamento musical. Mas Hesíodo 
era um poeta didático em vez de apenas um produtor de entretenimento, 
e ele frequentemente rompeu com sua história para educar seu público 
com a sabedoria tradicional ou em regras explícitas para a conduta hu-
mana. Dos 828 versos no poema, os primeiros 383 se centraram no pro-
blema fundamental da economia: os recursos escassos para a busca de 
numerosos e abundantes fins e desejos humanos. 
 Hesíodo adota o mito religioso ou tribal comum da “Era de 
Ouro”, do alegado estado inicial da Terra como se fosse um Éden, um 
Paraíso com abundância ilimitada. Nesse Éden original, é claro, não ha-
via problema econômico, nenhum problema de escassez, pois todos os 
quereres humanos eram instantaneamente satisfeitos. Mas agora, tudo 
é diferente, e os homens nunca descansam do trabalho e de seus fardos. 
A razão da existência deste estágio decadente é uma escassez que 
abrange tudo, o resultado da ejeção do homem do Paraíso. Por causa da 
escassez, nota Hesíodo, o trabalho, materiais e o tempo precisam ser 
alocados de forma eficiente. A escassez, além disso, pode apenas ser 
parcialmente superada através de uma aplicação enérgica do trabalho e 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos 
33 
do capital. Em particular, o labor — trabalho — é crucial, e Hesíodo 
analisa os fatores vitais que podem induzir o homem a abandonar o es-
tado divino de lazer. A primeira dessas forças é, claramente, a necessi-
dade material básica. Mas felizmente, essa necessidade é reforçada por 
uma reprovação social da preguiça, e pelo desejo de emular os padrões 
de consumo dos semelhantes de alguém. Para Hesíodo, a emulação leva 
ao desenvolvimento saudável de um espírito de competição, que ele 
chama de “bom conflito”, uma força vital no alívio do problema básico 
da escassez. 
 Para continuar com a competição justa e harmoniosa, Hesíodo 
vigorosamente exclui tais métodos injustos de se adquirir a riqueza, 
como o roubo, e advoga um império da lei e um respeito pela justiça 
para estabelecer ordem e harmonia dentro da sociedade, e permitir o 
desenvolvimento da competição dentro de uma matriz de harmonia e 
justiça. Deve já ser claro que Hesíodo tem uma visão muito mais oti-
mista do crescimento econômico, do trabalho e da competição vigorosa 
do que a visão dos muito mais filosoficamente sofisticados Platão e 
Aristóteles três séculos e meios mais tarde. 
 
4. Os pré-socráticos 
 
 O homem é propenso ao erro e até mesmo a tolice, e, portanto, 
uma história do pensamento econômico não pode confinar a si mesma 
ao crescimento e desenvolvimento das verdades econômicas. Também 
deve tratar erros influentes, isto é, erros que infelizmente influenciaram 
desenvolvimentos posteriores na disciplina. Um tal pensador é o filó-
sofo grego Pitágoras de Samos (c. 582-c.507 a.C.) que, dois séculos 
depois de Hesíodo, desenvolveu uma escola de pensamento que susten-
tou que a única realidade significante é o número. O mundo não apenas 
é número, mas até mesmo os números incorporam qualidades morais e 
outras abstrações. Assim, a justiça, para Pitágoras e seus seguidores, é 
o número quatro, e outros números consistiam em várias qualidades 
morais. Mesmo tendo Pitágoras indubitavelmente contribuído para o 
desenvolvimento da matemática grega, seu misticismo numérico pode-
ria ser muito bem caracterizado pelo sociólogo de Harvard do século 
XX Pitirim A. Sorokin como um exemplo seminal de “quantofrenia” e 
“metromania”. É dificilmente um exagero ver em Pitágoras o embrião 
da florescente e presunçosamente arrogante economia matemática e 
econometria dos dias atuais. 
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
34 
 Pitágoras contribuiu com esterilidade para o fio único da filoso-
fia e do pensamento econômico, esterilidade essa que influenciou as 
astutas e falaciosas tentativas de desenvolver uma matemática da justiça 
e das trocas na economia. O próximo desenvolvimento positivo foi uma 
contribuição do pré-socrático (na verdade contemporâneo a Sócrates) 
Demócrito (c.460-c.370 a.C.). 
 Esse influente intelectual de Abdera foi o fundador do “ato-
mismo” na cosmologia, isto é, a visão de que a estrutura básica da rea-
lidade consiste em átomos que interagem entre si. Demócrito contribuiu 
para o desenvolvimento da economia com duas importantes vertentes 
teóricas. A primeira: ele foi o fundador da teoria do valor subjetivo. Va-
lores morais, éticos, eram absolutos, pensou Demócrito, mas os valores 
econômicos eram necessariamente subjetivos. “A mesma coisa”, es-
creve Demócrito, pode ser “boa e verdadeira para todos os homens, mas 
o prazeroso difere de um para o outro”. Não apenas a valoração era 
subjetiva, mas Demócrito também viu que a utilidade de um bem pas-
saria a ser zero e até mesmo se tornaria negativa se sua oferta passar a 
ser superabundante. 
 Demócrito também apontou que se as pessoas restringissem 
suas demandas e contivessem seus desejos, o que eles agora possuem 
os faria aparentar relativamente mais ricos do que pobres. Aqui, nova-
mente, a natureza relativa da utilidade subjetiva da riqueza é reconhe-
cida. Em adição, Demócrito foi o primeiroa chegar a uma noção rudi-
mentar de preferência temporal: o insight austríaco de que as pessoas 
preferem um bem no presente a uma perspectiva de um bem adquirido 
no futuro. Como explicou Demócrito: “não há certeza se os jovens al-
cançarão a velhice, portanto, o bem que está em mãos é superior ao bem 
que ainda virá”. 
 Em adição à prefiguração da teoria do valor subjetivo, outra 
maior contribuição de Demócrito para a economia foi sua defesa pio-
neira de um sistema de propriedade privada. Em contraste ao despo-
tismo oriental, no qual a propriedade era donificada ou controlada pelo 
imperador e sua burocracia subalterna, a Grécia se apoiava numa soci-
edade e numa economia de propriedade privada. Demócrito, tendo visto 
o contraste entre a economia de propriedade privada de Atenas e o co-
letivismo oligárquico de Esparta, concluiu que a propriedade privada é 
uma forma superior de organização econômica. Em contraste com a 
propriedade comum, a propriedade privada fornece um incentivo para 
a labuta e a diligência, visto que “a renda da propriedade comum dá 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos 
35 
menos prazer, e o gasto menos dor”, a “labuta”, concluiu o filósofo, “é 
mais doce que a ociosidade quando os homens ganham aquilo pelo qual 
se trabalhou duro ou que sabem que irão usar.” 
 
5. A utopia coletivista direitista de Platão 
 
 A busca de Platão por uma utopia coletivista hierárquica achou 
sua expressão clássica em sua obra mais famosa e influente, A Repú-
blica. Lá, e depois em As Leis, Platão desenvolveu a doutrina de sua 
cidade-estado ideal: uma na qual a reta governança dos oligarcas é man-
tida por reis-filósofos e por seus colegiados filosóficos, assim, suposta-
mente tendo a ordem assegurada pelos melhores e mais sábios na co-
munidade. Sob os filósofos na hierarquia coercitiva estavam os “guar-
diões” — os soldados, cuja função era agredir outras cidades e terras e 
defender sua polis da agressão externa. Sob esses está o corpo popular, 
dos produtores desprezados: trabalhadores, camponeses e mercadores 
que produzem bens materiais dos quais os nobres filósofos e guardiões 
viverão. Estas três amplas classes são supostas a refletir um trêmulo e 
pernicioso salto se ao menos houver algum — o regramento próprio 
sobre a alma em cada ser humano. Para Platão, cada ser humano é divi-
dido em três partes: “uma que deseja, uma que luta e outra que pensa”, 
e a hierarquia adequada dita do domínio dentro de cada alma é supos-
tamente a razão em primeiro lugar, a luta em segundo e, finalmente, e 
no menor patamar, os precários desejos. 
 As duas classes governantes — os pensadores e guardiões — 
que realmente contam, no estado de Platão, devem ser forçadas a viver 
sobre o puro comunismo. Não deve haver nenhum tipo de propriedade 
privada entre a elite; todas as coisas devem ser donificadas comumente, 
incluindo mulheres e crianças. A elite deve ser forçada a viver junto e a 
compartilhar refeições comuns. Visto que o dinheiro e as posses priva-
das, de acordo com o aristocrata Platão, apenas corrompem a virtude, 
elas devem ser negadas para as classes mais altas. Parceiros de casa-
mento entre a elite devem ser selecionados estritamente pelo estado, 
que deve proceder de acordo com as doutrinas científicas já conhecidas 
dentro do ramo da criação de animais. Se algum dos filósofos ou guar-
diões ficarem infelizes com esse arranjo, eles terão de aprender que sua 
felicidade pessoal não significa nada em comparação com a felicidade 
da polis como um todo — um conceito bem obscuro na melhor das hi-
Uma Perspectiva Austríaca — Antes de Adam Smith 
36 
póteses. Na verdade, aqueles que não são seduzidos pela teoria platô-
nica da realidade essencial das ideias não acreditarão que exista uma 
entidade real tal como uma polis. Em vez disso, a cidade-estado ou co-
munidade consiste apenas de indivíduos viventes e livres. 
 Para conservar as elites e as massas subalternas disciplinadas, 
Platão instrui os filósofos a espalhar a “nobre” mentira de que eles mes-
mos são descendentes dos deuses enquanto as outras classes são inferi-
ores em sua descendência. A liberdade de expressão ou de investigação 
era, como já se poderia esperar, um anátema* para Platão. As artes são 
desaprovadas, e a vida dos cidadãos é para ser policiada para que se 
suprima qualquer pensamento ou ideia perigosa que possam vir à tona. 
 Notavelmente, no próprio percurso de pôr adiante sua clássica 
apologia ao totalitarismo, Platão contribuiu para a ciência econômica 
ao ser o primeiro a expor e analisar a importância da divisão do trabalho 
na sociedade. Visto que sua filosofia social foi fundada numa separação 
necessária entre classes, Platão foi adiante para demonstrar que tal es-
pecialização é fundada na natureza humana mais básica, em particular, 
sua diversidade e desigualdade. Platão faz Sócrates dizer em A Repú-
blica que a especialização surge porque “nós não somos todos iguais; 
há muitas diversidades de naturezas entre nós que somos adaptados para 
diferentes profissões”. 
 Visto que o homem produz diferentes coisas, os bens são natu-
ralmente trocados entre cada um, de modo que a especialização neces-
sariamente dá luz às trocas. Platão também aponta que essa divisão do 
trabalho aumenta a produção de todos os bens. Platão não viu problema, 
entretanto, em classificar moralmente as várias ocupações, com a filo-
sofia, é claro, tendo o primeiro lugar e o trabalho ou comércio sendo 
sórdido e ignóbil. 
 O uso do ouro e da prata como dinheiro acelerou bastante com 
a cunhagem em Lydia no início do século sétimo a.C., e o dinheiro cu-
nhado se espalhou rapidamente para a Grécia. Mantendo desgosto pela 
produção de dinheiro, pelo comércio e pela propriedade privada, Platão 
foi talvez o primeiro teórico a criticar o uso do ouro e da prata enquanto 
dinheiro. Ele também odiava o ouro e a prata precisamente porque eles 
 
* Nota do Tradutor: Anátema está sendo empregado no sentido de uma maldição 
ou excomunhão, não no sentido grego habitual (oferenda posta no templo de uma 
deidade para agradecer por uma vitória ou outro evento favorável). 
Os Primeiros Filósofos-Economistas: Os Gregos 
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serviam como moedas correntes internacionais, aceitas por todas as pes-
soas. Visto que esses metais preciosos são universalmente aceitos e 
existem à parte do imprimatur do governo, o ouro e a prata constituem 
uma potencial ameaça às regulações moral e econômica da polis pelos 
governantes. Platão defendia uma moeda fiduciária do governo, multas 
pesadas na importação do ouro por fora da cidade-estado, e a exclusão 
da cidadania de todos os comerciantes e trabalhadores que mexem com 
dinheiro. 
 Uma das marcas registradas de uma utopia ordenada vista por 
Platão é que, para permanecer ordenada e controlada, ela deve ser man-
tida relativamente estática. E que significa pouca ou nenhuma mudança, 
inovação ou crescimento econômico. Platão antecipou alguns intelectu-
ais atuais em seu rancor pelo crescimento econômico, e por razões si-
milares: notavelmente, o medo do colapso da dominação do estado pe-
las elites regentes. Particularmente difícil na tentativa de congelar uma 
sociedade em uma forma estática é o problema do crescimento popula-
cional. Bem consistentemente, portanto, Platão defendeu o congela-
mento do tamanho da população da cidade-estado, mantendo o número 
de seus cidadãos limitados a 5 mil famílias agricultoras de donos de 
terra. 
 
6. Xenofonte sobre a administração doméstica 
 
 Um discípulo e contemporâneo a Platão foi o aristocrata latifun-
diário ateniense e general do exército Xenofonte (430-354 a.C.). Os es-
critos econômicos de Xenofonte eram espalhados em obras tais como 
um atestado de educação de um príncipe persa, um tratado sobre como 
aumentar a receita do governo, e um livro sobre “economia” no sentido 
de pensamentos sobre a tecnologia doméstica e administração

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