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Layane Silva REVISÃO - ESPECIALIDADES CLÍNICAS ● Insuficiência cardíaca 1. Dispneia - Dispneia: sensação de desconforto respiratório. - Taquipneia: sinal propedêutico, mensurável pelo médico e quantificável por incursões por minuto (ipm). - Dispneia aos esforços: dispneia ao realizar esforço, causada por IC, DPOC e TEP. - Ortopneia: dispneia ao decúbito (hidrostática) por congestão pulmonar - quantos travesseiros usa para dormir. - Dispneia paroxística noturna: faz congestão venosa de forma lenta, causada por IC (critério de Framingham). A diferença entre ortopneia e dispneia paroxística noturna é o tempo que o sintoma leva para aparecer. - Flexopneia: dispneia ao flexionar o tórax, associada à IC, com dispneia aos mínimos esforços pelo retorno venoso. - Ortodeoxia/platipneia: inverso de ortopneia, há melhora dos sintomas com o decúbito na (1) síndrome hepatopulmonar, faz shunt intrapulmonar por causas hepáticas, o decúbito comprime o shunt e melhora a dispneia, e (2) shunt intracardíaco, com comunicação interatrial, melhorando perfusão ao decúbito. - Trepopneia: dispneia em decúbito lateral quando deita para o lado do pulmão doente, pois aumenta o shunt e causa hipoxemia - na IC pode haver melhora ao decúbito direito, pois melhora o retorno venoso. - Apneia: para de respirar, ocorre na apneia obstrutiva do sono, síndrome de Pickwick e causas neurológicas. a. Causas de dispneia 70% das causas de dispneia são cardiopulmonares. - Causas respiratórias: DPOC, asma, pneumonia, doença pulmonar intersticial, embolia pulmonar. - Causas cardiovasculares: doenças valvares, doença arterial coronariana, miocardiopatias. 1. DAC: cardiomiopatia isquêmica, dispneia por equivalente isquêmico (síndrome coronariana +dispneia sem dor torácica) ou disfunção pneumocárdica (lesão coronariana), faz congestão pulmonar. 2. Cardiopatias hipertensivas; 3. Miocardiopatias: (1) dilatada: genética, periparto, alcoólica, medicamentoso, infecciosa, Chagas, idiopática; (2) hipertrófica; (3) restritivas: infiltrativas (amiloidose), de depósito (hemocromatose), endomiocárdica (endomiocardiofibrose), não infiltrativa (esclerodermia); (4) outras: arritmogênica, DAVD (displasia arritmogênica do VD), catecolaminérgica, ventrículo não compactado. 4. Valvares: doença da valva pulmonar e tricúspide, IC, EI bacteriana, insuficiência/estenose mitral e aórtica, FR. - Doenças psicogênicas: diagnóstico de exclusão. 2. Insuficiência cardíaca Síndrome complexa por anormalidade estrutural e/ou funcional que causa alteração do enchimento ou ejeção ventricular e resulta em débito cardíaco diminuído e/ou elevadas pressões intracardíacas. Causa dispneia, estase de jugular e edema de MMII, mas podem ter achados que variam desde ventrículo de tamanho e função limítrofes ou pouco alterados ou dilatação ou disfunção ventricular. Coloca-se na fila de transplante se disfunções graves, coração estruturalmente alterado e classe funcional 3 ou 4 (dispneia em repouso e evolui persistente) - a FE não prediz quadro clínico, só alterações estruturais ou funcionais. a. Etiologia No Brasil, a causa mais comum de IC é a miocardiopatia isquêmica - as causas são: isquêmica, cardiomiopatia dilatada, hipertensiva, Chagas, valvar, QT e miocardite. b. Epidemiologia Principal causa de hospitalização em > 65 anos no Brasil, acomete 23 milhões de pessoas e 2 milhões de novos casos/ano, reduziu internações (34%) e mortalidade (7,7%) e aumentou mortalidade hospitalar (30,1%). Cardiopatia com pior prognóstico para IC é Chagas e sua área endêmica é no Brasil. A mortalidade na IC é 20% em 1 ano, 50% em 5 anos e 80% em 8 anos, o prognóstico depende de estilo e qualidade de vida, adesão medicamentosa e assistência à saúde; mortalidade intra-hospitalar é > 65 anos (miocardite isquêmica e chagásica) e < 20 anos (EI). c. Fisiopatogenia Débito cardíaco = frequência cardíaca x volume sistólico Volume sistólico = Volume diastólico final do VE - Volume sistólico final do VE Insulto inicial: lesão miocárdica + estresse mecânico; há um insulto mecânico (sobrecarga volêmica, pressórica, fatores que alterem a estrutura ventricular por estenose aórtica que gera sobrecarga pressórica ou insuficiência aórtica gera sobrecarga volêmica) e isquêmico. O corpo mantém o DC por mecanismos neuro hormonais (SRAA), mas há queda do 1 Layane Silva DC pelo insulto e para aumentá-lo deve-se alterar o volume sistólico (aumentar volume de sangue circulante pela ativação do SRAA que causa retenção hidrossalina e aumenta o DC) ou FC (ativação adrenérgica por liberação de catecolaminas pelo SNA simpático, que inativa a SNA parassimpático, e causa taquicardia e aumenta o volume). Essas modificações a médio prazo são deletérias e promovem desbalanço e causam IC. Ativação de mecanismos adaptativos neurohormonais: - Ativação do SRAA (↑ renina, angiotensina e aldosterona): causa apoptose, fibrose e depósito de Ca, pode ser tóxica para o miocárdio; a sobrecarga salina causa sobrecarga volêmica que dilata a músculo para o volume circular, causa perda da arquitetura miocárdica e disfunção. - Ativação adrenérgica + retração do SNA parassimpático: há hipotensão + vasoconstrição generalizada para manter o sangue circulando no cérebro, adrenal e rim, que aumenta FC (cronotropismo), contratilidade (inotropismo) e RVP para evitar sinais de baixo débito (desorientação, oligúria e hipotensão). A longo prazo, há aumento da RVP e da pós-carga, que causa hipertrofia e dilatação do VE. ● ↑ FC + ↑ Contratilidade cardíaca ● ↑ RVP → ↑ Pós carga → ↑ Sobrecarga VE ● Noradrenalina: toxicidade miocárdica/sobrecarga de Ca/apoptose - ↑ Adrenalina, endotelina, peptídeo natriurético, neprilisina e citocinas pró-inflamatórias: BNP atua inverso aos outros mecanismos causando diurese osmótica e vasodilatação, mas é inativado pela neprilisina, que promove a progressão da IC; as citocinas inflamatórias são sinal de mau prognóstico pois atuam catabolizando o músculo. - Remodelamento ventricular (alteração de tamanho, forma, função ventricular ou eletrofisiologia dos cardiomiócitos): há hipertrofia do coração + remodelamento, disfunção sistólica e diastólica e fibrose - em caso de FE < 30% (IC muito grave) pode haver morte súbita. Alterações hemodinâmicas (débitos perfusionais): resposta inadequada ao DC, elevação da pressão pulmonar e pressão venosa sistêmica e perfusão tecidual inapropriada. d. Síndrome clínica Via final das cardiopatias independente da etiologia. Diagnóstico: história + exame físico + complementares. - Critérios de Framingham: 2 maiores ou 1 maior e 2 menores é IC definitiva. Critérios menores são sinal de IC com outros diagnósticos diferenciais (baixa especificidade e boa sensibilidade), já os maiores definem IC (alta especificidade). CRITÉRIOS MAIORES CRITÉRIOS MENORES Dispneia paroxística noturna Edema de tornozelos bilateral Turgência jugular Tosse noturna Crepitações pulmonares Dispneia aos esforços Cardiomegalia no Rx de tórax Hepatomegalia Edema agudo de pulmão Derrame pleural Aumento da PVC (> 16 cm de H2O) Diminuição da capacidade funcional em ⅓ da máxima Terceira bulha (B3) Taquicardia (> 120 bpm) Refluxo hepatojugular Perda de peso > 4,5 kg em 5 dias no tratamento Perda de peso abrupta está associada ao uso de diurético. Crepitações bolhosas são típicas de congestão. - Critérios de Boston: difere pela presença de B3 e sibilo - este pode ser reflexo de estase venosa (“asma cardíaca”). Clínica Dispneia em repouso 4 Ortopneia 4 Dispneia paroxística noturna 3 Dispneia ao caminhar no plano 3 Dispneia ao caminhar em aclives 2 Exame físico Anormalidades na FC 1-2 Pressão venosa jugular alta 2-3 Crepitações pulmonares 1-2 Terceira bulha 3 Sibilos 3 Raio-X do tórax Edema pulmonar alveolar 4 2 Layane Silva Edema pulmonar intersticial 3 Derrame pleural bilateral 3 Índice cardiotorácico > 0,5 3 Redistribuição superior de fluxo 2 e. Bulhas B4 - B1 - sístole - B2 - B3 (enchimento ventricular rápido) - diástole - B4 (contração atrial) - B1 -sístole - B2 - B3 - B1: fechamento das valvas mitral e tricúspide (componente mitral antecede o tricúspide, coincide com o ictus cordis e pulso carotídeo, mais grave, dura mais do que B2, “TUM”. - B2: fechamento das valvas ventrículo arteriais, tem 4 grupos de vibrações, só são audíveis quando originadas pelo fechamento das valvas pulmonar e aórtica, ouve-se o aórtico em todo o precórdio e o ruído da pulmonar no foco pulmonar. Na expiração, as 2 valvas fecham no “TA”, já na inspiração, pelo prolongamento da sístole ventricular (maior afluxo de sangue), há retardamento do pulmonar causando desdobramento de B2 (“TLA”). - B3: ruído protodiastólico de baixa frequência pela vibração da parede ventricular distendida pela corrente sanguínea que penetra na cavidade no enchimento ventricular rápido, audível na área mitral em decúbito lateral esquerdo, “TU”, ocorre em hipervolemia, hipercinético ou jovem atleta - presente na ICFEr. - B4: ruído débil no fim da diástole ou pré-sístole pela brusca desaceleração do fluxo sanguíneo na contração atrial em encontro com o sangue no ventrículo, há contração atrial para encher 20-25% mas já está cheio e faz reverberação, ocorre na hipertrofia ventricular - presente na ICFEp. f. Classificação A Alto risco para IC 50-60 milhões B IC assintomática 8-10 milhões C (I, II) IC sintomática 5 milhões D (III, IV) Estágio final de IC refratária 0,2 milhões Classificação CF I, II, III, IV (NYHA): dispneia aos esforços - quanto menor o esforço necessário para ter dispneia, maior sua classificação funcional. NYHA 1 Não há limitação física, cansaço aos grande esforços; ergometria: > 6 METs NYHA 2 Limitação física leve, cansaço aos moderados esforços; ergometria: 4-6 METs NYHA 3 Limitação física moderada, dispneia aos pequenos esforços; ergometria: < 4 METs NYHA 4 Limitação física grave, sintomas em repouso ou aos mínimos esforços; não tolera ergometria Estágios A, B, C, D (ACC/AHA): DESCRIÇÃO ABORDAGEM A Risco de desenvolver IC; sem doença estrutural ou sintomas de IC Controle dos fatores de risco; monitorar cardiotoxicidade B Doença estrutural cardíaca presente; sem sintomas de IC Considerar IECA, BB e antagonista mineralocorticoides C Doença estrutural cardíaca presente; sintomas prévios ou atuais de IC Tratamento clínico, considerar TRC, CDI, cirurgia e manejo por equipe multidisciplinar D IC refratária ao tratamento clínico, requer intervenção especializada Todas as medidas acima, considerar transplantes cardíaco e dispositivos de assistência ventricular - A: tem fator de risco para IC (tabagismo, dislipidemia, HAS, Chagas, etilismo, DM e obesidade), se não forem controlados podem induzir cardiopatia estrutural. - B: fator de risco + cardiopatia estrutural sem sintomas, usar IECA, BRA, betabloqueador e antagonista da aldosterona. - C: iniciou o tratamento, mas evoluiu com cardiopatia estrutural com sintomas, deve-se realizar medidas anteriores e terapia intervencionista (terapia de revascularização, CVI). - D: mesmo com tratamento, evolui com AVC isquêmico, Chagas ou idiopática, é o estado final (refratário ao tratamento), indicar transplante ou assistência ventricular. ICFER X ICFEP: FE é o quanto o coração ejeta para frente, é > 52% em homens e > 54% em mulheres - saudável é 64-80%. ICFEr ICFEi ICFEp FEVE > 40% FEVE 40-49% FEVE . 50% ↑ BNP e NT-proBNP Alteração estrutural e Alteração estrutural e/ou 3 Layane Silva disfunção sistólica disfunção diastólica Os medicamentos só atuam em frações < 40% - quanto menor a FE, melhor resposta ao tratamento. - ICFEp: faz-se controle dos sintomas, pois a função sistólica é boa (capacidade de relaxar e complacência ventricular), mas há disfunção diastólica, aumenta pressão intracavitária e edema agudo do pulmão por hipertrofia ventricular. - ICFEi: comporta-se como FE preservada. - ICFEr: há insuficiência sistólica, mas a queda na FE causa alteração diastólica. CRITÉRIOS ICFEp ICFEr Sexo feminino +++ + Idade > 65 anos +++ + Dispneia +++ +++ Angina +++ + Edema pulmonar agudo +++ + Terceira bulha - +++ Quarta bulha +++ - Sinais de hipervolemia +++ ++ Hipertensão arterial +++ + Fibrilação atrial +++ ++ FE < 45-50% - +++ BNP > 1000 pg/mL + +++ BNP 400-1000 pg/mL +++ + O dado semiológico que melhor diferenciará a ICFEp da ICFEr são bulhas extras (B3 para reduzida e B4 para preservada). IC esquerda x IC direita: - IC direita: composta por IC esquerda, aumento da pressão venosa, HAP e sobrecarga direita, que causa sobrecarga sistêmica (edema de MMII, estase de jugular, derrame cavitário, pleural e extravasamento de líquido para o 3o espaço). Principal causa é a IC esquerda de qualquer etiologia, outras são: TEP, cor pulmonale, DPOC avançada, isquemia restrita do VD, miocardiopatia não compactada a direita, endocárdio fibrosado e displasia arritmogênica do VD. Se o problema está na esquerda, à montante sofre o pulmão, se o problema está na direita há pressão pulmonar, DPOC ou problema à esquerda vindo para direita. IC esquerda - Congestão pulmonar + Estase sanguínea nas câmaras esquerda (maior risco de embolia) + Redução do DC + Hipoperfusão tecidual - IC esquerda: principal causa é isquêmica, se manifesta com congestão pulmonar, pois a disfunção ventricular causa acúmulo de sangue no pulmão causando trombo que pode migrar e causar tromboembolia (cérebro, síndrome do dedo azul), dispneia por congestão e sinais de baixo débito (sonolência, disfunção renal/síndrome cardio-renal, hipotensão, baixa perfusão, TEC reduzido, lactato alto). IC direita - Congestão sistêmica - Turgência jugular, hepatomegalia, ascite, derrame cavitário e edema de MMII. Os 2 principais sinais clínicos de hipoperfusão tecidual é o sensório e alterações na urina (redução do débito urinário há 3-4 dias seguido de sonolência e hipotensão). O marco laboratorial da hipoperfusão é o lactato - pode estar elevado na insuficiência hepática sem hipoperfusão. - IC congestiva: IC direita + esquerda, principal causa é Chagas, na qual a disfunção alcança o pulmão porque está seco (dispneia por pulmão seco, hipotensão, cardiomegalia). IC baixo débito X IC alto débito: o índice cardíaco (DC/superfície corpórea) é normal entre 2,8-4,2 L/min/m2 - reduz quando a FE é reduzida, causando redução progressiva no volume sistólico. ● IC de baixo débito - Redução do volume sistólico de caráter progressivo. ● IC de alto débito - Débito cardíaco aumentado - Necessidade metabólica aumenta - Reduz RVP Na IC de alto débito, há redução da RVP (vasodilatação generalizada com hipoperfusão tecidual) ou necessidade metabólica aumentada (anemia, tireotoxicose, sepse), tem como causas fístula arteriovenosa, shunt arteriovenoso, anemia grave, hipertireoidismo, beribéri (deficiência de B1). IC aguda com perfil hemodinâmico (A, B, L - IC aguda): estabelece necessidade de intervenção imediata. - Sinais de baixa perfusão: extremidades frias, baixo débito urinário, estado mental alterado, pouca resposta ao diurético, azotemia pré-renal. - Sinais de congestão: turgência jugular, B3, falta de ar, refluxo hepatojugular, edema periférico, ortopnéia, crepitações e ganho de peso. 4 Layane Silva 1. Perfil A (quente e seco): perfundido, sem congestão, TEC < 2 segundos, função renal normal - dar alta (30% dos casos). 2. Perfil B (quente e úmido): perfundido (extremidades quentes, TEC reduzido, orientado, urinando bem, função renal e lactato normal), mas congesto - tratar com diurético (Tridil em bomba de infusão e Lasix venoso) e vasodilatador para congestão venosa e evitar extravasamento para o 3o espaço. 3. Perfil L (frio e seco): congestão + melhora com diurético, ausência de lágrima ou saliva e hipoperfusão - suspender diurético (uso excessivo retira líquido intravascular, reduz DC e bomba de Na-K, piora perfusão, causa desidratação) e oferecer volume com critérios de fluido-responsividade (manobra de elevação das pernas, delta PP/variação de pulso-alvo, ECO para avaliar a VCI) ou oferecer doses de 250 mL até auscultar crepitos. 4.Perfil C (frio e úmido): choque cardiogênico, tem mortalidade alta, congestão e hipoperfusão - usar drogas vasoativas (inotrópicos) para aumentar a contratilidade miocárdica (dobutamina + noradrenalina). g. Exames complementares - BNP e NT-proBNP (diagnóstico e prognóstico): o BNP não precisa ser solicitado para pacientes que já tem critérios para IC; o NT-proBNP é pedido pois não possui interferência medicamentosa - se Framingham positivo é desnecessário pedir BNP e NT-proBNP (BNP próximo de 0 afasta IC, 100 é pulmão, 100-400 outras etiologias e > 400 é coração). MARCADOR Improvável IC possível Provável BNP na emergência < 100 100-400 > 400 NTproBNP < 50 anos 50-75 anos > 75 anos < 300 < 300 < 300 300-450 300-900 300-1800 >450 >900 >1800 Ambulatório BNP NT-proBNP <35-50 <125 - - - ECG: todos os pacientes de rotina, continua a avaliação cardiológica após avaliação clínica, pode haver sobrecarga atrial/ventricular, arritmias, bloqueios ou supra de paredes (supra feliz: pericardite; supra triste: SCA). - Raio X de tórax: avaliação pulmonar. - ECOTT: em todos os pacientes, anualmente ou se mudança nos sintomas para avaliar terapêutica e remodelamento cardíaco (evolução e prognóstico). - RNM cardíaca: diagnóstico diferencial. - ECO strain: acurácia melhor para diagnóstico diferencial, mostra padrão de amiloidose. As alterações no ECO incluem: alteração da parede (doença isquêmica), hipercontratilidade das bases e hipocinesia médio-apical (doença de Takotsubo, catecolaminérgica), aneurisma na ponta do ventrículo pós-apical (Chagas). - Holter 24 h: pedir Holter seriado se FE < 30 para identificar padrão arritmogênico, como taquicardia ventricular não sustentada (preditor de morte súbita). - Avaliação invasiva: cineangiocoronariografia (se isquemia), biópsia (se doença progressiva rápida), EEF - estudo eletrofisiológico (procura arritmias). h. Prognóstico Marcadores: classe funcional III-IV (dispneia aos pequenos esforços), FE < 30%, hiponatremia persistente (arginina vasopressina ativada), citocinas altas, sarcopenia e arritmia. HISTÓRIA Idade, classe funcional III-IV, etiologia da IC, múltiplas admissões, caquexia e sarcopenia, pouca adesão, depressão, DM, DPOC, intolerância ao tratamento e uso de inotrópico EXAME FÍSICO Hipotensão, taquicardia, presença de B3, congestão persistente e perfusão inadequada ECG Fibrilação atrial/BRE, arritmias ventriculares complexas, redução da VFC, onda T alternadamente e QT longo IMAGEM FEVE < 30%, disfunção de VD, disfunção diastólica, HAP, insuficiência mitral e tricúspide, realce tardio na RC HEMO DINÂMICA DC/IC reduzido, POAP elevada, pressões pulmonares elevadas, gradiente 5 Layane Silva transpulmonar elevado, RVP elevada LABORA TÓRIO Hiponatremia, creatinina elevada, disfunção hepática, anemia, hiperuricemia, BNP/NT-proBNP elevados, citocinas elevadas, catecolaminas elevadas i. Tratamento não farmacológico - Programas de manejo de IC, para melhorar adesão, autocuidado e qualidade de vida, e reduzir hospitalizações, mortalidade e custos hospitalares. - Reabilitação cardiovascular (exercício aeróbico regular), para ICFEr em classes funcionais II a III (NYHA) e para ICFEp em classes funcionais Il a III (NYHA). - Vacina contra influenza (anual) e pneumococos (5 anos). - Suplemento alimentar com ácidos graxos poli-insaturados. - Evitar ingesta excessiva de sal (> 7 g por dia). j. Ativação de mecanismos compensatórios - SRAA: inibido por IECA, BRA, bloqueador do receptor de mineralocorticóide; + SNA simpático. IECA e BRA não podem ser usados juntos porque as 2 vias são inibidas, pioram a insuficiência renal, causa hipocalemia. Usar IECA ou BRA + espironolactona (inibe o receptor de mineralocorticóide - aldosterona). A ECA transforma angiotensina 1 em angiotensina 2 (ação do IECA - Captopril, Enalapril), e nos pulmões degrada bradicinina, sua inibição aumenta bradicinina, vasodilatação e broncoespasmo (tosse) - evitar em asmáticos (escolher BRA - Losartana, Valsartana). Tratamento padrão: Lasix (diurético) + vasodilatador (limite: PA) + betabloqueador, em geral, IECA ou BRA + BB (limite: FC) + espironolactona (limite: K). k. Fármacos IECA: inibidor da enzima conversora de angiotensina, reduz angiotensina 1, eleva bradicinina (síntese de prostaglandinas, vasodilatadores e NO), causa vasodilatação na pré-carga (+ sangue chega no coração) e pós-carga (+ sangue vai para frente) - melhora performance cardíaca. - Efeitos hemodinâmicos: reduz pré-carga e pós-carga. - Benefícios: reduz sintomas, progressão da disfunção e mortalidade por IC se ICFEr; aumenta tolerância ao esforço e sobrevida, melhora qualidade de vida. - Contraindicações: (1) Cr >3,5 (ou > 50% aumento da creatinina basal) ou CICr < 20 ml/min/m2, (2) K >5,5, (3) gravidez (teratogênico e parto prematuro), (4) hipotensão. ● se piora de 50% da função renal suspender IECA ou BRA; se paciente renal crônico, pode-se usar IECA ou BRA se creatinina < 3,5 e K < 5,5 (nefroprotetor). BRA: bloqueador do receptor de angiotensina lI. ● intolerantes/alérgicos tem tosse e angioedema. - Contraindicações: mesmas do IECA. - Efeitos colaterais: hipotensão, ↓ função renal, hipercalemia. BETABLOQUEADORES: Carvedilol, Bisoprolol, Succinato de metoprolol e Nebivolol (idosos) - são cardiomoduladores (remodelamento cardíaco) e cardiosseletivos (atuam só no receptor B1), mas perdem a seletividade na dose máxima. ● Tartarato de metoprolol e Propanolol não trata IC, não tem vasodilatação importante, só reduz FC. - Indicações: NYHA I a IV, com disfunção sistólica, em ritmo sinusal ou FA, sem hipotensão sintomática; asma sem crise recente e DPOC com crises leves (exceto Carvedilol, pode causar broncoespasmo, pois não é cardioespecífico). ● se pneumopatias preferir BB com maior seletividade. ● Cardioespecíficos: Bisoprolol, Nebivolol e Metoprolol. - Mecanismo de ação: antagonismo da atividade simpática, remodelamento reverso e melhora da função ventricular. - Benefícios: melhora da CF, redução de internações hospitalares e mortalidade, aumentam sobrevida (se associados aos IECA ou BRA). - Avaliar tolerância: sinais de baixo débito, hipotensão arterial sintomática, PR > 0,28s, FC < 60 bpm, bloqueio sinoatrial, AV avançado. ANTAGONISTAS DA ALDOSTERONA: Espironolactona e Eplerenona - adicionados à terapia padrão com IECA e BB se disfunção sistólica do VE, causa efeitos na mortalidade e taxa de re-hospitalização. - Efeitos adversos: hipercalemia, ginecomastia. - Contraindicações: Cr > 2,5, K > 5,0 (hipercalemia) HIDRALAZINA + NITRATO: Hidralazina é vasodilatador seletivo da musculatura lisa arterial periférica; Nitrato reduz RVP e aumenta capacitância venosa - não interferem na função renal ou K; tem boa resposta em afro-descendentes; quanto maior a dose, melhor o efeito remodelador. - Indicação: casos com contraindicação ao IECA ou BRA ou associado a IECA ou BRA para maior vasodilatação. SACUBITRIL/VALSARTANA - ENTRESTO: Sacubitril inibe neprilisina (degrada BNP, compensa IC); Valsartana bloqueia o receptor de angiotensina II - substituem BRA ou IECA para 6 Layane Silva disfunção de VE sintomática em uso terapêutico, introduzir após 36 h de suspensão do IECA, atua no controle osmótico. - Benefícios: melhora dos sintomas, qualidade de vida, remodelamento reverso; reduz mortalidade CV, morte súbita, morte geral e hospitalização por IC. - Avaliar tolerância: hipotensão, função renal, hipercalemia - monitorar NT-proBNP (forma inativa) pois o Sacubitril inibe a degradação do BNP e aumenta seus valores. INIBIDORES DA SGLT-2: Glifozinas inibem o cotransportador de sódio-glicose tipo 2, presente no túbulo coletor proximal promovendo diurese (atua na perda de líquido) e ajuda na eliminação de glicose (atua na DM). - Indicação: Dapaglifozina (ClCr > 30) e Empaglifozina (ClCr > 20) - associado ao tratamento-padrão. - Benefícios: reduz hospitalização por IC, morte CV e progressão da disfunção renal, tem efeito na DAC. - Contraindicações: não usar com diuréticos, pois seperde glicose, perde água associada, causa ITU + glicosúria. IVABRADINA: inibidor específico e seletivo da corrente “IF” do nó Sinusal, reduzindo a FC no repouso e esforço, causa bradicardia no nó sinusal. - Indicação: pacientes em ritmo sinusal com FC > 70bpm e classe funcional I-IV com disfunção sistólica em uso de IECA ou BRA + BB em doses máximas toleradas, mas sintomáticos. - Dose: inicial de 5 mg 2x/dia e otimização em 7,5 mg 2x/dia. - Contraindicações: FA, marca-passo atrial ativo ou instável. - Benefícios: reduz hospitalização, mortalidade CV e por IC. DIGOXINA: potente e seletivo inibidor da bomba Na/K, aumenta a troca Na/Ca e força de contração muscular - tem janela terapêutica estreita (limiar tóxico - mulher, branca, baixa, magra tem maior risco de intoxicação). - Benefícios: reduz sintomas e hospitalizações. - Indicação: sintomáticos ou controle FC em FA sintomático. DIURÉTICOS: diuréticos de alça (furosemida) alivia congestão no túbulo coletor dista e controla volemia; tiazídicos (clorotiazídicos); poupador de K (espironolactona) - usar a menor dose terapêutica necessária, em hospitalizados empregar via EV. ● se furosemida atingir dose de 160 mg/dia para controle de congestão, associar tiazídico (bloqueio sequencial do néfron) - duplo bloqueio renal, um age na alça e o outro no túbulo coletor. - Benefícios: alívio de sintomas de congestão, controle e redução das manifestações, melhora qualidade de vida. CDI: terapia de ressincronização cardíaca, faz sincronismo e melhora o DC. - Indicação: FE < 35% que já passou por todas as terapias medicamentosas, tem BRE e continua assintomático refratário; estágio D (doença refratária avançada). 3. Insuficiência cardíaca com FE preservada O tratamento está centrado nos sintomas, agravantes e comorbidades - controlar sintomas de hospitalização. RECOMENDAÇÕES C E Diuréticos de alça ou tiazídicos para diminuir sintomas congestivos I B Tratamento de comorbidades como isquemia miocárdica, FA e HAS para diminuir sintomas ou progressão I C Espironolactona para redução de hospitalizações IIA B IECA - BRAs para redução de hospitalizações IIB B a. Tratamento cirúrgico - Indicação: IC refratária em uso de inotrópico e no desmame, IC refratária com uso de dispositivo intracardíaco, suporte circulatório, balão intra-aórtico, paciente em classe funcional III e IV persistente mesmo com terapia otimizada. ● FE isolada (só disfunção sistólica) não é indicação! INDICAÇÕES C IC refratária na dependência de drogas inotrópicas e/ou suporte circulatório e/ou ventilação mecânica I VO2 pico < 10 mL/kg/min Doença isquêmica com angina refratária sem possibilidade de revascularização Arritmia ventricular refratária Classe funcional III/IV persistente Teste da caminhada dos 6 minutos < 300 metros IIa Uso de BB com VO2 pico < 12 mL/kg/min Sem uso de BB com VO2 pico < 14 mL/kg/min Sem uso de BB com VO2 pico < 14 mL/kg/min Teste cardiopulmonar com relação VE/VCO2 > 35 7 Layane Silva e/ou VO2 ico < 14 mL/kg/min Presença de disfunção sistólica isolada III Classe III ou IV sem otimização terapêutica 4. Insuficiência cardíaca aguda 80% é crônica agudizada e 20% é aguda recorrente - usar BNP para diferenciar quadro cardiovascular e pulmonar. (1) Confirmar diagnóstico de IC com Framingham; (2) definir aguda ou crônica (tempo de evolução); (3) se aguda, classificar perfil (descompensada ou nova) e tratar sem BB; se crônica, avaliar FE e tratar - se uso prévio de BB, manter. - IC crônica com descompensação aguda: IC prévia que descompensa, há congestão pulmonar (principalmente direita) e sistêmica com aumento da volemia e os sintomas são mais lentos e insidiosos. Principais causas: má aderência ao tratamento, infecções, arritmias (flutter e FA), ingestão de água e sódio elevadas e valvopatias de instalação aguda. - IC aguda nova: sem diagnóstico prévio de IC, há congestão pulmonar (principalmente esquerda), sem congestão sistêmica e volemia normal. a. Fatores de descompensação Inclui medicamentos inadequados, HAS não controlada, dieta inadequada, endocardite, estresse emocional/físico, embolia pulmonar, IAM, DM não controlado, miocardite, anemia, arritmias ventriculares frequentes, tireoidopatia, FA ou flutter atrial, álcool/drogas, marca-passo DDD ou VVI, desnutrição, insuficiência renal aguda, dissecção aórtica, infecção e insuficiência mitral ou aórtica agudizada. b. Manejo 1. Perfil A (quente e seco): TEC bom, orientado, débito urinário satisfatório, lactato bom, sem acidose metabólica ou disfunção renal - tratamento ambulatorial. Se PA > 110 mmHg, usar IECA/BRA, BB, suspenso diurético. 2. Perfil B (quente e úmido): perfusão boa e congesto, comum em hospitalizados. Se PA > 110 mmHg ou 85-110 mmHg, vasodilatador (Tridil) + Furosemida + BB + IECA/BRA. 3. Perfil L (frio e úmido): causado pelo uso excessivo de Lasix (perda excessiva de líquido pela urina), retirar medicações e avaliar. Se PA < 85 mmHg, usar reposição de volume (250 mL de soro em ciclos até crepitos), suspensos IECA/BRA e BB. 4. Perfil C (frio e seco): choque cardiogênico. Se PA 85-110 mmHg, avaliar volemia, usar vasodilatador (Tridil) + inotrópicos (Dobutamina) + furosemida (Lasix) + BB redução, suspenso IECA/BRA. Se PA < 85 mmHg, usar noradrenalina ou vasopressina (vasoconstritor para aumentar PA) - se paciente frio, usar Dobutamina. A - Avaliação clínica e hemodinâmica Definir perfil (B, C, L) B - Boa oxigenação Cateter, máscara, CPAB, BiPAP, VMI C - Circulação e volemia SF 0,9%; 250 mL e reavaliar sinais de congestão D - Diuréticos Furosemida 1 mg/kg em bolus E - Eletrocardiograma Diagnóstico de SCA, arritmias, bloqueios F - Frequência cardíaca Controle de bradi/taquiarritmias, bloqueios (MP/CV) G - Garantir não suspensão Não suspender BB, IECA, BRA, AA H - Heparina Profilaxia de TEV ● Dissecção de aorta Ruptura longitudinal do vaso, na qual o sangue passa pela luz verdadeira (vaso) e pela falsa luz (corte) maior do que a verdadeira, nesta o sangue entre e forma estase e sai. A aorta com dissecção por ter orifício de entrada e outro de saída de sangue que é fator de risco para formar trombo - proibido uso de trombolítico na dissecção de aorta. 1. Epidemiologia Emergência necessita de diagnóstico precoce e terapêutica imediata, incidência de 2,6-3,5 casos/100 mil pessoas/ano, ⅔ do sexo masculino, entre 63-67 anos, alta mortalidade (1-2% por hora, 25% em 24 h, 50% em 1 semana e 75% em 1 mês). 2. Fisiopatologia Delaminação da parede aórtica (ruptura longitudinal) com laceração da íntima, exposição do sangue à camada média e dilacera longitudinal, anterógrada ou retrógrada, forma 2 canais paralelos com orifício comunicante. a. Variantes - Síndrome torácica aguda: dissecção de aorta aguda + hematoma intramural (degeneração da camada média por fragilidade do vaso forma um hematoma na parede, preservando a íntima) + úlcera aterosclerótica penetrante (mais comum na aorta descendente, onde há uma placa que começa a ulcerar, passa da íntima e o fluxo entra). 8 Layane Silva 3. Quadro clínico a. Sintomatologia Dor torácica súbita intensa lancinante, com irradiação para dorso, região cervical, mandibular ou interescapular (irradia para abdome), causa síncope, dispneia, hemoptise e hemiplegia - se dor torácica + síncope + hemoptise (suspeitar de TEP como diagnóstico diferencial). b. Exame físico Avaliar simetria de pulsos, sopro aórtico, sonoridade das bulhas (bulhas abafadas pelo tamponamento cardíaco), estase de jugular e alteração do DC - tríade de Becker inclui bulhas abafadas + estase de jugular + hipotensão. Há extravasamento de sangue que faz hemopericárdio, e as 4 câmaras cardíacas são equalizadas (pressão intracavitária elevada causa estase de jugular). Se tríade de Becker + parada na emergência, realizar pericardiocentese de urgência, se dissecção, fazer reanimação e mandar ao centro cirúrgico. c. Complicações Ruptura de aorta, tamponamento cardíaco, insuficiência aórtica aguda, hematoma peri-aórtico, derrame pericárdico oupleural, oclusão de ramos aórticos (IAM, isquemia de membros, cérebro, víscera abdominal e medular). d. Fator de risco São HAS (72%), dislipidemia, aterosclerose (31%) e tabagismo. - Genéticas: síndrome de Marfan (5%), síndrome de Ehlers-Danlos (doença do tecido conjuntivo com fragilidade e degeneração da camada média), SLD (comum na aorta descendente) e síndrome de Turner. - Outras: VAoB, CoAo, trauma, iatrogenia (cateterização, BIA, CC com canulação aórtica), gestantes (risco de SCA, dissecção de aorta e TEP), infecciosas (sífilis terciária causa insuficiência aórtica e lesão de óstio coronário pois inflama a valva aórtica e óstio coronário, causa arterite sifilítica), inflamatórias (Takayasu, arterite de células gigantes). e. Fator de pior prognóstico Inclui DA tipo A, > 70 anos (quanto mais velho, maior a chance de morte pois menor a reserva cardiovascular e pulmonar e maior o número de comorbidades), isquemia no ECG, alterações neurológicas, insuficiência renal, derrame pericárdico, tamponamento cardíaco e orifícios comunicantes distais mantém luz falsa (entrada de sangue como chuveiro que vaza sangue na aorta, causa dilatação expansiva, quanto mais orifícios, maior mortalidade). 4. Classificação - A: envolvimento da aorta ascendente - cirúrgico. I: aorta ascendente como descendentes estão afetadas. II: somente aorta ascendente. Se for dissecção de aorta de arco puro, pode ser dita como tipo A, mas a classificação é falha quanto ao arco aórtico. - B: sem envolvimento da aorta ascendente - vascular. III: somente descendente 5. Diagnóstico - Diagnóstico diferencial: MNM, ECG, raio X de tórax. Ecocardiograma TT: exame anato-funcional dinâmico em tempo real, assim uma sonda que faz um USG do coração, avalia valva aórtica, dimensão da aorta, musculatura cardíaca e ventrículo. Tem sensibilidade de 59-83%, especificidade 63-93%, VPP aceitável, VPN baixo, importante no DAA tipo A, não visualiza porção distal da AA, ArcAO e AD. Exame de triagem, indicado à beira-leito, mas não afasta dissecção e alterado pode ser que seja dissecção. Ecocardiograma TE: a sonda é passada pelo esôfago e fica próximo ao coração, então se tiver alterações específicas é melhor, tem sensibilidade de 94-100%, especificidade de 77-100%, limitação em visualizar a porção distal da AA e proximal do ArcAo (devido a coluna de ar da traqueia e do brônquio direito), não avalia aorta abdominal e pode identificar orifícios de entrada da DA. Angiotomografia de tórax: exame padrão-ouro, tem sensibilidade de 95% e especificidade de 87-100%, maior acurácia para diagnóstico de envolvimento dos vasos supraórticos, não avalia VaO, dificilmente identifica OE, necessita de contraste - não é feito se insuficiência renal. Angio RMN de tórax: exame demorado com limitação para pacientes instáveis, tem excelente acurácia. Aortografia: exame padrão ouro até 1980, atualmente raramente utilizado, similar ao cateterismo. 6. Terapêutica Cirurgia + farmacológica: feito na dissecção tipo A (retrógrada para AAsc), tem prognóstico de mortalidade 1-2% por hora, deve-se chamar um cirurgião cardíaco para tratar, pois a cirurgia é essencial pela proximidade com a carótida (pode haver morte encefálica por ser procedimento de alta complexidade e mortalidade) - se for dissecção de arco chamar cirurgião vascular e cardíaco. Cirurgia ou terapia endovascular + farmacológica: feita na dissecção tipo B complicada (rotura, dor persistente, 9 Layane Silva aneurisma sacular, dilatação/expansão da aorta, isquemia visceral e de membros, dissecção retrógrada da AAsc). Farmacológica: feita na dissecção não complicada, com analgesia, BB e Nipride (nitroprussiato de sódio) - sempre usa nitrito, exceto se bradicardia (limitação hemodinâmica). - Dissecção aguda tipo B não complicada: menos fatal, mortalidade de 10% em 30 dias. - Dissecção de arco aguda não complicada: não encaminhar para cirurgia pelo risco de complicar, apenas medicação pois os ramos continuam perfundidos. - Dissecção crônica tipo A ou B não complicada: diagnóstico ao acaso, é um crônico compensado. ● Endocardite infecciosa Infecção microbiana que envolve endotélio cardíaco, atinge a circulação sistêmica, passa a bactéria pela veia cava, AD, VD e pulmão, envolve valvas cardíacas, defeitos nos septos, corda tendínea (músculo papilar que abre a tricúspide), endocárdio mural, shunts arteriovenosos e artério-arteriais (interatriais e interventriculares). A lesão característica é vegetação (bactérias + células inflamatórias). 1. Epidemiologia Tem incidência de 1,9-6,2:100.000/ano e 3:100.000/ano crianças (cardiopatia reumática), mais comum no sexo masculino, alta morbidade (60%) e mortalidade (20-30%), taxas de óbitos podem chegar a > 50% nos grupos de alto risco mesmo com avanços diagnósticos e terapêuticos (ATB + cirurgia), é impactado pelo diagnóstico precoce/acurado e uniformização das condutas terapêuticas. 2. Condições predisponentes Incluem próteses valvares, endocardite prévia, valvopatias adquiridas, cardiopatias congênitas cianogênicas (lesão endotelial + shunt com curso turbulento, o endotélio perde a integridade e forma vegetação), prolapso da valva mitral com regurgitação (valva despenca e vai para o átrio + regurgitação de sangue), usuários de drogas injetáveis (Staphylus, fungos e Pseudomonas formam bacteremia no coração, faz microlesões), cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva (há obstrução na via de saída do ventrículo). 3. Fisiopatologia Bactéria de alta virulência tem comportamento agressivo, faz bacteremia e se difunde no sangue (maior poder patogênico, virulência e adesividade) - se defeito cardíaco, gera gradiente de pressão e forma lesões endoteliais. Há disfunção endotelial e hipercoagulabilidade favorecem trombos e a ativação do sistema imune que leva a agressão vascular e tecidual, faz bacteremia. Pessoas com baixa qualidade de saúde oral, há invasão da bactéria no sangue, faz bacteremia, que passa pela barreira endotelial e acumula plaquetas e fibrina (vegetação). - Endocardite trombótica abacteriana (Libman-Sacks): comum no lúpus, sem febre e manifestação sistêmica, com vegetação ao ECO. 4. Apresentação clínica 90% dos casos tem febre, inapetência, perda ponderal, adinamia e cefaléia; 10-20% não tem febre (raro); 85% sopro cardíaco; se evolução rápida, há toxemia e sepse; 50% tem esplenomegalia pela disseminação de microêmbolos no baço. Suspeitar se psoíte + FOI; pode estar associada a abscesso hepático com febre; manifestações atípicas em idosos e imunodeficientes. - Diagnósticos diferenciais: dengue, Covid, Chikungunya. - Tríade de Osler: endocardite, pneumonia e meningite, por um mesmo agente. - Síndrome de Austrian: endocardite, pneumonia e meningite por Streptococcus pneumoniae. - Endocardite do lado direito: 5-10 % dos casos, tem como fator de risco: usuários de drogas IV (30-70%) e uso de portocath, marca-passo ou cateter de demora, acomete valva tricúspide (comum) e valva pulmonar (raro, após cateterização arterial pulmonar), e vegetações grandes. - Diagnóstico: realizar ECO e cultura, tendem a morrer mais rápido, principalmente de tiver dispositivo intracardíaco. - Cirurgia: feita em vegetações tricúspides > 20 mm com embolia pulmonar recorrente, com ou sem ICC, perceptível em infecção em ambos lados em diferentes lobos. 5. Diagnóstico - Critérios de Von Reyn (1980): indica hemocultura e evidências clínicas, tem sensibilidade de 50-60%. - Critérios de Duke (1994): hemocultura + evidências clínicas + achados ecocardiográficas (possível visualizar vegetação, abscesso, fístula, cardiopatia estrutura), é mais sensível (76%) e com a mesma especificidade (99%). ● EI definitiva: 2 maiores; 1 maior +3 menores, 5 menores ou anatomopatológico. ● EI presumida: 1 critério maior + 3 menores. CRITÉRIOS PRINCIPAIS CRITÉRIOS SECUNDÁRIOS Hemocultura positiva Condição cardíaca 10 Layane Silva a. Microorganismo típico (estreptococo α‑hemolítico, Streptococcus bovis, HACEK, ou Staphylococcus aureus adquirido na comunidade ou enterococosem foco primário) por 2 hemoculturas separadas b. Bacteremia persistente com qualquer microrganismo (2 culturas + separadas > 12 horas ou 3 culturas + ou a maioria de ≥ 4 culturas separadas > 1 hora) c. Bacteremia com S. aureus, independentemente de ter sido adquirida por meio nosocomial ou por foco de infecção predisponente ou uso de drogas IV Temperatura ≥38 °C Fenômeno vascular: embolia arterial e pulmonar séptico, lesões de Janeway, aneurisma micótico, hemorragia intracraniana e conjuntivais Fenômeno imunológico: FR, glomerulonefrite, nódulos de Osler, manchas de Roth Evidência de comprometimento endocárdico a. Achado ecocardiográfico: massa móvel fixada na valva ou aparelho valvular, ou abscesso, ou deiscência parcial nova de valva protética b. Regurgitação valvar nova Achados de ecocardiograma compatíveis com endocardite, porém não satisfazendo os critérios principais Sorologia: hemocultura + isolada para Coxiella burnetii ou título de anticorpo IgG 1 antifase > 1:800 Evidência microbiológica: hemoculturas + sem critérios ou evidência sorológica de infecção ativa de EI O sopro não é utilizado porque pode ser benigno ou prévio. MAIOR- Evidência de envolvimento endocárdico: ecocardiografia tem algoritmo diagnóstico, avalia cardiopatia predisponente, vegetações, complicações, consequências hemodinâmicas, seriada e de prognóstico. LESÃO DESCRIÇÃO Vegetação Formato irregular, massa com discreta ecogenicidade, aderente à superfície cardíaca, pode haver oscilação da massa Abscesso Área espessa ou massa na região anular do miocárdio, aparência não homogênea com ecogenicidade e ecoluscência Aneurisma Espaço de ecoluscência limitado por tecido fino Fístula Trajeto entre 2 distintos espaços cardíacos por um canal não anatômico Perfuração de cúspide Defeito no corpo da cúspide da valva miocárdica com evidência de fluxo pelo defeito Deiscência valvar Movimento da valva prostética com extrusão > 15 em pelo menos uma direção EI de valva cúspide anterior é a que faz mais abscesso de valva aórtica ou que mais emboliza na valva mitral. A vegetação está ligada a lesão endotelial, se regurgitação ela se desloca; se insuficiência mitral, a lesão fica para o lado da face atrial da valva mitral; o local mais frequente é a borda livre dos folhetos, superfície atrial das valvas AV, superfície ventricular das valvas semilunares, acomete valva mitral (40%) e aórtica (34%). O tamanho da vegetação apenas prediz complicação. VM > VAo > VM + VAo > VT > VP - ECO TT: S: 60-70% (valva nativa) e 15-35% (protética), melhor em vegetações nas valvas direitas (+ superficiais). - ECO TE: S: 90-100%, melhor em valvas degeneradas ou calcificadas, próteses e complicações; indicada em próteses valvares, avaliação do aparato paravalvar (abscessos, fístulas, disfunção da prótese), janela transtorácica inadequada (obesidade) e ECO TT negativo + alta suspeita. Começa com ECO TT sem demora, (1) se não tiver prótese e imagem for boa com alta suspeita de EI e complicação complementar com ECO TE, (2) se imagem boa com ET + e suspeita, se alta faz TE e baixa não faz exames. MAIOR- Hemocultura positiva de germes típicos: deve-se ter 2 culturas positivas de germes típicos (Streptococcus viridans, Streptococcus bovis, grupo HACEK, S. aureus ou enterococos) ou 3 culturas persistentemente positivas. São obtidas 03 amostras de 10 ml no sangue periférico, intervalo de 20-30 min, antes de iniciar ATB. 11 Layane Silva Agentes típicos: S. aureus, Enterococos, Streptococcus viridans, Streptococcus bovis, Grupo HACEK (Haemophilus, Actinobacillus, Cardiobacterium, Eikenella e Kingella) Agentes atípicos: bacilos gram negativos, S. epidermidis, fungos, micobactérias, rickettsias, clamídias e micoplasmas, Coxiella burnetti e Bartonella spp. - EI em usuários de drogas IV: Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Candida. - EI até 60 dias do PO CC: Staphylococcus epidermidis. S. aureus, Candida Albicans (flora bacteriana hospitalar). - EI por Enterococos: manipulação do trato geniturinário. - EI por Streptococcus bovis: relação com malignidade do TGI e pólipos colônicos (indicar colonoscopia). MENOR - Fenômeno vascular: evento embólico arterial maior, infarto pulmonar séptico, hemorragia intracraniana por aneurisma micótico (trombo migra e bate na parede do vaso causando inflamação local que dilata parede e extravasa sangue), petéquias (embolização em microvasos), hemorragia subconjuntival e subungueais (manchas de Splinter) e lesões de Janeway (manchas pequenas, eritemato-hemorrágicas, indolor, regiões palmar e plantar). Há fenômenos embólicos em 43% dos casos, em SNC (AVCi, AVCh, aneurisma micótico, meningite, abscesso), órgãos abdominais (abscessos), extremidades (isquemia aguda de membros) e pulmão (usuários de drogas e HIV +). MENOR - Fenômeno imunológico: presença de marcadores sorológicos (fator reumatóide positivo), glomerulonefrite autoimune, nódulos de Osler (nódulos dolorosos nas pontas dos dedos, pequenos e evanescentes, pode ocorrer em LES, anemias hemolíticas e infecções gonocócicas), manchas de Roth (lesões vermelhas e brancas no fundo de olho). Fenômenos de um mesmo grupo só valem 1 ponto! 6. Achados laboratoriais Inclui VHS e PCR elevado, fator reumatoide positivo, anemia, leucocitose com desvio, sumário de urina com hematúria e proteinúria (glomerulonefrite) cilindros hemáticos, piúria, cilindros leucocitários e bacteriúria. - Exames específicos: PET scan/CT, RNM, TC multislice, culturas e sorologias especiais, reação em cadeia de polimerase e RNA ribossomal. 7. Tratamento Antibioticoterapia: feita por 4-6 semanas, venoso (Estreptococos: 4 semanas; Estafilococos e Gram-negativos: 6 semanas; Fungos: 6-8 semanas). - Aguda: em 3-7 dias, tem apresentação aberrante, há sepse e fica grave (toxemia e febre), causada por Staphylococcus aureus, tratar Oxacilina (estafilococos) + penicilina G cristalina + Gentamicina (streptococcus + enterococcus). - Subaguda: lenta (> 4 semanas), insidiosa, mortalidade menor, associada ao estresse, causada por Streptococcus viridans, tratar com penicilina G cristalina + Gentamicina. - EI em prótese: necessário associar Rifampicina. Repetir hemocultura 3-5 dias após início para avaliar resposta inicial é 48-72 horas após término para eficácia. V. NATIVA ANTIBIÓTICO TEMPO S. viridans S. bovis PGC ou Ceftrioxone (associar Gentamicina) Ou Vancomicina 4 semanas 6 semanas (VP*) Enterococo PGC ou Ampicilina ou Vancomicina + Gentamicina * Ampicilina + Ceftriaxone 4-6 semanas Estafilococo Oxacilina ou Vancomicina * CD - 2 semanas * Daptomicina ou fosfomicina 4-6 semanas HACEK Ceftriaxone ou Unasyn 4 semanas Oxacilina + PGC + Gentamicina // Vancomicina + Gentamicina (EI aguda) PGC + Gentamicina (EI subaguda) V. PROTÉTICA ANTIBIÓTICO TEMPO Estafilococo Vancomicina ou Oxacilina + Rifampicina + Gentamicina (2 semanas) 6 semanas * 2 semanas POCC e cultura negativa 8. Tratamento cirúrgico Se antibioticoterapia evoluir com fístula, sepse, regurgitação valvar, IC e deiscência de prótese, indicar cirurgia. - Valva nativa: disfunção valvar, IAo ou IM + repercussões hemodinâmicas (aumento de câmara, pressão venosa, insuficiência mitral grave), EI por fungos/organismos muito resistentes, complicações, embolia recorrente (> 2), vegetações persistentes, vegetação móvel > 10-15 mm. Única indicação que emboliza mas não pode ser operada é o AVC sintomático. - Prótese valvar: IC, deiscência, obstrução/regurgitação crescente, complicação, bacteremia, estafilococo e êmbolos. 12 Layane Silva ENDOCARDITE DE VALVA NATIVA Insuficiência aórtica ou regurgitação mitral agudas + IC I Insuficiência aórtica aguda com taquicardia e fechamento precoce da valva mitral no ECO I EI fúngica I Abscesso anular/aórtico; aneurisma de seio ou aórtico; deiscência de valva, ruptura, perfuração ou fístula I Disfunção valvar e infecção persistente após 7-10 dias de ATB, sem causa não cardíaca de infecção I Êmbolos recorrentes após ATB I Infecção com Gram‑negativosou má resposta a ATB + disfunção valvar I Vegetação na válvula anterior da valva mitral (especialmente >10 mm) ou vegetação persistente após embolização sistêmica IIA Aumento no tamanho da vegetação, apesar de terapia antimicrobiana apropriada IIB Infecções iniciais na valva mitral, a qual provavelmente pode ser reparada, especialmente na presença de grandes vegetações e/ou êmbolos recorrentes III Febre e leucocitose persistente + hemocultura negativa III ENDOCARDITE DE VALVA PROTÉTICA EI inicial em valva protética (<2 meses após cirurgia) I Insuficiência cardíaca com disfunção de valva protética I Endocardite não estreptocócica I Vazamento perivalvar, abscesso anular/aórtico, aneurisma de seio ou aórtico, formação de fístula ou distúrbios da condução de início novo I Bacteremia persistente após 7 a 10 dias de ATB, com causas não cardíacas para bacteremia excluídas IIA Êmbolo periférico recorrente apesar de terapia IIA Vegetação na prótese ou em suas proximidades IIB 9. Profilaxia A principal é a saúde bucal e a antibioticoprofilaxia será indicada se manipulação odontológica de alto risco de bacteremia, procedimento genitourinário ou esofâgo e TGI com lesão de mucosa. - População de risco: valva cardíaca protética usado para reparação da valva cardíaca; EI prévia; cardiopatia congênita cianótica não reparada, reparada com material protético em 6 meses, reparada com defeitos residuais no local ou adjacente ao material protético; receptores de transplante cardíaco com valvoplastia cardíaca. RECOMENDADA NÃO RECOMENDADA Dentários: todos envolvendo a manipulação de tecido gengival ou região periodontal ou perfuração da mucosa oral Dentários: injeções anestésicas em tecido não infectado, radiografias dentárias, colocação ou ajuste de aparelhos protéticos ou ortodônticos removíveis, colocação de brackets ortodônticos, descamação de dentes decíduos, sangramento decorrente de trauma nos lábios ou mucosa oral Respiratórios: procedimentos envolvendo incisão ou biópsia da mucosa respiratória, como tonsilectomia e adenoidectomia Respiratórios: procedimentos sem incisão ou biópsia da mucosa respiratória, incluindo broncoscopia Geniturinários/Gastrointestinais: profilaxia antibiótica somente para prevenir EI não é recomendada Para profilaxia, uso de Amoxicilina 2 g antes do procedimento impede colonização bacteriana onde terá lesão endotelial. ● Hipertireoidismo 1. Fisiologia A tireoide produz hormônios tireoidianos para atender às demandas periféricas, os principais são tri-iodotironina ou T3 e a tetraiodotironina (tiroxina ou T4). Para liberação, hipotálamo produz hormônio TRH, que estimula a hipófise a liberar TSH, que estimula a tireóide a liberar hormônios T3 e T4, que irão atuar nos tecidos. O teste do pezinho avalia função tireoidiana, que é importante para o desenvolvimento (congênito: intelectual; pré-escolar: crescimento; escolar: rendimento escolar; adulto: concentração e aprendizado). Nas tireoideopatias deve-se avaliar estrutura (grande, pequena ou com nódulos) e função (produção escassa ou excessiva) da tireoide, esta tem mais sintomatologia. 2. Conceitos Tireotoxicose: excesso de hormônios tireoidianos transitório ou definitivo não relacionados com hiperfunção. - Tireoidite de Hashimoto: quadro transitório de anti-TPO + autoimunidade do hormônio e estrutura da tireoide, marca 13 Layane Silva por cicatrizes ou fibroses que podem se romper e deliberar muitos hormônios que estavam armazenados nos folículos. Hipertireoidismo: tireotoxicose por hiperfunção da tireóide, pode ser (1) franca ou manifesta: excesso de hormônios tireoidianos e TSH suprimido, e (2) subclínico: TSH é supresso e hormônios tireoidianos normais. 3. Causas de tireotoxicose Doença de graves (principal): presente em 60-80% dos hipertireoideos, mais prevalente em mulheres (5-10:1), prevalência de 0,4-1% da população, menor em negros, incidência anual em mulheres de 0,5/1000, com pico entre 20-40 anos e maior risco entre 40-60 anos. - Fisiopatologia: os linfócitos B e T produzem anticorpos (imunoglobulinas estimulante da tireoide - ETI) que atacam a tireoide, superestimulando a produzir quantidades em excesso (hipertireoidismo). Normalmente, o TSH atua sobre receptores pequenos na glândula tireoide fazendo com que ela produza T3 e T4, mas o receptor primário da doença de Graves é dirigido contra o receptor de TSH. Os anticorpos são: anti-tireoperoxidase (anti-TPO), anti-tireoglobulina (anti-Tg), anti-receptores de TSH (TRAb), comportam-se como TSH, se ligam ao receptor na tireoide, estimulando, causa aumento do tamanho (bócio) e edema. - Sintomas: irritabilidade, hiperatividade, disforia, intolerância ao calor, sudorese, palpitações, fadiga, fraqueza, perda ponderal, aumento do apetite, aumento do número de evacuações diárias, poliúria, oligomenorréia. - Sinais: taquicardia, bócio, pele quente e úmida, fraqueza muscular, mioapatia proximal, retração palpebral. - Diagnóstico: quadro clínico, laboratorial (T4 livre, TSH, T3 - raramente, e TRAb - anti-receptor de TSH, marcador da doença de Graves) e cintilografia de tireoide (se dúvida, mede a captação do iodo). ↑ T4 livre + ↓ TSH + TRAb ↑ = doença de Graves. ↑ T4 livre + ↓ TSH e TRAb ↓ = outras causas. - Tratamento medicamentoso: primeira opção, mesmo com o paciente assintomático, as principais são tionamidas, que diminuem a formação do hormônio tireoidiano em 5 dias até 1 semana (ofertar BB para reduzir sintoma cardiovascular). Usar Propiltiouracil (100-1200 mg/dia ou 1-12 cápsulas, indicado na gestação) ou Metimazol (Tiamazol ou topazol, 5 e 10 mg, dose máxima de 60 mg). Se má adesão ou ausência de resposta ao tratamento, em pacientes sem bócio ou alergia, usar iodo 131, pode causar hipotireoidismo secundário a iodoterapia, pois atua na inibição da liberação hormonal. - Tratamento cirúrgico: tireoidectomia parcial em pacientes que não respondem aos medicamentos ou utilizam por muito tempo e cursam com hepatotoxicidade ou bócios. Outras causas: bócio multinodular ou uninodular tóxica (produção excessiva de hormônios tireoideanos, é a segunda principal causa), tireoidite subaguda (muita dor à palpação da tireoide), tireoidite aguda, tireoidite pós-parto, tireoidite indolor, tireoidite de Riedel (quadro doloroso com aspecto endurecido à palpação), struma avarii T, hipertireoidismo por iodo (pode provocar hiper ou hipotireoidismo), TSH-nomas (tumor produtor de TSH), resistência hipofisária aos HT, CA folicular metastático, e tireotoxicose factícia/iatrogênica (exagero no tratamento para hipotireoidismo). 4. Tratamento do hipertireoidismo subclínico - TSH < 0,1 devemos tratar independente da idade. - TSH > 0,1 e menor que 50 anos, observa. - TSH > 0,1 e maior que 70 anos, devemos tratar. ● Nódulos tireoidianos Achado comum, prevalência de 3-7%, em idosos, mulheres, indivíduos com deficiência de iodo ou exposição à radiação. 1. Exame físico Inspeção: forma, simetria, mobilidade e tamanho da tireoide. (1) estática: identificar osso hioide e cartilagens tireóide e cricóide que devem mover na deglutição, traqueia na linha média e anéis cartilaginosos distintos e indolores; (2) dinâmica: achados anormais na deglutição como aumento e assimetria na movimentação da tireoide. Palpação: volume, dimensões, limites (ultrapassa o esternocleido), consistência (endurecido ou fibroelástico), características da superfície (nódulos), frêmitos. Ausculta: sopros se aumento de volume sanguíneo. 2. Causas Bócio colóide ou adenomatoso, cisto simples ou secundário a outras lesòes da tireoide, tireoidites (Hashimoto, linfocítica, granulomatosa, aguda ou de Riedel, neoplasias (adenomas, carcinomas, linfomas, tumores raros, lesões metastáticas), e doença tireoidiana policística. 3. Grau de suspeita Alta suspeita: história familiar de carcinoma medular ou neoplasia endócrina múltipla, prévia radioterapia de cabeça e pescoço, crescimento rápido (especialmente na terapia supressiva com L-tiroxina), nódulo firme ou endurecido, 14 LayaneSilva fixação do nódulo às estruturas, paralisia das cordas vocais, linfadenopatia satélite, e metástase a distância. Moderada suspeita: < 20 anos ou > 70 anos, sexo masculino, história de radioterapia de cabeça ou pescoço, nódulo > 4 cm, presença de sintomas compressivos. 4. Avaliação Ultrassonografia: melhor exame para detecção de nódulos, S: 95%, analisa TI-RADS (estágio do nódulo baseia na composição, ecogenicidade, aspecto, margem, e calcificação) para estratificar risco de malignidade. COMPOSIÇÃO Cístico ou quase cístico: 0 ponto. Espongiforme: 0 ponto. Misto: 1 ponto. Sólido: 2 pontos. ECOGENICIDADE Anecóico: 0 ponto. Iso ou Hiperecogênico: 1 ponto. Hipoecogênico: 2 pontos. Muito Hipoecogênico: 3 pontos. MORFOLOGIA Mais largo que alto: 0 ponto. Mais alto que largo: 3 pontos. MARGENS Bem definidas: 0 ponto. Mal definida: 0 ponto. Lobulada/Irregular: 2 pontos. Extensão extratireoidiana: 3 pontos. CALCIFICAÇÕES Microcalcificações: 1 ponto Calcificações Periféricas: 2 pontos. Microcalcificações: 3 pontos. PAAF de tireoide: indicado se nódulos > 1 cm, define conduta. I - Amostra não diagnóstico 1-4 II - Benigno (maioria): repetir punção se nódulo crescer de forma significativa ou tiver alteração 0-3 III - Atipia de significado indeterminado ou lesão folicular de significado indeterminado: repetir punção 10-30 IV - Neoplasia folicular ou suspeito de neoplasia folicular 25-40 V - Suspeita de malignidade 50-75 IV - Maligno 97-99 ● Hipotireoidismo Síndrome de deficiência de hormônios tireoidianos, pode ser primário (90% dos casos, condições que interferem sobre a tireoide), ou secundário/central (deficiência de TSH). Produção e liberação de T4 é 40x maior que a do T3, por isso, é um pré-hormônio, que pode ser convertido em T3 por sua afinidade com os receptores dos tecidos, potencializada por enzimas deiodinazes 1 e 2, que retiram o iodo do anel do T4. 1. Epidemiologia Condição comum, mais frequente em locais onde há deficiência ou excesso de iodo na dieta, prevalência de 2% em mulheres e 0,2% em homens, em > 65 anos é de 6% em mulheres e 2% em homens, pode ser primário (95%), central (0,005%), congênito (1:4000-5000 RN), ou franco (1-2%, 10:1 em mulheres, principalmente idosas). 2. Fisiopatologia Hipotireoidismo primário: falência da tireoide em produzir hormônios causa efeitos sistêmicos pela falta de hormônios para alça de retroalimentação negativa, há elevação do TSH. ↑ TSH + ↓ T4 livre Pode ser subclínico quando o hormônio tireoidiano está normal e o TSH um pouco alterado (VR: 0,45-4,12). Hipotireoidismo secundário: falência central (hipófise ou hipotálamo), não há estímulo adequado para produção de hormônios tireoidianos. normal ou ↓ TSH + ↓ T4 livre 3. Etiologia Congênito: a criança nasce com o problema por alteração do desenvolvimento ou funcionamento da tireoide. Adquirido: surge após o nascimento, na maioria das vezes é causado por tireoidite de Hashimoto. Primária: disfunção na tireoide. - Tireoidite de Hashimoto: principal, tem predisposição genética, que sofre ativação por agente ambiental e desencadeia regulação imune desproporcional, após apresentação dos auto-antígenos tireoidianos há infiltração linfocitário no tecido da tireóide, levando a destruição progressiva - identifica auto-anticorpos (AAT, TRAB e ATPO). Anti-TPO atua em enzima na porção apical do folículo, é marcador de lesão que pode antecipar doenças francas, mas ocorre sem clínica em 20% das mulheres com > 50 anos. Pode haver anti-TPO positivo, USG sugestiva de tireoidite com aspecto irregular e função hormonal preservada, pois as células de defesa destroem o tecido tireoidiano gerando aspecto heterogêneo (cicatrizes). 15 Layane Silva - Déficit de iodo: inviabiliza a síntese de hormônio tireoidiano, a indicação de consumo diário de iodo: (1) 120 mcg/dia para crianças de 6 a 12 anos, (2) 90 a 150 mcg/dia para adultos e adolescentes, e (3) gestantes 220-250 mcg/dia. - Exposição à radiação: 20-30% dos indivíduos expostos tem hipotireoidismo e 50% desenvolvem em 5 anos de exposição. A terapia com iodo radioativo é utilizada no CA de tireóide e tem como complicação o hipotireoidismo, pois a tireoide pega o iodo para produzir hormônio e é destruída. - Outras causas: tireoidectomia, tireoidite subaguda, doenças infiltrativas, causas raras (excesso de iodo, erros congênitos na síntese hormonal, lítio, uso de drogas antitireoidianas) e tireoidite pós-parto. Secundária/Central: disfunção na hipófise ou hipotálamo. - Destruição hipofisária (cirurgia, trauma, apoplexia): tem pan-hipopituitarismo (deficiência de todos os hormônios), deve-se repor corticoide e hormônio tireoidiano. - Medicamentoso: (1) lítio: trata depressão na estabilização do humor, (2) amildarona é um antiarrítmico, com muito iodo, causa hipotireoidismo (sobrecarga de iodo) ou hipertireoidismo (excesso de matéria-prima). - Outras causas: adenomas hipofisários, radioterapia hipofisária e disfunção hipotalâmica. 4. Quadro clínico - Sintomas: astenia, sonolência, déficit de memória, disfunção cognitiva, ganho de peso, constipação, intolerância ao frio, dispneia aos esforços. - Sinais: pele fria, seca e amarelada, bradicardia, lentifica reflexos, movimentos e fala (rouca e arrastada). - Acúmulo de substância nos tecidos: síndrome do túnel do carpo, voz rouca, pele e cabelos secos, perda de sobrancelhas, mixedema, aumento da língua, apneia do sono, puffy facies (face de lua) e edema periorbital. - Outros: queda de cabelo, unhas quebradiças, diminuição da libido, depressão/esquizofrenia, artralgia/mialgia, puberdade precoce, bócio, galactorreia, irregularidade menstrual, derrames pleural/pericárdico e ascite. - Achados: (1) bócio tireoidiano por desregulação da tireoide, tireoidite e deficiência de iodo; (2) alteração cardiovascular: redução da FC, redução de genes do marca-passo cardíaco e receptores B-adrenérgicos que tem atividade da noradrenalina e adrenalina, redução do volume sistólico, bradicardia e prolongamento do intervalo QT; (3) alterações respiratórias: hipercapnia, bradipneia e hipóxia; (4) alterações metabólicas: reduz expressão dos receptores de LDL, aumentando LDL circulante; (5) alterações endócrinas: altera o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (GnRH estimula produção de LH e FSH é suprimido, reduzindo a expressão nas gônadas), estimula liberação de prolactina, alterações menstruais, disfunção erétil e baixa libido. A redução do volume sistólico ocorre por aumento da pós-carga (maior rigidez arterial, reduz NO e relaxamento vascular), redução da pré-carga (reduz volume de enchimento da câmera por redução da atividade RAA), ou redução da força de contração do ventrículo (reduz transcrição da Ca2+ATPase do retículo sarcoplasmático). 5. Diagnóstico Realizado pela dosagem do TSH, que deve ser solicitado na suspeita de disfunção tireoidiana, pela alta sensibilidade para detecção de disfunções tireoidianas muito leves. ↑ TSH + ↓ FT4 = hipotireoidismo clínico ↑ TSH + normal FT4 = hipotireoidismo subclínico normal, ↓ ou ↑ TSH + ↓ FT4 = hipotireoidismo central 6. Tratamento - Metas: normalizar TSH e T4 livre, controlar sintomas e fator de risco cardiovascular e evitar excesso de hormônio. Hipotireoidismo primário: ↓ T3 + ↓ T4 + ↑ TSH, usa levotiroxina, em jejum, 30-60 min antes do café - absorção é afetada por medicamento, alimentação, doenças absortivas e gastrite. Hipotireoidismo secundário a tireoidectomia: levotiroxina é usada para reposição hormonal, atua na retroalimentação, reduzindo TSH e TRH para ter efeitos sistêmicos diretamente pela substituição da tiroxina endógena ou indiretamente pela conversão aos hormônios T3 e T4 pela deiodinase. Hipotireoidismo secundário a insuficiência adrenal: ↓ T3 + ↓ T4 + normal ou ↓ TSH, verificar veracidade e questionar hipotireoidismo secundário. Se confirmada insuficiência adrenal (deficiência de cortisol), utilizar corticóide e depois hormônio tireoidiano para evitar crise adsoniana aguda. Hipotireoidismo subclínico: normal T3 + normal T4 +↑ TSH. - Paciente com > 70 anos e TSH > 10: tratar. - Paciente com < 70 anos e TSH < 10, analisar sintomas de hipotireoidismo, desejo de engravidar ou gestante e presença persistente dos sintomas . - Se TSH 7-8 sem sintomas: observar por 3 meses - Paciente com > 70 anos e TSH de 8-9: normal, observar sintomas por 3 meses - TSH > 10 com sintomas: tratar. 16
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