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Layane Silva REVISÃO - ESPECIALIDADES CLÍNICAS ● Estrutura e função da pele PELE: maior órgão do corpo, 15% do peso total, primeira interface entre o corpo e o mundo externo, está constantemente em atividade (dinâmico). a. Propriedades e falhas cutâneas - Prevenir infecção pela imunidade inata e adaptativa (células de defesa residentes e transitórias). Falha: infecções fúngicas, bacterianas e virais, autoimunidade, câncer. - Manutenção de barreira. Falha: infecção e desidratação (grande queimado faz distúrbios hidroeletrolítico pela perda da barreira) - Reparo de danos, constantemente conserta microescoriações e microlesões Falha: câncer e úlceras de perna. - Proporcionar circulação através de pequenos vasos Falha: infarto (embolização, vasculite ou oclusão). - Comunicação. Falha: neuropatia sensorial, prurido. - Nutrição. Falha: deficiência de vitamina D. Síntese de vitamina D é 80% pela exposição solar (UVB) que estimula a produção ao interagir com o precursor (7-dehidrocolesterol) transformando em vitamina D3 que vai para o fígado, é transformado em calcidiol, transportada para o rim, e vira calcitriol, que atua na absorção do Ca pelo túbulo renal e intestino; e 20% dieta. Dosagem é feita por 25-OH-vitamina D (calcidiol inativo). - Regulação/percepção térmica (tecido adiposo e glândulas sudoríparas). Falha: hipotermia e hipertermia. Glândula sudorípara produz suor para resfriar o corpo se superaquecido, fazendo vasodilatação para perder calor e vasoconstrição para reter calor junto com o tecido adiposo que mantém o calor. - Atrair atenção. Falha: fotoenvelhecimento pode gerar vitiligo ou alopecia. Radiação ultravioleta (λ = 100-400 nm) tem dois tipos: UVA: causa dano oxidativo, envelhecimento e melanogênese pois atinge camadas mais profundas e destrói as fibras de colágeno, é contínua no sol; UVB: causa queimadura solar e carcinogênese (exposição intensa de 10-15 h). Melanina é o cromóforo que absorve e dispersa RUV impedindo que ela danifica o DNA e o bronzeamento é ummecanismo de defesa. A proteção contra luz visível é feita por barreiras físicas, com cor já a proteção contra a radiação, apenas com protetor solar - aplicar 2g/cm2 e reaplicar de 2/2 horas. b. Estrutura da pele EPIDERME: mais externa, origem ectodérmica - exceto melanócitos (origem neuroectodérmica) - formada por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e com estrutura variável. Espessura: 0,07-0,12 mm: região palpebral; 0,8 mm: região palmar; 1,4 mm: região plantar (+ atrito mecânico). Pálpebra é a região mais fina pelo movimento delicado de piscar para proteção da córnea do ressecamento. Composição: queratinócitos, células de Langerhans, células de Merckel e melanócitos. - Tipos de células Queratinócitos: maior população, tem filamentos intermediários no citoplasma (citoqueratinas), se distanciam da membrana basal e se diferenciam (perdem organelas e núcleo), queratinizam e morrem na superfície (camada córnea) em 26-42 dias. Melanócito/Corneócitos: células dendríticas produtoras de melanina, formam unidades melanodérmicas (1 melanócito transfere melanina para 36 queratinócitos por prologamentos dendríticos - existem 1 melanócito para cada 10 queratinócitos). A cor da pele depende de morfologia (produção e capacidade de maturação) e distribuição dos melanossomos, existemmais células na face, genitálias, região nasal e oral. Também está presente na retina, íris, meninge e ouvido interno. Vitiligo: doença autoimune que ataca o monócito, restrito a pele, sem outras repercussões. Células de Langerhans: células mesenquimais originadas na medula óssea, compostas por células dendríticas sentinelas (macrófagos teciduais), tem função imunológica (captura, processamento e apresentação de antígenos para células T - desencadeia resposta Th2 e Th17), principalmente em doenças inflamatórias não infecciosas. Seu número e função diminui com a exposição solar. 1 Layane Silva Células deMerkel: células mecanorreceptoras para sensibilidade tátil, tem contato com terminações nervosas (corpúsculos de Merkel), abundantes nas pontas dos dedos (melhor sensibilidade tátil fina). Todas as células podem sofrer transformação neoplásica, gerando tumor de pele não melanoma (principal), melanoma (alta letalidade, metástase grave para SNC) e tumor de Merkel (agressivo, invasão local rápida). - Camadas Basal: queratinócitos cubóides + melanócitos + células de Merkel, aderidas à membrana basal por hemidesmossomos; camada germinativa por renovação do epitélio, intensa atividade mitótica (rica em células-tronco), atua na coesão das camadas. Os hemidesmossomos conectam as células com o tecido conjuntivo e na superfície estão os desmossomos. Epidermólise bolhoso: doença autoimune por ausência de produção dos desmossomos, a derme e epiderme não ficam aderidas e qualquer atrito forma uma ferida, a pele se solta nas extremidades, há anemia e desnutrição pelo gasto energético de reparação tecidual. Espinhosa: + espessa; células poligonais, cubóides ou achatadas com núcleo central e prolongamentos citoplasmáticos. Os desmossomos (desmogleína + desmocolinas) fazem a conexão de queratinócitos, formados por proteínas. Malpighiana: camada espinhosa + camada basal, junção da granulosa com a espinhosa (ambas tem núcleo), após granulosa, o queratinócito não tem núcleo. Granulosa: 1-5 camadas de células achatadas/poligonais com grânulos de queratohialina (queratina + filagrina), atua na barreira cutânea (secretam corpos lamelares - lipídios no espaço intercelular por exocitose, impede passagem de água). Estrato lúcido: regiões palmar e plantar, delgada, camada fina de células achatadas, eosinofílicas, sem núcleos e organelas, tem filamentos de queratina compactos e paralelos à superfície para sustentar atrito. Córnea: superficial, 15-20 camadas de células achatadas, mortas, sem núcleo e organelas, queratinizadas embebidas emmatriz amorfa, removida na descamação. DERME: intermediária, origemmesodérmica - exceto anexos cutâneos (origem ectodérmica); atua no suporte, nutrição e ligação entre epiderme e hipoderme; espessa no dorso e fina na face. Composição: tecido conjuntivo frouxo com fibras de colágeno 1 (firme e reticular) e 3 (papilar), fibras de colágeno com substância fundamental, vasos sanguíneos, fibroblastos, linfócitos, mastócitos, macrófagos e dendrócitos dérmicos, anexos cutâneos e receptores sensoriais. O colágeno é produzido pelos fibroblastos, a matriz amorfa produz a substância fundamental (proteoglicano + ácido hialurônico) que liga os tecidos. - Camadas Papilar: superficial, delgada, com tecido conjuntivo frouxo + pequenos vasos (nutrição) e papilas dérmicas (adesão e nutrição). Reticular: profunda,mais espessa, com tecido conjuntivo denso, folículos pilosos, glândulas sebáceas e sudoríparas; tem anexos cutâneos (receptores sensoriais) - nela é aplicado ácido hialurônico e bioestimuladores de colágeno - Meissner: tátil - Pacini: pressão e vibração - Rufini: pressão, estiramento e calor - Terminações nervosas livres: dor - Krause: frio HIPODERME: interna (profunda), origemmesodérmica, tecido celular subcutâneo ou panículo adiposo (lóbulos de adipócitos); tem tecido conjuntivo frouxo e tecido adiposo, vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Atua unindo a derme aos órgãos, deslizamento da pele sobre as estruturas, proteção mecânica, armazenamento de energia, termogênese e função endócrina (conversão de estrógeno pela aromatase). c. Anexos da pele UNIDADE PILOSSEBÁCEA: localizada na derme, inclui pelo, glândula sebácea, músculo eretor do pelo, glândula sudorípara apócrina e écrina. - Glândula sebácea + apócrina: controle hormonal - Glândula écrina: produz suor, controle simpático Glândula sebácea: invaginação lateral da bainha do folículo piloso, ativa na puberdade (hormônio- dependente), independe de folículo piloso (glândulas de Fordyce: lábios, glande e pequenos lábios) e ausente na região palmar e plantar. Tem produção holócrina, ela se destrói para produzir a secreção que sai pelo poro.- Poro: estrutura fisiológica conectada ao folículo piloso. 2 Layane Silva Glândula sudorípara écrina: ducto desemboca na pele, concentra na região palmoplantar, fronte e axilar, depende do controle simpático colinérgico (produz suor em resposta a temperatura ou ao estresse), ausente em glande e vermelhão do lábio. Glândulas sudoríparas apócrinas: desemboca com folículo piloso, ativa na puberdade (hormônio- dependente), produz suor e são odoríferas (liberam feromônios), ficam na axila, genitais, mamilos e perianal. APARELHOUNGUEAL: anexo cutâneo complexo com estruturas horizontais, camada córnea modificada formada por queratina (tecido morto). Camada córnea + leito + falange + gordura (amortecimento) + articulação interfalangeana Lâmina ungueal: estrato córneo, queratina, produção na matriz da unha - dobra proximal (cutícula/eponíquio), que protege a unha do meio externo. Leito ungueal: epiderme e derme. ● Semiologia dermatológica a. Anamnese Identificação: exposição ocupacional (exposição solar), idade, sexo, procedência e etnia. - Cor: cor de pele relatada pelo paciente; - Fototipo: cor definida pela classificação de Fitzpatrick. I: pele muito clara, cabelo loiro ou ruivo, olhos claros, sempre queimam, não bronzeiam - muito susceptíveis a danos pela exposição solar, alto risco de CA de pele II: pele clara, cabelo loiro ou castanho claro, olhos claros ou castanhos, queimam com facilidade, bronzeiam pouco - susceptíveis a danos pela exposição solar, alto risco de CA de pele III: pele clara a morena, cabelo castanho ou preto, olhos castanhos, queimammoderadamente, bronzeiam gradualmente - risco moderado de CA de pele IV: pele morena, cabelo preto, olhos escuros, raramente queimam, bronzeiam facilmente - risco moderado a baixo de CA de pele V: pele escura, cabelo preto, olhos escuros, não queimam, bronzeiam facilmente - risco baixo de CA de pele, mas precisam de proteção solar adequada. VI: pele muito escura, cabelo preto, olhos escuros, não queimam, não precisam bronzear, mancham a pele facilmente pela produção de melanina - risco muito baixo de CA de pele, mas precisam de proteção solar. Queixa principal: duração, sintomas locais (prurido, dor, ardor, odor) e sistêmicos, uso de tópicos e protetor solar, hábitos de banho e cuidados, hábitos de manicure e procedimentos capilares. O principal sintoma da pele é o prurido. O sabonete de aroeira é um produto que causa dermatite de contato e piora a doença de pele - esfoliar ou ressecar a pele predispõe a dermatites. Antecedentesmédicos: dermatológicos e outras morbidades, alergias e uso de medicamentos (vitaminas, suplementos, naturais, contraconceptivos). História psicossocial: lazer e exposição solar. b. Exame dermatológico Avalia pele, anexos, mucosas, gânglios linfáticos, articulações e nervos periféricos. Com boa iluminação, sentido céfalo-podálico, inspecionar queixa principal e o tegumento ao redor, reparar em detalhes e à distância. Inspeção e palpação: tipo de lesão, cores, forma, simetria, alterações secundárias, distribuição/topografia e arranjo. Lesões elementares: definir o tipo de lesão. -Morfologia: arredondada, anular, em gota, numular, em alvo, linear retilínea, linear serpiginosas e poligonal. - Arranjo (disposição): arciforme, herpetiforme, policíclico, agrupadas, rendilhado; segue os dermátomos, linhas de Blaschko (padrão de crescimento da pele - mosaicismo), linhas de tensão (cirurgia). - Distribuição: fotodistribuição, em superfícies extensoras e flexoras, áreas seborreicas (cabeça, pescoço, tronco superior e centrofacial), áreas intertriginosas (axilas, virilha, área submamária e fenda interglútea). Podem ser localizadas (restrita), generalizadas (espalhadas), universal (corpo) ou agrupadas (em conjunto e próximas - coalescentes: fundem e perdem individualidade; confluentes: próximas mas individuais). c. Manobras diagnósticas Diascopia/vitropressão: pressão da polpa digital ou lâmina de vidro na pele, diferencia lesões eritematosas (reduz coloração da pele pela compressão vascular)de purpúricas (não muda coloração pois há extravasamento de líquido para o interstício). Dermatografismo: urticária eritematosa e linear formada pelo atrito de um objeto. 3 Layane Silva Sinal de Nikolsky: diagnostica doenças bolhosas pela pressão perilesional, observa descolamento da epiderme, causa rompimento ou desprendimento das bolhas. Sinal de Asboe-Hansen: pressão suave em bolhas intactas faz o líquido espalhar para longe do local da pressão e abaixo da pele adjacente. Sinal de Zileri e sinal da unha: sinais crônicos em manchas hipocrômicas para diagnóstico de pitiríase versicolor, ambos formam uma descamação fina e furfurácea pelo estiramento perilesional ou com a unha. Sinal de Darier: atrito da lesão máculo-papular forma urticária para diagnóstico de mastocitose cutânea. d. Exames complementares - Exame micológico direto; - Cultura para fungos; - Baciloscopia de linfa (hanseníase); Hanseníase: baciloscopia da linfa, colhendo material de cotovelos, orelha e lesão de pele. - Teste de contato (alergia, dermatite de contato); - Exame direto de pelo (pediculose, ácaro, escabiose); - Material citológico de fundo de lesão (bolha por doença autoimune ou herpes); - Tricograma: avalia fio de cabelo; - Dermatopatologia: biópsia de lesão para afastar malignidade ou acompanhar imunodeficiência. - Dermatoscopia: observação não invasiva de estruturas não visíveis a olho nu com dermatoscópio (amplia 10x, LED e luz polarizada), vê estruturas e cores específicas, avalia necessidade de biopsiar lesões suspeitas. ● Lesões elementares a. Primárias Lesões por alteração de cor, conteúdo sólido ou líquido. i. Lesões por alteração da cor Podem estar na epiderme ou derme - quanto mais superficial, mais escura é a lesão. Máculas (até 1 cm) emanchas (maior que 1 cm): depósito de pigmento que faz lesão não palpável (sem relevo), circunscrita ou sem limites precisos e pode ter alteração de textura (apergaminhada - “pele machucada” no linfoma; descamação furfurácea - “poeira” na pitiríase versicolor. PIGMENTO ALTERAÇÃO ASPECTO EXEMPLO Melanina Aumento Hipercrômica Sardas/efélide Diminuição Hipocrômica Pitiríase alba Ausência Acrômica Vitiligo Bilirrubina Aumento Amarela Icterícia Caroteno Aumento Alaranjada Palma laranja Alcaptona Aumento Acinzentada Alcaptonúria Hemoglobina e produtos Vasodilatação Vermelha Eritema Proliferação vascular Vermelha Telangiectasia Extravasamento Vermelha, roxa, amarela, verde, castanha Petéquias, púrpura, equimoses Corantes Depósito Cores variadas Tatuagem Manchas eritematosas pode ser por formação vascular (hemangioma) ou exantemas virais (respostas vasculares à vasodilatação) - se > 90% da superfície acometida = eritrodermia. Vasculossanguíneas: - Púrpura: extravasamento de sangue na pele, não desaparece na vitropressão; petéquias: < 1 cm; equimoses: > 1 cm (hematoma com acúmulo palpável). - Eritema: vasodilatação (> 90% da pele: eritrodermia). - Telangiectasia: microvasos que surgem com dano solar ou corticóide tópico. ii. Lesões de conteúdo sólido Pápula: elevada, < 1 cm, varia número, cor (roxa e depois há degradação da hemossiderina) e arranjo, limites precisos na epiderme (menos definido na derme), sólida (hipertrofia das camadas celulares ou acúmulo de substâncias), alteração de relevo visível e palpável. Placa: elevada, > 1 cm, há coalescimento de pápulas ou nódulos, acúmulo em derme (pode acometer epiderme). - Urticária: placa com eritema e edema. Nódulo (> 2 cm ou > 1 cm com lesões planas) e tumor (> 3 cm): lesão na epiderme e derme (facilmente identificado) ou hipoderme (mais palpáveis que visíveis). - Goma: nódulo ou tumor que sofre necrose, elimina material gomoso e então cicatriza. 4 Layane Silva Vegetação: secundária ou elementar, é uma lesão exofítica (cresce para fora) por hipertrofia de papilas dérmicas e cones interpapilares (superfície caroçuda) - Vegetação verrucosa: superfície seca; - Vegetação condilomatosa: superfície úmida.iii. Lesões de conteúdo líquido Vesículas (< 1 cm) e bolhas (> 1 cm): lesões de conteúdo líquido seroso ou citrino, sanguinolento ou purulento (pústula estéril ou não). - Intraepidérmicas (separação de camadas dentro do epitélio): efêmeras e flácidas - murchas, rompem fácil. - Subepidérmicas (separação de camadas abaixo do epitélio): duradouras e tensas. b. Secundárias Lesões por solução de continuidade, lesões caducas, sequelas ou alterações de espessura ou consistência. i. Lesões por solução de continuidade Erosão ou exulceração: compromete apenas epiderme, não deixa cicatriz. - Escoriação: erosão secundária ao trauma mecânico. Úlcera: atinge derme e hipoderme, pode chegar músculo e osso, sempre tem perda da continuidade. Fissura e rágade: lesão linear e estreita de perda de substância com perda da continuidade. Fístula: conexão entre cavidade, órgão ou vaso com outra estrutura ou meio externo. ii. Lesões caducas Escama: pequenas lâminas secas originárias do estrato córneo, produzidas pela hiperproliferação ou processo patológico e se acumulam, placa descamativa tem camada córnea visível. - Furfurácea: pequenas, parecendo farelo. - Lamelar: maiores (descamação em lâmina) Crostas (cascão): resulta do dessecamento de lesões de conteúdo líquido, podem ser serosa, seropurulenta, purulenta ou hemático. -Milicérico: cor de mel, purulenta, crosta amarela - Hemático: “sangue pisado” Escara: necrose tecidual por anóxia e forma tecido enegrecido, seco, precisa de debridamento - secundário a queimaduras, púrpuras ou úlceras de pressão iii. Sequelas definitivas Atrofia: diminuição da espessura de alguma camada da pele por diminuição do número de células ou fibras, tem alteração de consistência com pele mais fina. - Derme: estrias (atrofia do líquido esclerotrófico). - Hipoderme: atrofia até TCSC com deformidades. Cicatriz: regeneração com proliferação de tecido fibroso por fibroblastos, reparando onde a pele perdeu suas características originais. - Atrófica: “buraquinhos” por perda de tecido - Hipertrófica: ultrapassa a altura da superfície da pele, mas respeita o limite da cicatriz - Queloidiana: ultrapassa o limite da cicatriz. iv. Outras alterações secundárias Infiltração e edema: aumento difuso e impreciso de volume, secundário a plasma, linfa, células ou substâncias estranhas. Queratose: aumento da camada córnea, que nem sempre descama, causada por agressão à pele, distúrbio genético e/ou inflamatório, cor branca (pode ter sujidade ou pontos pretos), tratada com tópicos queratolíticos. Liquenificação: espessamento da pele com acentuação dos sulcos naturais por atrito ou prurido prolongado, aspecto quadriculado/em rede. Esclerose: endurecimento da pele que impede o pregueamento (pele rígida e endurecida). Esclerodermia: lesão em golpe de sabre, forma de esclerodermia linear com espessamento da pele na região do crânio, hipo ou hiperpigmentada, associada a ulceração em ponta dos dedos pelo dano e esclerose. ● Dermatites e eczemas 10-30% das consultas dermatológicas. Eczema: dermatose inflamatória não infecciosa polimórfica com diagnóstico sindrômico. - Agudo: pápulas e placas eritematosas e edematosas com vesículas serosas; - Subaguda: exsudato e crostas (vesículas secas); - Crônico: placas com liquenificação e prurido. Dermatite: doenças que causam eczema, como dermatite atópica, seborreica, de contato alérgica e irritativa, eczema asteatótico e de estase. a. Dermatite atópica (DA) Doença crônica cutânea genética e complexa (poligênica), afeta 10-30% das crianças e 2-10% dos 5 Layane Silva adultos, pode ter início precoce (2 anos) mas é mais comum o início tardio, prevalente em zonas urbanas com renda maior (hipótese da higiene). Hipótese da higiene: crianças que vivem em ambientes de muita higiene tem sua imunidade celular migrada para Th2 e faz mais atopia, diferentemente da criança em zona rural ou menor renda que desenvolve Th1. Marcha atópica: história natural das doenças alérgicas inclui DA, asma, alergia alimentar e rinite alérgica, que compartilham aspectos genéticos e fisiopatológicos. A curva da atopia é logo no início da vida com diagnóstico de DA e alergia alimentar (2 anos), tem pico aos 5 e 10 anos com asma, e na adolescência com rinite alérgica. Patogênese: doença genética (importante fator familiar) na qual há disfunção da barreira cutânea por alteração da filagrina que faz a queratinização (pele xerótica por alteração do estrato córneo que leva a perda de água). Há aumento de protease e anormalidade dos lipídios, ação de fatores ambientais (irritantes e alérgenos) e alteração da microbiota por aumento de S. aureus. Disfunção da barreira + Fator ambiental = resposta aguda perfil Th2 (IL-4, 5, 13 e 31), inflamando a pele; na fase crônica, tem um pouco de resposta Th1. Genética (HF, codificação da filagrina) + disfunção da barreira (pele xerótica) + prurido (neuropeptídeos IL-31) - Prurido: sensação desagradável que faz conexões na periférica que estimula o SNC, gerando memórias, nesse caso não é causado pela reação de histamina mas sim pelo neuropeptídeo IL-31, que tem receptor na fibra C terminal que se conecta com SNC (via da dor, + lenta). Anti-histamínico é ineficaz para prurido, mas tem efeito sedativo sem rebaixar nível de consciência (1 geração - Polaramine e Hixizine) que faz com que se coce menos. Devem ser usados probióticos para reequilibrar a flora. - Prurido + doença de pele: avaliar localização da lesão, desinflamar a pele. - Prurido sem doença de pele: suspeita de neuropatia, por compressão nervosa, como a notalgia parestésica (nervo cervical e torácico) que causa prurido interescapular. Quadro clínico: tríade: xerose (localizada/generalizada) + prurido + eczema (agudo, subagudo ou crônico). O prurido provoca coçadura que gera mais prurido, facilita infecções secundárias e liquenificação; o eczema pode deixar hipocromia ou hipercromia pós-inflamatória. Infantil: 3 meses a 2 anos, causa lesões vesicossecretantes crostosas (mais exsudativas que liquenificadas) em face poupando região central, couro cabeludo, pescoço, superfícies extensoras ou generalizadas. Causa prurido que leva a agitação, dificuldade com o sono e escoriações que facilitam infecções secundárias. Pré-puberal/na juventude: 2-12 anos, pode ser continuação da DA infantil, causa lesões menos exsudativas, mais escoriada, crostosas e liquenificadas em dobras antecubitais e poplíteas, face, pescoço, punho, nádegas, face posterior de coxas, dorso de mãos e pés (fissuras + distrofia ungueal). Adolescência e adulto: > 12 anos, causa lesões mais difusas, eritematosas, descamativas e pouco exsudativas em áreas flexoras (cervical, antecubitais e poplíteas, punhos, mãos, mamilos e face, associada a palidez e lesões eczematosas perioral e periorbital. Crosta amarelada (cor de mel) indica infecção. Líquens simples crônico ou neurodermite: secundária ao prurido, forma nódulos e placas, mais localizada, há engrossamento da pele por prurido e escoriação. Diagnóstico: história + avaliação clínica. Critériosmaiores (3/4): prurido (obrigatório), morfologia e distribuição típicas de lesões de pele (eczema em região de face, exceto região central, em região flexora, posterior de coxa, perioral, periorbital e mamilo), dermatite crônica e recidivante, histórico pessoal ou familiar de atopia (gene materno é mais importante). Critériosmenores (3/23): estigmas atópicos, aumento de IgE sérica (dosar IgE sérico total e não específico). Prick test: avalia histamina e urticária, que causa liberação de mastócitos. Estigmas atópicos: eczema em olho, boca, pescoço, fossa cubital, punhos, dorso da mão, região posterior do joelho > orelhas, mamilos > região posterior do antebraço, palmas das mãos, pernas e região plantar; na infância: testa, bochechas, pescoço, joelhos. - Dupla prega de DennieMorgan: 2 rugas em região de pálpebra inferior - Ceratose pilar: pápulas vermelhas, eritematosas, hipo ou hipercrômicas, que saem dos folículos pilosos, localizada em braço, perna e coxa.- Hiperlinearidade palmar e plantar: rugas fundas em mãos e pés. 6 Layane Silva - Pitiríase alba: manchas e máculas hipocrômicas (apagadas e borradas) - pitiríase versicolor é uma infecção por fungos. Complicações: infecções secundárias bacterianas, eczema herpético (herpes difuso), molusco contagioso (viral), alterações oculares por esfregar a face (catarata, descolamento de retina, conjuntivite, blefarite e ceratocone), retardo de crescimento e desnutrição (restrição alimentar equivocada, problemas no sono). - Eczemaherpético: lesão localizada no herpes simples tipo 1 e 2, seguindo o dermátomo, surgem lesões bolhosas, que se tornam crostas dolorosas, tratado com Aciclovir EV. -Molusco contagioso: infecção viral, forma pápula esbranquiçada normocrômica e umbilicada (depressão central). Tratamento: (1) prevenção de fatores desencadeantes (cuidados ambientais), (2) cuidados com a pele e barreira cutânea, (3) tratamento das lesões agudas com antiinflamatórios, corticoide, antibióticos e antivirais se necessário, imunossupressores, fototerapia e imunobiológicos (anti-IL4), (4) terapia proativa de longo prazo de manutenção após fase aguda. - Anti-inflamatório: Hidrocortizona e Dexametasona - ou Prednisona 0,5 mg/kg/dia; - Imunossupressores: 2 mg/kg/dia. b. Dermatite seborreica (caspa) Doença inflamatória crônica não infecciosa, comum e recorrente - 1-3% da população, 3-5% dos adultos jovens, mais comum em homens. Patogênese: a produção sebácea leva a inflamação e persistência do quadro, há aumento dos triglicérides, colesterol e redução do esqualeno e ácidos graxos livre, formados pela ação da lipase do Propionibacterium acnes que está reduzido pelo desequilíbrio da microbiota residente. Há ação do fungo comensal Malassezia sp que usa lipídios para induzir resposta inflamatória, baseada na ação dos metabólitos tóxicos, lipase e espécies reativas de oxigênio, o que aumenta a proliferação celular epidérmica, provoca diferenciação incompleta da camada córnea e prejuízo da barreira epidérmica local. Agravantes: calor, umidade, roupas que retém suor, estresse físico e emocional, drogas (neurolépticos, metildopa, cimetidina), neuropatias (Parkinson, HIV), álcool, carboidratos, condimentados, DM e obesidade. Quadro clínico: manchas ou placas finas eritematodescamativas mal delimitadas que produzem leve a moderado desconforto, formam escamas branco-amareladas, aspecto graxente, aderidas e localizadas, associadas a eritrodermia leve (descamação + eritemas) e prurido. Acomete áreas intertriginosas (axilas e virilha) e ricas em glândulas sebáceas (couro cabeludo, face, pavilhão auricular, região pré-esternal). Lactente: autolimitada aos 3 primeiros meses, ocorre por ação dos andrógenos maternos, forma escamas gordurosas e aderentes em base eritematosa no couro cabeludo. Causa manchas eritemato escamosas na face e áreas de dobras, regiões retroauriculares, pescoço, axilas e região inguinal, associado a eritema ruborizado. Criança não tem glândula sebácea em atividade o suficiente para inflamar a pele. Adulto: pico de incidência entre 40-60 anos com recidivas frequentes, acomete couro cabeludo, face (sulco nasogeniano, glabela), região retroauricular, conduto auditivo, pálpebras (blefarite), porções medianas do tórax, região pubiana e axilar. Pode haver exacerbação se exposição solar, calor e terapias tópicas irritantes - se grave e extensa, pesquisar HIV. Tratamento: (1) controlar a inflamação, (2) diminuir a população fúngica, (3) controle da oleosidade. - Lactente: limpeza, emoliente, shampoos leves para crostas, e cetoconazol: 2% creme se extenso e persistente; - Adulto: cremes e shampoos antifúngicos, piritionato de zinco, ciclopiroxolamina e ácido salicílico e corticosteróides de baixa potência e enxofre. c. Dermatite de contato Dermatose por substâncias que em contato com a pele causam reação inflamatória de etiologia exógena, natureza alérgica ou irritativa. Alérgica: 20% dos casos, associa a reação de hipersensibilidade tardia tipo IVmediado por células ou após contato com substância já sensibilizado, causa eczema pruriginoso, bem demarcados e localizados nas áreas de contato (placa ou mancha eritematosa vesiculosa e/ou descamativa). Reação alérgeno-específica: sensibilização inicial e, na reexposição, mesmo com baixa concentração, libera citocinas causando eczema. 7 Layane Silva Teste de contato: bateria padrão, exposição a 60 substâncias para avaliar alergia após 2 dias pelo tamanho do eczema, eritema de vesícula e inflamação. - Aguda (bolhas, exsudação e edema): eritema, edema, bolhas, vesículas e exsudato, causada por lubrificantes, luvas de limpeza, plantas, fraldas, neomicina, esmalte. - Subaguda: crosta, causa por botão de calça ou fivela. - Crônica (liquenificação): relacionada à profissão (construção civil, meias, materiais de sapato, luvas) Irritativa: 80% dos casos, padrão ocupacional, há ativação do sistema imune inato por efeito citotóxico de um agente, não necessita de contato prévio. Causa eczema agudo imediato por irritante forte com queimadura e irritação local. - Aguda tardia: queimação após 8-24 h da exposição. - Cumulativa: várias exposições abaixo do limiar de tolerância da pele, causa liquenificação e queratose. Tratamento: retirar causa, uso de EPI, restaurar barreira e anti-inflamatórios. d. Eczemaasteatótico Disfunção da camada córnea gera pele áspera, xerótica, com descamação e fissuras na região anteroinferior de MMII, causada por fatores endógenos e exógenos como idade avançada, clima seco (piora no inverno), contato com detergentes e alcalinos, exposição excessiva a água, má nutrição, insuficiência renal e hemodiálise, neoplasias e doenças hereditárias (ictiose e atopia). e. Dermatite de estase Inflamação na pele por estagnação do sangue e líquidos, aumenta o risco de trombose e infecções, agrava com sensibilização a produtos e medicações tópicas com prurido, xerose, maceração e colonização. - Hipertensão venosa: edema e dermatite ocre. -Microangiopatia, inflamação crônica: eczema. - Fibrose e remodelação tecidual: lipodermatoesclerose. - Úlceras venosas. Tratamento: ATB - Neomicina, Lanolina, antisépticos. ● Doenças isquêmicas cerebrovasculares 2a causa de morte e 3a causa de incapacidade 12,5 milhões de casos/ano; 6,5 milhões de mortes/ano Brasil: 11 óbitos a cada 1 hora Acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi): síndrome neurológica súbita por fluxo sanguíneo insuficiente para qualquer região encefálica, primeira suspeita se déficit neurológico súbito. - AVC isquêmico lacunar: infarto subcortical na distribuição das pequenas artérias cerebrais penetrantes, maior dimensão < 1,5 cm na TC ou <2,0 cm em imagens de difusão de RNM. Ataque isquêmico transitório (AIT): sinais ou sintomas neurológicos focais transitórios de origem vascular sem lesão tecidual, há déficit neurológico sem lesão isquêmica que o justifique. a. Patogênese Lesão neuronal por falta de oxigênio e nutrientes com diminuição das reservas de energia do tecido nervoso. Causas: trombose, embolia, diminuição da PCR) Zona de penumbra: tecido neuronal em risco, porém ainda viável, pois recebe aporte sanguíneo da circulação colateral, com tratamento adequado pode haver pouco ou nenhum dano neurológico - após a isquemia, há danos irreversíveis (“tempo é cérebro”). b. Fatores de risco NÃOMODIFICÁVEIS MODIFICÁVEIS Idade: < 40 anos raramente apresentam aterosclerose grave Etnia Sexo: Acomete mais mulheres Homens brancos temmaior prevalência de estenose carotídea Mulheres na perimenopausa: frequência < de aterosclerose Genética: CADASIL História familiar de AVCi ou AIT Hipertensão arterial sistêmica Diabetesmelito Dislipidemia Fibrilação atrial Tabagismo Etilismo Estenose carotídea Síndrome da apneia do sono Obesidade Sedentarismo c. Etiologias Sistema TOAST para classificação de AVEi tem 5 subtipos: (1) aterosclerose de grandes artérias, (2) lacuna ou infarto de pequenas artérias, (3) cardioembolismo, (4) AVE de outra etiologia determinada, e (5)AVE de etiologia indeterminada ou criptogênico. Sempre tratar a causa e estimar o prognóstico para evitar recorrência. Aterosclerose: causa frequente, há isquemia por (1) ruptura e embolização da placa aterosclerótica, (2) instabilidade da placa gera hemorragia levando à estenose progressiva pela formação de trombo, cujo deslocamento causa AVC, ou (3) estreitamento do vaso. 8 Layane Silva - Locaismais comuns: bifurcação carotídea, aorta, artérias vertebrais, aterosclerose intracraniana (investigar doenças autoimunes/reumatológicas; oclusão irreversível pelo risco de recorrência de AVCi). Cardioembolia: FA e FA paroxística - solicitar Holter de 24h (mais comuns); IAM recente, IAM crônico + FE < 28%, histórico de endocardite, trombo em VE. FONTE DE ALTO RISCO FONTE DE BAIXO RISCO Trombo em AE ou VE Calcificação anular de valva mitral FA e FA paroxística FOP Doença do nó sinusal Aneurisma de septo atrial Flutter atrial Aneurisma de septo atrial + FOP IAM recente (últimos 30 dias) Aneurisma de VE sem trombo Estenose mitral ou doença valvar reumática VE com hipertrabeculação/não compacto Valvas cardíacas ICC com FE < 30% IAM crônico associado a FE < 28% Acinesia apical Cardiomiopatia dilatada (dilatação do VE com FE < 40% ou fração de encurtamento < 28%) Anormalidades da mobilidade da parede (hipocinesia, acinesia e discinesia) Endocardite infecciosa Cardiomiopatia hipertrófica Endocardite marântica Hipertrofia de VE Fibroelastoma papilar Contraste espontâneo no AE Mixoma de AE Brasil: doença de Chagas, se epidemiologia sugestiva. Jovem com dor cervical = dissecção de vasos cervicais Acidente em brinquedos radicais = oclusão por trombo intramural. Embolia paradoxal: transposição de um trombo da circulação sistêmica venosa para a artéria por defeito cardíaco ou shunt intrapulmonar (forame oval pérvio patente - 25% da população). Criptogênico (AVC embólico de fonte indeterminada - ESUS): 35% dos casos não tem causa evidente, após investigação pode ser infarto cerebral não lacunar sem estenose arterial proximal, fontes cardioembólicas ou causa indefinida. Não anticoagular sem saber a causa da embolia! Só anticoagular se a causa do infarto for determinada! d. Quadro clínico Déficit neurológico súbito = suspeita de AVC, investigar topografia anatômica de acordo com as manifestações. Investigar mudanças bruscas de comportamento! ARTÉRIA DÉFICIT NEUROLÓGICO Oftálmica Amaurose fugaz Cerebral média Hemiparesia ou hemiplegia contralateral; déficit de sensibilidade; afasia ou heminegligência Cerebral anterior Déficit crural contralateral; alteração de marcha; incontinência urinária Cerebral posterior Hemianopsia homônima contralateral (perda de 2 metades direita ou esquerda do campo visual) Vertebral Vertigem; paresia de nervos cranianos ipsilateral Basilar Rebaixamento do nível de consciência; tetraparesia ou tetraplegia; síndrome do cativeiro Cerebral anterior: motor/sensorial contralateral (predominanteMMII), abulia (incapacidade de tomar decisões voluntárias), dispraxia (“síndrome do desastrado”), alterações emocionais - indiferença ao déficit, irritação agressividade, desinibição (lobo frontal), não tem consciência da sua mudança comportamental. Cerebralmédia (+ comum, especializada pelo coma): motor/sensorial contralateral (face +MMSS), déficit de sensibilidade contralateral (hemianestesia), desvio do olhar para o infarto, agnosia visual (não reconhece objetos comuns - lobo occipital), hemianopsia homônima, afasia (dificuldade de comunicação - se for o hemisfério dominante) ou negligência. Cerebral posterior (irriga lobo occipital): hemianopsia contralateral com preservação macular, sinais/sintomas sensoriais do tálamo lateral. Lentículo-estriada: déficit motor súbito contralateral. Basilar: tetraplegia, “locked in” ou síndrome do cativeiro (paciente preso no próprio corpo, tem consciência, mas o corpo não responde a nenhummovimento), sem movimentos oculares horizontais, apenas verticais. Cerebelar posterior inferior: disfagia/rouquidão, menos dor/temperatura em face ipsilateral e no corpo contralateral, Horner ipsilateral (ptose + miose + anidrose facial), vertigem, nistagmo (movimento involuntários e repetitivo do olho) e ataxia (dificuldade de manter coordenação motora). Cerebelar ântero-inferior: paralisia facial ipsilateral, reduz dor/temperatura em face ipsilateral e no corpo 9 Layane Silva contralateral, reduz lacrimejamento/salivação/paladar anterior, vertigem, nistagmo, ataxia e dismetria. Espinal anterior: paralisia contralateral, língua desvia para a lesão, perda de propriocepção. e. Diagnóstico Identificar o AVCi, excluir condições que mimetizam, estabilizar e instituir recanalização do vaso, determinar tempo de início (última vez que foi visto sem déficits). Exame neurológico: breve e objetivo (estreita janela terapêutica), escore de NIHSS identifica e estratifica a gravidade do AVCi em casos agudos (0-42 pontos). 1a – Nível de consciência 1b – Orientação 1c – Comandos 2 – Motricidade ocular 3 – Campos visuais 4 – Paresia facial 5 e 6 – Motor 7 – Ataxia apendicular 8 – Sensibilidade dolorosa 9 – Linguagem 10 – Disartria 11 – Extinção / negligência - Ataque isquêmico transitório: escore ABCD2: risco de recorrência, se > 4 precisam de avaliação urgente - 6-7: alto (8%), 4-5: moderado (4%), 0-3: baixo (1%). ITEM PONTOS ITEM PONTOS Idade > 60 anos < 60 anos 1 0 PAS > 140; PAD > 90 1 Diabetes 1 Clínica Fraqueza unilateral Distúrbio de fala Outro 2 1 0 Duração > 60min 10-59min < 10min 2 1 0 Imagem: TC de crânio sem contraste para excluir hemorragia intracraniana e causas não vasculares - pouco sensível para infartos pequenos de fossa posterior e cerebelar (infarto no mesencéfalo). - Sinais precoces de isquemia: perda da diferenciação da substância branca e cinzenta dos núcleos lentiformes e apagamento dos sulcos. Acometimento > ⅓ do território da ACM =maior risco de AVC maligno e maior chance de transformação hemorrágica - ponderar início da trombólise. - ASPECTS: quantifica a área isquêmica avaliando 10 regiões padronizadas em 02 cortes axiais na TC de crânio (altura do tálamo + núcleos da base e logo acima dos núcleos da base) varia de 0-10 pontos (10 = normal). Indica a decisão de trombectomia se AVC isquêmico com < 6h dos sintomas e circulação anterior. TC: perda da diferenciação da substância branca e cinzenta e apagamento dos sulcos. (1) sinais de transformação hemorrágica (área hipodensa extensa e áreas hiperdensas na isquemia). (3) desvio da linha média, pois o edema citotóxico empurra o ventrículo. (5) perda da continuidade da calota craniana - necessita de craniectomia descompressiva para resolução da herniação cerebral por AVE maligno, pois reduz a PIC. (30) área de gliose com retração dos ventrículos. RNM: dura 15-20 minutos, precisa de difusão, perfusão, gradiente eco e flair. - Difusão (DWI): visualiza a isquemia antes dos sintomas. - Flair: visualizado 4 horas após o ictus. -Mismatch DWI-Flair: estima tempo de lesão para pacientes que acordam com déficit neurológico - 10 Layane Silva wake-up stroke, se difusão alterada com Flair normal indica lesão < 4,5 h, passível de trombólise ainda. - Perfusão: técnica para TC ou RNM, diferencia área central necrótica de região recuperável com reperfusão. Grande área de penumbra + mismatch = mesmo fora da janela terapêutica, há benefícios na reperfusão. Outros exames: glicemia capilar (hipoglicemia simula AVC), hemograma (Plq), coagulograma, eletrólitos (Na e K), enzimas cardíacas, função renal, ECG (arritmias). Sangramento anormal + suspeita de trombocitopenia + uso de warfarina ou heparina ou anticoagulantes = aguardar exames para trombolisar. f. Conduta (1) Reconhecer sinais de AVC; verificar tempo de início dos sintomas; Início > 24 h: transferir para a U-AVC, desencadeando protocolo AVC. Início < 24 h: TC sem contraste < 1 h; paciente transferido para U-AVC; até 4,5 h é elegível para trombólise. - Emergencista: confirmar hipótese deAVC, tempo dos sintomas, acionar equipe, checar simetria de pulsos, solicitar TC de crânio + angio-TC + lab, prescrever o rTPA. - Enfermeira: 2 acessos venosos calibrosos não do lado parético; coletar laboratório (hemograma, plq, glicemia, Na, K, ureia, creatinina, TP, TTPa); via de acesso exclusiva para alteplase; verificar sinais vitais e HGT; tratar Tax=37,5, hipoxemia (<93%), hipo ou hiperglicemia (> 180); solicitar rTPA; escala do NIH. - Neurologista: confirmar hipótese de AVC, revisar início dos sintomas e fazer escala de NIH. (2) Realizar TC C/ sangue: protocolo de hemorragia cerebral (PAS < 140). S/ sangue: avaliar critérios para trombólise. CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE Tempo de início dos sintomas de até 4,5 h Déficit neurológico com comprometimento da função TC ou RM sem sangue CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Traumatismo craniano significativo ou AVCi em < 3 meses Sintomas sugestivos de hemorragia subaracnóidea Punção arterial em local não compressível nos 7 dias anteriores História prévia de hemorragia intracraniana Neoplasia, malformação intracranianas Cirurgia intracraniana ou intraespinal recente Suspeita de endocardite infecciosa ou dissecção de aorta Pressão arterial elevada (PAS > 185, PAD > 110) Sangramento interno ativo Diátese hemorrágica aguda, incluindo plaquetas < 100.000 Uso de heparina nas últimas 48 h, com elevação do TTPa Uso de anticoagulante com INR > 1,7 ou TP > 15 s Uso de inibidores diretos da trombina ou inibidores do fator Xa com elevação de testes laboratoriais Concentração de glicose < 50 mg/dL CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO RELATIVOS Gravidez Crises epilépticas no início dos sintomas Grandes cirurgias ou traumas nos últimos 14 dias Sangramento gastrointestinal ou urinário recente (21 dias) IAM recente (3 meses) Aneurisma intracraniano ( se < 10 mm pode trombolisar) Basta 1 critério de exclusão para ser inapto à trombólise! Se sinal de isquemia com comprometimento > ⅓ na cerebral média = risco de transformação hemorrágica. - Paralisia de Todd: hemiplegia ou hemiparesia após crise epiléptica, dura minutos a dias, indicada trombólise. Déficits incapacitantes: hemianopsia completa > 2, afasia grave > 2, extinção visual > 1; fraqueza limitando esforço sustentado contra gravidade > 2, déficit que leve NIHSS > 5, déficit remanescente potencial incapacitante. Uso de anticoagulantes: se inibidores da vitamina F (varfarina, femprocumona) precisam de RNI < 1,7 para trombólise; se anticoagulantes orais necessita 48 h sem uso, se ausência de insuficiência renal (Dagibratan tem reversor); se heparina de baixo peso aguardar 24 h e heparina não fracionada esperar normalizar TTPa. (3) Avaliar critérios de exclusão para trombólise 11 Layane Silva Não: trombólise IV com rTPA, não administrar heparina, AAS ou outro antiagregante + TC de controle com 24h. Sim: AAS 100-300 mg, estatina (40 mg de sinvastatina), heparina não fracionada 5000 UI, SC de 8/8h ou enoxaparina 40 mg. g. Protocolo de tratamento (1) Infundir 0,9 mg/kg (máx: 90 mg) em 60 min - 10% em bolus (1 min) (2) Admitir paciente em unidade de AVC ou UTI. (3) Exame neurológico a cada 15 min durante infusão, a cada 30 min nas 6h seguintes e a cada hora até 24 h. (4) Se tiver cefaléia, hipertensão aguda, náuseas ou vômitos, interromper a medicação e TC de urgência. (5) Aumentar a frequência de medidas da PA se > 180/105 mmHg, usar anti-hipertensivo para abaixar a PA. (6) Evitar uso precoce de sondas nasogástrica e vesical ou cateter intra-arterial nas primeiras 24h - não iniciar antiagregantes plaquetários ou anticoagulantes. (7) Suspeita de sangramento: suspender infusão do alteplase, TC de crânio, coagulograma e avaliar cirurgia - se outros locais de sangramento, compressão mecânica. Sinais de sangramento: piora neurológica no NIHSS (> 4) ou do nível de consciência, cefaléia súbita, náuseas ou vômitos. - solicitar TC de crânio urgente e coagulograma. Tipos de transformação hemorrágica H1: pequeno sangramento petequial HP1: hematoma < 30% do infarto, sem efeito de massa H2: sangramento petequial confluente HP2: hematoma > 30% do infarto, com efeito de massa Se complicações hemorrágicas: reverter Alteplase com crioprecipitado 6-8U EV para manter fibrinogênio > 100 mg, transfusão de plasma fresco congelado 2-6U. Se nível baixo de plaqueta ou uso de antiagregante plaquetários, repor com 6-8U de plq (manter > 100 mil). Usar concentrado de Hb para manter > 10 mg. Durante e após tratamento trombolítico: PAS < 180/105 e > 130 monitorar a cada 15 min nas primeiras 6 h, depois a cada 30 min 24 h, a cada hora por 36 h; monitorização cardíaca contínua; oximetria de pulso Sat > 92%; HGT > 80 e < 180; Tax < 37,5; ECG. Se wake-up stroke, solicitar RM de crânio em 4,5 h - trombolisar se difusão alterada com Flair normal. Se AVCi com tempo indeterminado, usar TC com perfusão - trombolisar em até 9 h da última vez que foram vistos sem sintomas. Investigação etiológica: ecodoppler de artérias vertebrais e carótidas complementa angio-TC; ecocardiograma transtorácico se FE diminuída ou parede assimétrica; ecocardiograma transesofágico com Bubble Test se ECOTT insuficiente; neuroimagem se dúvida; angioressonância ou angiotomografia dos vasos extra e intracranianos; arteriografia digital. - Prática: ECOTT + angioTC ou angioRM Manejo de complicações: elevação da cabeceira a 30o, terapia hiperosmolar (até 5 dias), hiperventilação e avaliar cirurgia descompressiva, exceto se > 60 anos. Não usar corticoide! h. Tipos de tratamento RTPA (Alteplase): ativador de plasminogênio diretamente para a plasmina que promove dissolução da fibrina do coágulo, dose de 0,9 mg/kg EV (máx: 90 mg), 10% em bolus e restante em 60 min. Alto risco de sangramento + RNI alto usar dose baixa (0,6 mg/kg EV), 15% em bolus e o restante por infusão em 1h. Trombectomiamecânica: concomitante com a trombólise, indicada se oclusões de grandes vasos proximais intracranianos, usa stents e aspiradores para atingir a reperfusão (Stentretrivier autoexpansível removível, aspiração direta, técnica de Solombra). CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE Paciente com escala de Rankin modificada prévia ao AVC de 0/1 Oclusão sintomática da ACM proximal (M1)/carótida interna Idade > 18 anos NIHSS > 6 ASPECTS > 6 Visto bem pela última vez há < 6 h (trombólise é 4 h) Casos especiais: ACM distal (M2/3), cerebral anterior, vertebrais, basilar, cerebrais posteriores proximais Terapia antiplaquetária: se AIT ou AVCi agudo sem fonte cardioembólica usar AAS infantil 75-300 mg/dia se AIT com baixo risco (ABCD2 <4) e AVCi (NIHSS > 5). 12 Layane Silva DAPT: dupla terapia antiplaquetária, com AAS 160-325 mg (dose de ataque) + 50-100 mg/dia + Clopidogrel 300-600 mg (dose de ataque) + 75 mg/dia. - Alternativa: AAS 300-325 mg por 1 dia + 75-100 mg/dia + Ticagrelor 180 mg (dose de ataque) + 90 mg/2x dia. - 21 dias: AIT de alto risco (ABCD2 > 4) e AVC minor (< 5). - 90 dias: AVC por aterosclerose de grandes artérias intracranianas - estenose aterosclerótica de 70-99%. Anticoagulação: avaliar tamanho da área isquêmica e relação risco/benefício, não iniciar anticoagulação plena e urgente na fase aguda do AVCi. Início imediato: (1) AIT por FA ou (2) após AVCi em pacientes estáveis com infarto pequeno/moderado sem complicações hemorrágicas. Após 1-2 semanas: grandes infartos, transformação hemorrágica sintomática ou HAS descontrolada ● ● Cefaléias 4o motivo mais frequente de consulta na emergência, terceira queixa mais frequente na clínica, motivo mais frequente de consulta na neurologia - 13-27,8% do total de atendimentos (55,7% enxaqueca). a. Cefaléia na unidade de emergência Identificar o tipo de cefaléia, tratar adequadamente, orientar medicação de resgate e observar sinais de alerta para cefaléia secundária - se presença, realizar TC. S Systemic Sinais sistêmicos: febre ou perda de peso Portadores de neoplasia ou HIV, usuários de imunossupressores N Neurologic Presença de déficits neurológicos focais (pode ser déficit de fala, força, sensibilidade,ataxia), edema de papila, convulsão O Older Cefaleia que iniciou após os 50 anos - algumas literaturas usam corte de 45 anos O Onset Cefaleia de início súbito ou primeira cefaleia P Pattern Mudança de padrão de cefaléia prévia ou cefaleia progressiva (intensidade, frequência ou duração) ou cefaleia refratária (não responde a analgesia ou anti-inflamatório) Objetivo: alívio da dor, excluir cefaléia secundária se sinal de alarme e orientar tratamento em casa (após a alta). b. Enxaqueca/migrânea Brasil: prevalência de 15,8% (22% mulheres e 9% homens) - pico de 30-50 anos; sem aura (75%) e com aura (25%). Distúrbio neurobiológico com base gênica associado a alterações funcionais do córtex cerebral e ativação do sistema trigeminovascular Critérios: (1) pelo menos 5 crises, (2) com duração de 4 a 72 horas sem tratamento ou com tratamento ineficaz, (3) ter 2 das características, e (4) ter 1 sintoma associado. - Características: localização unilateral, caráter pulsátil, intensidade moderada ou forte, exacerbada por ou levando a evitar atividades físicas rotineiras. - Sintomas associados: náusea/vômito, foto e fonofobia. Investigação: se migrânea clássica + histórico de enxaqueca não é obrigatório pedir imagem para avaliar, exceto se for o primeiro episódio ou dor refratária. Migrânea comaura: crises recorrentes, dura 60 min, sintomas reversíveis unilaterais oriundos do SNC graduais, seguidos de cefaléia e sintomas migranosos. Pródromo: irritabilidade, visão borrada, raciocínio e memorização mais lentos, rigidez cervical, fadiga, bocejo, palidez e avidez por alimentos. Aura: gradual em 5-60 min, distúrbio visual (pontos fosfenos - escotomas brilhantes), perda ou distorção de um dos hemicampos visuais ou parte deles, parestesia unilateral, e disfasia. Migrânea crônica: cefaleia > 15 dias/mês por mais que 3 meses, em 8 dias/mês tem cefaléia migranosa. Migrânea comaura do tronco cerebral: pelo menos 2 sintomas reversíveis: disartria, vertigem, zumbido, hipoacusia, diplopia, ataxia não atribuível ao déficit sensorial e diminuição no nível de consciência + ausência de sintomas motores ou retinianos. Excluir doença estrutural ou vascular! Migrânea hemplégica: aura + fraqueza motora, associada aos genes CACNA1A, ATP1A2, SCN1A. Migrânea retiniana: ataques repetidos de escotomas monoculares ou cegueira + cefaleia, dura < 1 h. Migrânea vestibular: migrânea típica + vertigem episódica em paciente com história de enxaqueca. Excluir doença estrutural ou vascular! Migrâneamenstrual: ocorre 2 dias antes e até 3 dias depois do início do sangramento menstrual. i. Complicações damigrânea Crises com sintomas prolongados, infarto ou convulsões. 13 Layane Silva Statusmigranoso: ataque típico de enxaqueca, mais debilitante, dura > 72 horas, comum emmulheres. Aura persistente sem infarto: aura persistente por > 1 semana, sem evidência de infarto em neuroimagem. Infartomigranoso: enxaqueca com aura + aura persiste > 1 h + infarto em neuroimagem, inclui crises de migrânea que evoluem com AVC, derrame ou isquemia. Migralepsia: convulsão após crise de enxaqueca c/ aura. ii. Conduta Questionar sintomas, esmiuçar o quadro, investigar histórico de episódios similares, avaliar duração da dor. Dor há < 72 horas: (1) Metoclopramida ou Dimenidrato 50 mg, IM ou 30 mg, IV, em 100 mL SF 0,9%, se vômitos; (2) Dipirona 1g, (2 mL) IV, diluída em 8 mL água (dor leve) (3) Se suspeita de crise moderada, associar Cetoprofeno 100 mg, IV diluído em SF 0,9% (100 mL) ou 100 mg, IM. (4) Observar por 1 h (5) Se ausência de resposta, Sumatriptano 6 mg subcutâneo (0,5 mL), repetindo a dose, se necessário, em 2 horas. Pode ser usado Cetorolaco (Toragesic), anti-inflamatório injetável EV, IM ou sublingual se dor leve. (6) Se vômitos, hidratação + repetir sequência ou Dexametasona 10 mg (ampola 10 mg/2,5 mL), IV, lento. Dor há > 72 horas: (1) Dexametasona 10 mg (ampola 10 mg/ 2,5 mL), IV, lento (2) Se ausência de resposta, infusão de SF a 0,9% + Clorpromazina 0,1 a 0,25 mg/kg, IM, (ampola 25 mg/5 ml) ou EV diluído em SF 0,9% 500ml em decúbito dorsal com cuidado de hipotensão postural e sintomas extrapiramidais - máx: 25mg. (3) Reavaliar após 1-2 horas (4) Se ausência de resposta, encaminhar para hospital terciário para avaliação com neurologista, necessita de neuroimagem para afastar cefaleia secundária. Regime ambulatorial: - Triptanas: específicas para tratamento da crise de enxaqueca, age no sistema trigeminovascular, principal é a combinação fixa sumatriptana + naproxeno. Contra-indicações: insuficiência arterial, IAM, angina, claudicação, HAS não controlada, aura prolongada, hemiplégica e basilar (risco de transformação em infarto migranoso pela vasoconstrição). FÁRMACO DOSE DOSE POR 24 H Combinação fixa sumatriptana + naproxeno 50/500; 85/500 1-2 comp Sumatriptana comprimido 25, 50 e 100 1-3 comp. Máx. 200 mg Sumatriptana nasal 10 1-4 doses. Máx. 40 mg Sumatriptana subcutânea 6 1-2 comp. Máx. 12 mg Naratriptana 2,5 1-2 comp. Máx. 5 mg Rizatriptana 5 ou 10 1-3 comp. Máx. 30 mg Zolmitriptana 2,5 1-4 comp. Máx. 10 mg - Protocolo alternativo: (1) Dipirona 1 g ou Paracetamol 1 g; (2) combinações como Cefaliv e Ergotamina; (3) anti-inflamatórios, como o Cetorolaco ou Naproxeno puro na dose de 275-500 mg de 12/12 horas. Tratamento profilático Instituir se (1) frequência da dor maior ou igual a 3 crises/mês ou dores que durammais que 12 horas, (2) migrânea com impacto funcional e/ou laboral no paciente, (3) uso excessivo >10-15 vezes por mês, intolerância ou baixa eficácia das medicações agudas, (4) migrânea menstrual - MM, e (5) desejo do paciente. Sempre usada para reduzir risco de dano neurológico, se: migrânea hemiplégica, c/ aura do tronco cerebral, aura persistente s/ infarto ou infarto migranoso. -Miniprofilaxia (migrânea menstrual): ácido mefenâmico 500mg 3x/dia, Naproxeno 500mg 2x/dia ou triptanos, começar 1-2 dias antes da MM, continuar na menstruação (Total: 5-7 dias). Se MM debilitante sem aura, discutir uso de pílulas orais de estrogênio-progestágeno com doses ultrabaixas (10 a 15 mcg) ou baixas (20 a 30 mcg) para suprimir ciclo. Profilaxia: EFICÁCIA ESTABELECIDA Oral Parenteral Divalproato de sódio 250 mg (500-1500 mg) Eptinezumab Valproato de sódio 250 mg (500-1500 mg) Erenumab 14 Layane Silva Metoprolol Fremanezumab Propranolol 40 mg/dia (40-240 mg) Galganezumab Metoprolol 50 mg/dia (50-200 mg) Toxina botulínica (crônica) Candesartana Timolol 5mg (10-30 mg) Topiramato 25 mg (100-200 mg) Divalproato e Valproato são anticonvulsivantes com risco teratogênico (atentar para mulheres em idade fértil), ajuda emmigrânea + transtorno bipolar como estabilizador do humor. Propanolol é anti-hipertensivo atua como bloqueador em migrânea + tremor essencial (fino). Candesartana ideal se migrânea + hipertensão. PROVAVELMENTE EFICAZ Oral Parenteral Amitriptilina 10 mg (10-100 mg) Toxina botulínica + CGRP Atenolol 25 mg (25-100 mg) Lisinopril 10 mg (20 mg) Memantina Nadolol 20 mg (20-240 mg) Venlafaxina 37,5 mg (75-150 mg) Duloxetina 30 mg (30-90 mg) Memantina trata Alzheimer, mas é eficaz na migrânea. Toxina botulínica não deve ser usada na migrânea episódica - na migrânea crônica, se condição associar anticorpo monoclonal. - Anticorposmonoclonais (CGRP): custo alto, inclui Eptinezumab, Erenumab, Fremanezumab e Galganezumab, atua no peptídeo do gene da pró-calcitonina e seu receptor presente nas fibras aferentes do sistema trigeminovascular, indicado se não tolerância ou sem resposta a outras 2 terapias preventivas, ou desejo do paciente. Brasil: Fremanezumab 225 mgmensalmente ou 675 mg a cada 3 meses e Emgality 240 mg em dose de ataque única, seguida de 120 mg uma vez por mês. Considerar ausência de resposta se não reduzir em 50% o número de episódios após 2 meses de tratamento, se CGRP após 3 meses de uso. Contraindicação: eventos isquêmicos cardiovasculares ou cerebrovasculares recentes. Comorbidades MEDICAÇÃO INDICAÇÃO Metoprolol, propranolol ou timololHipertensão, não fumantes e ≤60 anos de idade Verapamil ou flunarizina Hipertensos fumantes ou têm >60 anos, fenômeno de Raynaud Amitriptilina Depressão ou transtorno de humor, obesidade, insônia Venlafaxina Depressão ou transtorno de humor Valproato Epilepsia Topiramato Epilepsia, obesidade Tratamento nãomedicamentoso S Sleep Manter horário de sono consistente E Exercise 30 a 50 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada, 3-5 dias por semana E Eat Refeições regulares no dia, manter hidratado e evitar o jejum e alimentos ultraprocessados - principal: glutamato monossódico D Diary Diário de cefaleia - visualizar evolução. S Stress Atividades que diminuam estresse c. Cefaléias primárias Cefaleia do tipo tensional episódica infrequente: mais frequente, leve, prevalência aos 40 anos, relacionada com estresse físico, muscular ou emocional, pelo menos 10 crises, dura de 30 min a 7 dias, pelo menos 2 características e 1 critério. Características: dor bilateral, pressão ou aperto (não pulsátil), dor leve a moderada, não piora com atividade. Critérios: ausência de náusea e/ou vômito, fotofobia ou fonofobia (apenas uma delas pode estar presente), não atribuível a outras causas. Tratamento: - Paracetamol | 750 – 1.000 mg até 6/6h - Dipirona | 500 – 1.000 mg até 6/6h 15 Layane Silva - Ibuprofeno | 400 - 800 mg até 6/6h - Diclofenaco | 50 mg até 8/8h - Cetoprofeno | 50 mg até 6/6h - Naproxeno sódico | 500 mg inicial e 250 mg 6/6h Tratamento profilático: indicado se CTT crônica pelo risco de cefaleia induzida pelo uso excessivo de medicação; antidepressivos tricíclicos: primeira linha. - Amitriptilina: reduz sensibilidade muscular pericraniana, causa antinocicepção periférica e inibição da sensibilização central pelos neurotransmissores. Dose: iniciar 10-12,5 mg/noite (dose baixa) até a dose máxima 100-125 mg - se insônia, iniciar com 25 mg. Contraindicações: obesidade, doença bipolar (risco de virada maníaca), glaucoma de ângulo fechado ou defeitos de condução cardíaca. - Nortriptilina: menos sedativo, iniciar com 10-25 mg/noite até a dose máxima 125 mg. Cefaleia do tipo tensional episódica frequente: ocorre em 1-14 dias/mês por > 3 meses (≥12 e <180 dias/ano). Cefaléia em salvas: comum em homens dos 30-50 anos, pelo menos 5 crises com dor forte ou muito forte unilateral, orbitária, supraorbitária e/ou temporal, dura 15-180 min, deve ter 1 critério, frequência varia de 1 crise/2 dias até 8 crises/dia. Critérios: injeção conjuntival ipsilateral, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, edema palpebral ipsilateral, miose/ptose ipsilateral, sudorese frontal e facial ipsilateral e sensação de inquietude ou agitação. Excluir causa secundária! - Episódica: crises em 6-12 sem + remissão por 3 meses - Crônica: sem remissão ou remissão < 3 meses. Tratamento: paciente sentado debruçado para frente. (1) O2 a 100% emmáscara sem recirculação 12-15L/min por 15 minutos - não usar cateter nasal. (2) Sumatriptana 6 mg, subcutâneo - evitar se uso de vasoconstritor. Não usar analgésicos comuns e opióides. (3) Lidocaína 4% nasal 1 mL 9 máximo 5 mL) - cabeça em extensão a 45 graus e rotação de 30-40 graus para o lado sintomático. (4) Se ausência de resposta, usar Metilprednisolona 250 mg (dose inferior à pulsoterapia). Tratamento profilático: - Verapamil: 120 a 1.200 mg/dia, obter ECG antes e após Efeitos adversos: obstipação intestinal, edema, tonturas, náuseas, hipotensão e fadiga. - Prednisona: dose alta de 60 a 100 mg, 1 vez ao dia por 3 dias, reduzindo a dose 10 mg a cada 3 dias até suspender. - Galcanezumabe: 300 mg no início e mensalmente até o final do período de salvas. - Carbonato de lítio: 600 a 900 mg, dosagem sérica não deve exceder 1,2 mEq/L - risco de intoxicação. - Topiramato: iniciar 25mg até alvo de 100 mg 2x/dia. Contraindicação: nefrolitíase. Hemicrania paroxística: padrão de salvas, comum em mulheres, frequência de mais de 5 episódios/dia e dura 2-30 min (mais frequente e mais rápida que salvas). Tratamento: Indometacina, 25 a 50 mg, 2 a 4 vezes/dia Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve: dor unilateral, moderada ou forte, de 1-600 seg, pelo menos 1 vez ao dia, padrão de “dente de serra”, com lacrimejamento e vermelhidão do olho ipsilateral, - SUNCT: hiperemia conjuntival + lacrimejamento - SUNA: apenas 1 ipsilateral. Tratamento: Lidocaína IV - profilaxia: Lamotrigina. Cefaleia cervicogênica: 2 critérios + transtorno ou lesão na coluna cervical ou nos tecidos moles do pescoço. Critérios: desenvolvimento temporal com o transtorno cervical, melhora ou desaparece com amelhora do transtorno cervical, redução da amplitude de movimento cervical, piora commanobras provocativas, abolida após bloqueio da cervical e seu suprimento nervoso. Tratamento: fisioterapia, estimulação transcutânea, anestesia local repetida, descompressão, secção e/ou avulsão do nervo occipital maior e nervo occipital menor. - Farmacoterapia: antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes, relaxantes musculares e AINES. Prática: anti-inflamatório + relaxante muscular + imagem Se dor arrastada, anti-inflamatório + relaxante muscular + profilaxia (antidepressivos tricíclico, anticonvulsivante). Cefaleia primária em facada: curta duração (3-120 seg), múltiplas localizações no crânio, pode migrar contralateral, caráter de pontadas ou punhaladas em pacientes commigrânea prévia. 16 Layane Silva Tratamento: Indometacina 75 mg/dia (até 150 mg/dia). Cefaleia primária da tosse: início súbito, bilateral e posterior, precipitada pela tosse, dura 1 seg até 2 h. Investigar malformação de Arnold-Chiari com RM com contraste e angioRM ou TC e angioTC. Diagnóstico diferencial: malformação de Arnold-Chiari, aneurisma cerebral, lesões da fossa posterior, adenomas da hipófise e hipotensão liquórica. Tratamento: Indometacina 150 mg/dia (até 250 mg/dia), Cefaleia primária do esforço físico: bilateral, dura de 5 min a 24 h, caráter pulsátil, características migranosas se história de migrânea prévia. Excluir causa secundária! Tratamento: Indometacina 50 a 150 mg/dia, 30-60 min do exercício físico (miniprofilaxia) - se exercício diário, usar propranolol ou naproxeno. Cefaleia primária associada à atividade sexual: relação com atividade sexual, sem causa estrutural, dor bilateral, occipital + cervicalgia, que antecede o orgasmo e se intensifica com a excitação sexual. Excluir causa secundária! Investigar com RNM ou TC de encéfalo + angio-RM ou TC cerebral e de pescoço, e LCR quando neuroimagem normal (descartar HSA). Tratamento: - Indometacina 25 a 150mg, 30 min - Sumatriptano 6 mg SC, 30-60 min - Naratriptano + 4h antes da relação sexual - Propranolol (até 240 mg) Cefaleia por uso excessivo demedicamentos: cefaleia primária preexistente + uso excessivo de medicamentos (em 10 ou mais ou 15 ou mais dias/mês por mais de 3 meses) = novo tipo de cefaleia ou piora significativa. - > 10 comprimidos/mês: Ergotamina, Triptana, Opioide. - > 15 comprimidos/mês: analgésico simples, AINE. Tratamento: descontinuação da medicação usada em excesso, mudar para classe diferente, limitar uso de medicamentos agudos (< 2 por semana). Prática: 10-15 gotas de Amplictil por 15-30 dias + Prednisona 20 mg por dia, ou Prednisolona 20 mg, 2 vezes ao dia por 5 dias, nos 2 primeiros meses. ● Revisão de imunologia a. Anamnese e exame físico Idade: doenças autoimunes estão relacionadas com mulheres ou homens jovens. Profissão: carregar peso excessivo ou a posição durante o trabalho (excesso de tempo sentado). Procedência e etnia: doenças endêmicas. Queixa principal: decálogo da dor (localização, intensidade, irradiação, duração, evolução, relação com funções orgânicas, agravantes, manifestações concomitantes, caráter e atenuantes). RITMO INFLAMATÓRIO RITMOMECÂNICO Pior de manhã Pior ao fim do dia Melhora com o movimento continuado Piora com o movimento continuado Dor em repouso Cede ao repouso Sem posição antálgica Com posição antálgica Rigidez matinal prolongada (> 30 minutos) Rigidezmatinal de curta duração (< 10 minutos) Rigidez pós-repouso > 5 minutos RIgidez pós-repouso < 2-3 minutos - Dor inflamatória: diurno/matinal, rigidez matinal prolongada (> 1 hora), piora com repouso, melhora com movimentação, sinais flogísticos - à noite, há produção de autoanticorpos que migram para articulações. - Dormecânica: piora commovimento, sem sinais inflamatórios, rigidez matinal fugaz. História familiar: questionar doenças autoimunes. Hábitos de vida: alimentação, tabagismo e etilismo - atentar para uso de medicações hepatotóxicas. Antecedentes: doença autoimune e histórico gestacional - questionar fotossensibilidade e fenômeno de Raynaud. Inspeção estática e dinâmica: analisar mobilidade. Palpação: sinais inflamatórios (sinovite). Testes específicos: dor articular inflamatória x mecânica. b. Imunologia Sistema imune atua para prevenir e erradicar infecções - suas citocinas e mediadores são usados no tratamento. PAPEL DO SISTEMA IMUNE IMPLICAÇÕES Defesa contra infecções Imunidade deficiente resulta em aumento da susceptibilidade à infecções, como a AIDS; Vacinação aumenta defesa imune e protege contra infecções. 17 Layane Silva Defesa contra tumores Potencial para imunoterapia contra o câncer Controle da regeneração tecidual e cicatrização Reparo do dano tecidual Pode danificar células e induzir inflamação patológica Respostas imunológicas são causa de alergia, doenças autoimunes e inflamatórias Reconhece e responde aos enxertos de tecido e proteína recém-introduzida Respostas imunológicas são barreiras ao transplante e terapia genética Ativação do sistema imune: ativação da imunidade inata inespecífica e rápida (células dendríticas, macrófagos, neutrófilo, NK e sistema complemento) para deter o invasor pelos receptores toll like, atua na fagocitose. Células dendríticas vão se ligar ao patógeno, receptores mono like se ligam a vírus e receptores de manose a bactérias. Após 12 horas, há apresentação do antígeno ao linfócito T, processa a informação e ativa o linfócito B que produz anticorpos. Após 5-7 dias, produz o anticorpo tipo IgM (infecção ativa), depois de 10-14 dias produz IgG, depois produz células de memória sobreviventes (linfócitos B). Doenças autoimunes: ativação direta dos linfócitos B de memória, adquiridos em indivíduos que já tiveram infecção ou foram vacinados (resposta mais rápida); estão associados ao HLA no braço curto do cromossomo 6, sua expressão irá atuar na ativação do linfócito T. - Classe I: HLA-A, B e C - Classe II: HLA-DR, DQ AR: HLA-DR4; LES: HLA DR2 e 3; SSJ: HLA-DQA1 - Classe III: C4A, C4B, C2, Fator B, LTB, TNFa ● Lupus Doença inflamatória crônica que ocorre em surtos, há produção de autoanticorpos, padrão inicial (5-7 anos) tende a permanecer. Acomete mulheres jovens em idade fértil (20-30 anos), alta morbidade, temmortalidade e prevalência é maior em não brancos. Tem associação com PTI (trombocitopenia imune), PTT (púrpura trombocitopênica trombótica), SAF (síndrome do anticorpo antifosfolípide), lúpus discóide e lúpus cutâneo subagudo. Fatores de risco: tabagismo, deficiência seletiva de IgA, deficiência homozigótica de C1q, C1s, C4, infecções (EBV). Fatores de ativação: gestação (regra de ⅓: ⅓ piora, ⅓ neutro, ⅓melhora), infecções, cirurgias, estresse físico ou psicológico, exposição solar (ativação dos melanócitos, linfócitos T e linfócito B). a. Fisiopatologia Componente genético estimula produção de autoanticorpo + outro estímulo (fator ambiental, hormonal ou viral) = apoptose inefetiva e desregulação do sistema imune, gera produção dos autoanticorpos, ativação do sistema complemento e lesão tecidual pelo acúmulo de imunocomplexos no tecido. Não há indicação de solicitar autoanticorpos sem ter alto grau de predileção clínica! Etiologia predisposição genética (HLA DR3 e DR4 – DQW1, DQW2), deficiência do complemento, fatores ambientais (exposição solar e medicamentos) e infecção (EBV) Lúpus induzido por medicamentos: ocorre em idosos (> 50 anos), quadros leves, geralmente associado a hidralazina, entra em remissão se retirar medicamento. b. Manifestações clínicas Sintomas sistêmicos: astenia, mal-estar, febre, perda ponderal, fadiga, mialgia, hipoalbuminemia. Articular: inicial, migratória, simétrica, não erosiva, raramente deformante. - Artropatia de Jaccoud: alteração deformante ligamentar reversível, sem erosão, apenas subluxação. Mucocutâneo: alopecia (> 100 fios/dia), fenômeno de Raynaud (resposta vascular exagerada ao frio ou estresse emocional gera palidez + cianose + eritema em mãos e pés - vasoconstrição seguida de vasodilatação), úlcerais orais indolores (rash em asa de borboleta, lesões discóides, lupus subagudo, lupus túmido, perniose lúpica - Hutchison). Renal: síndrome nefrítica ou nefrótica, pode causar hipertensão e hematúria, ou proteinúria. - Síndrome nefrótica/nefrítica: 50% assintomáticos, acompanhar sumário de urina para rastrear proteinúria que indica lesão renal. - Nefrite: principal acometimento, necessita de maior acompanhamento, um dos mais graves e mais frequentes, pode ser assintomático no início do quadro. I: mesangial mínima II: mesangial proliferativa III: proliferativa focal - de I a III temmenos dano renal e disfunção renal, menor probabilidade de diálise. 18 Layane Silva IV: proliferativa difusa - mais grave e mais frequente V: membranosa VI: fibrose - quando o rim já sofreu fibrose, sem função. Pulmonar: mais comum é derrame pleural (serosite), pleurite, pneumonite, hipertensão pulmonar e TEP. Gastrointestinal: pancreatite lúpica e vasculite mesentérica. Cardíaco: mais comum derrame pericárdico (serosite), pericardite, endocardite de Libman-Sacks (endocardite asséptica sem sintomas sugestivos de infecção, formação de trombo nas válvulas cardíacas), BAV no LES neonatal (antes ou após o parto pela passagem de Anti-Ro pela barreira placentária). Hematológico: anemia, leucopenia, linfopenia e plaquetopenia (pancitopenia), linfadenomegalia, esplenomegalia, hepatomegalia, trombofilias. Imunológico: produção de anticorpos. SNC: distúrbio cognitivo, psicose, convulsão, mielite transversa, AVC por tromboembolismo, neuropatia periférica. Oftalmológico: ceratoconjuntivite seca (dessecação bilateral crônica da córnea e conjuntiva por produção baixa de lágrima ou evaporação lacrimal rápida) c. Diagnóstico Exame físico: pele, articulações, aparelho respiratório, ausculta pulmonar e cardíaca, abdome (esplenomegalia, hepatomegalia), linfonodos (linfonodomegalia) e SNC. Exames laboratoriais: PCR e VHS (provas inflamatórias - VHS aumenta mais por ser mais sensível); hemograma (se anemia hemolítica pedir haptoglobina, coombs direto, bilirrubinas, LDH, esquizócitos e reticulócitos); complemento - C3 e C4 (baixo pela lise dos imunocomplexos se doença em atividade); função renal, eletrólitos, proteinúria ou pr/cr isolada + sumário de urina, albumina; exames de imagem (TC de tórax ou ECO). FAN (fator antinúcleo): feito a partir de células Hep-2 que proliferam em cultura, se identifica o autoanticorpo, fica verde por imunofluorescência direta., tem sensibilidade de 98% e especificidade de 45%. - Nuclear pontilhado fino denso: pode ser positivo na população normal pelo gene LEDGF presente em 20% da população sem associação patológica. - Nuclear pontilhado fino: anti Ro - SSA e anti La - SSB (promove nefroproteção), associação com manifestações cutâneas e LES neonatal. - Nuclear homogêneo: anti dsDNA (atividade de doença e nefrite) e anti Histona (LES induzido por medicamento). Anticorpo anti-dsDNA e o anti-P tem relação com atividade de doença e precisam ser acompanhados. - Nuclear pontilhado grosso: anti RNP (relação com doença mista) e anti Sm (altamente específico do lúpus). - Citoplasmático: anti-P (relação com psicose lúpica e atividade de doença). No FAN, a titulação sempre são múltiplos de 80 e quantificam a concentração de anticorpos - quanto maior a diluição, maior a quantidade de anticorpos. d. Diagnóstico diferencial Inclui doenças infecciosas (endocarditee infecções crônicas, como tuberculose, hepatites e sífilis), linfoproliferativas (linfoma, leucemia), doenças autoinflamatórias (febre familiar do mediterrâneo), AR, Sjogren, lupus cutâneo, PTT, SHU, anemia hemolítica autoimune e SAF primária. e. Tratamento Inclui controle dos fatores de risco, imunomodulador, imunossupressor, corticoide e hidroxicloroquina. Não farmacológico: educação sobre a doença, apoio psicológico, controle rigoroso de fatores de risco cardiovascular (meta: PA 130x80), atividade física, evitar tabagismo, dieta rica em cálcio + vitamina D (uso crônico de corticóide pode levar a perda da massa óssea), fotoproteção, avaliar fertilidade/anticoncepção. Farmacológico: (1)manifestações leves, tratadas via oral com corticóide, imunossupressor e imunomodulação com hidroxicloroquina, com lenta progressão da doença; (2)moderadas; e (3) graves (nefrite, mielite transversa, vasculite aguda retiniana), inclui quadros que ameacem à vida ou levem a grande morbidade (diálise, dificuldade visual ou mobilidade). - Corticoide: 0,5-1 mg/kg (dose imunossupressora) + hidroxicloroquina. Semanifestação grave, fazer pulsoterapia com dose alta de corticóide (Metilprednisolona 500-1000 mg por 3-5 dias) para frear a inflamação e manifestações graves (nefrite, quadros neurológicos, acometimento da visão, pericardite) de forma abrupta. 19 Layane Silva - Hidroxicloroquina: sempre que possível, pois reduz reativação, melhora perfil lipídico e reduz risco de tromboses e infecções. Contraindicações: maculopatia e alargamento de TP. Indicar acompanhamento anual com oftalmologista, principalmente após 5 anos de uso pelo risco de maculopatia de depósito. - Imunossupressores: Metotrexato (articular), Leflunomida (articular), Azatioprina (hematológico, cutâneo, renal), Micofenolato de mofetil (renal, cutâneo, neurológico), Ciclosporina, Tacrolimus, Dapsona, Danazol, Ciclofosfamida (renal, neurológico; quimioterápico em dose baixa usado em pulsoterapia por 3-6 meses para citotoxicidade e imunossupressão), Rituximabe e Belimumabe (renal?). Semanifestação grave, utilizar Ciclofosfamida EV ou Micofenolato de mofetil VO. ● SAF Doença multissistêmica autoimune adquirida associada tromboses arteriais venosas recorrentes e/ou morbidade gestacional e persistência de antifosfolípides (30-40%), associação genética com HLA-DR7, DR4, DRW53 e DQW7. SAF primária: causa mais comum de trombofilia adquirida, 15-20% das TVP, ⅓ dos AVC em < 50 anos e 10-15% das perdas fetais recorrentes, não tem doença autoimune de base. SAF secundária: associação com LES (50%), esclerose sistêmica ou doença reumatológica. Hipótese de TWOHIT: 1o exposição a agentes infecciosos + 2o tabagismo, imobilização prolongada, gestação, ACO, usuárias de TRH, oncológicos. Mecanismo de perda gestacional: trombos intraplacentária, alteração da invasão trofoblástica e redução de b-HCG - causam aborto de repetição, mas com anticoagulação pode-se manter a gestação. a. Quadro clínico Investigar SAF se TVP (mais comum), TEP (⅓ dos casos), trombose venosa renal, oclusão retiniana, Budd-Chiari, TVC, trombose arterial (AVC, IAM, úlcera cutânea, livedo reticular, microangiopatia trombótica, isquemia mesentérica, retiniana) e morbidade gestacional. Morbidade gestacional: comum no 2 trimestre (50%), associação com pré eclampsia, RCIU (crescimento intrauterino restrito), síndrome HELLP, parto prematuro. b. Critérios diagnósticos Critérios de Sapporo/Sidney: 1 clínico e 1 laboratorial. - Laboratorial: anticoagulante lúpico, anti B2 glicoproteína IA, anticardiolipina IgG, IgM, IgA; - Clínico: trombose arterial ou venosa, perda fetal recorrente (> 3 com IG < 10 sem), morte inexplicada de feto > 10 sem, > 1 parto prematuro <34 sem por eclâmpsia, pré eclâmpsia ou insuficiência placentária. Diagnóstico diferencial: distúrbios da coagulação, neoplasias, síndrome nefrótica, periparto, endocardite infecciosa, embolia de colesterol, FA, vasculites, doença de Behçet e hepatopatias (alarga TP). Antifosfolípides pode estar presentes em idosos (3% sem significado clínico), sífilis, HIV, infecções c. Tratamento Anticoagulação com varfarina ou heparina + Marevan para controle do INR 2-3 se evento venoso/3-4 se evento arterial + AAS 300 mg se AVC. Se novo AVC, usar anticoagulação com Marevan. LES + antifosfolípides + assintomáticos = AAS 100mg + HCQ 400mg Pré-concepção: AAS 100mg, depois da concepção AAS 100 mg + enoxaparina 40 mg profilática até IG 8 semanas. Gestante: AAS 100 mg + enoxaparina 1 mg/kg de 12/12h. Dosar fator anti XA em idosos, obesos e gestantes. ● Artrite reumatoide Doença autoimune inflamatória sistêmica e crônica que acomete a sinóvia (membrana sinovial) com inflamação e proliferação, erosão óssea justa-articular e destruição da cartilagem, tem etiologia multifatorial (genética, ambiental, infecciosa e autoimune/imunológica). Articulação sinovial possui cápsula articular e uma camada interna (membrana sinovial) que fabrica o líquido sinovial, um lubrificante, altamente viscoso que transporta O2 e nutrientes para a cartilagem. Epidemiologia: 1% da população, 5% das mulheres, acomete nos 50-75 anos (> 75 anos: AR senil), possui FR (85%) e antiCCP. Fatores de risco: exposição a sílica causa pneumoconiose + quadro reticular (síndrome de Caplan); ingesta de café pode induzir citrulinização de proteínas; tabagismo; peridontite e microbiona são gatilhos de 20 Layane Silva reativação; HLA (30-50%), a associação DR4-DRB1 facilita desenvolvimento de células T reativas (TCD4+). a. Fisiopatologia Inflamação da membrana sinovial aumenta células e mediadores inflamatórios na cápsula articular, angiogênese (TNFα, IL-1 e IL-6 – mais inflamação), tecido granulomatoso inflamatório (Pannus) e reabsorção da parte óssea por inflamação insa, causando destruição periarticular e deformidade irreversíveis. b. Quadro clínico Insidioso e progressivo, temmanifestações articulares (sinovite) e extra-articulares (FR e anti-CCP), e sintomas constitucionais (febre, astenia e perda de peso). Marco clínico: poliartrite erosiva simétrica de mãos e punhos. Articulares: Causa poliartrite crônica (> 6 semanas), erosiva, simétrica e aditiva de grandes e pequenas articulações - poupa esqueleto axial e pouca interfalangianas distais; rigidez matinal > 1 h; sinais inflamatórios da sinovite (dor, calor local, aumento de volume - edema, e limitação à movimentação; evolução para deformidade e incapacidade funcional (sem reversibilidade). -Alterações: desvio ulnar, dedo emmartelo (hiperflexão da IFD), dedo em botoeira (hiperflexão da IFP com hiperextensão da IFD), pescoço de cisne (hiperflexão da IFD com hiperextensão da IFP). Extra-articulares: após 10 anos, há maior título de anticorpos e maior chance de extra-articulares, como nódulos subcutâneos fibróticos periarticular (2-40%), vasculite secundária (imunocomplexos), episclerite e esclerite (síndrome sicca), nódulo pulmonar fibrótico e pleurite (derrame pleural), síndrome de Felty (rara e grave - anemia, esplenomegalia e neutropenia), síndrome de Sjogren secundária, mononeurite múltipla, síndrome do túnel do carpo e aumento do risco cardiovascular. c. Diagnóstico Exames laboratoriais: se sinovite há 1 ano com deformidade articular, solicitar FR (anticorpo contra IgG, muito sensível, pouco específico); anti-peptídeos cíclicos citrulinados (anti-CCP, muito específico); provas de fase aguda (VHS e PCR); hemograma (anemia normocítica e normocrômica, plaquetose); ácido úrico; sorologias (VHB, VHC, HIV, parvovírus B19, rubéola, Lyme); TGO, TGP e função renal. Exames de imagem: raio-X convencional de mãos e punhos, USG ou RNM para investigar erosão e sinovite. - Achados: aumento de partes moles, osteopenia periarticular, redução do espaço articular simétrico, destruição progressiva de cartilagem articular, erosões ósseas marginais, subluxações (atlanto-axial: afrouxamento ligamentar com deslocamento do áxis-C2 em relação a atlas C1, causa compressão medular alta) e desvio ulnar. Pedir raio-X neutro, flexão
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