Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
W BA 09 88 _V 1. 1 TRIBUTAÇÃO SOBRE O CONSUMO E O LUCRO 2 João Paulo Carniato Genta São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 TRIBUTAÇÃO SOBRE O CONSUMO E O LUCRO 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Camila Carniato Genta Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Genta, João Paulo Carniato G337t Tributação sobre o consumo e o lucro / João Paulo Carniato Genta. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 44 p. ISBN 978-65-5356-079-6 1. Classificação dos tributos. 2. Imposto sobre produtos industrializados (IPI). 3. Regra matriz de incidência tributária. I. Título. CDD 339.5 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289 © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados _______________ 05 ISS – Imposto sobre serviços ________________________________ 21 ICMS – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços _ 36 IR – Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, e CSLL – Contribuição sobre o Lucro Líquido ________________ 52 TRIBUTAÇÃO SOBRE O CONSUMO E O LUCRO 5 IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados Autoria: João Paulo Carniato Genta Leitura crítica: Camila Carniato Genta Objetivos • Compreender o que são tributos indiretos e diretos, bem como os tributos regressivos e progressivos. • Conhecer a regra-matriz de incidência tributária para o estudo do fenômeno jurídico-tributário. • Entender o conceito e os elementos do IPI, imposto que incide sobre produtos industrializados. 6 1. Conceito de tributos indiretos e diretos De acordo com o art. 3º do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/1966), tributo é “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. Analisando o conceito mencionado anteriormente, verifica-se que os tributos se trata de uma obrigação legal do contribuinte, que deve ser paga em dinheiro ao ente público titular do direito de exigir o seu cumprimento. A princípio, sabe-se que os tributos são classificados em diferentes tipos: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições especiais (parafiscais) e empréstimos compulsórios. Entretanto, também se diferenciam por um outro requisito, chamado de segregação, que distingue os tributos entre indiretos e diretos. Os tributos indiretos são aqueles que incidem sobre o produto/serviço consumido e não sobre a renda de uma pessoa, seja ela física ou jurídica. Além disso, os tributos indiretos ainda podem ser recolhidos por um terceiro, que é diferente daquele que produz a mercadoria/ serviço. O IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e o ISS (Imposto sobre Serviços) são tributos considerados indiretos, pois são cobrados pelo ente tributante daquele que produz/comercializa a mercadoria/serviço. Contudo, o valor do tributo poderá ser recolhido pelo comprador do produto/serviço, considerado o contribuinte de fato. Desse modo, em muitos casos, o tributo é pago pelo consumidor final e não pela empresa 7 que executou o produto/serviço, que, por sua vez, será apenas uma intermediária de tais impostos. Quanto aos tributos diretos, eles recaem sobre a renda de uma pessoa (física ou jurídica), de modo que quando maior a renda, maior o valor do tributo a ser recolhido. Além disso, no caso dos tributos diretos, o contribuinte de fato e o de direito são a mesma pessoa. Logo, não há a possibilidade de se transferir a obrigação tributária a um terceiro. Como exemplos de tributos diretos temos o IR (Imposto de Renda) e a CSLL (Contribuição sobre o Lucro Líquido). 2. Tributos regressivos e progressivos Além de indiretos e direitos, os tributos também podem ser classificados como regressivos e progressivos. Os tributos regressivos são considerados aqueles cuja alíquota diminui à medida em que os valores sobre os quais eles incidem são maiores. Nesse sentido, quanto maior o valor a ser tributado, menor será a alíquota aplicada. Geralmente, os tributos regressivos incidem sobre o consumo, assim, acabam por atingir a população geral, uma vez que todos consomem produtos ou serviços e todos, independentemente da renda ou do patrimônio, recolherão tais tributos. A regressividade, segundo Sabbag (2021, p. 14), “é característica dos impostos indiretos, os quais são exigidos pelo mesmo valor de todos os indivíduos, independentemente dos níveis de renda individuais”. Os tributos progressivos, por sua vez, possuem alíquotas que aumentam conforme crescem os valores tributados, desse modo, são mais onerosos para aqueles que possuem maior capacidade contributiva, como explica Paulsen (2020, p. 162): 8 Mas há tributos para os quais a Constituição determina a utilização de alíquotas progressivas, de modo que os contribuintes estejam sujeitos a percentuais diferentes conforme suas revelações de capacidade contributiva. Isso faz com que contribuintes que revelam maior riqueza suportem carga tributária progressivamente maior, ou seja, que transfiram aos cofres públicos percentuais maiores das suas riquezas, porquanto têm maior disponibilidade para tanto. O IRPF (Imposto de Renda sobre Pessoa Física) é um exemplo de tributo progressivo, cujas alíquotas aumentam conforme a renda do contribuinte cresce, havendo ainda uma faixa de isenção para aqueles que ganham menos que R$ R$ 1.903,98 (um mil novecentos e três reais e noventa e oito centavos) por mês. 3. Regra-matriz de incidência tributária Para compreender cada espécie de tributo, seus aspectos e suas características, é indispensável conhecer a regra-matriz de incidência tributária, método criado pelo doutrinador Paulo de Barros Carvalho para a compreensão do fenômeno jurídico-tributário, como explica Schoueri (2021, p. 288): Esse fenômeno foi estudado por Paulo de Barros Carvalho, que cunhou a expressão “regra matriz de incidência tributária”, buscando captar, num só momento, a hipótese e a relação jurídico -tributária que dali se instaura26. A regra matriz é apresentada como um método, um recurso para a compreensão do fenômeno jurídico -tributário. Partindo da premissa segundo a qual toda norma jurídica tem estrutura lógica de um juízo hipotético, ao qual é ligada uma consequência jurídica, quando acontecido o fato precedente, chega -se ao esquema proposto. Na estruturação da regra matriz existe o momento antecedente, no qual se descreve o fato jurídico-tributário por meio dos critérios: material (o 9 que ocorreu), temporal (quando ocorreu) e espacial (onde ocorreu); e o momento consequente, que prescrevea obrigação tributária e o seu responsável pelo seu cumprimento, por meio dos critérios subjetivo (quem praticou) e quantitativo (quanto deve ser pago). Figura 1 – Organograma RMIT Fonte: elaborada pelo autor. O critério material se refere ao comportamento da pessoa física ou jurídica que, se praticado, gerará a obrigação de pagar um tributo. O referido comportamento pode ser identificado quando se observa o verbo e o complemento que o descrevem, por exemplo: quando alguém aufere (verbo) renda (complemento), o tributo correspondente a tal comportamento é o Imposto de Renda. O critério temporal se trata do momento em que a hipótese de incidência contida na lei se materializa, tornando-se o fato gerador do tributo. Já o critério espacial corresponde ao local em que o comportamento descrito ocorreu. 10 Com relação ao critério subjetivo, ele indica quem são os sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária, isto é, o ente competente para a instituição do tributo e a pessoa obrigada ao recolhimento dele. O último critério é o quantitativo, que apontará o valor a ser pago, por meio da observância de dois pontos, a base de cálculo e a alíquota adotada para a apuração do tributo. Tendo em vista que a regra matriz de incidência tributária traz os elementos que são essenciais para a norma tributária, a compreensão dos seus momentos e dos seus critérios permite a assimilação de cada tributo. 4. IPI O primeiro tributo a ser estudado é o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado), tributo indireto e regressivo, que incide sobre produtos industrializados, nacionais e estrangeiros, e alcança todos os produtos com alíquota, ainda que zero, relacionados na Tabela de Incidência do IPI (TIPI), com exceção da daqueles marcados com a notação “NT” (não-tributado). O IPI tem como base legal o art. 153, inciso IV, da Constituição Federal, que concede à União a criação do referido tributo, bem como os arts. 46 a 51 do Código Tributário Nacional, lei federal que o instituiu e especificou seus elementos. Atualmente, a cobrança do IPI é regulamentada pelo Decreto nº 7.212/2010 (RIPI/2010). 5. O IPI e os princípios constitucionais tributários É a Constituição Federal que confere aos entes tributantes (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) a competência tributária, que 11 é o poder de instituir tributos específicos em seu território. Contudo, referida competência é restringida por limitações ao poder de tributar (princípios constitucionais e imunidades tributárias), que devem ser observadas pelos entes tributantes na criação de suas normas tributárias infraconstituicionais (PÊGAS, 2017). Os mais importantes princípios constitucionais que regem a legislação tributária referente ao IPI são: a legalidade, a anterioridade, a seletividade e a não cumulatividade, havendo outros princípios constitucionais tributários que também norteiam as normas que regulamentam o IPI, como a capacidade contributiva e a isonomia. No quadro a seguir temos os conceitos e a aplicação dos princípios constitucionais às normas tributárias que disciplinam o IPI: Quadro 1 – Princípios constitucionais tributários PRINCÍPIOS CONCEITO/APLICAÇÃO Legalidade A Constituição Federal, no art. 150, inc. I, dispõe que é vedada à União exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Entretanto, no art. 153, § 1º, a Constituição Federal permite que o Poder Executivo, observadas as condições e os limites estabelecidos em lei, altere as alíquotas do IPI e de outros tributos de caráter extrafiscal. Assim, verifica- se que, com relação ao IPI, o princípio da legalidade foi mitigado/relativizado pela própria Constituição Federal, uma vez que ela permitiu a alteração de alíquotas por meio de ato do Poder Executivo (Decreto) e não apenas por lei. Anterioridade e a regra da noventena A definição clássica do princípio da anterioridade (art. 150, inc. III, alínea b, da CF/88) proíbe a União de cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. No caso do IPI, não é a definição clássica que se observa, mas a regra da noventena descrita posteriormente (alínea c, do inc. III do art. 150 da CF/88), que determina que qualquer aumento na base de cálculo ou na alíquota, deverá esperar 90 dias para entrar em vigor. 12 Seletividade O princípio da seletividade, segundo o art. 153, § 3º, inc. I, da CF/88, determina que, quanto mais essencial o produto, menos oneroso deverá ser o tributo que sobre ele recai. Por causa disso, as alíquotas do IPI possuem grande variação, conforme a essencialidade do produto. Não Cumulatividade O princípio da não cumulatividade, previsto pelo art. 153, § 3º, inc. II, da CF/88, evita a ocorrência do chamado efeito cascata, e aplica-se ao IPI para que seja compensado o tributo devido em cada operação com o montante dos tributos cobrados nas anteriores. Fonte: elaborado pelo autor. 6. Conceito de industrialização Segundo o art. 3º do referido Decreto nº 7.212/2010, “Produto industrializado é o resultante de qualquer operação definida neste Regulamento como industrialização, mesmo incompleta, parcial ou intermediária.” Desse modo, para que seja considerado industrializado, o produto deve ter passado por pelo menos uma das operações relacionadas no art. 4º do aludido decreto, dispositivo de lei que traz o conceito de industrialização e as operações assim consideradas: Art. 4º. Caracteriza industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como (Lei nº 5.172, de 1966, art. 46, parágrafo único, e Lei nº 4.502, de 1964, art. 3º, parágrafo único): I. a que, exercida sobre matérias-primas ou produtos intermediários, importe na obtenção de espécie nova (transformação); 13 II. a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o acabamento ou a aparência do produto (beneficiamento); III. a que consista na reunião de produtos, peças ou partes e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal (montagem); IV. a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento); ou V. a que, exercida sobre produto usado ou parte remanescente de produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produto para utilização (renovação ou recondicionamento). Parágrafo único. São irrelevantes, para caracterizar a operação como industrialização, o processo utilizado para obtenção do produto e a localização e condições das instalações ou equipamentos empregados. Como visto, a industrialização é conceituada como um processo que altera a natureza, o acabamento, o funcionamento, a apresentação do produto ou que o aperfeiçoe para consumo. Assim, as principais operações de industrialização são o beneficiamento, a montagem, a transformação, o acondicionamento e a renovação, cujos conceitos se encontram descritos no quadro a seguir. Quadro 2 – Operações de industrialização OPERAÇÃO CONCEITO Beneficiamento Modificação, aperfeiçoamento ou alteração de funcionamento, de utilização, do acabamento ou da aparência do produto. O beneficiamento visa apenas melhoramento do produto, uma vez que conserva sua classificação fiscal original. Ex.: colocação do terceiro eixo (truck) em veículos de carga. 14 Montagem Junção de produtos, peças ou partes de que tenha como resultado um novo produto, que pode possuir a mesma classificação fiscal. Na montagem, o produto ainda poderá ser classificado de forma autônoma. Ex.: junção de peças para formar uma cadeira. Transformação Operação exercida sobre matéria-prima ou produto intermediário, que implica criação de uma nova espécie. Por causa disso,em regra, a transformação altera a classificação fiscal do produto. Ex.: operação pela qual se transforma vários tipos de argilas em tijolos. Acondicionamento ou Reacondicionamento Operação por meio da qual se altera a apresentação do produto, pela colocação dele em embalagem. Quando a embalagem colocada for apenas para o transporte do produto, não se trata de acondicionamento ou reacondicionamento. Renovação ou Restauração ou Recondicionamento Operação aplicada sobre produtos usados com o fim de renová-los ou restaurá-los. Ex.: produtos fabricados a partir da reciclagem de latas de alumínio. Fonte: elaborado pelo autor. É importante ressaltar que, para fins de incidência do IPI, as operações listadas serão consideradas industrialização somente quando resultarem produtos tributados, ainda que isentos ou com alíquota zero. Se tais operações produzirem mercadorias não tributadas, não serão tidas como industrialização. 7. Competência e fato gerador O IPI é um tributo de competência da União (art. 153, inciso IV da CF/88), portanto federal, que incide sobre os produtos industrializados 15 nacionais e estrangeiros. Segundo o art. 46 do Código Tributário Nacional, o IPI tem como fato gerador: o desembaraço aduaneiro do produto, quando de procedência estrangeira; a sua saída dos estabelecimentos industriais ou equiparados; e a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão. 8. Base de cálculo A base do cálculo do IPI, para produtos nacionais, é o valor total da operação quando a mercadoria deixa o estabelecimento do industrial ou do comerciante que a ele se equipara, em uma negociação de compra e venda. No caso de produtos importados, a base de cálculo do IPI é acrescida, ainda, do valor do II (Imposto sobre Importação) e das despesas aduaneiras que foram efetivamente pagas para o desembaraço das mercadorias. No caso dos produtos arrematados em leilão, a base de cálculo será o próprio preço da arrematação, segundo o art. 47, III, Código Tributário Nacional (SABBAG, 2021). 9. Alíquotas As alíquotas do IPI variam conforme o produto e se encontram descritas na Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI), aprovada pelo Decreto nº 7.660/2011 e suas alterações legislativas. As alíquotas do IPI, que devem ser fixadas com base no princípio da seletividade, ou seja, em razão inversa de imprescindibilidade dos produtos de consumo generalizado, são aquelas previstas na tabela de incidência do IPI, denominada TIPI (Tabela de IPI), que tem por base a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), que passa a constituir 16 a nova Nomenclatura Brasileira de Mercadorias, baseada no Sistema Harmonizado (NBM/SH). (PÊGAS, 2017, p. 173) A TIPI, por sua vez, é dividida em 21 Seções, 97 Capítulos, Posições e Subposições e baseia-se na Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), fundada no Sistema Harmonizado (NCM/SH). As Seções da TIPI são ordenadas de forma crescente, de acordo com a complexidade dos produtos. Ressalta-se que, o enquadramento da mercadoria é de responsabilidade do sujeito passivo, que deverá observar as regras contidas na referida tabela para proceder à classificação de forma correta (IBID, 2017). A título de exemplo, verifica-se que, segundo a TIPI, é de 15% a alíquota para flores, folhagem e frutos, artificiais, sejam de plástico ou de outro material. Já para tijolos, placas (lajes), ladrilhos e outras peças cerâmicas de farinhas siliciosas fósseis (por exemplo, kieselguhr, tripolita, diatomita) ou de terras siliciosas semelhantes, a alíquota aplicada é de 8%. 10. Contribuinte O contribuinte responsável pelo IPI é o estabelecimento industrial, definido como aquele que executa qualquer operação de industrialização. Também deverão recolher o IPI aqueles estabelecimentos que, mesmo não realizando operação de industrialização, equiparam-se ao industrial, como: importadores, exceto quando negociarem apenas no varejo e filiais de estabelecimento industrial quando realizam a venda de seus produtos. Contudo, por se tratar de um tributo indireto, o pagamento do IPI acaba por ser transferido ao consumidor do produto industrializado, que será, então, o contribuinte, como explica Pêgas (2017, p. 173): 17 O IPI é acrescido ao preço e cobrado do consumidor. Portanto, o imposto a este pertence. Já o fabricante ou comerciante a ele equiparado não suporta o ônus financeiro do tributo, tendo apenas a obrigação de calcular, cobrar do consumidor, que é o contribuinte de fato, e fazer o recolhimento da parcela devida para a Secretaria da Receita Federal. Assim, verifica-se que o industrial (contribuinte responsável) calcula o IPI, que é acrescido ao preço do produto, e via de consequência, recolhido pelo consumidor (contribuinte de fato). 11. Imunidade e isenção Alguns produtos são imunes à incidência do IPI, em decorrência de disposição constitucional, regulamentada pelo art. 18 do Decreto nº 7.212/2010. Assim, os seguintes produtos estão protegidos da incidência do IPI: • Livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. • Produtos industrializados destinados ao exterior. • Ouro, quando previsto legalmente como ativo financeiro ou instrumento cambial. • Energia elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país. A isenção, diferentemente da imunidade, que impede a incidência de um tributo sobre determinada mercadoria, refere-se à dispensa de pagamento do tributo, em virtude de lei. Embora exista a obrigação de recolher o tributo, por meio da isenção, libera-se aquele que tem o dever de cumpri-la. 18 Em regra, isenções estão relacionadas com o produto e não com o contribuinte. Além disso, elas podem ser aplicáveis somente a uma parte do território que compete ao ente tributante. É importante ressaltar, ainda, que a isenção concedida pode ser revogada ou alterada por lei, a qualquer momento. Existem muitas situações de isenção de IPI, conforme disciplina o RIPI, a título de exemplo, cita-se a isenção conferida aos produtos industrializados da Zona Franca de Manaus, que se encontra descrita a partir do art. 81 do RIPI. 12. Crédito do imposto e insumo O contribuinte (estabelecimentos industriais e equiparados a indústria) tem o direito de se creditar do IPI anteriormente cobrado na compra de insumos, que são a matéria-prima (seja ela vegetal, animal ou mineral), o material de embalagem e produtos intermediários (ex.: produtos químicos e componentes eletrônicos) utilizados nas operações de industrialização de produtos tributados destinados à venda. Para conseguir creditar do IPI cobrado na aquisição dos insumos, o contribuinte deve observar os procedimentos legais exigidos para tanto, cumprindo, inclusive, obrigações contábeis específicas. Em regra, destaca-se que os estabelecimentos industriais e equiparados a indústria poderão se apropriar do crédito do IPI apenas quando suas saídas também forem tributadas pelo mesmo imposto, de modo que, se a saída for isenta, não tributada ou com alíquota reduzida/zero, o crédito obtido pela entrada será anulado e estornado. Há casos específicos em que a lei autoriza a manutenção do crédito obtido na entrada, embora a saída não seja tributada, quando a finalidade é de conceder um incentivo fiscal. 19 Por último, é importante lembrar que a aquisição de produtos da indústria para a revenda, não dá direito ao crédito do imposto pago e destacado na Nota Fiscal. 13. Formas de Apuração A Tabela de Incidência do IPI (TIPI), aprovada pelo Decreto nº 8.950/2016, estabelece as alíquotas que incidem sobre os produtos tributados pelo IPI, os produtos com alíquota zero, bem como os produtos não tributados. No caso dos produtos com incidência de IPI, as alíquotas poderão ser específicas (com valor fixo para cada unidade de um bem) ou ad valorem (com percentual fixado por lei, aplicado sobre a base de cálculo do tributo). Quando se tratar de alíquota específica, o valor do tributo será apuradopela aplicação da alíquota determinada por lei, sobre uma unidade quantificação da mercadoria tributada, que pode ser medida pelo seu peso, volume etc. No caso da alíquota ad valorem, que é a mais comum, o valor do imposto será calculado mediante a aplicação da alíquota sobre o valor do produto, constante da Nota Fiscal. 14. Contabilização Tendo em vista que o recolhimento do IPI é feito pelo consumidor do produto industrializado, que é o contribuinte de fato, o referido imposto não onera o estabelecimento industrial que o produz, uma vez que é acrescido ao valor da mercadoria e cobrado do cliente. 20 Sendo assim, na Nota Fiscal, o IPI poderá ser registrado como despesas ou como parcela a recolher. Nesse último caso, que é o mais adequado, a receita registrada será o valor efetivamente ganho, desconsiderado o IPI gerado na venda do produto (PÊGAS, 2017). Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília, DF: Presidência da República, 1966. BRASIL. Decreto nº 7.212, de 15 de junho de 2010. Aprova o Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Brasília, DF: Presidência da República, 2010. BRASIL. Decreto nº 8.950, de 29 de dezembro de 2016. Aprova a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados–TIPI. Brasília, DF: Presidência da República, 2016. PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário completo. 11. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. [Minha Biblioteca]. PÊGAS, Paulo Henrique. Manual de contabilidade tributária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017. [Minha Biblioteca]. SABBAG, Eduardo. Direito tributário essencial. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. [Minha Biblioteca]. SCHOUERI, Luis Eduardo. Direito tributário. 10. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. [Minha Biblioteca]. 21 ISS – Imposto sobre serviços Autoria: João Paulo Carniato Genta Leitura crítica: Camila Carniato Genta Objetivos • Conhecer o conceito do Imposto sobre Serviços, bem como a legislação que o regulamenta. • Verificar de qual ente é a competência para instituir o Imposto sobre Serviços (ISS), bem como seu fato gerador, base de cálculo e alíquota. • Compreender quem é o contribuinte do Imposto sobre Serviços e qual o local da sua incidência e de recolhimento. 22 1. ISS e a Lei Complementar 116/03 O ISS (Imposto sobre Serviços), também denominado de ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza), é um tributo cuja cobrança é instituída pelos Municípios e do Distrito Federal, de acordo com o art. 156, inciso III, da Constituição Federal. Esse referido tributo é regulamentado, de maneira geral, pela Lei Complementar nº 116/2003 (e alterações trazidas pela Lei Complementar nº 157/2016), contudo, sua cobrança também é regida por leis municipais, as quais são editadas por cada um dos Municípios da unidade Federativa do Brasil, incluindo o Distrito Federal. No entanto, para que os Municípios possam cobrar o ISS dos prestadores de serviços, devem instituí-lo por meio de lei ordinária própria, que poderá adotar todos os itens da Lista de Serviços anexa à lei complementar, ou alguns deles, sendo-lhes, porém, proibido criar serviços não previstos na norma complementar. (SABBAG, 2021, p. 271) O ISS incide sobre os serviços prestados por empresas ou por profissionais autônomos (independentemente de possuir ou não estabelecimento fixo) e quando tais serviços não forem objeto da tributação estadual. Atualmente, o ISS é considerado um imposto sobre consumo ou sobre a circulação econômica que tem como objeto a prestação dos serviços constantes na lista estabelecida pela Lei Complementar nº 116/2003, com alterações da Lei nº 157/2016. A referida lista de serviços anexa à Lei Complementar nº 116/2003 possui um rol taxativo, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, o qual “autoriza uma interpretação analógica para os itens que contêm a expressão “congêneres”, sem que se faça o extrapolamento da acepção do termo, evitando-se a criação de serviços (SABBAG, 2021, p. 270). 23 Historicamente, o imposto sobre serviços surgiu no século XX, na França, país que, como outras nações modernas, buscava setores da economia para tributar e assim garantir mais receitas a um Estado em crescente desenvolvimento e que ocupava um papel social cada vez maior. No Brasil, a tributação dos serviços teve início em 1912, mas foi a Constituição de 1967 que instituiu o ISS nos moldes atuais. Já na Constituição Federal de 1988, o ISS passou a ser de competência dos municípios e do Distrito Federal. A princípio, o ISS foi regido Decreto- Lei nº 406/1968, e mais tarde com a Lei Complementar nº 116/2003 (PÊGAS, 2017). 2. Competência Segundo a Constituição Federal, a competência para instituir a cobrança do ISS é dos Municípios e do Distrito Federal. Esse tributo incide sobre a prestação de serviços e tem como base de cálculo o preço de tais serviços. Os serviços que são tributados pelo ISS se encontram definidos na Lei Complementar nº 116/2003 e não podem coincidir com os que são onerados pelo ICMS, Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços. 3. Fato gerador do ISS e o conceito de serviço A prestação efetiva dos serviços que se encontram elencados na lista anexa à Lei Complementar nº 116/2003 constituem o fato gerador do ISS. Então, o aludido tributo passa a ser devido quando ocorrido o seu fato gerador, ou seja, no momento em que é praticada prestação do serviço. 24 Nesse contexto, é importante destacar que os serviços prestados não precisam figurar como a principal atividade do prestador para que haja a incidência do aludido imposto. Uma vez executado o serviço sujeito ao ISS, a obrigação tributária passa a existir, se ele estiver descrito na lista anexa à Lei Complementar nº 116/2003, independentemente da denominação que foi dada ele pelo contribuinte. Outrossim, ressalta-se que, quando o serviço é gratuito, não se considera ocorrido o fato gerador do ISS. O ISS alcança, ainda, os serviços de origem estrangeira e aqueles cuja prestação tenha se iniciado no exterior. Além disso, os serviços prestados por meio de bens públicos ou os serviços públicos realizados mediante autorização, permissão ou concessão, com o pagamento de tarifa, preço ou pedágio pelo usuário, também sobre a incidência do ISS. Considera-se serviço um trabalho geralmente incorpóreo e que é pago por aquele que o encomendou. A título de exemplo, cita-se o trabalho de consultoria que os contadores e os advogados realizam em favor de seus clientes. A prestação de serviço, de acordo com Pêgas (2017, p. 213), pode ser definida da seguinte forma: Prestação de serviços é a transferência onerosa, por parte de uma pessoa (física ou jurídica) para outra, de um bem imaterial. Traduz-se pela venda de bens imateriais, incorpóreos, que se encontram no circuito econômico produção-circulação. Ainda é importante ressaltar que, conforme disciplina o § 2º do art. 1º da Lei Complementar nº 116/2003, em regra, os serviços constantes da lista anexa, quando executados, são fatos geradores apenas pelo ISS e não do ICMS, mesmo que neles haja o fornecimento de mercadorias: Ressalvadas as exceções expressas na lista anexa, os serviços nela mencionados não ficam sujeitos ao Imposto Sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS, ainda que sua prestação envolva fornecimento de mercadorias. 25 Contudo, como o próprio dispositivo legal diz, existem exceções expressas à regra mencionada, as quais permitem que, juntamente com a incidência do ISS sobre o serviço, haja a incidência do ICMS sobre as mercadorias fornecidas na prestação dele. Assim, entende-se que a regra é aincidência apenas do ISS prestação dos serviços previstos na lista anexa, mesmo que em tal prestação haja o fornecimento de mercadorias. Entretanto, se a lei trouxer uma ressalva expressa, ela poderá ocorrer a incidência do ICMS sobre as mercadorias. Um exemplo é o serviço de recondicionamento de motores descrito no subitem 14.03 da lista anexa à Lei Complementar 116/2003, veja: “14.03– Recondicionamento de motores (exceto peças e partes empregadas, que ficam sujeitas ao ICMS).” (BRASIL, 2003, grifo nosso) Enquanto o ISS recai sobre a prestação do serviço de recondicionamento de motores, o ICMS atinge as peças e as partes empregadas pelo prestador. Assim, percebe-se que, quando existir ressalva, a operação terá um caráter misto, pois sofrerá a incidência de dois tributos que recaem sobre objetos distintos. Oportunamente, é necessário ressaltar que, de acordo com o entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal, os serviços prestados por meio de obrigações de fazer, quando executados, são considerados fatos geradores do ISS. Entretanto, o mesmo não ocorre com as obrigações de que, quando praticadas isoladamente, não dão ensejo à cobrança do ISS (SABBAG, 2021). 4. Não incidência do ISS Segundo o art. 2º da Lei Complementar 116/2003, o ISS não incide sobre: I. as exportações de serviços para o exterior do País; 26 II. a prestação de serviços em relação de emprego, dos trabalhadores avulsos, dos diretores e membros de conselho consultivo ou de conselho fiscal de sociedades e fundações, bem como dos sócios- gerentes e dos gerentes-delegados; III. o valor intermediado no mercado de títulos e valores mobiliários, o valor dos depósitos bancários, o principal, juros e acréscimos moratórios relativos a operações de crédito realizadas por instituições financeiras. Contudo, o parágrafo único desse artigo diz que os serviços desenvolvidos no Brasil, cujo resultado aqui se verifique, ainda que o pagamento seja feito por residente no exterior, são tributados pelo ISS. 5. Base de cálculo O ISS tem como base de cálculo o preço do serviço prestado (entendido como seu valor bruto), que se refere ao valor total cobrado para a realização da prestação do serviço, sem qualquer dedução, nem do próprio imposto. Assim, verifica-se que o ISS recai sobre a valor do serviço, como explica Pêgas (2017, p. 214): Uma empresa que preste um serviço técnico, por exemplo, de R$ 10.000, sofrerá retenção na fonte de 6,15% (IR, CSLL, PIS e COFINS), recebendo líquidos R$ 9.385. O ISS será calculado e cobrado sobre o valor total dos serviços prestados, ou seja, R$ 10.000. Além disso, entende-se que, pela lei, o cálculo do ISS deve ocorrer por dentro, para que o aludido imposto se encontre incluído em sua própria base de cálculo, assim como o ICMS (PÊGAS, 2017). Ou seja, o valor recolhido a título de ISS deverá ser absorvido pelo valor da nota fiscal do serviço. Ressalte-se que, a base de cálculo do ISS é o preço do serviço. Contudo, nas atividades de construção civil descritas nos subitens 7.02 (execução, 27 por administração, empreitada ou subempreitada, de obras de construção civil, hidráulica ou elétrica e de outras obras semelhantes, inclusive sondagem, perfuração de poços, escavação, drenagem e irrigação, terraplanagem, pavimentação, concretagem e a instalação e montagem de produtos, peças e equipamentos) e 7.05 (reparação, conservação e reforma de edifícios, estradas, pontes, portos e congêneres) da lista de serviço anexa à Lei Complementar 116/2003, o imposto será calculado deduzindo-se do preço as parcelas que correspondam ao valor dos materiais fornecidos pelo prestador de serviço e incorporado à obra; e, valor das subempreitadas já tributadas pelo ISS. 6. Alíquotas A Emenda Constitucional nº 37/02 estabelece que cabe à Lei Complementar definir quais são as alíquotas mínimas e máximas do ISS. Contudo, a referida Lei Complementar, que é editada pela União, não pode fixar as alíquotas devidas na prestação de cada serviço, mas indicar o mínimo e o máximo na definição dela, haja vista que o ente competente para a instituição do ISS são os Municípios e o Distrito Federal. Assim, cabe aos Municípios e ao Distrito Federal indicar as alíquotas devidas na prestação dos serviços, as quais deverão observar os limites constantes em Leis Complementares. Segundo a Lei Complementar nº 116/2003, a alíquota máxima do ISS é de 5%. Já pela Lei Complementar nº 157/2016, a alíquota mínima do ISS é de 2%. Com relação aos profissionais liberais e sociedades profissionais que exercem o trabalho de natureza pessoal, é necessário destacar que eles pagam ISS fixo, em valores mensais ou anuais, como explica Paulsen (2019, p. 447): 28 As sociedades de profissionais que exercem profissão regulamentada continuam, portanto, constituindo exceção à base de cálculo ordinária do ISSQN (preço do serviço). A apuração do quantum debeatur da exação deve tomar como base o número de profissionais inscritos, consoante o § 3º do art. 9º do Decreto-Lei n. 406/68. Não é dado aos Municípios desconsiderar o sistema de tributação por valor fixo, tampouco condicionar a aplicação de tal regime ao cumprimento de requisitos não previstos em lei complementar. O valor a ser pago a título de ISS pelos profissionais liberais e pela sociedade de profissionais que exercem seus serviços com pessoalidade não é calculado com base no preço do serviço, mas em uma apuração que considera o número de profissionais e sociedades inscritos perante cada município. Assim, verifica-se que “há duas maneiras de cobrar o ISS: (i) fixa: que consiste no valor pago periodicamente pelos profissionais liberais; (ii) proporcional: que incide sobre o movimento econômico das empresas que prestam serviços.” (SABBAG, 2021, p. 272) Oportunamente, ressalta-se que, no caso das empresas optantes pelo regime tributário Simples Nacional, a alíquota utilizada para a apuração do ISS não será a indicada pelo município, mas aquela obtida por meio da análise da Lei Complementar nº 123/2006, legislação que fez várias modificações no referido regime, sendo uma delas relativa à retenção do ISS nos serviços prestados pelas empresas que optam por ele. A alíquota, quando se tratar de um optante pelo Simples Nacional, segundo a Lei Complementar nº 123/2006, será determinada por meio da observância de alguns fatores, como a receita bruta total da empresa dos nos últimos doze meses e o seu setor de atuação. Entretanto, embora no Simples Nacional a alíquota seja diferente, o local da incidência do imposto e a necessidade de retenção observarão o disposto na Lei Complementar nº 116/2003. 29 7. Local da Prestação do Serviço e do Recolhimento do Imposto A Lei Complementar nº 116/03, no caput do art. 3º, disciplina que se considera prestado o serviço e devido o ISS no local do estabelecimento do prestador do serviço, ou, na falta do estabelecimento, no local do domicílio do prestador. Contudo, existem hipóteses (previstas nos incisos I a XXV do referido dispositivo de lei) em que o imposto será considerado devido no local que a aludida lei especificamente indicar, conforme o quadro a seguir. Quadro 1 – Locais em que o ISS será devido a. Do estabelecimento do tomador ou intermediário do serviço ou, na falta de estabelecimento, onde ele estiver domiciliado, no caso de serviço proveniente do exterior do país ou cuja prestação lá tenha se iniciado. b. Da instalação dos andaimes, palcos, coberturas e outras estruturas, no caso dos serviços de cessão de uso temporário. c. Da execução da obra, no caso dos serviços de execução, por administração, empreitada ou subempreitada, de obras de construção civil, hidráulica ou elétrica e de outras obras semelhantes, inclusive sondagem, perfuração de poços, escavação, drenagem e irrigação, terraplanagem, pavimentação, concretagem e a instalação e montagem de produtos, peças e equipamentos (exceto o fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador de serviçosfora do local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS), ou acompanhamento e fiscalização da execução de obras de engenharia, arquitetura e urbanismo. d. Da demolição, no caso dos serviços de demolição. e. Do local das obras, nas edificações em geral, estradas, pontes, portos e congêneres. f. Da execução dos serviços de varrição, coleta, remoção, incineração, tratamento, reciclagem, separação e destinação final de lixo, rejeitos e outros resíduos quaisquer. g. Da execução dos serviços de limpeza, manutenção e conservação de vias e logradouros públicos, imóveis, chaminés, piscinas, parques, jardins e congêneres. h. Da execução dos serviços de decoração e jardinagem, de corte e poda de árvores. i. Da execução dos serviços de controle e tratamento do efluente de qualquer natureza e de agentes físicos, químicos e biológicos. 30 j. Da execução dos serviços de florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação e congêneres. k. Da execução dos serviços de escoramento, contenção de encostas e congêneres. l. Da limpeza e dragagem, no caso dos serviços de limpeza e dragagem de rios. m. Onde o bem estiver guardado ou estacionado, no caso dos serviços de guarda e estacionamento de veículos terrestres automotores, de aeronaves e de embarcações. n. Dos bens, dos semoventes ou do domicílio das pessoas vigiados, segurados ou monitorados, no caso dos serviços de vigilância, segurança ou monitoramento de bens e pessoas. o. De armazenamento, depósito, carga, descarga, arrumação e guarda do bem, no caso dos serviços próprios. p. Da execução dos serviços de diversão, lazer, entretenimento e congêneres, exceto em relação aos serviços de produção, mediante ou sem encomenda prévia, de eventos, espetáculos, entrevistas, shows, balé, danças, desfiles, bailes, teatros, óperas, concertos, recitais, festivais e congêneres. q. Do município onde está sendo executado o transporte, no caso dos serviços de transportes municipais. r. Do estabelecimento do tomador da mão de obra ou, na falta de estabelecimento, onde ele estiver domiciliado, no caso do fornecimento de mão de obra, mesmo em caráter temporário, inclusive de empregados ou trabalhadores, avulsos ou temporários, contratados pelo prestador de serviço. s. Da feira, exposição, congresso ou congênere a que se referir o planejamento, organização e administração, no caso dos serviços de planejamento, organização e administração de feiras, exposições, congressos e congêneres. t. Do porto, aeroporto, ferroporto, terminal rodoviário, ferroviário ou metroviário, no caso dos serviços de transporte descritos. u. Portos, canais, baías, lagos, lagoas, represas, açudes e congêneres. Fonte: adaptado de Pêgas (2017). Destarte, verifica-se que, ressalvadas as exceções descritas anteriormente, o ISS é devido no local do estabelecimento do prestador do serviço, ou, em não havendo estabelecimento, no local do domicílio do prestador. Diante disso, também é importante conhecer o conceito de estabelecimento, trazido pelo art. 4º da Lei Complementar nº 116/2003: 31 Art. 4º. Considera-se estabelecimento prestador o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar serviços, de modo permanente ou temporário, e que configure unidade econômica ou profissional, sendo irrelevantes para caracterizá-lo as denominações de sede, filial, agência, posto de atendimento, sucursal, escritório de representação ou contato ou quaisquer outras que venham a ser utilizadas. De acordo com texto da lei transcrito, verifica-se que, para fins de ISS, estabelecimento é onde o prestador desenvolve sua atividade (seja de modo permanente ou temporário), isto é, o local da sua unidade econômica ou profissional. Diante disso, depreende-se que, se uma empresa tem sede em no Município São Paulo, mas só presta seus serviços no Município do Rio de Janeiro, fazendo com que ele seja o local onde ele de fato desenvolve sua atividade, deveria recolher o ISS para o Município do Rio de Janeiro e não para o Município de São Paulo (PÊGAS, 2017). 8. Contribuinte Conforme o art. 5º da Lei Complementar nº 116/2003, os contribuintes do ISS são os prestadores de serviços, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, independentemente de estabelecimento fixo. Ressalte-se que, nos termos do art. 2º da mesma Lei, não serão considerados contribuintes aqueles que prestem serviços em relação de emprego, os trabalhadores avulsos e os diretores e membros de Conselhos Consultivo ou Fiscal de Sociedades. Outrossim, a Lei Complementar nº 116/2003 (reiterando a previsão contida no art. 128 do CTN), em seu art. 6º, ainda permite que cada município, por meio de legislação própria (a qual tem poder para regulamentar o assunto), atribua a responsabilidade de recolhimento do ISS a um terceiro vinculado a obrigação tributária (que geralmente é o tomador do serviço), que não o prestador do serviço (contribuinte): 32 Art. 6º. Os Municípios e o Distrito Federal, mediante lei, poderão atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação, inclusive no que se refere à multa e aos acréscimos legais. Desse modo, o contribuinte (prestador de serviço) deixará de ter a obrigação de recolher o ISS ou a terá de forma supletiva (total ou parcial), sendo do terceiro (o responsável tributário), a responsabilidade pelo cumprimento da referida obrigação, inclusive no que se refere a multas e acréscimos legais. Além disso, as legislações municipais geralmente confundem o responsável tributário, figura pela qual se opera a substituição do sujeito passivo (descrita no art. 128 do CTN), com o regime de retenção na fonte, que representa uma hipótese de substituição tributária, como explica Harada (2021, p. 633): Nesta, a obrigação do prestador do serviço desaparece, substituída que fica pela do tomador do serviço, o qual passa a pagar o imposto próprio, apesar de não ter praticado o fato jurídico tributável. No regime de retenção, o tomador promove o pagamento de imposto alheio, tanto é que o não recolhimento do tributo retido configura crime de apropriação indébita. Oportunamente, ressalta-se que, conforme descrito nos incisos I a IV do § 2º do art. 6º da Lei Complementar nº 116/2003, independentemente de lei municipal que assim disponha, o tomador do serviço será considerado o responsável e obrigado a proceder ao recolhimento do ISS, nas seguintes listadas situações (PÊGAS, 2017, p. 2015): • Cessão de andaimes, palcos, coberturas e outras estruturas de uso temporário. 33 • Execução, por administração, empreitada ou subempreitada, de obras de construção civil, hidráulica ou elétrica e de outras obras semelhantes, inclusive sondagem, perfuração de poços, escavação, drenagem e irrigação, terraplanagem, pavimentação, concretagem e a instalação e montagem de produtos, peças e equipamentos (exceto o fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador de serviços fora do local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS). • Demolição. • Reparação, conservação e reforma de edifícios, estradas, pontes, portos e congêneres (exceto o fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador dos serviços, fora do local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS). • Varrição, coleta, remoção, incineração, tratamento, reciclagem, separação e destinação final de lixo, rejeitos e outros resíduos quaisquer. • Limpeza, manutenção e conservação de vias e logradouros públicos, imóveis, chaminés, piscinas, parques, jardins e congêneres. • Controle e tratamento de efluentes de qualquer natureza e de agentes físicos, químicos e biológicos. • Florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação e congêneres. • Escoramento, contenção de encostas e serviços congêneres. • Acompanhamento e fiscalização da execuçãode obras de engenharia, arquitetura e urbanismo. • Vigilância, segurança ou monitoramento de bens e pessoas. 34 • Fornecimento de mão de obra, mesmo em caráter temporário, inclusive de empregados ou trabalhadores, avulsos ou temporários, contratados pelo prestador de serviço. • Planejamento, organização e administração de feiras, exposições, congressos e congêneres. 9. Contabilização A contabilização do ISS ocorre de duas formas diferentes, a depender daquele que, legalmente, é o responsável pelo seu recolhimento, o prestador do serviço ou o tomador do serviço. Quando o responsável pelo recolhimento for o prestador de serviço, ele pagará o imposto, inexistindo retenção do ISS. Todavia, quando o responsável for o tomador do serviço, como nos casos listados pelo art. 6º, da Lei Complementar nº 116/03, ele fará a retenção e o recolhimento imposto, como responsável tributário. Sobre a retenção do imposto, é necessário esclarecer que se trata de um artifício utilizado pelo Fisco, para evitar a sonegações de impostos. Por meio da retenção, transfere-se o recolhimento dos impostos e contribuições para o contribuinte que fará o pagamento dos serviços prestados, como esclarece Pêgas (2017, p. 447): Assim, o Fisco dificulta a sonegação, pois o tomador do serviço se encarrega de fazer a retenção e o posterior recolhimento, que poderiam deixar de ser feitos, caso não existisse essa exigência. Além disso, o Fisco, utilizando seu poder impositivo, faz o que toda pessoa física e jurídica tenta e na maioria das vezes não consegue: antecipar receitas. Por fim, é importante destacar que a fonte pagadora somente reterá o valor do tributo quando existir uma legislação que assim estabeleça, como ocorre no caso da Lei Complementar nº 116/2003 (art. 6º), que 35 define as situações em que tal retenção ocorrerá, bem como no caso das legislações municipais. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília, DF: Presidência da República, 1966. BRASIL. Lei complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. Dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2003. BRASIL. Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT [...]. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. BRASIL. Lei complementar nº 157, de 29 de dezembro de 2016. Altera a Lei Complementar no 116, de 31 de julho de 2003, que dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, a Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992. Brasília, DF: Presidência da República, 2016. BRASIL. Decreto-lei nº 406, de 31 de dezembro de 1968. Estabelece normas gerais de direito financeiro, aplicáveis aos impostos sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre serviços de qualquer natureza, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1968. HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2021. PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário completo. 11. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. [Minha Biblioteca]. PÊGAS, Paulo Henrique. Manual de contabilidade tributária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017. [Minha Biblioteca]. SABBAG, Eduardo. Direito tributário essencial. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. [Minha Biblioteca]. SCHOUERI, Luis Eduardo. Direito tributário. 10. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. [Minha Biblioteca]. 36 ICMS – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços Autoria: João Paulo Carniato Genta Leitura crítica: Camila Carniato Genta Objetivos • Conhecer o conceito do ICMS, a legislação que o regulamenta e como o ente tem competência para o instituir. • Verificar as hipóteses de incidência do ICMS e o momento em que se considera ocorrido o fato gerador desse imposto. • Identificar quem é o sujeito passivo do ICMS, bem como sua base de cálculo e alíquotas. 37 1. ICMS O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) se trata de um tributo que incide sobre os mais diversos tipos produtos, sejam eles nacionais ou importados, bem como sobre os serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Ele é um imposto de grande relevância, pois, como recai sobre o consumo, atinge a população de maneira geral e gera grande receita aos cofres públicos, como explica Pêgas (2017, p. 177): O ICMS está presente em nossa vida em quase todos os momentos. Quando tomamos o café da manhã, quando almoçamos, quando compramos um caderno, uma água mineral, quando ouvimos rádio ou ligamos a TV para assistir a um programa favorito, em todas essas situações há participação do ICMS. A arrecadação acima de R$ 400 bilhões em 2015 (7% do Produto Interno Bruto) e sua complexa legislação, distribuída nas 27 unidades da Federação, explicam a importância do conhecimento deste imposto. Na prática, o ICMS é exigido de forma indireta, pois seu valor é acrescido ao preço da mercadoria comercializada ou do serviço de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação prestado, e recolhido pelo consumidor. Por isso, o ICMS é classificado como um tributo indireto. 2. Competência e regulamentação do ICMS segundo a Constituição Federal A Constituição Federal, em seu art. 155, inciso II, estipula que, compete aos Estados e ao Distrito Federal, a instituição de imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de 38 serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior. No inciso I do § 2º do aludido art., a Constituição Federal ainda disciplina que o ICMS, que é plurifásico (pois incide em várias etapas), será não cumulativo. Isso significa que o imposto pago em uma etapa anterior de circulação de mercadoria ou de prestação dos serviços por ele tributados gera um crédito que pode ser compensado na etapa seguinte. A compensação não ocorrerá quando a etapa anterior (operação de saída) não for tributada pelo ICMS, salvo nos casos das vendas para o exterior, que são equiparadas às saídas tributadas pelo aludido imposto. Outrossim, conforme previsto pelo art. 155, § 2º, inciso II, alíneas “a” e “b” da Constituição Federal, diante de isenção ou de não-incidência do ICMS, salvo disposição legal em sentido contrário, não haverá créditos a serem compensados nas operações subsequentes, uma vez que tanto a isenção quanto a não-incidência acarretam a anulação do crédito relativo às operações anteriores. A Carta Magna também dispõe que o ICMS poderá ser seletivo, conforme a essencialidade das mercadorias e dos serviços por ele tributado, e ainda trata sobre a fixação, limites e diferenças das alíquotas; sobre a responsabilidade pelo recolhimento do imposto; e sobre as hipóteses de incidência e não-incidência do ICMS. Assim, de acordo com a Constituição Federal, o ICMS não incidirá sobre: • Operações que destinem mercadorias/serviços para o exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores. • Operações que destinem a outros estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica. 39 • O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial. • Nas prestações de serviço de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita. 3. Legislação Regulamentar Desde o ano de 1996, o ICMS vem sendo regidopela Lei Complementar nº 87/1996, que é conhecida como como Lei Kandir, bem como pelos convênios firmados pelos Estados, que são normas que complementam a legislação existente a respeito da cobrança do referido imposto. Também regulamentam a cobrança do ICMS, as Leis Complementares 92/1997, 99/1999, 102/2000, 114/2002, 120/2006, 122/2006 e 138/2010, que acrescentaram novas disposições e trouxeram alterações para a Lei Kandir. Além das normas constitucionais e federais a respeito do ICMS, existe ainda a legislação estadual, que define a cobrança do aludido imposto em cada Estado brasileiro. 4. Hipóteses de incidência e fato gerador do ICMS O ICMS é considerado um tributo de características múltiplas, tendo em vistas as diversas hipóteses em que há a incidência desse imposto. Por isso, também é tido como o imposto mais detalhado e de mais complexa compreensão do país (PÊGAS, 2017). Assim, são hipóteses de incidência do ICMS (art. 2º da Lei Kandir): 40 • As operações de circulação de mercadorias, inclusive alimentação e bebidas em bares e restaurantes. • As operações mistas de circulação de mercadorias e prestações de serviços não compreendidos na competência tributária dos municípios (ISS). • A prestação dos serviços de transporte interestadual e de transporte intermunicipal. • A prestação de serviços de comunicação. • A importação de bens e mercadorias. • A importação de serviços não compreendidos na competência tributária dos municípios. Para entender as condutas que gerarão a incidência do ICMS, é de extrema importância a compreensão de algumas expressões muito recorrentes no estudo desse imposto, como: operação, circulação e mercadorias. Tais expressões estão relacionadas à primeira base econômica do ICMS, que se refere às operações de circulação de mercadorias. Segundo Paulsen (2021, p. 186): “Operações são negócios jurídicos; circulação é transferência de titularidade, e não apenas movimentação física; mercadorias são bens objeto de comércio”. A segunda base econômica do ICMS é a prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, sendo tributáveis os serviços de transporte de passageiros, de valores, de bens ou de mercadorias: O ICMS será cobrado sobre a prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, por qualquer via (aérea, marítima ou terrestre), de pessoas, bens, mercadorias e valores. Sobre a prestação de serviços de transporte intramunicipal, há cobrança do ISS e não do ICMS. (PÊGAS, 2017, p. 185) 41 Outrossim, a terceira base econômica em que há a incidência do ICMS é a prestação de serviços de comunicação, independentemente do meio em que ela ocorre, não havendo incidência quando se tratar de serviços de comunicação gratuitos, como ensina Pêgas (2017, p. 185): O ICMS incide apenas sobre a prestação onerosa de serviços de comunicação, por qualquer meio (telefone, televisão, satélite, dentre outros), inclusive a geração, a emissão, transmissão e retransmissão, repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza. Não há incidência nos serviços gratuitos de comunicação, como os oferecidos, por exemplo, pelas TVs abertas. Já as redes de TV por assinatura são contribuintes do ICMS, pois prestam serviço mediante cobrança. Por último, a quarta base econômica do ICMS é a importação de bens, mercadorias ou serviços, seja por pessoa física ou jurídica, independentemente da habitualidade da importação ou da destinação da mercadoria ou do serviço importado: Na importação, a incidência do ICMS não está vinculada ao fato de o importador ser estabelecimento comercial, industrial ou qualquer espécie de contribuinte. Será contribuinte do imposto, por exemplo, a pessoa física que importar uma guitarra, um veículo ou outro bem para seu próprio uso. Se o importador for pessoa jurídica, a incidência do ICMS independe da finalidade ou destinação a ser dada ao bem ou mercadoria (industrialização, comercialização, consumo ou ativo fixo). (PÊGAS, 2017, p. 185) Com relação ao fato gerador do ICMS, ele se verifica com a prática efetiva dos comportamentos descritos nas hipóteses de incidência elencadas anteriormente: circulação de mercadorias (com transferência de titularidade), prestação de serviços de transporte intermunicipal ou interestadual, prestação de serviços de comunicação e importação de bens, mercadorias e serviços. 42 Quanto ao momento em que o ICMS é considerado devido, segundo o art. 12 da Lei Kandir, passa a ser devido o referido imposto e consumado o fato gerador: no momento da saída da mercadoria do estabelecimento de contribuinte; no início da prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal (de qualquer natureza); nas prestações onerosas de serviços de comunicação (por qualquer meio); e no momento do desembaraço aduaneiro do produto importado. 5. Sujeito passivo do ICMS Segundo o caput do art. 121, do Código Tributário Nacional, o “sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.” O sujeito passivo, essa pessoa mencionada no caput do referido dispositivo de lei, será o contribuinte, quando mantiver relação pessoal direta com o comportamento que constitui o fato gerador da obrigação tributária (art. 121, p. único, inc. I, do CTN); ou o responsável tributário, que não possui a qualidade de contribuinte, mas tem o dever de recolher o tributo, em virtude de expressa disposição em lei (art. 121, p. único, inc. II, do CTN). No caso do ICMS, de acordo com o art. 4º da Lei Kandir, é considerado contribuinte (que mantém relação pessoal e direta com a situação que constitui o fato gerador do tributo) a pessoa física ou jurídica que, com habitualidade ou em volume que caracterize intuito comercial, realiza operações de circulação de mercadoria ou prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que tais operações e as prestações se iniciem no exterior (BRASIL, 1996). Assim, temos que, conforme a referida lei, são sujeitos passivos e, portanto, contribuintes do ICMS aqueles que: 43 • Praticam operações de circulação de mercadorias. • Prestam serviços de transporte interestadual e intermunicipal. • Prestam os serviços de comunicação. • Importam serviços e bens de qualquer natureza. Além disso, a Lei Kandir também identifica como contribuintes do ICMS a pessoa física ou jurídica que, ainda de forma não habitual: • Importa mercadorias de outro país, mesmo que as destine ao consumo ou ao ativo permanente do estabelecimento. • É destinatária de serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado lá. • Adquire em leilão mercadorias apreendidas ou abandonadas. • Adquire produtos lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos derivados de petróleo oriundos de outro estado, quando não destinados à comercialização. Uma vez demonstrados quem são os contribuintes do ICMS, há que se ressaltar que, com relação ao referido imposto, em muitos casos, o responsável tributário é quem figurará como sujeito passivo da obrigação tributária (aquele que, segundo o CTN, é obrigado ao pagamento do tributo), uma vez que existem na legislação competente, previsões expressas sobre essa circunstância, que é chamada de substituição tributária. Em seu art. 150, § 7.º, a Carta Magna disciplina o fenômeno da substituição tributária progressiva ou “para frente”, em que um terceiro é escolhido para recolher o tributo antes que o fato gerador do tributo tenha ocorrido. A substituição tributária progressiva é verificada com relação ao ICMS. Como exemplo, Sabbag (2021) cita os veículos que 44 chegam as concessionárias com o aludido imposto já recolhido, antes que a venda futura ao consumidor final, que é o fato gerador do tributo, tenha sido realizada. Contudo, no que tange ao ICMS, é mais comum a substituição tributária regressiva, também chamada de substituição tributária “para trás”, que é aquela em que o fato geradoracontece antes do pagamento do tributo e que, por consequência, permite o diferimento (adiamento) do recolhimento do imposto, que será feito pelo contribuinte de fato, e não pelo contribuinte de direito, como explica Sabbag (2021, p. 283): Em outras palavras, o fenômeno lastreia-se na conveniência do Fisco, que entende haver no responsável tributário maior aptidão a recolher do ICMS, mesmo que ele não tenha realizado o fato gerador. Exemplo: produtor de leite cru que distribui seu produto para empresa de laticínio. Esta deve recolher o imposto no lugar daquele. O fato gerador ocorre quando o produto sai da fazenda, porém o recolhimento se dá “na frente” (no laticínio), diferindo-se o pagamento. Assim, tem-se que o diferimento ocorre quando o lançamento e o pagamento do ICMS que recai sobre uma operação ou prestação for adiado para uma etapa posterior, atribuindo-se a responsabilidade pelo pagamento do imposto diferido ao adquirente ou destinatário da mercadoria, ou, ainda, ao usuário do serviço na condição de sujeito passivo por substituição tributária. 6. Base de cálculo do ICMS A base de cálculo do ICMS, segundo o art. 13 da Lei Kandir, é o valor da operação, que é o preço das mercadorias, acrescido das importâncias acessórias, relativas aos fretes e aos seguros, por exemplo. Com relação aos serviços de comunicação, transporte interestadual e transporte intermunicipal, a base de cálculo do ICMS é o preço dos serviços. No 45 caso de importação de bens, a base de cálculo do ICMS será o valor da mercadoria ou bem importado, acrescido do IPI, IOF, II e das despesas aduaneiras. Ainda, destaca-se que, os descontos incondicionais (que são aqueles não condicionados a um determinado evento, como ao pagamento à vista) dados pelo vendedor e que figuram na nota fiscal, não compõem a base de cálculo do ICMS, de acordo com o entendimento constante da Súmula 457 do STJ: “Os descontos incondicionais nas operações mercantis não se incluem na base de cálculo do ICMS”. (BRASIL, 2010) Outrossim, é importante ressaltar que o ICMS se trata de um imposto calculado por dentro do preço da mercadoria ou do serviço, conforme determina o art. 155, § 2º, inciso XII, alínea “i”, da Constituição Federal. Assim, o aludido imposto se encontra incluído em sua própria base de cálculo, como explica Paulsen (2021, p. 193): Note-se que o ICMS é calculado por dentro do preço da mercadoria, o que resta expresso no art. 155, § 2o, XII, i, da CF. Na composição do valor final da nota, não ocorre a soma do preço da mercadoria ao do ICMS; o preço da mercadoria é o valor da operação, sendo que o destaque de ICMS se faz por dentro desse preço apenas para fins de visualização e operacionalização do sistema de créditos e de pagamento do imposto. Se o preço da mercadoria for de R$ 100,00 e o ICMS for de 18%, corresponderá a R$ 18,00. O adquirente pagará tão somente o preço de R$ 100,00, sendo que o vendedor terá de retirar desse preço o montante necessário ao pagamento do imposto que fará, em nome próprio (o vendedor é o contribuinte de direito), no percentual sobre ele incidente. Além disso, destaca-se que, segundo a Súmula 395 do STJ, “O ICMS incide sobre o valor da venda a prazo constante da nota fiscal” (BRASIL, 2009), assim, o ICMS incide sobre o valor da operação, seja ela a prazo ou à vista. 46 7. Alíquotas No que se refere às alíquotas aplicadas para a apuração do ICMS, temos as interestaduais e as internas. As alíquotas interestaduais são determinadas por Resolução do Senado Federal e são fixadas em 7% ou 12%, de acordo com o Estado de origem e de destino da mercadoria ou do serviço, sendo que, para produtos importados, a alíquota interestadual é de 4%. Assim, independentemente do destinatário da mercadoria/serviço ser contribuinte do ICMS ou não, a alíquota interestadual será de: Quadro 1 – Alíquotas interestaduais Alíquotas 7% Nas operações e/ou prestações promovidas por estabelecimentos localizados nas regiões Sul e Sudeste, com destino a estabelecimentos localizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, inclusive no estado do Espírito Santo, que para esse fim faz parte da Região Nordeste. 12% Para os demais casos, ou seja, para transferências entre as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste; para transferências entre os estados das regiões Sul e Sudeste, exceto Espírito Santo; e para as transferências de estabelecimentos localizados nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste e estado do Espírito Santo para as regiões Sul e Sudeste. Fonte: adaptada de Pêgas (2017). As alíquotas internas, por sua vez, são arbitradas pelos próprios Estados e, geralmente, ficam no patamar de 17% ou de 18%. Para produtos considerados essenciais (como alimentos da cesta básica), é possível que a alíquota interna seja menor que 17%. Na maior parte dos Estados, a alíquota que incide sobre os serviços de energia elétrica e comunicações é de 25%, como se verifica da tabela a seguir. 47 Tabela 1 – Alíquotas internas SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES (Inclui acréscimo do Fundo de Combate à Pobreza) 25% – AC, ES, RR, PI, SC e SP. 27% – MA e MG. 28% – BA e DF. 29% – AP, GO, MS, PR e TO. 30% – AL, AM, CE, PA, PB, RN, RS, RJ e SE. 32% – MT. 37% – RO. ENERGIA ELÉTRICA (Residencial) Alguns estados têm alíquota menor para consumo reduzido. 17% – RO, RR e MS. 18% – SP e MG. 19% – MA. 21% – GO. 25% – SC, ES, AL, PE, PB, PI, AC, AM, PA, TO e AP. 27% – BA, SE, RN, CE e MS. 29% – PR, RJ e GO. 30% – RS. ALÍQUOTA BÁSICA APLICADA NA MAIOR PARTE DOS PRODUTOS 18% – AM, AP, BA, DF, MA, MG, PB, PE, PR, SP, RN, RS, RJ, SE e TO. 17,5% – RO. 17% – AC, AL, CE, ES, GO, MT, MS, PA, PI, PR, RR e SC. Fonte: adaptado de Pêgas (2017). Entretanto, tendo em vista a essencialidade do serviço de energia elétrica, existem perante o Poder Judiciário demandas que questionam o alto percentual da alíquota aplicada ao referido serviço. Entendemos que, por serem produtos essenciais, a energia, as comunicações e os combustíveis não poderiam ser tributados, a título de 48 ICMS, em percentual superior à alíquota comum. Isso efetivamente ofende o princípio da essencialidade. O STF voltará a enfrentar a questão no RE 714.139, no qual, em 2014, foi reconhecida a repercussão geral da matéria. (PAULSEN, 2021, p. 193) No que concerne à cobrança do ICMS, destaca-se que ela ocorre ao longo da cadeia produtiva e não somente na origem ou no destino. Contudo, é o consumidor final quem efetivamente assume o ônus, pois, ao adquirir o produto para consumo pagará o imposto embutido no seu preço de venda (PÊGAS, 2017). 8. Cálculo do ICMS O valor devido a título de ICMS dependerá de cada Estado, tendo em vista que as alíquotas interestaduais e internas variam, conforme já estudado. O tipo de operação, de mercadoria e de serviço, além do regime de tributação, também influencia na apuração do aludido imposto, de modo que não há uma padronização em seu cálculo. As empresas optantes pelo regime Simples Nacional recolhem o ICMS juntamente com outros tributos, quanto emitem e pagam a DAS (Documento de Arrecadação do Simples Nacional). As alíquotas aplicáveis a elas são definidas pela Lei complementar nº 123/2006, de acordo com a sua atividade e sua receita bruta, diferentemente do que ocorre com os demais contribuintes do ICMS. Assim, tem-se que os sujeitos tributadas pelo ICMS, exceto aquelas optantes do regime Simples Nacional, devem observar a tabela de alíquotas abaixo para apurar o valor de recolhimento: 49 Tabela 2 – Alíquotas do ICMS Fonte: https://www.jornalcontabil.com.br/icms-tabela-de-aliquotas-e-atividades-que- sofrem-incidencia-desse-imposto/. Acesso em: 5 out. 2021. Diante dessa tabela, pode-se identificar a alíquota de ICMS incidente em uma operação tributada pelo referido imposto. Para tanto, primeiramente, é necessário localizar o estado de origem, que é de onde a mercadoria irá sair e, depois, o estado de destino, que receberá a referidamercadoria. Ao observar onde as linhas dos estados selecionados na tabela se cruzam, encontra-se a alíquota geral aplicada sobre a operação interestadual. Por exemplo, se uma empresa do estado do Rio Grande do Sul realiza a venda de uma mercadoria no valor de R$ 10.000,00 para uma empresa do estado de Goiás, a alíquota aplicada sobre o referido valor será de 7%. Entretanto, se operação fosse realizada entre empresas do Rio Grande do Sul, a alíquota aplicada sobre tal valor seria de 18%. https://www.jornalcontabil.com.br/icms-tabela-de-aliquotas-e-atividades-que-sofrem-incidencia-desse-imposto/ https://www.jornalcontabil.com.br/icms-tabela-de-aliquotas-e-atividades-que-sofrem-incidencia-desse-imposto/ 50 Além disso, é necessário rememorar que o ICMS um tributo calculado “por dentro”, de modo que sua base de cálculo contém, além do valor da operação, o valor do próprio imposto. Assim, para aferi-lo não basta considerar o valor do produto/serviço e aplicar a alíquota, há que se recorrer a um artifício matemático, que se chama Mark-up, um índice aplicado sobre o custo de um produto ou serviço para a formação do seu preço de venda. 9. Diferencial de alíquotas (Difal) As mercadorias vindas de fora de um Estado, quando são destinadas ao uso e consumo ou quando integram o ativo fixo daquele que a adquiriu, seja contribuinte ou consumidor final (pessoa física ou jurídica que não é contribuinte do ICMS), estão sujeitas ao pagamento de um valor, para o Estado de destino, que corresponde à diferença entre a alíquota interna e a alíquota interestadual, que é chamado de ICMS Difal, por ser oriundo desse diferencial de alíquotas. Antes da Emenda Constitucional nº 87/2015, o ICMS Difal somente era aplicado nas operações com contribuintes do ICMS. Nas vendas interestaduais para não contribuintes do ICMS, portanto, não havia o pagamento do ICMS Difal, pois eram aplicadas as mesmas alíquotas das operações internas do Estado de origem, ente que recebia esse imposto. Contudo, a Emenda Constitucional nº 87/2015 alterou esse cenário, determinando que as alíquotas interestaduais sejam aplicadas também nas operações com não contribuintes. Desse modo, nas vendas de mercadorias destinadas ao não contribuinte há a cobrança do diferencial entre as alíquotas interna e interestadual, que deve ser pago ao Estado destino. Segundo a Emenda Constitucional nº 87/2015, que foi criada em virtude do aumento do comércio eletrônico, a obrigação de recolher o ICMS 51 Difal imposto se atribui ao destinatário, quando ele for contribuinte do imposto; ou ao remetente, quando o destinatário não for contribuinte do imposto. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília, DF: Presidência da República, 1966. BRASIL. Lei complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996. Dispõe sobre o imposto dos Estados e do Distrito Federal sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1996. BRASIL. Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT [...]. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. PAULSEN, Leandro. Curso de direito tributário completo. 11. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. [Minha Biblioteca]. PÊGAS, Paulo Henrique. Manual de contabilidade tributária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017. [Minha Biblioteca]. SABBAG, Eduardo. Direito tributário essencial. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. [Minha Biblioteca]. 52 IR – Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, e CSLL – Contribuição sobre o Lucro Líquido Autoria: João Paulo Carniato Genta Leitura crítica: Camila Carniato Genta Objetivos • Conhecer os princípios informadores do Imposto sobre a Renda e seus aspectos gerais. • Identificar o sujeito passivo e o fato gerador do Imposto sobre a Renda, bem como a forma de sua apuração. • Aprender sobre a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, tributo que, assim como o Imposto sobre a Renda, incide sobre o lucro. 53 1. Aspectos introdutórios sobre o IR e a CSLL O Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR), assim como a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, são tributos de diferentes espécies, mas que incidem sobre os ganhos apresentados pelos seus contribuintes. O IR onera tantos as pessoas físicas quanto as jurídicas. A CSLL, por sua vez, onera apenas as pessoas jurídicas. Referidos tributos são classificados como diretos, uma vez que reúnem na mesma pessoa, as figuras do contribuinte de fato e de direito. Assim, a pessoa que tem a obrigação legal de recolher o tributo, também é aquela que realiza o efetivo pagamento dele. 2. Conceito, competência, sujeito ativo e regime geral do IR O IR, usualmente conhecido como Imposto de Renda, é o tributo cobrado sobre os ganhos de pessoas (IRPF) e de empresas (IRPJ). O seu valor é calculado a partir dos rendimentos declarados e, por ser um imposto com alíquotas progressivas, onera mais aqueles que apresentam maior renda. A Constituição Federal, em seu art. 153, inciso III, estabelece que compete à União Federal a instituição do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Além de competente, a União também detém a capacidade tributária ativa para a cobrança do IR, cuja administração é realizada pela Receita Federal do Brasil. Quanto à regulamentação, atualmente, o IR é regido pelas Leis de nº 8.034/90, 8.166/91, 8.848/94, 8.849/94, 8.981/95, 9.316/96, 9.430/96, 9.532/97, bem como pelo Decreto nº 9.580/18. 54 No que se refere à função, o IR é considerado arrecadatório, isto é, sua principal finalidade é a obtenção de receitas para o custeio dos gastos estatais. Entretanto, como a Constituição Federal determina a aplicação do sistema de alíquotas progressivas na cobrança do IR, verifica-se que o referido imposto também contribui para a redistribuição de renda e redução de desigualdades sociais (MAZZA, 2021). Ademais, “Quanto à forma de lançamento, o IR é lançado por homologação, na medida em que cabe ao Fisco aprovar ou rejeitar a antecipação de pagamento e a declaração realizadas pelo devedor.” (MAZZA, 2021, p. 247) 3. Fato gerador e não incidência do IR Segundo o art. 43 do Código Tributário Nacional, o fato gerador do IR é a aquisição de disponibilidade, jurídica ou econômica, de renda ou de proveitos de qualquer natureza: Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I. de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II. de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. Entende-se como “renda” o acréscimo de patrimônio que, segundo a legislação brasileira, deve ser tributado. A renda “expressa conteúdo de riqueza e revela incremento, acréscimo.” (SABBAG, 2021, p. 331) É importante ressaltar que, conforme o art. de lei anterior, a disponibilidade de renda tributada será econômica ou jurídica. A economia, que representa o “ter concretamente”, é definida como a 55 faculdade de usar, gozar e dispor de dinheiro ou coisas conversíveis. Já a disponibilidade jurídica, refere-se à obtenção de direitos sobre créditos, títulos ou documentos líquidos e certos, logo, representa “ter o direito”. Destaca-se que o IR incidirá diante do acréscimo patrimonial, ainda que o rendimento ainda
Compartilhar