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Consumidor e Econômico

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1. DIREITO ECONÔMICO
1.1. Teoria Geral: introdução, constituição e conceitos 
A) Evolução histórica
· Estado liberal
Houve na Idade Média a concentração de poder em torno do rei, mas, com o surgimento das ideias liberais, o absolutismo começou a ser corroído.
Tem-se que o pai do liberalismo é John Locke.
Passou-se a entender que o Estado não deve intervir nas relações privadas entre os indivíduos, tendo ele um dever de abstenção, surgindo assim: 
a) as garantias individuais (os direitos de primeira geração);
b) a Teoria de separação dos poderes entre executivo, legislativo e judiciário (Montesquieu);
c) a garantia à propriedade privada;
d) o entendimento de que os negócios jurídicos e os contratos estão dentro do arbítrio dos contratantes, portanto, o Estado não deveria intervir neles;
e) a ideia de que o Estado não deveria intervir na ordem econômica, sendo que a competição econômica seria uma consequência natural do mercado, que deveria ser deixado livre.
f) do ponto de vista econômico, pode ser citado Adam Smith, pois trouxe a ideia da "mão invisível" do mercado, por meio da qual o Estado não deveria interferir, pois o mercado se autorregula.
g) Lei de Say (Jean Baptist de Say), que diz que toda oferta gera sua própria demanda e que o mercado se autorregulará;
h) Teoria das vantagens comparativas (David Ricardo), que diz respeito à especialização das nações e de como a atuação livre de cada uma delas no comércio internacional tende para um equilíbrio.
· Estado intervencionista
As concepções do Estado Liberal funcionaram por algum tempo, contudo, foram sentidos os efeitos nocivos de um liberalismo absoluto. Começaram a surgir monopólios e crises econômicas (como a de 1929).
Diante da constatação de que o liberalismo puro tem os seus problemas, pensou-se que o Estado seria necessário para garantir alguns direitos em patamares mínimos, a exemplo dos direitos de segunda geração - direitos sociais.
Iniciou-se o surgimento das primeiras normas de conteúdo jurídico econômico. Notadamente, a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919, que trouxeram parâmetros e algumas balizas para a intervenção do Estado, tanto no que diz respeito aos direitos sociais como também no domínio econômico.
Nesse contexto, começaram a surgir Estados de Bem-Estar Social, que são capitalistas.
Em que pese imaginar que o Estado Intervencionista seria o jeito correto de condução, emergiram alguns efeitos adversos nessa forma de o Estado intervir na economia. Notadamente, o agigantamento da máquina estatal, pois ficou caro manter todos os serviços e garantias para os governados.
Com isso, surgiram problemas de déficit de orçamento, de superdimensionamento da máquina e de ineficiência da administração.
· Estado regulador
Consiste no retorno moderado ao liberalismo. Dessa maneira, o Estado deixa de fornecer e de intervir tão intensamente, mas continua com algum controle sobre a atividade produtiva e a assistência básica à população.
Baseava-se em uma tentativa de conciliar a justiça social com a livre iniciativa.
O Estado terá muito mais o papel de garantir e regular a ordem econômica do que prestar, diretamente, certas atividades e serviços públicos. 
Portanto, tem-se nesse modelo: desestatização e consequentes privatizações; redução sistemática dos encargos sociais; busca de equilíbrio nas contas públicas.
B) Direito Econômico
Eros Grau traz o seguinte conceito de Direito Econômico: sistema normativo voltado à ordenação do processo econômico, mediante a regulação, sob o ponto de vista macrojurídico da atividade econômica, de sorte a definir uma disciplina destinada à efetivação da política econômica estatal.
Portanto, o Direito Econômico será o ramo do Direito que tratará do processo produtivo com vista à consecução de algum fim de política-econômica do Estado.
C) Características das normas de Direito Econômico
As normas de Direito Econômico, em geral, apresentam algumas peculiaridades em relação a outras normas, porque ela deve se adaptar aos movimentos da economia, que são muito mais dinâmicos que o Direito.
Como não se pode elaborar uma lei nova a cada movimento do mercado, as normas de Direito Econômico devem ter uma certa abertura, flexibilidade, mobilidade e mutabilidade para acompanhar o dinamismo da economia.
Isso é feito, principalmente, pelo uso de tipos e conceitos indeterminados, que permitem que o aplicador da norma amolde a sua aplicação no caso concreto.
D) Objeto do Direito Econômico
São todas as normas que dizem respeito à regulação do Estado na economia, tais como:
1. Normas sobre intervenção do Estado na economia;
1. Normas disciplinares de políticas econômicas;
1. Direito da concorrência;
1. Normas que dispõem sobre serviços públicos;
1. Normas sobre os monopólios do Estado;
1. Normas de direito econômico internacional (Tratados do GATT e da OMC).
E) Sujeitos ou agentes econômicos
São todos aqueles que desenvolvem atividades econômicas, seja produzindo ou consumindo.
F) Fontes do Direito Econômico
São diversas:
1. Constituição: é a principal fonte e trata sobre diversos temas. Há um capítulo específico, do artigo 170 ao 192;
1. Leis complementares: Lei 4.594/64 e Lei 6.385/79 (SFN), que foram recepcionadas como leis complementares pela CF, além da LC 123/2006 (Simples);
1. Leis ordinárias;
1. Normas infralegais de agências reguladoras, da CVM, do BC;
1. Tratados internacionais (Tratados Mercosul, do GATT).
G) Competência legislativa 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
No rol de competência privativas da União (art. 22, CF), há diversos incisos que dizem respeito a normas que possuem conteúdo de direito econômico.
Art. 22, Compete privativamente à União legislar sobre :
IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais
VII – política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII – comércio exterior e interestadual;
IX – diretrizes da política nacional de transportes;
XIX – sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
Em situações excepcionais, o Município poderá legislar sobre matérias afetas ao direito econômico. Isso ocorrerá nos casos do art. 30, CF, em que é dado a Município legislar sobre realidades locais (inciso I) e suplementar as normas federais e estaduais (inciso II).
SV 38: É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial.
S.V. 49: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
Se o estabelecimento comercial for um Banco, o Município não poderá disciplinar sobre o horário de funcionamento, porque o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é uma matéria afeta à União, e o horário de funcionamento das agências bancárias interfere nesse sistema.
Serão de competência do Município: 
a) Definição do tempo máximo de espera de clientes em filas de instituições bancárias é de competência do Município para legislar. 
b) Legislar em matéria de segurança em estabelecimentos financeiros, como terminais de autoatendimento.
c) Editar normas suplementares relativas à segurança dos estabelecimentos bancários, como a instalação de sistema de monitoração e gravação eletrônica de imagens.
d) Instalações sanitárias, fornecimento de cadeiras de espera, colocação de bebedouros.
Lei estadual que impõe a prestação de serviço segurança em estacionamento a toda pessoa física ou jurídica que disponibilize local para estacionamento é inconstitucional, quer por violação à competência privativa da União para legislar sobre direito civil, quer por violar a livre iniciativa. 
Ademais, Lei estadual que impõe a utilização de empregados próprios na entrada e saída de estacionamento, impedindo a terceirização, viola a competência privativa da União para legislar sobre direito do trabalho.
· Energia elétrica
Uma leino estado de São Paulo previa o corte de energia elétrica em algumas situações. Essa lei foi julgada inconstitucional pelo STF, por interferir na relação de concessão feita pela União - poder concedente federal - com as empresas.
O STF possui firme entendimento no sentido da impossibilidade de interferência do Estado-membro nas relações jurídico-contratuais entre Poder concedente federal e as empresas concessionárias, especificamente no que tange a alterações das condições estipuladas em contrato de concessão de serviços públicos, sob regime federal, mediante a edição de leis estaduais. 
· Comércio de artigos varejistas em farmácias
Constitucional é a lei de estado-membro que verse sobre o comércio varejista de artigos de conveniência em farmácias e drogarias. 
CF, art. 24. (...)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
· Reutilização de vasilhames
O Rio de Janeiro editou uma lei que previa a possibilidade de reutilização de vasilhames ou embalagens no comércio. Entendeu-se que a matéria é concorrente e a lei constitucional, pois se inseriu no âmbito de proteção do consumidor.
· Bloqueadores de celular em presídio
Lei de São Paulo previa a instalação de bloqueador de sinal de celular em presídio, como medida de tentar conter a criminalidade. O STF entendeu que a telecomunicação é uma matéria que exige tratamento uniforme em todo território nacional, portanto, a competência é da União, sendo vedado ao Estado legislar sobre isso.
· Prestadoras de serviço de telefonia e dever de informação
É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviços no Estado (ex: empresas de telefonia, de TV por assinatura, de energia elétrica, etc.) a informarem previamente a seus clientes os dados do empregado que realizará o serviço na residência do consumidor.
1.1.1. Ordem econômica da CF/88: fundamentos e objetivos
Ordem econômica consiste no conjunto de normas e instituições jurídicas que visam disciplinar as relações oriundas do exercício da atividade econômica, além de orientar a produção de diversos ramos do direito envolvidos no ciclo econômico (André Ramos Tavares).
A) Constituição econômica
Na CF/88, existe um capítulo inteiro destinado à ordem econômica.
No Brasil, por sua vez, a primeira constituição econômica foi a CF de 1934, que, embora tenha durado pouco, foi um marco nesse sentido.
O artigo 170, da CF, é o "coração" da ordem econômica de todo direito econômico do ordenamento brasileiro.
Percebe-se que a ordem econômica brasileira não fala em nenhum momento de lucro, mas sim na determinação de assegurar a todos existência digna, conforme ditames da justiça social. Sendo assim, nota-se que o sistema brasileiro é capitalista porque busca garantir, por exemplo, a propriedade privada e a liberdade de iniciativa. No entanto, o objetivo disso não é garantir, por si só, o lucro, muito pelo contrário. Existe um viés social nisso.
Por essa razão, o capitalismo brasileiro não é considerado puro, mas sim um capitalismo social, no qual a finalidade é garantir a existência digna a todos, conforme os ditames da justiça social.
Consoante extrai-se do art. 170, CF, os fundamentos da ordem econômica são: valorização do trabalho humano e da livre iniciativa. Nota-se, nesse ponto, que o "trabalho humano", no texto, aparece antes da "livre iniciativa", o que é proposital, para que haja realmente a valorização do trabalhador, que está no piso da cadeia de produção e merece ter garantida a dignidade humana.
· Livre iniciativa
A livre iniciativa é um fundamento da ordem econômica.
Sua origem ocorre no movimento de passagem do Estado Absolutista para o Estado Liberal.
Aponta-se o Édito de Turgot (1776) e o Decreto d’Allarde (1791) como as primeiras normativas que visavam garantir a livre iniciativa e proibir as corporações de ofício. 
Posteriormente, a Lei de Chapelier determinou a proibição de sindicatos e greves nesse contexto histórico de superação do absolutismo e início do Estado Liberal.
Na CF/88, o parágrafo único do art. 170 disciplina, de maneira específica, a livre iniciativa. Dessa forma, em regra, se o indivíduo quiser exercer atividade econômica, não precisará de autorização estatal. Excepcionalmente, em alguns casos será necessário, tais como instituições financeiras, seguradoras e indústria de cigarro.
ATENÇÃO: Livre iniciativa e livre concorrência não se confundem. A Livre Iniciativa é princípio constitucional positivado no art. 170, parágrafo único da CRFB/1988. Relaciona-se a fato ANTERIOR ao ingresso de agente econômico no mercado. Resguarda-se com esse princípio o ingresso do agente econômico (privado ou público) no mercado. A Livre Concorrência, por sua vez, também é princípio constitucional explicitamente positivado no art. 170, IV da CRFB/1988. Ao contrário da Livre Iniciativa, a Livre Concorrência lida com fato POSTERIOR ao ingresso de agente econômico no mercado. Resguarda-se não seu ingresso (já ocorrido e garantido pela Livre Iniciativa), mas sim o regular desenvolvimento de suas atividades em regime de concorrência justa.
A livre iniciativa, dentro do contexto de capitalismo social, deve ser entendida tanto como a livre iniciativa da empresa - que se refere ao agente econômico realmente poder se lançar no mercado e empreender -, quanto a livre iniciativa do trabalho - referente ao trabalhador ter liberdade de poder escolher a atividade que exercerá.
O princípio da livre iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor.
B) Princípios da Ordem Econômica na CF/88 
· Soberania Nacional 
A soberania tratada como fundamento da República e da ordem internacional não coincide com a que é versada no art. 170, I, CF. Esta é lida como uma soberania econômica e não política, o que significa dizer que se busca a autodeterminação na condução da política econômica brasileira.
Sendo assim, pretende-se diminuir a dependência em relação ao mercado externo. Isso, todavia, não significa isolamento do Brasil, mas sim um equilíbrio na política econômica internacional.
· Propriedade privada e função social da propriedade privada 
Verifica-se que a propriedade privada e a função social da propriedade privada são previstas no art. 5º, CF, no rol de direitos e garantias individuais. Contudo, no capítulo da ordem econômica, não se trata de qualquer propriedade privada e qualquer função social da propriedade, mas sim da propriedade privada dos bens de produção, ou seja, daqueles bens destinados à atividade produtiva e econômica.
Essa propriedade não é absoluta e, por essa razão, existe a previsão da função social da propriedade dos bens de produção. 
O princípio da propriedade privada também estabelece que a intervenção do Estado na propriedade poderá ocorrer somente em casos excepcionais previstos constitucionalmente, como no art. 182, § 4º, III (função social da propriedade urbana), art. 184 (propriedade rural com vistas à reforma agrária) e art. 243 (perdimento em razão de entorpecentes) da CF.
· Livre concorrência 
No contexto de direito econômico - como disciplina estruturada - a livre concorrência visa garantir que os agentes econômicos possam atuar em um mercado saudável no qual não haja monopólios, cartéis ou qualquer outras dificuldades de entrada ou atuação do agente econômico, ou seja, a garantia de lisura na condução das trocas.
O princípio da Livre Concorrência fundamenta, pois, a repressão estatal às infrações da ordem econômica e os crimes de concorrência desleal.
Ademais, no contexto de capitalismo social brasileiro, a livre concorrência não será um fim em si mesmo, mas sim um instrumento para garantir o próprio objetivo da ordem econômica, qual seja, assegurar a todos a existência digna conforme os ditames da justiça social. Portanto, a concorrência será instrumental, um meio.
CF, art. 173, § 4º. A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
A repressão ao abuso de poder econômico configurava matéria constitucionalantes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 1988 (Constituição de 1967).
· Defesa do consumidor
A tutela ao consumidor é prevista no art. 5º, XXXII, CF e erguida a um patamar tão alto que a Lei de Defesa da Concorrência (Lei 12.529/11) admite, inclusive, que certas condutas - que a princípio poderiam ser consideradas anticompetitivas - possam ser toleradas se ensejarem benefícios efetivos ao consumidor.
Q2072730 Noções Fundamentais de Direito Econômico , Conceito, Histórico, Fontes e Autonomia
Ano: 2023 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TCE-RJ Prova: CESPE / CEBRASPE - 2023 - TCE-RJ - Procurador do Ministério Público
Acerca da evolução histórica do direito econômico, julgue o item que se segue.
A proteção ao consumidor estava presente na ordem constitucional brasileira vigente antes de 1988.
Alternativas
Certo
Errado (Errado)
· Defesa do meio ambiente
Evidente que o capitalismo brasileiro, que não visa tutelar apenas o livre mercado, protege também os bens relevantes para a sociedade, tal como meio ambiente. 
A defesa do meio ambiente pode justificar a intervenção do poder público na atividade econômica do particular.
O STF analisou caso acerca dos pneus recauchutados, no qual discutia-se se seria possível a importação desse material. Entendeu-se que não.
· Redução das desigualdades regionais e sociais 
No contexto de ordem econômica que pretende proteger a todos com base nos ditames de justiça social, a ordem social focará na redução das desigualdades.
CF, art 174 § 1º. A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.
· Busca do pleno emprego 
Não há uma sociedade livre, justa, solidária e com existência digna, que busca garantir a justiça social, na qual não tenha emprego para a população. 
Pleno emprego não significa emprego a 100% da população econômica ativa, mas sim dar emprego a todos aqueles que estão procurando, efetivamente, trabalho. Além disso, sempre haverá uma taxa mínima de desemprego, pois o indivíduo pode ter saído de um emprego e estar procurando outro ou estar desempregado momentaneamente.
· Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede ou administração no país
A ordem econômica brasileira busca tutelar, também, aqueles pequenos produtores e empresários que não possuem condições de competir em igualdade com as grandes corporações. 
Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.
Consiste em uma obrigação de todos os entes. 
Nesse contexto, surgiu a Lei Complementar 123/2006 que é o Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, bem como o SIMPLES Nacional.
O SIMPLES não é um tributo, mas sim um sistema para o recolhimento de alguns tributos, pagos pela pessoa jurídica em razão das suas atividades, quais sejam: IRPJ, IPI, PIS, COFINS, CSLL, CPP, ICMS e ISS (art. 13). Logo, todos esses tributos que são devidos pelas pequenas empresas são incluídos nesse sistema de recolhimento unificado de tributos.
Lado outro, estão excluídos os tributos devidos por terceiros, como o ICMS de substituição tributária; obrigações devidas a terceiros, como o FGTS, que é devido ao trabalhador; e impostos sobre a propriedade - IPTU, IPVA, ITR. 
No que tange à jurisprudência do STF sobre o tema, o SIMPLES prevê alguns requisitos para que a pessoa jurídica se mantenha nesse sistema de recolhimento de tributos, como, por exemplo, manter as obrigações tributárias em dia. Na hipótese de inadimplência, haverá a exclusão do sistema, restrição essa que foi questionada, e o STF entendeu se tratar de restrição justa.
· Princípios implícitos da ordem econômica
A) Subsidiariedade: O Poder Público atua subsidiariamente à iniciativa privada na ordem econômica, dentro de um sistema constitucional em que o principal papel reservado ao Estado é de agente regulador, nos termos do artigo 174 da CF.
B) Liberdade econômica: Consiste na manifestação da liberdade no ciclo econômico (produção, circulação/distribuição e consumo). É corolário da livre-iniciativa.
C) Igualdade econômica: É outra vertente da livre-iniciativa, sendo instituto garantidor da liberdade de concorrência (art. 170, IV, CF).
D) Desenvolvimento econômico: Objetiva reduzir as desigualdades regionais e sociais, visando uma igualdade real, nos termos da CF, ou seja, políticas públicas que concedem tratamento diferenciado e privilegiado em relação a grupo social discriminado historicamente a partir de critérios objetivos e razoáveis
1.2. Intervenção do Estado no domínio econômico
Existem várias formas de atuação ou de intervenção do Estado na economia. Pode-se ter a atuação ou intervenção direta e a indireta, distinguindo-se porque na direta o Estado, efetivamente, prestará uma atividade econômica, seja atividade econômica em sentido estrito ou serviço público; e na indireta o Estado atuará como agente regulador, direcionador ou planejador da atividade econômica.
É necessário, também, diferenciar atividade econômica em sentido amplo, serviço público e atividade econômica em sentido estrito.
A atividade econômica em sentido amplo corresponde àquela exercida com o objetivo de sanar alguma necessidade humana. Ela se divide entre serviço público e atividade econômica em sentido estrito.
Sendo assim, a atividade econômica em sentido estrito será aquela associada à ideia de mercado, livre concorrência e livre iniciativa, ou seja, será a atividade precípua dos agentes privados que competem no mercado.
O serviço público, por sua vez, é aquele entendido como essencial a uma sociedade, basilar à convivência minimamente harmônica entre os indivíduos. 
Outra distinção importante que precisa ser feita no que diz respeito a serviço público e atividade econômica em sentido estrito é com relação à forma que essas atividades são prestadas.
Nas atividades econômicas em sentido estrito, pode-se ter regime de monopólio ou regime de competição. Contudo, em se tratando de serviço público, essas nomenclaturas não são aplicadas.
Nas situações em que apenas um agente presta o serviço público, não é correto falar em monopólio, mas sim em privilégio. Caso haja um regime de competição entre as empresas, tratando-se de serviço público, haverá uma atuação em regime de privilégios, porém em favor de mais de um delegatário/concessionário.
1.2.1. Atuação direta
A) Serviços Públicos
O serviço público é destinado a sanar o mínimo das necessidades humanas para haver coesão social.
Há distinção entre serviço público privativo e serviço público não privativo:
a) Serviço público privativo: Será aquele em que a atividade, a princípio, é privativa do Estado, todavia, admite-se a concessão e a permissão na prestação desses serviços por parte de agentes privados. Ressalta-se que essa estrutura não altera a natureza pública do serviço, ou seja, não se torna uma atividade privada em função da delegação. Exemplos: gás canalizado e o transporte coletivo local. Percebe-se que o concessionário ou permissionário cobra tarifa e visa ao lucro, e isso não torna incompatível a prestação do serviço como público. 
b) Serviços não privativos: São aqueles em que o agente privado poderá atuar com autorização, não necessitando de formas de delegação mais formais por parte do Estado. Tem-se como exemplos clássicos a educação e a saúde, que são serviços públicos que o Estado pode prestar diretamente, contudo, é permitido que os particulares também prestem esses serviços. Evidentemente, o Estado direcionará por meio de normas específicas.
O art. 175, CF dispõe sobre os serviços públicos privativos.
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regimede concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Significa que o Estado poderá prestar os serviços públicos privativos de maneira direta ou delegando-os.
Em relação à jurisprudência, questionou-se se táxi seria um serviço público, e o STF entendeu que não, não se aplicando o art. 175 da CF/88. Há apenas necessidade de mera autorização do poder público para a prestação do serviço pelo particular.
B) Atuação do Estado em sentido estrito 
A atividade econômica em sentido estrito é aquela exercida no âmbito do particular. Contudo, o Estado em situações excepcionais poderá exercer diretamente atividade econômica, movido por razões de segurança nacional e interesse público.
A atividade econômica se divide em duas espécies: por competição/participação e por monopólio/absorção. A diferença consiste no fato de que, no regime de competição/participação, previsto no art. 173, CF, o Estado - por meio de suas empresas públicas ou sociedades de economia mista - atuará em competição junto com os agentes privados. Já no monopólio/absorção, previsto no art. 177, CF, o Estado exercerá a atividade em regime de exclusividade, ou seja, sem concorrentes.
· Por participação 
A prestação da atividade econômica pelo Estado será excepcional e subsidiária, sendo que seus fundamentos e limites estarão inseridos no âmbito do interesse público. 
Art. 173 - Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
Verifica-se, portanto, que essa atuação será subsidiária.
ATENÇÃO: Tanto as empresas públicas quanto as sociedades de economia mista podem exercer atividade econômica ou prestar serviços públicos. Sendo assim, deve-se observar se a empresa estatal presta uma atividade econômica em sentido estrito, porque, nesse caso, ela terá um regime econômico equivalente ao dos particulares. Por outro lado, se prestar serviço público, será um regime ligado ao direito público.
CF, art. 173, § 1º: A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre:         
O art. 173, §1º, II, CF prevê que essas empresas estarão sujeitas ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. Isso se deve ao fato de que, se essas empresas exercem as atividades no mercado, consequentemente, elas não podem ter vantagem competitiva em relação aos agentes particulares, pois a concorrência deve ser preservada. 
Art. 173, § 2º: As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.
· Por monopólios
Monopólio consiste na estrutura de mercado em que haverá apenas um agente econômico. 
Essa estrutura, muitas vezes, é fruto de algum abuso de poder econômico, mas existe controvérsia na doutrina acerca da existência de monopólios naturais, que serão aqueles em que, por alguma razão, é justificável a presença de apenas um agente econômico prestando a atividade. 
O oligopólio consiste na estrutura de mercado que gira em torno de um pequeno número de empresas, que controla a entrada de novos concorrentes e, com isso, não há muita competição.
O oligopsônio/monopsônio, por sua vez, é a situação inversa do monopólio e do oligopólio. No oligopsônio/monopsônio, há poucos agentes compradores.
O monopólio público é um monopólio legal, que estabelece que o único produtor será o poder público por razões de política econômica e de condução do interesse nacional. No nosso caso, somente será admitido nos casos previstos na CF, art. 177.
Art. 177. Constituem monopólio da União:
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos;
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores;
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem;
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal.
§ 1º A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo observadas as condições estabelecidas em lei. 
§ 2º A lei a que se refere o § 1º disporá sobre: 
I - a garantia do fornecimento dos derivados de petróleo em todo o território nacional
II - as condições de contratação; 
III - a estrutura e atribuições do órgão regulador do monopólio da União; 
§ 3º A lei disporá sobre o transporte e a utilização de materiais radioativos no território nacional.
No que tange à pesquisa e lavra de recursos minerais e energias elétricas, verifica-se que elas somente podem ser exercidas mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresas constituídas sob as leis brasileiras que tenham sua sede e administração no país, na forma da lei.
CF, Art. 176, § 1º. A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.    
CF, Art. 231, § 3º. O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
1.2.2. Atuação indireta ou strictu sensu
A intervenção indireta equivale à atuação do Estado como um agente direcionador da atividade econômica. Destaca-se que a atuação indireta corresponde à regra da atuação Estatal, sendo que a intervenção direta excepcional.
Nessa modalidade de atuação, o Estado figura como agente normativo e regulador, de modo que dita as regras e normas para determinados setores da economia, com vistas ao interesse público.
· Intervenção por direção e intervenção por indução
Na intervenção por direção, o Estado atuará por meio de normas cogentes, de observância obrigatória e que, caso não cumpridas pelo agente privado, implicam na incidência de sanções.
De outro modo, na intervenção por indução, o Estado não determina de modo obrigatório que as regras impostas sejam observadas, mas vale-se de normas dispositivas que contêm estímulos e incentivos para que sejam cumpridas, como o faz com as sanções premiais. 
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
Veja que o Estado, como agente normativo e regulador, atua de maneira indireta na atividade econômica por meio de três funções principais: fiscalização, incentivo e planejamento da economia.
O setor privado não será vinculado de maneira automática pelo planejamento estatal, sendo-lhe meramente indicativo.
Existe também a necessidade de compatibilização dos planos nacionais e dos planosregionais de desenvolvimento, a partir da ideia de que o Brasil é um país desigual e, portanto, as regiões precisam de planos especiais de desenvolvimento. 
Art. 174. (...)
§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento.
Art. 21. Compete à União: (...) 
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
Ademais, existem outros instrumentos de regulação além do planejamento, como o exercício do poder de polícia (fiscalização), o estímulo a determinadas atividades (fomento), as golden shares (nas companhias em que, ainda que privatizadas, o Estado permanece com o poder de veto para decisões societárias importantes) e as agências reguladoras.
· Regulação concorrencial e regulação setorial
Regulação concorrencial visa a garantir a livre concorrência, enquanto a regulação setorial incide sobre todos os aspectos da economia, com o objetivo de combater as falhas de mercado.
As falhas de mercado correspondem a situações em que o mercado, por si só e de maneira livre, gera distorções que, caso constatadas, podem ser objeto de intervenção do Poder Público. São agrupadas em quatro hipóteses:
a) poder de mercado: quando determinada empresa é de tal modo relevante (grande e poderosa) que ditará as regras do jogo/mercado, submetendo todos os outros agentes a sua vontade. Esse poder de mercado pode gerar monopólios.
b) informação assimétrica: A distribuição desigual de informações entre a parte ofertante e demandante pode causar imperfeição nas alocações e favorecendo comportamentos indesejáveis. Um exemplo seria a venda de carros usados com problemas sem o conhecimento do comprador.
c) externalidades (positivas ou negativas): hipóteses em que o agente econômico gera consequências não incorporadas ao seu ciclo produtivo, as quais podem ser negativas ou positivas com relação à sociedade. Como exemplo de externalidade negativa, pode-se mencionar a poluição. Por sua vez, a externalidade positiva corresponde a um benefício para a população, como visto nas consequências da instalação de uma empresa em município que, a partir desse empreendimento, passa a crescer economicamente (comércio e desenvolvimento no entorno da nova empresa).
d) bens públicos: A oferta de alguns tipos de bens e serviços só fazem sentido se eles forem disponibilizados pelo governo. Nessa situação se encontram bens públicos. Isso acontece porque, em alguns casos, o consumo adicional de uma unidade por uma pessoa não afeta o consumo de terceiros. Dessa forma, pessoas que não pagam pelo serviço ou produto podem utilizá-lo à vontade (free riders). Logo, os agentes privados passam a não ter nenhum interesse em investir nesse mercado. São exemplos disso a iluminação pública, a justiça, o policiamento e a segurança nacional.
Constata-se um problema nos bens públicos já que, se por um lado parcela da população deles se beneficia, de outro lado outra parcela da sociedade apenas arca com os custos desses bens públicos, sendo certo que não há necessária correspondência entre o pagador e o beneficiário (podem ser pessoas distintas). 
Outro ponto de vista sobre os bens públicos é que contam com 2 peculiaridades:
a) Não-rivalidade: o uso por uma pessoa não reduz a sua disponibilidade aos demais;
b) Não-exclusividade: ninguém pode ser impedido de usá-los.
Dito isso, só estão disponíveis de forma coletiva, ao contrário dos bens e serviços contratados individualmente. Assim, capturam os que não estão dispostos a pagar por eles, mesmo se beneficiando dos mesmos (os chamados “caronas”).
Isso explica por que os bens públicos não atraem investimentos privados, permanecendo sob a gestão do Estado (https://maisretorno.com/portal/termos/f/falhas-de-mercado).
· Agências reguladoras
No Brasil, as agências reguladoras surgem no contexto das privatizações e da desestatização.
Nesse contexto, a desestatização corresponde à tendência de prestação dos serviços por agentes privados, ocupando o Estado o papel de fiscalizador e regulador, no sentido de editar normas e instruções normativas, isto é, compor estrutura mínima para a atuação dos agentes privados. Dessa maneira, o Estado exerce a gestão de determinados setores considerados estratégicos e de relevância social.
Já na Constituição, existe a previsão de duas agências reguladoras: a Anatel, conforme o art. 21, XI, e a ANP, nos termos do art. 177, § 2º, III, CF. 
As agências reguladoras correspondem a autarquias de regime especial. 
Possuem independência administrativa, autonomia financeira e ausência de subordinação hierárquica, além de seus dirigentes possuírem mandado fixo e estabilidade no cargo.
Com relação aos dirigentes das agências reguladoras, salienta-se que deverão observar período de quarentena após deixarem o cargo, com vistas a evitar eventual conflito de interesses. Sendo assim, ao deixarem o cargo, são proibidos de atuar na área regulada por determinado espaço de tempo, auferindo salário até o fim desse período.
Importante destacar que, no âmbito das agências reguladoras, não haverá instância revisora, vez que a última palavra será das próprias agências. 
Ademais, as agências reguladoras podem exercer: a) poder regulatório, o que significa que possuem discricionariedade do ponto de vista técnico; bem como b) poder normativo, ou seja, podem expedir normas e regulamentos, nos limites da lei e da Constituição, desde que com pertinência técnica e sem inovação legal. Cumpre lembrar que não se admite a delegação legislativa em branco, ou seja, a lei não poderá atribuir um escopo indefinido de atuação para as agências reguladoras.
Não caberá ao judiciário adentrar em aspectos eminentemente técnicos das agências reguladoras, já que somente poderá verificar se a decisão foi tomada conforme a lei e a Constituição (controle de legalidade e não de mérito). 
Por sua vez, a Agência Nacional de Transporte Aquaviário (ANTAQ) e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) podem ser associadas ao previsto no art. 178, da Constituição.
Art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade.  
Parágrafo único. Na ordenação do transporte aquático, a lei estabelecerá as condições em que o transporte de mercadorias na cabotagem e a navegação interior poderão ser feitos por embarcações estrangeiras. 
Sobre esse tema, vale lembrar que não é possível adotar medida provisória, tendo em vista que a redação conferida ao dispositivo foi realizada pela EC nº 07/95 e, no art. 246 da CF, veda-se a edição de medida provisória cuja redação foi alterada por meio de emenda promulgada entre 1º janeiro de 1995 até a promulgação da EC nº 32/2001. 
· Ponto de doutrina sobre agências reguladoras (Alexandre Mazza, 2022)
A criação das agências reguladoras brasileiras teve uma direta relação com o processo de privatizações e a reforma do Estado iniciados no Brasil na metade dos anos 1990. Inevitável ligar sua origem a uma concepção neoliberal de política econômica voltada a reduzir a participação estatal em diversos setores da economia.
De forma simples, uma agência reguladora pode ser considerada como aquela que tem função de regular uma matéria específica. 
Basicamente, as agências foram introduzidas no direito brasileiro para fiscalizar e controlar a atuação de investidores privados que passaram a exercer as tarefas desempenhadas, antes da privatização, pelo próprio Estado.
A partir de 1995, iniciou-se um processo acelerado de privatizações e reformas estatais, cujo passo inaugural consistiu na promulgação de sucessivas emendas constitucionais abrindo caminho para a implantação do novo modelo. 
As Emendas Constitucionais n. 8/95 e 9/95 são consideradas o marco histórico introdutor das agências reguladoras brasileiras:
1st. Com base no art. 8º da Emenda Constitucionaln. 8/95, o inciso XI do art. 21 da Constituição Federal ganhou a seguinte redação: “Compete à União: (...) XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de órgão regulador e outros aspectos institucionais”.
2nd. Na mesma linha, o inciso III do § 2º do art. 177 da Constituição Federal, com redação dada pelo art. 2º da Emenda Constitucional n. 9/95, prescreve: “A lei a que se refere o § 1º disporá sobre: (...) III – a estrutura e atribuições do órgão regulador do monopólio da União”.
O modelo de agências adotado no Brasil teve forte inspiração em instituições similares existentes em outros países, tais como as agências dos Estados Unidos, as autoridades administrativas independentes na França e os “quasi autonomous non governmental organizations” ou quangos na Inglaterra.
Sempre houve polêmica na doutrina sobre o enquadramento de certas entidades autárquicas no conceito de agências reguladoras. No âmbito federal, porém, a questão foi resolvida na medida em que a nova Lei Geral das Agências Reguladoras, Lei n. 13.848/2019, listou as agências federais existentes, incluindo somente onze entidades:
“Art. 2º Consideram-se agências reguladoras (...)
I – a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel);
II – a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP);
III – a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel);
IV – a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
V – a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS);
VI – a Agência Nacional de Águas (ANA);
VII – a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq);
VIII – a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT);
IX – a Agência Nacional do Cinema (Ancine);
X – a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac);
XI – a Agência Nacional de Mineração (ANM)”.
A saturação do modelo das agências em âmbito federal resultou na “desagencificação” em dois setores. São ex-agências reguladoras:
1) Agência de Desenvolvimento da Amazônia – ADA, criada pela Medida Provisória n. 2.157-5, de 24-8-2001, regulamentada pelo Decreto n. 4.125/2002, foi extinta em 2007 com a criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – Sudam, criada pela Lei Complementar n. 124, de 3-1-2007. Ela tem por finalidade promover o desenvolvimento includente e sustentável da Amazônia Legal. Embora sucessora da ADA, a Sudam não é agência reguladora por faltar aos seus dirigentes o regime jurídico peculiar de estabilidade e mandatos fixos. A Sudam é uma autarquia especial (art. 1º da LC n. 124/2007), mas não uma agência;
2) Agência de Desenvolvimento do Nordeste – Adene. Foi extinta em 2007 com a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – Sudene, criada pela Lei Complementar n. 125, de 3-1-2007. Assim como a Sudam, a Sudene não é mais agência reguladora, mas autarquia especial.
O enquadramento, ou não, de certas entidades como agências reguladoras nem sempre é assunto pacífico na doutrina. Atualmente, o art. 2º da Lei n. 13.848/20199 listou as onze únicas entidades consideradas agências reguladoras federais. A controvérsia, pelo menos em âmbito federal, perdeu parte do sentido. Todavia, seguem abaixo alguns casos que confundem:
1) CVM (Comissão de Valores Mobiliários): é uma autarquia especial constituída como “autoridade administrativa independente”, tendo como características a ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, além de autonomia financeira e orçamentária (art. 5º da Lei n. 6.385/76). Sua função é fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil. Devido à identidade de regime e natureza de suas atribuições, devemos concluir que a CVM é uma agência reguladora, apesar de não se chamar agência;
2) Abin (Agência Brasileira de Inteligência): tem o nome de “agência”, mas é um órgão público sem personalidade jurídica, subordinado à Presidência da República (art. 3º da Lei n. 9.883/99). A função institucional da Abin é oferecer à Presidência conhecimentos relativos à segurança do Estado e da sociedade, como os que envolvem defesa externa, relações exteriores, segurança interna, desenvolvimento socioeconômico e desenvolvimento científico-tecnológico;
3) AEB (Agência Espacial Brasileira): é uma autarquia comum (art. 1º da Lei n. 8.854/94) responsável por formular, coordenar e executar a Política Espacial Brasileira;
4) Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações do Brasil): a Apex-Brasil é um serviço social autônomo, com natureza de pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade pública, criado para promover a execução de políticas de promoção de exportações, em cooperação com o Poder Público, especialmente as que favoreçam as empresas de pequeno porte e a geração de empregos (art. 1º da Lei n. 10.668/2003). Embora chame “agência”, a Apex-Brasil não tem natureza de agência reguladora;
5) ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial): assim como a Apex-Brasil, a ABDI tem natureza jurídica de Serviço Social Autônomo (art. 1º da Lei n. 11.080/2004), sem natureza de agência reguladora, tendo como atribuição promover a execução de políticas de desenvolvimento industrial, especialmente as que contribuam para a geração de empregos, em consonância com as políticas de comércio exterior e de ciência e tecnologia;
6) Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar): criada pela Lei n. 12.154/2009, a Previc é uma autarquia especial vinculada ao Ministério da Previdência Social, competente para atuar na fiscalização e supervisão das atividades das entidades fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar. A Previc não é agência reguladora, mas uma autarquia especial stricto sensu, isso porque seus dirigentes não passam por aprovação do Senado, não são estáveis e nem têm mandatos fixos.
Para ser agência reguladora é indispensável que a entidade tenha natureza de autarquia especial, isto é, com dirigentes estáveis e mandatos fixos. O que importa é a presença de um regime jurídico específico das agências reguladoras, e não necessariamente o nome atribuído pela legislação. 
As agências reguladoras são autarquias com regime especial, possuindo todas as características jurídicas das autarquias comuns, mas delas se diferenciando pela presença de duas peculiaridades em seu regime jurídico:
a) dirigentes estáveis: ao contrário das autarquias comuns, em que os dirigentes ocupam cargos em comissão exoneráveis livremente pelo Poder Executivo, nas agências reguladoras os dirigentes são protegidos contra o desligamento imotivado (art. 9º da Lei n. 9.986/2000). Com a entrada em vigor da Lei n. 13.848/2019, a perda do cargo de direção em uma agência reguladora só pode ocorrer:
I – em caso de renúncia;
II – em caso de condenação judicial transitada em julgado ou de condenação em processo administrativo disciplinar;
III – por infringência de quaisquer das vedações previstas no art. 8º-B da Lei n. 13.848, de 2019.
b) mandatos fixos: diferentemente do que ocorre com as demais autarquias, nas agências reguladoras os dirigentes permanecem na função por prazo determinado, sendo desligados automaticamente após o encerramento do mandato.
Com a nova redação do art. 6º da Lei n. 9.986/2000, alterada pela Lei n. 13.848/2019, o prazo do mandato dos dirigentes das agências foi padronizado em 5 anos.
As agências brasileiras caracterizam-se também por um alto grau de especialização técnica no setor regulado.
Bastante polêmica é a questão da não coincidência dos mandatos de dirigentes das agências com o do Presidente da República que os indicou. Isso faz com que o novo Presidente da República seja obrigado a aceitar a permanência de diretores de agências indicados pelo governo anterior, violando o princípio republicano e desencadeando diversas crises institucionais. Essa não coincidênciade mandatos tem sido apontada como um dos fatores determinantes do atual momento de declínio das agências reguladoras.
COM A APROVAÇÃO DA LEI GERAL DAS AGÊNCIAS REGULADORAS (LEI N. 13.848/2019), PASSOU A SER VEDADA A RECONDUÇÃO DE DIRIGENTES NAS AGÊNCIAS. Antes da lei, a recondução era permitida uma única vez na maioria das agências reguladoras federais.
QUARENTENA: Alguns autores consideram que o regime especial das agências seria composto ainda de uma terceira característica jurídica diferencial: a quarentena. Quarentena é o período de 6 meses, contado da exoneração ou do término do mandato, durante o qual o ex-dirigente fica impedido para o exercício de atividades ou de prestar qualquer serviço no setor regulado pela respectiva agência (art. 8º da Lei n. 9.986/2000, com redação dada pela Lei n. 13.848, de 25-6-2019), sob pena de incorrer na prática do crime de advocacia administrativa.
Durante o período de quarentena, o ex-dirigente ficará vinculado à agência, fazendo jus à remuneração compensatória equivalente à do cargo de direção que exerceu e aos benefícios a ele inerentes (art. 8º, § 2º, da Lei n. 9.986/2000).
O regime jurídico da quarentena nas agências reguladoras brasileiras é marcado pelas seguintes características:
a) temporária: embora a legislação específica possa estabelecer prazo diverso, a regra geral é que a quarentena tem duração de 6 meses. Em todos os casos, porém, trata-se de impedimento temporário, nunca definitivo;
b) remunerada: no Direito brasileiro o ex-dirigente continua recebendo sua remuneração durante o período da quarentena;
c) setorial: a proibição imposta pela quarentena restringe-se ao mercado específico regulado pela agência na qual o ex-dirigente trabalhava. Nada impede, porém, que um ex-dirigente da Agência Nacional de Águas, logo após deixar suas funções, seja imediatamente contratado por empresa de telecomunicações ou energia elétrica, por exemplo;
d) tem a finalidade de evitar a “captura”: o objetivo primordial da quarentena é prevenir a contratação, por empresas privadas, de ex-agentes públicos para defesa de interesses contrários ao interesse público. Tal prática é conhecida como “captura”, prática bastante comum em muitos mercados regulados.
A Lei n. 13.848, de 25 de junho de 2019, criou o Novo Marco das Agências Reguladoras. As mais importantes inovações trazidas pela Lei n. 13.848/2019 foram:
1) lista das onze entidades consideradas como agências reguladoras em âmbito federal (art. 2º);
2) “eliminação” da tutela ministerial nas agências federais (art. 3º);
3) processo decisório adaptado às novas exigências da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) com vistas a assegurar controle social, mais transparência e segurança jurídica em suas decisões (arts. 4º a 13);
4) exigência de ANÁLISE DE IMPACTO REGULATÓRIO (AIR) antes da adoção e propostas de alteração de atos normativos de interesse geral (art. 6º);
5) realização de consulta pública, prévia à tomada de decisão, a respeito de minutas e propostas de alteração em atos normativos de interesse geral (art. 9º);
6) criação de ouvidorias em todas as agências (art. 22);
7) mecanismos de interação entre as agências reguladoras e órgãos de defesa da concorrência, como o Cade (arts. 25 a 28);
8) estímulo à articulação entre as agências federais (arts. 29 e 30);
9) articulação com órgãos de defesa do consumidor e proteção ao meio ambiente, incluindo a possibilidade de edição de atos normativos conjuntos (art. 31);
10) interação com as agências estaduais, distritais e municipais (art. 34);
11) ampliação do prazo de quarentena, que agora é de 6 meses. 
Sem dúvida, entre todas as novidades da Lei n. 13.848/2019 a mais impactante foi promovida por seu art. 3º: “A natureza especial conferida à agência reguladora é caracterizada pela ausência de tutela ou de subordinação hierárquica, pela autonomia funcional, decisória, administrativa e financeira e pela investidura a termo de seus dirigentes e estabilidade durante os mandatos, bem como pelas demais disposições constantes desta Lei ou de leis específicas voltadas à sua Implementação”.
Se aplicado textualmente, o art. 3º da Lei n. 13.848/2019 elimina a supervisão ministerial exercida sobre as agências reguladoras, tornando tais entidades ainda mais autônomas no exercício de suas atividades, entretanto, o controle externo permanece sendo feito pelo Congresso Nacional com auxílio do TCU (art. 14).
Ainda é muito cedo para saber como a doutrina e a jurisprudência vão se posicionar a respeito da polêmica novidade. Em princípio, parece estranho que um simples conceito legislativo tenha o poder de eliminar uma das características fundamentais do regime autárquico, que é sua vinculação ao poder central por meio de tutela realizada pela pasta supervisora.
A Lei n. 9.986/2000, que trata da gestão de recursos humanos das agências federais, determina a obrigatoriedade do sistema diretivo colegiado nas agências. As Diretorias Colegiadas ou Conselho Diretor será composto de até 4 conselheiros ou diretores e um Presidente, diretor-presidente ou diretor-geral, nomeados pelo Presidente da República com aprovação do Senado Federal, caracterizando-se tal forma de investidura como um ato administrativo complexo na medida em que sua prática pressupõe a convergência de duas vontades distintas.
O art. 5º da Lei n. 9.986/2000 determina que os membros das Diretorias Colegiadas serão brasileiros, de reputação ilibada e de notório conhecimento no campo de especialidade. Portanto, resta claro que padece de nulidade a nomeação, por exemplo, de um cardiologista para exercer o cargo de direção em agência reguladora de transportes públicos concedidos.
O Presidente, Diretor-Presidente ou Diretor-Geral e os demais membros do Conselho Diretor ou da Diretoria Colegiada serão brasileiros, indicados pelo Presidente da República e por ele nomeados, após aprovação pelo Senado Federal, devendo ser atendidos um dos requisitos das alíneas “a”, “b” e “c” do inciso I e, cumulativamente, o inciso II:
“I – ter experiência profissional de, no mínimo:
a) 10 (dez) anos, no setor público ou privado, no campo de atividade da agência reguladora ou em área a ela conexa, em função de direção superior; ou
b) 4 (quatro) anos ocupando pelo menos um dos seguintes cargos:
1. cargo de direção ou de chefia superior em empresa no campo de atividade da agência reguladora, entendendo-se como cargo de chefia superior aquele situado nos 2 (dois) níveis hierárquicos não estatutários mais altos da empresa;
2. cargo em comissão ou função de confiança equivalente a DAS-4 ou superior, no setor público;
3. cargo de docente ou de pesquisador no campo de atividade da agência reguladora ou em área conexa; ou
c) 10 (dez) anos de experiência como profissional liberal no campo de atividade da agência reguladora ou em área conexa; e
II – ter formação acadêmica compatível com o cargo para o qual foi indicado”.
Assim como recentemente ocorreu com as empresas estatais, agora, para ser dirigente de agência reguladora, exige-se comprovada experiência na área de atuação da agência e formação acadêmica compatível com o cargo.
Classificação das agências reguladoras: 
1) Quanto à origem, as agências reguladoras podem ser federais, estaduais, distritais ou municipais. 
2) Quanto à atividade preponderante, podem ser:
a) agências de serviço: encarregadas das funções típicas de poder concedente, isto é, fiscalizar e disciplinar a prestação de serviços públicos executados por empresas particulares. Exemplos: Aneel, Anatel, ANTT, Antaq e Anac;
b) agências de polícia: exercem predominantemente a fiscalização sobre o exercício de atividades econômicas. Exemplos: ANS e Anvisa;
c) agências de fomento: criadas para promover o desenvolvimento de setores privados. Exemplo: Ancine;
d) agências do uso de bens públicos: realizam a gestão e o controle sobre o uso de bens públicos. Exemplo: ANA.
3) Quanto à previsão constitucional, as agências podem ser classificadas em:
a) com referência constitucional: é o caso da Anatel (art. 21, XI, da CF) e da ANP(art. 177, § 2º, III, da CF);
b) sem referência constitucional: com exceção da Anatel e da ANP, as demais agências reguladoras não têm previsão determinada diretamente pela Constituição Federal de 1988.
4) Quanto ao momento de criação: essa recente classificação das agências reguladoras federais parte da constatação de quatro períodos históricos relacionados à vida de tais entidades, podendo ser:
a) agências de primeira geração (1996 a 1999): foram instituídas logo após o processo de privatizações, assumindo a função de gerir e fiscalizar setores abertos à iniciativa privada. Exemplos: Anatel, Aneel e ANP;
b) agências de segunda geração (2000 a 2004): a segunda geração de agências brasileiras não possui vinculação direta com a onda de privatizações, sendo caracterizadas pela diversificação nos setores de atuação, como o poder de polícia e o fomento. Exemplos: ANS, ANA, Anvisa, ANTT, Antaq e Ancine;
c) agências de terceira geração (2005 até hoje): o surgimento da Anac permitiu a identificação de uma terceira onda envolvendo a criação de AGÊNCIAS REGULADORAS PLURIPOTENCIÁRIAS, que exercem sobre o setor regulado simultaneamente poder de polícia, fomento e tarefas típicas de poder concedente.
Atualmente, o Brasil passa por uma fase de declínio das agências reguladoras decorrente de fragilidades que a concepção tecnicista neoliberal imprimiu à atuação de tais entidades. Ao mesmo tempo, o surgimento de crises nos setores objeto da atuação de algumas agências, como na aviação civil, desgastou a fórmula de dirigentes estáveis e mandatos fixos.
As agências reguladoras são legalmente dotadas de competência para estabelecer regras disciplinando os respectivos setores de atuação. É o denominado poder normativo das agências. Em julgado mais recente, o STJ reafirmou o poder normativo das agências reguladoras “5. O Plenário do STF reafirmou, no julgamento da ADI 2.095-RS (julgado em 11-10-2019, DJe de 26-11-2019), que ‘o poder normativo atribuído às agências reguladoras deve ser exercitado em conformidade com a ordem constitucional e legal de regência’, razão pela qual os atos normativos exarados pela ANS, além de compatíveis com a Lei n. 9.656/1998 e a Lei n. 9.961/2000, dentre outras leis especiais, devem ter conformidade com a CF/1988 e o CDC, não lhe cabendo inovar a ordem jurídica” (STJ, REsp 1876630-SP, rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 9-3-2021, DJe 11-3-2021).
A título de exemplo, veja o que diz o art. 19 da Lei n. 9.472/97 a respeito das competências normativas da Anatel:
Art. 19. À Agência compete (...):
IV – expedir normas quanto à outorga, prestação e fruição dos serviços de telecomunicações no regime público;
VIII – administrar o espectro de radiofrequências e o uso de órbitas, expedindo as respectivas normas;
X – expedir normas sobre prestação de serviços de telecomunicações no regime privado;
XII – expedir normas e padrões a serem cumpridos pelas prestadoras de serviços de telecomunicações quanto aos equipamentos que utilizarem;
XIV – expedir normas e padrões que assegurem a compatibilidade, a operação integrada e a interconexão entre as redes, abrangendo inclusive os equipamentos terminais.
Tal poder normativo tem sua legitimidade condicionada ao cumprimento do princípio da legalidade, na medida em que os atos normativos expedidos pelas agências ocupam posição de inferioridade em relação à lei dentro da estrutura do ordenamento jurídico.
É fundamental não perder de vista dois limites ao exercício do poder normativo decorrentes do caráter infralegal dessa atribuição:
a) os atos normativos não podem contrariar regras fixadas na legislação ou tratar de temas que não foram objeto de lei anterior;
b) é vedada a edição, pelas agências, de atos administrativos gerais e abstratos.
Teoria da deslegalização (delegificação): desenvolvida no Direito europeu, especialmente na Itália, a teoria da deslegalização ou delegificação defende a possibilidade de o Parlamento rebaixar formalmente o assunto normatizado em uma lei para o nível de regulamento, a fim de que a Administração Pública possa disciplinar com maior liberdade a matéria deslegalizada, inclusive revogando leis anteriores sobre o mesmo tema.
Assim, o objetivo original da deslegalização seria delegar a autoridades administrativas o poder de disciplina normativa sobre matérias de competência do Legislativo.
Argumentos favoráveis à deslegalização, fundamentando um amplo poder normativo conferido às agências reguladoras:
a) as entidades reguladoras são autoridades especializadas na atuação técnica, estando mais capacitadas para disciplinar os mercados regulados do que o legislador;
b) a autonomia qualificada favorece uma normatização menos influenciada por interesses político-partidários;
c) o poder deslegalizado no âmbito da agência aproxima a instância decisória e o cidadão, em benefício de uma mais ampla participação do usuário na gestão pública (reforço de legitimidade), se comparado com as decisões adotadas pelo Legislativo;
d) a Administração Pública tem maiores condições de acompanhar e avaliar a cambiante e complexa realidade econômica e social;
e) a lei deslegalizadora estabelece parâmetros e princípios (standards) a serem seguidos pelo regulamento; que está vinculado aos princípios constitucionais (expressos e implícitos). Por isso, em vez de falar em delegação de poderes, seria mais adequado falar em atribuição de competência pelo legislador ao administrador. O ato normativo das agências atuará dentro dos limites estabelecidos na lei. Ao ente regulador a lei atribui o papel de preencher a moldura com conhecimentos técnicos à luz da realidade em que a lei vai ser aplicada.
Nota-se que nessa deslegalização “à brasileira”, diferente da técnica originalmente concebida na Europa, o Parlamento não rebaixa a competência legislativa em administrativa por meio de ato formal. Pelo contrário, tratar-se-ia de uma larguíssima margem de discricionariedade, transferindo ao ente regulador poderes para normatizar assuntos técnicos que a legislação intencionalmente evitou.
Porém, é importante destacar quais são os limites constitucionais à deslegalização, apontados pelos próprios defensores da teoria:
a) temas que exigem reserva de lei formal (ex.: art. 37, XIX, da CF);
b) assuntos sob reserva de lei complementar (ex.: art. 146, III, da CF);
c) matérias de natureza “nacional” ou “geral”, isto é, que vinculam simultaneamente todas as entidades federativas (ex.: art. 24, § 1º, da CF).
Supervisão ministerial e recursos hierárquicos impróprios: a Advocacia-Geral da União emitiu dois pareceres sobre o controle administrativo da atuação das agências reguladoras federais. No Parecer AGU 51/2006, reconheceu-se a possibilidade de interposição de recurso hierárquico impróprio, dirigido ao ministro da pasta supervisora, contra decisões das agências que inobservarem a adequada compatibilização com as políticas públicas adotadas pelo Presidente da República e os Ministérios que o auxiliam.
No Parecer AGU 4/2006, foram abordados diversos temas relativos à supervisão ministerial sobre as atividades das agências reguladoras federais, especialmente para o fim de admitir a avocação, pelo Presidente da República, de competências regulatórias das agências. 
“PORTO DE SALVADOR. THC2. DECISÃO DA ANTAQ. AGÊNCIA REGULADORA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DE RECURSO HIERÁRQUICO IMPRÓPRIO PELO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES. SUPERVISÃO MINISTERIAL. INSTRUMENTOS. REVISÃO ADMINISTRATIVA. LIMITAÇÕES.
I – O Presidente da República, por motivo relevante de interesse público, poderá avocar e decidir qualquer assunto na esfera da Administração Federal (DL n. 200/67, art. 170).
II – Estão sujeitas à revisão ministerial, de ofício ou por provocação dos interessados, inclusive pela apresentação de recurso hierárquico impróprio, as decisões das agências reguladoras referentes às suas atividades administrativas ou que ultrapassem os limites de suas competências materiais definidas em lei ou regulamento, ou, ainda, violem as políticas públicas definidas para o setor regulado pela Administração direta.III – Excepcionalmente, por ausente o instrumento da revisão administrativa ministerial, não pode ser provido recurso hierárquico impróprio dirigido aos Ministérios supervisores contra as decisões das agências reguladoras adotadas finalisticamente no estrito âmbito de suas competências regulatórias previstas em lei e que estejam adequadas às políticas públicas definidas para o setor.
IV – No caso em análise, a decisão adotada pela ANTAQ deve ser mantida, porque afeta à sua área de competência finalística, sendo incabível, no presente caso, o provimento de recurso hierárquico impróprio para a revisão da decisão da Agência pelo Ministério dos Transportes, restando sem efeito a aprovação ministerial do Parecer CONJUR/MT n. 244/2005.
V – A coordenação das Procuradorias Federais junto às agências reguladoras pelas Consultorias Jurídicas dos Ministérios não se estende às decisões adotadas por essas entidades da Administração indireta quando referentes às competências regulatórias desses entes especificadas em lei, porque, para tanto, decorreria do poder de revisão ministerial, o qual, se excepcionalmente ausente nas circunstâncias esclarecidas precedentemente, afasta também as competências das Consultorias Jurídicas. O mesmo ocorre em relação à vinculação das agências reguladoras aos pareceres ministeriais, não estando elas obrigadas a rever suas decisões para lhes dar cumprimento, de forma também excepcional, desde que nesse mesmo âmbito de sua atuação regulatória.
VI – Havendo disputa entre os Ministérios e as agências reguladoras quanto à fixação de suas competências, ou mesmo divergência de atribuições entre uma agência reguladora e outra entidade da Administração indireta, a questão deve ser submetida à Advocacia-Geral da União.
VII – AS ORIENTAÇÕES NORMATIVAS DA AGU VINCULAM AS AGÊNCIAS REGULADORAS.
VIII – As agências reguladoras devem adotar todas as providências para que, à exceção dos casos previstos em lei, nenhum agente que não integre a carreira de Procurador Federal exerça quaisquer das atribuições previstas no art. 37 da MP n. 2.229-43/2001”.
CUIDADO: cabe salientar que os dois pareceres da AGU acerca da tutela ministerial das agências reguladoras são anteriores à novidade introduzida pelo art. 3º da Lei n. 13.848/2019, segundo o qual a autonomia das agências reguladoras caracteriza-se pela ausência de tutela. 
Art. 3º A natureza especial conferida à agência reguladora é caracterizada pela ausência de tutela ou de subordinação hierárquica, pela autonomia funcional, decisória, administrativa e financeira e pela investidura a termo de seus dirigentes e estabilidade durante os mandatos, bem como pelas demais disposições constantes desta Lei ou de leis específicas voltadas à sua implementação. 
A novidade legislativa é ainda muito recente, sendo necessário aguardar se a AGU manterá seu entendimento exarado nos citados pareceres ou seguirá outra orientação.
1.3. Direito Concorrencial – Lei antitruste 
O direito da concorrência, de maneira estruturada, corresponde ao conjunto de regras e instituições destinadas a apurar e reprimir as diferentes formas de abuso de poder econômico e a promover a defesa da livre concorrência.
Logo, serão aquelas normas que possuem tanto um viés repressivo em relação às condutas que violem a livre concorrência quanto um viés de incentivar a livre concorrência. Sendo que tais normas buscam proteger todo o ciclo econômico: produção, circulação e consumo.
 
· Objetivos das leis antitrustes
Pode-se distinguir, basicamente, duas grandes escolas no que diz respeito ao direito da concorrência: Escola de Harvard - também conhecida como estruturalista - e Escola de Chicago - de viés liberal.
A Escola de Harvard defende que o ideal é a existência de vários agentes econômicos, de modo que a estrutura de mercado seja a mais pulverizada possível ("small is beautiful"). Tem como objetivo a existência de efetiva concorrência. Por meio do pensamento dessa escola, busca-se tutelar também os consumidores.
A Escola de Chicago, por sua vez, possui viés mais liberal, que pretende repelir a regulamentação estatal com a acepção de que o direito apenas atrapalha e que o mercado, por si só, garantirá uma eficiência alocativa. Este é o fator que deve ser observado pelo direito da concorrência: a eficiência alocativa do mercado, ou seja, se as empresas estão distribuídas de forma a garantir o máximo de produção.
As concentrações, nesse sentido, serão admitidas se houver eficiência e ganhos aos consumidores. Com esse viés liberal, a Escola de Chicago prevê que o fundamento do direito é a própria economia, de modo que o direito dissociado da economia somente atrapalharia.
A concorrência brasileira não será um fim em si mesma, de modo que não são proibidas práticas anticompetitivas somente para tutelar o mercado, mas sim para corresponder a uma concorrência-instrumento, a qual será um meio para se atingir os próprios objetivos da ordem econômica. 
O art. 170, IV, CF menciona o princípio da ordem econômica, e o art. 173, §4º, CF, traz o viés repressivo da tutela da concorrência brasileira, prevendo que: § 4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
O parágrafo quinto traz tanto a responsabilização da pessoa jurídica como dos indivíduos.
CF, Art. 173, § 5º. A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
Verifica-se, portanto, que a responsabilidade das pessoas jurídicas será do ponto de vista administrativo, e a dos dirigentes poderá ser administrativa e criminal, por meio da Lei 8.137/90.
ATENÇÃO: A responsabilização da pessoa jurídica, nesse caso, será apenas no âmbito administrativo, diferente do que ocorre na responsabilidade ambiental.
· Histórico legislativo brasileiro
As primeiras leis antitruste brasileiras derivaram da CF/34, primeira CF em que houve um capítulo sobre ordem econômica, e da CF/37, conhecida como polaca, de inspiração fascista e que previa a proteção à economia popular.
Nesse sentido, adveio o DL 869/38 com a ideia de proteção ao consumidor.
O DL 7.666/45, conhecido como Lei Malaia, trouxe uma maior sistematização de caráter administrativo e introduziu o embrião do que viria ser o CADE, na época: Comissão Administrativa da Defesa Econômica.
A CF/46 representa uma nova fase para o direito da concorrência, prevendo a finalidade dos atos anticoncorrenciais e o controle posterior do CADE, ou seja, havia uma organização societária e depois o CADE a controlaria.
Nos anos 90, surge a Lei dos crimes contra a ordem econômica (Lei 8.137/90).
Posteriormente, criou-se a Lei que previu a Secretaria Nacional de Direito Econômico (Lei 8.158/94), estruturando melhor o sistema. Essa lei foi revogada pela Lei 8.884/94, que trouxe competências expressas para os órgãos como o CADE, a SDE e a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), estruturando melhor o sistema e elevando o CADE ao status de autarquia federal.
Hoje, no entanto, a Lei 8.884/94 não está mais vigente, tendo sido revogada pela Lei 12.529/11, que trouxe grandes mudanças, reestruturando o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) e estabelecendo a análise prévia dos atos de concentração. Sendo assim, em certas organizações societárias, as partes envolvidas devem, primeiramente, pedir autorização do CADE.
A) Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC)
Lei nº 12.529/2011:
Art. 1º Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência - SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico.
Parágrafo único. A coletividade é a titular dos bens jurídicos protegidos poresta Lei.
O escopo da lei é muito maior que apenas a defesa do livre mercado, visto que possui dupla finalidade, tanto de proteção dos concorrentes contra a concorrência desleal, como de proteção da coletividade contra os excessos da concorrência. Dessa forma, o bem jurídico protegido é o mercado que, de modo imediato, tutela a concorrência e, de maneira subsidiária, tutela a coletividade.
Com o advento da Lei nº 12.529/2011, a estrutura do SBDC é composta pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a SEAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda).
Lei nº 12.529/2011.
Art. 3º O SBDC é formado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, com as atribuições previstas nesta Lei.
A.1) Secretaria de Acompanhamento Econômico
Art. 19. Compete à Secretaria de Acompanhamento Econômico promover a concorrência em órgãos de governo e perante a sociedade cabendo-lhe, especialmente, o seguinte:
I - opinar, nos aspectos referentes à promoção da concorrência, sobre propostas de alterações de atos normativos de interesse geral dos agentes econômicos, de consumidores ou usuários dos serviços prestados submetidos a consulta pública pelas agências reguladoras e, quando entender pertinente, sobre os pedidos de revisão de tarifas e as minutas;
II - opinar, quando considerar pertinente, sobre minutas de atos normativos elaborados por qualquer entidade pública ou privada submetidos à consulta pública, nos aspectos referentes à promoção da concorrência;
III - opinar, quando considerar pertinente, sobre proposições legislativas em tramitação no Congresso Nacional, nos aspectos referentes à promoção da concorrência;
IV - elaborar estudos avaliando a situação concorrencial de setores específicos da atividade econômica nacional, de ofício ou quando solicitada pelo Cade, pela Câmara de Comércio Exterior ou pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça ou órgão que vier a sucedê-lo;
V - elaborar estudos setoriais que sirvam de insumo para a participação do Ministério da Fazenda na formulação de políticas públicas setoriais nos fóruns em que este Ministério tem assento;
VI - propor a revisão de leis, regulamentos e outros atos normativos da administração pública federal, estadual, municipal e do Distrito Federal que afetem ou possam afetar a concorrência nos diversos setores econômicos do País;
VII - manifestar-se, de ofício ou quando solicitada, a respeito do impacto concorrencial de medidas em discussão no âmbito de fóruns negociadores relativos às atividades de alteração tarifária, ao acesso a mercados e à defesa comercial, ressalvadas as competências dos órgãos envolvidos;
VIII - encaminhar ao órgão competente representação para que este, a seu critério, adote as medidas legais cabíveis, sempre que for identificado ato normativo que tenha caráter anticompetitivo.
§ 1º Para o cumprimento de suas atribuições, a Secretaria de Acompanhamento Econômico poderá:
I - requisitar informações e documentos de quaisquer pessoas, órgãos, autoridades e entidades, públicas ou privadas, mantendo o sigilo legal quando for o caso;
II - celebrar acordos e convênios com órgãos ou entidades públicas ou privadas, federais, estaduais, municipais, do Distrito Federal e dos Territórios para avaliar e/ou sugerir medidas relacionadas à promoção da concorrência.
(...)
A.2) CADE
Inicialmente, deve-se verificar que a natureza jurídica do CADE é de uma autarquia federal, com gestão administrativa e financeira descentralizada, autonomia, estrutura patrimonial (arts. 4º a 19), organização administrativa; organização patrimonial e financeira (arts. 21 a 30). Outrossim, é vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
No art. 4º da Lei nº 12.529/2011, há a menção de que o CADE é entidade judicante com jurisdição em todo o território nacional. No entanto, os termos são utilizados de modo equivocado, posto que, de fato, o Conselho possui atribuições decisórias que abrangem todo o território nacional, mas não constitui órgão jurisdicional. 
Art. 4º O Cade é entidade judicante com jurisdição em todo o território nacional, que se constitui em autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, e competências previstas nesta Lei.
Adiante, o art. 5º prevê a estrutura do CADE em 3 órgãos: o Tribunal Administrativo de Defesa Econômica (TADE - arts. 6º a 11), que constitui órgão judicante; a Superintendência-Geral (arts. 12 a 14), que constitui órgão executivo de monitoramento de mercado dotado de função investigativa; e o Departamento de Estudos Econômicos (arts. 17 e 18), que corresponde ao órgão de assessoramento técnico em matéria econômica.
Art. 5º O Cade é constituído pelos seguintes órgãos:
I - Tribunal Administrativo de Defesa Econômica;
II - Superintendência-Geral; e
III - Departamento de Estudos Econômicos.
A.2.1) Tribunal Administrativo de Defesa Econômica
Art. 6º O Tribunal Administrativo, órgão judicante, tem como membros um Presidente e seis Conselheiros escolhidos dentre cidadãos com mais de 30 (trinta) anos de idade, de notório saber jurídico ou econômico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovados pelo Senado Federal.
§ 1º O mandato do Presidente e dos Conselheiros é de 4 (quatro) anos, não coincidentes, vedada a recondução.
§ 2º Os cargos de Presidente e de Conselheiro são de dedicação exclusiva, não se admitindo qualquer acumulação, salvo as constitucionalmente permitidas.
§ 3º No caso de renúncia, morte, impedimento, falta ou perda de mandato do Presidente do Tribunal, assumirá o Conselheiro mais antigo no cargo ou o mais idoso, nessa ordem, até nova nomeação, sem prejuízo de suas atribuições.
§ 4º No caso de renúncia, morte ou perda de mandato de Conselheiro, proceder-se-á a nova nomeação, para completar o mandato do substituído.
§ 5º Se, nas hipóteses previstas no § 4o deste artigo, ou no caso de encerramento de mandato dos Conselheiros, a composição do Tribunal ficar reduzida a número inferior ao estabelecido no § 1º do art. 9º desta Lei, considerar-se-ão automaticamente suspensos os prazos previstos nesta Lei, e suspensa a tramitação de processos, continuando-se a contagem imediatamente após a recomposição do quórum.
Art. 7º A perda de mandato do Presidente ou dos Conselheiros do Cade só poderá ocorrer em virtude de decisão do Senado Federal, por provocação do Presidente da República, ou em razão de condenação penal irrecorrível por crime doloso, ou de processo disciplinar de conformidade com o que prevê a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, e por infringência de quaisquer das vedações previstas no art. 8º desta Lei.
Parágrafo único. Também perderá o mandato, automaticamente, o membro do Tribunal que faltar a 3 (três) reuniões ordinárias consecutivas, ou 20 (vinte) intercaladas, ressalvados os afastamentos temporários autorizados pelo Plenário.
Art. 8º Ao Presidente e aos Conselheiros é vedado:
I - receber, a qualquer título, e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas;
II - exercer profissão liberal;
III - participar, na forma de controlador, diretor, administrador, gerente, preposto ou mandatário, de sociedade civil, comercial ou empresas de qualquer espécie;
IV - emitir parecer sobre matéria de sua especialização, ainda que em tese, ou funcionar como consultor de qualquer tipo de empresa;
V - manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos, em obras técnicas ou no exercício do magistério; e
VI - exercer atividade político-partidária.
§ 1º É vedado ao Presidente e aos Conselheiros, por um período de 120 (cento e vinte) dias, contado da data em que deixar o cargo, representar qualquer pessoa, física ou jurídica, ou interesse perante o SBDC, ressalvada a defesa de direito próprio.
§ 2º Durante

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