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Sociedade Judaica no Início da Era Cristã

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JUDAÍSMO E CRISTIANISMO PRIMITIVO 
Me. Alexandre Figueira de Pontes Jr. 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
 
1 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. A SOCIEDADE JUDAICA NO INÍCIO DA ERA CRISTÃ 
 
Objetivo 
Apresentar a sociedade judaica no início da era cristã, demonstrando a teia social e 
o comportamento dos habitantes da Palestina no primeiro século. 
 
Introdução 
O início da era cristã traz mudanças de comportamento e instantes de reflexão para 
a sociedade judaica que, assim como outros povos mediterrâneos, viviam escravizados 
pelos romanos. E, em decorrência exatamente dessa escravização, os descontentamentos 
sociais surgiam em diversos pontos do território palestino e em diversas camadas da 
sociedade judaica. No século I d.C, a brutalidade fazia parte das vida cotidiana, assim como 
a imposição de diversos tributos por parte dos romanos aos povos escravizados no 
mediterrâneo. 
1.1. Contexto histórico 
Em 63 a.C. Roma chega ao Oriente Médio através do General Pompeu. A política 
expansionista romana teve, em seu início, objetivos básicos como a defesa frente a povos 
vizinhos rivais e a ampliação de terras para a agricultura e para a pecuária. Contudo, logo 
se revelou uma grande e importante fonte de riquezas em metais preciosos e em escravos 
(MOTA; BRAICK, 1997). Assim, após cinco séculos de guerras, a dominação de Roma se 
estendeu a uma grande parte do continente Europeu, à Ásia e ao norte do continente 
Africano. 
 
É neste contexto que a Palestina passa a fazer parte do Império Romano com 
Herodes, o Grande (37 – 4 a.C.) sendo o rei da Judéia e, por volta do ano 7 ou 6 a.C., 
alguns anos antes da morte do rei Herodes, o Grande, e durante o governo do imperador 
romano Augusto, acontece em Nazaré o nascimento de Jesus (MEIER, 1992) que durante 
sua vida habitou uma Palestina governada, principalmente, pela dinastia herodiana. É de 
se destacar que Herodes, o Grande, era considerado pelos romanos como um rei amigo, 
porém, ele era contestado pelos judeus em decorrência da sua origem edomita. 
Inicialmente, a ocupação da Judéia pelos romanos se baseava numa política de 
“coexistência pacífica” e os romanos criaram decretos específicos permitindo aos judeus 
seguirem os ensinamentos de seus antepassados. O governo de Herodes foi caracterizado 
pela realização de grandes obras que agradavam aos olhos das elites e dos estrangeiros, 
 
 
2 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
porém, custavam muito para a população que arcava com pesados aumentos de impostos 
e tributos. A insatisfação da população resultou em movimentos sociais após a morte de 
Herodes, insatisfação essa que se personificava nos impostos e tributos que eram exigidos 
do povo. A título de exemplo, podemos mencionar que os romanos ficavam com 12,5% da 
produção agrícola enquanto o Templo, somando diferentes tributos, arrecadava outros 
22%. Como um quinto (20%) do que se colhia era reservado como semente, sobrava menos 
da metade da colheita (100% - 54,5%) para o agricultor. 
 
1.2. O Contexto Geográfico 
A Palestina era uma região de passagem em vista de sua posição geográfica 
estratégica e por ela circulavam soldados, mensageiros, comerciantes e diplomatas 
(FERREIRA; CELESTE, 2006). Nessa região eram encontrados centros urbanos 
importantes como Cesaréia e Jerusalém, que concentravam pessoas e atividades 
econômicas. Assim como em outras regiões do império romano, existiam vias e portos que 
facilitavam as comunicações e transporte de pessoas e mercadorias. 
 
Em seus vales e planaltos elevados, havia uma produção agrícola diversificada, em 
áreas de cultivo de grãos, como o trigo e cevada, e das encostas das montanhas, para o 
pastoreio. O terreno montanhoso de vegetação rasteira dava pastagens para as ovelhas e 
gado. O cultivo nas encostas das montanhas se dava com vinhedos, figos, romãs, 
castanhas, tâmaras e azeitonas. Já a pesca era desenvolvida ao longo da costa do 
Mediterrâneo e em torno do Mar da Galileia. 
 
A metalurgia já se iniciava com o cobre e o ferro, enquanto as olarias, com tijolos de 
barro e cerâmica rudimentares. Também se notava nessa época a extração de sal, no Mar 
Morto, e a produção de corantes de púrpura (PAGLIONE, 2008). 
 
Estradas rudimentares, desprovidas de pavimentação, cortavam todo o território e 
facilitavam o comércio. As mercadorias eram transportadas em lombo de mulas, e as 
pessoas viajavam a pé, em carroças ou liteiras. Uma das estradas partia de Jerusalém, na 
direção sudoeste, para Belém e Gaza, enquanto que outra ia para o oeste, no sentido de 
Emaús, e ainda outra, na direção nordeste, para Betânia, Jericó e Damasco. Outra, cortava 
a Transjordânia, através de Decápolis, chegando em Cafarnaum. Também outra importante 
estrada subia até o porto de Tiro, costeando o Mar Mediterrâneo de Gaza. Já a Via Maris 
 
 
3 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
saía de Damasco, passava por Cafarnaum e Nazaré, indo em direção à zona costeira 
(PAGLIONE, 2008). 
1.3. Contexto Econômico 
Segundo Leonardo Boff (1972) a economia da Palestina se mantinha, basicamente, 
pela agricultura e pela atividade pesqueira, esta com grande variedade de peixes em vista 
dos diversos rios e lagos em seu território. A pesca servia tanto para abastecimento interno 
como para a exportação. 
 
Nas pequenas cidades havia o comércio local formado por feiras e nele se faziam as 
trocas de mercadorias, na prática de escambo, visto que a economia monetária era muito 
reduzida. Haviam, contudo, os mercados das grandes cidades como o de Jerusalém e o 
mercado do templo, mantidos sob controle de grandes comerciantes atacadistas que faziam 
as importações. O comércio externo era praticado sobretudo com a importação de produtos 
de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportava-se frutas, óleo, 
vinho, peixes e manufaturas, como perfumes, além do betume. 
 
A produção baseava-se no trabalho escravo. Os escravos não eram considerados 
pessoas, mas coisas das quais os seus proprietários podiam dispor da forma como lhe 
conviesse, comprando-os ou vendendo-os (LHOSE, 2000). Para se ter uma ideia da 
quantidade de escravos na população, dois terços da população de Corinto era formada 
por escravos, correspondendo a cerca de 400 mil pessoas. A falta de pagamento de uma 
dívida podia tornar alguém escravo. Também a corte romana obrigava a população a pagar 
impostos, sendo esse o principal meio pelo qual o povo era explorado pelos colonizadores 
romanos. 
 
Para a maioria da população, as dividas se convertiam em uma situação aflitiva, pois, 
para sustentar seus projetos arquitetônicos, a vida luxuosa da corte e os presentes à família 
imperial, Herodes impôs aos súditos uma pesada carga de impostos que só eram 
cumpridos com uma enorme dificuldade. Apesar da presença ameaçadora de suas 
fortalezas e do aparato da cruel polícia secreta, a oposição popular ao governo de Herodes 
fervilhava (HORSLEY; SILBERMAN, 2000). 
 
O império romano, à época, muito extenso e preocupado com seus próprios 
problemas, não estava em condições de instalar o aparelho administrativo para um governo 
 
 
4 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
direto na Palestina. Contudo, ao assumir o controle direto da Judeia, mais de dois mil 
rebeldes foram crucificados, o Templo foi saqueado e destruído, além de terem sido criados 
pesados impostos (MEIER, 1992). 
 
O aparelho de Estado em Jerusalém exercia forte controle sobre a economia de todo 
o país, sendo que a ordem fiscal, a pública, o direito e a justiça constituíram os setores 
básicos em que o poder era exercido. Os judeus não suportavam bem as pesadas 
imposições de Roma. Os romanos garantiam a segurança do transporte do imposto judaico 
do templo,assim como asseguravam internamente a ordem pública (AZEVEDO, 2001). 
 
Ainda sobre a economia, Pontes (2018) afirma que do ponto de vista econômico, a 
formação social da Palestina caracterizava-se como o resultado da ação sobreposta de 
dois modos de produção. O setor das aldeias, formando as unidades de base, articuladas 
com o Estado-Templo, que se apropriava de seu excedente, constituía o modo de produção 
tributário. Ademais, o setor mercante, desenvolvido nas cidades e tendo como retaguarda 
o apoio da grande propriedade e do setor artesanal, aproximava-se mais das formas 
mercantis comuns, no modo de produção escravagista romano, com a diferença de que a 
escravidão parecia ser mais restrita. Entretanto, com o Tesouro, o Templo era o polo 
econômico dessa circulação, especialmente na Judeia. O poder econômico central era 
fortemente marcado pelo elemento religioso – o Templo – o que emprestava, de imediato, 
uma conotação particular ao sistema, acrescentando-se a isso o fato de que a sociedade 
palestina era dominada por um império estrangeiro estruturado no modo de produção 
escravagista. 
 
1.4. As Relações Sociais 
A formação social da Palestina no primeiro século apresentava um sistema 
relativamente complexo. Constituía-se em um sistema de classes sociais, atrelado ao 
contexto econômico no qual viviam. Juntamente com o Estado-classe e sua estratificação 
interna, persistiam as formas de relações tribais. Também outros elementos estavam 
presentes para a determinação de grupos sociais de múltiplas facetas: a origem étnica e os 
tabus religiosos. 
 
Ainda em consonância com o sistema econômico, a articulação das classes possuía 
uma estrutura duplamente triangular. Em um dos polos, encontrava-se a burguesia 
 
 
5 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
fundiária, composta pelos grandes proprietários de terras e rebanhos. Constituía-se em um 
polo dinâmico para a criação de uma burguesia comercial, visto que sua produção 
orientava-se principalmente para o mercado interno. Justamente essa burguesia comercial 
constituía-se no segundo polo, formado pelos grandes comerciantes, que comandavam 
atividades mercantis nacionais e internacionais. O terceiro polo se constituía na oligarquia 
estatal e religiosa composta, por um lado, por Herodes e sua família e, por outro lado, pelos 
sacerdotes que formavam o alto-clero, administradores do Templo e de se tesouro 
(PONTES, 2018). 
 
Embora esses três polos tivessem limites bem definidos estruturalmente, este eram, 
na realidade, limites móveis, pois, o setor das classes dominantes era formado por um 
restrito número de famílias e frequentemente os três polos se combinavam. 
 
Em torno de cada um desses polos descritos, gravitavam os setores explorados: o 
proletariado agrícola e os escravos, o proletariado comercial e o proletariado da corte e do 
Templo (PONTES, 2018). 
 
Separados destes polos descritos e em contraposição aos interesses dos setores 
dominantes, situavam-se os setores intermediários ,como a pequena burguesia camponesa 
envolvida com cultivo da terra e criação de pequenos rebanhos, muito dependente da 
grande burguesia rural, não apenas para a exploração da terra mas também para a 
comercialização dos seus produtos; a pequena burguesia artesanal e comercial e a 
pequena burguesia estatal e religiosa, formada por funcionários da burocracia real e do 
Templo, especialmente o baixo clero (PONTES, 2018). 
 
Uma outra fração das classes sociais, com relativa importância estrutural e 
significativa para a análise do surgimento do cristianismo: o grupo formado por pessoas 
marginalizadas do processo de produção, os desempregados, os mendigos etc.. Tanto a 
burguesia agrária como a comercial estavam bem integradas ao sistema internacional 
coordenado por Roma, porém, o mesmo não acontecia com a pequena burguesia, que se 
encontrava empobrecida pelo sistema tributário e deslocada do mercado interno pelo 
avanço das importações que, no primeiro século, abrangiam mais da metade dos produtos 
que abasteciam o mercado judeu (PONTES, 2018). 
 
 
 
6 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Pontes (2018) menciona que é importante destacar o isolamento de uma parcela 
bastante significativa da população que vivia às margens do processo de produção, que 
vivia basicamente de esmola, em extrema miséria, incapaz de emigrar para o império ou se 
incorporar ao sistema de produção por falta do próprio sistema. 
 
Ainda com relação ao sistema de classes, observava-se uma estratificação 
sobreposta ao sistema de classes: o critério de origem. Segundo a origem, os diversos 
graus da escala social assim se dispunham: 1) membros de famílias de origem legítima; 2) 
membros de famílias de origem ilegítima, atingidos por leve mácula; 3) membros de famílias 
cuja origem era marcada por grave mácula. O primeiro grupo, juntamente com o clero, 
constituíam o Israel puro e os membros dessas famílias tinham o direito de se casarem com 
sacerdotes, vinculando-se dessa forma à genealogia davídica, única capaz de garantir a 
pureza do sangue. O segundo grupo continha uma série de subconjuntos, hierarquizados 
por ordem de pureza-impureza: descendentes ilegítimos de sacerdotes, trabalhadores de 
ofícios desprezíveis, escravos judeus, prosélitos, pagãos convertidos ao judaísmo, 
escravos pagãos libertos e escravos convertidos, mas, ainda, escravos. Os membros deste 
segundo grau da escala tinham o direito de se casarem com levitas e judeus de origem 
legítima, o que se mostrava um mecanismo de ascensão social. O terceiro grupo era 
composto por judeus portadores de grave mácula: os bastardos, os escravos do Templo, 
os filhos de pai desconhecido, os eunucos, os escravos pagãos e os samaritanos. Este 
terceiro grupo era totalmente desprezado e não tinha direitos (PONTES, 2018). 
 
Destaca-se que haviam tabus de origem religiosa como aqueles que haviam 
transgredido a lei e eram considerados como pecadores, ainda que essa qualificação fosse 
transitória e refletisse mais uma punição religiosa ou legalista. Juntamente com estes, 
haviam aqueles considerados impuros, visto que atingidos por certas doenças como os 
leprosos e os doentes mentais, considerados como possuídos pelo demônio. 
 
 
 
As relações sociais que envolviam os cristãos primitivos são importantes para 
o entendimento de todos os movimentos dos cristãos no transcorrer do 
espaço histórico. 
 
 
 
7 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino 
 
 
 
 
 
 
 
8 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. JUDAÍSMO E OS MOVIMENTOS RELIGIOSOS NO PRIMEIRO 
SÉCULO 
 
Objetivo 
Apresentar os movimentos religiosos e sociais, o que se explica pela forte ligação 
entre religião e o aspecto social do povo judeu. Tais movimentos demonstram uma escala 
de fidelidade à Lei e caracterizam seus integrantes. 
 
Introdução 
Sabe-se, pela leitura do Novo Testamento, que a nação judaica não era homogênea 
e se apresentava dividida em vários grupos e partidos com ideologias, doutrinas e tradições 
distintas, motivados ora por posições política, ora por motivações religiosas. Nesses grupos 
encontramos como principais: os saduceus, os fariseus, os essênios, os zelotes e os 
herodianos. Contudo, outros grupos também eram considerados, tais como: os publicanos, 
os batistas e os samaritanos. 
 
Esse contexto de pluralidade político-religiosa, com a existência de diversas 
teologias e concepções acerca de espiritualidade, se apresenta no judaísmo do século 
1d.C. juntamente os movimentos messiânicos e o cristianismo emergente. 
 
2.1. Os Saduceus 
Os saduceus formavam um partido de domínio religioso, econômico e político, ligado 
ao Templo e às tradições, noinício do século 1 d.C.. O maioria dos sacerdotes pertencia a 
esse partido e eram favoráveis à presença romana, eram materialistas e não acreditavam 
nem na ressurreição, nem nos anjos. Os saduceus representavam a elite dominante do 
judaísmo nos tempos do Novo Testamento. O nome desse grupo teve origem 
provavelmente de Zadoc (ou Sadoc), que estabeleceu uma dinastia sacerdotal que 
continuou até cerca de 171 a.C.. Eles formavam o escalão superior dos sacerdotes e parte 
do Sinédrio, exercendo, por isso, grande influência política. Os saduceus aceitavam 
somente a Lei escrita – Torá, ao contrário dos fariseus, que reconheciam a importância da 
tradição oral. Para eles, a Lei escrita por Moisés era superior aos escritos dos profetas e as 
demais obras. Por influência do helenismo e da cultura pagã, era uma religião materialista 
e secularizada, que negava a existência do mundo espiritual (At 23,8) e não acreditava na 
 
 
9 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
ressurreição dos mortos (Mc 12,18) nem na vida futura. A vida para eles, portanto, se 
resumia ao aqui e agora, sobre a qual Deus não tinha nenhuma interferência. 
 
Com o passar do tempo e por conta das relações com dominadores provenientes de 
outras nações, os saduceus diminuíram seu zelo e devoção religiosa, tendendo ao ideal 
helenístico, preconizado por Roma. Outra característica dos saduceus está relacionada 
com o livre arbítrio, sendo que acreditavam que a escolha de fazer o bem ou praticar o mal 
dependia exclusivamente do livre arbítrio do ser humano, cuja alma seria recompensada 
com a existência ou com a eliminação completa, dependendo de qual tivesse sido a 
escolha. 
 
Flavio Josefo relata em seus escritos que os sacerdotes chegaram ao ponto de 
autorizar um sacrifício diário ao imperador romano César no templo dos judeus, o que se 
configurou numa fonte de angústia contínua para o povo judeu da época. O cessar do 
sacrifício diário a César foi considerado um ato de guerra e motivou a destruição de 
Jerusalém. 
 
Os saduceus viviam em um luxo bem além do que um cidadão comum poderia 
alcançar. Eles tinham um estilo de vida esbanjador graças ao imposto que cobravam no 
Templo, imposto esse que todo judeu era obrigado a pagar. Segundo Richard Horsley 
(1997), os arqueólogos descobriram as condições de vida dos sacerdotes: 
“impressionantes achados arqueológicos de suas residências em Jerusalém mostram o 
quão elegante o estilo de vida deles se tornou, em estruturas espaçosas, sem dúvida 
mansões, que os arqueólogos descobriram em 1970, nós podemos ter pistas do estilo de 
vida esbanjador, com o piso feito de mosaicos floridos, nas recepções e salas de jantar com 
decorações elaboradas, esculpidas nas paredes e com uma riqueza louça fina, copos, 
tampos de mesas de pedra esculpidas, e outros móveis interiores e estilos elegantes”. 
 
Os sacerdotes esbanjavam enquanto um judeu comum lutava para sobreviver. Os 
impostos do Templo juntamente com os impostos cobrados por Herodes e os romanos 
estavam literalmente ameaçando a existência do povo judeu. 
 
O povo de Israel estava carregando um fardo tão pesado que eles mal podiam 
suportar, fazendo com que o ambiente se tornasse como um barril de pólvora pronto a 
explodir. 
 
 
10 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2.2. Os Fariseus e os Escribas 
Os fariseus ganharam importância no período do Segundo Templo. Os Babilônios 
destruíram o primeiro Templo, que foi construído pelo Rei Salomão em 587 a.C. O período 
conhecido como segundo Templo se sucedeu após os judeus retornarem do exílio 
babilônico. Nesse período, tanto os gregos como os romanos, denominados de gentios, 
tentavam constantemente alterar tanto os costumes como a religião dos judeus, religião 
essa que adorava ao eterno Deus de Abraão, Isaac e Jacó. 
 
Assim, esse grupo surgiu com a finalidade de preservar os judeus desta ameaça 
iminente que era a contaminação profunda do povo de Deus pela idolatria. 
 
Os fariseus formavam um partido leigo caracterizado por ter se originado na 
resistência contra o esvaziamento dos ideais religiosos tradicionais do judaísmo por parte 
da realeza sacerdotal secularizada, os saduceus. Eram admirados pelo povo mesmo que 
o desprezassem. Acreditavam na Ressurreição, nos anjos e aguardavam o Messias. Em 
maior número que os saduceus, os fariseus, também denominados “separados”, 
representavam o núcleo mais rígido do judaísmo, formado basicamente por pessoas da 
classe média e com grande influência entre o povo, conforme se depreende da Bíblia (Jo 
12,42-43). 
 
Por se mostrarem muito cuidadosos quanto ao cumprimento da Lei de Moisés, a 
maioria dos escribas estava ligada a esse grupo. Davam mais atenção à tradição oral do 
que a literalidade da lei. Além de dar grande valor às tradições religiosas, como o lavar as 
mãos antes das refeições e ao recolhimento do dízimo, os fariseus jejuavam regularmente 
e observavam seriamente o sábado. Entretanto, eram avarentos e, em suas orações, 
gostavam de se vangloriar de seus atributos morais. Eram legalistas e muitos consideravam 
que eles gostavam de se assentar nos primeiros lugares para serem vistos, os 
consideravam hipócritas por sua religiosidade estar baseada no exterior, nos rituais e na 
justiça própria, em desprezo à parte mais importante da Lei: o juízo, a misericórdia e a fé. 
Muitos afirmavam que os fariseus invocavam a tradição de Corbã como subterfúgio para 
não cuidar de seus pais na velhice, dizendo que seus bens haviam sido consagrados como 
oferta a Deus e ao Templo e, por isso, não poderiam ser utilizados. 
 
 
 
11 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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Pelo contato com a cultura helenista, desenvolveram aspectos inovadores no 
judaísmo. Formaram importantes escolas como as de Hillel e de Sammai, de onde surgiu 
o movimento do rabinismo, que existe até os dias atuais. 
 
Os fariseus enfatizavam a possibilidade do indivíduo cumprir a vontade divina, contra 
o conceito tradicional da salvação coletiva. Relativamente à doutrina, acreditavam numa 
sinergia entre Deus e os homens, que havia a ressurreição dos justos e punição dos maus, 
honravam os antigos e buscavam ter comunhão entre si. (CARNEIRO, 2021) 
 
Os fariseus apresentavam muitas controvérsias em seu comportamento frente ao 
cumprimento da Lei de Moisés, pois se consideravam os guardiões das tradições orais que 
os Anciões desenvolveram por muitas gerações. A tradição oral preenchia eventuais 
lacunas que a Lei deixara vazias. O problema era a falta de entendimento dos fariseus em 
compreender que a interpretação da Lei deveria estar balanceada pela caridade, pela 
misericórdia, como a própria Lei previa que deveria ser interpretada. Tinham um suposto 
grande zelo pela Lei de Deus mas uma parte deles, com falso zelo, se distanciava de Deus. 
Examinavam a Lei em seus mínimos detalhes e, contudo, não conseguiam a mensagem 
que a Lei dizia, que era o amor ao próximo como a si mesmo, do qual dependia toda a Lei 
e as mensagens dos profetas. 
 
Os fariseus antagonizavam com os saduceus, visto que os primeiros transmitiam o 
legado de muitas observâncias por meio dos pais que não estão escritas na Lei de Moisés 
e os segundos alegam que devem observar apenas o que está escrito formalmente na 
Palavra, não considerando a interpretação derivada da tradição dos antepassados (Silva, 
2023). 
 
Os Escribas formam um grupo ligado ao saber e ao conhecimento, que 
frequentemente aparecem nos Evangelhos ao lados dos fariseus e, de tal forma unidos a 
eles, que é quase impossível distinguí-los. Constituíam a categoria social mais importante 
no seio da nova classe hegemônica. Grupo culto da pequena burguesia, ganharam poder 
no Sinédrio e na Sinagoga. No Sinédrio, corte de justiça, eram determinantes o 
conhecimentoe a exegese dos textos tradicionais; já na Sinagoga, eles se apresentavam 
como criadores de tradição pela releitura dos textos antigos, escondendo do povo, por meio 
de esoterismo, as formas de sua produção ideológica (PONTES, 2018). 
 
 
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A posse da ciência legitimava o ensinamento que preconizavam e os tornavam 
herdeiros imediatos e sucessores dos profetas (PONTES,2018) 
 
2.3. Os Essênios 
Esse grupo saído do partido dos fariseu, sua origem remonta à “comunidade da 
Aliança”. Em muitos pontos semelhantes aos fariseus, eles constituíam um grupo fariseu 
radicalizado no domínio ideológico-religioso (PONTES,2018). 
 
Parece haver uma certa confusão entre os essênios e a comunidade de Qumran pois 
certamente viviam essênios em Qumran mas estes também viviam em assentamentos em 
todo Israel. Os habitantes de Qumran não foram mencionados no Novo Testamento, no 
entanto, muitos acreditam que há referências indiretas a seus pontos de vista religiosos nos 
Evangelhos. 
 
A descoberta de manuscritos na região de Khirbet Qumran entre os anos de 1947 e 
1956, conhecidos por Manuscritos do Mar Morto, é considerada a maior dos tempos 
modernos no que se refere a manuscritos antigos (FITZMYER, 1997). Lançou luz sobre a 
pesquisa bíblica e arqueológica e favoreceu o estudo da historiografia judaica dos dois 
últimos séculos a.C. e do primeiro século d.C., e também da historiografia cristã, muito 
especificamente do cristianismo primitivo com suas elaborações teológicas e literárias que 
formaram o Novo Testamento (POUILLY, 1992). Assim, a comunidade de essênios mais 
significativa parece ser a de Qumran e suas características passaram a representar todos 
os grupos de essênios. 
 
A comunidade de Qumran que produziu os Manuscritos era eminentemente judaica 
e, segundo a maioria dos especialistas, pertencia ao movimento dos essênios, conforme se 
depreende dos trabalhos de Flávio Josefo (JOSEFO, 20013), Fílon de Alexandria e do 
pensador romano Plínio, o Velho, tendo essa comunidade surgido no final do terceiro 
século a.C., no contexto da tradição apocalíptica (MARTINEZ, 1996) e teria rompido com o 
judaísmo ortodoxo que tinha como principais comandantes os sacerdotes de Jerusalém, 
retirando-se para as margens noroestes do Mar Morto para viver fiéis ao Senhor, como 
resposta ao mundo transtornado que se apresentava naqueles tempos, rejeitando Herodes, 
o Templo e os fariseus. Acreditavam que somente eles eram o verdadeiro Israel. 
 
 
13 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Alguns dos manuscritos encontrados fazem menção a uma figura denominada 
“Mestre da Justiça”, destacando-se o Documento de Damasco que, além de mencioná-lo, 
apresenta também a figura do Messias de Aarão e Israel (CD-A, COL. XIV), o que revela 
que a comunidade de Qumran tinha uma perspectiva messiânica. 
 
O Mestre da Justiça é identificado nos manuscritos como um sacerdote, 
presumivelmente de linhagem sadoquita (FITZMEYR, 1997), o que se mostra como uma 
importante informação quando se busca compreender o que teria levado este grupo de 
essênios a partirem para o deserto. Segundo os especialistas, a motivação do retiro essênio 
se deu em vista da ascensão de um sumo sacerdote considerado ilegítimo e infiel 
(POUILLY, 1992) juntamente com seus seguidores, o que teria manchado o Templo de 
Jerusalém e seus sacrifícios cultuais, e a alteração do calendário festivo (MARTINEZ, 
1996). 
 
Os essênios de Qumran tinham uma expectativa messiânica visto que, no Antigo 
Testamento o termo hebraico mashiah designa figuras do presente, geralmente reis, 
sacerdotes e profetas, e nos manuscritos é apresentada frequentemente numa perspectiva 
futura e escatológica. Essa esperança essênia estava relacionada com três figuras: um 
profeta e dois messias – o de Aarão e o de Israel. 
 
Segundo Bergsma (2008), os essênios se entendiam como a futura Doze Tribos de 
Israel reunificadas e, por isso, encontram-se nos manuscritos diversas anotações de “Filhos 
de Israel” evidenciando a perspectiva de uma Israel futura. 
 
Em vista de serem bem rigorosos em relação à Torá e manterem uma perspectiva 
escatológica da vida, falarem do fim dos dias, das guerras, da destruição final e da 
julgamento, muitos permaneceram solteiros em vez de casar e formar família. 
 
Os essênios não eram pacifistas, mas não pareciam violentos e não apoiavam os 
esforços revolucionários dos zelotes. Como grupo, eles protestavam contra os saduceus e 
sua gestão corrupta do Templo, protestando igualmente contra os fariseus por causa das 
suas tradições e interpretações inovadoras ao interpretar a Torá. 
 
Os romanos destruíram a comunidade essênia antes de partirem para Jerusalém 
(SILVA, 2023).. 
 
 
14 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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2.4. Os Zelotes 
Os zelotes formavam um partido judaico nacionalista na orientação e interpretação 
da Torá e se opunha à dominação romana por julgá-la incompatível com a soberania do 
Deus de Israel. Em períodos mais turbulentos usavam da violência, praticando sequestros 
e assassinatos de opositores políticos. Uma ala dos zelotes eram denominados sicários, 
sendo assim chamados porque carregavam um punhal escondido. 
 
Se constituíam em um movimento subversivo caracterizado por violentos atentados. 
Alguns autores sugerem que haviam zelotes entre os discípulos de Jesus em vista da 
descrição bíblica no Evangelho de Lucas (Lc 6,15), quando ad escolha de Simão, o zelote, 
mostrando com isso uma aprovação em relação às suas táticas. Contudo, uma vez que 
todo ministério de Jesus era baseado em meios pacíficos, Simão provavelmente 
experimentou uma mudança de coração em relação a toda atividade dos Zelotes. 
 
O comportamento de outros discípulos pode demonstrar que haviam mais zelotes 
entre os discípulos de Jesus, como, por exemplo, Judas Iscariotes em vista de suas ações, 
além de Tiago e João da Galileia, chamados de “filhos do trovão” que sugeriram mandar 
descer o fogo dos céus sobre um povoado da Samaria onde Jesus não foi acolhido (SILVA, 
2023); (DEHONIANA, 2023) 
 
A luta dos zelotas não se dirigia unicamente a Roma, mas também contra o governo 
de Herodes, cuja origem era hedomita. Sua estratégia de luta armada criou contradições 
entre os zelotas e a pequena burguesia intelectualizada, o que fez com que o grupo 
precisasse lutar contra as armas de Roma e de Herodes e também contra a hegemonia dos 
fariseus e sua fração escriba (PONTES, 2018). 
 
Animados pela ideologia político-religiosa, os zelotas chegaram ao poder em 68 d.C. 
depois de matarem o Sumo Sacerdote em exercício, instalando um novo Sumo Sacerdote, 
escolhido em uma das famílias tradicionais. Dois anos depois, quando os romanos reagiram 
contra o seu poder, eles defenderam o Templo como sede de todo simbolismo religioso, 
até o último homem, tendo sido isso que causou a queda de Jerusalém (PONTES, 2018). 
2.5. Os Herodianos 
Os herodianos eram os defensores da dominação romana na Palestina. Estavam a 
serviço de Herodes e eram os mais fervorosos perseguidores dos movimentos subversivos. 
 
 
15 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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Os evangelhos também os mencionam nos Evangelhos de Marcos e de Mateus (Mc 3,6; 
12,13; Mt 22,16). Tinham características de agremiação partidária, apoiando a dinastia dos 
Herodes, que deviam seu poder às forças romanas de ocupação. Os herodianos se 
opunham a Jesus por receio que Ele pudesse promover perturbações públicas por meio de 
seus ensinamentos morais. Eram movidos mais por interesses políticos do que religiosos, 
tanto que não tinham uma ortodoxia clara. Ainda hoje, alguns grupos religiosos são mais 
movidos por interesses políticos do que pelas convicções de fé (dehoniana.edu.br).Politicamente, os herodianos procuravam o apoio dos fariseus já que estes 
dominavam o povo. Essa combinação entre os romanófilos e helenizantes da corte e os 
puros de Israel pode parecer estranha, porém, não se pode esquecer que, diante de 
situações de conflitos agudos, realizam-se as mais estranhas alianças. Face a Jesus, 
também se produziram as mais estranhas alianças no início do século 1 d.C. (PONTES, 
2018). 
 
Logicamente, os herodianos eram desprezados por todos os judeus, visto que se 
personificavam na mais completa concretização do vínculo de dependência de Israel em 
relação a Roma (PONTES, 2018). 
 
2.6. Os Publicanos 
Os publicanos ou cobradores de imposto eram os coletores de tributos e taxas 
destinados ao Império Romano. Por essa razão, eram odiados pelo povo. Costumava-se 
dizer: “Só os publicanos são ladrões”. Era a pior profissão que se podia ter no início do 
século 1 d.C., pois eram comparados à pior espécie de pecadores. Eram tratados com o 
maior desprezo, visto que cobravam de seus irmãos o imposto destinado a Roma. Várias 
passagens dos evangelhos equiparam os publicanos aos pecadores: - Jesus comia com os 
publicanos e pecadores, por isso os discípulos foram questionados pelos fariseus (Mt 9,13); 
- Jesus foi acusado de ser um glutão e bebedor de vinho, além de amigo de publicanos e 
pecadores (Mt 11,19); - Jesus deixava os escribas e fariseus irritados ao vê-Lo na 
companhia dos pecadores e publicanos (Mc 2,16); - Os escribas e fariseus inconformados, 
murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando por que eles comiam e bebiam 
na companhia dos publicanos e pecadores (Lc 5,30; 15,1-2); - Entre os doze discípulos, 
havia um ex-publicano (Mt 9,9) (dehoniana.edu.br). 
 
 
 
16 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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A nação judaica não era homogênea e se apresentava dividida em vários 
grupos e partidos com ideologias, doutrinas e tradições distintas, motivados 
ora por posições política, ora por motivações religiosas. 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino 
 
 
 
 
 
 
 
17 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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3. A DESTRUIÇÂO DE JERUSALÉM EM 70 d.C. E A DISPERSÃO DOS 
JUDEUS 
 
Objetivo 
Demonstrar a resistência do povo judeu instalado na Palestina às ordens do 
imperador romano e de fidelidade ao mandado de seu Deus através dos patriarcas. 
 
Introdução 
A diáspora judaica, ocasionada pelos romanos e acelerada no ano 70 d.C. acarretou 
a dispersão dos judeus por várias partes do mundo e, como consequência, uma grande 
diversidade entre eles. 
 
A convivência com as diversas populações acabou em uma simbiose cultural, na 
qual a cultura judaica era praticada considerando as características e particularidades dos 
locais onde eles se encontravam. Essa convivência se apresentou marcante na língua, na 
culinária, nos traços físicos, nas músicas e na dança. 
 
3.1. A Conquista pelo Império Romano 
A Palestina era governada pela monarquia asmoneia, que atingiu seu período de 
maior esplendor e também ao ápice de conflitos com os grupos farisaicos no governo de 
Alexandre Janeu, que chegou a protagonizar fatos de imensa crueldade quando, para 
reprimir a oposição dos fariseus, mandou crucificar centenas deles ao redor dos muros de 
Jerusalém, massacrando em seguida mulheres e filhos diante de seus olhos. Tal fato 
causou grande consternação entre o povo. 
 
Com a morte de Alexandre Janeu, sua viúva lhe sucedeu, Alexandra Salomé, que 
governou de 76 a 67 a.C., tendo se reconciliado com os fariseus e, no decorrer de seu 
reinado, conseguiu manter a paz no país que, então, tinha as fronteiras tão amplas quanto 
foram as antigas atribuídas aos reinos de Davi e Salomão, em consequência de suas 
campanhas expansionistas de João Hicarno I, antecessor de Alexandre Janeu. O reinado 
de Alexandra Salomé é recordado na tradição judaica como uma verdadeira era de ouro, 
sem deixar dúvidas que se constituía num período de paz e prosperidade econômica, mas 
não se pode esquecer que o julgamento positivo emitido sobre o reinado da rainha é 
influenciado diretamente pelo bom relacionamento que ela manteve com os fariseus. 
 
 
18 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Com a morte da rainha Alexandra, uma luta pelo poder se estabeleceu entre seus 
dois filhos: Hicarno II, que ocupava a posição de sumo sacerdote pela posse conferida por 
sua mãe, e Aristóbolo II, o herdeiro do trono. Como o conflito se tornara insustentável, 
Hicarno recorreu à ajuda de Roma, dirigindo-se ao general Pompeu, que já havia 
conquistado Damasco e destruído o reino selêucida. A luta entre os dois irmãos demostrava 
que havia uma divisão interna no reino asmoneu, que encontrava-se constituído por 
territórios muito distintos entre si: estende-se da Galileia, que era habitado tanto por judeus 
como por pagãos, à Samaria, separada da Judeia tanto cultural como religiosamente, até 
a costa helenizada e a Judeia, dividida internamente entre movimentos religiosos e partidos 
políticos. Os romanos não perderam a oportunidade favorável e Pompeu, investido como 
árbitro e pacificador, entrou na Judeia com suas legiões para conquistar Jerusalém, que 
teve suas portas abertas pelos partidários de Hicarno, enquanto os de Aristóbulo se 
refugiaram no Templo e foram massacrados após três meses de cerco. 
 
A ocupação da Palestina pelo império romano teve início, então, em 63 a.C., sendo 
o território anexado em definitivo como parte do Império Romano no início do século I d.C. 
e transformado em província da Judeia. As atividades religiosas do Templo de Jerusalém 
permaneceram inalteradas. 
 
Porém, no ano 65 d.C., o governador romano na província da Judeia, Géssio Floro, 
aumentou a opressão e passou a controlar a cobrança de tributos e as arrecadações de 
ouro do Templo. Uma grande revolta ocorreu quando os soldados romanos invadiram o 
local e saquearam seus artefatos, acrescido a isso o assassinato de cidadãos 
proeminentes. Milhares de israelitas se reuniram e entraram em confronto com os exércitos 
romanos e retomaram a cidade, declarando Israel novamente independente. Nero, à época 
imperador de Roma, enviou reforços, mas suas tropas foram derrotadas. 
 
No ano seguinte, o General Vespasiano e seu filho Tito, foram enviados para retomar 
a província, porém, com a resistência israelita, a conquista romana foi adiada. 
 
O império romano passava por uma grave crise política nas mãos de Nero e do 
Senado. O imperador Nero sucumbiu a uma conspiração e cometeu suicídio, obrigando o 
general Vespasiano a retornar a Roma e Tito ficou com a incumbência de reconquistar 
Israel e acabar com a revolta, ficando com o comando de quatro legiões: a quinta legião, a 
Macedônia; a décima legião, a Cretense; a décima quinta legião, a de Apollo e a décima 
 
 
19 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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segunda legião, a Fulminata as quais, somadas, reuniam mais de sessenta mil soldados. A 
cidade foi sitiada e com grande força atacaram até vencer a oposição dos judeus. 
 
Muitos rumaram para afortaleza de Massada e outros continuaram com a resistência 
em outras partes do território, combatendo em sistema de guerrilhas; porém, depois de 
pouco mais de três anos foram derrotados em definitivo e as forças de Tito conquistaram 
Jerusalém, com o Templo de Zorobabel totalmente destruído pelas forças romanas. 
 
Uma estimativa sobre a conquista de Israel dá conta que mais de um milhão de 
israelitas morreu e outros milhares foram escravizados e enviados para outras províncias 
do império romano, o que deu início à diáspora. 
 
3.2. A Segunda Guerra Judaico-Romana 
No século seguinte, entre os anos de 115 e 117 d.C. os hebreus se uniram com 
outros povos que resistiam a Roma na conhecidaRevolta do Exílio ou Segunda Guerra 
Judaico-Romana, ou Guerra de Kitos. O império dos partos formou alianças com as 
comunidades judaicas que viviam fora da Judeia para vencer a expansão romana e, em 
troca, assumiu o compromisso de devolver a Judeia aos judeus e reconstruir o Templo de 
Jerusalém. 
 
Os combates se estenderam nas comunidades de Cirenaica, Síria e Judeia. Os 
romanos temendo a continuidade da aliança entre os judeus e os partos, passaram a utilizar 
de diplomacia. O novo imperador romano, Adriano, prometeu reconstruir o Templo e tolerar 
o retorno para Israel em troca da paz com os israelitas, que aceitaram e depuseram suas 
armas. 
 
Os romanos consideravam a província da Judeia como uma das mais problemáticas, 
visto que um conjunto de aspectos dificultava a desagregação dos judeus, o que criava um 
obstáculo nunca enfrentado por Roma em nenhuma outra província do império: a cultura 
fechada e uma religiosidade que se diferenciava de todas as outras do mundo conhecido, 
pois estava diretamente relacionada à questões étnicas, com um código de leis gravado em 
livros e uma única divindade, além do apego ao território de Canaã. 
 
 
 
20 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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Com o passar do tempo, os romanos sufocaram os inimigos partos e passaram a 
ignorar as promessas feitas aos hebreus. 
 
Para desarticular os hebreus, Adriano resolveu construir um templo dedicado a 
Júpiter, para perseguir os que ainda viviam na região, proibindo suas práticas culturais. 
 
Concomitantemente a todos esses eventos, desenrola-se a história das primeiras 
comunidades cristãs, quando a primeira revolta já sinalizava o início de uma separação 
mesmo geográfica, ainda que continuassem a existir as comunidades judeu-cristãs. A partir 
do ano 46 d.C., as viagens de Paulo começaram a levar o cristianismo para fora dos limites 
de Israel e 48 d.C., quando costuma-se apresentar a realização do “Concílio de Jerusalém”, 
a igreja se abrirá definitivamente à sua missão no mundo pagão (MAZZINGHI, 2017). 
 
Nos anos da segunda revolta judaica, o cristianismo estava em franca expansão. 
 
3.3. A Terceira Guerra Judaico-Romana 
No ano de 132 d.C, milhares de judeus se juntaram novamente para iniciar outra 
resistência à ocupação romana de seus territórios. Os combates ficaram conhecidos como 
a Terceira Guerra Judaico-Romana, ou revolta de Bar Kokhba, e duraram cerca de quatro 
anos, onde os romanos foram vitoriosos após a morte de mais de 580 mil judeus 
(HORSLEY; HANSON, 1996). Jerusalém foi retomada por Roma. 
 
Esta revolta, ou a Terceira Guerra Judaico-Romana, teve um líder carismático de 
nome Simão que o Rabino Aqiba, um dos mestres mais prestigiados de Israel, chamou de 
Bar Kokhba, que em aramaico significa “filho da estrela”, relacionando com o que se 
apresenta em Números 24, 17: “uma estrela se levanta em Jacó...” Esse líder, muitos o 
conheceram como o Messias, encontrando-se, inclusive, moedas com a sua efígie e a 
inscrição “ano da libertação de Jerusalém” ou ano I da libertação de Jerusalém” 
(MAZZINGHI, 2017). 
 
Durante o período da revolta, Simão Bar Kokhba foi abandonado pelos rabinos, que 
o haviam apoiado inicialmente, e seu nome foi mudado para Bar Koziba, ou seja, “filho da 
mentira”. O próprio Rabino Aqiba foi capturado, ainda que tenha abandonado Simão, foi 
torturado e assassinado pelos romanos e, conforme rela a lenda, pronunciando até o fim a 
 
 
21 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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última palavra do Shema’ (Dt 6, 4): ‘ehad, que em hebraico significa “um”, tornando-se o 
símbolo do israelita que proclama, apesar de tudo, a sua fé na unicidade de Deus 
(MAZZINGHI, 2017). 
 
Com o objetivo de acabar com a relação cultural dos judeus com seu território, o 
imperador Adriano mudou o nome da capital para Élia Capitolina e o território para 
Palestina, fazendo referência ao povo de origem grega que habitava uma pequena porção 
do litoral e sempre estiveram em guerra com Israel, incentivando uma verdadeira 
perseguição e expulsão dos judeus (SARDE NETO, 2020). 
 
Os exércitos romanos juntamente com seus aliados, organizaram uma perseguição 
de guerra aos grandes grupos hebreus que, organizados, tentavam resistir à expulsão dos 
seus territórios tradicionais. Em vista da grande violência e a perseguição dos exércitos 
romanos, restou aos hebreus a fuga para diversos lugares da Europa, o que ficou conhecido 
como a Grande Diáspora Hebreia. 
 
Forçados às grandes migrações e praticando a religião de seus antepassados, os 
hebreus espalharam-se pelas regiões circunvizinhas, partes da Europa e do Mar 
Mediterrâneosob ocupação romana, tendo alguns migrado para a península arábica, outros 
para as terras do Oriente Médio rumo à Persia, Extremo Oriente e Leste Europeu. 
 
Deve-se destacar que, ainda que não seja muito mencionado pelos historiadores, 
ocorreu a permanência de grupos de hebreus em Israel, considerados mais úteis para a 
manutenção administrativa da política imperial. Muitos foram mantidos em Jerusalém e 
regiões próximas devido à sua importância estratégica para o império de Roma, que 
precisava de nativos para a condução do seu sistema. 
 
Aos que permaneceram, havia a proibição da prática da religião judaica; muitos 
sábios da Torá foram assassinados e uma grande quantidade de rolos do livro sagrado 
foram queimados em público. Por decreto, o imperador Adriano proibiu o retorno das 
comunidades judaicas à Canaã 
 
Para os judeus, a diáspora causou mudanças em seus modos de vida, mas, em 
consequência, difundiu o monoteísmo para o mundo por meio de sua cultura, que se 
apresentou como uma religião caracterizada pela salvação e que apregoava o 
 
 
22 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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arrependimento dos pecados, as orações e as ações justas. Até os dias atuais, isso é 
reproduzido em diversas religiões (SARDE NETO, 2019) 
 
Os judeus, ao longo dos séculos, espalham-se pela Europa, formando dois ramos: o 
sefardita, instalados na Península Ibérica, na Holanda e na Turquia, e asquenazi, instalados 
em sua maioria no Leste Europeu. 
 
3.4. Os Judeus Sefarditas 
O termo sefarditas (ou sefardim ) deriva de Sefarad, nome hebreu da palavra 
Espanha. Os judeus sefardim são de origem espanhola, e, por extensão, todos os que 
habitavam a Península Ibérica. Com o tempo, todos os de pele mais escura que habitavam 
as regiões do Oriente Médio e países mediterrâneos também ficaram conhecido com 
sefardim (SARDE NETO, 2019). 
 
Muitos chegaram à Península Ibérica e formaram importantes comunidades nas 
cidades de Granada, Mérida, Tarragona, Toledo, Córdoba e nas Ilhas Baleares (Ibidem). 
 
Na expansão de seu império, os muçulmanos avançaram sobre as terras ibéricas e 
as ocuparam a partir de 711 d.C., iniciando uma nova etapa para a história do povo judeu. 
A cultura judaica era tolerada e as comunidades se transformaram em importantes 
parceiros comerciais com habilidades intelectuais necessárias para auxiliar na 
administração do império islâmico (SARDE NETO, 2019). Contudo, no século XII, os 
muçulmanos Almorávidas, mais radicais, construíram um império e passaram a perseguir 
os judeus, obrigando-os a buscar refúgio em outros lugares (SARDE NETO, 2020). 
 
Notadamente ao norte da Península Ibérica destacavam-se algumas comunidades 
cristãs, que receberam os judeus que passaram a ajudar tais comunidades com seus 
conhecimentos e tecnologias. 
 
Considerando-se estar no período central da Idade Média, temos a presença de 
sefarditas em comunidades cristãs, do século X ao XII, e, graças ao conhecimento da língua 
árabe e suas noções de ciências, tornaram-se imprescindíveis para a administração e 
organização dessas comunidades cristãs. Essa fase é recordada como muito importante 
para o judaísmo na Europa.Dentre os grupos minoritários, os judeus foram os únicos a 
 
 
23 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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serem admitidos na Europa em territórios cristãos, em decorrência de serem o testemunho 
da própria religião cristã, e, assim, era imprescindível garantir a sobrevivência deles e de 
sua religião, o judaísmo (SARDE NETO, 2019). 
 
A igreja católica a esse tempo era o símbolo do cristianismo e os judeus, logicamente 
não eram católicos e estavam em constante assédio. Muitas calúnias pairavam sobre eles: 
acusavam suas comunidades de envenenar a água, de bruxaria, assassinato de crianças 
e do surgimento da peste negra. Os fanáticos passaram a atacar e destruir por completo 
as judiarias – locais onde os judeus se reuniam para rezar, além de matar os que se 
recusassem a se batizar e a aceitar a fé cristã católica. 
 
Um episódio marcante sobre essas perseguições tem lugar em Sevilha, na Espanha, 
que não foi reprimido e teve como consequência a destruição da sinagogas e o assassinato 
dos judeus de Sevilha. Esse fato serviu de motivador para a expansão do ódio, que se 
alastrou para Andaluzia e levou o terror para outras comunidades judaicas da Espanha. Os 
judeus foram mortos aos milhares e suas mortes passaram impunes pela história. Para não 
serem assassinados, muitos passaram a converter-se ao catolicismo e, para piorar o 
quadro, foi criado o Tribunal do Santo Ofício também conhecido como Santa Inquisição, 
que tinha como objetivo enfrentar a expansão do protestantismo e investigar casos de 
heresia. 
 
No final do século XV, Granada, na Espanha foi conquistada, finalizando o processo 
de reconquista da Península Ibérica pelos europeus. O novo modelo europeu era 
centralizado nas monarquias e baseado no catolicismo espanhol, não admitindo minorias, 
que eram assimiladas ou deveriam desaparecer. 
 
Em 1492, o governo espanhol decretou que todos os judeus deveriam deixar o 
território espanhol ou se submeter à fé católica, resultando na migração de milhares de 
judeus não sendo possível estimar a quantidade (SARDE NETO, 2019). 
 
Os judeus sefradistas se espalharam pelo mundo: os de Portugal logo foram 
obrigados a migrar, quando muitos se dirigiram ao Marrocos, outros para a Turquia, para o 
Egito e para a América, esta, em processo de colonização. No século XIX foram registrados 
outros momentos de perseguição, com grandes levas de judeus migrando do Marrocos para 
o Brasil, Estados Unidos e outros países europeus. 
 
 
24 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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Os judeus sefradistas se tornaram transculturais, conservaram o hebraico e 
desenvolveram o ladino, um idioma que mistura o hebraico com o espanhol, além de falar 
as línguas dos países onde se fixavam. No início do século XX, com o sionismo, muitos se 
estabeleceram em Israel, para onde também rumaram as vítimas de perseguições das 
doutrinas totalitárias (SARDE NETO, 2020) 
 
3.5. Os Judeus Asquenazes (ou Ashkenazin) 
Os asquenazes são judeus brancos advindos do Leste Europeu e da Europa Central, 
sendo o termo derivado da denominação hebraica medieval da região dos reinos 
germânicos. Eles eram minoria populacional em relação aos sefradim, com relatos de 
comunidades espalhadas pela Rússia, Polônia, pelos Estados Germânicos, Austria-
Hungria e por outros reinos do Leste (SARDE NETO, 2019). 
 
Os asquenazes possuem um idioma que mistura o hebraico com o eslavo e o 
alemão, o idish. 
 
Nas regiões dominadas pela igreja Ortodoxa no Leste Europeu, os judeus gozaram 
de alguma tolerância. Dentre as teorias que recaem sobre sua origem, a mais polêmica 
está relacionada ao povo Kuzari ou Khazar, detentor de um império com grande extensão 
que abrangia fronteiras ao norte com o Rio Volga, ao sul entre o Mar Negro e Mar Cáspio, 
onde estava a Cordilheira do Cáucaso, a Leste pelo Mar do Aral e a Oeste pela Áustria e 
pela Hungria. 
 
A influência e o poder dos khazares geraram a miscigenação entre os povos do Leste 
e do Centro Europeu e Asiático. Os povos subjugados tiveram suas terras anexadas às 
tribos guerreiras e ao sistema administrativo expansionista dessa etnia, do que não esteve 
livre o povo judeu. 
 
Nos séculos VII e IX, o povo Khazar estava sob influência das três religiões 
abraâmicas: o islamismo, o cristianismo e o judaísmo. Pode-se supor que o povo judeu da 
diáspora que viviam nas regiões dos khazares influenciaram partes importantes da 
sociedade com casamentos e alianças que provocaram a prática e a conversão ao 
judaísmo talmúdico, iniciando um processo de amálgama não somente cultural, mas 
também genético entre esses dois grupos distintos (SARDE NETO, 2019). 
 
 
25 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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A expansão do império de Gengis Kahn no século XIII desorganizou a civilização dos 
khazares, causando grande destruição e mortes na região. Dessa maneira, os judeus 
asquenazes foram obrigados a migrar para as regiões controladas por povos eslavos e 
germânicos. 
 
Nos séculos XVIII e XIX, foram perseguidos pelos reis católicos e pelo czar da Rússia 
e, com o intenso antissemitismo espalhado pelo mundo no século XIX, o movimento sionista 
levantou recursos, comprou terras em Israel para os Judeus que sofriam perseguições e 
aumentou o auxílio às comunidades que ali habitavam (SARDE NETO, 2020). 
 
Sarde Neto (2020) também comenta que, já no século XX foram submetidos a todos 
os tipos de violência, empreendida tanto pelos stalinistas da Rússia como pelos 
nazifascistas da Europa com o Holocausto, que causou a morte de mais de seis milhões de 
judeus nas mãos de Hitler, o que acelerou a migração de milhões de judeus espalhados 
pelo mundo para a região de Israel, cujo Estado foi reconhecido pela ONU após a Segunda 
Guerra. 
 
A maioria dos judeus que migraram para Israel no século XX eram asquenazes, 
fugindo da Rússia stalinista. Em Israel criaram os chamados kibutzim, um sistema 
comunitário socialista autônomo que produz o seu próprio sustento e foi responsável pela 
resistência dos assentamentos contra os árabes em Israel. 
 
Todos os judeus acabaram por se misturar com outros povos nos lugares onde 
habitavam, misturas tanto culturais como genéticas. Porém, alguns grupos asquenazes não 
aceitam a versão de uma possível mistura com os Khazares, nem a versão de uma 
migração pelo Cáucaso, mesmo que os vestígios arqueológicos e dados históricos a 
confirmem. 
 
Ao efetuarmos uma observação dos vários tipos de judeus existentes no mundo e 
em Israel, são perceptíveis as misturas: aqueles que viveram em regiões de maior influência 
árabe possuem mais características daqueles povos, da forma idêntica os judeus 
originários do Iêmen e os provenientes do Leste Europeu com suas características mais 
eslavas e germânicas. 
 
 
 
 
26 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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 A diáspora judaica, ocasionada pelos romanos e acelerada no ano 70 d.C. 
acarretou a dispersão dos judeus por várias partes do mundo e, como 
consequência, uma grande diversidade entre eles 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. O CRISTIANISMO NASCENTE NO MESSIANISMO JUDAICO 
 
Objetivo 
Demostrar que o Cristianismo nasce no Judaísmo, quando Jesus, o Cristo, pretende 
ser um judeu autêntico e fazer com que os seus também o sejam, pregando ao povo a boa 
nova de paz e justiça. 
 
Introdução 
O Judaísmo sempre aponta para a vinda do Messias que haveria de salvar seu povo 
e, no século I, com a Judeia ferozmente subjugada por Roma, com mortes de judeus e a 
destruição do Segundo Templo, o messianismo ganha força fazendo com que surjam 
diversos personagens revolucionários queencarnem o Messias. Nesse campo e nesse 
tempo, nasce e cresce Jesus de Nazaré, ou Jesus da Galileia, que ensinava nas sinagogas 
uma mensagem judaica, dirigida por um judeu a seus compatriotas judeus. Sua pregação, 
sua palavra, sua postura de fé e caridade viriam a se tornar o cristianismo. 
 
4.1. O Messianismo Judaico 
É muito importante ter conhecimento sobre as ideias messiânicas na sociedade 
judaica do século I d.C. Segundo Scardelai (1998), as ideias sobre o messias eram muito 
imprecisas, complexas e fluidas, muito em decorrência da forma como as comunidades 
judaicas viviam sob o jugo de Roma, sob um quadro de injúrias e injustiças. 
 
A literatura judaica apresenta três tipos de Messias: o Messias, filho de José; o 
Messias, filho de Davi; e aquele que seria o Redentor “Profeta”. Essas formas de Messias 
tiveram origem no período do Exílio da Babilônia e tomaram forma no final do século I d.C. 
e a adoção dessa esperança messiânica é decorrente de influências que o povo judeu de 
civilizações com as quais teve contato e, naqueles tempos, relacionadas com as 
necessidades de se livrarem dos impérios invasores (SCARDELAI, 1998). 
 
Em seu trabalho, Gilvan Araujo e Leonardo da Silva (2017) mencionam que, no que 
concerne ao Messias, filho de Davi, é algo presente em diversos períodos da história de 
Israel e que não seria incorreto afirmar que a dimensão real é aquela que sobressai na 
grande maioria das compreensões messiânicas entre os judeus e, nesse sentido, os textos 
encontrados no Mar Morto, trazem a expectativa real de um Messias da descendência 
 
 
28 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
davídica, que governaria segundo as instruções do Senhor e os haveria de guiar num 
caminho de justiça. 
 
Gilvan Araújo e Leonardo da Silva (2017) também afirmam em seu trabalho que nos 
Manuscritos do Mar Morto uma segunda figura messiânica era esperada – o Messias de 
Aarão – com o aspecto sacerdotal, que para os essênios das comunidades do Mar Morto 
teria maior significado e importância pois eles mesmos se retiraram para o deserto pelo 
rompimento havido com os sacerdotes do Templo. Segundo os autores, uma terceira figura 
seria esperada, mas com caráter profético e não messiânico. 
 
4.2. O Significado da Palavra Mashiach (Messias) 
A palavra hebraica Mashiach traduzida para o português como “Messias” tem 
nuances em seu significado e, de acordo com seu uso e significância, pode demonstrar os 
limites e caminhos que foram tomados no messianismo judaico e no cristianismo nascente. 
 
Em seu trabalho, Scardelai (1998) menciona que messias pode ser interpretado num 
sentido amplo como “ungido” que mais tarde, por influência da cultura helênica na 
sociedade judaica, sofrendo uma alteração da palavra hebraica “mashiach” para a palavra 
grega “christos”, alterando o sentido original de “ungido no óleo” para “escolhido”. A tradição 
judaica acompanhava o sentido da palavra “mashiach” – ungido no óleo – visto que era 
costume ungir com óleo um pretendente real e um sacerdote. Para se apresentar como 
“messias”, um líder seria indicado pelo povo e ungido por um sacerdote do Templo. 
 
Após a morte de Jesus, ocorreu uma mudança paulatina da terminologia hebraica 
da palavra “mashiach” para a palavra grega “christos”, acompanhando outros aspectos de 
doutrina da religião judaica que, adaptadas ao mundo greco-romano que imperava no 
século I d.C., foram integradas ao cristianismo nascente (SCARDELAI, 1998). 
 
4.3. As Referências Judaicas para os Movimentos Messiânicos 
Moisés e seu irmão Aarão, Davi e Judas Macabeu são as principais referências para 
os movimentos populares na Judeia do século I d.C., cada um deles como expoente em 
seus cargos ou funções assumidas à frente do povo judeu. 
 
 
 
29 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Podemos iniciar Moisés, que, indiscutivelmente, é o principal personagem quando 
se trata do assunto de libertação do povo judeu da opressão estrangeira. Citando outra vez 
Scardelai (1998), ao liderar o povo judeu em seu êxodo do Egito, Moisés tornou-se figura e 
modelo principal como líder messiânico libertador da opressão estrangeira ou até mesmo 
da opressão doméstica. Uma figura tão expressiva que não é superada em nenhum 
momento da história da sociedade judaica. 
 
No aspecto sacerdotal, Aarão é a grande referência para a figura do Messias ungido 
como sacerdote como esclarece Scardelai (1998) em seu trabalho. Essa ideia é exposta 
nos Manuscritos do Mar Morto pela comunidade essênia, onde a segunda figura messiânica 
– o Messias de Aarão – demostra ser aquela que possui maior relevância para a teologia 
das Comunidades de Qumran. O aspecto sacerdotal é basilar na história da comunidade 
essênia, sendo de extrema importância no que se refere ao motivo de seu rompimento com 
o Templo de Jerusalém, seu exílio no deserto e sua esperança de um Templo restaurado 
(ARAÚJO E SILVA, 2017). 
 
No que tange à figura monárquica, é indiscutível que a grande referência seja a 
pessoa do Rei Davi, contudo, pelo entendimento do povo judeu, não seria necessário que 
fosse um filho de Davi, mas que fosse um judeu fiel à Torá que o Deus de Israel assim 
escolhesse e enviasse para libertar e restaurar a nação judaica. Esse entendimento não 
implicaria na revogação de Davi e sua descendência da posição de rei eterno de Israel. 
Esse rei eterno seria o futuro messias que iria ocupar o trono do rei Davi (SCARDELAI, 
1998). 
 
Quanto à figura referencial no aspecto político-militar, Judas Macabeu se apresenta 
como o principal modelo de Messias, visto que sua vitória sobre os Selêucidas em 165 a.C. 
fez com que a crença na vinda do messias ganhasse força e, estando o povo judeu sob o 
jugo de Roma no século I d.C., essa esperança da vinda de um messias redentor era muito 
evidente (SCARDELAI, 1998). 
 
4.4. As Diferenças entre o Messianismo Judaico e o Cristianismo Nascente 
A história do povo judeu demonstra inequivocamente que a Judeia estava num 
estado de turbulências políticas, econômicas, sociais e religiosas. Os judeus ansiavam 
mudanças urgentes e se libertar da dominação dos romanos era uma das necessidades 
 
 
30 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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mais prementes, visto tamanha era a opressão que os dominadores lhes impunha 
(SCARDELAI, 1998). Assim, a pregação de Jesus que apresentava o amor a ser ofertado 
a todos, incluindo aos romanos, aos quais os judeus odiavam, tal pregação não preenchia 
as expectativas messiânicas necessárias às mudanças sociais necessárias diante da grave 
situação social presente no século I d.C. Os judeus aguardavam um messias que lutaria 
contra seus opressores e os expulsariam de sua terra, estabelecendo a Era Messiânica em 
Israel. 
 
Aproximadamente mil anos antes de Jesus, Davi restaurou e unificou o Estado de 
Israel, tornando-se a principal referência na tradição do povo judeu para a espera da 
chegada do messias. No âmbito político, esse era o tipo de messias que o povo judeu 
ansiava, coisa que Jesus não fez e, em oposição, apenas 40 anos depois de sua morte, a 
nação judaica se desfez frente ao império romano e, juntamente com a nação judaica, se 
desfez também a possibilidade dos judeus, especialmente aqueles mais letrados, 
considerar Jesus o possível messias, redentor de Israel (SCARDELAI, 1998). 
 
Henry Sobel (2019), iminente rabino que presidiu a Congregação Israelita Paulista, 
em seu artigo “Jesus de Nazaré. Profeta da liberdade e da esperança” menciona que um 
ponto frequentemente citado como prova de que Jesus se distanciava dos ensinamentos 
judaicos é o texto que se apresenta em Matheus 5, 43, quando Jesus diz que: “Ouvistes o 
que foi dito: (...) odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos e orai 
pelos que vos perseguem”.Sobel comenta que em nenhum lugar do Antigo Testamento se 
encontra a injunção de “odiar o inimigo”, mas, ao contrário, em Provérbios 25, 21-22, a Torá 
ordena que se dê de comer ao inimigo que tem fome e se dê de beber ao inimigo que tem 
sede e com isso, o Senhor te recompensará. 
 
Ainda no entendimento de Sobel (2019), devemos reconhecer as importantes e 
numerosas diferenças entre as ideias propagadas por Jesus e as doutrinas judaicas como, 
por exemplo, de que nenhum homem pode ser um intermediário entre o Criador e os outros 
homens. Jesus dizia: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai a não ser 
por mim” (João 14, 6). A ideia de que o relacionamento especial de Jesus com Deus 
permitiria a salvação somente daqueles que acreditassem nele, Jesus, é alheia ao 
judaísmo. 
 
 
 
31 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Em seu trabalho, Sobel (2019) aponta que os judeus não reconhecem Jesus como 
Messias, simplesmente porque as profecias messiânicas nas quais depositamos nossas 
esperanças não se concretizaram. A opressão não terminou, a guerra não acabou, o ódio 
não cessou, a miséria não findou. E, acima de tudo, a tão esperada regeneração espiritual 
da humanidade certamente não ocorreu. Além dessa séria discordância entre judaísmo e 
cristianismo acerca do status messiânico de Jesus, tampouco a natureza divina de Jesus é 
aceita pelos judeus. A doutrina cristã de que Deus tornou-Se homem é incompatível com 
os princípios judaicos. O judaísmo não aceita nenhuma distinção entre os homens, nem 
admite que um homem seja superior a outro. Os rabinos explicam que toda a raça humana 
proveio de Adão. E por que só de Adão? Para que ninguém possa dizer que seu pai é 
melhor do que qualquer outro. E como Deus nos fez todos iguais, o judaísmo não 
reconhece um "Filho de Deus" que se destaca e se eleva acima dos outros seres humanos. 
A convicção judaica é de que somos todos "filhos de Deus", criados à Sua imagem, e 
nenhum ser humano pode ser considerado mais divino do que os outros. De acordo com 
o judaísmo, Deus é Deus, o homem é homem, e entre eles existe uma distância 
intransponível. Tal crença não reflete um desrespeito ou preconceito contra Jesus. Nenhum 
dos nossos próprios patriarcas ou profetas — nem Abraão, Isaac ou Jacó, 
nem Moisés, Aarão ou David — é considerado divino. Na teoria judaica, com sua ênfase 
rigorosa no monoteísmo, Deus não pode Se materializar em nenhuma forma. A crença num 
Messias divino que é a encarnação de Deus contraria a convicção judaica da absoluta 
soberania e unicidade de Deus. 
 
Outro autor que considera a distância entre o judaísmo e o cristianismo é Crossan 
(2004), que afirma que para os judeus, o problema com Cristo estava centrado na questão 
de os cristãos o terem concebido como um homem-deus e isso era inaceitável para os 
judeus, confirmando os dizeres de Sobel (2019). 
 
De acordo com Crossan (2004), sobre a questão de Jesus ter morrido e ressuscitado, 
os judeus estavam a par dessa questão pois conviviam com os gregos e romanos, os quais 
através dos poemas Ilíada e Eneida, o primeiro grego e o segundo romano, já haviam 
divulgado a possibilidade de um homem ressuscitar depois de morto. E, ainda de acordo 
com o autor, os pagãos sabiam do nascimento de Enéias, de mãe divina e pai humano, 
como também sabiam que Cristo nasceu de mãe humana e pai divino, sendo que essas 
conexões do nascimento de Enéias com o nascimento de Jesus ajudou na introdução do 
movimento de Jesus de Nazaré no mundo greco-romano e na sociedade judaica 
 
 
32 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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helenizada, fazendo com que o movimento de Jesus após a sua morte passasse a ter uma 
nova configuração, incorporando costumes e tradições do mundo greco-romano. 
 
Crossan (2004) menciona que isso acabou separando de forma gradual a concepção 
do messias judeu do cristianismo em ascensão, o que se deu no final dos anos 30 a.C, 
sendo que para o autor, no período do ministério de Jesus não existia o cristianismo, mas, 
sim, um judeu que tinha aspirações messiânicas e que ensinava a obediência às leis 
mosaicas. 
 
 
 
 O Judaísmo sempre aponta o Messias que haveria de salvar seu povo e, no 
século I, com a Judeia subjugada por Roma, com mortes de judeus e a 
destruição do Segundo Templo, o messianismo ganha força fazendo com que 
surjam diversos personagens revolucionários que encarnem o Messias. 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliografia indicada no plano de ensino 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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5. AS PRIMEIRAS COMUNIDADES DO CRISTIANISMO 
 
Objetivo 
Demonstrar como viviam as primeiras comunidades cristãs no século I d.C., suas 
características e seus comportamentos frente à doutrina. 
 
Introdução 
A igreja cristã primitiva, incipiente nas primeiras comunidades cristãs, tornou-se 
norma e fundamento para as igrejas cristãs de todos os tempos. Entre os anos 30 e 65 d.C., 
o período apostólico evidenciou como era a vida em comunidade para os primeiros cristãos. 
A comunhão de bens, a oração, a fração do pão e o ensinamento dos apóstolos 
caracterizavam a vida da comunidade cristã primitiva, conforme Atos dos Apóstolos 2, 42-
47; 4, 32-37). 
5.1. A Comunidade de Jerusalém 
Não é possível começar a falar em igrejas cristãs primitivas sem mencionar a Igreja 
de Jerusalém, pois, foi nessa comunidade que se originou o cristianismo (ROGIER, 1973). 
A igreja de Jerusalém pode ser identificada logo no início do Livro dos Apóstolos, 
imediatamente após a ascensão de Jesus, quando os discípulos se reuniram para orar (Cf. 
At 1, 12-14). Com a vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, em Jerusalém, 
caracterizou-se histórica e concretamente o nascimento da Igreja cristã. Esse primeiro 
grupo logo se organizou e passou viver unânime no templo, constituindo-se naquela que 
viria a ser identificada como a primeira comunidade cristã. 
 
O Evangelho foi se espalhando para fora de Jerusalém de maneira que se formaram 
dois centros de expansão: Damasco e Antioquia da Síria. O envio de Barnabé e Saulo a 
Antioquia demonstra que os apóstolos pretendiam assegurar a unidade das comunidades 
cristãs através de um colegiado. Apesar da liderança religiosa se reunir para tentar resolver 
os problemas das comunidades, juntamente com os apóstolos e com os anciãos, as 
decisões eram atribuídas ao Espírito Santo. Essa não era, contudo, a proposta de Jesus 
para os seus seguidores, sendo possível perceber na vida e nos ensinamentos de Jesus e 
em todo o Novo Testamento que os primeiros cristãos deveriam buscar uma vida no 
Espírito. A vivência solidária entre os seguidores de Jesus deveria conduzir a uma 
eclesiologia igualitária o que, contudo, como observou Leonardo Boff (1994), em Jerusalém 
 
 
34 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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desenvolveu-se um eclesiologia sinagogal, com autoridade centralizada em um conselho 
de presbíteros. 
 
Com a partida de Pedro, que temia por sua vida em decorrência da perseguição que 
Herodes Agripa, a igreja de Jerusalém ficou centralizada nas mãos da família de Tiago. 
Bruce (2005) entende que tanto Pedro quanto Tiago exerciam autoridade sobre a 
comunidade de Jerusalém e seus apostolados eram reconhecidos por Paulo. Ainda que, 
com o passar do tempo, a igreja de Jerusalém tenha se tornado sinagogal, concentrando a 
autoridade eclesial nas mãos de um pequeno grupo e, de alguma forma cerceando a ação 
do Espírito Santo, foi justamente a partir dessa igreja que se reconheceu a autoridade e o 
poder do Espírito e também por ela se identificou o início do cumprimento da promessa que 
os discípulos receberiam o Espírito e que eles seriam as testemunhas de Jesus em 
Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, aaté os confins da terra. 
 
Apesar de todas as perseguições sofridas, das barreiras étnicas, sociais e religiosas 
como relatado por Lucas em seu evangelho, o reino de Deus continuou a ser proclamado, 
conforme mencionado em Atos dos Apóstolos 28, 31, sem impedimento algum. 
 
5.2. As Comunidades Paulinas ( Paulo/Saulo) 
Conforme registrado por Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos, a autoridade 
concedida a Paulo era mais voltada à pregação da mensagem de Jesus que doutrinária, 
sendo sua principal missão a de tornar o Evangelho conhecido e aceitável entre os gentios. 
Por isso, Paulo aparece em Atos como uma importante figura, revestida de uma autoridade 
que, inicialmente, foi concedida por Jesus apenas a seus discípulos. 
 
Lucas, reescrevendo a história de Jesus em seu evangelho e no livro dos Atos dos 
Apóstolos, equiparou a história da propagação do Evangelho à história da pregação feita, 
sobretudo, por Pedro e Paulo. Segundo se depreende da leitura de Atos dos Apóstolos, 
existia uma linha de continuidade da autoridade eclesial de Jesus aos doze discípulos, aos 
apóstolos e a todos que receberam o Espírito Santo. O modelo de autoridade, segundo 
Lucas em Atos dos Apóstolos, baseada no Espírito Santo foi transmitido também para as 
famílias cristãs primitivas. 
 
 
35 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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Nas famílias cristãs primitivas ocorreu o rompimento da estrutura familiar patriarcal 
e hierárquica, pois o cristianismo primitivo das comunidades paulinas, sempre impulsionado 
pelo espírito, demonstrava e sugeria uma comunidade de membros iguais. 
 
Paulo, provavelmente, havia conhecido comunidades igualitárias antes do 
cristianismo, vendo-se essa ideia cristalizada nas Cartas de são Paulo aos Gálatas 3, 26-
28, onde se lê: ”vós todos são filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, pois todos vós que 
fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo. Não há judeu nem grego, não há 
escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus.” 
 
Isso corresponde ao entendimento que todos os que acolhiam os ensinamentos de 
Jesus e eram batizados no Espírito recebiam uma certa autoridade na comunidade cristã e 
todas as diferenças deveriam, assim, ser abolidas a favor da unidade e da liberdade na vida 
cristã. Devemos destacar que, teologicamente, todos os membros das comunidades cristãs 
primitivas que se reuniam nas casas, com base no batismo no Espírito Santo, eram iguais. 
 
Nas comunidades cristãs paulinas, a autoridade era determinada pelo carisma 
oferecido pelo Espírito e pelo ensinamento vinculado à conduta cristã daquele que a 
transmitiu. Não havia uma autoridade jurídica nas relações religiosas, contudo, havia uma 
clara orientação muito enfática sobre a busca da vida no Espírito, explicitado por Paulo em 
suas Cartas aos Gálatas 5, 16, e ainda a indicação de fazer tudo com ordem e decência, 
como recomendado por Paulo em sua primeira carta aos cristãos de Corínto 14, 40.. 
 
A prática diária estava diretamente ligada à autoridade daquele que a exercia sobre 
a comunidade, o que também se reconhece nas cartas enviadas por Paulo aos cristãos de 
Colossos e de Éfeso. 
 
Pode-se entender que, nas comunidades cristãs paulinas havia um sistema de 
estruturas e de autoridade, sem haver títulos vinculados a essas autoridades, percebendo-
se que a autoridade eclesiástica nas comunidades paulinas era ligada à ação do Espírito 
Santo. Conclui-se que nas comunidades paulinas, a estrutura de autoridade eclesial era, 
essencialmente, baseada nos dons que o Espírito Santo enviava a cada um, ou seja, nos 
carismas, sem, contudo, menosprezar a autoridade apostólica. 
 
 
36 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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5.3. As Comunidades Petrinas ( Pedro ) 
Pode-se depreender pela leitura do Novo Testamento que a liderança de Pedro não 
estava restrita à comunidade de Jerusalém, sendo reconhecida também pelos gentios 
convertidos da Ásia Menor. A primeira epístola atribuída a Pedro demonstra a liderança de 
Pedro sobre os convertidos das diversas províncias da Ásia Menor, onde nota-se a 
preocupação em consolar, apascentar, fortalecer e exortar os cristãos a permanecerem 
fiéis até o fim. Nessas comunidades, os cristãos eram desafiados a exercer uma conduta 
exemplar, de maneira a nenhuma pessoa ter motivos para acusá-los e, se ainda assim o 
fizessem, as suas obras glorificariam o nome de Deus. 
 
Os cristãos foram moldando suas relações sociais, tornando-as igualitárias, o tanto 
quanto possível, ao ambiente cultural no qual estavam imersos, embora esse ambiente 
fosse alheio e estranho ao cristianismo. A principal das cartas era manter a paz entre os 
cristãos e com a comunidade pagã. 
 
Assim em alguns critérios de autoridade das relações políticas e sociais greco-
romanas acabaram sendo inseridos nas comunidades cristãs. Isso ocorreu em vista da 
carta ser dirigida aos gentios convertidos ao cristianismo que viviam ao norte da Ásia Menor 
e pelo fato de que alguns trechos foram retirados do Pentateuco e aproveitados como 
imagens aplicadas aos que se converteram à mensagem de Cristo, demonstrando que a 
conversão dos gentios a Cristo os caracterizava como povo de Deus. 
 
A primeira carta de Pedro tentou minimizar o problema do exclusivismo de alguns, 
que acabou marginalizando gentios convertidos. A liderança local utilizou-se da autoridade 
eclesial como forma de garantir um novo lar àqueles que estavam sendo discriminados nas 
comunidades petrinas, garantindo uma nova família, como pertencentes ao povo de Deus. 
 
A segunda carta de Pedro enfatiza que a autoridade deveria ser baseada no 
testemunho apostólico e, principalmente, sobre a ação do Espírito Santo. A visão e a 
palavra proféticas, assim como o testemunho apostólico não decorriam de fruto de fábulas 
humanas, mas possuíam autoridade divina, sendo, então os cristãos advertidos por Pedro 
a ter cuidado com os falsos profetas, que estariam desviando muitos cristãos para heresias 
perniciosas. 
 
 
 
37 Judaísmo e Cristianismo Primitivo 
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Nota-se claramente que nas comunidades às quais destinavam-se as epístolas de 
Pedro, ainda que se tenha a forte preocupação com a questão moral diante dos gentios, da 
ênfase na busca de relações igualitárias entre os cristãos, do sentido de pertencimento ao 
povo de Deus como necessário para a inclusão na comunidade, e da advertência para uso 
correto da autoridade pelos presbíteros, a autoridade eclesial era utilizada sob a orientação 
do Espírito Santo que governava e repousava sobre a comunidade e, em vista disso, eles 
eram chamados de bem-aventurados. 
 
5.4. As Comunidades Joaninas (João) 
Das comunidades cristãs primitivas, as comunidades joaninas parecem ser as que 
encarnaram o Espírito Santo da melhor forma. Os relacionamentos sociais e a 
espiritualidade deveriam ser mediadas pelo amor-serviço, o que significa dizer que os 
cristãos eram desafiados a construírem e desenvolverem, em sua prática cotidiana, um 
relacionamento pessoal e individual com Jesus Cristo que servisse como referencial para 
as tomadas de decisões em comunidade. A cristologia de João tomava por base o fato de 
que Jesus existia com o Pai e veio do Pai, da mesma forma que a eclesiologia joanina se 
baseia no Espírito, que veio do Pai e foi enviado pelo Filho. 
 
Apenas o apóstolo João relatou claramente a preexistência de Cristo com Deus que 
também apareceu em outros textos e afirmações do próprio Jesus (João, 8, 58; 17,5). Para 
João, Jesus não foi apenas o construtor e edificador da Igreja, mas a manteve, a sustém 
viva e dinâmica por meio do seu Espírito. 
 
As comunidades joaninas separaram-se de forma definitiva e enfática dos judeus em 
vista da crença de preexistência divina de Cristo e rejeição de qualquer

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