Buscar

neuroanatomia 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 100 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Autor: Prof. Cassio Marcos Vilicev 
Colaboradoras: Profa. Roberta Pasqualucci Ronca
 Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Neuroanatomia
Professor conteudista: Cassio Marcos Vilicev
Cassio Marcos Vilicev é graduado em Educação Física pela Universidade de Mogi das Cruzes e em Fisioterapia pela 
Universidade Bandeirante de São Paulo. É doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia 
da Universidade de São Paulo e mestre em Ciências pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São 
Paulo. Possui especialização em Educação a Distância pela UNIP e em Didática do Ensino Superior pela Universidade 
Sant’Anna (1999). Atualmente, cursa Formação Pedagógica em História pela UNIP (EaD).
Foi professor de Educação Física em escolas e clubes desportivos de São Paulo e no curso de graduação em 
Educação Física e Enfermagem do Centro Universitário Santa Rita e das disciplinas Anatomia Humana, Cinesiologia 
e Semiologia na UNIP. Atualmente, é professor titular da UNIP nos cursos presenciais de Fisioterapia, Enfermagem, 
Nutrição, Farmácia, Biomedicina e Educação Física na modalidade presencial, de Educação Física, Fisioterapia, 
Enfermagem, Nutrição, Farmácia e Biomedicina na modalidade EaD e de pós-graduação. 
Foi consultor na elaboração de questões para o Serviço Nacional do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de 
Aprendizagem do Transporte (Senat), de Educação Física, junto à empresa EGaion.
Tem publicado vários trabalhos em diversas áreas das ciências biomédicas, como Anatomia dos Sistemas: Educação 
Física; Anatomia dos Sistemas: Enfermagem; Anatomia dos Sistemas: Educação Física e Fisioterapia; Anatomia do 
Aparelho Locomotor: Fisioterapia; Anatomia Básica dos Sistemas: Estética e Cosmética; e Anatomia Humana: Farmácia 
e Biomedicina.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
U504.18 – 20
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
V586n Vilicev, Cassio Marcos. 
Neuroanatomia / Cassio Marcos Vilicev. – São Paulo: Editora 
Sol, 2020.
192 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Sistema nervoso. 2. Tecido nervoso. 3. Neuroanatomia. 
I. Título.
CDU 611.8
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Ana Fazzio
 Juliana Muscovick
Sumário
Neuroanatomia
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO ................................................................................................. 12
1.1 As origens da neuroanatomia ......................................................................................................... 13
2 INTRODUÇÃO À TERMINOLOGIA DA NEUROANATOMIA ................................................................. 78
3 DIVISÃO E PAPÉIS DO SN ............................................................................................................................. 80
3.1 Divisão do SN com base nos critérios anatômicos ................................................................. 81
3.2 Divisão do SN do ponto de vista funcional ............................................................................... 85
3.3 Divisão do SN com base na segmentação ou metameria ................................................... 86
3.4 Papéis do SN ........................................................................................................................................... 86
4 O TECIDO NERVOSO ....................................................................................................................................... 87
4.1 Visão geral dos neurônios ................................................................................................................. 88
4.2 Classificação dos neurônios ............................................................................................................. 90
4.3 Sinapses .................................................................................................................................................... 91
4.4 Arco reflexo ............................................................................................................................................. 91
4.5 Neurogênese no SNC .......................................................................................................................... 93
4.6 Lesão e reparo no SNP ....................................................................................................................... 93
4.7 Neuroglias ............................................................................................................................................... 94
4.8 Neuroglias no SNC ............................................................................................................................... 94
4.9 Neuroglias no SNP ............................................................................................................................... 96
Unidade II
5 MORFOGÊNESE DO SN ................................................................................................................................101
5.1 Da fertilização até a nidação .........................................................................................................104
5.2 Folhetos embrionários ......................................................................................................................106
5.3 Formação do SN ..................................................................................................................................107
6 ENCÉFALO E MEDULA ESPINAL ...............................................................................................................110
6.1 Anatomia da medula espinal .........................................................................................................110
6.2 Anatomia do bulbo ............................................................................................................................115
6.3 Anatomia da ponte ............................................................................................................................118
6.4 Anatomia do mesencéfalo ..............................................................................................................119
6.5 Anatomia do diencéfalo ..................................................................................................................122
6.5.1 O tálamo .................................................................................................................................................. 122
6.5.2 O hipotálamo .........................................................................................................................................125
6.5.3 O epitálamo .............................................................................................................................................131
6.5.4 O subtálamo ........................................................................................................................................... 132
6.6 Anatomia do telencéfalo .................................................................................................................133
6.6.1 Lobos do telencéfalo .......................................................................................................................... 134
6.6.2 Os núcleos da base .............................................................................................................................. 137
6.6.3 As áreas corticais ................................................................................................................................. 138
6.6.4 O mapa citoarquitetônico do córtex cerebral .......................................................................... 139
6.6.5 O homúnculo de Penfield ..................................................................................................................141
6.7 Anatomia do cerebelo ......................................................................................................................142
6.8 O sistema ventricular ........................................................................................................................144
6.9 Barreiras encefálicas .........................................................................................................................145
6.10 A nutrição sanguínea do encéfalo ............................................................................................145
7 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ............................................................................................................147
7.1 As diferenças anatômicas, fisiológicas e farmacológicas relevantes entre 
as partes simpática e parassimpática do SNA ...............................................................................147
7.1.1 Diferenças anatômicas ...................................................................................................................... 148
7.1.2 Diferenças fisiológicas ....................................................................................................................... 148
7.1.3 Diferenças farmacológicas ............................................................................................................... 150
7.2 Papéis do SNA ......................................................................................................................................151
7.3 Reações do SNA ..................................................................................................................................152
7.4 Sistema nervoso entérico ................................................................................................................154
8 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO ..............................................................................................................155
8.1 Os nervos periféricos .........................................................................................................................156
8.2 Os gânglios ............................................................................................................................................156
8.3 As terminações nervosas .................................................................................................................157
7
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
Este livro-texto tem como objetivo servir de base e recurso aos alunos que buscam carreiras 
relacionadas à área da saúde, entre elas enfermagem, nutrição, fisioterapia e educação física. O foco 
da anatomia humana é favorecer os conhecimentos aplicados das estruturas anatômicas do organismo 
humano e as noções sobre as bases para aplicação de outras disciplinas básicas. Aqui são apresentados 
conhecimentos práticos que possibilitam aos alunos o uso de fatos concernentes às circunstâncias reais 
que eles poderão se deparar na profissão que escolherem.
Estudaremos a anatomia humana, focando o sistema nervoso, momento em que serão vistos os 
órgãos que são compostos por tecido nervoso, como o encéfalo, a medula espinal e os nervos, destacando 
os neurônios, as células da glia e as vias aferentes e eferentes de condução do impulso nervoso e 
suas terminações nervosas. Além disso, aprenderemos as divisões anatômicas do sistema nervoso 
a divisão fisiológica.
Do ponto de vista anatômico, veremos os sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico, 
enfatizando as características morfofuncionais de cada estrutura.
Do ponto de vista fisiológico, compreenderemos as divisões somática e visceral. A integração 
anatômica e fisiológica desse sistema é de suma importância para entendermos o funcionamento do 
sistema nervoso.
A revisão terminológica, relevante em um livro-texto desta natureza, que abrange a versão dos 
epônimos mais utilizados na clínica médica, está resguardada tecnicamente pela terminologia anatômica. 
Há, ainda, notas explicativas com termos e expressões definidos, a fim de facilitar a compreensão do 
texto, direcionadas também aos leigos ainda não familiarizados com a terminologia da área.
Quando um paciente é avaliado por um profissional da área de saúde, ele carece de conhecimento 
básico de anatomia humana para elucidar suas observações; é por meio dela que se descobre a 
linguagem científica básica que conduzirá o profissional ao longo de toda a sua carreira profissional e 
que possibilitará o diálogo com seus colegas de uma equipe multidisciplinar.
INTRODUÇÃO
Não são tão-só as estrelas no universo que fascinam o homem com o seu 
impressionante número. Em um outro universo, o nosso universo biológico 
interno, uma gigantesca “galáxia” com centenas de milhões de pequenas 
células nervosas que formam o cérebro e o sistema nervoso comunicam-se 
umas com as outras através de pulsos eletroquímicos para produzir 
atividades muito especiais: nossos pensamentos, sentimentos, dor, emoções, 
sonhos, movimentos, e muitas outras funções mentais e físicas, sem as quais 
não seria possível expressarmos toda a nossa riqueza interna e nem perceber 
8
o nosso mundo externo, como o som, cheiro, sabor, e também luz e brilho, 
inclusive o das estrelas (RELVAS, 2008, p. 21).
Durante milhares de anos de história os seres humanos sofreram grandes modificações em todo o 
corpo, como no crânio, já que o esqueleto do Australopithecus e do Homo sapiens diferem em relação 
ao tamanho do cérebro e à capacidade craniana. O cérebro é um elemento que diferencia a espécie 
humana das demais, responsável por regulagens relevantes no funcionamento do organismo, que com 
o passar dos milênios ficaram cada vez mais claras.
Os egípcios já reconheciam os danos no sistema nervoso central e acreditavam que o cérebro era 
a sede da alma e da mente humana. Eles guardavam as vísceras e descartavam o cérebro dos mortos, 
pois acreditavam que ele não tinha utilidade; já os assírios consideravam o fígado como o centro do 
pensamento; Aristóteles percebia o cérebro como um resfriamento do corpo.
Demócrito, Diógenes, Platão e Teófrastro acreditavam que o cérebro estava no comando das 
atividades corporais. Hipócrates acreditava no cérebro como sede da mente e iniciou os estudos para a 
divisão do cérebro em dois hemisférios, onde se encontravam os papéis biológicos e os da mente.
Descartes relatou que a capacidade do ser humano estava fora do cérebro, na mente. Darwin trouxe 
a explicação sobre o comportamento racional do ser humano como resultado do funcionamento do 
cérebro e do sistema nervoso e não faz menção à mente.
Com exceção da última década do século XIX, a ciência do cérebro neste período foi dominada por 
médicos como Broca, Wernicke, Fritsch e Brodmann. Eles e outros começaramo processo de localização 
funcional do cérebro. Pavlov uniu a psique ao comportamento e aprendeu com o desenvolvimento do 
conceito de condicionamento reflexo, vastamente utilizado na neurociência hoje.
Sherrington postulou a comunicação dos neurônios por meio da sinapse em bases teóricas. Isso 
acabou por ser uma característica essencial do sistema nervoso que, no entanto, foi evidenciado 
incontestável apenas décadas depois com o auxílio do microscópio eletrônico.
O século XX assistiu a um crescimento exponencial dos estudos sobre o sistema nervoso por meio de 
um esforço colaborativo. Por conseguinte, nomes individuais, não importa quão consideráveis, davam 
progressivamente menos justiça a todos aqueles que colaboravam para os progressos relevantes nos 
trabalhos científicos.
Golgi compartilhou o Prêmio Nobel de 1906 com Ramón y Cajal, dois protagonistas do grande 
debate sobre organização celular versus organização reticular do cérebro. Em 1915, depois de estudos 
realizados em campos russos de prisioneiros de guerra, Bárány recebeu o Prêmio Nobel por seus 
estudos da fisiologia e patologia do sistema vestibular. Dale e Loewi compartilharam o prêmio em 
1936 pelos estudos sobre os neurotransmissores.
O Prêmio Nobel a Hubel, Wiesel e Sperry, em 1981, marcou a neurociência em direção a um nível de 
sistema de compreensão do cérebro, permanecendo na fronteira da neurociência atual. Hubel e Wiesel 
9
sugeriram um modelo hierárquico para a identificação de temas visuais complexos. Sperry foi premiado 
por seu trabalho em especialização lateralizada do papel cerebral.
Progressos na compreensão do sistema nervoso de mamíferos foram reconhecidos pelo Prêmio 
Nobel de 2014 a O’Keefe e os Mosers, sublinhando a crescente atenção da comunidade da neurociência 
nas abordagens em nível de sistema e de rede.
Hoje, já se compreende a integração e dinamismo entre ser humano e cérebro, que constitui um 
sistema funcional de relação do ser na ação para aprender, interagir e relacionar-se com o meio e com 
o outro.
11
NEUROANATOMIA
Unidade I
Você̂ está dirigindo pela autoestrada e ouve um forte ruído à sua esquerda. Prontamente desvia 
para a direita. Matheus deixa uma anotação na mesa da cozinha: “Vejo você mais tarde. Fique com 
tudo pronto às 19 horas” – você sabe que “tudo pronto” é o jantar para os convidados. Você está 
dormitando, porém logo acorda e imediatamente o seu bebê começa a choramingar. O que tais fatos 
têm em comum? Eles são exemplos diários do funcionamento de seu sistema nervoso (SN), que traz 
quase que permanentemente suas células corporais em atividade.
O SN é o sistema regente de controle e comunicação do organismo. Todo pensamento, ato e emoção 
refletem a sua atividade. Suas células se comunicam por sinais elétricos e químicos, os quais são velozes 
e específicos, geralmente promovendo respostas instantaneamente.
Com somente 2 quilogramas de peso, cerca de 3% da massa corporal total, o SN é um dos menores, 
todavia mais complexos, dos 12 sistemas corporais. Essa rede de bilhões de neurônios e um número 
ainda maior de células da neuroglia está organizada em duas subdivisões principais: o sistema nervoso 
central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP).
Encéfalo
Medula espinal
Nervos espinais
Figura 1 – SNC e SNP
 Observação
Os neurônios são células especializadas para a condução e a transmissão 
de sinais elétricos no SN. Já as células da neuroglia ajudam os neurônios a 
realizarem seus papéis – os astrócitos e os oligodendrócitos, por exemplo 
– no SNC, bem como as células de Schwann e as células satélites no SNP.
12
Unidade I
 Lembrete
O SNC corresponde ao encéfalo e à medula espinal dos vertebrados, e o 
SNP corresponde aos neurônios, às células da neuroglia, aos gânglios e aos 
nervos cranianos e espinais que se situam fora do SNC.
Conquanto seja muitas vezes comparado a um computador, o SN é bem mais complexo e mutável 
do que qualquer dispositivo eletrônico. Ainda assim, como em um computador, o veloz fluxo de 
dados e a alta atividade de processamento dependem de atividade elétrica. Porém, diferentemente 
do computador, partes do cérebro apresentam a capacidade de reorganizar as conexões elétricas 
anteriormente estabelecidas conforme a chegada de novos dados, de tal modo que compõem parte do 
processo de aprendizagem.
Em conjunto com os órgãos endócrinos, o SN controla e adequa as atividades de outros sistemas. 
Esses dois sistemas partilham relevantes características estruturais e funcionais. Ambos dependem 
de alguma maneira de comunicação química com tecidos e órgãos-alvo, e habitualmente agem de 
maneira complementar.
Assim, o SN normalmente age provendo ligeiras e sucintas respostas a estímulos, alterando 
provisoriamente as atividades de outros sistemas orgânicos. A resposta pode ser praticamente 
imediata, ou seja, em poucos milissegundos, e os fins esvaecem logo após interromper a 
atividade nervosa. Em compensação, as respostas endócrinas caracteristicamente possuem 
desenvolvimento mais brando do que as do SN, porém comumente persistem mais tempo, ou 
seja, horas, dias ou anos. Os órgãos endócrinos modulam a atividade metabólica dos demais 
sistemas em resposta à disponibilidade de nutrientes e à demanda energética. Eles também 
coordenam processos ininterruptos por longos períodos, isto é, de meses a anos, como o 
crescimento e o desenvolvimento.
 Lembrete
Os órgãos endócrinos são responsáveis pela produção de hormônios, 
lançados diretamente na corrente sanguínea, atingindo determinados 
tecidos-alvo.
1 ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO
A neuroanatomia denota o estudo do SN. Ela apresenta o nome de sistema porque é composta 
por um tecido fundamental que é o tecido nervoso, o qual, por sua vez, é composto de células 
nervosas designadas de neurônios. Os neurônios, portanto, são as unidades morfofuncionais 
desse sistema.
13
NEUROANATOMIA
1.1 As origens da neuroanatomia
Conceberemos qual poderia ter sido um dos primeiros instrumentos dos homens das cavernas 
para observar o sistema neural central, a “inauguração da neuroanatomia” com outro nome. 
Os homens das cavernas, quiçá, montaram um “machado” com uma extremidade distal esférica 
e uma extremidade proximal cilíndrica para empunhá-lo e erguê-lo. Ao abaixá-lo com força 
sobre o cume da cabeça de algum desafeto, abria-lhe o crânio mais como arma do que como 
uma ferramenta cirúrgica. Prontamente, vieram muitos séculos antes dos instrumentos mais 
adequados, como o trépano, uma técnica cirúrgica na qual “buracos” foram efetuados no crânio 
do indivíduo para abrandar a pressão intracraniana determinada por traumatismo craniano, de 
tal modo que essa técnica tivesse sido realizada para abrir os crânios com finalidades mais 
nobres, ou seja, as terapêuticas, contribuindo assim para o alívio e a sobrevivência dos indivíduos, 
conforme ilustra a figura seguir.
Figura 2 – Trepanação
Os egípcios desenvolveram informações aprofundadas de anatomia e fisiologia. Entretanto, 
não consideravam o cérebro relevante. A primeira citação do cérebro designadamente como órgão 
ocorreu nos papiros do antigo Egito. Os papiros são documentos preciosos, pois relatam a literatura 
médica mais antiga do mundo. Eles demonstram uma medicina baseada em evidências e apresentam 
descrições das doenças cardíacas, digestivas, pulmonares e nervosas. Além dos papiros, as esculturas 
egípcias, de aproximadamente 1500 a.C., também deixaram seu legado relacionado aos aspectos 
de saúde, uma vez que mostram, por exemplo, degenerações tróficas em partes do organismo, que 
significam um comprometimento de estruturas neuroanatômicas secundárias a patologias nervosas, 
como acontece em membros inferiores com amiotrofia típica nos casos de poliomielite, conforme 
ilustra a figura seguinte.
14
Unidade I
Figura 3 – Placa de calcário representando um indivíduo com deficiência física
 Observação
A poliomielite é uma doença infecciosa aguda causada pelo poliovírus, 
que danifica o SNC e leva à destruiçãode neurônios motores, resultando 
em paralisia flácida.
O surgimento dos filósofos na Grécia e as escolas de medicina, por volta do século 5 a.C., levaram 
ao o caminho necessário para a efetivação de investigações sobre a anatomia humana. Para Platão, 
o cérebro era “a nossa parte mais divina”. Assim, ele seguiu a teoria cefalocêntrica, segundo a qual o 
cérebro era o centro da alma. Platão adotou o termo enkephalon. Em seus estudos, ele descreveu os 
giros e os sulcos cerebrais, conforme ilustra a figura seguinte.
 Observação
O termo giro não era conhecido pelos gregos ou romanos. Até o 
início do século XIX, essas estruturas anatômicas eram designadas 
de circunvoluções.
15
NEUROANATOMIA
Sulco frontal superior
Sulco frontal inferior
Sulco pré-central
Sulco pós-central
Sulco intraparietal
Giro pós-central
Giro pré-central
Giro frontal médio
Giro frontal superior
Sulco central
Figura 4 – Vista superior dos giros e dos sulcos cerebrais
 Saiba mais
Você gostaria de saber um pouco mais sobre o tema? Leia este artigo 
sobre o legado de Hipócrates e do Corpus hippocraticum no período 
abrangido entre os séculos V e IV a.C. até o período greco-romano, com 
Galeno, em II d.C.
REBOLLO, R. A. O legado hipocrático e sua fortuna no período 
greco-romano: de Cós a Galeno. Scientiae Studia, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 45-
82, 2006. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ss/article/view/11067. 
Acesso em: 4 nov. 2019.
Alcméon, da escola de medicina de Crotona, foi o primeiro a motivar a noção anatômica a 
partir de observações experimentais. Ele considerava que o cérebro era o centro de emoções, 
conhecimento, mente e alma, e integrou os papéis dos órgãos dos sentidos ao cérebro. Segundo 
Alcméon, todos os vasos sanguíneos originavam-se da cabeça e seu papel era distribuir o pneuma, 
ou seja, a origem da alma e da vida ao cérebro.
Contudo, outros filósofos acreditavam que o pneuma fosse distribuído ao cérebro diretamente 
da respiração nasal. Alcméon cometeu alguns erros bizarros, por exemplo: achava que o 
espermatozoide fosse parte do cérebro do homem desde os 14 anos de idade. Em dissecções de 
animais, ele descobriu o nervo óptico e as tubas auditivas, afirmando erroneamente que as cabras 
respiravam pela orelha.
16
Unidade I
Surge então a figura lendária de Hipócrates de Cós, considerado o “pai da medicina”. No campo 
da anatomia, nada efetuou de relevante. A base fundamentada de seu ensinamento é “teres aos 
deuses o direito de viver e confiá-los aos homens”. Atribui-se a Hipócrates uma ampla coleção de 
trabalhos médicos, enquanto outros são conferidos a discípulos seus e a outros autores.
Figura 5 – Escultura de Hipócrates
Os conhecimentos sobre o SN na medicina hipocrática são muito deficitários. As ideias de anatomia e 
fisiologia são inconsistentes; sabia-se que o cérebro era constituído de duas metades divididas por uma 
membrana e que fazia continuidade com a medula espinal. Conforme a teoria dos quatro humores, o 
cérebro seria a fonte da fleuma. As meninges eram bem conhecidas pela conjuntura que proporcionava 
o tratamento cirúrgico dos casos de traumatismo craniano. A trepanação era utilizada com assiduidade.
 Observação
As meninges são revestimento do SNC originado do mesênquima e de 
células da crista neural. Há três meninges: dura-máter, aracnoide-máter e 
pia-máter, conforme ilustram as figuras a seguir.
 
Figura 6 – Dura-máter
17
NEUROANATOMIA
Figura 7 – Aracnoide-máter
Figura 8 – Pia-máter
O cérebro é reconhecido como o centro receptor das sensações. No livro Dos Lugares no 
Homem, de Hipócrates, depara-se com a seguinte observação a propósito dos sentidos da audição 
e do olfato:
A meninge é perfurada no ponto através do qual nós escutamos. [...] Esta 
é a única perfuração da membrana que protege o cérebro. Na região das 
narinas não existe perfuração, porém uma espécie de porosidade, parecida 
a uma esponja; por este motivo um indivíduo escuta a uma distância maior 
do que aquela em que ele sente os cheiros (HIPÓCRATES, 1995, p. 23 apud 
REZENDE, 2009, p. 62).
Nessa época, o termo neuron empregava-se especialmente aos tendões, que eram confundidos com 
os nervos. Reconheciam-se tão somente os nervos mais facilmente identificáveis, como o óptico, o 
acústico, o trigêmeo, o vago, o plexo braquial e os nervos ulnar e isquiático.
18
Unidade I
 Lembrete
O V par de nervo craniano, ou nervo trigêmeo, apresenta componentes 
sensitivos para a sensibilidade geral da face e componentes motores para 
os músculos da mastigação.
O X par de nervo craniano, ou nervo vago, possui componentes 
sensitivos para as vísceras torácicas e abdominais, e componentes motores 
para os músculos da faringe e da laringe.
 Saiba mais
Você sabia que a lombalgia ocupacional gera influências negativas 
na performance das atividades laborais e de vida na equipe de 
Enfermagem e que a lombalgia está relacionada com o nervo isquiático? 
O profissional de Enfermagem que deseja assistir, tratar e cuidar do 
outro também precisa de cuidados, fazendo-se necessário que suas 
condições de saúde física, mental e espiritual estejam em equilíbrio. 
Portanto, recomendamos a leitura do artigo científico:
BORGES, T. P.; et al. Aplicação da massagem para lombalgia ocupacional 
em funcionários de Enfermagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 
Ribeirão Preto, v. 20, n. 3, p. 511-9, maio/jun. 2012. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692012000300012&script=sci_
abstract&tlng=pt. Acesso em: 4 nov. 2019.
Em outro livro, Da Natureza do Homem, Hipócrates propunha uma conexão entre o cérebro e a 
doença sagrada, a epilepsia. Para ele, essa patologia era uma modificação advinda do cérebro que tinha 
como causa fatores naturais – a suposição de uma origem divina era consequência da inexperiência 
humana. Cada uma das doenças possuía uma causa própria, decorrente de fatores externos.
Seu texto renuncia às superstições e às bruxarias que rodeavam a doença, e Hipócrates não acreditava 
que o “homem pudesse ser vitimado por um deus, representado de derradeira perfeição”, expressando, 
assim, que a doença era hereditária e a sua origem estava situada no cérebro. Como tal, não precisava 
ser tratada com feitiçaria, mas com dieta e drogas.
Outro anatomista importante no período grego foi o filósofo Aristóteles. Ele realizou centenas de 
dissecções em animais, porém aparentemente não teve a oportunidade de dissecar cadáveres humanos. 
Aristóteles dá excelentes descrições de alguns órgãos, sob o ponto de vista da anatomia comparada. 
Essas descrições foram, eventualmente, ilustradas com desenhos. Ele cometeu vários equívocos ao 
sustentar a teoria cardiocêntrica egípcia (quadro a seguir). Aristóteles dizia que o coração era o órgão 
19
NEUROANATOMIA
mais formidável do organismo, a sede da alma e também da inteligência. Ele falava que de todas as 
partes do organismo não havia nenhuma tão fria como o cérebro, além de a mais seca e que apresenta 
menos sangue, servindo o cérebro somente para o resfriamento do sangue.
Quadro 1 – Estudiosos gregos influentes que apoiavam a doutrina cardiocêntrica
Teoria Cardiocêntrica
Aristóteles Praxágoras Diócles
IV século a. C.
III século a. C.
II século a. C.
I século a. C.
Estoicos
Ateneu
Crisipo Zenão
Adaptado de: Crivelatto e Domenico (2007).
Quando Atenas perdeu sua soberania, o centro médico de maior notabilidade na história da 
humanidade foi, sem dúvida, Alexandria, no Egito. Fundada por Alexandre, o Grande, apresentou-se 
como uma cidadela onde os melhores intelectos da Antiguidade fundamentaram os alicerces para o 
estudo sistemático da matemática, da física, da astronomia, da literatura, da geografia, da biologia e da 
medicina. Sua grandiosa biblioteca foi utilizada para arquivar mais de 500 mil papiros. Lá se encontravam 
cópias de todos os textos escritos pelos filósofos e médicos gregos.
Figura 9 – A grande biblioteca de Alexandria
20
Unidade I
A escola de medicina de Alexandria floresceu devidoà decadência progressiva da escola de medicina 
de Cós. As necessidades dos conhecimentos médicos fizeram que se tornasse imprescindível a prática 
de dissecação humana, até então proibida pelos gregos. A autorização da dissecação em Alexandria 
aconteceu durante a primeira metade do século III a.C., onde, pela primeira vez, a anatomia efetivou-se 
como uma disciplina. Esse parêntese da história foi interrompido após a renovação religiosa adivinda 
com o catolicismo, que se opôs à manipulação de cadáveres humanos.
Os dois primeiros e maiores professores de anatomia no período Alexandrino foram Herófilo da 
Macedônia e Erasístrato de Cós. Eles dissecaram cadáveres de condenados à morte e descreveram 
cuidadosamente suas estruturas anatômicas. Herófilo foi reputado por Galeno como referência em 
anatomia. Considerado como o “açougueiro de homens”, realizou aproximadamente 600 dissecações 
em cadáveres humanos, e os meios utilizados por ele afrontaram os seus contemporâneos. Murmúrios 
públicos denuncianaram Herófilo de praticar vivissecção com a autorização do faraó Ptolomeu. 
Entretanto, há possibilidades de a informação dessa prática realizada por ele não apresentar um fundo de 
verdade, pois a inveja de seus opositores poderia ter afetado negativamente o humor desses indivíduos.
 
Figura 10 – Herófilo da Macedônia 
Figura 11– Erasístrato de Cós
21
NEUROANATOMIA
 Lembrete
Vivissecção é a ação de dissecar um indivíduo vivo com a finalidade de 
efetuar estudos de natureza morfofuncional.
Ao contrário de Aristóteles, Herófilo considerou o cérebro como a sede da inteligência, no lugar 
do coração. Ele, um especialista em SN, descreveu a anatomia do cérebro e do cerebelo, bem como 
dos ventrículos encefálicos, tendo valorizado a importância dessas cavidades do interior do cérebro e 
das meninges. Em suas descrições sobre as meninges, chamou-as de chorioid, pela semelhança com a 
membrana que envolve o feto.
Herófilo refere-se ao IV ventrículo e ao sulco do soalho na parte inferior, como a confluência 
dos seios da dura-máter, designado posteriormente como “o torcular de Herófilo”, torcula (L.), cujo 
significado é o de uma cisterna ou poço para coletar o líquido da prensa de vinho. Ele foi também o 
primeiro a reconhecer que eram os nervos, e não as artérias, que geravam os movimentos voluntários, 
e distinguiu os nervos sensitivos dos nervos motores, embora ainda imperasse certa confusão entre 
nervos motores e tendões.
 Observação
Os nervos sensitivos levam informações da periferia até o SNC, enquanto 
os nervos motores conduzem as respostas do SNC até um órgão efetuador.
Os seios da dura-máter servem como canais de baixa pressão para o 
fluxo de sangue venoso em direção à circulação sistêmica.
Figura 12 – O torcular de Herófilo
22
Unidade I
Nessa mesma época, Erasístrato preocupou-se mais com as funções do organismo do que com a 
forma, por isso é considerado o “pai da Fisiologia”. Em relação ao SN, Erasístrato e Herófilo compararam 
o cérebro humano ao dos animais, observando que a superfície cerebral no homem possuía maior 
complexidade e maior número de circunvoluções, o que explicaria a superioridade da inteligência 
humana sobre a dos animais. Erasístrato também determinou o cérebro e o cerebelo como estruturas 
parenquimatosas. Com maior segurança do que Herófilo, separou os nervos motores dos nervos sensitivos 
e descreveu o trajeto dos nervos dos órgãos e dos sentidos. Ele reconheceu o córtex cerebral, e não a 
dura-máter, como a origem dos nervos cranianos.
A última colaboração da Idade Antiga veio do anatomista Claudius Galeno. Suas descrições 
raramente se adequam aos órgãos humanos, pois foram focadas em macacos, bois, ursos e porcos. 
Quanto não teria realizado Galeno na anatomia, se lhe fosse consentida a dissecação de cadáveres 
humanos, uma vez que viveu numa época onde milhares de infelizes eram sacrificados pelo capricho 
brutal da população romana, em particular pelos seus imperadores, entretanto eles não autorizavam 
a anatomia a servir-se dos cadáveres.
Figura 13 – Retrato de Galeno
Durante a sua permanência em Roma, Galeno desenvolveu intensa atividade: realizava conferências 
e palestras para o público, escrevia sem parar e era médico das classes mais pobres. Sua personalidade 
era de um egocêntrico presunçoso e autoritário; queria estar sempre com a veracidade e buscava 
contradizer seus predecessores e contemporâneos, exceto Herófilo e Hipócrates, que ele reverenciava – 
em cuja obra e doutrina dos quatro humores Galeno se fundamentava para a explicação etiopatogênica 
das doenças e do seu tratamento.
Com Galeno, os conhecimentos sobre o SN tiveram um enorme progresso. Foi um cefalocentrista, 
entre os cardiocentristas, que deixou cristalina sua visão sobre o controle do movimento dos músculos 
pelos nervos que provêm do cérebro. Ao contrário de Aristóteles, Galeno considerava o cérebro como o 
centro das sensações e do pensamento, a sede da alma, porque dizia que nele se gerava o raciocínio e 
se conservava a recordação das imagens sensoriais.
23
NEUROANATOMIA
 Saiba mais
Você gostaria de aprender um pouco mais sobre o tema? O renomado 
historiógrafo da medicina Roy Porter escreve em texto fascinante para o 
público sobre a história da medicina a partir de diferentes pontos de vista, 
como da história das doenças, dos médicos, do corpo, do laboratório, das 
terapias, da cirurgia e do hospital. Leia:
PORTER, R. Das tripas coração: uma breve história da medicina. Tradução 
de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Record, 2004.
Quadro 2 – Aspectos crolonológicos de relevantes filósofos e médicos 
gregos seguidores da doutrina cefalocêntrica
Teoria Cefalocêntrica
Anaxágoras Diógenes Filolau
Alcméon Pitágoras
Galeno
Herófilo Erasístrato
Hipócrates Platão
VI e V séculos a.C.
V século a.C.
IV século a.C.
III século a.C.
II século d.C.
Adaptado de: Crivelatto e Domenico (2007).
As principais observações de Galeno estão no campo do SN. Ele estudou a anatomia do encéfalo em 
seus detalhes e considerou o cérebro como a sede de funcionamento de toda a alma. Para ele, os nervos 
originavam-se do cérebro e da medula espinal, e não do coração, como ensinava Aristóteles. Classificou 
os nervos cranianos em nove pares: nervo óptico; nervo oculomotor; nervo facial; nervo troclear; nervo 
trigêmeo; nervo palatino; nervo acústico; grupo vocal; nervo hipoglosso. Descreveu igualmente 30 
pares de nervos espinais, o grande simpático toracoabdominal e a dupla inervação vagal e simpática dos 
órgãos abdominais.
 Lembrete
O III par de nervo craniano, ou nervo oculomotor, é um nervo motor 
para alguns músculos extrínsecos do olho.
O XII par de nervo craniano, ou nervo hipoglosso, é um nervo motor 
responsável pela inervação dos músculos extrínsecos e intrínsecos da língua.
24
Unidade I
Conceitos gregos sobre o desenvolvimento do cérebro
Sede da sensação e da compreensão
(Alcméon, século V a.C.)
O mensageiro do entendimento. A origem das atividades 
emocionais e morais (Hipócrates, 400 a.C.)
Sede da alma racional
(Platão, 427-347 a.C.)
Sede de resfriamento do calor corporal
(Aristóteles, 384-322 a.C.)
Sede de funcionamento de toda a alma
(Galeno, 129-216 d.C.)
Centro de comando corporal 
(Herófilo, 335-280 a.C.)
Figura 14 – Diagrama esquemático que representa os pensamentos sobre o 
cérebro, segundo filósofos e médicos gregos entre os séculos V a.C. e II d.C.
 Lembrete
A terminologia anatômica atual determina o número de 12 pares de 
nervos cranianos.
 Saiba mais
No site a seguir, você conhecerá 45 fatos curiosos sobre o cérebro 
humano. Boa leitura!
45 FATOS curiosos sobre o cérebro humano. Revista Galileu, 2 set. 2016. 
Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Caminhos-para-o-futuro/
Saude/noticia/2016/09/45-fatos-curiosos-sobre-o-cerebro-humano.html. 
Acesso em: 4 nov. 2019.
25
NEUROANATOMIA
Galeno classificou os nervos em dois tipos: moles ou sensitivos (para os órgãos dos sentidos) 
e duros (paraos movimentos), atraindo a atenção para o fato de que existem órgãos com os 
dois tipos de nervos, como a língua e os olhos, favorecidos ao mesmo tempo com sensitividade e 
movimento. Ele explicou a duplicidade dos órgãos dos sentidos, dos ventrículos encefálicos e dos 
próprios hemisférios cerebrais para a casualidade de que “se um deles sofrer lesão, o outro suprirá 
a função do que for lesado” (GALENO, 1854, p. 557 apud REZENDE, 2009, p. 69). Ainda descreveu 
o corpo caloso, o fórnice e o infundíbulo da hipófise e admitiu que essa estrutura anatômica se 
comunicava com a cavidade nasal.
 Observação
O corpo caloso consiste num conjunto de fibras transversais, que, 
ao cruzarem a linha média, abrem-se em leques, de forma a alcançar 
os diferentes pontos de toda a convexidade cerebral. Emergindo abaixo 
do corpo caloso, está o fórnice – feixe complexo de fibras nervosas. O 
infundíbulo da hipófise é uma formação nervosa em forma de funil.
Ainda sobre Galeno, ele apresentou pela primeira vez que o organismo era controlado pelo cérebro. 
Localizou uma alma funcional no enkephalon – a parte com a qual ele acreditava que pensávamos –, onde 
se encontra o pneuma psíquico. De tal modo, impôs ao cérebro os papéis da percepção que Aristóteles 
havia atribuído ao coração. Galeno sustentava a teoria de que o pneuma psíquico, uma substância 
que ele acreditava se desenvolver nos ventrículos encefálicos, fluiria através dos nervos cominando 
a sensação e os movimentos voluntários. Em sua visão, os vasos sanguíneos transportavam a energia 
vital, queimada pelo coração, levada então até a base inferior do cérebro, onde ela se transformava em 
princípios espirituais (rete mirable).
Senso 
Comum
Cheiro
Artéria carótida
Consciência
Pneuma vital – fonte primária 
de pneuma psíquico
Pneuma psíquico conduzido 
pelos nervos espinais
Fonte secundária de 
pneuma psíquico
Pneuma psíquico alterado 
por estímulos sensoriais
Ventrículo preenchido com 
pneuma psíquico
Audição
Visão
Figura 15 – Representação da formação do pneuma psíquico
26
Unidade I
Galeno cometeu muitos erros, como o concernente à sua teoria da circulação sanguínea; todavia, 
sem nenhum equívoco, ele foi o médico e anatomista com o prestígio mais duradouro sobre a medicina: 
1.500 anos.
O desenvolvimento da tradição ético-religiosa, que vai se desdobrar por toda a Idade Média, impediu 
os estudos de anatomia. Concomitantemente, as invasões dos bárbaros enfraqueceram o Império 
Romano e devastaram a Biblioteca de Alexandria, onde estavam guardados os estudos gregos sobre 
medicina. No obscurantismo provocado pelo cristianismo na Europa, coube aos árabes os cuidados do 
material recuperado da biblioteca.
O conhecimento obtido da medicina grega, por meio de obras traduzidas, faria da Escola de Galeno 
a mais importante no mundo árabe islâmico. Hipócrates, Herófilo e Erasístrato, antecessores de 
Galeno, e os mais relevantes representantes da medicina clássica, seriam, ao mesmo tempo, venerados 
ao longo de todo o período de ouro dessa cultura. A medicina grega estaria sempre presente e guiaria 
os trabalhos e as pesquisas, devido aos obstáculos de desenvolverem tais atividades em anatomia e 
fisiologia, pela proibição da prática de vivissecção e dissecação. As noções do organismo humano 
emanavam dos gregos.
Na Idade Média, o organismo passou por um processo de ressignificação. As atenções dos indivíduos 
eram voltadas para as ameaças divinas, em comparação às quais os perigos ao organismo passaram a 
ser desdenhadas. Essa seria uma das explicações aceitáveis para a redução do interesse dos indivíduos 
diante das questões de saúde, como a medicina e, consequentemente, a anatomia. Além disso, os roubos, 
as epidemias, a fome, as batalhas empreendidas pelas cruzadas religiosas, os pagamentos de impostos, 
enfim, tudo no feudalismo contribuiu para que as inquietações dos indivíduos se retrocedessem para a 
necessidade de segurança proporcionada pela terra e pela religião.
 Saiba mais
Vamos nos posicionar na História? Neste artigo você irá entender 
por que a Idade Média tem sido frequentemente encarada como 
“A Idade das Trevas”, em razão da intransigência religiosa e do misticismo 
por excelência. Tal fato se deve, em grande parte, ao período seguinte 
– Renascimento – quando o termo foi cunhado, em oposição à Antiguidade 
“luminosa”, humanista e racional, e à redescoberta do humanismo nos 
séculos XV e XVI. Para saber mais acerca do assunto, acesse:
ALMEIDA, C. C. Do mosteiro à universidade: considerações sobre uma 
história social da medicina na Idade Média. Aedos, v. 2, n. 2, p. 36-55, 
2009. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/9830/5643. 
Acesso em: 4 nov. 2019.
27
NEUROANATOMIA
Por esses aspectos, no período medieval, a evolução da anatomia foi estorvada. Os poucos estudos 
das estruturas cerebrais foram imaginados por desenhos e pinturas sem o cuidado de ser realístico 
ou conceber a autêntica forma do cérebro. As figuras foram construídas usando-se de diagramas 
esquemáticos, bidimensionais, os quais retratavam papéis cerebrais diversos, deixando claro que o 
conceito anatômico era incompleto. Funções da visão, da audição, da gustação, da alma e mentais, 
por exemplo, eram projetadas para células, isto é, os ventrículos laterais, esboçados sem propósito de 
expressar a realidade da estrutura anatômica legítima, conforme ilustra a figura a seguir.
Figura 16 – Diagrama esquemático com ilustrações medievais da doutrina celular da função cerebral. 
Observa-se que não há preocupação em representar o cérebro de forma realista e com perspectiva
De tal maneira, foram descobertos, em manuscritos medievais, esboços do cérebro, efetuados 
por autor desconhecido, que mostram um texto de origem em Salerno, os quais datam do ano 
de 1250 e expõem o cérebro com giros e sulcos, todavia de maneira simples, irrigado por uma 
rede de vasos sanguíneos oriundos do pescoço e da região cervical. Um pouco mais real do que 
os diagramas esquemáticos, mas não existe o cuidado de representar integramente a estrutura 
cerebral, porém se avizinha um pouco mais da anatomia realística do que os diagramas.
Figura 17 – Desenho medieval esboçando o cérebro e os vasos sanguíneos
28
Unidade I
No final da Idade Média e durante o Renascimento, a arte se preocupava mais com a 
representação da imagem humana. Nessa época, surgem magníficos professores e anatomistas, 
entre eles Jacopo Berengario. Conta a história ter ele dissecado mais de 100 cadáveres humanos. 
Professor em Bolonha durante 25 anos, Berengario realizou vivissecções, e em suas discussões 
expôs de maneira clara a presença de líquidos nos ventrículos encefálicos. Ele se opôs a alguns 
anatomistas que acreditavam na presença de “um vapor ou espírito”, encontrado em indivíduos 
vivos o qual era “condensado” em líquido após a morte. Era claro para ele, portanto, que esse 
líquido não era “vapor” em organismos vivos. Berengario também descreveu a medula espinal, 
terminando no adulto ao nível de L2.
 Nenhuma pesquisa sobre a história da anatomia no período medieval pode ser considerada 
completa sem citar o nome de Mondino de Luzzi. Ele foi contemplado como o primeiro “restaurador da 
anatomia”. Mondino efetuou dissecções em cadáveres humanos de criminosos e escreveu o manual de 
dissecação, a Anatomia Mondini.
Figura 18 – Uma lição de anatomia. Mondino ilustra a dissecação de cadáver durante 
 a cátedra. Um cirurgião efetua a dissecação e o professor Mondino aponta as estruturas anatômicas
Mondino encarou uma área muito desafiadora, como a anatomia do cérebro, entretanto foi hábil 
em prover uma descrição brilhante e racional por meio de suas dissecações. Atribuiu muitos dos papéis 
cerebrais aos ventrículos, brevemente destacando Galeno, que enfatizou o parênquima cerebral.
29
NEUROANATOMIA
Figura 19 – Ventrículo encefálico
Segundo Mondino, uma vez que as membranas, a dura-máter e a pia-máter são levantadas, o 
cérebro vai aparecer. Ele observou que o encéfalohumano tem duas partes: a anterior, a qual chamou de 
prosencéfalo, e a posterior, que denominou de cerebelo. A parte anterior do encéfalo foi dividida em dois 
hemisférios cerebrais (direito e esquerdo), conforme ilustra a figura seguinte. Mondino dedicou grande 
atenção à descrição dos ventrículos encefálicos. “Os ventrículos encefálicos são em número de quatro. 
O ventrículo anterior é o ventriculus anterior magnus, sendo ele subdividido em: uma parte direita e 
uma esquerda” (CRIVELLATO; RIBATTI, 2006, p. 585, tradução nossa).
Hemisfério direito Hemisfério esquerdo
Figura 20 – Hemisférios cerebrais
30
Unidade I
 Lembrete
Nessas duas partes dos hemisférios cerebrais (direita e esquerda), 
descritas por Mondino, encontram-se os ventrículos laterais da terminologia 
anatômica atual.
Cerebelo (L.), do latim cerebellum: pequeno cérebro (figura a seguir). 
O cérebro posterior, que está localizado na fossa posterior do crânio.
Hemisfério direito Hemisfério esquerdo
Figura 21 – Vista superior do cerebelo
Mondino complementou:
Estes ventrículos são espaçosos e, especialmente, em sua parte anterior 
temos o local de origem das nossas fantasias, já na parte posterior se 
encontram as nossas imaginações, enquanto na parte do meio está o 
ponto de encontro do modo de pensar da maioria dos indivíduos e as 
noções comumente admitidas pelos seres humanos, ou seja, o nosso 
senso comum (CRIVELLATO; RIBATTI, 2006, p. 585, tradução nossa).
Conforme Mondino, os papéis desses ventrículos laterais são, portanto, propor a fantasia, a 
imaginação e o senso comum. O terceiro ventrículo, chamado por ele de ‘’lacuna’’, ou ventrículo médio, 
está disposto no fundo da parte mediana do cérebro.
Este ventrículo é uma cavidade arredondada semelhante a um lago, e o seu 
papel está relacionado com a sede da meditação e do raciocínio (CRIVELLATO; 
RIBATTI, 2006, p. 585, tradução nossa).
O quarto ventrículo, denominado por Mondino de ventrículo posterior, está localizado na 
região posterior do encéfalo, ou seja, junto ao cerebelo. Mondino representou essa região como 
31
NEUROANATOMIA
o ponto de origem da medula espinal e vários nervos motores. Para ele, o ventrículo posterior 
tinha uma forma piramidal e foi interpretado como o lugar da memória. De tal modo, Mondino 
seguiu a doutrina da localização psicológica de Galeno relacionada às funções situadas dentro dos 
ventrículos encefálicos.
 Lembrete
O encéfalo apresenta quatro ventrículos: dois laterais (I e II ventrículos), 
o III ventrículo e o IV ventrículo.
Curiosamente, Mondino descreveu uma estrutura com coloração “vermelho-sangue”, que possui 
a forma de um “verme longo caminhando no solo”, encontrada no espaço entre os dois ventrículos 
laterais. Esta estrutura anatômica corresponde aos plexos corióideos dos ventrículos laterais. 
De acordo com Mondino, esse órgão vascular foi relacionado com a atividade do pensamento, 
porque sua contração gera a obstrução da passagem do espírito vital, seguida de bloqueio de 
qualquer faculdade do pensamento.
Figura 22 – Plexos corióideos
 Observação
Os plexos corióideos, estruturas que se projetam para dentro dos 
ventrículos encefálicos, são responsáveis pela produção de líquido 
cerebrospinal (LCS).
32
Unidade I
Notavelmente, Mondino não se limitou à descrição do cérebro para o aparelho ventricular, 
mas também considerou o tecido cerebral, comparando-o a uma substância como a medula óssea. 
Ele mencionou estruturas distintas na base de cada um dos ventrículos laterais e chamou-as 
de anchae por apresentarem uma forma curva que lembrava as nádegas. Há uma divergência 
histórica sobre essas estruturas descritas por Mondino. Elas seriam, quiçá, os corpos quadrigêmeos 
ou, mais provavelmente, as estruturas descritas por ele, na realidade, são os núcleos caudados 
da anatomia moderna.
 Observação
Os corpos quadrigêmeos são estruturas anatômicas localizadas na 
região posterior do mesencéfalo, formadas por dois colículos superiores e 
dois colículos inferiores.
Colículo superior
Tálamo
III ventrículo
Glândula pineal
MesencéfaloColículo inferior
Vérmis
Hemisfério 
cerebelar esquerdo
Hemisfério cerebelar 
direito
Figura 23 – Vista superior/posterior do cerebelo
 Observação
O núcleo caudado é cosiderado um dos núcleos da base. É assim 
denominado por ter uma longa extensão ou cauda.
O discípulo de Mondino de Luzzi, Guido da Vigevano, realizou dissecações em cadáveres e, a partir 
de seu manuscrito Anathomies, foi o primeiro cientista que utilizou quadros para esquematizar suas 
descrições anatômicas, sendo ele o precursor no desenvolvimento da proximidade entre a neuroanatomia 
e o desenho artístico, como demostram as figuras a seguir.
33
NEUROANATOMIA
Figura 24 – Tábuas de anatomia: Guido da Vigevano
Guido fez esboços de trepanações cranianas por meio de um bisturi e um martelo, cujo intuito 
era mostrar o encéfalo e as duas meninges, até então conhecidas como a dura-máter e a pia-máter. 
Ele definiu as meninges como película.
Figura 25 – Trepanações cranianas
34
Unidade I
Outros achados relevantes de Guido da Vigevano estão relacionados com a medula espinal e a origem 
dos nervos espinais. Esses pares de nervos espinais atravessam os forames intervertebrais, formam os 
plexos nervosos e atingem todo o organismo. Ele demonstrou uma vaga padronização da estrutura 
cortical encontrada na superfície encefálica. Posto isto, os esboços de Guido foram uma contribuição 
valiosa para os avanços da história da neuroanatomia.
Figura 26 – Medula espinal e nervos espinais
Ainda durante a Idade Média, existiu John Arderne, um importante cirurgião em Nottinghamshire 
e Londres, que teve, ao longo de sua vida profissional, oportunidades de aprender e desenvolver 
suas habilidades como cirurgião militar, pois nesse ínterim histórico ocorreu a Guerra dos Cem 
Anos do século XIV. De tal modo, ele observou os ferimentos causados pelas primeiras batalhas que 
utilizaram a pólvora.
Arderne descreveu seus estudos em latim e obviamente usou os ensinamentos de muitos dos 
autores escolásticos de enorme autoridade, como Galeno e Avicena. As figuras seguintes mostram, 
em cortes sagitais, a dissecação da cabeça ao períneo. Na figura a seguir, o cérebro é visto dividido em 
partes: frontal, média e terços posteriores, além dos giros e sulcos que são representados como linhas 
interrompidas. Na figura 28, ele manteve o mesmo padrão de secção do encéfalo. Nesta imagem, 
além da representação do cérebro, há uma tentativa de retratar de forma realística outras regiões e 
órgãos do corpo humano.
35
NEUROANATOMIA
Figura 27 – Dissecção da cabeça ao períneo
Figura 28 – Dissecção da cabeça ao períneo
O Renascimento foi um período que suplicava por “titãs” e que os compôs por força do pensamento, 
paixão, caráter, versatilidade e sabedoria. A anatomia também teve tais “titãs”. Eles aniquilaram a anatomia 
escolástica de Galeno e cimentaram os fundamentos da anatomia cientifica. O precursor desse trabalho 
titânico foi Leonardo da Vinci, o verdadeiro criador foi Vesalius, e a findar esse trabalho esteve Harvey.
As produções que proporcionavam a articulação entre a arte e a ciência demonstrada em alguns 
dos primeiros estudos conhecidos sobre o cérebro não somente influíam como também deram forma ao 
objeto-livro, surgindo como referências em algumas de suas páginas. O trabalho conjunto entre cientistas 
e artistas já acontecia, da mesma maneira, no comentário das observações e, também, na preparação 
36
Unidade I
dos esquemas de representação daquilo que muitas vezes só poderia ser idealizado e explicado. Neste 
contexto, o próprio pesquisador era ao mesmo tempo cientista e artista, como foi o caso de Da Vinci. 
O grande renascentista italiano Leonardo da Vinci se dedicou com ardor às pesquisas minudenciadas 
do organismo humano, esboçando inúmeros desenhos com estudos anatômicos que representavam as 
estruturas interiores e as proporções do corpo, objetivando um maior realismo em sua obra. Ele estudavao organismo instituindo comparações e buscando simetrias com o microcosmos.
Figura 29 – Leonardo da Vinci, o gênio do Renascimento
Da Vinci fez diversos desenhos representando o funcionamento dos órgãos corpóreos, como o cérebro, 
o esqueleto, o caminho de veias e as estruturas digestivas. Em algum momento da história, quiçá acirrado 
por um revigorado interesse na anatomia, ele tornou-se um “consumidor voraz “ de cadáveres. Por volta 
de 1508, Da Vinci fez moldes, em cera derretida, dos ventrículos encefálicos, para estudar a sua estrutura.
Figura 30 – Fisiologia do cérebro, de Leonardo Da Vinci 
37
NEUROANATOMIA
Figura 31– Forma dos ventrículos, de Leonardo Da Vinci
O médico alemão Johann Dryander é considerado o primeiro anatomista a publicar um livro com 
imagens de suas dissecações. Ele divulgou em sua obra Anatomia Capitis Humani imagens que retratavam 
o impacto da transição dos desenhos da doutrina medieval, isto é, a teoria das células cerebrais, com a 
total despreocupação voltada para a representação realística do cérebro. A visão moderna que Dryander 
exibia em suas imagens representava as estruturas intracranianas de maneira realística, uma novidade 
para o período, como era vista por ele na dissecação das meninges, do cérebro, dos ventrículos e do 
crânio, conforme ilustra a figura seguir.
Figura 32 – Imagens da obra de Johann Dryander, Anatomia Capitis Humani
38
Unidade I
Quando Michelangelo Buonarroti pintou A Criação de Adão, como parte da encomenda da pintura 
do teto da Capela Sistina, em Roma, feita em 1508 pelo Papa Júlio II, registrou em carta a melancolia de 
escultor forçado a desempenhar ocupação de pintor: “Isso não é da minha profissão. Perco o meu tempo 
sem resultado. Que Deus me ajude!” (NÉRET, 2000. p. 23).
Michelangelo seguramente não era um católico impetuoso; sua religiosidade permanecia mais para 
o corpo criado do que para a mente do divino criador. Manifestava sua curiosidade de homem do 
Renascimento, que o levara à dissecção de organismos humanos para que melhor compreendesse as 
formas que compunham sua escultura e sua pintura.
A partir de 1990, foram feitas descobertas acerca de alguns segredos contidos na pintura da Capela 
Sistina. Nesse ano, o médico americano Frank Meshberger descobriu que na cena A Criação de Adão o 
manto de Deus significava seguramente um corte de um crânio e do cérebro nele contido. Entre os anos 
de 1989 e 2003, o oncologista brasileiro Gilson Barreto pesquisou e descobriu a série completa do que ele 
denominou de O Código Michelangelo. A dissecção de praticamente todas as partes do organismo humano 
estava representada, e cada uma disfarçadamente apontada por rastros nas pinturas da Capela Sistina.
A primeira descoberta de um desenho escondido nas imagens da Capela Sistina, a que mostrou um 
cérebro idêntico com a imagem divina, faz jus a um cuidado especial. Nessa imagem, o Deus criador, em 
meio a seu manto envolvente e a um grupo de anjos, corresponderia às partes mais centrais do cérebro 
humano, como o corpo caloso. Na realidade, a imagem de Deus possui leve defeito diagonal que, em geral, se 
observa em processos de dissecação, contudo todas as partes anatômicas estão corretamente representadas 
na pintura. Há somente um detalhe que evade à correção anatômica que nenhum pesquisador conseguiu 
esclarecer: o braço estendido de Deus ultrapassa os limites de uma possível representação de caixa craniana.
 Saiba mais
A fim de aprofundar suas leituras sobre esses temas, leia:
ASSIS JUNIOR., H. Leonardo e Vesalius no ensino de anatomia humana. 
Metrocamp Pesquisa, v. 1, n. 1, p. 118-30, 2007.
KICKHÖFEL, E. H. P. A lição de anatomia de Andreas Vesalius e a ciência 
moderna. Scientiae Studia, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 389-404, jul./set., 2003. 
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1678-31662003000300008. Acesso em: 4 nov. 2019.
LIRA, W; ALVES, K. S. G. A anatomia do corpo humano através da arte. 
In: ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 13., 2009, Castelo 
Branco. Actas... Castelo Branco (Portugal): Escola Superior de Educação do 
Instituto Politécnico de Castelo Branco, 2009. Disponível em: http://files.
didatica-das-ciencias9.webnode.com/200000026-339b934957/Artigo%20
A%20anatomia%20do%20corpo%20atrav%C3%A9s%20da%20arte%20
ATAS.pdf. Acesso em: 4 nov. 2019.
39
NEUROANATOMIA
Figura 33 – A arte secreta de Michelangelo: uma lição de anatomia na Capela Sistina
As bases da anatomia como ciência foram determinadas por Vesalius de Bruxelas, em 1543, 
quando ele publicou os desenhos e os textos que compõem a obra De Humani Corporis Fabrica, 
que corrigia e reformulava os conceitos e as ilustrações anatômicas do período, na busca de uma 
“exatidão real”. A obra de Vesalius, ao priorizar a observação e a pesquisa, é apresentada como o 
início da ciência moderna. Ele é considerado o pai da anatomia e um autêntico representante da 
Renascença, reunindo ciência e arte. Entretanto, é chamado pelos seus inimigos da fé católica de o 
Martinho Lutero da anatomia humana.
Vesalius começa o seu livro e traz o tema a respeito do cérebro e do sistema nervoso:
O encéfalo é a sede da alma dos indivíduos e das suas faculdades. Ele reside 
no crânio, sendo que magnificamente se ajusta ao seu formato na cavidade 
superior da cabeça, e assim, ocupa todo esse espaço (GOMES et al., 2015, 
p. 157, tradução nossa).
Em alguns trechos de seu livro, Vesalius faz menções da abertura do crânio com analogias à de 
um cofre:
Primeiro, o encéfalo está protegido por uma membrana, a dura-máter. Após 
a sua remoção, surgem as partes dos hemisférios cerebrais direito e esquerdo, 
que por sua vez é contínuo pela medula oblonga e medula espinal.
[...]
40
Unidade I
Após a remoção da dura-máter, percebam que ela envia uma dobra entre 
os dois hemisférios cerebrais (foice do cérebro), e entre o cérebro e o 
cerebelo (tentório do cerebelo). Assim, a exposição dos hemisférios cerebrais 
possibilita a visualização de duas grandes cavidades (ventrículos laterais), os 
giros cerebrais e a substância branca subcortical. Em um nível mais profundo, 
observam-se estruturas subcorticais, como o tálamo, o globo pálido, o 
putame, o núcleo caudado e as cápsulas internas e externas. A remoção 
da parte posterior do cérebro revela o cerebelo e o tronco encefálico. Após 
“virar” anteriormente o cerebelo e todo o tronco encefálico, enfim a medula 
espinal aparece.
[...]
Internamente, os ventrículos laterais estão conectados com o III ventrículo, 
e este por sua vez é contínuo por um canal (aqueduto do mesencéfalo) que 
termina no IV ventrículo. Nos ventrículos pode ser observado um plexo ou 
redes (plexo corióideo). Vejam o septo (septo pelúcido), o corpo caloso, a 
abóbada (fundo de saco) e o cerebelo, sua relação com esses ventrículos 
(GOMES et al., 2015, p. 157, tradução nossa).
A figura a seguir (A, B, C, D) ilustra essa descrição:
Figura 34 – Ilustração de Fabrica (1555), de Andreas Versalius
Então, Vesalius segue com a sua descrição detalhada do crânio, da coluna vertebral e dos 
nervos periféricos:
41
NEUROANATOMIA
Em uma visão da base do encéfalo, se revelam os sete pares de nervos 
cranianos, além do primeiro par de nervos que representam os nervos ópticos, 
sendo que estes acabam junto à túnica do olho. Entretanto, o órgão do 
olfato (trato olfatório) não deve ser classificado como um nervo, mas 
observem que se encontra na base do encéfalo (GOMES et al., 2015, p. 157).
Figura 35 – Ilustração de Fabrica (1555) SNP
Ele também dá considerações funcionais adequadas ao seu tempo, citando o “catarro do cérebro” 
e o seu fluxo através de um canal em forma de funil (infundíbulo) até as narinas, depois de ter sido 
“destilado” por uma glândula quadrada (hipófise):
Com a reflexão de que o “espírito vital” é produzido nos plexos corióideos e, 
desde o ar aspirado para os ventrículos encefálicos por meio da respiração, a 
força inata das substâncias cerebrais cria o “espírito animal” que o encéfalo 
fazuso, em partes, para os comandos principais da mente (GOMES et al., 
2015, p. 157).
 Observação
Pequeno glossário das estruturas anatômicas mencionadas por Vesalius:
• Bulbo ou medula oblonga é a parte inferior do tronco encefálico.
• Foice do cérebro é um septo vertical mediano em forma de foice 
que ocupa a fissura longitudinal do cérebro separando os dois 
hemisférios cerebrais.
42
Unidade I
• Tentório do cerebelo é uma dobra da dura-máter que separa o 
cerebelo do lobo occipital do cérebro.
• Tálamo é parte do cérebro.
• Globo pálido e putame são estruturas que formam os núcleos da base.
• Cápsula interna consiste em um feixe de fibras localizadas no cérebro 
que apresenta partes do neurônio que se dirigem ao córtex cerebral 
ou partem dele com destino a regiões subcorticais.
• Cápsula externa é uma lâmina branca encontrada entre alguns dos 
núcleos da base.
• Aqueduto do mesencéfalo é uma passagem estreita no mesencéfalo 
que une o III ventrículo ao IV ventrículo.
• Septo pelúcido é uma estrutura anatômica fina que separa os dois 
ventrículos laterais.
Mesencéfalo
Ponte
Bulbo
Medula espinal
Cerebelo
Tálamo
IV ventrículo cerebral
Figura 36 – Vista medial do tálamo, tronco encefálico e cerebelo no plano de secção sagital
43
NEUROANATOMIA
 Lembrete
O tronco encefálico é dividido em mesencéfalo, ponte e bulbo.
Foice do cérebro
Figura 37 – Vista inferior da meninge dura-máter
Corpo caloso
Ventrículo lateral
Septo pelúcido
Núcleos da base 
(núcleo caudado)
Figura 38 – Vista anterior do cérebro no plano de secção coronal
Nomes relevantes seguiram Vesalius ou foram contemporâneos dele. Em Roma, Bartolomeu 
Eustachio foi professor de anatomia da Universidade della Sapienza; por sua vez, conseguiu autorização 
da Igreja para realizar dissecações. Ele fez muitas descobertas, e a sua fama – póstuma, aliás – adveio 
de seus maravilhosos desenhos anatômicos. Eustachio foi um dos primeiros anatomistas a reproduzi-los 
em cobre, em vez de madeira.
44
Unidade I
Figura 39 – Ilustração de Eustachio mostrando o SNC e os nervos periféricos e cranianos
Em 1663, o médico e anatomista Franciscus Sylvius descreveu uma marca profunda na superfície lateral 
do cérebro que começava próximo da órbita curvando-se posterior e superiormente, seguia tão distal quanto 
a origem do tronco encefálico, separando o cérebro em uma parte superior e uma inferior, que foi chamada de 
sulco lateral. Em seu tributo, é nomeada, também, de fissura de Sylvius. Ele ainda descreveu outras estruturas 
anatômicas, como a artéria média do cérebro, a cisterna da fossa lateral do cérebro, a veia média profunda do 
cérebro, as veias médias superficiais do cérebro e a cavidade do septo pelúcido.
Sulco lateral
Cerebelo Ponte
Figura 40 – Sulco lateral
Professor de anatomia em Bolonha, Costanzo Varolio é conhecido mundialmente no campo da 
neuroanatomia. Seu nome está associado com a formação de uma estrutura anatômica denominada 
de ponte ou ponte de Varolio. Ele comparou a base e os pedúnculos cerebelares médios a uma 
45
NEUROANATOMIA
ponte, sob a qual passavam as fibras longitudinais para a medula oblonga como se fosse a água 
sob uma ponte. Essa estrutura anatômica é hoje denominada de base da ponte, contendo as fibras 
corticospinais e pontocerebelares.
Figura 41 – Costanzo Varolio
 Observação
As fibras corticospinais são vias descendentes do córtex cerebral até a 
medula espinal.
Partes dos neurônios dos núcleos pontinos constituem as fibras 
transversais da ponte ou fibras pontocerebelares.
Antes de Costanzo Varolio, a ponte fora ilustrada por Bartolomeu Eustachio, em seu livro Tabulae 
Anatomicae de 1552, mas infelizmente esse trabalho permaneceu inédito por mais de 150 anos.
Varolio também contribuiu em outras descrições neuroanatômicas no século XVI. Teve particular 
atenção às origens intracranianas dos nervos e desenvolveu um novo método de dissecar o cérebro 
no plano axial, a partir da base cerebral em direção à convexidade. Esse método permitiu uma melhor 
visualização da estrutura cerebral e dos nervos cranianos. Ele também é considerado o primeiro a ter 
descrito os lobos cerebrais, ao postular que cada hemisfério cerebral era composto de três prominências, 
as quais Varolio denominou de anterior, média e posterior, acreditando que corresponderia ao I, II e III 
ventrículos, respectivamente.
46
Unidade I
Um dos maiores filósofos ocidentais de todos os tempos foi René Descartes. Ele era conhecedor da 
descrição completa do organismo humano oferecida por Vesalius, em 1543.
Figura 42 – René Descartes
No tocante à relação mente-cérebro, ou melhor, alma-corpo, Descartes menosprezou tanto 
a informação aristotélica de alma como forma do organismo quanto o conhecimento de alma 
como preceito de vida dos escolásticos. Ele definiu a alma como substância consciente ou 
pensamento, uma vez que a alma era diferente do organismo por apresentar uma natureza 
inseparável, enquanto o organismo era sempre divisível. Embora distintos, a alma interatuava 
com o organismo.
Através da glândula pineal, Descartes cria um pequeno órgão vestigial no cérebro. Esse órgão foi 
sugerido por tratar-se de uma das poucas partes não duplicadas do cérebro. Descartes reconstituiu a 
doutrina do ser dualista, de que alma e organismo eram compostos por diferentes substâncias – uma 
teoria que se tornou crença habitualmente acolhida por pensadores europeus.
Ele foi um exímio anatomista e fisiologista e estudou fenômenos simples, como o movimento 
involuntário que ocorre em um membro quando alguém queima a sua mão ou o seu pé em uma 
brasa; sugeriu essa ideia como arco reflexo. De forma brilhante, detalhou os componentes desse evento: 
primeiro a sensação de dor, em seguida a sua condução pelos nervos sensitivos que levam os estímulos 
até o SNC, posteriormente as respostas pelos nervos motores, que são excitados, e por fim os músculos 
responsáveis pelo ato.
47
NEUROANATOMIA
Figura 43 – Ilustrações neuroanatômicas de René Descartes
 Lembrete
O arco reflexo é a resposta involuntária rápida a certo estímulo 
periférico originado pela alça de conexão sináptica localizada na 
medula espinal. É designado de simples, ao compreender somente um 
neurônio sensitivo e um motor, ou composto, quando entre eles existe 
um interneurônio.
Em razão da ausência de tecnologia apropriada para “desvendar” o cérebro, Vesalius e outros 
anatomistas do período restringiam-se a representações das características morfológicas do órgão. Isso 
também lhe permitia exceder discussões teológicas polêmicas, como a de que a prática da dissecção 
cerebral demandaria uma atitude de blasfêmia, pois denotaria a dissecção da alma.
Os anatomistas levavam em consideração o dualismo articulado por René Descartes. Por mais que o 
cérebro pudesse ser dito a sede da alma, ele não era a alma, e essa noção de que o órgão não tinha outros 
significados além da sua materialidade teria tornado pouco atraente a sua representação pitoresca e 
reproduzida, em oposição ao que aconteceu com o coração, largamente usado nas pinturas com temas 
religiosos, como o Sagrado Coração de Jesus.
48
Unidade I
Figura 44 – O Sagrado Coração de Jesus
No Barroco, período profundamente religioso, o organismo passa a ser representado de forma 
contorcida e dramática, com a teatralização nas obras. De tal modo, a pintura busca a união entre o 
profano e o sagrado em um organismo comum. Rembrandt foi um grande conhecedor de anatomia, 
utilizando-se desse tema em seus quadros. Como na pintura A Lição de Anatomia do Dr. Deyman, 
ele apresentou a dissecação de um cérebro, baseado nas ilustrações de Veasalius. O homem morto 
na imagem é Joris Fonteijn, conhecido como “Janeiro Negro”, um ladrão que sofreu a pena de morte. 
Como era tradicional nesses dissecações, o estômago e os intestinos eram removidos antes do cérebro. 
Gysbrecht Calcoen, um indivíduo que visava proporcionar assistência e proteção aos seus membros, 
detém a calvária, enquanto Dr. Deyman removea foice do cérebro.
Figura 45 – A Lição de Anatomia do Dr. Deyman
49
NEUROANATOMIA
Em 1600, o médico, anatomista e fisiologista inglês Thomas Willis, autor do livro Patholigiae 
Cerebri, apresentou excelentes ilustrações que possibilitaram um conceito de localização de alguns 
papéis cerebrais, como o senso comum, a imaginação e a memória, situadas, respectivamente, no corpo 
estriado, no corpo caloso e no córtex cerebral.
Figura 46 – Retrato de Thomas Willis da página de título de Pathologiae Cerebri (1667)
 Lembrete
O corpo estriado é um dos núcleos da base.
Para Willis, o centro do movimento e da memória se abrigam no cérebro; o do movimento 
involuntário, no cerebelo; da imaginação, no corpo caloso; e o da sensibilidade e do senso comum, 
no corpo estriado, deixando óbvio que foi precursor em um enfoque ordenado da função cerebral 
fora dos ventrículos. Suas ideias estavam próximas da realidade, entretanto os saberes ainda eram 
muito empíricos.
Ele desponta como favorável à conhecida teoria dos espíritos animais, que se compõem no cérebro 
mediante destilação com base no sangue arterial e, a partir dos nervos, descem as regiões de atuação 
como os causadores da sensação e do movimento.
Em sua obra De Cerebri Anatome, Willis introduziu um novo sistema de numeração dos nervos 
cranianos, agrupados conforme as suas funções, descreveu extensamente sobre os núcleos da 
base, o tronco encefálico e o cerebelo, além de realizar esquemas detalhados das inervações vagal 
e simpática.
50
Unidade I
Figura 47 – Página de título De Cerebri Anatome (2. ed., 1664). Ilustração mostra Willis à direita do cadáver
Figura 48 – Os nervos cranianos e o tronco encefálico
Figura 49 – Inervação vagal
51
NEUROANATOMIA
Thomas Willis descreveu a clássica anastomose da circulação arterial e a sua função – complexo 
vascular na base do encéfalo –, conhecida como “polígono de Willis”, rompendo para sempre com a ideia 
galênica da rete mirable, ou seja, dos princípios espirituais.
Ele utilizou pela primeira vez a terminologia “ação reflexa”. Outra descrição relevante dele foi a de 
sugerir que o plexo corióideo fosse o responsável pela absorção do LCS.
Figura 50 – Ilustração da base de um encéfalo humano revelando o “polígono de Willis”
Na imagem anterior, observa-se que os giros cerebrais ainda não eram descritos com as mais elevadas 
precisões. Eles servem como um “pano de fundo” para as estruturas anatômicas da base do encéfalo 
que Thomas Willis ambicionou realçar, e algumas terminologias anatômicas ainda prevalecem até hoje, 
como o pedúnculo cerebral e as pirâmides.
Nicolaus Steno criticou de maneira inconveniente o trabalho de Willis, ao afirmar que as melhores 
descrições sobre o encéfalo que temos até o presente momento são aquelas que nos são oferecidas por 
este senhor.
Outra descrição relevante foi que Thomas Willis insinuou a ideia da barreira hematoencefálica, ao 
sugerir que somente as partículas menores, as quais seriam essenciais para o rápido desempenho dos 
papéis cerebrais, passsariam do sangue para o cérebro.
52
Unidade I
 Observação
A barreira hematoencefálica é uma estrutura que evita ou dificulta 
a passagem de substâncias do sangue para o parênquima nervoso, 
cujo substrato anatômico são as junções oclusivas que unem as células 
endoteliais do revestimento capilar.
 Saiba mais
Agora, você já é capaz de compreender os papéis da barreira 
hematoencefálica. Para isso, sugerimos a leitura do artigo científico:
CABREIRA, L. M. B; CECCHINI, A. L. Imunopatologia da esclerose múltipla. 
Biosaúde, Londrina, v. 8, n. 2, p. 125-144, jul./dez. 2006. Disponível em: 
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/biosaude/article/view/125-144/ 
19402. Acesso em: 4 nov. 2019.
Após Willis, a combinação de anatomia e ilustração do encéfalo ficou estancada até o final do 
século XVIII. O anatomista francês Félix Vicq d’Azyr, que incialmente se mostrou talentoso poeta, fora 
convencido por seu pai a prosseguir a tradição familiar de entrar para a medicina.
Encantado com as ideias de Étienne Bonnot de Condillac e John Locke, Vicq d’Azyr foi convencido 
de que o estudo humano deve ser alumiado pelo estudo dos animais; para ele, o lugar do homem na 
natureza não é totalmente compreendido sem uma simbiose com as demais espécies.
Figura 51 – Retrato de Félix Vicq d’Azyr. A assinatura de Vicq d’Azyr foi tomada de uma carta manuscrita 
encontrada na Biblioteca da Académie Nationale de Médecine e eletronicamente importada para o retrato
53
NEUROANATOMIA
Vicq d’Azyr dissecou muitos animais pertencentes a espécies diferentes, incluindo raras 
amostras obtidas na África, e progressivamente desenvolveu um amplo conhecimento no campo 
da anatomia comparativa.
Figura 52 – O mandril
Os conhecimentos sobre a neuroanatomia não avançaram após as contribuições realizadas por 
Andreas Vesalius. Durante o século XVI, os tratados anatômicos de Jean Riolan e Raymond Vieussens 
e as descrições encefálicas estavam “enterradas” em capítulos dedicados à esplancnologia, sendo a 
dura-máter considerada como um “envelope” semelhante à pleura e ao peritônio que revestem as 
paredes torácica e abdominal, respectivamente.
Em contrapartida, Vicq d’Azyr era fascinado pelo encéfalo, considerando esses órgãos como os 
responsáveis pelo pensamento. De tal modo, ele percebeu que o avanço da neuroanatomia se beneficiaria 
imensamente com os conhecimentos funcionais desses órgãos.
Vicq d’Azyr dividiu a superfície convexa do cérebro em três grandes áreas: frontal, parietal e occipital, 
correspondendo às áreas anterior, média e posterior, como os lobos de outros anatomistas. Estudou o 
córtex cerebral, delimitando a fissura longitudinal do cérebro, o giro pré-central e o giro pós-central, 
entretanto não os nomeou. Foi também o primeiro anatomista a descrever o fascículo mamilotalâmico, 
a estria da camada granular interna do córtex cerebral e o forame cego, sendo este correspondente à 
terminação na fissura mediana anterior da medula espinal.
54
Unidade I
Figura 53 – A) Desenho de um cérebro humano seccionado ao longo do plano sagital e que ilustra o corpo caloso, a estria da lâmina 
granular interna do córtex cerebral (faixa interna de Baillanger) e a glândula pineal. O bulbo olfatório, o pedúnculo e as estrias 
também são ilustrados em conjunto com a substância perfurada anterior. B) Desenhos de uma secção parassagital do cérebro 
humano que ilustra o fascículo mamilotalâmico
Vicq d’Azyr também forneceu insuperáveis representações da formação do hipocampo. Ele identificou 
os sulcos occipitoparietal e calcarino; os giros do cíngulo – o pré-cúneo e o cúneo –, o unco; a substância 
perfurada anterior; a ínsula; o trato espinotalâmico; vários sulcos cerebelares; e a estrutura interna da 
medula espinal. Além disso, é de Vicq d’Azyr, e não de Samuel Thomas Sömmerring como comumente 
se acredita, a descoberta da substância nigra.
Figura 54 –Reprodução de duas figuras em cores, de Vicq d’Azyr, as quais representam seções 
horizontais através do cérebro humano tomadas a dois níveis diferentes dorsoventrais
55
NEUROANATOMIA
Vicq d’Azyr também complementou a descrição dos núcleos da base, fez uma clara distinção entre 
o núcleo caudado e o putame, observou a existência dos dois segmentos do globo pálido, que foram 
nomeados cinquenta anos mais tarde pelo alemão neuroanatomista Karl Friedrich Burdach e, por fim, 
demonstrou experimentalmente, bem como anatomicamente, a existência do forame interventricular 
entre os ventrículos laterais e o terceiro ventrículo.
Em geral, porém, o seu trabalho sobre a fisiologia cerebral era muito menos preciso do que a sua 
contribuição para a organização estrutural do cérebro. Como ele defendia uma ideia medieval e arcaica, 
sustentada por Galeno em relação à decussação dos nervos ópticos, acreditava que as fibras ópticas 
não cruzassem a linha média, exceto em alguns peixes, ao imaginar que o cruzamento dessa estrutura 
anatômica estivesse completo.
Lobo parietal
Lobo

Outros materiais